Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.17, n.1, p.105-116, 2015 ISSN 1517-8595 105 REVIEW ATIVIDADE ANTIFÚNGICA DE OLEOS ESSENCIAIS DE PLANTAS Tatiana Faria Maia1, Alexandre De Donato2, Marcelo Elias Fraga3 RESUMO O uso de substâncias naturais com ação fungicida, inseticida e herbicida é foco de pesquisas que visam uma produção sustentável de alimentos. Assim, sistemas de cultivo menos dependentes do uso de agrotóxico têm sido desenvolvidos e dessa forma um fator indispensável para a agricultura sustentável é o controle alternativo de doenças de plantas provocadas por fungo fitopatogênicos. Embora muitos fungicidas sejam eficazes, seu uso contínuo interrompe o controle biológico natural, cria resistência microbiana adquirida, ocasiona problemas ambientais como contaminação de água e solo. As plantas medicinais representam uma alternativa para a substituição destes fungicidas sintéticos por produtos naturais, pois possuem grande quantidade e variedade de metabólitos secundários com propriedades biológicas. Dessa forma a exploração da atividade antimicrobiana utilizando compostos secundários presentes nos óleos essenciais de plantas constitui-se em uma forma potencial para controle de doenças de plantas. Vários estudos têm comprovado o efeito de compostos extraídos de óleos essenciais de plantas que atuam como fungicidas naturais inibindo a atividade fúngica e, um número significativo destes constituintes tem se mostrado eficaz. Assim, o controle alternativo de fungos tem sido discutido amplamente no contexto atual e as pesquisas de controle de doenças fúngicas por meio do emprego de óleos essenciais tem crescido consideravelmente nos últimos anos. A utilização de óleos essenciais de espécies aromáticas, isolados ou em combinação com outros métodos, poderá vir a ter um importante papel no controle de fitopatógenos, contribuindo para redução do uso de fungicidas e consequentemente, um menor impacto ao ambiente. Palavras-chave: extrato vegetal, fungo, efeito inibitório. ANTIFUNGAL ACTIVITY OF ESSENTIAL OILS OF PLANTS ABSTRACT The use of natural substances with a fungicide, insecticide and herbicide research focus is aimed at sustainable production of food. Thus, cultivation systems are less dependent on the use of pesticides have been developed and thus an indispensable factor for sustainable agriculture is the alternative control plant diseases caused by phytopathogenic fungi. Although many fungicides are effective, your continued use of interrupts the natural biological control, creates acquired microbial resistance, causes environmental problems such as contamination of water and soil. Medicinal plants represent an alternative to replacing these synthetic fungicides for Protocolo 15 2013 43 de 20/12/2013 1 Bacharel em Ciências Biológicas (UniFOA), Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Fitossanidade e Biotecnologia Aplicada (UFRRJ), [email protected] Laboratório de Micologia - Instituto de Veterinária – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - BR 465 Km 07 - CEP. 23890-000, Seropédica - RJ, Brasil. 2 Licenciado em Agronomia (UFRRJ), Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Fitossanidade e Biotecnologia Aplicada (UFRRJ), [email protected] Laboratório de Micologia - Instituto de Veterinária – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - BR 465 Km 07 - CEP. 23890-000, Seropédica - RJ, Brasil. 3 Doutor em Ciências Veterinárias - Núcleo de Pesquisa Micológica e Micotoxicológica (UFRRJ), [email protected] - Instituto de Veterinária - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – BR 465 Km 07 - CEP. 23890-000, Seropédica - RJ, Brasil. 106 Atividade antifúngica de oleos essenciais de plantas Maia et al. natural products because they have large quantity and variety of secondary metabolites with biological properties. Thus the exploitation of antimicrobial activity using secondary compounds present in the essential oils of plants is in a potential way to control plant diseases. Several studies have demonstrated the effect of compounds extracted from plant essential oils that act as natural fungicides inhibiting fungal activity, and a significant number of these constituents have been proven effective. Thus, the alternative control of fungi have been widely discussed in the context of current research and control of fungal