Vírus Virologia - São agentes infecciosos, não celulares. São parasitas intracelulares obrigatórios e infectam hospedeiros específicos Virologistas - Animais - Insectos (alguns, são vectores na transmissão a animais e humanos) - Plantas - Doenças (impacto na Saude Pública, na Agricultura, Economia, etc.) Bactérias (chamam-se bacteriófagos ou fagos) - Fungos - Outros microrganismos Principais vias de transmissão de infeccções virais aos seres humanos. Preocupações em Saúde Pública: - Vírus emergentes (HIV, Ebola, etc,) - Facilidade de viajar e alteração do meio Ambiente, podem contribuir para espalhar “novos” virus para novas áreas (Maier, Pepper e Gerba, Environmental Microbiology, Academic Presss, 2000 - Muitas epidemias de doenças virais ocorreram antes de se ter percebido a natureza dos agentes causadores. (Ex. colonização da América pelos europeus (sec. XVI) P. ex. Varíola (small pox) contribuiu para dizimar populações nativas) 1884 – Charles Chamberland (colaborador de Pasteur; inventor da autoclave) inventou um filtro de porcelana para bactérias – possibilitou a 1ª descoberta de um virus. 1892 – Dimitri Ivanowski – descobriu o virus mosaico do tabaco; Extractos de folhas infectadas, filtrados através do filtro de Chamberland, causavam a doença de mosaico do tabaco em plantas saudáveis. (Tortora, Funke e Case, Microbiology – an Introduction, 6th edition) Aspectos que distinguem os virus de organismos celulares: • • • • Organização estrutural simples Um único tipo de ácido nucleico, DNA ou RNA Incapazes de se reproduzir fora das células vivas; usam a maquinaria biossintética da célula hospedeira Parasitas intracelulares obrigatórios A Estrutura dos virus (Prescott, Harley, Kline, Microbiology, 6th edition, 2005, McGraw-Hill) VIRIÃO OU PARTÍCULA VIRAL – vírus completo, fora da célula hospedeira Ex. Virus icosaédrico Propriedades estruturais gerais • Nucleocápside – Genoma viral (1 ou mais moléculas de DNA ou RNA) envolvido por camada proteica (cápside) • Cápside – Camada de proteínas que envolve o genoma viral – Protege o genoma e medeia a transferência do virus para a célula hospedeira – Constituida por muitas cópias de um ou mais tipos de unidades proteicas denominadas capsómeros (cada capsómero pode ser constituido por 5 ou 6 subunidades - protómeros). Capsómeros Unidades proteicas que se auto-associam para formar a cápside. Tipos morfológicos da cápside icosaédrico helicoidal com invólucro complexo (Prescott, Harley, Kline, Microbiology, 6th edition, 2005, McGraw-Hill) Morfologia de um virus icosaédrico sem envelope (nú) Adenovirus (Alguns causam infecções respiratórias em humanos; alguns causam tumores em animais) Cápside icosaédrica - Poliedro regular com 20 faces triangulares com lados iguais e 12 vértices - Cada tiângulo pode conter uma ou mais unidades proteícas - capsómeros - Cada capsómero contém 5 ou 6 proteínas Morfologia de um virus helicoidal sem envelope (nú) Ebola virus Cápside helicoidal - Com forma de tubo oco, com paredes constituídas por um ou mais tipos de proteínas; p.ex. a cápside do vírus mosaico do tabaco contem apenas um tipo de subunidade proteica com 158 aminoácidos - O material genético encontra-se em espiral dentro da cápside e o tamanho desta depende do tamanho do ácido nucleico Morfologia de vírus com envelope (Ex. muitos virus de animais, alguns de plantas e pelo menos 1 de bactérias) - Nucleocápside (icosaédrico ou helicoidal) envolvido por uma membrana externa (constituida por lípidos, proteínas e hidratos de carbono) - lípidos e hidratos de carbono têm origem na membrana plasmática ou na membrana do núcleo da célula hospedeira; as proteínas são específicas do vírus - muitos possuem espigões de glicoproteínas que lhes conferem forma de aderir à superfície das células infectadas. (Fago T4 / E. coli - colifago) Vírus com estrutura complexa - Tem componentes com estrutura icosaédrica e helicoidal - Cabeça icosaédrica contem o genoma viral - Alguns têm caudas contrácteis, com uma estrutura em hélice e várias fibras proteicas responsáveis pela aderência do virus à superfície da bactéria - Só encontrado em bacteriófagos (p.ex. colifagos T2, T4 e T6 - infectam E. coli) Genoma viral - natureza do ácido nucleico . Dimensão variável mas pequena: maior genoma viral conhecido – 670 kbp . Pode ser DNA ou RNA, em cadeia simples (ss) ou cadeia dupla (ds), linear ou circular (maior parte dos virus têm genomas lineares); alguns virus usam ambos, DNA