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Índia
01. RELIGIOSIDADE
a) Religiões com origem na Índia
O hinduísmo é uma religião da Índia, mas tem muitos adeptos também no Nepal, em Bangladesh e no Sri
Lanka. Embora o budismo tenha se originado na Índia e sob esse aspecto possa ser considerado uma
religião indiana, pouco resta do budismo na Índia de hoje; ele é mais difundido no Sri Lanka e no Sudeste da
Ásia. Entretanto, o budismo também tem uma longa e importante história na China, na Coréia e no Japão.
Excluindo a China, estima-se que quase 200 milhões de pessoas professam a fé budista.
b) Hinduísmo
Diferentemente das outras religiões mundiais, o hinduísmo não tem fundador, nem credo fixo nem
organização de espécie alguma. Projeta-se como a "religião eterna" e se caracteriza por sua imensa
diversidade e pela capacidade excepcional que vem demonstrando através da história de abranger novos
modos de pensamento e expressão religiosa.
A palavra hinduísta significa simplesmente "indiano" (da mesma raiz do rio Indo), e talvez a melhor maneira
de definir o hinduísmo seja dizer que é o nome das várias formas de religião que se desenvolveram na Índia
depois que os indo-europeus abriram caminho para a Índia do Norte, de 3 a 4 mil anos atrás.
- A Religião Védica
As raízes do hinduísmo podem ser encontradas em algum ponto entre o ano 1500 a. C. e o ano 200 a. C.,
quando os chamados arianos (isto é, os "nobres") começaram a subjugar o vale do Indo. As crenças dessas
pessoas tinham ligação com outras religiões indo-europeias, como a grega, a romana e a germânica.
Sabemos disso pelos chamados hinos védicos (da palavra Veda, ou seja, "conhecimento"), que eram
recitados por sacerdotes durante os sacrifícios a seus muitos deuses. O Livro dos Vedas consiste em quatro
coletâneas, das quais certas partes datam de cerca de 1500 a. C.
O sacrifício era importante para o culto ariano. Faziam-se oferendas aos deuses a fim de conquistar seus
favores e manter sob controle as forças do caos.
A época conhecida como período védico tardio, de 1000 a. C. até 500 a. C., marcou uma virada crucial no
desenvolvimento religioso da Índia. Importância especial tiveram os Upanishads, que até hoje são os textos
hinduístas mais lidos. Foram escritos sob a forma de conversas entre mestre e discípulo, e introduzem a
noção de Brahman, a força espiritual essencial em que se baseia todo o universo. Todos os seres vivos
nascem do Brahman, vivem no Brahman e ao morrer retomam ao Brahman.
- Sistema de Castas
Todas as sociedades têm várias formas de distinção e estratificação em classes, mas é difícil encontrar um
país onde isso tenha sido praticado tão sistematicamente quanto na Índia. Desde os tempos antigos
sempre houve quatro classes sociais (a palavra sânscrita empregada é varna, que significa "cor"):
* sacerdotes (brâmanes);
* guerreiros;
* agricultores, comerciantes e artesãos; e
* servos.
Porém, à medida que a sociedade indiana se desenvolveu, as pessoas foram sendo divididas em novas
castas. No início do século XX havia em torno de 3 mil castas.
Não se sabe como surgiu o sistema de castas, e não há prova definitiva de que se trata de uma evolução do
sistema de quatro classes. Seria mais verdadeiro dizer que esse sistema de classes se ajusta bem às castas.
As castas em geral se associam a profissões especiais. Uma aldeia indiana pode conter de vinte a trinta
dessas castas, e com frequência cada uma ocupa um agrupamento especial de casas. Cada casta tem suas
próprias regras de conduta e de prática religiosa, que determinam com quem a pessoa pode se casar, o que
ela pode comer, com quem pode se associar e que tipo de trabalho pode realizar. A base religiosa desse
sistema é a noção de pureza e impureza. O contraste entre o que é "limpo" e o que é "impuro" permeia
todo o hinduísmo. Para um brâmane, tudo o que tenha a ver com as coisas corporais ou materiais é
impuro. Se ele se tornou impuro como resultado do nascimento, da morte ou do sexo - ou por meio do
contato com um indivíduo "sem casta", ou membro de uma casta inferior -, há diversas maneiras pelas
quais ele pode se purificar. O método tradicional mais conhecido de purificação utiliza a água de um dos
muitos rios sagrados da Índia, como o Ganges.
As regras que governam a pureza formam a base da divisão de trabalho na comunidade. Certas atividades
e certos trabalhos são tão impuros que somente determinadas castas podem realizá-las. Essas castas têm o
dever de ajudar os outros grupos a manter sua pureza. Por outro lado, apenas as castas que preencham os
requisitos da pureza podem se aproximar dos deuses mais elevados. Para que isso ocorra com mais
facilidade, outras pessoas devem ser impuras. Entretanto, todos se beneficiam da limpeza dos "puros", pois
todos os hinduístas tiram proveito dos ritos que são praticados.
Originalmente, as castas eram apenas quatro: os brâmanes (religiosos e nobres), os xátrias (guerreiros), os
vaixás (camponeses, artesãos e comerciantes) e os sudras (escravos). A margem dessa estrutura social
havia os párias, sem casta (categorizados abaixo dos escravos), considerados intocáveis, até pelos escravos,
para não serem "amaldiçoados"; hoje chamados de haridchans, haryans ou "dalits". Com o passar do
tempo, vem acontecendo centenas de subdivisões, que não param de se multiplicar.
O sistema de castas deu um contexto à vida do indiano, assim como fez a tribo para o africano. Ser expulso
de sua casta é o pior castigo imaginável, e só é usado para os crimes particularmente sérios. O nível mais
baixo no sistema de castas é o dos "intocáveis" ou "sem casta", por exemplo, os criminosos, os lixeiros e os
que trabalham curtindo o couro dos animais. Os cristãos e os muçulmanos ficam totalmente fora do
sistema de castas.
As complexas regras que controlam o contato social entre as castas eram muito rígidas; mas a Constituição
indiana, que entrou em vigor em 1947, introduziu certas medidas para banir a discriminação por casta.
