doi: 10.7213/CAD.Est.Pes.Tur.04.005.AO05 Composto de Marketing e o Turismo Rural: breve estudo exploratório Composed of Marketing and Rural Tourism: short exploratory study Fábio Luciano Violin Doutorando em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional Universidade Anhanguera – UNIDERP, Mestre em Administração pela Universidade Federal do Paraná, Graduado em Administração de Empresas [email protected] André Luiz Violin Graduado em Análise de Sistemas Coordenador de curso e Docente, Instituto Federal do Mato Grosso do Sul - IFMS [email protected] Francisco Barbosa do Nascimento Filho Doutorando em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí, Campus de Balneário Camboriú - SC, Mestrado em Educação pela Universidade do Oeste Paulista UNOESTE, Especialização em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing ESPM e Especialização em Planejamento e Gestão Municipal pela Universidade Estadual Paulista - UNESP - FCT - Presidente Prudente e graduado em Turismo pela Universidade Potiguar-UNp Professor da Universidade Estadual Paulista - UNESP Campus de Rosana [email protected] Vagner Sérgio Custódio Doutor em Educação Física pela Unicamp, mestre em Educação e licenciado em Educação Física pela Universidade Estadual Paulista Professor da Unesp Campus de Rosana [email protected] CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 5, p. 86-105, jul/dez. 2015. Página 86 Resumo Este trabalho teve como objetivo analisar a contribuição do composto de marketing para a administração e divulgação do Restaurante Rural Porto Maria e seus eventos, localizado no Assentamento Rural Porto Maria – Rosana - SP. O composto de marketing caracteriza-se pelas variáveis: preço, praça, produto e promoção, que sendo utilizado adequadamente possibilitará o êxito do empreendimento dentro da sua proposta e capacidade de atendimento com suas peculiaridades e na promoção dos eventos. A pesquisa se caracteriza como qualitativa, exploratória, sendo uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo com a coleta de dados documental e com entrevista, realizada junto às mulheres que pertencem ao Assentamento Porto Maria e que gerenciam o Restaurante Rural. Dois pontos podem ser destacados, no que concerne aos resultados obtidos, o primeiro deles é que o uso das ferramentas de Marketing é algo real, porém de modo assimétrico e intuitivo e que a existe adesão e frequência da população do entorno ao empreendimento, mas a ausência de planejamento mercadológico estruturado e consistente mantém o negócio em patamares tímidos. Palavras-chave: Turismo, Marketing; Composto de Marketing; Turismo Rural. Abstract This paper aims analysis the contribution of the marketing mix for the administration and promotion of Rural Restaurant Porto Maria and its events, located in the settlement Rural Porto Maria - Rosana - SP. The marketing mix is characterized by variable price, place, product and promotion, which are used properly, will enable the success of the project within your proposal and service capacity with its peculiarities and promotion of events. The research is characterized as qualitative, exploratory, and empirical research that investigates a contemporary phenomenon to the collection of documentary data and interviews conducted with women who belong to the settlement Porto Maria and managing the Farmhouse Restaurant. Two points can be highlighted, with respect to the results obtained; the first one is that the use of marketing tools is something real, but asymmetric and intuitive way and that there is adherence and frequency of surrounding the enterprise population, but the lack of structured and consistent marketing plan keeps the business in shy levels. Keywords: Tourism, Marketing; Marketing Mix; Rural Tourism. Introdução Em um mundo cada vez mais competitivo em que elementos como a tecnologia, comportamento do consumidor, leis e regulamentações, fatores ambientais e alterações socioeconômicas e educacionais alteram-se a uma velocidade e intensidade ímpar, surge a emergência de análise pormenorizada dos fatores que auxiliam ou dificultam o alcance dos objetivos organizacionais, especialmente no setor turístico pela natureza de suas ofertas de produtos e serviços ao mercado. CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 5, p. 86-105, jul/dez. 2015. Página 87 Este contexto de competitividade aliada a mudanças estruturais rápidas e constantes faz emergir nas organizações a necessidade de se atingir objetivos de curto, médio e longo prazo e para tanto se torna vital a montagem de estratégias refinadas para a prospecção, captação e manutenção de uma carteira de clientes (turistas ou usuários) que permita a obtenção de resultados almejados dentro de um determinado período. A tarefa de obter e manter resultados positivos traz em seu cerne a dificuldade de resultados permanentes visto que as organizações são criações humanas desprovidas de permanência efetiva e real cuja função maior é a de servir a seus objetivos aliados a sua contribuição para com a sociedade e a economia de um país, região ou local específico. A perpetuação de uma organização é tarefa básica que cabe ao espírito empreendedor e atingir tal intento é o teste definitivo da capacidade de administração de seus gestores (DRUCKER, 2011). O objetivo desse artigo é analisar a contribuição do composto de marketing na promoção do Restaurante Rural Porto Maria em Rosana-SP, localizado no Assentamento Rural Porto Maria. Para tal, foi traçado o objetivo de analisar a contribuição do composto de marketing nas atividades de turismo rural. Os elementos ligados ao composto de Marketing - produto, preço, promoção epraça se apresentam como parâmetros interessantes no auxílio da execução do processo de planejamento de ações necessárias para a efetiva aliança entre os esforços de uma organização e os resultados obtidos no mercado (YULDELSON, 1999). Torna-se vital levantar para a área de turismo os elementos considerados relevantes no que tange a sobrevivência, crescimento e perpetuação das atividades empresariais através das práticas consideradas essenciais no contexto atual. Como atividade econômica as empresas ligadas de forma direta ou indireta ao turismo têm enfrentado cenários cada dia mais turbulentos, competitivos e com ganhos consideráveis em termos de profissionalização do setor. Dentro desse contexto e especialmente considerando que todas as organizações necessitam obter resultados satisfatórios, a função do marketing estratégico passa a auxiliar as organizações na identificação dos usuários ou turistas potenciais, interpretar suas necessidades e desejos além de permitir a correta segmentação e posicionamento frente ao público-alvo desejado. CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 5, p. 86-105, jul/dez. 2015. Página 88 A Organização Mundial do Turismo - OMT estimou que o crescimento anual do setor turístico é de aproximadamente 6% no Brasil o qual resulta em uma nova tendência global, aonde o turista não mais deseja ser um simples expectador de sua viagem, mas sim, o protagonista, que efetivamente vivencia a cultura e a experiência nos novos destinos visitados (OMT, 2001). No Brasil, o IDESTUR (2010) – Instituto de Pesquisa do Turismo Rural observou um percentual muito maior de crescimento, tanto no número de empreendimentos quanto ao de consumidores, e também prevê um grande número de produtos ofertados aos turistas. Considerando a dificuldade de estabelecer relações claras e racionais entre uma necessidade humana e os benefícios almejados por um usuário dos serviços ou produtos do turismo o composto de marketing surge como elemento básico na interpretação, montagem de propostas, inserção de estímulos e crucialmente com capacidade – se bem realizado - de influenciar fluxos de demanda reais ou potenciais. Percurso Metodológico O presente trabalho visa analisar a contribuição do composto de marketing na promoção de eventos em turismo rural: O restaurante rural Porto Maria, localizado no município de Rosana-SP. Para esta investigação realizamos um estudo de caso com abordagem qualitativa, exploratória, que segundo Yin (2005, p.32) “é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto na vida real, especialmente quando os limites entre fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”. Contribuição para um estudo de caso baseado, em evidências empíricas, sob ótica do referencial teórico-prático na utilização do composto de marketing para promoção de eventos em locais rurais. Discorre Dencker (2007) que a pesquisa exploratória permite a flexibilidade do planejamento, envolve em grande parte levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas experientes, e quase sempre se apresenta como estudo de caso. A coleta dos dados e informações inerentes à pesquisa foram adquiridas através de entrevista semi-estruturada com a gestora do Restaurante e representante das mulheres CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 5, p. 86-105, jul/dez. 2015. Página 89 assentadas que trabalham no local. