PDF - Editora Realize

Propaganda
FISIOTERAPIA NA SÍNDROME DO QUADRIL EM RESSALTO
Julyana Renata Fidelis Guerra (1); Mariana Cavalcante de Menezes (2); Stephanie Geyse Dantas de
Figueiredo (3); Bárbara Sousa dos Santos (4); Vitória Regina Quirino de Araújo (5).
Universidade Estadual da Paraíba, [email protected]
Resumo: A síndrome do quadril em ressalto é um complexo de sintomas, caracterizada por um
“agarramento” musculoesquelético ocasionando dor e um audível estalido do quadril aos movimentos, visto
tipicamente em indivíduos jovens ativos. São descritos variantes internos e externos, sendo a etiologia
interna a menos compreendida. A síndrome pode ser originada por uma sobrecarga dos movimentos do
quadril e atinge em maior proporção mulheres, na faixa dos 15 aos 40 anos de idade; os homens, embora em
menor quantidade, também são acometidos por essa patologia. Não são encontradas causas definidas, porém
sabe-se que, na maioria dos casos, quando a síndrome é sintomática o tratamento baseia-se na fisioterapia e
em medicamentos analgésicos. Caso os sintomas persistam, é indicado o procedimento cirúrgico (artroscopia
do quadril). A fisioterapia é primordial para o reestabelecimento da funcionalidade do indivíduo, reduzindo o
quadro de dor crônica e incrementado a independência do mesmo nas atividades de vida diária. O presente
estudo de caso buscou estabelecer um protocolo de atendimento fisioterapêutico objetivando a diminuição do
quadro álgico de uma paciente jovem do sexo feminino, assim como o ganho no arco do movimento do
quadril, através de atendimentos semanais (2 vezes/semana) na Clínica Escola de Fisioterapia da
Universidade Estadual da Paraíba com duração de 60 minutos.
Palavras-chave: Fisioterapia. Síndrome do Quadril em Ressalto. Ressalto Externo do Quadril.
Introdução
do glúteo máximo se sobrepõe ao trocanter
Segundo Laurino (2014), a articulação do
maior, a partir dos movimentos de flexão ou
quadril tem importância fundamental na
extensão do quadril (CABRITA, 2011).
movimentação do membro inferior e permite
O
movimentos em múltiplos planos como a
clinicamente e a partir de exames de imagem,
flexão e a extensão, a adução e abdução e as
como radiografia (ânteroposterior da pelve)
rotações interna e externa.
que podem ser úteis na confirmação do
A Síndrome do Ressalto do Quadril (SRQ) é
diagnóstico principalmente quando apresenta
caracterizada por um ressalto sonoro, como
o tendão do grupo iliopsoas ressaltando ao
um estalido, que ocorre dentro ou ao redor do
movimento do quadril (ALLEN, 1995; LEE,
quadril (CHEATHAM, 2015). Possui diversas
2013;
causas e pode ser dividido em três tipos:
Ultrassonografia Dinâmica também pode ser
externo, interno e intra-articular. O ressalto do
usada para identificar subluxações transitórias
quadril do tipo externo ocorre quando uma
do tendão do iliopsoas em pacientes com
área encurtada/espessada da porção posterior
ressalto doloroso do quadril (JANZEN, 1996).
da banda iliotibial ou da borda anterior final
(83) 3322.3222
[email protected]
www.conbracis.com.br
diagnóstico
é
normalmente
ILIZALITURRI,
2006).
feito
A
Em
indivíduos
assintomáticos,
nenhum
literatura,
tornando
todo
tratamento
tratamento é indicado, sendo sugerido evitar
fisioterapêutico, um tratamento experimental.
posicionamentos
O
e
movimentos
que
presente
estudo,
tendo
como
base
provoquem o estalido/ressalto. Quando o
referências prévias e a análise do caso de uma
ressalto é sintomático o tratamento inicial é o
paciente com a síndrome do quadril em
conservador onde são indicados analgésicos e
ressalto buscou criar um protocolo de
a
atendimento objetivando o alívio da dor,
fisioterapia
para
alongamento
e
fortalecimento muscular (KEENE, 2015).
melhora na capacidade funcional e ganho da
A maioria dos casos responde bem ao
amplitude de movimento do quadril além do
tratamento
fortalecimento
conservador
(ILIZALITURRI,
muscular
dos
membros
2006), quando este não é efetivo recomenda-
inferiores.