Como não basta mudar a legislação para acabar com antigas divisões sociais e religiosas, o sistema de
castas continua tendo um papel importante, em especial nas aldeias.
- O Sagrado
A vaca é um animal sagrado na Índia e é adorada durante certas festas religiosas. Isso provavelmente se
relaciona com um antigo culto de fertilidade; nos Vedas há hinos à vaca, pois ela supre tudo o que é
necessário para sustentar a vida. A vaca se tornou um símbolo da vida, e não é permitido matá-la. Muitos
ocidentais têm uma visão bastante negativa desse fato. Segundo eles, as vacas deveriam ser mortas para
fornecer alimento à legião de famintos da Índia. Entretanto, considerando o lugar que a vaca ocupa na
agricultura indiana, vemos também aspectos positivos: 70% da população vive do cultivo da terra, e há uma
grande falta de animais de tração num país em que o trator é pouco difundido. Além disso, o excremento
das vacas é útil não só como fertilizante mas também como combustível.
Em termos de culto, a vaca é mais "pura" do que o brâmane. Assim, a pessoa que toca uma vaca está
ritualmente limpa. Todos os produtos derivados da vaca - o leite e a manteiga - são utilizados em diversas
cerimônias de purificação. Até mesmo o excremento e a urina da vaca são tão sagrados que podem ser
usados como agentes de purificação.
Os hinduístas têm outros animais sagrados além da vaca, em especial o macaco, o crocodilo e a cobra. De
modo geral, eles não gostam de tirar a vida. Isso transformou muitos hinduístas em vegetarianos e também
abriu caminho para o ideal da não violência, que ficou mais conhecido no Ocidente com a luta de Gandhi
para tornar a Índia independente do colonialismo britânico.
Um conceito-chave na filosofia dos Upanishads é que o homem tem uma alma imortal. "Ela não envelhece
quando você envelhece, ela não morre quando você morre."
Um hinduísta acredita que, depois da morte de um indivíduo, sua alma renasce numa nova criatura vivente.
Pode renascer numa casta mais alta ou mais baixa, ou pode passar a habitar um animal.
Há uma ordem inexorável nesse ciclo que vai de uma existência a outra. O impulso por trás dela, ou que a
mantém sempre em movimento, é o karma do homem, palavra sânscrita que significa "ato". Porém, nesse
caso, ato se refere a pensamentos, palavras e sentimentos, não apenas a ações físicas. O carma não é uma
punição pelas más ações ou uma recompensa pelas boas. O carma é uma constante impessoal - como uma
lei natural.
O hinduísmo não reconhece nenhum "destino cego" nem divina providência. A responsabilidade pela vida
do hinduísta no dia de hoje - e por sua próxima encarnação - será sempre dele. O homem colhe aquilo que
semeou. Os resultados das ações - ou frutos de uma vida ¬derivam dessas ações automaticamente.
Poderíamos dizer que a transmigração está sujeita à lei da causa e efeito.
Em outras palavras, o que a pessoa experimenta nesta vida em termos de riqueza ou pobreza, alegria ou
tristeza, saúde ou doença, é resultado de suas ações numa vida anterior. É desse modo que os hinduístas
explicam as diferenças entre as pessoas. A doutrina do carma dá sustentação a um esquema de relações
sociais como o sistema de castas.
Embora a pessoa deva se submeter ao carma que herdou de uma vida anterior, ela também exerce o livrearbítrio no âmbito de sua existência atual. Portanto, o indivíduo sempre pode melhorar seu carma, e assim
lançar as fundações para uma vida melhor na próxima encarnação.
- A Salvação
Durante o período védico, a doutrina do carma e a da reencarnação eram vistas como algo positivo. Por
meio dos sacrifícios e das boas ações, o indivíduo podia garantir que iria viver várias vidas. Mais tarde, o
hinduísmo passou a considerar esse ciclo como algo negativo, como um círculo vicioso a ser quebrado.
O hinduísmo não possui uma doutrina clara e não ambígua sobre a salvação que explique de que modo o
homem pode escapar do interminável e cansativo ciclo das reencarnações. Dentro do hinduísmo há uma
grande quantidade de movimentos e seitas com visões divergentes. Apesar disso, é possível distinguir três
caminhos diferentes para a graça, que exerceram papel relevante na história da Índia e continuam
prevalecendo no hinduísmo moderno. São as vias do sacrifício, do conhecimento e da devoção.
É importante não pensar que essas vias sejam movimentos religiosos organizados. Trata-se, na verdade, de
três tendências principais dentro do hinduísmo. O caminho escolhido pode depender do indivíduo. Mas um
hinduísta também pode se inspirar nessas três vias.
O Sacrifício: como já vimos, a palavra indiana para "ato" é karma. Hoje ela é usada para denotar todos os
atos humanos - ou o resultado coletivo desses atos. No período védico, o termo se referia basicamente a
atos religiosos ou rituais, em especial aos atos sacrificiais. Estes eram necessários para incrementar a
fertilidade e manter a ordem universal. Esse antigo costume sacrificial, minuciosamente descrito nos Vedas,
continua a desempenhar um papel capital no hinduísmo. Fazendo sacrifícios e boas ações, muitos
hinduístas tentam obter a felicidade terrena, boa saúde, riqueza e copiosa descendência.
Compreensão ou Conhecimento: segundo uma ideia central dos Upanishads, é a ignorância do homem que
o amarra ao ciclo da reencarnação. Compreender a verdadeira natureza da existência - o oposto da
ignorância - será, portanto, um caminho para a salvação. É apenas quando o homem adquire o reto
conhecimento que ele é redimido da implacável roda da transmigração.
O conhecimento que traz a salvação é o de que a alma humana (atmã) e o mundo espiritual (Brahman) são
uma coisa só. O atmã é uma parte integrante não só dos seres humanos, mas também se encontra nas
plantas e nos animais. Isso é conhecido como panteísmo.
O Brahman é o princípio construtivo do universo, uma força que permeia tudo, uma divindade impessoal.
