Sistema Automático de Pronunciação de Verbos Sara Candeias1, Arlindo Veiga1,2, Fernando Perdigão1,2 1 2 Instituto de Telecomunicações – University of Coimbra, Coimbra - Portugal Dept. of Electrical and Computer Eng. – University of Coimbra, Coimbra - Portugal {saracandeias,aveiga,fp}@co.it.pt Resumo. Este artigo apresenta uma análise fonológica da flexão verbal em português e um algoritmo que permite gerar automaticamente a pronúncia das flexões dos verbos.. O método proposto considera a vogal temática enquanto parte integrante dos sufixos verbais. Paradigmas de pronunciação de verbos, assim como tabelas das tipologias de regularidade e da ambiguidade entre a forma pronunciada e os valores de tempo modo pessoa e número que a determinam são igualmente apresentados. O algoritmo foi testado com base nos verbos mais frequentes do CETEMPúblico. Abstract. This paper presents a phonological analysis of the verbs inflected in European Portuguese and an algorithm to generate automatically the pronunciation of verbs. The proposed approach considers the thematic vowel as part of the verbal suffixes. Pronunciation paradigms of the verbs, as well as tables for regularity types and ambiguity between pronunciation and time person and number form are also given. The algorithm was tested based on the most frequent verbs in the CETEMPúblico corpus. 1. Introdução O verso “Absurdemos a Vida, de leste a oeste”, lançado pelo semi-heterónimo de Fernando Pessoa, Bernardo Soares, no Livro do Desassossego, [Pessoa 1990], contém dois vocábulos, <absurdemos> e <leste>, cuja decisão pela forma de pronunciação está dependente do conhecimento semântico e morfossintático. Sem esse conhecimento prévio, nem o falante nem um sistema automático de conversão de grafemas em fonemas (G2P, do inglês Grapheme-to-Phoneme) sabe decidir por qual altura da vogal tónica escolher (se /e/, se /ɛ/) no ato de pronunciar. A decisão por uma pronúncia quando não se tem qualquer informação prévia representa, assim, um problema de resolução não trivial e é responsável por muitos dos erros nos sistemas de pronunciação, sejam eles automáticos ou não. Pegando no primeiro vocábulo-exemplo, <absurdemos> será pronunciado como /ɐbsuɾdˈemuʃ/ se admitirmos que a forma é verbal, declinada de um possível infinitivo impessoal <absurdar>, da primeira conjugação, conjugada no modo conjuntivo, tempo presente, primeira pessoa do plural. Mas, optando pela pronunciação /ɐbuɾdˈɛmuʃ/, a abertura da vogal tónica formaliza a determinação pelo modo indicativo e pelo tempo pretérito perfeito simples de um possível verbo derivado de <dar> (/dˈɛmuʃ/). Em <leste>, a decisão pela pronunciação /lˈɛʃtə/, ao invés de /lˈeʃtə/, está dependente da informação semântica e morfossintática esclarecida pelo contexto frásico: <o leste> (nome) versus <tu leste> (verbo), respetivamente. Por vezes, a decisão de pronúncia de um vocábulo não conhecido só pode ser tomada com recurso a analogias, mesmo para um falante humano. A pronúncia de <absurdemos> (forma de um possível verbo <absurdar>), tomada por analogia com <aguardar> (exequível como 28 Anais da III Jornada de Descrição do Português, páginas 28–35, Fortaleza, CE, Brasil, Outubro 21–23, 2013. c 2013 Sociedade Brasileira de Computação paradigma), é disso exemplo. Se, por um lado, esta analogia é de fácil implementação computacional, mais complexa é a escolha da pronúncia entre /e/ e /ɛ/, na medida em que ela deverá resultar de um tipo de conhecimento linguístico adquirido através de