se a artroplastia do quadril (POLESELLO,
Metodologia
2013) através da Z-plasty -técnica cirúrgica
A metodologia adotada é de estudo de caso
utilizada desde 1980 que alonga o trato
com intervenção, realizada no período de
iliotibial e anterioriza as fibras, até então
fevereiro a maio do corrente ano. O caso
encurtadas, para que não haja mais a
descrito, cujo pseudonônimo é Maria, é do
sobreposição ao trocanter maior com o
sexo feminino, 22 anos, casada, mãe de um
movimento
filho, ensino médio completo, atualmente é do
de
flexão
do
quadril
(BRIGNALL, 1991).
lar, tendo como hobbies passear com o
A fisioterapia mostra-se como a principal
marido e filho e ir à igreja, evangélica,
alternativa
residente em Campina Grande – Paraíba,
a
procedimentos
fim
de
evitar
cirúrgicos,
possíveis
chegando
a
apresentando,
um
quadro
de
resolver boa parte dos casos através de
comprometimento
técnicas como alongamentos e exercícios de
Síndrome
fortalecimento (KEENE, 2015). A fisioterapia
fibromialgia e fratura consolidada de cóccix
se mostra efetiva quanto à melhora do quadro
com anteriorização de peças coccígeas. Num
álgico, proporciona maior funcionalidade e
período
facilita as atividades de vida diária, e gerando
realizados dois atendimentos por semana com
bem-estar ao portador da SQR.
duração de 01h (uma hora) cada, somando 27
Apesar da importância da fisioterapia para os
atendimentos
indivíduos portadores dessa síndrome, poucos
Fisioterapia da Universidade Estadual da
protocolos de atendimento são encontrados na
Paraíba.
(83) 3322.3222
[email protected]
www.conbracis.com.br
do
de
mioosteoarticular:
Quadril
quatorze
na
em
Ressalto,
semanas,
Clínica
Escola
sendo
de
O protocolo de tratamento se baseou na
fortalecimento
diminuição do quadro álgico; alongamento do
isquiotibiais, glúteos e iliopsoas, além do
trato ilitibial, glúteo máximo e adutores;
fortalecimento dos músculos
ganho de amplitude de movimento no quadril;
lombar
fortalecimento dos MMII.
abdutores do quadril e quadríceps através de
A paciente iniciou o tratamento com um
contração
quadro álgico intenso, chegando a apresentar
agachamento,
dor 7, na região do quadril, segundo a Escala
postura para a paciente.
Visual Analógica da Dor (E.V.A.). Notou-se
Após os seis atendimentos iniciais, a paciente
que a maior queixa se referia ao quadril em
referiu melhora total da dor na região pélvica,
ressalto e dor no cóccix em decorrência da
sendo suspensa a aplicação da TENS. Os
fratura que se consolidou em anteriorização,
exercícios de fortalecimento para os membros
sensibilizando a região coccígea. Identificou-
inferiores foram gradativamente reforçados e
se ainda a presença de estalido no momento
a partir de dez atendimentos, passamos a
em que a paciente iniciava a fase de balanço,
realizar alongamento global, com auxílio da
tornando a marcha dolorosa e deficitária.
bola suíça após a conduta de alongamento e
A fibromialgia, mesmo com o diagnóstico já
fortalecimento, proporcionando à paciente um
estabelecido, não se caracterizava como a
momento para o relaxamento muscular.
principal queixa da paciente, apesar da
O tratamento fisioterapêutico buscou, além de
presença do quadro álgico difuso.
eliminar as queixas dolorosas, melhorar o
A conduta fisioterapêutica adotada para a
condicionamento físico da paciente e dar
minimização dos sintomas álgicos na região
orientações para o dia-a-dia de forma que os
pélvica utilizou da Neuroestimulação Elétrica
esforços realizados fossem feitos com menor
Transcutânea (TENS) com fins analgésicos
desprendimento de energia, evitando tensões
durante 30 min no início de cada atendimento.
desnecessárias e, sobretudo, menor frequência
Com vistas ao ganho da funcionalidade,
dos ressaltos.
inicialmente foram realizadas 10 repetições
Ao longo da conduta, realizou-se a avaliação
em 3 séries de exercícios objetivando a
da distribuição da pressão plantar através da
dissociação pélvica, com auxílio da bola suíça
baropodometria.