diseases through the use of essential oils has grown considerably in recent years. The use of essential oils from aromatic species, alone or in combination with other methods, could play an important role in the control of plant pathogens and contributes to reduce the use of fungicides and consequently a less impact on the environment. Keywords: plant extract, fungi, inhibitory effect INTRODUÇÃO A agricultura de subsistência é muito comum na África, tal como na maioria dos países em desenvolvimento, com a maior parte do alimento da população provendo e sendo estocado em suas próprias propriedades rurais, desconsiderando aspectos qualitativos. Este tipo de agricultura é uma ação estratégica que visa reduzir os custos da família com alimentação. O estoque da produção de alimentos desenvolve um importante papel na estabilização da oferta de alimentos sazonais. O risco de contaminações naturais, especialmente por fungos micotoxicogênicos, é um aspecto que deve receber atenção. Os gêneros mais frequentes que causam esta contaminação são Fusarium e Aspergillus. Dentro deste gênero, as espécies predominantes são Fusarium verticillioides, F. proliferatum, Aspergillus flavus e A. parasiticus, ocorrendo majoritariamente em commodities. Além dos prejuízos diretos na produção, a produção de micotoxinas pelos mesmos compromete a saúde humana, animal, e também a estabilidade do comércio de produtos agrícolas. As micotoxinas mais comuns produzidas pelas espécies de Fusarium e Aspergillus são fumonisinas e aflatoxinas, respectivamente (Figueira, 2003). A fitoterapia é uma forma de controle de agentes etiológicos através da utilização dos metabólitos secundários produzidos pelas plantas (Govindachari et al. 2000; Souza et al. 2002). Cerca de 30% das drogas prescritas no mundo são obtidas direta ou indiretamente de plantas (Koehn & Carter, 2005). Óleos essenciais (OE) de plantas vem sendo usados no combate a fungos deterioradores há séculos (Bullerman et al. 1977), eles constituem os elementos voláteis em muitos órgãos vegetais, e estão relacionados com diversas funções necessárias à sobrevivência vegetal, exercendo papel fundamental na defesa contra microrganismos (SIQUI et al. 2000). Moruzuni (1978) isolou o metoxicinamaldeido de cinamon (condimento da casca da árvore Cinnamomum sp.) e demonstrou que este composto é eficaz contra fungos da espécie Aspergillus flavus e A. parasiticus. Montes-Belmont e Carvajal (1998), isolaram 07, de um total de 11 óleos essenciais estudados, tais como, canela, hortelã-pimenta, manjericão, orégano (espécies aromáticas, pertencente à Família Lamiaceae), erva aromática epazote, também conhecida como chá mexicano, cravo-da-india e tomilho, os quais causaram inibição total do desenvolvimento de Aspergillus flavus em sementes de milho, e a dose ótima variou de 3% a 8%. O Brasil aparece entre os principais países fornecedores dos OE de laranja, limão, lima e outros cítricos, contribuindo no período com 5% do total de óleos importados e encontra-se entre os grandes exportadores internacionais (Bizzo et al. 2009). Isto coloca em evidência o potencial de aproveitamento de recursos naturais que o país possui, e a importância do presente estudo, uma vez que se faz necessária uma visão geral de todo processo para que possa ser feita uma intervenção. Fungos biodeterioradores Os fungos filamentosos, também conhecidos como bolores ou mofos, são microrganismos eucariotos, heterotróficos e multicelulares, presentes em todos os ambientes e economicamente importantes no campo da medicina, da fitopatologia e indústria. Além de serem ecologicamente importantes decompositores na cadeia alimentar. Entretanto, Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.17, n.1, p.105-116, 2015 Atividade antifúngica de oleos essenciais de plantas podem causar graves problemas por contaminar os alimentos, causando sua deterioração, reduzindo seu valor nutricional e alterando suas qualidades sensoriais (Raver et al. 2001; Leite et al, 2012). No Brasil, as perdas relacionadas com cereais, grãos de leguminosas, como feijão e outros grãos secos, que constituem os alimentos deterioráveis, não são exatamente conhecidos, mais segundo alguns pesquisadores as perdas situam-se entre 10 a 20% (Puzzi, 1999; Ferreira et al. 2007; Vieira, 2013). Além da atividade inibitória sobre o desenvolvimento de fungos