Abordagem terapêutica para o tratamento da Hipertensão Arterial

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Abordagem terapêutica para o tratamento da
Hipertensão Arterial Sistêmica
Mariana de Oliveira Almeida1
Flávia Lúcia Abreu Rabelo 2
Claudmeire Dias Carneiro de Almeida3
Fabiana de Almeida4
Júlia Maria Moreira Santos5
Renata Viana Abre6
RESUMO
A hipertensão arterial sistêmica ocupa uma posição de destaque como problema de
saúde pública no Brasil e no mundo pela sua alta prevalência e por ser um dos fatores de
risco mais importantes para morbidade e mortalidade relacionadas a doenças
cardiovasculares. A adoção de um estilo de vida saudável e o controle dos níveis
pressóricos por meio do tratamento medicamentoso são estratégias eficazes no combate
à hipertensão. Nesse contexto, o trabalho aborda uma revisão teórica das principais
classes de anti-hipertensivos disponíveis para uso clínico, bem como as associações
consideradas sinérgicas quando mais de um fármaco é necessário para o tratamento.
PALAVRAS-CHAVE: Hipertensão arterial sistêmica; Tratamento; Anti-hipertensivos
ABSTRACT
The systemic arterial hypertension occupies a prominent position as a public health
problem in Brazil and around the world for its high prevalence and for being one of the
most important risk factors for morbidity and mortality related to cardiovascular
disease. Adopting a healthy lifestyle and control of blood pressure levels through drug
treatment strategies are effective in combating hypertension. In this context, a
theoretical paper addresses the major classes of antihypertensive drugs available for
clinical use, as well as synergistic combinations being considered when more than one
drug is needed for therapy.
KEYWORDS: Systemic arterial hypertension: Tratament; Antihypertensive
1 - Mestre em Ciências Farmacêuticas (UFMG)
Docente da Nova Faculdade, Contagem, MG, Brasil
[email protected]
2 - Doutora em Bioquimica (UFMG)
Docente da Nova Faculdade, Contagem, MG, Brasil
Docente da Faculdade Pitágoras, Betim, MG, Brasil
3 - Mestre em Microbiologia (UFMG)
Docente da Nova Faculdade, Contagem, MG, Brasil
Docente da Faculdade Pitágoras, Belo Horizonte, MG, Brasil
4 - Mestre em Ciências Farmacêuticas (UFMG)
Docente da Nova Faculdade, Contagem, MG, Brasil
5 – Doutora em Farmacologia (UFMG)
Docente da Nova Faculdade, Contagem, MG, Brasil
Docente das Faculdades Unidas do Norte de Minas, Montes Claros, Minas Gerais
6 – Doutora em Ciências de Alimentos (UFMG)
Docente da Nova Faculdade, Contagem, MG, Brasil
1 INTRODUÇÃO
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é considerada a doença cardiovascular
(DCV) mais comum e desempenha um papel etiológico importante no desenvolvimento
de acidentes vasculares encefálicos, ataques isquêmicos, encefalopatias, infartos agudos
do miocárdio, insuficiências cardíacas, aneurismas, insuficiências renais e até mesmo na
ocorrência de mortes súbitas. O tratamento correto da HAS foi associado com a redução
de 35-40% da incidência de acidente vascular encefálico e de 16% da incidência de
infarto do miocárdio. Embora o tratamento farmacológico e o não-farmacológico
diminuam, significativamente, as taxas de morbidade e de mortalidade, estima-se que,
aproximadamente, 3/4 dos indivíduos hipertensos não controlam de maneira adequada
os níveis da pressão arterial (WHO, 2003, 2007).
A mortalidade por DCV aumenta progressivamente com a elevação da pressão
arterial de forma linear, contínua e independente. Em 2008, ocorreram no mundo,
aproximadamente, 17 milhões de mortes devido às DCV e a projeção da Organização
Mundial de Saúde (OMS) é que esse número suba para 25 milhões em 2030. No Brasil,
as DCV são as principais causas de morte, somente em 2007 ocorreram 308.466 óbitos
por doenças do aparelho circulatório, sendo que 29,4% destes óbitos foram ocasionadas
por DCV (fig. 1) (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2010; WHO,
2012).
Figura 1 - Taxas de mortalidade por DCV e suas diferentes causas no Brasil, em 2007.