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica para a elaboração do referencial teórico deste artigo. De acordo com Marconi e Lakatos (2005), a utilização da pesquisa bibliográfica é utilizada no momento em que o pesquisador percebe a necessidade de levantamento de dados sobre um assunto específico, adquirindo informações pertinentes ao trabalho que está sendo desenvolvido. Revisão Teórica Marketing As ações de Marketing visam fundamentalmente a geração de elementos que de forma específica se propõem a gerar satisfação na relação entre uma organização e seus clientes, sejam reais ou potenciais. Kotler e Keller (2006) especificam que Marketing é “(...) um processo social por meio dos quais pessoas e grupos de pessoas obtêm aquilo de que necessitam e o que desejam com a criação, oferta e livre negociação de produtos e serviços de valor (...)”. Marketing é apontado pela literatura como sendo capaz de agregar valor a produtos e serviços com foco na atração, estímulo e gestão da demanda tendo como base a identificação de necessidades e desejos dos clientes ou consumidores dentro de um ou mais segmentos de mercado. (COBRA, 2005; CASTELLI, 2010). O Marketing na concepção de Kotler e Keller (2006) é a atividade humana direcionada a satisfação das necessidades e desejos realizável através dos processos de troca. De forma simples as necessidades são comuns a todos os seres humanos tais como respirar, ter sede, fome, precisar de abrigo, higiene pessoal entre outros pontos. Já os desejos representam algo específico para saciar uma necessidade humana. Ter fome é uma necessidade, consumir algum tipo específico de alimento é um desejo. As organizações rurais – assim como as demais - ofertam produtos (bens físicos, serviços, ideias, lugares, pessoas ou informações) para atender as demandas específicas de segmentos ou nichos de mercado de seu interesse e sendo assim pode ser considerado um produto qualquer oferta que venha ao encontro de uma necessidade ou desejo e que permita troca. CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 5, p. 86-105, jul/dez. 2015. Página 90 Tanto o crescimento quanto a sobrevivência das organizações estão diretamente atrelados as suas ações de busca, atendimento e manutenção de clientes através da criação de algum tipo de vantagem competitiva dentro do ambiente em que operam através da oferta de produtos, serviços, imagem, lugares, informações ou mesmo ideias (DICKSON et. al, 2001). Para Mintzberg et. al (2010) elaborar, contextualizar e operacionalizar estratégias parte do pressuposto do atendimento das necessidades que uma empresa tem no gerenciamento de suas ações considerando determinado(s) ponto(s) ou objetivo(s) a ser (em) atingido(s) ao longo de um período de tempo. Oliveira et.al. (2011) discorrem a respeito da necessidade das organizações se apresentarem de forma competitiva em razão da pressão de diversos fatores tanto internos quanto externos o que por consequência gera visibilidade para os instrumentos e técnicas de gestão empresarial destacando a importância de sua utilização de forma contundente. Ainda segundo os autores: [...] setores econômicos que estão em franco desenvolvimento, como é o caso do turismo, muitas vezes perdem o timing correto acerca dessa prática, justamente em virtude de as preocupações voltarem-se ao atendimento da demanda e à resolução de problemas internos das organizações, desconsiderando, ao menos em parte, a busca pela eficácia dos processos e a definição de uma estratégia competitiva clara e que permita o desenvolvimento e a sustentação de vantagens no longo prazo.” (OLIVEIRA et al., p.98, 2011) À medida que os níveis competitivos aumentam as organizações turísticas rurais necessitam adequar-se as exigências do mercado ou como agente ativa – propulsora das mudanças - ou como agente passiva – reagindo as mudanças na busca por crescimento ou pelo menos sobrevivência. A ausência de ações consolidadas pode comprometer no longo prazo a atração e manutenção de clientes reais e potenciais (COBRA, 2005). Nesse cenário de busca por adequação as ações ligadas ao Marketing são fundamentais para a adequação ou análise de readequação de ações dentro do contexto competitivo e de busca por participação de mercado em um mercado em franco crescimento, contudo com sérios gargalos a serem resolvidos. CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 5, p. 86-105, jul/dez. 2015. Página 91 Composto de Marketing O conceito inicial a respeito do Composto de Marketing foi introduzido por Neil Borden em 1953 tendo como base o trabalho de James Culliton que havia realizado a descrição do executivo de negócios como um profissional que realizava a combinação de “diferentes ingredientes”. A partir de então, a expressão Marketing Mix ou Composto de Marketing passou a ter a conotação de “Mistura” ou mesmo “Composição” de ingredientes com a finalidade de se obter respostas vinculadas