e, à medida que a paciente indicou melhora no
computadorizado
quadro álgico, foram incrementados outros
quantificadas as pressões nas diversas partes
exercícios
da planta do pé durante o apoio. As pressões
visando
o
alongamento
(83) 3322.3222
[email protected]
www.conbracis.com.br
e
da
(grande
musculatura
dorsal,
isométrica,
A
partir
foram
da coluna
paravertebrais),
flexão
favorecendo
dos
resistida
uma
desse
e
melhor
exame
medidas
e
plantares podem ser medidas com o paciente
ativo livres e, após a mesma relatar facilidade,
parado (fase estática) ou com o paciente
chegou aos movimentos resistidos.
caminhando (fase dinâmica). Foram avaliadas
Além do tratamento realizado na Clínica
as pressões com a paciente na fase estática e
Escola de
observou-se que o pé direito apresentava
Estadual da Paraíba, era recomendado que a
maiores valores na distribuição da pressão
paciente realizasse os exercícios, feitos nos
plantar, sendo o calcanhar, o ponto de maior
atendimentos, em domicílio, intensificando os
pressão, o que sugere a ocorrência de mais
ganhos devido a manutenção da frequência
apoio com a perna direita, confirmando com
dos exercícios e gerando um maior esforço
os dados clínicos da paciente, visto que essa
por parte da musculatura trabalhada.
relatava que o quadril do lado esquerdo
A
ressaltava
frequência,
protocolo de atendimento, em todos os
sobrecarregando, portanto, o membro inferior
encontros mostrou-se cooperativa e disposta a
direito.
todo o tratamento proposto, mesmo quando
A
partir
tratamento
com
desses
maior
dados,
fisioterapêutico,
paciente
Fisioterapia da Universidade
aderiu
satisfatoriamente
incluiu-se
no
chegava com dores e incômodos.
o
de
Resultados e Discussões
treino
ao
marcha associado a uma distribuição mais
Durante o tratamento, foi possível observar
igualitária do peso em ambos os membros,
melhora geral do quadro da paciente como a
corrigindo também o padrão vicioso adotado
eliminação do quadro álgico, a normalização
para
do padrão patológico adotado durante a
evitar
o
ressalto
do
quadril,
principalmente do lado esquerdo, visto que a
deambulação.
paciente caminhava com o membro esquerdo
Através da reavaliação, foram realizados os
rotacionado internamente. O equilíbrio da
movimentos
de
paciente se apresentou deficitário durante a
abdução/adução,
rotação
execução de exercícios com o balanço e o
externa do quadril e notou-se ganho de
exercício de ponte e treinos de equilíbrio
amplitude e diminuição da sensação dolorosa
passaram a fazer parte da conduta.
em todos os movimentos.
Os exercícios progrediram em quantidade,
Nos testes especiais feitos, a paciente não
intensidade e resistência. A paciente iniciou o
relatou incômodo nem dor na realização da
protocolo realizando os movimentos de forma
anteroversão e retroversão do quadril, assim
ativo-assistida, seguindo para movimentos
como em nenhum dos movimentos realizados
ao final do tratamento.
(83) 3322.3222
[email protected]
www.conbracis.com.br
flexão/extensão,
interna/rotação
Quanto à dor, a paciente reportou dor 0, de
Abdução
10º
12º
acordo
Observou-se
Adução
10º
16º
fortalecimento dos membros inferiores com
Rotação
ganho muscular quantificado através da
Interna
10º
10º
mensuração dos membros com acréscimo de
Rotação
2 cm em relação às medidas iniciais.
Externa
16º
16º
com
a
E.V.A.
Na fase inicial do tratamento, a paciente
apresentou ressalto em ambos os quadris, a
partir
da
movimentação
em
pequenas
Pós-tratamento
Movimentos
amplitudes, sendo o quadril esquerdo o que se
do Quadril
MID
MIE
mostrava-se mais comprometido. Durante a
Flexão
120º
110º
do
Extensão
22º
32º
a
Abdução
34º
40º
ocorrência do ressalto.
Adução
26º
28º
Ao final da conduta fisioterapêutica, o
Rotação
Interna
68º
68º
ressalto em ambos os quadris persistiu, mas a
sensação dolorosa relatada pela paciente
Rotação
passou a ser menor. Obteve-se uma maior
Externa
60º
54º
conduta,
incrementou-se
movimento
do
quadril,
o
arco
respeitando
amplitude de movimento, sem a presença de
estalido, permitindo que a paciente realizasse
uma marcha normal, com a ocorrência de
estalido ou sintomas álgicos apenas quando
há o apoio no membro inferior esquerdo.