(AVE: acidente vascular encefálico; DIC: doença isquêmica do coração).
____________________________
Fonte: SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2010
A HAS é uma doença crônica considerada um problema grave de saúde pública
no Brasil e no mundo. A OMS estima que 13% de todas as mortes do mundo decorrem
do aumento da pressão arterial. Considerando o critério atual de diagnóstico (Pressão
arterial ≥ 140/90 mmHg), a prevalência na população brasileira com idade superior a 24
anos em 2008 foi de 39,4% para mulheres e de 26,6% para homens (WHO, 2012).
2 HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
A HAS pode ser definida como uma condição clínica multifatorial caracterizada
por níveis elevados e sustentados de pressão arterial. É possível estabelecer uma causa
específica para a hipertensão em apenas 10-15% dos portadores, aqueles em que não se
pode identificar a causa específica são considerados portadores de hipertensão essencial
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2010).
A pressão arterial é o produto do débito cardíaco pela resistência vascular
periférica. Por isso, em indivíduos normais e hipertensos, a pressão arterial é mantida
pela regulação contínua do débito cardíaco e da resistência vascular periférica. Esta
regulação ocorre nas arteríolas, vênulas pós-capilares, coração e rins (regula o volume
do líquido intravascular). Os barorreceptores, mediados por nervos autônomos, atuam
em combinação com mecanismos humorais, incluindo o sistema renina-angiotensina,
para coordenar os quatros locais anatômicos de regulação da pressão arterial. Na
maioria dos casos, a elevação da pressão está associada a um aumento global da
resistência ao fluxo sanguíneo, enquanto o débito cardíaco está habitualmente normal
(KATZUNG, 2005).
A classificação da HAS para adultos com mais de 18 anos de acordo com a VI
Diretrizes Brasileiras de Hipertensão e com o Ministério da Saúde é apresentada na
Tabela 1.1. Para avaliar os limites de pressão arterial normal para crianças e
adolescentes com até 17 anos, é necessário utilizar tabelas especiais que levam em
consideração a idade e a altura. Vale ressaltar que quando as pressões sistólica e
diastólica encontram-se em categorias diferentes, a sistólica deve ser utilizada para a
classificação da pressão arterial (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA,
2010).
Tabela 1.1 - Classificação da pressão arterial em adultos.
Classificação
Pressão
Sistólica (mmHg)
Pressão
Diastólica (mmHg)
Ótima
<120
<80
Normal
<130
<85
Pré-hipertensão
130-139
85-89
Hipertensão estágio 1
140-159
90-99
Hipertensão estágio 2
160-179
100-109
Hipertensão estágio 3
≥180
≥110
Hipertensão sistólica
isolada
≥140
<90
____________________________
Fonte: adaptado da SOCIEDADE BRASILEIRA de CARDIOLOGIA, 2010
3 TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
O principal objetivo do tratamento da HAS é a redução da morbidade e da
mortalidade ocasionadas por doenças cardiovasculares. A decisão do tratamento
adequado e eficiente para a HAS deve ser baseada no nível da pressão arterial e,
também, no risco cardiovascular, que considera a presença de fatores de risco, lesão em
órgãos alvo e a presença de outra doença cardiovascular. Basicamente, há duas
abordagens terapêuticas para a HAS: o tratamento não-farmacológico, que é baseado em
modificações do estilo de vida, e o tratamento medicamentoso (BRASIL, 2006).
A adoção de hábitos de vida saudáveis é parte fundamental da prevenção e do
tratamento de pacientes com HAS, por isso o tratamento não-farmacológico é muito
importante. As principais estratégias para esse tratamento são: controle de peso, adoção
de hábitos alimentares saudáveis, redução do consumo de sal, redução do consumo de
bebidas alcoólicas, abandono do tabagismo, prática de atividade física regular, dentre
outras (THE SEVENTH..., 2004, EUROPEAN SOCIETY OF CARDIOLOGY, 2013).
Os fármacos anti-hipertensivos exercem sua ação terapêutica por meio de
mecanismos distintos que interferem na fisiopatologia da HAS. As classes de antihipertensivos disponíveis para uso clínico são (BRUNTON et al., 2006):
 diuréticos;
 agentes simpaticolíticos;
 vasodilatadores;
 bloqueadores dos canais de cálcio;
 inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA);
 bloqueadores do receptor AT1 da angiotensina II;
 inibidor da renina.