ao mercado de atuação das empresas (CHURCHILL E PETER, 2005). Os conceitos associados ao Composto de Marketing foram explicados por diversos autores através de uma lista de variáveis ou ferramentas e suas atividades inerentes. O conceito ganhou estrutura e popularização através dos estudos de McCarthy na década de 60. O autor defendeu que o Composto de Marketing compreende as decisões que uma organização precisa realizar a respeito destas variáveis controláveis. A ideia de que as variáveis eram controláveis baseava-se no pressuposto que os elementos vinculados ao composto de Marketing eram elementos vitais para as tomadas de decisão nas organizações (BOONE E KURTZ, 2015). McCarthy (1960) então reuniu tais variáveis controláveis de Marketing e as categorizou em quatro partes: Produto, Preço, Promoção e Praça. Kotler e Keller (2006) defende que o Composto de Marketing forma um dos alicerces fundamentais na atualidade e o defini como um conjunto de ferramentas mercadológicas que uma organização se vale para perseguir seus objetivos de Marketing dentro do mercado-alvo de interesse. O autor ainda defende a ideia de que o composto traz em si o conceito de um conjunto organizado de instrumentos que dão suporte ou parâmetro para que as decisões sejam tomadas de forma coerente e eficaz. Sheth et. al (2013) aponta que o Composto de Marketing conforme foi concebido por McCarthy advém da corrente de pensamento em Marketing intitulada Escola Funcional a qual direcionava sua atenção e esforço a funcionalidade das atividades ligadas ao mercado. A literatura especializada tem apontado através de estudos e casos que existe um grande risco associado ao se abordar cada função do composto de Marketing de forma CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 5, p. 86-105, jul/dez. 2015. Página 92 isolada. Segundo diversos autores existe uma relação de interdependência dinâmica associada aos elementos e que decisões isoladas podem ao invés de beneficiar uma organização vir a comprometer seus resultados pela ausência de aderência entre as ações e as necessidades e desejos dos clientes (KOTLER e KELLER, 2006; LAMBIN, 2007; MINTZBERGet. al, 2010). Salienta-se que um programa de Marketing em organizações rurais consistente, integrado e com capacidade de alavancagem mesmo estando em consonância com os requisitos exigidos pelo mercado pode não ser suficiente para gerar os objetivos almejados pois, existem as variáveis incontroláveis pela organização que podem afetar de forma direta ou indireta os resultados (NASCIMENTO e LAUTERBORN, 2007; AAKERet. al, 2013). Por fim, é preciso ressaltar que nem sempre os programas mercadológicos se ajustam de forma impar ao paradigma “produto, comunicação, logística e preço” e que portanto analisar de forma pormenorizada a contribuição de cada elemento dentro da organização rural se torna ponto pacífico de atuação. Turismo O setor de turismo no país tem caminhado a passos largos nos últimos anos tanto em ações como em materiais que proporcionam conhecimento e ampliação dos conceitos ligados a área. Uma afinada concepção é apresentada por Melgar (2001) ao discorrer que Turismo: (...) é o conjunto de atividades realizadas por uma pessoa em um lugar diferente daquele onde possui sua residência habitual, quando motivado por razões surgidas livremente e quando não sejam exercidas ações profissionais remuneradas diretamente por setores econômicos do lugar visitado (MELGAR, p. 56, 2001). Segundo Beni (2007) a atividade turística dentro de uma perspectiva empresarial e econômica foi conceituada pela primeira vez em 1910 por Herman von Schullern na qual o turismo era “(...) a soma das operações, especialmente as de natureza econômica, diretamente relacionadas com a entrada, permanência e deslocamento de estrangeiros para dentro e para fora de um país, cidade ou região”. CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 5, p. 86-105, jul/dez. 2015. Página 93 A visão talvez fosse adequada para a época, contudo, o formato que se prega no que concerne ao turismo é que o mesmo aparenta estar em constante transformação e que apresenta-se como uma atividade complexa e com fortes relações de interdependência e subordinações às condições de mercado e também aos elementos internos de funcionamento (SOLOMON, 2011). Com o advento das alterações mundiais sofridas nos diversos setores da economia entre eles o setor de Turismo juntamente com as artes, o esporte, a cultura aliada a importância cada vez maior dada pelas pessoas no que diz respeito a qualidade de vida trazem a noção de que a atividade turística a cada ano ganha mais espaço na mídia, nos meios sociais e não relações de consumo de forma ativa, mutável e multifacetada (LICKORISH e JENKINS, 2002; ENGEL et. al, 2005). O setor de turismo apresenta-se como um fenômeno de ordem social além de potencialmente gerador de progresso tanto regional quanto nacional tanto nos campos sociais, culturais, políticos quanto nos campos econômicos e educacionais (BENI, 2007). Turismo Rural Dentre as diversas segmentações do turismo, encontra-se o Turismo Rural. Entende-se por turismo rural, segundo a EMBRATUR (1994) apud Marafon (2006, p.26) “[...] todas as atividades – alternativas, domésticas, agroturismo, turismo – organizado para e pelos habitantes do país [...]”