biodeterioradores, extratos de plantas podem desenvolver outros papéis, como é o caso do extrato da raiz de Tinospora cordifolia, o qual por possuir alcalóides, aumenta a atividade de enzimas que atuam no alívio do estresse oxidativo provocado em camundongos de laboratório, pela aflatoxina B1 (Chaudhary & Verma, 2005). Óleos essenciais Os óleos essenciais podem ser sintetizados por todos os órgãos das plantas: flores, folhas, caules, galhos, sementes, frutas, raízes, madeira e cascas da árvore e dos frutos (denominados cítricos) (Bizzo et al. 2009). Óleos essenciais são compostos voláteis com baixo peso molecular, produzidos pelas plantas para sua sobrevivência. Em temperatura ambiente apresenta aspecto oleoso, tendo como principal característica a volatilidade, além de serem pouco solúvel em água (Saito & Scramin, 2000). Espécies vegetais produzem compostos primários, tais como açúcares e nitrogenados, e também compostos secundários, que não são utilizados diretamente para sua alimentação e nutrição. Entre os compostos secundários estão os alcalóides, flavonóides, saponinas e os óleos essenciais, que se constituem em substâncias químicas que exercem as funções de autodefesa e de atração de polinizadores (Wolffenbüttel, 2007). As essências podem ser de origem natural ou sintética. As de origem natural são geralmente extraídas de plantas ou animais, enquanto as sintéticas são confeccionadas em laboratório, e tentam reproduzir os aromas naturais (Guimarães et al. 2000; Fortes Salles & Da Silva, 2012). Os óleos essenciais são principalmente constituídos de terpenos, provenientes da rota do ácido mevalônico ou mevalonato. Denominam-se tricomas as ”bolsas” onde fica encapsulado o óleo essencial na planta. Estes Maia et al. 107 tricomas são rompidos naturalmente pela espécie vegetal, liberando o óleo essencial, que forma uma espécie de “nuvem aromática” ao seu redor. Por isto são denominados de "A alma da planta" ou "A energia vital da planta". Eles são rompidos também durante os processos intencionais de extração do óleo essencial (Wolffenbüttel, 2007). Existem inúmeros processos industriais e artesanais de extração, alguns deles são: Extração a vapor (mais conhecido e comum); Extração por hidrodestilação (utilizado em laboratório); Extração supercrítica (utilizado em pesquisas); Extração subcrítica; Extração por gás refrigerante; Extração por extrusão ou prensagem (utilizado pela indústria de sucos cítricos); Extração a vácuo; Extração enfleurage (tradicional e ainda utilizado); Extração por solvente; Extração por óleo (para fins culinários e massagens). Não se pode declarar indistintamente que exista um método de extração melhor que todos os outros, pois cada um deles gera um óleo essencial puro com composição química específica (Simões et al. 2004; Saito & Scramin, 2000; Carlson, 2012). O óleo essencial não é um produto simples de componente único, é um produto composto podendo ultrapassar 300 componentes químicos diferentes. Tal diversidade e complexidade fazem do óleo essencial puro um produto altamente valorizado, com aplicação em diversas áreas: área da saúde devido ao seu potencial terapêutico, área da perfumaria e cosmética devido a sua refinada e complexa composição aromática, área alimentícia devido ao seu potencial como aditivo flavorizante, área de aromatização ambiental e produtos sanitários, e a mais nova área, que é a da moda, confeccionando fibras onde os óleos essenciais inicialmente retidos vão sendo liberados na medida da utilização das peças em couro, bolsas, cintos, roupas etc (Wolffenbüttel, 2007). Além das diversas aplicações citadas, os óleos essenciais estão relacionados com diversas funções necessárias à sobrevivência vegetal, exercendo papel fundamental na defesa contra microrganismos (Siqui et al. 2000). Tem sido estabelecido cientificamente que cerca de 60% dos óleos essenciais possuem propriedades antifúngicas e 35% exibem propriedades antibacterianas (Bhavanani & Ballow, 1992). Existem numerosos fatores que podem interferir quantitativa e qualitativamente na produção de óleo essencial de plantas aromáticas, tendo um papel decisivo na qualidade do produto final. O rendimento e a Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.17, n.1, p.105-116, 2015 108 Atividade antifúngica de oleos essenciais de plantas composição podem ser influenciados pelas condições