Variabilidade quantitativa de populações microbiana observada em solo de floresta tropical úmida, associada às condições microclimáticas Hernani Brazão Rodrigues, Meteorologista, Faculdade de Meteorologia-UFPA, Rua Augusto Corrêa 01 – Guamá, CEP: 66075-110, Belém-PA, Rommel Benício Silva, Meteorologista, Museu Emílio Goeldi, Av. Magalhães Barata, 376 - São Braz, CEP: 66040-170, Belém-PA, Maria de Lourdes Ruivo, Geóloga, Museu Emílio Goeldi, Av. Magalhães Barata 376 - São Braz, CEP: 66040-170, BelémPA, Antônio Carlos Lôla, Meteorologista, Faculdade de Meteorologia-UFPA, Rua Augusto Corrêa, 01 – Guamá, CEP: 66075-110, Belém-PA, Ivan Fiuza de Mello, Aluno de Graduação de Meteorologia, Faculdade de Meteorologia-UFPA, Rua Augusto Corrêa, 01 – Guamá, CEP 66075-110, Belém-PA, Quêzia Leandro Moura, Bióloga, Aluna de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, PPGCA- UFPA, CEP: 66075-110, Rua Augusto Corrêa 01 – Guamá, Belém-PA, Renata Sena Viana, Aluna de Graduação de Meteorologia, Faculdade de Meteorologia-UFPA, Rua Augusto Corrêa 01 – Guamá, CEP 66075-110, Belém-PA Abstract: This study is a proposal for a scientific contribution to the understanding of the interrelationships between population density of microorganisms in soil associated to microclimatic variability in seasonal rainforest, also considering a case study of extreme event. Populations of microorganisms were studied for their distribution and density, using the Pour Plate "plate count of" Petri "following the methodology proposed by De-Polli & Guerra (1999). This study was conducted in two experimental areas PPBio (area of dense natural forest) and ESECAFLOR (area of one acre covered to simulate drought) in Caxiuanã-PA, with continuous measurements of microclimatic variables thermal, humid and rainfall in addition to assessment of patterns of spatial and temporal distribution on the abundance and species richness, to establish a monitoring system micro soil fauna associated with climate variability in the national forest Caxiuanã. Microbiological analysis showed that the experimental areas are predominantly Oxisol and observed that fungi developed better in the dry and rainy season in bacteria and their populations decrease with depth, except in a changed environment. Correlations of seasonal variations between populations of fungi and bacteria and varying temperature and soil moisture, settled satisfactorily for any season. 1- Introdução A compreensão da microclimatologia associada à biomassa microbiana do solo é essencial para o entendimento de variações quantitativas nas populações de microorganismos em escala sazonal e de grande importância para o estabelecimento de espécies e manutenção da microfauna de solo no ecossistema. Fungos e bactérias controlam muitos processos vitais de reciclagem de nutrientes em ecossistemas florestais: contudo, pouco se sabe a respeito da forma como essas espécies de microorganismos vivos respondem às variações climáticas locais, como também são poucos os conhecimentos dos padrões de variabilidade espacial do microclima dentro de floresta primária tropical. Portanto, devem-se levar em conta para estudo, características e condições microclimáticas do solo, especialmente a variabilidade sazonal do perfil de temperatura em vários níveis, fluxo de calor no solo e a disponibilidade de água no solo, dentre outras. Este trabalho tem como objetivo estudar as interações entre o microclima e as populações microbianas de solo sob diferentes condições ambientais, em floresta tropical primaria natural, sendo um deles sob condições normais (PPBio) e o outro sob condição simulada de estresse hídrico (ESECAFLOR). Dessa forma, pretende-se com este estudo avaliar as relações de dependência entre crescimento ou diminuição de populações de microorganismos de solo, associada a componente micrometeorológica, considerando períodos chuvosos, secos e de transição com o intuito de contribuir com estudos sobre este complexo relacionamento entre microrganismos e variações microclimáticas. 