. Mendonça et. al (2002) apud Marafon, (2006, p.26) ainda afirma “toda maneira turística de visitar e conhecer o ambiente rural, enquanto se resgata e valoriza a cultura regional” Ainda, segundo o Ministério do Turismo em Amorim (2011, p.2), turismo rural caracteriza-se pelo “conjunto de atividades desenvolvidas no meio rural, comprometido com a produção agropecuária, agregando valor a produtos e serviços, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural da comunidade” Cada vez mais o homem vem buscando o campo, ou a natureza como forma de lazer e de fuga das cidades industrializadas, o qual pode ser observada considerando: CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 5, p. 86-105, jul/dez. 2015. Página 94 A revalorização do rural contida nas práticas de excursões ao campo, os veraneios e as atividades de lazer nele, bem como outras diversas formas de sua utilização e consumo, tem se fundado na grande expressão planetária que tomou o ambientalismo nas últimas décadas. As apelações de reencontro com a natureza, a harmonia, a qualidade de vida e o respeito como o meio-ambiente, que se apresentam nos discursos resignificadores do rural, têm evidenciado a crise da ideia de progresso contínuo e sem limites que acalentou o projeto modernizador via industrialismo e urbanização dos últimos duzentos anos. (FROEHLICH, 2000, p.3) Ainda segundo Marafon (2006, p.26) “O desenvolvimento de atividades turísticas no espaço rural, [...] está associado ao processo de urbanização que ocorre na sociedade e no transbordamento do espaço urbano para o espaço rural”. Com isso, o turismo rural, e os outros diversos setores do turismo que envolvem o ambiente natural, tem ganhado, cada vez mais destaque na sociedade contemporânea, como afirma Froehlich (2000, p.4) “a representação urbana do espaço rural não só como um espaço de produção (de alimentos, de produtos primários), mas também como um espaço de biodiversidade, de lazer e serviços (turismo [...]), tem acarretado em novas ‘funções’ para este espaço.” Com esse aumento da popularização do turismo rural, os empreendimentos ligados ao setor, tendem a se expandir e a adquirir novos meios de marketing e estratégias de negócios. De forma mais específica as atividades relacionadas ao turismo necessitam cada vez mais de estruturação e direcionamento, especialmente se for considerado que, segundo Cobra (2005) e Jain (2009) as estratégias de marketing turístico tornaram-se fundamentais para o setor na solidificação das tomadas de decisão envolvidas no processo de gerenciamento das ações de estímulo ou resposta ao mercado consumidor de turismo, em especial nas organizações turísticas vinculadas a rural, isso posto considerando a necessidade de adequação ou adaptação do empreendimento rural a lógica de funcionamento do ambiente em que opera. Marketing Turístico Já há alguns anos a atividade turística tem se apresentado como um dos setores econômicos mais promissores, expressivos e potencialmente geradores de resultados no mercado mundial. Contudo maior potencialidade do setor de turismo rural traz consigo maior CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 5, p. 86-105, jul/dez. 2015. Página 95 volume de ofertas decorrentes do aumento da competitividade além de alterações ambientais – entre elas as características do comportamento do consumidor- que influenciam a forma de trabalhar das empresas e alteram constantemente as “regras do jogo”. A alta competitividade que envolve a grande maioria dos setores inclusive o de turismo traz a consequente concorrência entre destinos, empresas, conceitos, espaços e ideias. Neste sentido a busca por diferenciação das ofertas a serem apresentadas aos consumidores que tem se tornado cada vez mais exigentes - é uma forma de obter participação de mercado e manutenção de segmentos e nichos. (LOVELOCK e WRIGHT, 2006). A Embratur (1992) define o Marketing turístico como sendo “um conjunto de técnicas estatísticas, econômicas, sociológicas e psicológicas, utilizada