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Hospital AC Camargo
Tópico: HOSPITAL AC
CAMARGO
Veículo: Sites por Demanda
Data: 18/10/2013
Página: 00:00:00
Editoria: CâncerHoje
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Estomatologia e Oncologia: parceiras na assistência ao paciente
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Estomatologistas são dentistas especializados no tratamento das lesões da boca. Esses profissionais atuam de forma preventiva nos focos de
possíveis danos causados pela toxicidade do tratamento oncológico. O Portal & Revista Câncer Hoje entrevistou o Dr. Fabio de Abreu Alves,
diretor de Estomatologia do A.C. Camargo Cancer Center, que falou sobre a importância da estomatologia e de que forma ela contribui no
tratamento dos pacientes com câncer.
CÂNCER HOJE - Quais são as principais patologias que a estomatologia trata?
DR. FÁBIO - Estomatologia é a especialidade da odontologia que está envolvida no diagnóstico das doenças da boca, dos ossos gnáticos
(mandíbula e maxilas) e das glândulas salivares. Qualquer alteração ou doença nesta região, o diagnóstico é de competência do
estomatologista.
A especialidade também desempenha importante papel na oncologia. Além de atuar no diagnóstico do câncer de boca, tem papel fundamental
na prevenção e controle dos efeitos colaterais do tratamento oncológico que afetam a boca e glândulas salivares. Estes efeitos podem afetar de
forma intensa a qualidade de vida dos pacientes ou até mesmo comprometer o tratamento oncológico.
A mucosite oral pode estar associada à quimioterapia e/ ou a radioterapia, e é o efeito mais debilitante durante o tratamento oncológico. Muitas
vezes, o tratamento pode ser interrompido devido sua intensidade. A xerostomia, sintoma da boca seca, é outro efeito que compromete a
qualidade de vida do paciente. Pacientes xerostômicos são mais suscetíveis a desenvolver cáries e infecções na boca.
Outra parte importante na oncologia é avaliação odontológica previamente ao tratamento oncológico. Todos os pacientes que serão submetidos
à radioterapia e quimioterapia em altas doses deveriam passar por uma avaliação de um estomatologista antes do início do tratamento.
CH - Qual delas é mais prevalente?
DR. FÁBIO - De uma forma geral, as doenças benignas são as mais frequentes. Hiperplasias relacionadas a próteses mal adaptadas e aftas
são as lesões mais comuns da boca. Contudo, o câncer bucal é a 4ª neoplasia maligna mais frequente no homem e a 8ª na mulher. Ressaltase que 70% dos tumores malignos da boca são diagnosticados em estadio clínico avançado. Sendo assim, o exame minucioso da boca
deveria ser realizado de forma rotineira.
CH - Como a odontologia do dia a dia está envolvida com a estomatologia?
DR. FÁBIO - No curso de odontologia existe a disciplina de Estomatologia ou Semiologia, onde os alunos recebem informações sobre
estruturas anatômicas da boca, alterações e doenças. Ressalta-se que também é ensinado como realizar o diagnóstico de lesões bucais.
Entretanto, diria que cerca de 90% da formação do aluno é relacionada à odontologia aplicada ao tratamento dentário. Sendo assim, o conteúdo
de Estomatologia não é totalmente absorvido.
Ainda neste aspecto, o cirurgião-dentista é o profissional da área de saúde que mais examina a cavidade bucal. Entretanto, muita atenção se dá
aos dentes e aos seus tecidos de suporte (gengiva). Não é infrequente depararmos com pacientes que relatam que estavam em tratamento
odontológico e que o cirurgião-dentista não observou determinada lesão, e em alguns o diagnóstico foi de câncer. Existem trabalhos realizados
no Brasil mostrando que aproximadamente 40% dos casos de câncer de boca houve atraso no diagnóstico. E este atraso foi decorrente da
desinformação de algum profissional da área de saúde, principalmente médicos e dentistas.
CH - Como o estomatologista atua na prevenção do câncer e como interage com outros profissionais envolvidos no tratamento?