Todas as almas individuais são reflexos dessa única alma universal. É como a lua, que se reflete em muitos
lagos. Pode haver um número infinito desses reflexos, mas existe uma só lua.
O homem é libertado da transmigração ao adquirir plena compreensão da unidade entre atmã e Brahman.
O objetivo é se dissolver no Brahman, assim como uma gota de chuva se dissolve no mar. O homem tem
uma centelha divina em seu interior. E mesmo que ele seja obliterado como indivíduo, sua origem divina
permanece e vai se unir novamente com o espírito universal.
Devoção: Uma terceira rota para a salvação, proposta que começou a se difundir no Sul da Índia por volta
de 600 a. C. e logo se espalhou por todo o subcontinente, é a via da devoção. Já no século III a. C. esse
caminho para a graça encontrara sua expressão clássica no Bhagavad Gita, um poema catequético. Essa
terceira tendência do hinduísmo é a que predomina na Índia moderna, e o Bhagavad Gita é o livro sagrado
que ocupa o lugar supremo na consciência do indiano médio.
Todas as três vias de salvação se baseiam na doutrina do carma. A via do sacrifício realça o fato de que o
homem pode encontrar a salvação agindo de maneira correta ritualmente. As tendências filosóficas com
frequência representam o ponto de vista oposto. Com a ajuda da ascese ou da contemplação, as pessoas
procuram suprimir todo carma pessoal a fim de abandonar o ciclo de uma vez por todas. Sem rejeitar esses
caminhos tradicionais para a salvação, o Bhagavad Gita aponta um caminho melhor e mais fácil. Se um
homem se dedica a Deus e age desinteressadamente, isto é, sem pensar em ganhos e vantagens, ele será,
pela graça de Deus, libertado da transmigração.
O Bhagavad Gita abre o caminho para uma associação mais pessoal com Deus do que os Vedas ou os
Upanishads. Ela se caracteriza pelo amor e a devoção (bhakti) do homem para com Deus, num
relacionamento eu-tu. Isso não significa que o Bhagavad Gita rejeite o sacrifício ou o conhecimento
religioso. Muito pelo contrário - tanto o "sacrifício material" como o "sacrifício da compreensão" são vistos
sob uma luz positiva, pois a divindade que recebe o sacrifício é o mesmo Brahman do filósofo. Mas nem os
sacrifícios nem os exercícios de ioga devem ser realizados com o intuito de se ganhar algo em troca, pois
nem uma coisa nem outra, isoladamente, é capaz de alcançar qualquer resultado. Em última análise, é a
misericórdia divina que salva uma pessoa do ciclo - e não seus próprios esforços. Portanto, o caminho mais
seguro para a salvação é o bhakti, a devoção a Deus e a crença nele. Outro ponto importante é que todas
as pessoas, independentemente de sexo ou casta, podem conseguir a graça se devotarem-se a Deus.
- Deus
A multiplicidade do hinduísmo também se manifesta em seu conceito de Deus. Em sua forma mais
filosófica, o conceito hindu de divindade é panteísta. A divindade não é um ser pessoal, mas uma força,
uma energia que permeia tudo: os objetos inanimados, as plantas, os animais e os homens. No extremo
menos filosófico do espectro há um conceito politeísta, que acredita num grande número de deuses. Quase
todas as aldeias têm a sua própria divindade local.
A adoração divina se concentra em dois deuses em particular, ambos com raízes védicas. Um deles é
Vishnu. É um deus suave e amigável, normalmente representado como um lindo jovem. Sua maior
importância no hinduísmo moderno deriva de seus "avatares" ou revelações, como Rama e Krishna.
Especialmente popular é Krishna, adorado como o onipresente senhor do mundo. Costuma ser retratado
como um pastor de ovelhas, e suas aventuras eróticas com as pastoras são interpretadas simbolicamente
como o amor de Deus pelo homem. O relacionamento de Krishna com sua amada, Rhada, é explicado da
mesma maneira. O amor entre os dois, sua separação e reconciliação são uma metáfora para o anseio que
a alma sente por Deus e por sua união final com ele.
O outro deus com grande significado para o culto é Shiva. Ele é o deus da meditação e dos iogues, e em
geral o retratam como um asceta. É igualmente um deus do desvario e do êxtase, tanto criador como
destruidor, o que o torna ao mesmo tempo aterrorizante e atraente. É ele quem traz a doença e a morte,
mas é também o que cura. Na devoção bhakti ele é visto como um deus cheio de compaixão, que salva o
homem da transmigração.
A filosofia religiosa indiana se baseia na crença num deus eterno, mas não especifica se esse deus é Vishnu,
Shiva ou algum outro. Deixa-se a cargo do indivíduo decidir de que maneira esse deus deve ser adorado.
Nos círculos acadêmicos é comum ver Vishnu e Shiva formando uma trindade com o deus Brahma. Brahma
é o criador, quem faz o mundo. Vishnu é o sustentador, que protege as leis naturais e a ordem universal. E
Shiva é o destruidor, que no final de cada época dança sobre o mundo até reduzi-lo a pedaços. Uma vez
que isso acontece, Brahma tem de criar o mundo novamente. Assim, essas três personagens, ou
"máscaras", representam três aspectos de Deus: o criador, o sustentador e o destruidor. Essa doutrina
trinitária, no entanto, tem pouca relevância na devoção popular.
O hinduísmo tem uma série de deusas. Alguns adotam a teoria de que essa abundância de deusas não
passa da expressão de uma grande e poderosa divindade feminina, a "Rainha do Universo" ou "DeusaMãe". Sua manifestação mais conhecida é Kali, a deusa negra, adorada sobretudo no Leste da Índia e a
quem se sacrificam animais. O alto status de Kali no mundo dos deuses é evidente pelas imagens que a
mostram pisoteando o corpo de Shiva.
A importância das deusas na religião indiana é visível pela escolha da "Mãe Índia" (Bhárata Mata) como a
divindade nacional do moderno Estado da Índia. Na cidade de Varanasi há um templo especial que lhe é
dedicado. Ali, em vez de uma representação da deusa, está exposto um mapa da Índia.