para estudar e conquistar o mercado, mediante lançamento planejado dos produtos”. Um dos primeiros autores a definir Marketing Turístico foi Krippendorf (1989) o qual apontou que o marketing voltado ao turismo representa uma adaptação sistemática e coordenada da política das empresas de turismo, tanto privadas como públicas objetivando a satisfação de forma plena das necessidades de determinados grupos de consumidores, e obtendo com isso, um lucro apropriado. Na concepção de Cobra (2005) “o Turismo é uma importante fonte de receita e a compreensão das oportunidades de mercado permite direcionar as estratégias de marketing”. O Marketing Turístico então se apresenta como uma ferramenta indispensável para o funcionamento e gerenciamento efetivo das organizações, especialmente no que concerne a diferenciação das ofertas aos segmentos de interesse (MONTEJANO, 2001). O composto de Marketing aplicado ao turismo não deve ser interpretado como uma mistura de elementos e sim como a combinação de forma esquematizada e estruturada de ações entre as variáveis. Dentro deste contexto uma associação interessante é realizada por Middleton (2007) ao expressar que os conceitos do composto de Marketing podem ser interpretados como um conjunto coordenado de alavancas operadas com o objetivo de se chegar a um determinado ponto. De forma ilustrativa o autor compara as variáveis controláveis com um automóvel que possui acelerador, freio, volante e câmbio. O movimento desses controles deve ser utilizado em consonância com as condições enfrentadas em uma estrada em constante mudança e em conjunto conforme a necessidade mais ampla ou pontual. CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 5, p. 86-105, jul/dez. 2015. Página 96 Beni (2007) defende que o marketing turístico representa um processo administrativo pelo qual as organizações vinculadas ao turismo identificação seus clientes tanto reais quanto potenciais. Malhotra (2011) reforça tal posição ao salientar que o estabelecimento de comunicação com esses segmentos ou nichos com o objetivo de conhecer e influenciar suas necessidades e desejos é algo vital as organizações. Ao passo que Melgar (2001) aponta que estas ações têm como objetivo a formulação e adaptação de produtos e serviços para a obtenção de indicadores positivos de satisfação dos usuários ou turistas. De forma sintética as definições apresentadas evidenciam que o papel do marketing turístico é o de analisar, compreender e propor ações que beneficiem de um lado o cliente através da satisfação de suas necessidades e desejos e de outro a empresa através do cumprimento de seus objetivos estabelecidos previamente (PELIZZER, 2005). Segundo a OMT (2001) por sua natureza os serviços turísticos representam elementos constitutivos vitais no composto da oferta aos usuários possibilitando a experimentação, o uso e a consequente experiência de consumo. Middleton (2007) reforça que um dos elementos ou características a serem observados é o fato da heterogeneidade da demanda por parte dos usuários a qual gera diferenças em termos de expectativa e interpretação da oferta de maneira tão diversificada que tornam seu julgamento de adequação ou inadequação sujeito a diferentes interpretações e avaliações, informações corroboradas por outros autores tais como MELGAR, 2001; IGNARRA, 2013, AAKER et. al, 2013. De forma sintética o produto turístico entendido como toda oferta dispensada aos consumidores é composta tanto de elementos tangíveis tais como equipamentos, infraestrutura, bens físicos e recursos diversos como também intangíveis ao projetar serviços, propostas de preço, elementos ligados a imagem e ao gerenciamento da atividade que de forma sistêmica atuam em conjunto na busca da satisfação de necessidades e desejos reais ou potenciais dos consumidores sejam eles turistas ou usuários do empreendimento rural (DIAS e CASSAR, 2005; CUNHA, 2013). Por fim, trabalhar o composto de Marketing Turístico considerando as variáveis controláveis do Marketing - preço, promoção (comunicação) praça (logística ou distribuição) e das características do produto - se mostra viável ao proporcionar a possibilidade de aperfeiçoar os CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 5, p. 86-105, jul/dez. 2015. Página 97 processos de tomada de decisão e também ao facilitar o planejamento estratégico de ações coordenadas dentro de objetivos definidos ao longo de um período de tempo pelas organizações. Objeto de Estudo - Análise O Restaurante Rural Porto Maria surgiu da iniciativa conjunta das mulheres assentadas, Itesp – Instituto de Terras de São Paulo, Prefeitura Municipal de Rosana e UNESP – Universidade Estadual Paulista como projeto de extensão e pesquisa visando a melhoria da qualidade de vida dos assentados bem como a oferta de um empreendimento de restauração para utilização de visitantes, turistas e população em geral do Pontal do Paranapanema e região. Figura 01 - O Buffet do Restaurante Rural Porto Maria – Rosana - SP Fonte: os autores Uma das principais características do Restaurante é a sua forma de administração que é participativa entre as mulheres assentadas e também o seu forte apelo comercial que está baseado na produção agrícola das propriedades que fazem parte do assentamento visando comprar e adquirir pouco no comércio local, supermercados e atacadistas próximo onde o empreendimento está localizado, os pratos a base de peixe predominam na engenharia do cardápio, também pescado nos Rios Paraná e Paranapanema próximos do empreendimento, pescados por assentados e membros da comunidade e dentro desta perceptiva o seu menu é CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 5, p. 86-105, jul/dez. 2015. Página 98 montado com os produtos mais abundantes nas propriedades a compra e a aquisição de produtos não encontrados no local é feita na localidade mais próxima, que fica a 12 km do lugar. Figura 02 - Restaurante Rural Porto Maria – Rosana - SP Fonte: os autores O estabelecimento estudado tem sete meses de funcionamento, tem atendido em média 90 clientes por final de semana, que é quando o mesmo funciona, um ponto a ser destacado do empreendimento é a sua localização as margens do Rio Paraná, oferece local para banho de rio, estacionamento, ambiente ventilado e rústico, alimentos produzidos em fogão a lenha, já que o mesmo funciona na antiga sede da Fazenda Porto Maria desapropriada pelo Governo do Estado de São Paulo, decorado sem sofisticação, e muitas vezes buscando aumentar sua geração de receitas realiza eventos, como Dia das Mães, confraternizações, Dia dos Pais e Festas Junina e Julina entre outras possibilidades estudadas pelas mulheres assentadas. No ambiente do restaurante encontramos móveis, equipamentos e utensílios que proporcionam harmonização e conforto com todo o contexto do lugar, com pratos, copos e talheres de aparência bem cuidada e nova. Visando atender a demanda de clientes e eventos, o local conta com 16 mulheres que fazem parte do assentamento, se revezando nas diversas atividades do serviço de alimentos e bebidas como cozinheiras, garçom, copeiras e ajudante de cozinha que para tanto receberam qualificação da UNESP, SENAR e ITESP, a líder do grupo se encarrega da gestão geral e organização das diversas atividades implícitas no processo, como compras, divulgação, CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 5, p. 86-105, jul/dez. 2015. Página 99 requisição de materiais junto aos assentados, elaboração de cardápio e controle geral das operações. As qualidades das produções culinárias são satisfatórias, conforme constado em visitação e utilização dos serviços, tendo ainda como elemento de apelo comercial o resgate dos pratos rurais, seu modo de confecção que é o fogão a lenha e a sua localização aprazível e bucólica as margens do rio Paraná, fazem dele um destino requisitado em visita e passagem por Rosana. As estratégias para promoção do empreendimento e dos eventos realizados são empíricas, ficando a cargo de uma ou outra postagem nas redes sociais e no chamado “bocaboca”, fazendo com que o restaurante não obtenha uma frequência de clientes satisfatória junto às gestoras. Considerações Finais Houve uma época em que as atividades organizacionais – particularmente as relacionadas ao turismo no espaço rural - eram realizadas de tal forma que grande parte das decisões eram tomadas e os resultados – bons ou ruins - eram obtidos através de tentativa e erro. Essa época era menos complexa e competitiva do que os tempos atuais. Conforme o mercado foi se tornando mais complexo e apresentando múltiplas variáveis que influenciavam de forma cada vez mais acirrada a disputa por espaço na preferência dos consumidores as organizações de todos os setores - em especial as de serviços - precisaram desenvolver mecanismos para levantamento, análise e uso de dados e informações advindas de concorrentes, governo, consumidores, fornecedores entre outros para ajustar sua oferta ao seu segmento de clientes. Nesse sentido as estratégias de marketing foram se tornando mais refinadas e com capacidade de contribuir com os objetivos e metas traçados pelas empresas na busca por participação de mercado, consolidação da imagem, diminuição dos indicadores de insatisfação dos consumidores entre diversos outros pontos. Na presente pesquisa