Qualquer fármaco dos grupos de anti-hipertensivos pode ser utilizado para o
tratamento da hipertensão arterial, desde que resguardadas as indicações e contraindicações específicas. A monoterapia, geralmente, é a estratégia inicial para pacientes
com HAS estágio 1 e com risco cardiovascular baixo a moderado. Dependendo da
resposta do paciente à terapêutica, quase sempre é necessária a adoção de terapias
combinadas, envolvendo dois ou mais agente anti-hipertensivos com diferentes
mecanismos de ação. Estudos recentes mostraram que em cerca de dois terços dos
casos, a monoterapia não foi suficiente para reduzir a pressão arterial para valores
normais, por isso, a terapia combinada de anti-hipertensivos como primeira medida
medicamentosa está sendo adotada, principalmente, para pacientes com hipertensão
estágios 2 e 3 e para aqueles com hipertensão arterial estágio 1 que apresentam risco
cardiovascular alto. A terapia combinada de anti-hipertensivos pode ser feita por meio
de medicamentos separados ou por associações em dose fixa combinada (WHO, 2007;
ALBERTO, et al., 2009).
3.1 Diuréticos
O mecanismo de ação anti-hipertensiva dos diuréticos se relaciona inicialmente
aos seus efeitos diuréticos e natriuréticos, que ocasiona uma diminuição do volume
extracelular. Posteriormente, após cerca de quatro a seis semanas, o volume extracelular
retorna ao normal e há redução da resistência vascular periférica. Os diuréticos de alça,
os tiazídicos e os poupadores de potássio são os mais comumente utilizados na prática
clínica e exercem seu efeito farmacológico atuando em diferentes partes do néfron
(PIMENTA, 2008).
Os diuréticos de alça inibem seletivamente a reabsorção de NaCl no ramo
ascendente espesso na alça de Henle, são considerados diuréticos de alta potência e a
furosemida é o principal fármaco dessa classe, sendo indicada na Relação Nacional dos
Medicamentos Essenciais (RENAME). Os tiazídicos inibem o transporte de NaCl
predominantemente no túbulo contorcido distal, são considerados diuréticos de baixa
potência e a hidroclorotiazida é o principal fármaco dessa classe, sendo também
indicada na RENAME. Os poupadores de potássio bloqueiam os efeitos da aldosterona
no túbulo distal terminal e no túbulo coletor cortical, a espirolactona atua antagonizando
os receptores de mineralocorticoides e a amilorida atua inibindo o fluxo de Na+ através
dos canais iônicos. As principais reações adversas relacionadas aos diuréticos são
hipopotassemia, hipomagnesemia, hiperuricemia, intolerância à glicose e aumento de
triglicérides (KATZUNG, 2005; SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA,
2010; BRASIL, 2012).
3.2 Agentes simpaticolíticos
3.2.1 Ação central
Os principais agentes simpaticolíticos de ação central disponíveis para uso
clínico são a clonidina e a α-metildopa. A clonidina atua estimulando os receptores αadrenérgicos pré-sinápticos localizados no tronco encefálico, o que resulta na
diminuição da descarga simpática, seu efeito hipotensor é baixo, entretanto a associação
com outros fármacos anti-hipertensivos pode ser eficaz, principalmente quando é
observada uma hiperatividade simpática. A α-metildopa é um pró-fármaco análogo da
DOPA que se converte nos metabólitos responsáveis pela ação farmacológica dentro
das vesículas sinápticas. Esses metabólitos são a α-metilnoradrenalina e αmetildopamina que também atuam ativando os receptores α-adrenérgicos pré-sinápticos.
Devido a sua segurança, a α-metildopa é o agente de escolha para o tratatamento da
HAS em gestantes, sendo indicada na RENAME. As principais reações adversas
relacionadas aos agentes de ação central são sonolência, sedação, boca seca, fadiga,
hipotensão postural e disfunção sexual (TIBIRIÇA & LESSA, 2005; BRUNTON et al.,
2006; BRASIL, 2012).