A maioria das aldeias tem seu templo dedicado a Vishnu ou a Shiva. Esses deuses se concentram nas
questões maiores, universais, e em geral são homenageados nos grandes festivais. Num nível mais terra-aterra, as pessoas costumam visitar os pequenos templos dedicados a divindades menos importantes, pois é
mais fácil se aproximar delas para assuntos de menor importância, tais como problemas pessoais.
Os deuses menores por vezes exercem influência em áreas especiais, por exemplo, em certos tipos de
doença. Muitos deles têm origem humana; podem ser heróis que morreram em batalha, ou esposas que se
ofereceram para ser queimadas na pira funerária do marido. Alguns deuses são espíritos malignos que
foram deixados para trás por homens maus. Ao cultivar esses espíritos como deuses, é possível controlar e
neutralizar seu mal.
- Vida religiosa
A maioria dos hinduístas devotos têm em casa uma sala ou um canto especial onde põem estampas e
esculturas representando um ou mais deuses. Na frente das estampas e imagens costuma haver um
pequeno altar para a família celebrar o serviço divino. Em alguns casos isso ocorre diversas vezes por dia;
em outros, uma vez por semana, geralmente na sexta-feira.
O culto pode variar de casa para casa, mas com frequência compreende o sacrifício, a oração, a recitação
de textos sagrados e a meditação. Antes de iniciá-lo, é importante estar ritualmente limpo. Quase sempre,
um banho purificador é o primeiro passo. Prepara-se então o sacrifício, de acordo com certas regras. Podese pôr no altar arroz, frutas ou flores. Feito isso, o adorador se inclina até o chão, com as mãos unidas,
diante das imagens divinas. É comum repetir o nome do deus e recitar textos sagrados; porém, também é
habitual a oração espontânea, pessoal e se foram postos frutos diante das imagens, estes serão comidos
pela família ou oferecidos às visitas que chegarem.
Não é obrigatório que o hinduísta vá ao templo, mas nos templos há muitos serviços populares, e existe um
templo em cada aldeia da Índia. O dia no templo começa com música para despertar os deuses; depois
disso, são lavadas as imagens divinas. Durante o dia os deuses são alimentados várias vezes. As pessoas que
chegam ao templo rezam para o deus, oferecem sacrifícios de flores e outros presentes, ou escutam a
interpretação das escrituras dada pelo sacerdote.
Segundo os hinduístas, o que a pessoa faz é mais importante do que aquilo em que ela acredita. O costume
correto é mais importante do que a ortodoxia; o rito religioso é mais importante do que o conteúdo
religioso.
Embora a vida religiosa na Índia seja variada e multifacetada, a maioria dos indianos poderia concordar
quanto a um darma comum, ou seja, uma lei ou ética comum. Isso não implica uma igualdade entre as
pessoas. Darma significa que todas as pessoas têm responsabilidades para com sua família, sua casta e a
comunidade como um todo - e que essas responsabilidades, desde o nascimento, variam de um indiano
para outro. Tanto no contexto religioso como no social, a homogeneidade que o hinduísmo apresenta está
na divisão do trabalho. Assim como o pássaro e o peixe obedecem a leis diferentes, o membro de uma
casta segue regras diferentes das que regem outra casta. Dessa forma, o que é bom para um não é
necessariamente bom para o outro. A boa moral consiste em adotar os preceitos e deveres de sua própria
casta.
- Estágios da Vida
O Bhagavad Gita realça o valor das três vias de salvação e ao mesmo tempo destaca que cada pessoa deve
cumprir seus deveres para com a família e a comunidade. Mas como conciliar as duas coisas? Desde os
tempos antigos a vida do homem foi dividida em quatro estágios diferentes, que servem à compreensão, à
adoração e aos deveres da casta. Essa divisão é relevante sobretudo para os brâmanes do sexo masculino.
Os homens da classe dos guerreiros e dos agricultores também podem seguir, em maior ou menor grau.
Entretanto, "os quatro estágios da vida" representam um ideal, que nem todos praticam.
Em seu oitavo ano de vida o menino brâmane realiza um rito de passagem, no qual recebe o "fio sagrado",
simbolizando que ele "nasceu pela segunda vez". O menino agora se torna um discípulo e é entregue a um
mestre (guru), com quem estuda os textos sagrados (primeiro estágio).
Quando o jovem completa seu primeiro estágio de vida como discípulo, ele se torna um pai de família
(segundo estágio). Casa-se, tem filhos, cumpre os deveres de casta e as obrigações sacrificiais, e desfruta
dos prazeres da vida. Essa fase dura até que seus netos comecem a crescer.
O homem entra no estágio contemplativo da vida (terceiro estágio). Sozinho, ou em companhia de sua
esposa, ele se retira para um local tranquilo. Antigamente, muitas vezes ele ia para a floresta; hoje, em
geral ele se dirige a um monastério ou um centro religioso (ashram).
Alguns prosseguem até o quarto estágio da vida e se tornam santos andarilhos. Nessa fase, o homem idoso
fica perambulando, sem ter posses nem moradia fixa. Sobrevive com o pouco que recebe de esmola e
passa o tempo inteiro em busca do autoconhecimento. Todos os deveres de casta e os laços externos
foram rompidos, e o divino faz dele a sua morada.
- As Mulheres
A Índia também é um continente de grandes contrastes no que se refere ao papel da mulher e ao modo
como ela é considerada, tanto espiritual como socialmente. O Livro dos Vedas afirma que o homem e a
mulher são iguais "como as duas rodas de uma carroça". Entretanto, a aceitação prática dessa ideia tem
sido bem mais difícil. Um livro indiano de normas, com 2 mil anos de idade, tem o seguinte a dizer sobre o
papel da mulher: "Assim como o estudo e o serviço doméstico na casa de seu mestre são para o menino,
assim deve ser para a menina viver com seu marido; ela deve ajudá-lo em seus deveres e ser ensinada por
ele. Cuidar do fogo sagrado, como seu esposo lhe ensina, é comparável ao serviço do menino junto ao fogo
sacrificial de seu mestre".