2- Material e Métodos As medições de variáveis microclimáticas e amostragens de solo foram feitas em dois sítios experimentais, o primeiro em um local denominado parcela “B” do projeto ESECAFLOR. O segundo sítio está localizado na parte central da FLONA abrangendo a grade do Programa (PPBio). Os dados de temperatura foram coletados nas profundidades 5 cm, 10 cm, 20 cm e 30 cm, conteúdo volumétrico de água do solo e fluxo de calor no solo entre 0-30 cm, além de medidas de temperatura do ar a 30 cm acima da superfície do solo. Estes dados foram coletados simultaneamente nos dois sítios experimentais por sensores eletrônicos e armazenados em datalogger a intervalos de 30 minutos. As amostragens de solo foram feitas em três pontos aleatórios ao redor da área onde estavam sendo medidas as variáveis climáticas em cada sítio experimental. Em cada ponto de amostragem foram coletadas quatro amostras de solo referentes às profundidades em que estavam sendo medidas as temperaturas de solo, somando, portanto, doze amostras de solo em cada sítio experimental além de uma amostragem com trado a 30 cm de profundidade para cada época distinta do ano. O método utilizado para determinação de densidade de populações de microorganismos de solo está baseado na técnica “Pour Plate” de contagem em placas de “Petri”, seguida de identificação através de análise micromorfológica, com as profundidades estabelecidas (5, 10, 20 e 30 cm), utilizando os meios de cultura Agar Padrão (para bactérias) e Agar Batata acidificado (para fungos) através de metodologia tradicional utilizada no Laboratório de Microbiologia da Universidade do Estado do Pará - UEPA, com a identificação das colônias de microorganismos por microscópio óptico eletrônico de varredura, seguindo a metodologia proposta por De-Polli & Guerra (1999). 3- Resultados e Discussão 3.1. Perfil Fúngico e Bacteriano As análises microbiológicas mostraram que populações de fungos diminuem com a profundidade em qualquer época do ano e em ambos os sítios experimentais. Todavia, é no período seco (3) que se observa a maior proliferação deste tipo microbiano. As amostragens de solo feitas a 5 cm de profundidade para os dois sítios, nas épocas seca (3) e chuvosa (1), mostraram que as populações de fungos têm maior crescimento no sítio do PPBio (área natural), e este padrão se inverte na época de transição (2), onde se observa maior crescimento no sítio do ESECAFLOR (Figura 2). Substâncias ricas em celulose estimulam principalmente o crescimento de fungos, onde se deduz que na época de transição em ambiente controlado, com sombreamento e baixa disponibilidade hídrica, há mais possibilidade de formação de material rico em celulose que constitui matéria básica para decomposição de fungos (Pequeno et al., 2002). 5 cm 10 cm 20 cm 30 cm 140 UFC/g de Solo 120 100 80 60 40 20 0 FE1 FP1 FE2 FP2 FE3 FP3 Perfil fúngico sazonal Figura 2- Variação sazonal da população fúngica para ESECAFLOR (FE) e PPBio (FP), as indicações 1, 2 e 3 correspondem às épocas chuvosa, transição e seca respectivamente. A variação da população bacteriana (Figura 3), mostra que para o sítio do PPBio a medida que aumenta a profundidade, a população diminui em qualquer época do ano. Todavia, para o sítio do ESECAFLOR esta relação não se estabelece plenamente, mostrando baixa correlação entre esses dois parâmetros. Este fato permite inferir que em ambiente natural a maioria das bactérias existentes é do tipo aeróbico, isto é, se proliferam melhor em ambiente onde há maior disponibilidade de oxigênio no solo e em ambiente alterado o desenvolvimento de bactérias anaeróbicas é maior e tendem a migrar para níveis mais profundos onde há mais umidade no solo modificando, portanto, este comportamento, como pode ser observado na Figura 3 (período seco) em que há mais colônias de bactérias nos dois últimos níveis que no nível de 10 cm. O maior crescimento populacional bacteriano é observado na época chuvosa em ambos os sítios. Condições ideais de temperatura, umidade e natureza do material em decomposição, favorecem a formação de material rico em proteína (material básico para o desenvolvimento de bactérias), induzindo a dominância deste tipo microbiano. 5 cm 10 cm 20 cm 30 cm 140 UFC/g de Solo 120 100 80 60 40 20 0 BE1 BP1 BE2 BP2 BE3 BP3 Perfil bacteriano sazonal Figura 3- Variação sazonal da população Bacteriana para ESECAFLOR (BE) e PPBio (BP). 3.2 Relação de dependência com variáveis meteorológicas Analisando o solo do sítio ESECAFLOR, para o período das chuvas, constatouse que em 5 cm de profundidade, com temperatura de 26,44°C, encontram-se 41,7% de UFC de fungos e 28,5% de UFC de bactérias: em 10 cm, com amplitude térmica de ±0,06°C, a diferença na UFC de fungos cai 8,4% e de bactérias 4,4%: em 20cm, com amplitude térmica de ±0,04°C, a diferença na UFC de fungos cai em 26,2% e de bactérias cai em 1,4%: em 30 cm com amplitude térmica de ±0,04°C, a UFC de fungos cai 29,8% e de bactérias cai em 8,2%. Para o período seco encontrou-se em 5 cm da superfície, com temperatura de 27,65°C, 43,52% de UFC de fungos e 48,18% de UFC de bactérias: em 10 cm, com amplitude de ±0,07°C, a redução nas UFC de fungos é de 19,5% e de bactérias é de 27,8%: em 20 cm, com amplitude térmica de ±0,08°C na UFC de fungos, ocorreu uma redução de 