climáticas, hora da coleta, idade da planta, cuidados na preparação da matériaprima vegetal, além de outros fatores. Considerando que a influência desses fatores deve ser estudada caso a caso (Miraldi et al. 2001; Silva et al. 1999; Hillen et al. 2012). Atividade antifúngica dos óleos essenciais A maioria dos óleos essenciais possuem algum grau de atividade antimicrobiana. Essa atividade é atribuída à ação das substâncias presentes em sua composição como os compostos fenólicos, monoterpenos e terpenóides (Gilles et al. 2010). O mecanismo de ação dos monoterpenos envolve, principalmente, efeitos tóxicos à estrutura e à função da membrana celular (Oliveira et al. 2011; Seixas et al. 2011). Esses compostos, avaliados em sua forma pura, mostram ação antimicrobiana em diferentes estudos (Dan et al. 2010; Hussain et al. 2010; Pereira et al. 2011; Combrinck et al. 2011). Essa atividade biológica dos óleos essenciais e de seus constituintes pode atuar como agentes fungistáticos e/ou fungicida, chamada de atividade antifúngica, dependendo das concentrações utilizadas. O mesmo óleo pode ser ativo contra um amplo espectro de espécies de microrganismos, porém as concentrações mínimas inibitórias (CMI) podem variar (Antunes & Cavacob, 2010). Tyagi e Malik (2011) avaliando o potencial antimicrobiano do óleo de eucalipto (Eucayptus globulus) observaram variações de CMI do óleo sobre diferentes fungos. Alguns autores discutem que a atividade antifúngica dos óleos essenciais testados advém, provavelmente, do resultado da penetração de quitina na parede das hifas, prejudicando a lipoproteína da membrana citoplasmática, levando a este extravasamento do citoplasma, bem como ao esvaziamento e murchamento das hifas, e presença de filamentos (Zambonelli et al, 1996; Caccioni & Guizzardi, 1994; Dos Santos et al. 2013). As propriedades antimicrobianas dos óleos essenciais devem-se a sua característica lipofítica (Bakkali et al. 2008). A hidrofobicidade do óleo essencial permite uma interação entre o óleo e os lipídeos da membrana celular, interferindo na sua permeabilidade e causando alterações em sua estrutura (Costa et al. 2011). Maia et al. Os autores Rasooli et al. (2006), por meio de miscroscopia eletrônica de varredura, observaram que a parede, membrana e organelas celulares do fungo A. niger mostravam graves danos quando exposto a concentrações mínimas inibitórias dos óleos essenciais de Thymus eriocalyx e T. x-porlock. O micélio do patógeno apresentou alterações morfológicas nas hifas, interrupção e destruição das membranas plasmáticas e mitocondriais. Costa et al. (2011) avaliando o efeito do óleo essencial de cravo-da-índia (Syzygium aromaticum) sobre as hifas de Rhizoctonia solani, observaram diferentes alterações morfológicas, tais como a presença de vacúolos, desorganização dos conteúdos celulares, diminuição na nitidez da parede celular, intensa fragmentação e menor turgência das hifas. Espécies de vegetais com largo espectro de ação antifúngica A atividade antifúngica dos óleos essenciais de várias espécies do gênero Lippia já havia sido relatada (Oliveira et al. 2007; Hennebelle et al. 2008), mas a espécie Lippia citriodora foi a primeira a ser relatada pelo estudo de Correa-Royero et al. (2010). A diferença na atividade antifúngica entre óleos essenciais de plantas da mesma espécie pode ser explicada pela variação no quimiótipo causada por diferenças geográficas entre as plantas coletadas, idade da planta, método de extração do óleo, método utilizado para acessar a atividade antifúngica, ou por diferenças entre subespécies (Maksimovic et al. 2008). Também foi investigada a composição química e atividade antifúngica do óleo essencial de 3 espécies turcas Artemisia absinthium, A. santonicum e A. spicigera. Concluindo que todas as espécies testadas mostram uma potencial capacidade de inibição sobre um largo espectro de fungos testados (Abad et al. 2007). Na Família das Rutaceae, o óleo essencial extraído do epicarpo da espécie Citrus sinensis teve fungitoxicidade absoluta contra 10 patógenos de pós-colheita (Sharma & Tripathi, 2006). Cheng et al. (2004) investigaram a atividade antifúngica do óleo essencial de folhas de Calocedrus formosana. O mesmo mostrou atividade contra quatro fungos: Lenzites betulina, Pycnoporus coccineus, Trametes versicolor e Laetiporus sulphurous. Dois compostos α-cadinol e