processos psico-cognitivos muito estruturados. A dificuldade de implementação é ainda acrescida se se pretender, dada uma forma verbal conjugada ortograficamente, gerar uma saída com a indicação da respetiva forma infinitiva e sua representação fonológica. A complexidade inerente ao problema da pronunciação verbal parece explicar a escassez de estudos desenvolvidos sobre o assunto, no sistema do português europeu (PE). Num trabalho de referência sobre a análise fonológica da flexão verbal [Mateus 2003], a autora descreve os tempos verbais simples no que diz respeito à incidência do acento tónico e ao comportamento da vogal temática (como o fenómeno de supressão) e tendo em atenção os processos ocasionados pela harmonização vocálica e pelo abaixamento da vogal do radical verbal. Processos de assimilação, dissimilação e de ditongação da vogal temática são igualmente descritos, tais como os que ocorrem entre /ˈe/→/ˈi/ em [bɐtˈeɾ]→[bɐtˈi] e [bɐtˈiɐ] e /e+nasal/→/ɐj+nasal/ em [bˈatɐ ], respetivamente. No âmbito do mesmo quadro teórico de [Mateus 2003], o estudo de [Villalva 2003] apresenta alternâncias vocálicas regulares que afetam a última vogal do radical verbal. No quadro teórico do estruturalismo europeu, em [Barbosa 1994], apresentam-se as alterações de forma da vogal radical que, na flexão verbal, estão dependentes do contexto fonológico. Em [Cunha e Cintra 2002] as alternâncias vocálicas são abordadas com bastante detalhe, definindo-se alguns paradigmas de pronunciação. No presente trabalho descrevemos um método automático que gera a pronunciação de formas verbais flexionadas, dada a forma verbal no infinitivo com respetiva transcrição fonológica. Apresentamos um algoritmo composto, na sua essência, por um conjunto de regras linguísticas, baseado num método organizado pela análise da vogal temática e a identificação do paradigma verbal que define os sufixos verbais e a alternância do timbre da última vogal do radical verbal. Este artigo está organizado da seguinte forma: a Secção 2 apresenta uma breve descrição da flexão verbal e a notação usada. Na secção 3, apresentamos tabelas das tipologias de regularidade da pronunciação dos verbos, e da ambiguidade entre a forma pronunciada e os valores de tempo modo pessoa e número que a determinam. Na secção 4 são apresentadas as conclusões e traçados alguns trabalhos futuros. 2. Flexão verbal e pronunciação Os verbos portugueses dividem-se em 3 conjugações, referidas usualmente a partir da forma infinitiva como 1.ª conjugação (em “ar”), 2.ª conjugação (em “er”) e 3.ª conjugação (em “ir”). Existe apenas uma exceção, a do verbo pôr, e seus derivados, que tomamos aqui como uma quarta conjugação. Os verbos flexionam-se em modo, tempo e pessoa. Identificamos de forma abreviada os tempos e modos com uma sigla e as pessoas com números de 1 a 6, sendo (1,2,3) as três pessoas do singular (eu, tu e ele/ela) e (4,5,6) as respetivas pessoas do plural, tal como é sugerido em [Barbosa 1994]. Por exemplo, pi(3) significa “3.ª pessoa do singular do presente do indicativo”. A Tabela 1 identifica as siglas dos tempos e modos usados neste artigo. A forma no infinitivo impessoal identifica imediatamente a vogal temática (a penúltima letra) que ocorre sempre em posição tónica. O radical é constituído pelas 29 letras (na forma ortográfica) e pelos fonemas (na transcrição fonética) anteriores à vogal temática. Se existirem vogais no radical, elas estarão, nesta forma do infinitivo, em posição átona. Do ponto de vista da flexão, não foi considerado o conceito de defetividade, assim como se preenchem todas as pessoas do modo imperativo com formas do presente do modo conjuntivo. Esta opção metodológica, que torna exequível flexionar formas como as presentes em estruturas <tu dóis-me na alma...