22,9% e nas bactérias de 23,4%: em 30 cm, com amplitude térmica de ±0,09°C, a queda nas UFC de fungos foi de 31,8% e nas bactérias a queda foi de 23,6%. Esta diferença de percentuais de UFC de fungos e bactérias é em relação a somatória das UFC, com isso constata-se que existem mais UFC de fungos na superfície do que em pontos mais profundos do solo e que durante o período das chuvas, as bactérias são mais abundantes do que os fungos, por apresentarem UFC variáveis e não decrescentes, como as UFC de fungos, mostrando que as bactérias distribuem-se de modo mais freqüente em todas as partes e direções e que os fungos mantém sua população concentrada na superfície. Para o sítio PPBio, onde as medições são feitas em ambiente natural, as relações de dependência de populações de fungos e bactérias com variações de temperatura no solo se estabeleceram plenamente para qualquer época do ano, evidenciando que em ambiente natural, a variável temperatura influencia diretamente no crescimento ou diminuição de populações destes microorganismo de solo. A análise do solo do sítio do PPBio para o período das chuvas, mostrou que em 5 cm de profundidade com temperatura de 25,61°C, concentram-se 48,4% de UFC de fungos e 36,7% de UFC de bactérias: em 10 cm, com amplitude térmica de ±0,02°C, a diferença na UFC de fungos cai 20,4% e de bactérias cai 4,9%: em 20 cm, com amplitude térmica de ±0,03°C, a diferença na UFC de fungos cai em 29,7% e de bactérias cai em 13,2%; jáem 30cm com amplitude térmica de ±0,08°C, a UFC de fungos cai 43,5% e de bactérias cai em 28,8%. Para o período seco encontrou-se em 5 cm da superfície, com temperatura de 26,18°C, 67,98% de UFC de fungos e 46% de UFC de bactérias; em 10 cm, com amplitude de ±0,06°C, a redução nas UFC de fungos é de 39,6% e de bactérias é de 28,57%: em 20 cm, com amplitude térmica de ±0,17°C na UFC de fungos ocorreu uma redução de 50,4% e nas bactérias de 30,14%: em 30 cm, com amplitude térmica de ±0,38°C, a queda nas UFC de fungos foi de 63% e nas bactérias a queda foi de 34,3%. 4- Conclusões O padrão de distribuição de populações de fungos diminui com a profundidade em ambos os sítios experimentais em qualquer época do ano. Populações de bactérias apresentam este padrão apenas no sítio natural (PPBio) e no sítio com exclusão de água (ESECAFLOR) este comportamento é irregular. Com relação à distribuição quantitativa de UFC de fungos e bactérias com a sazonalidade em latossolo amarelo, pode-se observar que populações de fungos desenvolveram-se melhor em época seca e bactérias em época chuvosa. A ausência de incidência de radiação solar direta sobre o solo em ambos os sítios para qualquer época do ano, reflete em pequenas variações da temperatura com a profundidade do solo: contudo, percebe-se boa correlação entre temperatura do solo em determinada profundidade e variações quantitativas nas populações de fungos e bactérias na mesma profundidade. Todavia, populações de bactérias apresentaram a melhor relação de dependência com a variável temperatura para diferentes profundidades. As temperaturas médias registradas no sítio PPBio foram, em média, 0,84°C menor que as do sítio ESECAFLOR: porém, a variação da temperatura com a profundidade do solo tem o mesmo padrão de comportamento, ou seja, para pequenas variações na temperatura percebe-se variação equivalente nas populações de fungos e bactérias. 5- Agradecimentos Os participantes deste projeto agradecem ao MCT/CNPq/Universal que financiaram este projeto, ao programa PPBio e projeto ESECAFLOR/LBA e a todos os colegas que participaram da instalação e coleta de dados no campo. 6- Referências Bibliográficas CAMPBELL, G. S.; NORMAN, J. M. An Introduction to Environmental Physics. Springer, N. York, 286 p., 1998. DE-POLLI, HELVÉCIO; GUERRA, J. G. M. C, N e P na Biomassa Microbiana do Solo. Porto Alegre, RS. 508p. p. 389-411. 1999. PEQUENO, P. L. L. et al. Aspectos sobre a matéria orgânica do solo. Artigos 2002. Disponível em: http://www.arvore.com.br/artigos/htm_2002/ar2308_2.htm. RUIVO, M. L. P. et al. Propriedades do solo e fluxo de CO2 em Caxiuanã, Pará: experimento LBA- Esecaflor. In: KLEIN, E.L.; VASQUEZ, M.L.; ROSA-COSTA, M.L. (Orgs.) Contribuições à Geologia da Amazônia, V.3. SBG-Núcleo Norte, 2002, p. 291-299. RUIVO, M. L. P. et al. População e diversidade microbiana em solos do sítio arqueológico Ilha de Terra, Caxiuanã. Caxiuanã: Desafios para a conservação de uma floresta nacional na Amazônia. Belém: MPEG, 2009, p. 153-161. WARDLE, D. A.; HUNGRIA, M. A biomassa microbiana do solo e sua importância nos ecossistemas terrestres. In: Microorganismos de importância agrícola. Brasília: EMBRAPA, 1994, 226p.