muurolol, exibiram Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.17, n.1, p.105-116, 2015 Atividade antifúngica de oleos essenciais de plantas as maiores atividades antifúngicas. A atividade antifúngica de outra árvore conífera Chamaecyparis obtusa também foi reportada (Hong et al. 2004). Exemplos de óleos essenciais antifúngicos da Família Cupressaceae incluem Juniperus communis o qual é ativo contra dermatófitos (Cavaleiro, 2006). Elloff et al. (2007), concluiram em seus estudo, que as espécies Vigna unguiculata e Amaranthus spinosus contêm constituintes químicos que podem ser desenvolvidos como potenciais agentes antifúngicos para agricultura. Estas plantas podem ser ecologicamente adaptadas para resistir a infecções fúngicas através da produção de metabólitos secundários (fitoalexinas), uma vez que ao longo de várias gerações foram expostas a diversos tipos de fungos. Na literatura tem-se verificado o registro da eficiência de extratos vegetais, obtidos de diversas espécies botânicas, como é o caso da arruda, melão de São Caetano, eucalipto (Celoto et al. 2008), cavalinha, hortelã (Rozwalka et al. 2008), alho, canela (Viegas et al. 2005), cravo-da-índia (Amaral & Bara, 2005), jabuticaba (Venturoso et al. 2007) e nim (Carneiro et al. 2008), na promoção da inibição do desenvolvimento de vários fitopatógenos de natureza fúngica. Considera-se ainda, que a diversidade dessas substâncias poderia possibilitar a utilização direta pelo produtor, por meio do cultivo da planta possuidora dos compostos secundários, preparo e aplicação direta do extrato nas culturas comerciais (Celoto et al. 2008), por conseguinte, diminuindo os custos dos pequenos produtores descapitalizados, que veem na utilização destes compostos naturais, uma alternativa econômicamente mais vantajosa que o controle de fungos deterioradores com compostos sintéticos, geralmente mais caros. Aplicações dos óleos controle de fungos essenciais no Devido à sua enorme biodiversidade, o Brasil é um país conhecido mundialmente pela variedade de produtos vegetais, despertando o interesse científico, e no qual estão localizadas cerca de 20% das 250 mil espécies medicinais catalogadas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), facilitando o aproveitamento do potencial curativo dos vegetais para o tratamento de doenças (Nunes, 1999; Sousa et al. 2012). Desta forma, algumas plantas Maia et al. 109 medicinais tradicionais, vêm sendo usadas por pesquisadores na avaliação de sua capacidade antifúngica, antiaflatoxicogênica e antioxidante (Kumar et al. 2007). Em um estudo realizado por CorreaRoyero et al. (2010), onde foram avaliados, in vitro, a atividade de 32 óleos essenciais e 29 extratos contra Candida krusei e Aspergillus fumigatus, obtiveram-se os seguintes resultados: Seis óleos essenciais e 3 extratos demonstraram atividade apenas contra C. krusei, 4 óleos essenciais e 2 extratos foram ativos apenas contra A. fumigatus. Sete óleos e um extrato demonstraram um espectro de atividade majoritário, pois foram ativos contra ambos os fungos. Os óleos de Chenopodium ambrosioides e Myrcia cuculatta mostraram forte atividade contra Candida krusei. A atividade destes foi comparável ou maior a do fluconazol sobre 10 isolados clínicos do C. krusei. O óleo de C. ambrosioides é predominantemente composto (31%) pelo terpeno ascaridol, o qual é eficaz na inibição de outros fungos, tais como Aspergillus flavus, A. glaucus, A. ochraceous, A. niger, Colletotrichum gloeosporioides, C. musae e Fusarium oxysporum. O extrato que mostrou melhor atividade contra A. fumigatus foi o da espécie Hyptis perbullata. De acordo com Shukla et al. (2008), o extrato aquoso de Adenocalymma alliaceum mostrou ter eficácia antifúngica e antiaflatoxigênica contra as espécies biodeterioradoras Aspergillus niger e A. flavus. A concentração inibitória mínima (MIC) identificada para estes foi respectivamente 15,0 e 17,5 mg.mL-1, enquanto a concentração fungicida mínima (MCF) foi 20 mg.mL-1 para ambos. É importante ressaltar que tais concentrações foram inferiores aquelas dos fungicidas sintéticos wettasul -80 (27,5 mg.mL1 e > 30 mg.mL-1) carbendazim-50 (16,5 mg.mL-1 e 20 mg.mL-1). De acordo com Maraqa (2007), óleos essenciais da espécie Nigella sativa, inibem todos os 4 tipos de aflatoxinas a uma concentração de 3% (V/V), enquanto óleos de café inibiram as aflatoxinas B1, G1 e B2 a 6% P/V, enquanto a cafeína inibiu somente a G1 e G2. A espécie fúngica Aspergillus flavus, obteve seu desenvolvimento inibido, em maior intensidade, pelo óleo essencial da planta aromática madeira branca (Melaleuca cajeputi) seguida pela canela (Cinnamomum cassia) e alfazema (Lavandula officinalis), respectivamente (Thanaboripat et al. 2007). Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.17, n.1, p.105-116, 2015 110 Atividade antifúngica de oleos essenciais de plantas Em um estudo realizado por Deus et al. (2011), o óleo de Copaifera multijuga, in natura e suas frações foram avaliados quanto às suas atividades fungitóxicas, frente a cinco espécies de fungos filamentosos do gênero Aspergillus e três espécies de leveduras do gênero Candida. Utilizou-se uma solução com 1,6 mg.mL-1 de nitrato de miconazol como controle positivo. Os resultados qualitativos mostraram que o óleo apresentou boa atividade, porém uma das frações do óleo essencial se mostrou altamente efetivo contra C. parapsilosis, A. flavus e A. tamarii com halos de inibição de 16,0±1,4 mm, 19,5±2,1 mm e 12,5±3,5 mm, respectivamente. Já a avaliação quantitativa mostrou que 0,3 mg.mL-1 do óleo inibiu o crescimento de A. flavus e C. parapsilosis, enquanto que 0,08 mg.mL-1 da fração do óleo essencial atingiu esta mesma atividade. Neste mesmo estudo, o óleo essencial apresentou halo de inibição com diâmetro de 19,5 mm, 25% maior do que o halo de inibição produzido pelo nitrato de miconazol (controle positivo). Neste contexto, observou-se que a formação do halo se manteve apenas por 8 dias para todas as linhagens, permitindo afirmar que o óleo essencial apresenta atividade fungistática, porém o óleo essencial apresentou atividade superior ao óleo resina, principalmente frente A. flavus e C. parapsilosis, possivelmente, causada pelo aumento nas concentrações de copaeno. O óleo resina de copaíba apresentou densidade de 0,8466 mg.mL-1, propriedade que foi usada para a conversão de volume em massa. O valor da densidade encontrado está dentro da faixa descrita na literatura para óleo resina (Shanley et al. 1998; Santos et al. 2012). Quanto à atividade antimicrobiana observada para o óleo resina e óleo essencial de Copaifera multijuga, durante os oito dias se supõe que ou os microrganismos estão degradando as substâncias inibitórias, o que é pouco provável, ou as mesmas estão se difundindo no ar por volatilização, fenômeno que permitiu a minimização do efeito tóxico no meio de cultura, fazendo com que os microrganismos pudessem se desenvolver após o período de 8 dias (Deus et al. 2011). O óleo essencial extraído da espécie indiana Tagetes patula (Asteraceae) teve suas propriedades antifúngicas avaliadas, exercendo uma boa atividade antifúngica contra as espécies fitopatogênicas Botrytis cinerea e Penicillium digitatum, inibindo totalmente o crescimento destas a uma concentração de 10 e 1.25 μg.mL-1, respectivamente (Romagnoli et Maia et al. al. 2005). Exemplos de outros óleos essenciais antifúngicos da família Asteraceae incluem o óleo essencial de Crysactinia mexicana, a qual inibe completamente o crescimento de Aspergillus flavus (Cardenas et al. 2005) e o óleo de Helichrysum italicum, o qual se mostrou ativo contra o fungo Pythium ultimum (Tundis et al. 2005). A composição e atividade antifúngica do óleo essencial de Thymbra capitata (L.) Cav. (Lamiaceae) sobre a Candida, Aspergillus e isolados de espécies dermatófitas, também foi estudada (Salgueiro et al. 2004). Tal óleo exibiu atividade antifúngica para todas as espécies testadas, e particularmente contra os dermatófitos. A atividade antifúngica in vitro do óleo essencial da espécie Ocimum gratissimum foi investigada visando avaliar a sua eficácia contra Candida albicans, C. krusei, C..parapsilosis e C. tropicalis, sendo considerada eficaz contra todas estas espécies (Nakamura et al. 2004). Frias & Andreani (2009), realizaram um trabalho que objetivou avaliar atividade antifúngica de diferentes extratos de plantas e óleo de eucalipto no controle de Aspergillus niger. As plantas utilizadas para a preparação dos extratos foram: folhas de arruda (Ruta graviolens), citronela (Cymgopogom nardus), tiririca (Cyperus rotundus), cravo de defunto (Tagetes minuta), eucalipto (Eucalyptus spp), graviola (Annona moricata), fruta do conde (Annona spp), manga (Mangifera