> ou <sinta eu a alegria de viver!>, abecede a uma linha de uso possível da língua em sentido figurado/poético. Tabela 1. Abreviaturas dos tempos e modos verbais Abreviatura pi pc pii pic ppi pmqi futi futc cond imp infp inf ger pcp Tempo/Modo verbal presente do indicativo presente do conjuntivo pretérito imperfeito do indicativo pretérito imperfeito do conjuntivo pretérito perfeito do indicativo pretérito mais que perfeito do indicativo futuro do indicativo futuro do conjuntivo condicional (ou futuro perfeito) imperativo infinitivo pessoal infinitivo impessoal gerúndio particípio passado As flexões de grande maioria dos verbos podem ser inferidas a partir do radical e do tempo/modo/pessoa da flexão, bastando juntar o sufixo correspondente ao radical. Existem algumas irregularidades neste processo, tanto na grafia como na respetiva pronunciação. Neste artigo falaremos apenas das irregularidades na pronunciação. Muitos verbos da língua portuguesa, em especial no português europeu, apresentam diferenças de timbre na vogal tónica que alterna entre o radical e sufixos. Em [Cunha e Cintra 2002] estes casos foram já identificados; no entanto, apresentamos aqui, de forma sistematizada, todas as situações de interesse para definir a pronunciação dos verbos. 2.2 Divisão dos Tempos/Modos/Pessoas Verbais Em termos de pronunciação das flexões verbais, verifica-se que a vogal tónica está, na maioria dos casos, nos sufixos verbais. Quando a vogal tónica não está associada aos sufixos vai recair sobre o radical, mais precisamente, na última vogal do radical, UVR. Por TMP1 referimo-nos ao conjunto de flexões onde esta alternância ocorre. Corresponde ao presente do indicativo, presente do conjuntivo e imperativo, nas 3 pessoas do singular e 3.ª pessoa do plural (ver Tabela 2). A título de exemplo, em 30 <lavar>, [lɐvˈar], a vogal do radical alterna para [a]: <eu lavo, tu lavas, ele lava, eles lavam>, [ew lˈavu, tu lˈavɐʃ, elə lˈavɐ, eləʃ lˈavɐ ]. Tem interesse subdividir este conjunto de flexões TMP1 em dois: TMP1a (situação em que a tónica recai no radical, mas apresenta um timbre fechado, [e] ou [o]) e TMP1b (situação em que a tónica recai no radical, mas com timbre aberto [ɛ] ou [ɔ]). Como exemplo, temos o verbo <beber>, [bəbˈeɾ] , com <bebo, beba, bebas, bebam>, [bˈebu, bˈebɐ, bˈebɐʃ, bˈebɐ ], e <bebes, bebe, bebem>, [bˈɛbəʃ, bˈɛbə, bˈɛbɐ ]. Outro exemplo é dado pelo verbo <mover>, [muvˈeɾ], com <movo, mova, movas, movam>, [mˈovu, mˈovɐ, mˈovɐʃ, mˈovɐ ] e <moves, move, movem>, [mˈɔvəʃ, mˈɔvə, mˈɔvɐ ]. A tabela 2 descreve todos os conjuntos de flexões identificados como pertinentes para a pronunciação. Tabela 2. Tempos/Modos/Pessoas relevantes para as flexões verbais Sigla Descrição Vogal tónica passa para o radical com timbre TMP1 aberto. Ex.: <lavar>. Vogal tónica passa para o radical com timbre TMP1a fechado [e] ou [o]; ou mudança de consoante. Exs.: <beber>, <mover>, <ouvir>. Vogal tónica passa para o radical com timbre TMP1b aberto [ɛ] ou [ɔ]. Ex.: <beber>, <mover>. Mudança de vogal, timbre de vogal ou TMP2 consoante do radical. Ex: <medir>. tempos/modos/pessoas pi(1,2,3,6); pc(1,2,3,6); imp(1,2,3,6) pi(1); pc(1,2,3,6); imp(1,3,6) pi(2,3,6); imp(2) pc(4,5); imp(4) TMP3 Alteração