1154 ADESÃO AO TRATAMENTO ANTIRRETROVIRAL DE PESSOAS COM HIV/AIDS HIV/AIDS PEOPLE ADHERENCE TO THE ANTIRETROVIRAL TREATMENT Elcio Francisco de Oliveira Enfermeiro. Graduado pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – Unileste. [email protected] Maione Silva Louzada Paes Enfermeira. Especialista em Saúde do Trabalhador. Mestranda em Enfermagem pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Docente do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – Unileste. [email protected] RESUMO O tratamento da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) depende da adesão do paciente aos antirretrovirais, o uso correto desses medicamentos proporcionará ao paciente redução da replicação do vírus em seu organismo, melhora no quadro de saúde e consequentemente contribuirá para a qualidade de vida. A pesquisa objetivou conhecer a situação de adesão ao tratamento antirretroviral entre as pessoas com HIV/AIDS que frequentam o Grupo de Apoio ao Soropositivo (GASP), localizado na cidade Ipatinga - Minas Gerais. Trata-se de uma pesquisa quantitativa, descritiva realizada com 24 pessoas portadoras de HIV/AIDS que frequentam as reuniões de convivência do GASP. Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um questionário aplicado nos meses de novembro e dezembro de 2012. Os resultados demonstraram uma baixa escolaridade e baixo nível socioeconômico entre os participantes. Em relação a adesão, a maioria dos participantes afirmou que possui adesão, porém percebe-se que algumas fatores interferem no uso contínuo dos antirretrovirais. Entre as condições e motivos que interferem na adesão ao tratamento, destacam-se falta de apoio familiar, efeitos colaterais das drogas, consumo de bebidas alcoólicas, impossibilidade de armazenamento adequado da medicação, estresse e depressão. PALAVRAS CHAVE: Síndrome de Imunodeficiência Adquirida. Adesão à medicação. Cooperação do paciente. ABSTRACT The effective treatment of Acquired Immunodeficiency Syndrome (AIDS) depends on the patient's adherence to the antiretroviral medicine. The correct use of these drugs provides the patient virus reduction replication, health improvements, and consequently contributes to their life quality. This research aimed to understand the situation of adherence to the antiretroviral therapy among people carrying HIV/AIDS attending the Support Group HIV positive (GASP) in Ipatinga - Minas Gerais. This is a descriptive and quantitative research conducted by 24 positive HIV/AIDS individuals attending GASP meetings. As an instrument for data collection a questionnaire was used within the months of November and December 2012. The results showed low education and socioeconomic status among these participants. Most people declared being membership holders, however, it is clear that some factors interfere in the continued antiretroviral use. Among the conditions and reasons that influence adherence to the treatment, the main ones are: lack of family support, drug side effects, alcohol consumption, impossibility of proper medication storage, stress and depression. KEYWORDS: Acquired Immunodeficiency Syndrome. Medication adherence. Patient cooperation. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste, V. 6 - N. 2 - Nov./Dez. 2013 1155 INTRODUÇÃO A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) durante muitos anos foi considerada como sentença de morte às pessoas infectadas, devido à falta de informação da população e a ausência de fármacos para o tratamento dos portadores do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). A primeira droga aprovada para tratamento da AIDS foi a azidomitidina (AZT) que possui o potencial de reduzir a multiplicação do vírus no organismo humano. Posteriormente, o Ministério da Saúde (MS) implementou a Terapia Antirretroviral (TARV) para tratamento da AIDS, baseada num coquetel de medicamentos. Atualmente existem 21 drogas, mas a indicação da terapia é baseada nas necessidades e condição clínica do paciente (BRASIL, 1999, 2012). O Brasil foi o primeiro país entre os emergentes a fazer a distribuição gratuita desses medicamentos a todos os portadores do vírus HIV, dessa forma, a profilaxia de algumas doenças oportunistas, o desenvolvimento das drogas antirretrovirais (ARV) combinada com o uso de drogas mais potentes tem elevado a expectativa de vida dos portadores do vírus HIV, além de reduzir de forma considerável a morte e internação. Pacientes que aderem a um esquema eficaz