As mulheres na Índia são frequentemente encaradas como "propriedade" do marido. Uma mulher solteira
em geral tem um status baixo, e uma mulher casada sem filhos pode se encontrar numa situação bem
precária. Por outro lado, a Índia foi um dos primeiros países a ter uma mulher como primeiro-ministro
(lndira Gandhi). Muitas mulheres desfrutam de notável influência pública. Nesse contexto, ser membro de
uma casta pode constituir um fator decisivo na situação feminina. O culto das numerosas deusas mulheres
também pode contribuir para elevar a consciência das mulheres.
c) O Sikhismo
Religião monoteísta fundada em fins do século XV no Punjab (região atualmente dividida entre o Paquistão
e a Índia) pelo Guru Nanak (1469-1539).
Habitualmente retratado como o resultado de um sincretismo entre elementos do hinduísmo e do
misticismo do islão (o sufismo), o sikhismo apresenta contudo elementos de originalidade que obrigam a
um repensar desta visão redutora.
O termo sikh significa em língua punjabi "discípulo forte e tenaz". A doutrina básica do sikhismo consiste na
crença em um único Deus e nos ensinamentos dos Dez Gurus do sikhismo, recolhidas no livro sagrado dos
sikhs, o Guru Granth Sahib, considerado o décimo-primeiro e último Guru.
Para o sikhismo, Deus é eterno e sem forma, sendo impossível captá-lo em toda a sua essência. Ele foi o
criador do mundo e dos seres humanos e deve ser alvo de devoção e de amor por parte dos humanos.
O sikhismo ensina que os seres humanos estão separados de Deus devido ao egocentrismo que os
caracteriza. Esse egocentrismo (haumai) faz com que os seres humanos permaneçam presos no ciclo dos
renascimentos (samsara) e não alcancem a libertação, que no sikhismo é entendida como a união com
Deus. Os sikhs acreditam no karma, segundo o qual as ações positivas geram frutos positivos e permitem
alcançar uma vida melhor e o progresso espiritual; a prática de ações negativas leva à infelicidade e ao
renascer em formas consideradas inferiores, como em forma de planta ou de animal.
Deus revela-se aos homens através da sua graça (Nadar), permitindo a estes alcançar a salvação. O Divino
dá-se a ouvir, revelando-se enquanto nome. Segundo os ensinamentos do Guru Nanak e dos outros gurus,
apenas a recordação constante do nome (nam simaram) e a repetição murmurada do nome (nam japam)
permitem os seres humanos libertar-se do haumai.
02. ASPECTOS GEOGRÁFICOS
a) Relevo
A República da Índia ocupa, com o Paquistão e Bangladesh, O Subcontinente Indiano, no sul da Ásia. O
território do país com área de 3.287.263 Km², o sétimo do mundo em extensão, divide-se em quatro
grandes regiões. No norte, ao longo de 2,4 mil quilômetros, estende-se a cordilheira do Himalaia, que na
Índia culmina no Kanchenjunga, a terceira montanha mais alta do planeta, com quase 8,6 mil metros.
Ao sul há uma zona de férteis planícies aluviais regadas pelos principais rios indianos: Indo, Ganges e
Brahmaputra. No oeste, junto ao Paquistão, a planície transforma-se no deserto de Thar, ou Grande
Deserto Indiano. Ao sul das planícies fica o Decã, um grande planalto triangular, rochoso, com cordilheiras
baixas e vales profundos, que ocupa a maior parte da Índia peninsular.
O Decã é cercado por dois sistemas montanhosos: os Ghats Ocidentais e os Ghats Orientais. Os primeiros
ultrapassam os 900 metros de altitude e se estendem até as proximidades do mar da Arábia, do qual estão
separados pela fértil planície de Malabar. Os Ghats Orientais são mais baixos, com picos em torno de 450
metros, e também estão limitados por uma planície, a costa de Coromandel, banhada pelo golfo de
Bengala.
b) Vegetação e clima
Devido à ampla variedade de altitudes, solos e climas, a Índia possui uma flora muito rica. Nos picos do
Himalaia, a vegetação é do tipo ártico; nas bases das montanhas crescem espécies subtropicais, como
orquídea, magnólia, bambu, carvalho, palmeiras e coníferas. Nos sopés dos Ghats Ocidentais e na planície
de Malabar, há florestas com espécies de valor comercial expressivo. Na maior parte do país, o clima é
tropical e sofre forte influência dos ventos de monção. Eles sopram de junho a novembro, trazendo chuvas
abundantes que costumam provocar grandes inundações. Entre dezembro e fevereiro há uma estação
seca, pouco favorável à agricultura. Nas regiões mais altas predomina o ambiente continental.
03. ASPECTOS ECONÔMICOS
A Índia é uma das economias que mais cresce na atualidade, dispõe de uma força de trabalho de 438
milhões de trabalhadores, responsáveis por um PIB de 1,9 trilhões de dólares. Sua moeda é a rúpia indiana.
a) Agricultura
O setor primário responde por um quarto do PIB da Índia. O país é o segundo maior produtor mundial de
arroz, atrás apenas da China. Outros itens agrícolas de destaque são painço, cana-de-açúcar, algodão, café
e chá. A pecuária abrange a criação de bois, búfalos, cabras, ovelhas, porcos e aves. A pesca é praticada
tanto no mar quanto nos rios. A silvicultura, comercialmente pouco desenvolvida, fornece lenha e carvão.
b) Indústria
A Índia encontra-se entre os maiores produtores mundiais de ferro, carvão e bauxita. Além disso, dispõe de
reservas de manganês, mica, ilmenita, cobre, fosfato, ouro e prata. A indústria é muito diversificada,
destacando-se nos ramos siderúrgico, têxtil, alimentício, petroquímico, químico, automotivo, mecânico, de
eletrodomésticos, de material ferroviário, do papel, de material de construção e de informática. Mais de
80% da eletricidade é produzida em usinas termelétricas, cerca de 15% em hidrelétricas e 3% em centrais
nucleares.
c) População
Com uma população de 1,252 bilhão de habitantes, a Índia é o segundo país mais populoso do mundo,
atrás apenas da China. Entre as várias etnias que, no decorrer dos séculos, invadiram e povoaram a região,
destacam-se três grupos: o caucasiano, o mongolóide e o australóide. Atualmente, considerando os
antecedentes mais próximos, a população é formada principalmente por indianos, chineses, europeus e
tibetanos. A religião mais popular é o hinduísmo (73,9%), seguido pelo islamismo (12,2%), pelo cristianismo
(6,2%), pelas crenças tradicionais (3,8%) e pelo siquismo (2,2%). As línguas oficiais são o hindi e o inglês. No
total, porém, falam-se cerca de 1,6 mil idiomas e dialetos pertencentes a 14 grandes grupos linguísticos.