indica), romã (Punica granatum), folhas e flores de calêndula (Calendula spp), e flores e folhas de primavera (Bouganvillea glabra). Pôde-se concluir que o óleo de eucalipto apresentou atividade antifúngica contra Aspergillus niger na concentração de 340 μL, porém, todos os extratos testados não surtiram nenhum tipo de efeito inibitório, ao contrário, os extratos de folhas e flores de primavera, de folhas de calêndula, tiririca e eucalipto induziram o desenvolvimento do fungo. Em um estudo desenvolvido por Souza et al. (2007), concluiu-se que os extratos de alho (Allium sativum) e capim-santo (Cymbopogon citratus), foram eficientes na inibição do desenvolvimento do fungo Fusarium proliferatum, reduzindo a incidência de tombamento e podridão do colmo das plântulas de milho, e aumentando a germinação de suas sementes. O tratamento mais eficiente foi o que usou o extrato de alho na concentração de 2,5%. Foi constatado por Amaral & Bara (2005) que a utilização de extrato de Albizzia lebbeck em Fusarium solani e Sclerotium rolfsii Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.17, n.1, p.105-116, 2015 Atividade antifúngica de oleos essenciais de plantas provoca o estimulo ao crescimento micelial destes, o que permite presumir a existência de alguma substância ativadora deste crescimento no extrato. De acordo com o estudo realizado por Venturoso et al. (2011), este mesmo efeito estimulador sobre Fusarium solani é provocado pelo extrato de nim. A composição química e atividade antifúngica do óleo essencial de Haplophyllum tuberculatum foi analisada. Este óleo afetou o crescimento micelial de Curvularia lunata e Fusarium oxysporium, contudo sem apresentar qualquer efeito sobre o crescimento de seus esporos. Trinta compostos, que constituíam 99.7% do total do óleo, foram identificados (Al Burtamani et al. 2005). Araujo Neto et al. (2012), avaliaram o efeito do óleo essencial de anis (Pimpinella anisum) sobre a micoflora fitopatogênica e fisiologia de sementes de erva-doce (Foeniculum vulgare). Com relação ao percentual de incidência de cada fungo, observou-se nas sementes que não foram tratadas (T1- testemunha) os maiores índices de Alternaria sp. (41%) e Cladosporium sp. (5%). O óleo essencial de anis nas concentrações de 1,5; 2,0 e 2,5% reduziu a incidência de Alternaria sp., chegando ao controle nas maiores concentrações (2,0 e 2,5%), ocorrendo assim um aumento na germinação das sementes de erva-doce, enquanto que o crescimento de Cladosporium sp. foi controlado em todas as concentrações testadas. De modo semelhante, Medeiros et al. (2011), constataram que o óleo essencial de anis na concentração de 2% apresentou um potencial efeito fungitóxico, erradicando a micoflora presente em sementes de flamboyant-mirim (Caesalpinia pulcherrima L.). O extrato de canela proporciona fungitoxidade sobre Cercospora kikuchii, Colletotrichum sp., Penicillium sp. e Phomopsis sp (Venturoso et al. 2011). Visando desenvolver agentes antifúngicos estáveis de produtos naturais, compostos alimentares usuais em particular, a atividade de óleos essenciais de Allium fistulosum, A. sativum e a A. cepa (Liliaceae) foram investigados contra 3 espécies do gênero Trichophyton responsáveis por micoses severas em humanos (Pyun & Shin, 2006). Dentre os óleos testados, A. sativum exibiu a maior inibição do crescimento de Trichophyton rubrum, enquanto as atividades de A. cepa e A. fistulosum foram relativamente brandas. Portillo et al. (2005), iniciaram um estudo para avaliar a atividade antifúngica do óleo essencial de Maia et al. 111 orégano mexicano contra fungos contaminantes de alimentos. Este era inibitório para todas as cepas de fungos testadas, mas havia diferenças na extensão dos efeitos. Embora o efeito antifúngico do orégano seja fortemente estável, houve uma forte diferença entre as cepas estudadas. Trabalhando com o fungo Colletotrichum gloeosporioides, Rozwalka et al. (2008) notaram que não houve crescimento micelial do fungo com a utilização do extrato aquoso de cravo na concentração de 10%. O extrato de alho reduziu significativamente o crescimento micelial em relação aos demais tratamentos, enquanto que o meio de cultura contendo extrato de canela apresentou atividade antifúngica, porém em menor intensidade. Singh et al. (2004), investigaram os constituintes químicos e efeitos antifúngicos do óleo