de radical e sufixos de verbos terminados em <air>. Ex: <trair>. pi(1,2,3,6); pc(1,2,3,4,5,6); imp(1,2,3,4,6) TMP4 Redução do schwa final em verbos terminados em <zir> e em alguns verbos em <zer> e mudança de [z] por [ʃ]. Ex: <traduz>. pi(3); imp(2) Em alguns verbos existem pequenas irregularidades e nos quais, associado a uma mudança de timbre da UVR, apresentam também alternância entre consoantes. É o caso dos verbos <medir> e <pedir> onde se manifesta a alternância entre [ə] e [ɛ] e entre [d] e [s], como acontece em <eu peço>, [e pˈɛsu]. Estas situações (TMP2) ocorrem no presente do conjuntivo, 2.ª e 3.ª pessoa do plural e no imperativo, 1.ª pessoa do plural. Os sufixos dos verbos terminados em <air> apresentam pequenas alterações em TMP3, que correspondem ao presente do indicativo, pessoas (1,2,3,6), presente do conjuntivo (todas as pessoas) e imperativo (todas as pessoas exceto a 2.ª pessoa do plural): uma inserção de [j] no radical (por exemplo em <traio>, [tɾˈaju] e não [tɾˈau]), e a apócope do sch a [ə] quando este manifesta a determinação da 3.ª pessoa do singular nos sufixos regulares (por exemplo, <trai>, [tɾˈaj] e não [tɾˈaə] se fosse regular). 31 Existe, por fim, a situação em que as flexões dos verbos terminados em <zir> e alguns verbos em <zer> suprimem a vogal final (apócope do sch a [ə]). Acontece no presente do indicativo, 3.ª pessoa do singular e imperativo, 2.ª pessoa do singular (TMP4). É o caso do verbo <traduzir>: <traduz>, [tɾɐdˈuʃ] em vez de <traduze>, [tɾɐdˈuzə], embora no imperativo ambas as formas sejam possíveis. Outro exemplo é o do verbo <jazer>: <jaz>, [ʒˈaʃ]. 3. Os Paradigmas Verbais Com base na análise da pronunciação dos verbos e a comparação com as respetivas flexões com terminações regulares, é possível enumerar o número de irregularidades na pronunciação dos verbos bem como caracterizá-los em termos de paradigmas. Tabela 3. Paradigmas verbais dos verbos regulares e quase regulares quanto à pronunciação, com indicação do número de alterações nas flexões (alt); número de radicais diferentes (rad) e número de sufixos diferentes (suf). Mudança TMP n Paradigma <amar>,<viver>,<unir>,<pôr> u→ɔ 1b <dormir> u→ɔ 1b <cobrir>: pcp irreg. [kubˈɛɾtu] ɐ→a 1 <lavar>, <debater>, <agir> ɐ→a 1 <abrir>: pcp irreg. [ɐbˈɛɾtu] ə|e → ɛ 1 <negar> ə→e 1 <chegar> u→o 1 <somar> u→ɔ 1 <tocar> ə→ɐ 1 <desenhar> ə → ɐj 1 <desejar> i → ɐj 1 <ansiar> ɛ→i 1a+2 <refletir> → 1a+2 <sentir> v→s 1a+2 <ouvir> ə→i 1+2 <agredir> zə → ʃ 4 <jazer> zə → ʃ 4 <induzir> ə→i 1b <afluir> u → ɔj 1b <construir> u→o|ɔ 1a;1b <mover> ə|e|ɛ → e | ɛ 1a;1b <beber> ə → e| ɛ 1a;1b <escrever>: pcp irreg. [əʃkɾˈitu] ə → ɐj | ɛ 1a+2;1b <requerer> ə→i|ɛ 1a+2; 1b <ferir> ɐ → a; l →ʎ 1;1a+2 <valer> ə → ɛ; d → k 1;1a+2 <perder> ə → ɛ; d → s 1;1a+2 <medir> ɐ → aj; ə →i 3 <trair> 32 alt 0 4 5 12 13 12 12 12 12 12 12 12 11 11 11 15 2 2 4 4 12 12 13 15 15 15 15 15 15 rad suf 1 0 2 0 2 1 2 0 2 1 2 0 2 0 2 0 2 0 2 0 2 0 2 0 2 0 2 0 2 0 2 0 2 2 2 2 2 3 2 3 3 0 3 0 3 1 3 0 3 0 4 0 4 0 4 0 3 3 Nesta análise não consideremos as formas alternativas irregulares dos verbos abundantes. O verbo <negociar>, por exemplo, pode conjugar-se de forma regular, embora as formas irregulares sejam prevalentes: <negoceio> é mais usual que a forma regular <negocio>. Na enumeração das irregularidades, classificamos os verbos como irregulares sempre que o número de irregularidades é superior a 15. A Tabela 3 indica os paradigmas identificados para os verbos regulares e quase regulares, com a