que teve como objetivo sugerir a contribuição que o composto de marketing pode trazer para a administração e divulgação do Restaurante Porto Maria, CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 5, p. 86-105, jul/dez. 2015. Página 100 localizado no Assentamento Rural Porto Maria – Rosana – SP que é um empreendimento gerenciado por mulheres que vivem no assentamento Porto Maria e que visam contribuir com a implantação e funcionamento regular do Restaurante Rural no aumento do fluxo de turismo no município bem como melhoria na qualidade de vida das mulheres e consequentemente às famílias, envolvidos no restaurante. Por meio de entrevista com as mulheres que administram o restaurante foram obtidas as informações necessárias que puderam contribuir e oportunizar essa pesquisa, com relatos que indicam a necessidade premente da aplicação criteriosa, imediatae objetiva do composto de marketing (preço, praça, produto e promoção) nas atividades e na administração do Restaurante Rural Porto Maria. De acordo com a nossa observação, a clientela que usufrui do restaurante fica satisfeita e a movimentação, nos finais de semana e nos eventos, dão o indicativo de possível sucesso ao empreendimento, levando em consideração seu cardápio com pratos da culinária rural, sua localização às margens do Rio Paraná, a confecção dos pratos no fogão à lenha, a qualidade dos produtos oferecidos e a forma amistosa, caseira e hospitaleira como os clientes são tratados pelas mulheres na execução do serviço fazem a diferença do empreendimento, se comparado a restaurantes tradicionais localizados no meio urbano; Porém, apesar das vantagens observadas sugere-se que o composto de marketing seja aplicado de forma profissionalizada, contribuindo para que o mesmo tenho aumento no número de clientes, seja mais conhecidos em outras localidades não só no município que ele está inserido, e que haja melhorias na padronização do atendimento, aumento na oferta de produtos (tanto de alimentos como de bebidas) e melhor composição de preços. O resultado deste trabalho é uma amostra observacional do composto de marketing num restaurante rural simples, mas que pode obter vantagens seguindo os indicativos do composto de marketing na condução da sua administração e tomada de decisão. Alguns elementos justificam o estudo da relação entre as estratégias ligadas ao Composto de Marketing e os resultados obtidos por organizações rurais vinculadas ao turismo dentre elas, pode-se exemplificar empiricamente, as seguintes: 1. Menor probabilidade de aceitação do erro por parte dos consumidores de produtos e serviços turísticos; CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 5, p. 86-105, jul/dez. 2015. Página 101 2. Avanços tecnológicos mais constantes e ocorrendo em menor espaço de tempo com alterações substanciais na forma de execução de processos e procedimentos; 3. Elevação nos índices de profissionalização das pessoas; 4. Consumidores com maior acesso a informação e com maior capacidade de utilização da mesma em suas decisões de aquisição e uso; 5. Diminuição média da lucratividade e riscos associados a má gestão de custos; 6. Índice de mortalidade de novos produtos e serviços em patamares elevados; e 7. Pré-disposição dos consumidores a experimentar novas marcas, produtos, serviços e ideias, entre outras constatações. O tema relacionado ao Composto de Marketing aplicado ao turismo não é necessariamente novo, contudo, ainda apresenta espaço para ampliação, especialmente da experiência nacional rural para com o uso destas ferramentas como balizadoras e auxiliares no processo de planejamento e tomada de decisão. Desta forma, ampliar o campo de estudo e trazer experiências bem sucedidas de empresas consideradas referência auxiliará outras organizações do ramo a se espelharem nas práticas que tem atualmente gerado resultados positivos, além de contribuir academicamente para o avanço dos estudos que relacionam as áreas de marketing e turismo, setores que são característicos por estarem em constante mudança. Referências AAKER, D. A., KUMAR, V.; LEONE, R.; DAY, G. S. Marketing Research. 11th Edition New York: John Wiley & Sons, 2013. AMORIM, Camila Fernanda Freire de. Turismo rural em Mato Grosso. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVIII Prêmio Expocom 2011 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação. Disponível em: ttp://intercom.org.br/papers/regionais/centrooeste2011/resumos/R27-0060-1.pdf Acessado em 21 de Fevereiro de 2015. BENI, M. C. Análise estrutural do turismo. 12º edição. São Paulo: SENAC, 2007. BOONE, L. E. e KURTZ, D. L. 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