A implementação de ações afirmativas pelo governo e o desenvolvimento econômico vêm contribuindo
para o lento desaparecimento do tradicional sistema de castas que historicamente impera no país.
Principais Cidades: Mumbai (antiga Bombaim) é a cidade mais populosa da Índia, com cerca de 19 milhões
de habitantes. A capital do estado de Maharashtra é o principal centro econômico do país, respondendo,
sozinha, por mais de metade de seus rendimentos.
Ao norte encontra-se Délhi, a segunda maior cidade, com mais de 15,9 milhões de habitantes. Conhecida
por sua caótica paisagem urbana, Délhi conjuga áreas tradicionais com zonas modernas, erguidas graças ao
rápido desenvolvimento econômico dos últimos anos.
Em terceiro lugar está Calcutá, no leste. Os 14,8 milhões de indianos que moram na cidade e no seu
entorno possuem, de maneira geral, condições de vida inferiores às duas outras metrópoles. Apesar do
intenso desenvolvimento industrial, chamam atenção os bairros miseráveis onde milhares de pessoas
moram.
04. ASPECTOS HISTÓRICOS
A origem da nação hindu é a civilização que se desenvolve desde 2500 a.C. no vale do rio Indo, onde fica o
Paquistão. A região é conquistada em 1500 a.C., pelos arianos, que implantam uma sociedade baseada
num sistema de castas. Após a invasão de Alexandre, o Grande, entre 327 a.C. e 325 a.C., forma-se, em 274
a.C, o Reino de Asoka, que unifica a Índia sob o budismo. A cultura hindu recupera espaço e atinge o
apogeu no século IV com a dinastia Gupta. No início do século VIII, o oeste da Índia é invadido pelos árabes,
que trazem o islamismo. A nova fé conquista camadas importantes da população, que vêm no Islã - cuja
premissa é a igualdade de todos diante de Deus - uma oportunidade de escapar da rigidez social do sistema
de castas.
O auge da hegemonia muçulmana, com a dinastia Mogul (de 1526 a 1707), coincide com a presença
ocidental na Índia, impulsionada pelo comércio de especiarias. Em 1510, os portugueses completam a
conquista de Goa, na costa oeste do país. Ingleses, holandeses e franceses criam companhias de comércio
com a Índia. Em 1690, os ingleses fundam Calcutá, mas só depois de uma guerra contra a França
(1756/1763) o domínio do Reino Unido se consolida.
No século XIX, os ingleses reprimem várias rebeliões anticolonialistas. Paradoxalmente, a cultura britânica
torna-se um fator de união entre os indianos, que, com o inglês, adquirem uma língua comum. O Partido do
Congresso, organização política que governaria a Índia independente, é fundado em 1885 por uma elite
nativa de educação ocidental. Nos anos 1920 cresce a luta nacionalista sob a liderança do advogado
Mohandas Gandhi, conhecido como o Mahatma ("grande alma"). Pacifista, Gandhi desencadeia um
movimento de desobediência civil que inclui o boicote aos produtos britânicos e a recusa ao pagamento de
impostos.
A luta contra o colonialismo britânico termina com a independência, em 1947. Sob incentivo britânico,
líderes muçulmanos indianos decidem formar um Estado independente, o Paquistão. A partilha do
território, baseada em critérios religiosos, provoca o deslocamento de mais de 10 milhões de pessoas.
Choques entre hindus e muçulmanos deixam quase 1 milhão de mortos. Gandhi, a contragosto, aceita a
divisão do país e é assassinado por um fundamentalista hindu, em 1948.
Conflitos
Em 1947, logo após a divisão, Índia e Paquistão entram em guerra pelo controle da Caxemira. Há uma
trégua no ano seguinte, com a primeira divisão da Caxemira entre os dois países. Â hostilidade indianopaquistanesa enquadra-se na Guerra Fria - a Índia tem o apoio da União Soviética e o Paquistão, o respaldo
dos Estados Unidos (EUA). O primeiro governante da Índia independente, o primeiro-ministro Jawaharlal
Nehru, adota uma política estatizante de inspiração socialista. Nehru morre em 1964. Em 1966, sua filha,
Indira Gandhi, assume o poder. Índia e Paquistão entram novamente em guerra, em 1971, quando o
governo indiano apoia os separatistas bengalis da província do Paquistão Oriental. Os paquistaneses
capitulam, reconhecendo a independência de Bangladesh.
Em 1974, a Índia explode sua primeira bomba atômica. Indira Gandhi deixa o governo em 1977, mas
retorna em 1980. Irrompem conflitos étnicos por todo o país. Os sikhs, grupo étnico e religioso, formam
uma organização pela independência do estado do Punjab, no norte, onde são maioria. Uma série de
atentados leva a primeira-ministra a ordenar, em 1984, a invasão do santuário sikh, o Templo Dourado de
Arnritsar. Centenas de sikhs morrem na ação. Em represália, Indira é assassinada.
O filho de Indira, Rajiv Gandhi, assume o governo, em meio à agitação étnica, a acusações de corrupção e
ao crescimento do partido religioso hindu Bharatiya Janata (BJP) nas eleições de 1989. O Partido do
Congresso perde a maioria parlamentar, e Rajiv renuncia Durante a campanha de 1991, vencida pelo
partido, Rajiv é morto por separatistas tâmeis do Sri Lanka.