3.2.2 Betabloqueadores
Os betabloqueadores disponíveis para uso clínico pode ser seletivos para β1 ou
podem ser não seletivos. O mecanismo de ação anti-hipertensiva dessa classe envolve
diminuição inicial do débito cardíaco, redução da secreção de renina, readaptação dos
barorreceptores e diminuição das catecolaminas nas sinapses nervosas. São eficazes
para o tratamento da HAS, sendo frequentemente associados a um fármaco bloqueador
de canais de cálcio. Na RENAME, estão indicados os seguintes betabloqueadores:
propranolol, atenolol, metropolol e carvedilol. Vale destacar que o carvedilol também é
capaz de bloquear os receptores α1-adrenérgicos, o que lhe confere uma ação
vasodilatadora (KATZUNG, 2005; BRASIL, 2010; BRASIL, 2012).
A suspensão brusca dos betabloqueadores pode provocar hiperatividade
simpática, com hipertensão rebote e/ou manifestações de isquêmia miocárdica,
sobretudo em hipertensos com pressão arterial previa muito elevada. As principais
reações adversas relacionadas a essa classe são broncoespasmo, bradicardia, distúrbios
da condução atrioventricular, vasoconstrição periférica, insônia, pesadelos, depressão
psíquica,
astenia
e
CARDIOLOGIA, 2010).
3.2.3 Alfabloqueadores
disfunção
sexual
(SOCIEDADE
BRASILEIRA
DE
Os alfabloqueadores apresentam efeito hipotensor discreto, não sendo indicado
como classe de primeira escolha para o tratamento da HAS. Além disso, a associação
com fármacos de outras classes farmacológicas não é recomendada. Por esses motivos,
o uso clínico dos alfabloqueadores é pequeno e não há descrito nenhum fármaco na
RENAME (MIRANDA et al., 2007; BRASIL, 2012; SOCIEDADE BRASILEIRA DE
CARDIOLOGIA, 2010).
3.3 Vasodilatadores
Os vasodilatadores relaxam a musculatura lisa das arteríolas, ocasionando a
diminuição da resistência vascular periférica. Há disponíveis para uso clínico
vasodilatadores orais (hidralazina e minoxidil) e parenterais (nitroprussiato, diazóxido e
fenoldopam) que são utilizados para o tratamento de emergências hipertensivas. As
principais reações adversas relacionadas a essa classe são retenção hídrica e taquicardia
reflexa, o que contraindica seu uso como monoterapia. A associação com fármacos de
outras classes é recomendada somente em caso de hipertensão arterial refretária, que
ocorre quando a pressão arterial permanece acima da meta mesmo com o uso de três
classes de fármacos. Por esses motivos, o uso clínico dos vasodilatadores é pequeno e
não há descrito nenhum fármaco na RENAME (BRUNTON et al., 2006; GELEILETE
et al., 2007; BRASIL, 2012).
3.4 Bloqueadores dos canais de cálcio
Os bloqueadores dos canais de cálcio atuam inibindo fluxo de cálcio extracelular
para o meio intracelular dos músculos cardíacos e liso, o que diminui a concentração
intracelular de cácio e provoca a redução da resistência vascular periférica. Apesar do
mecanismo final comum, esse grupo é dividido em três subgrupos, com características
químicas e farmacológicas diferentes: fenilalquilaminas, benzotiazepinas e dihidropiridinas. O principal fármaco do subgrupo das fenilaquilaminas é o verapamil,
que foi o primeiro bloqueador de canal de cálcio utilizado na clínica. O verapamil é
indicado RENAME. O principal fármaco do subgrupo das benzotiazepinas é o
diltiazem. O nifedipino é protótipo do subgrupo das di-hidropiridinas, que é o subgrupo
com o maior número de fármacos disponíveis para uso clínico. As di-hidropiridinas
indicadas na RENAME são o anlodipino e o nifedipino (KATZUNG, 2005; BRASIL,
2012).
São anti-hipertensivos eficazes que reduzem a morbidade e a mortalidade
cardiovasculares. As principais reações adversas relacionadas a essa classe são em
tonteira, hipotensão, cefaleia, edema periférico e taquicardia. O verapamil e o diltiazem
podem também provocar depressão miocárdica e bloqueio atrioventricular (BRUNTON
et al., 2006; SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2010).
3.5 Inibidores da enzima conversora de angiotensina
Agem fundamentalmente pela inibição da enzima conversora da angiotensina
(ECA), bloqueando a transformação da angiotensina I em II no sangue e nos tecidos.