DR. FÁBIO - Em minha opinião, no Brasil, ainda não temos um programa ideal de prevenção do câncer de boca. O autoexame da cavidade oral
é muito questionado, existem pontos positivos e negativos. O positivo seria a identificação de alterações na boca pelo paciente e este procurar
o profissional rapidamente. Mas, o problema é que, muitas vezes, o câncer está em locais de difícil visualização como a borda posterior da
língua, o palato mole e outros, não sendo desta forma identificado.
Gostaria de ressaltar que no programa de vacinação da gripe, que acontece anualmente, há também a participação do cirurgião-dentista para
avaliação da cavidade oral, sendo que alguns casos de câncer e outras doenças da boca são identificados nesta campanha.
Especificamente no A.C. Camargo Cancer Center, a integração do estomatologista com as outras equipes médicas, como fonoaudiologia,
enfermagem, fisioterapia e outras, acontece intensamente. Somos acionados quando qualquer problema na boca é identificado, participamos
de cirurgia em conjunto com o Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, além de cuidar dos efeitos colaterais do tratamento
oncológico. Recentemente, estamos intensificando nossa participação na UTI, inclusive uma dissertação de mestrado foi realizada em comum
com o grupo da UTI. Contudo, nossa realidade não é a mesma de outras Instituições. Às vezes alguns colegas comentam da dificuldade de
dialogar com profissionais de outras áreas. A mensagem que posso passar é que o paciente precisa ser avaliado de forma integrada, somente
assim podemos propiciar melhor qualidade de vida a eles.
CH - Quais são as mais novas formas de tratamento do câncer bucal?
DR. FÁBIO - O tratamento do câncer de boca pode envolver cirurgia, radioterapia e quimioterapia. O tamanho e o local do tumor são fatores
que devem ser considerados para a definição do tratamento. Importante comentar que a definição do tratamento é realizada por médicos
cirurgiões de cabeça e pescoço, radioterapeutas e oncologistas clínicos. O estomatologista participa do diagnóstico do câncer de boca, da
prevenção e controle dos efeitos colaterais e da reabilitação com próteses.
CH - Que cuidados o paciente com câncer, seja bucal ou não, deve ter?
DR. FÁBIO - Todo paciente que está em tratamento oncológico necessita ter excelente saúde bucal. Uma avaliação odontológica antes do
tratamento pode evitar complicações graves. Quando o pacientes está imunossuprimido (em quimioterapia ou transplante de medula) é mais
suscetível a desenvolver infecções generalizadas decorrentes de micro-organismos presentes na boca. Sendo assim, cuidados com a saúde
da boca devem ser intensificados. Outra parte importante, já mencionada anteriormente, se refere aos efeitos colaterais do tratamento
oncológico.
CH - Como identificar sintomas relacionados ao câncer bucal?
DR. FÁBIO - O câncer de boca, muitas vezes, não apresenta sintomas nas fases iniciais. Ou seja, o paciente não sente dor ou desconforto.
Clinicamente, no início, pode ser observada uma placa branca irregular, áreas avermelhadas ou até mesmo pequenas úlceras (feridas) que não
cicatrizam. Com a evolução do tumor, úlceras com superfície necrótica são a principal forma de apresentação.
Pacientes e profissionais devem ficar atentos para úlceras que não cicatrizam.
CH - Gostaria de deixar uma mensagem/ informação adicional?
DR. FÁBIO - A mensagem que quero deixar é que o atendimento integrado entre as equipes envolvidas no tratamento do câncer é fundamental
para o sucesso do tratamento e melhor qualidade de vida dos pacientes.
Os profissionais devem procurar pela melhor formação e estar sempre aprimorando. A participação em eventos nacionais e internacionais e a
leitura de artigos científicos são atividades fundamentais para estar atualizado. Temos no AC Camargo Cancer Center a residência em
Estomatologia, que são 2 anos de dedicação integral ao diagnóstico e atendimento ao paciente oncológico. Considero como uma excelente
opção para interessados na área de Estomatologia.
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