A animosidade entre hinduístas e muçulmanos, insuflada pelo BJP, provoca conflito em torno de uma
antiga mesquita em Ayodhya, no estado de Uttar Pradesh, instalada onde, segundo a tradição hindu, teria
nascido o deus Rama. O governo se omite, e, em 1992, milhares de hinduístas destroem a mesquita,
deflagrando uma onda de violência que deixa 1,2 mil mortos.
Em 1996 se inicia uma fase marcada pela formação e queda de coalizões. O BJP é o partido mais votado nas
eleições de 1998. Com o apoio de forças regionais e ultranacionalistas, obtém a maioria parlamentar, e seu
líder, Atal Bihari Vajpayee, torna-se primeiro-ministro. A Índia realiza cinco explosões nucleares
subterrâneas no deserto do Rajastão, em maio de 1998. O Paquistão responde com seis testes nucleares. O
gabinete de Vajpayee cai em abril de 1999. O triunfo militar indiano em novo embate na Caxemira, em
maio, garante a vitória do BJP e de partidos aliados nas eleições de setembro e outubro. Vajpayee é
reconduzido à chefia de governo.
05. No Século XXI
No início de 2002, muçulmanos ateiam fogo a um trem que transporta peregrinos hindus de volta de
Ayodhya. Os confrontos deixam mais de 800 mortos. Em julho, o muçulmano A.P.J. Abdul Kalam, cientista
mentor do programa de mísseis indiano, é eleito presidente.
Em 2003, o governo modifica a política de "não disparar primeiro" em relação às armas nucleares, abrindo
a possibilidade de usá-las em retaliação a ataques químicos e biológicos. Em visita à China Vajpayee
reconhece a soberania chinesa sobre o Tibete. Em contrapartida, a China reconhece a anexação do antigo
reino budista do Sikkim pela Índia, ocorrida em 1975.
Nos últimos anos, a Índia torna-se o maior exportador mundial de software. A nação é apontada como uma
economia ascendente, seguindo os passos da China. O impacto desse crescimento, no entanto, reflete-se
pouco e lentamente nas condições de vida da maioria da população. Dados do Banco Mundial contabilizam
455 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza no país.
Em maio de 2004, o Partido do Congresso, liderado por Sonia Gandhi, viúva do ex-primeiro-ministro Rajiv
Gandhi, vence as eleições. O Parlamento elege como primeiro-ministro Marunohan Singh, de seu, Partido.
A Índia é um dos países mais afetados pelo tsunami de dezembro de 2004. Há pelo menos 12,4 mil mortos
confirmados. A partir de junho, as maiores chuvas da história da nação deixam 700 mortos.
Em sua primeira visita à Índia, em março de 2006, o presidente dos EUA, George W. Bush, assina um acordo
de cooperação nuclear entre os dois países. O governo indiano compromete-se a destinar 14 dos seus 22
reatores nucleares a finalidades civis e a abri-los à supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica
(AIEA), mantendo os restantes para a produção de armas nucleares. Na prática, o acordo abre um
precedente em que os EUA aprovam oficialmente um desafio ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear
(TNP), do qual a Índia não é signatária A oposição critica a cooperação nuclear com os EUA como abandono
da política externa independente praticada pela Índia até então.
Em nova ameaça ao país, guerrilheiros maoistas (comunistas inspirados pelas ideias do líder chinês Mao
Tsé-tung) atacam um posto de pocia no estado de Chhattisgarh, em abril de 2006, e matam 11 policiais.
Estima-se que haja cerca de 20 mil deles, em seis estados indianos do leste.
Num dos maiores atentados terroristas da história indiana, uma série de oito explosões atinge estações
ferro, ¬viárias em Mumbai (antiga Bombaim) em julho, matando 186 pessoas e ferindo 460. A ação, com
bombas acionadas em horário de grande movimento, revela-se semelhante aos atentados em Madri, em
2004, e em Londres, em 2006. Nenhum grupo assume a autoria do atentado. Após investigações, a polícia
acusa o serviço de espionagem do Paquistão (151, na sigla original) de estar por trás das explosões,
atribuídas ao grupo militante islâmico Lashkar e-Taiba, que atua na Caxemira. O Paquistão rejeita a
acusação. Em marco de 2007, um atentado a bomba a 100 quilômetros de Nova Délhi provoca a morte de
68 passageiros, em sua maioria paquistaneses, do "trem da amizade", que liga a capital indiana à cidade de
Lahore no Paquistão. O governo vê a ação terrorista como tentativa de desestabilização do processo de paz
entre a Índia e o Paquistão. Nenhum grupo reivindica a autoria. No mesmo mês, os governantes dos dois
países assinam acordo que visa a reduzir o risco de uma guerra nuclear por acidente. Novos atentados, em
agosto, matam 43 pessoas na cidade de Hyderabad, ao sul do país. Várias bombas são acionadas
simultaneamente, uma no auditório de um parque onde acontecia um show.
Em julho de 2007, o Parlamento elege Pratibha Patil, do Partido do Congresso, para a Presidência da Índia.
É a primeira mulher a ocupar o cargo na história do país.
No ano de 2008, uma série de atentados em diversas capitais regionais e em Nova Délhi mostra a intensa
atividade de grupos terroristas no país. Em maio, bombas explodem em Jaipur e matam 63 pessoas. Em
julho, em Ahmedabad e em Bangalore, 19 bombas matam 51 pessoas e ferem 200. Em setembro, bombas
em diferentes pontos de Nova Délhi causam a morte de 20 pessoas. No mês seguinte, outras 77 morrem
em várias cidades do estado de Assam. A autoria de alguns dos atentados é assumida pelo grupo islâmico
extremista Mujahedim Indiano.
Em 26 de novembro, terroristas munidos de bombas, granadas e fuzis matam 195 pessoas, fazem dezenas
de reféns e centenas de feridos. Os alvos principais são dois hotéis luxuosos - Oberoi e o centenário Taj
Mahal -, um centro judaico e outros espaços frequentados por estrangeiros. Órgãos de imprensa recebem
comunicados nos quais a autoria das ações, é reivindicada por um grupo chamado Mujahedim do Decã,
desconhecido até então. Não é descartada a hipótese de os atentados terem sido executados por
terroristas ligados a organizações internacionais.