e RNA, como material genómico em diferentes fases do seu ciclo de vida. Em geral: Vírus de animais – dsDNA, ssDNA, dsRNA, ssRNA Vírus de plantas – ssRNA Vírus de bactérias – dsDNA (mais usual), ssDNA, ssRNA, dsRNA . Muitos genomas apresentam as bases azotadas características do RNA ou do DNA; outros têm bases menos ususais como hidroximetilcitosina em vez de citosina Formação de mRNA e replicação dos genomas em (a) virus de DNA e (b) virus de RNA (passos essenciais nos ciclos de vida dos virus). (a) (b) Convenção (virologia): mRNA – configuração “plus(+)”; cadeia complementar – configuração “minus(-)”) . Designação de vírus com RNA ou DNA em cadeia simples: - “plus(+)” - virus com cadeia no sentido positivo (a sequência de bases do RNA genómico do virus tem a mesma orientação que a do mRNA viral) - “minus(-)” – virus com cadeia no sentido negativo (o RNA genómico do virus é complementar do mRNA viral) De acordo com: Classificação e taxonomia dos vírus - Natureza do hospedeiro - Tipo e tamanho do ácido nucleico - Simetria e diâmetro da cápside - Número de capsómeros em vírus icosaédricos - Presença ou não de envelope a envolver a nucleocápside - Tipo e composição (lipidos, proteinas, hidratos de carbono) do envelope (quando existente) - Propriedades imunológicas - Nº de genes e mapa genético - Modo de transmissão do vírus ao hospedeiro - Localização intracelular do vírus na célula hospedeira (após infecção) - Forma como o vírus sai da célula (após replicação) - Doença causada, método de transmissão, viridae - família - Etc. Ex. Retroviridae Herpesviridae (ssRNA) (dsDNA) BACTERIÓFAGOS OU FAGOS – vírus que infectam bactérias Famílias principais (E. coli) Especificidade virus-hospedeiro Depende da especificidade da ligação do virus a locais receptores na superfície da célula hospedeira; (T2, T4) (lambda, T5) (Pseudomonas sp) (E. coli) (Mycoplasma sp) Consoante o fago e a bactéria hospedeira, os receptores podem ser: - LPS (lipopolissacárido) - proteínas - ácidos teicóicos - flagelo - pili PERDA DESTES RECEPTORES Resistência da bactéria à infecção pelo fago (Pseudomonas sp) (Prescott, Harley, Kline, Microbiology, 6th edition, 2005, McGraw-Hill) REPRODUÇÃO DE FAGOS COM dsDNA Exemplo. Fago T4 / E. coli Attachment of T4 bacteriophage virion to the cell wall of Escherichia coli and injection of DNA. (a) Landing and attachment, by the long tail fibers interacting with core polysaccharide (b) Contact of cell wall by the tail fibers (electrostatic interactions; influenced by Mg2+ e Ca2+ ions) (c) Contraction of the tail sheath and injection of the T4 genome CICLO LÍTICO Fagos virulentos – Ciclo de vida culmina na lise da célula hospedeira, para libertação dos viriões novos Lise enzimática: -Endolisina (ataca peptidoglicano) -Holina (lesões nas membranas celulares) - usa RNA polimerase da célula - Sintese de proteínas que permitem ao fago bloquear o metabolismo da célula hospedeira, Degradar DNA da célula hospedeira e - DNA T4 contém hidroximetilcitosina (HMC) em vez de citosina; - HMC é glucosilado Glucosilação protege DNA do fago da acção de endonucleases de restrição das células infectadas (mecanismo de defesa contra infecção viral) produzir cópias novas do DNA viral - Síntese de proteínas do capsídeo, da cauda e outras necessárias para a montagem do virião (Prescott, Harley, Kline, Microbiology, 6th edition, 2005, McGraw-Hill) . Fase latente (entre adsorção do virus e libertação dos viriões maduros): 22 min . Libertação de cerca de 100 viriões a partir de 1 célula infectada por 1 virus (colifago T4) Cultivo de vírus de bactérias (bacteriófagos) - são cultivados em culturas de células bacterianas - quantificação: Bacteriófagos Líticos : -- Em Em meio meio líquido líquido causam clarificação da suspensão celular de bactérias -- Em Em meio meio sólido sólido levam à formação de placas (ou halos) de lise “PFU – Plaque Forming Units” (Madigan, Martinko e Parker, Brock Biology of microorganisms, 10th ed) FAGOS TEMPERADOS E CICLO LISOGÉNICO Ex. Fago lambda / E. coli Excision Indução do ciclo lítico é um fenómeno raro e pode ser estimulado por radiação UV, temperaturas altas ou stresse químico (vantagens) GENOMA DO FAGO λ Repressor lambda • • Produto do gene cI Bloqueia a transcrição dos genes do ciclo lítico, incluindo do gene cro Proteina Cro • • Envolvida na regulação dos genes do ciclo lítico Bloqueia a sintese do repressor lambda Taxa de produção dos produtos dos genes cro e