Como a angiotensina II é um potente vasoconstritor, provocam a redução da resistência
vascular periférica. Os inibidores da ECA são eficazes no tratamento da HAS,
reduzindo a morbidade e a mortalidade cardiovasculares nos hipertensos. Além disso,
também são utilizados para prevenir a nefropatia em pacientes com Diabetes Mellitus.
Os fármacos disponíveis na RENAME são o captopril e o enalapril (MURUSSI et al.; et
al., 2006; BRASIL, 2012).
As principais reações adversas relacionadas a essa classe são tosse seca,
alteração do paladar e, mais raramente, reações de hipersensibilidade como erupção
cutânea e edema angioneurótico. Seu uso é contraindicado na gravidez pelo risco de
complicações fetais. Dessa forma, seu emprego deve ser cauteloso e frequentemente
monitorado em adolescentes e mulheres em idade fértil (SOCIEDADE BRASILEIRA
DE CARDIOLOGIA, 2010).
3.6 Bloqueadores do receptor AT1 da angiotensina II
Atuam bloqueando seletivamente os receptores AT1 de angiotensina II. Por isso,
assim como os inibidores da ECA, também reduzem a resistência vascular periférica.
São eficazes no tratamento da HAS e propiciam uma redução da morbidade e da
mortalidade cardiovasculares especialmente em populações de alto risco cardiovascular.
A losartan é fármaco dessa classe indicado pela RENAME (KATZUNG,2005;
BRASIL, 2012).
Os bloqueadores dos receptores de AT1 da angiotensina II são bem tolerados. Ao
contrário dos inibidores da ECA, eles não causam tosse, e a incidência de edema
angioneurótico é bem menor que aquela observada com os inibidores da ECA. Também
apresentam potencial teratogênico, logo seu emprego deve ser cauteloso e
frequentemente monitorado em adolescentes e mulheres em idade fértil (BRUNTON et
al., 2006).
3.7 Inibidores da renina
Os inibidores da renina representam a mais nova classe de anti-hipertensivos
introduzida como parte do arsenal terapêutico. Atuam inibindo a renina, pois se ligam a
essa enzima bloqueando a conversão de angiotensinogênio em angiotensina I.
Consequentemente, reduzem os níveis de angiotensina II e promovem a redução da
resistência vascular periférica. O único representante dessa classe é o fármaco
alisquireno que não é indicado pela RENAME. Estudos de eficácia anti-hipertensiva
comprovaram que o alisquireno em monoterapia provoca uma redução da pressão
arterial semelhante a dos demais anti-hipertensivos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
CARDIOLOGIA, 2010).
O alisquireno é bem tolerado, podendo causar rash cutânea, diarreia e tosse.
Também é contraindicado na gravidez e não deve ser utilizado associado a inibidores da
ECA ou a bloqueadores dos receptores de AT1 da angiotensina II em pacientes com
diabetes (PW, 2013).
4
ASSOCIAÇÃO
DE
FÁRMACOS
PARA
O
TRATAMENTO
DA
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
A monoterapia no tratamento da HAS é eficiente para apenas um terço dos
hipertensos. Por isso, a associação de diferentes fármacos é muito importante para o
tratamento correto dessa doença. Para a efetividade do tratamento, são associados
fármacos de diferentes classes terapêuticas para que ocorra um sinergismo de suas ações
farmacológicas, o que ocasiona uma redução maior dos níveis da pressão arterial.
Quando é necessário mais de um fármaco para tratar a HAS, a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA) e a OMS recomendam o uso de formulações de dose
fixa combinada porque diminui os erros de prescrição, simplifica o tratamento e
melhora a adesão do paciente (WHO, 2007; BRASIL, 2010). Na fig. 2, estão
representadas as associações de fármacos consideradas sinérgicas e não sinérgicas para
o tratamento da HAS.
Figura 2 – Associações de fármacos utilizadas no tratamento
da HAS consideradas sinérgicas e não sinérgicas.
____________________________
Fonte: BRASIL, 2010
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tratamento correto da hipertensão arterial sistêmica é a principal ferramenta
para prevenir a morbidade e mortalidade ocasionadas por doenças cardiovasculares. Por
isso, os tratamentos não-farmacológicos e farmacológicos são de suma importância.
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