Em outubro de 2008, o Congresso norte-americano aprova o acordo de cooperação nuclear para fins civis
com a Índia. No Parlamento indiano, a questão motivou a retirada do apoio do Partido Comunista ao
governo, em junho, levando Singh a pedir o voto de confiança do Parlamento. Com a vitória, o governo saiu
fortalecido para as negociações futuras com a AIEA. Pelo acordo, o país poderá adquirir reatores,
combustível e tecnologia para a produção de energia nuclear, abrindo um mercado de bilhões de dólares.
O Partido do Congresso e seus aliados vencem as eleições parlamentares de 2009. Rebeldes maoístas
realizam em 2010 sua maior ação isolada, matando 76 soldados no estado de Chhattisgarh.
Em março de 2010, o site WikiLeaks revela que o governo subornou a oposição para sobreviver a um voto
de confiança, em 2008, após o acordo nuclear com os EUA. Em setembro, três parlamentares são presos
sob suspeita de participação na compra de votos. Os escândalos desgastam a imagem de Singh e do
Partido do Congresso. Nas ruas, eclode um movimento popular contra a corrupção, Em agosto, a ativista
social Anna Hazare entra em greve de fome para exigir uma agência independente de combate à
corrupção, a Lokpal. Dezenas de milhares de pessoas organizam manifestações em apoio a Hazare. O
governo concorda com a criação da Lokpal, que começa a ser discutida no Parlamento em novembro. No
mês seguinte, porém, a lei de sua criação é rejeitada, por decurso de prazo. Situação e oposição acusam-se
mutuamente de falta de vontade de aprová-la.
A Índia e o Paquistão retomam em 2011 as negociações de paz, suspensas desde os ataques de Mumbai.
O avanço mais significativo se dá no plano econômico. Em novembro, o Paquistão concede à Índia o status
de nação mais favorecida no comércio - o objetivo dos dois vizinhos é dobrar o valor das trocas bilaterais
em três anos.
Novo presidente: Pranab Mukherjee, do Partido do Congresso, é eleito presidente em julho 2012,
derrotando Purno Agitok Sangma, apoiado pelo BJP. A eleição é indireta. Dois apagões, em julho, deixam
mais de 700 milhões de pessoas sem luz e provocam grandes prejuízos.
O banco central limita, em agosto, a possibilidade de envio de dinheiro para fora do país, com o objetivo de
evitar a fuga de capitais. Em três meses, a rúpia sofrera desvalorização de 20% em relação ao dólar,
enquanto a Bolsa é abalada por quedas significativas. O governo nega, porém, a intenção de controlar os
capitais. Há temor, entre os analistas, de que a situação afugente investidores internacionais.
Para impulsionar a economia, cujo ritmo de crescimento vem caindo, o governo anuncia em setembro uma
série de reformas liberalizantes. Elas incluem a abertura a investimentos estrangeiros nos setores de varejo
e aviação, além de privatizações parciais em quatro companhias estatais. O governo também determina o
fim do subsídio ao diesel (o que eleva o preço do óleo em 12%), para tentar reduzir o déficit fiscal. Apesar
de bem recebidas pelo FMI, as medidas contrariam as centrais sindicais, que temem a perda de postos de
trabalho e convocam greve geral. Também insatisfeito um dos partidos minoritários da base de sustentação
governista abandona a coalizão. Em dezembro, o governo anuncia que vai rever a abertura do setor
varejista.
A Questão dos Estupros
Em dezembro, uma jovem de 23 anos é estuprada e morta num ônibus, em Nova Délhi, por cinco homens e
um adolescente. O fato choca o país e leva milhares de pessoas às ruas, em atos de protesto contra o alto
número de ataques sexuais na Índia (25 mil casos em 2012). Nos meses seguintes, surgem mais denúncias
de estupros. Em março de 2013, o Parlamento aprova lei que pune de forma mais rigorosa esse tipo de
crime. Em setembro, quatro dos acusados pelo ataque no ônibus recebem pena de morte.
Acordo Com a China
Em outubro, Índia e China assinam acordos para incentivar a comunicação entre os militares e diminuir a
tensão na fronteira comum. Desde o conflito em 1962, a China reivindica 90 mil quilômetros quadrados do
território indiano de Arunachal Pradesh, ao leste do Himalaia. Já a Índia quer que a China desocupe uma
área de 38 mil quilômetros quadrados no planalto Aksai Chin, no oeste da cordilheira. No mesmo mês, a
Índia lança sua primeira missão a Marte.
A população da Índia poderá ser maior que a da China
A índia atinge a marca de 1,2 bilhão de habitantes, de acordo com o último censo, divulgado em março de
2011. Apesar de a taxa de crescimento da população ter diminuído na última década - 17,6% entre 2001 e
2011, contra 21,5% entre 1991 e 2001 -, o país ganhou 181 milhões de novos habitantes, quase a
população do Brasil. A ONU estima que, entre 2020 e 2025, a índia seja a nação mais populosa do planeta,
superando a China. Um dos resultados mais preocupantes revelado pelo censo é a queda acentuada do
número de meninas com menos de 6 anos em relação ao de meninos - 914 meninas para mil meninos em
2011, contra 927 para mil em 2001. O dado sugere que muitas mulheres têm recorrido ao aborto para
garantir filhos do sexo masculino, uma prática no país.
COMPILAÇÃO FEITA A PARTIR DE:
- Almanaque Abril 2014, 39ª ed. São Paulo: Ed. Abril, 2014.
- HELLERN, NOTAKER e GAARDER. O livro das Religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
- ARRUDA, J. e PILETTI, N. Toda a História, 4ª ed. São Paulo: Ática, 1996.
- AQUINO, JESUS e OSCAR. História das Sociedades: das comunidades primitivas às sociedades medievais.
São Paulo: Ao Livro Técnico.
- Atlas National Geografic, livro 08: Ásia II. São Paulo: Ed. Abril, 2008.
- http://www.wikipedia.org
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