Através da goniometria comprovou-se tais
ganhos, como se pode observar através da
comparação entre os dados da tabela prétratamento com os dados da tabela pós-
A
Síndrome
do
Quadril
Pré-tratamento
do Quadril
MID
MIE
Flexão
110º
60º
Extensão
0º
2º
www.conbracis.com.br
Ressalto
corresponde a uma afecção onde a atuação
fisioterapêutica é primordial, através da
conduta cinesioterapêutica com técnicas de
alongamento, com ênfase ao trato ilitibial e
fortalecimento da musculatura adjacente,
treino de marcha e equilíbrio. O caso em
mostrou-se bastante responsivo ao protocolo
adotado
e
às
práticas
educativas,
necessitando, porém, de mais atendimentos
para a ampla reabilitação funcional e uma
possível alta da paciente.
(83) 3322.3222
[email protected]
em
questão, apesar de complexo e crônico,
tratamento na tabela a seguir:
Movimentos
Conclusões
Referências
Maneuver and Arthroscopic Treatment of 15
1. ALLEN, William C.; COPE, Ray. Coxa
Cases.
saltans: the snapping hip revisited. Journal of
Arthroscopic & Related Surgery, v. 27, n.
the American Academy of Orthopaedic
10, p. e95-e96, 2011.
Surgeons, v. 3, n. 5, p. 303-308, 1995.
8. POLESELLO, Giancarlo C. et al. Surgical
2.
ILIZALITURRI,
Victor
M.
et
al.
Arthroscopy:
technique:
The
endoscopic
Journal
gluteus
of
maximus
Endoscopic iliotibial band release for external
tendon release for external snapping hip
snapping hip syndrome. Arthroscopy: The
syndrome. Clinical
Journal
Related Research®, v. 471, n. 8, p. 2471-
of
Arthroscopic
&
Related
Orthopaedics
and
Surgery, v. 22, n. 5, p. 505-510, 2006.
2476, 2013.
3. JANZEN, D. L. et al. The snapping hip:
9. KEENE, James S. Coxa Saltans: Iliopsoas
clinical and imaging findings in transient
Snapping and Tendonitis. Hip Arthroscopy
subluxation
and Hip Joint Preservation Surgery, p.
of
tendon. Canadian
the
iliopsoas
Association
of
795-808, 2015.
Radiologists journal= Journal l'Association
10. CHEATHAM, Scott W.; CAIN, Matt;
canadienne des radiologistes, v. 47, n. 3, p.
ERNST, Michael P. Snapping Hip Syndrome:
202-208, 1996.
A Review for the Strength and Conditioning
4. BRIGNALL, C. G.; STAINSBY, G. D.
Professional.
The
Journal, v. 37, n. 5, p. 97-104, 2015.
snapping
hip.
Treatment
by
Z-
Strength
&
Conditioning
plasty. Journal of Bone & Joint Surgery,
11. LAURINO, Cristiano. A Síndrome do
British Volume, v. 73, n. 2, p. 253-254,
Ressalto
1991.
<http://www.cristianolaurino.com.br/index.ph
5. DE AMORIM CABRITA, Henrique
p?option=com_content&view=article&id=64:
Antônio Berwanger et al. Artroscopia de
a-sindrome-do-ressalto-do-
quadril. Revista Brasileira de Ortopedia, v.
quadril&catid=9:quadril&Itemid=18>.
50, n. 3, p. 245-253, 2015.
Acesso em: 25. maio.2016.
do
Quadril.
Disponível
em:
6. COSTA, Fernando Pereira da; CANTO,
Roberto Sérgio de Tavares. Quadril em
ressalto. Rev. bras. ortop, v. 25, n. 10, p.
369-72, 1990.
7. CABRITA, Henrique et al. Paper# 41:
External Snapping Hip: A New Diagnostic
(83) 3322.3222
[email protected]
www.conbracis.com.br
12. LEE, Kenneth S.; ROSAS, Humberto G.;
PHANCAO,
Jean-Pierre.
Snapping
hip:
imaging and treatment. In: Seminars in
musculoskeletal radiology. 2013. p. 286294.
Download