indicação da mudança, onde ocorre, e o verbo paradigma. Indica também o número de flexões que apresentam alterações no radical e/ou nos sufixos face à forma regular derivada; o número de radicais (fonológicos) diferentes que é necessário considerar para conjugar todas as flexões e o número de alterações nos sufixos. Na contagem de irregularidades foram considerados todos os tempos/modos/pessoas, com a particularidade de se considerar o imperativo segundo a seguinte regra simples: o imperativo apenas tem formas autónomas na 2.ª pessoa e todas as outras são derivadas do presente do conjuntivo. Tabela 4. Paradigmas dos verbos “irregulares”, com indicação do número de alterações nas flexões (alt); número de radicais diferentes (rad) e número de sufixos diferentes (suf). Paradigma <ler>, <crer> <rir> <prover> <aprazer> <dar> <estar> <caber> <poder> <saber> <querer> <haver> <ver> <ir> <ter> <ser> <vir> <dizer> <trazer> <fazer> alt 17 17 17 36 34 38 39 39 39 39 39 41 42 47 48 48 50 51 52 rad 3 2 4 4 1 1 4 5 5 5 5 4 5 6 5 4 5 6 8 suf 5 5 5 26 34 38 24 24 25 26 29 29 37 35 38 36 39 38 39 A Tabela 4 indica os paradigmas dos verbos irregulares. A Tabela 5 exemplifica as flexões do verbo <trair>, onde as alterações relativamente às formas regulares são indicadas a vermelho. Existem 3 radicais diferentes: [tɾɐ], [tɾˈaj] (em TMP1), [tɾɐi] (em TMP2) e 15 alterações em relação às formas regulares, três das quais nos sufixos (apócope do sch a [ə], identificado na tabela com o caráter ‘-’). 33 3.1 Algoritmo Dado um verbo na forma infinitiva (nas formas ortográfica e de pronunciação), ele é primeiramente classificado segundo a tipologia da Tabela 3 ou 4. Para isso o padrão do radical é analisado de forma a identificar verbos paradigma ou seus derivados. Por exemplo, <escrever> não é derivado de <ver> nem de <rever>, mas <repor> é derivado de <pôr>. Assim, também como exemplo, o verbo “absurdar” será considerado regular com radical [absuɾd] e UVR [u] que não sofre alterações de altura quando alterna entre posição tónica e átona. O possível verbo <repedir> será classificado com paradigma <medir>, radical <reped>, [ɾəpəd] com 15 flexões diferentes das regulares em TMP1a e TMP2 devidas à substituição de [d] por [k] no radical, além da mudança do timbre da vogal de [ə] para [ɛ] em TMP1. No entanto, não existe nenhuma alteração dos sufixos. Para cada verbo irregular existe uma tabela completa das pronunciações das flexões. Para os restantes verbos, foram definidas tabelas de radicais diferentes e de sufixos para as situações de mudança. Tabela 5. Pronunciação do verbo trair. Tempo/ Modo Pessoas 1 traio pi [tɾˈaj u] traía pii [tɾɐ ˈiɐ] traí ppi [tɾɐ ˈi] traira pmqi [tɾɐ ˈiɾɐ] trairei futi [tɾɐ iɾˈɐj] trairia cond [tɾɐ iɾˈiɐ] traia pc [tɾˈaj ɐ] traisse pic [tɾɐ ˈisə] trair futc [tɾɐ ˈiɾ] traia imp [tɾˈaj ɐ] trair infp [tɾɐ ˈiɾ] Formas nominais trair inf [tɾɐ ˈiɾ] 2 trais [tɾˈaj -ʃ] traías [tɾɐ ˈiɐʃ] traiste [tɾɐ ˈiʃtə] trairas [tɾɐ ˈiɾɐʃ] trairás [tɾɐ iɾˈaʃ] trairias [tɾɐ iɾˈiɐʃ] traias [tɾˈaj ɐʃ] traisses [tɾɐ ˈisəʃ] traires [tɾɐ ˈiɾəʃ] trai [tɾˈaj -] traires [tɾɐ ˈiɾəʃ] ger 3 trai [tɾˈaj -] traía [tɾɐ ˈiɐ] traiu [tɾɐ ˈi ] traira [tɾɐ ˈiɾɐ] trairá [tɾɐ iɾˈa] trairia [tɾɐ iɾˈiɐ] traia [tɾˈaj ɐ] traisse [tɾɐ ˈisə] trair [tɾɐ ˈiɾ] traia [tɾˈaj ɐ] trair [tɾɐ ˈiɾ] 4 traimos [tɾɐ ˈimuʃ] traíamos [tɾɐ ˈiɐmuʃ] traimos [tɾɐ ˈimuʃ] traíramos [tɾɐ ˈiɾɐmuʃ] trairemos [tɾɐ iɾˈemuʃ] trairíamos [tɾɐ iɾˈiɐmuʃ] traiamos [tɾɐi ˈɐmuʃ] traíssemos [tɾɐ ˈisəmuʃ] trairmos [tɾɐ ˈiɾmuʃ] traiamos [tɾɐi ˈɐmuʃ] trairmos [tɾɐ ˈiɾmuʃ] traindo [tɾɐ ˈ du] pcp 5 traís [tɾɐ ˈiʃ] traíeis [tɾɐ ˈiɐiʃ] traistes [tɾɐ ˈiʃtəʃ] traíreis [tɾɐ ˈiɾɐjʃ] traireis [tɾɐ iɾˈɐjʃ] trairíeis [tɾɐ iɾˈiɐjʃ] traiais [tɾɐi ˈajʃ] traísseis [tɾɐ ˈisɐjʃ] trairdes [tɾɐ ˈiɾdəʃ] traí [tɾɐ ˈi] trairdes [tɾɐ ˈiɾdəʃ] 6 traem [tɾˈaj ɐ ] traíam [tɾɐ ˈiɐ ] trairam [tɾɐ ˈiɾɐ ] trairam [tɾɐ ˈiɾɐ ] trairão [tɾɐ iɾˈɐ ] trairiam [tɾɐ iɾˈiɐ ] traiam [tɾˈaj ɐ ] traissem [tɾɐ ˈisɐ ] trairem [tɾɐ ˈiɾɐ ] traiam [tɾˈaj ɐ ] trairem [tɾɐ ˈiɾɐ ] traído [tɾɐ ˈidu] Para testar o algoritmo, as flexões em forma ortográfica foram convertidas em fonemas com o sistema ɡɾɐfɔnə [grafone 2011] e comparadas com as formas derivadas do algoritmo de pronunciação verbal. As discrepâncias encontradas serviram para refinar os algoritmos. Os verbos usados neste teste derivaram de uma pesquisa no CETEMPúblico, [Santos e Rocha 2001], onde se tomaram as frases anotadas. Foram contados os lemas verbais e respetivos tempos/modos, excluindo o particípio passado, devido ao seu possível valor como adjetivo. 34 4. Conclusões e trabalho futuro Neste trabalho são apresentados, de forma sistemática, os paradigmas de pronunciação de verbos em português europeu. A metodologia aplicada partiu da consideração de que a vogal temática, “ponto nevrálgico da estrutura interna das formas verbais” [Mateus 2003], é parte integrante dos sufixos, evitando-se assim a abordagem do conceito de supressão vocálica ao eliminar a necessidade da “supressão da vogal temática” quando esta não está presente nas flexões ou apresenta variações no seu timbre. A acompanhar a descrição deste sistema de pronunciação de verbos, apresentamos tabelas das tipologias de regularidade da pronunciação dos verbos, bem como da ambiguidade entre a forma pronunciada e os valores de tempo modo pessoa e número que a determinam. Nos verbos abundantes apenas foram consideradas as pronunciações regulares, não tendo sido matéria de análise os particípios passados alternativos e irregulares. Pretende-se estender este trabalho às conjugações pronominais, reflexas e recíprocas, bem como à pronunciação do português brasileiro. 7. Referências [Pessoa 1990] Pessoa, F. (1990) Livro do Desassossego. Organização e fixação de inéditos de Teresa Sobral Cunha, vol. I: 191. Coimbra: Presença. [Mateus 2003] Mateus, M.H.M. (2003) “Fonologia”, in Gramática da Língua Portuguesa. Edited by Mateus, M.H.M. et al., Editorial Caminho. [Mateus e Andrade 2000] Mateus, M.H.M. and d’Andrade, E. (2000) The phonology of portuguese. Oxford University Press. [Andrade 1980/81] Andrade, E. d’ (1980/81) “Sobre a alternância vocálica em português”, in Boletim de Filologia, XXVI: 69-81. [Villalva 2003] Villalva, A. (2003) “Estrutura morfológica básica”, in Gramática da Língua Portuguesa. Edited by Mateus, M.H.M. et al., Editorial Caminho. [Santos e Rocha 2001] Santos, D. and Rocha, P. (2001) “Evaluating CETEMPúblico, a free resource for Portuguese”, In Proceedings of the 39th Annual Meeting of the Association for Computational Linguistics: 442-449. [Bonami e Luís 2013] Bonami, O. and Luís, A. (2013) “Sur la morphologie implicative dans la conjugaison du portugais: une etude quantitative”. (acedido em 30 de abril de 2013) [Cunha e Cintra 2002] Cunha, Celso, Cintra, Lindley (2002) Nova Gramática do Português Contemporâneo. Edições João Sá da Costa. [Barbosa 1994] Barbosa, J. M. (1994) Fonologia e Morfologia do Português, Livraria Almedina. [grafone 2011] http://www.co.it.pt/~labfala/g2p/index.html 35