essencial de ajwain (Trachyspermum ammi, Família Apiaceae). Este exibiu um largo espectro de fungitoxicidade contra todos os fungos testados, tais como Aspergillus niger, Fusarium moniliforme e Curvularia lunata, uma absoluta zona de inibição micelial foi obtida com uma concentração de 6 mg/mL do óleo. Venturoso et al. (2011), efetuaram um trabalho que teve como objetivo avaliar o potencial de dez extratos aquosos sobre o desenvolvimento in vitro de fungos fitopatogênicos. Os tratamentos constaram dos extratos bruto e aquosos de alho, arruda, canela, cravo-da-índia, cavalinha, eucalipto, hortelã, jabuticaba, melão de São Caetano e nim na concentração de 20% e mais a testemunha. Os ensaios foram realizados com os fungos Aspergillus sp., Penicillium sp., Cercospora kikuchii, Colletotrichum sp., Fusarium solani e Phomopsis sp. Foram analisados o crescimento micelial da colônia, a porcentagem de inibição e a taxa de crescimento dos fungos. Observou-se que os meios de cultura contendo os extratos de cravo-da-índia, alho e canela apresentaram maior atividade antifúngica sobre os fitopatógenos, quando comparados aos demais extratos utilizados, destacando o extrato de cravo-da-índia, que inibiu completamente o desenvolvimento de todos os fitopatógenos testados. Estes resultados estão de acordo com os relatados por Rozwalka et al. (2008), que avaliaram o crescimento de Glomerella cingulata e Colletotrichum gloeosporioides, quando estes foram submetidos ao extrato aquoso de cravo-da-índia. Neste mesmo estudo, observou-se que com relação ao crescimento micelial, foi Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.17, n.1, p.105-116, 2015 112 Atividade antifúngica de oleos essenciais de plantas constatada atividade antifúngica sobre todos os fitopatógenos estudados, apenas com a utilização dos extratos aquosos de cravo-daíndia, alho e canela. A inibição proporcionada pelos extratos foi observada a partir do terceiro dia de incubação e persistiu até o final das avaliações. Foi verificado que Aspergillus sp., incubado em meio de cultura com adição do extrato de cravo-da-índia não apresentou crescimento micelial. Os resultados evidenciaram maior atividade antifúngica do extrato quando comparado aos demais, com exceção ao terceiro dia de incubação, onde o mesmo assemelhou-se ao extrato de alho. Ao final das análises não foram verificadas diferenças no desempenho dos extratos de jabuticaba, cavalinha, eucalipto e hortelã em relação ao tratamento controle. Os extratos de melão de São Caetano e arruda proporcionaram redução de 23,2 e 25,3%, respectivamente, do crescimento do patógeno. O menor desenvolvimento de Phomopsis sp. foi alcançado com o uso de cravo-da-índia, seguido dos extratos de alho e canela. De acordo com um estudo realizado por Singh et al. (2004), o óleo essencial de ajwain (Trachyspermum ammi) apresenta um amplo espectro de comportamento antifúngico, visto que numa concentração de apenas 6 mL.L-1, o mesmo foi capaz de inibir, total ou parcialmente, isolados das espécies Aspergillus flavus, A. niger, A. orizae, A. ochraceus, Fusarium monoliforme, F. graminearum, Penicillium citrium, P. viridicatum, P. madriti e Curvularia lunata. CONCLUSÃO Existem diferentes métodos descritos na literatura propondo atividade antifúngica dos óleos essenciais. Pesquisas sobre essa atividade têm apresentado dificuldades devido a uma padronização dos métodos, que consecutivamente dificulta a comparação entre eles podendo inviabilizar sua reprodutibilidade. No entanto, a revisão apresenta um numero grande de óleos essenciais testados, promovendo efeitos sobre diferentes linhagens de fungos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abad, M.J.; Ansuategui, M.; Bermejo, P. Active antifungal substances from natural sources. Arkivoc. University Complutense. Madrid. p.116-145, 2007. Maia et al. Al Burtamani, S.K.S.; Fatope, M.O.; Marwah, R.G.; Onifade, A.K.; Al Saidi, S.H. Chemical composition, antibacterial and antifungal activities of the essential oil of Haplophyllum tuberculatum from Oman. J. Ethnopharmacol. v.96, p.107-112, 2005. Amaral, M.F.Z.J.; Bara, M.T.F. Avaliação da atividade antifúngica de extratos de plantas sobre o crescimento de fitopatógenos. Revista Eletrônica de Farmácia. Univ. Federal de Goiás, Goiânia-GO. v.2, n.2, p.58, 2005. 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