cI determina se ocorre o ciclo lisogénico ou o lítico. Indução está associada a redução nos níveis do repressor lambda - pode ser causada por radiação UV ou químicos que causam danos no DNA Consequências principais da lisogenia 1. Células lisogénicas são imunes a reinfecção pelo mesmo fago; 2. Células hospedeiras lisogénicas podem exibir fenótipo alterado. Por exemplo: - modificação da estrutura do lipopolisacárido (LPS) de Salmonella sp. - produção de toxinas por bactérias patogénicas (exotoxina da difteria por Corynebacterium diphtheriae; toxina de Staphylococcus aureus – escarlatina toxina de Clostridium botulinum - botulismo) 3. Transdução especializada Transdução – transferência de material genético entre bactérias mediada por virus (ver também transdução generalizada em aula sobre transferência de material genético) Transdução especializada Após indução, quando o profago sofre excisão do cromossoma da célula hospedeira, uma porção deste pode permanecer ligado ao DNA do fago; após o ciclo lítico, os fagos resultantes infectam novas células bacterianas e ao incorporar o seu DNA no cromossoma destas, podem transportar um ou mais “novos” genes que podem ser expressos pelas células infectadas e conduzir a alterações fenotípicas. (Pelczar, Chan and Krieg, Microbiology, Concepts and Aplications, 1993) Biotech News International, Vol. 10. Nº1, 1-2 / 2005 (www.BiotechDaily.com) Purificação de partículas virais: por centrifugação de gradiente de densidade 1º) rotura das células infectadas suspensas em tampão adequado 2º) Centrifugação: MISTURA DE PARTICULAS (viriões e macromoléculas, organelos, etc. provenientes das células hospedeiras) Particulas menos densas Particulas mais densas - Gradiente de sacarose linear - Centrifugação pode separar as partículas com base na sua densidade e no seu coeficiente de sedimentação (função do tamanho e densidade da particula – virus, macromolecula ou estrutura biológica). (Prescott, Harley, Kline, Microbiology, 6th edition, 2005, McGraw-Hill) Purificação de partículas virais: por centrifugação diferencial Sobrenadante, com moléculas solúveis Partículas virais icosaédricas Organelos das células hospedeiras (Prescott, Harley, Kline, Microbiology, 6th edition, 2005, McGraw-Hill) Purificação de partículas virais: digestão enzimática de constituintes celulares das células hospedeiras P.ex. Remoção de ácidos nucleicos e proteinas celulares (das células hospedeiras) das preparações de viriões por acção de nucleases e proteases (particulas virais completas são muito resistentes à acção desses agentes) Principais familias de virus que infectam animais (varíola) (Hepatite B) (Herpes simplex; varicela) (cancro) (constipação; isolados de adenóides) (raiva) (gripe) (Ebola; Marbourg) (rubéola) (poliomielite; hepatite A) (Prescott, Harley, Kline, Microbiology, 6th edition, 2005, McGraw-Hill) Isolamento e cultivo de virus O cultivo de virus requer um hospedeiro vivo. Vírus de animais: - animal (cobaia de laboratório) - ovo de galinha fertilizado - Linhas celulares; cultura de tecidos de células animais (Prescott, Harley, Kline, Microbiology, 6th edition, 2005, McGraw-Hill) As células infectadas podem sofrer degenerescência, observável por microscopia (EFEITO CITOPÁTICO) As células infectadas por CERTOS VIRUS também podem sofrer LISE – quando lisam forma-se uma área, localizada, de destruição denominada placa (HALO DE LISE) Photomicrograph of a cell culture Cell cultures in monolayers grown on a Petri plate and plaques due to virus-induced cell lysis Efeitos possíveis da infecção por virus em células animais hospedeiras (Ex. Cancro) (Ex. hepatite A) (Ex. sarampo; hepatite B; papeira; rubéola, gripe) (Ex. Herpes simplex virus; varicela; citomegalovirus) Virus de animais Penetração do virus na célula hospedeira 1. Ex. poliomaviridae Plasma membrane 2. Plasma membrane (Prescott, Harley, Kline, Microbiology, 6th edition, 2005, McGraw-Hill) Ex. HIV 3. Ex. Gripe (influenza) Endossome citoplasm (Prescott, Harley, Kline, Microbiology, 6th edition, 2005, McGraw-Hill) (Tortora, Funke e Case, Microbiology – an Introduction, 6th edition) Movimento de um vírus no citoplasma de uma célula Libertação de um virus com invólucro (Ex. influenza) - por gemulação da membrana citoplasmática da célula hospedeira 1º) Hemaglutidina e neuraminidase (proteínas virais) são inseridas na membrana plasmática da célula hospedeira 2º) nucleocápside liga-se à membrana e proteinas da membrana (a verde) são afastadas 3º) membrana sofre gemulação e liberta virião maduro (Prescott, Harley, Kline, Microbiology, 6th edition, 2005, McGraw-Hill) Neuraminidase – enzima que ajuda o virus a penetrar células do epitélio respiratório do hospedeiro infectado Hemaglutinina – permite ao virus aderir aos glóbulos vermelhos do sangue causando a aglutinação destes; participa na adsorção do virus à célula hospedeira. (Prescott, Harley, Kline, Microbiology, 6th edition, 2005, McGraw-Hill) Diagrama simplificado do ciclo de vida de virus Influenza ( negative ssRNA) . Entrada por endocitose e transferência da molécula (-) ssRNA viral para o nucleo da célula infectada; . Transcrição do RNA viral (passo 1) (moléculas RNA da célula hospedeira são cortadas na extermidade 5´ e os fragmentos resultantes (10-13 nucleotideos) “capped” são usados como iniciadores (“primers”) na síntese de mRNA viral (+)) mRNA viral medeia: . Passos A - síntese da RNA Polimerase (replicase PBI, que cataliza a replicação do RNA viral) e síntese das proteínas da cápside (NP); . Passos B – síntese das proteínas do envelope externo do novo virus, HA – hemaglutinina e NA – Neuramidase, que são inseridas na membrana citoplasmática da célula hospedeira. . Replicação do RNA viral (passo 2) (A replicase viral (PBI) converte o (-)ssRNA viral numa molécula de RNA em cadeia dupla, que é designada forma replicativa, e a cadeia (+) desta medeia a síntese de várias cópias de novo RNA viral (-ssRNA). . Associação de cópias novas da cápside e do RNA viral. (Passos C) . Saída dos viriões maduros da célula por gemulação A B C FIG. 18.7 (Prescott, Harley, Kline, Microbiology, 6th edition, 2005, McGraw-Hill) RETROVIRUSES Retroviruses are RNA viruses that replicate through a DNA intermediate. The retrovirus called human immuno deficiency virus (HIV) causes AIDS. The retrovirus virion contains an enzyme, reverse transcriptase, that copies the information from its RNA genome into DNA, a process called reverse transcription. Structure of a retrovirus The retrovirus DNA can be transcribed to yield mRNA (and new genomic RNA) Genetic map of a typical retrovirus genome Gag → large primary gag protein → core proteins (due to protease activity) Pol → reverse transcriptase and integrase Env → envelope proteins R – direct repeats (replication process) Some retroviruses have a 4th gene envolved in cellular transformation and cancer ssRNA(+) → ssDNA → dsDNA → mRNA (ssRNA +) or may remain in a latent state. Examples of retroviruses: - Some exist that cause cancer - HIV – human immunodeficiency virus (infects a specific kind of T lymphocyte; immune system) Processo de replicação em retrovirus: (são virus com envelope; a partícula viral contém enzimas: transcriptase reversa, integrase de DNA e protease). Passos principais: Entrada na célula por fusão entre o envelope do virus e a membrana plasmática da célula, em locais da memebrana plasmática com receptores específicos; o envelope do virus fica na membrana plasmática, e o nucleocápside, contendo o genoma e as enzimas, é libertado no citoplasma; Transcrição reversa do ssRNA em dsRNA, por acção da transcriptase reversa viral, e entrada do dsDNA resultante no núcleo da célula hospedeira; Integração do DNA retroviral (Provirus) no genoma da célula hospedeira (pode permanecer nesse estado estável indefinidamente); Transcrição do DNA retroviral, levando à formação de moléculas de mRNA viral e do genoma viral (ssRNA); Montagem e encapsidação do RNA genómico em nucleocápsides, no citoplasma; Aquisição do envólucro na membrana plasmática e saída do virus completo por gemulação. R – direct repeats LTR – Long terminal repeats AGENTES QUIMIOTERAPÊUTICOS ANTIVIRAIS • Genéricamente, drogas antivirais clinicamente efectivas incluem análogos de nucleósidos e outras drogas que inibem a polimerização de ácidos nucleicos e a replicação do genoma do virus. Inibidores de proteases → interferência nos passos de maturação do virus Análogos de nucleósidos → inibição do enlongamento da cadeia de ácidos nucleicos virais Interferão → paragem do processo de replicação viral; são glicoproteínas de baixo peso molecular (17.000 Da) que são produzidas pelas células animais em resposta à infecção por certos virus; as moléculas de interferão induzem a síntese de proteínas antivirais na célula infectada que especificamente inibem o processo de tradução do mRNA do vírus. (Lim, D, Microbiology, 2nd ed, 2002, WCB/McGraw-Hill)