da TARV reduzem em até 96% o risco de transmissão do HIV ao parceiro sexual (BRASIL, 2006, 2012). A TARV começou a ser distribuída no Brasil em 1991, sendo sancionada pela Lei n. 9313 de novembro de 1996 que tornou obrigatória a distribuição gratuita dos ARV pelo sistema público de saúde (BRASIL, 2006). Os ARV atuam diretamente no processo de entrada do vírus na célula e na sua replicação, fazendo com que a multiplicação do HIV seja reduzida diminuindo a quantidade de vírus no organismo, retardando o desenvolvimento da doença. Cada fármaco age em uma determinada etapa da reprodução do vírus, de modo a impedir a sua replicação nas células de defesa, as células CD4, evitando assim que ele se forme ou replique (BRASIL, 2008a). Desde que o diagnóstico não seja tardio, o tratamento AVR propicia uma melhoria na qualidade de vida do paciente, faz com que a infecção pelo HIV passe a ser vista como uma doença crônica, porém não letal. Todavia para garantir o sucesso da terapia é necessária a adesão total às recomendações, com constante orientação de um profissional de saúde (BRASIL, 2008a). Melchior (2000), conceitua adesão como o ato de aderir, e aderência tem se tornado o termo preferido, devido à sua implicação de uma colaboração entre o paciente e o profissional, sendo considerado como uma atividade conjunta, na qual, o paciente não apenas segue as orientações de saúde, mas compreende, e concorda com a prescrição estabelecida pelo profissional. Uma definição mais ampla e abrangente assinala que adesão transcende à simples ingestão de medicamentos, incluindo o fortalecimento da pessoa vivendo com HIV/AIDS, o estabelecimento de vínculo com a equipe de saúde, o acesso à informação, o acompanhamento clínico-laboratorial, a adequação aos hábitos e necessidades individuais e o compartilhamento das decisões relacionadas à própria saúde, inclusive para pessoas que ainda não fazem o tratamento com os ARV (BRASIL, 2007, 2008a). No entanto, a adesão ao tratamento antirretroviral ainda não tem atingido um patamar satisfatório entre os pacientes. Algumas situações interferem diretamente Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste, V. 6 - N. 2 - Nov./Dez. 2013 1156 como: a compreensão do paciente quanto a sua doença; a interação do HIV com seu sistema imunológico; o uso contínuo de medicamentos; o desconhecimento sobre exames e procedimentos para acompanhamento da terapia e as manifestações da doença no organismo (BRASIL, 2008b). Colombrini (2000) afirma que os efeitos adversos provocados pelos ARV também é um fator de interferência na adesão. Eles variam de acordo com cada paciente, sendo manifestados na pele, fígado, metabolismo e sistema gastrointestinal. Sendo que essas manifestações também foram citadas como efeitos dos ARV em estudos pelo MS (BRASIL, 2006, 2007). Melchior (2000) acrescenta que a TARV também tem sido associada ao aumento dos riscos de distúrbios cardíacos, quadros de acumulo de gordura em determinadas partes do corpo conhecida como lipodistrofia, resistência à insulina e diabetes mellitus, além de alterações do metabolismo ósseo. Tais alterações devem ser consideradas, visto que interferem não só na estrutura física como também no emocional dos pacientes e ameaçam o uso regular dos medicamentos. O número de fármacos envolvidos, os diferentes horários de ingestão e as restrições alimentares formam obstáculos a terapia, porém, a necessidade de disciplina no controle da prescrição é extremamente importante para seu êxito. Ressalta-se que no período de adaptação, cuidados especiais devem ser oferecidos aos pacientes que possuem outras doenças associadas, pois muitas vezes apresentam-se como um desafio para o tratamento (NEMES, 2000; TEIXEIRA et al., 2006). A não aderência ao tratamento ocorre tanto em países ricos quanto nos países mais pobres e vem sendo apontada como um fator que se relaciona ao paciente, porém, o contexto em que vive os profissionais de saúde que o assiste e o local onde é realizado o tratamento influencia diretamente na escolha entre realizar a terapia ou não (SANTOS, 2002). A baixa adesão traz como consequência a diminuição da eficácia dos medicamentos, o agravamento do quadro clinico do paciente, além da disseminação das cepas resistentes. É necessário que o profissional de saúde busque alternativas que permitam a introdução dos medicamentos na rotina do paciente, ajudando-o a compreender a sua importância, estimulando-o a superar as dificuldades encontradas (MELCHIOR, 2009). No processo de estímulo do paciente a adesão à TARV devem ser considerados os fatores facilitadores e dificultadores do paciente e o papel do profissional de saúde que deve procurar fortalecer a autonomia para o autocuidado. Ressalta-se que este processo é dinâmico, pois inclui aspectos físicos, psicológicos, sociais, culturais e comportamentais, no qual requer decisões compartilhadas e coresponsabilizadas entre a pessoa que vive com HIV, a equipe de saúde e a rede social (BRASIL, 2008a). É fundamental que os profissionais de saúde estejam preparados para identificar os principais fatores de risco para a não adesão e, assim, propor intervenções que efetivamente viabilizem a promoção da adesão do cliente ao tratamento proposto (COLOMBRINI; LOPES; FIGUEIREDO, 2006). Mediante isto, a pesquisa pretendeu investigar a situação de adesão ao tratamento antirretroviral entre as pessoas com HIV/AIDS que frequentam o Grupo de Apoio ao Soro Positivo (GASP). Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste, V. 6 - N. 2 - Nov./Dez. 2013 1157 A pesquisa torna-se relevante à medida que procura elucidar fatores que influenciam na adesão TARV. Não obstante, poderá contribuir na qualidade do conhecimento, proporcionando uma fonte de informação para os profissionais de saúde sobre esta problemática, o que de alguma forma poderá ajudar na assistência aos pacientes. Para os portadores de HIV/AIDS, espera-se que a pesquisa desperte reflexões sobre a necessidade e benefícios de um tratamento adequado. A pesquisa teve como objetivos: descrever o perfil socioeconômico dos portadores do vírus HIV/AIDS que frequentam o GASP; identificar do ponto de vista dos portadores do vírus HIV/AIDS que frequentam o GASP se há adesão à TARV, sendo o principal objetivo conhecer a situação de adesão à TARV entre as pessoas com HIV/AIDS que frequentam o GASP. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa descritiva com abordagem quantitativa, realizada com portadores do vírus HIV/AIDS que frequentam reuniões educativas de uma instituição de referência no apoio aos portadores de HIV/AIDS da Região Metropolitana do Vale do Aço (RMVA), localizada no município de Ipatinga, interior do estado de Minas Gerais, denominada GASP. Segundo informações da presidente da instituição, ela foi fundada em setembro de 1997 e tem como objetivo lutar pelos direitos das pessoas que vivem o vírus HIV/AIDS na região do Vale do Aço. Com um ano de fundação foi elevada a utilidade Pública Municipal em 08 de dezembro de 1998. O GASP é mantido por doações, eventos, convênios e trabalho voluntário. Suas atividades de rotina são palestras em escolas, empresas, clubes de serviço e igrejas; atendimento psicológico e jurídico para os portadores do HIV/AIDS e familiares; visitas domiciliares; acompanhamento hospitalar; distribuição de cestas básicas, preservativos e material informativo; realização de reuniões com os portadores de HIV para orientações, compartilhamento de experiências e socialização. Estas reuniões acontecem semanalmente nas dependências da instituição, onde são realizadas palestras que são ministradas por profissionais de saúde voluntários. Segundo informações da presidente da entidade, no ano de 2012, aproximadamente 600 pessoas foram atendidas pelo GASP, entre portadores de HIV/AIDS e familiares. No período de novembro a dezembro de 2012, definido como período de coleta de dados da pesquisa, aproximadamente 30 pessoas frequentavam as reuniões educativas. A amostra foi obtida por conveniência, totalizando em 24 participantes. Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um questionário elaborado pelo pesquisador. Previamente a coleta de dados obteve-se autorização do responsável pelo GASP, já as pessoas que aceitaram participar da pesquisa confirmaram sua adesão através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em duas vias de igual teor. Para tratamento dos dados foi utilizado como auxílio o software Microsoft Office Excel 2007, sendo os dados apresentados através de estatística descritiva. A discussão dos resultados foi feita à luz da literatura científica disponível sobre a temática. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste, V. 6 - N. 2 - Nov./Dez. 2013 1158 Durante os procedimentos da pesquisa procurou-se respeitar os padrões estabelecidos pela Resolução n. 466 de 12 dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde que trata das normas de pesquisa envolvendo seres humanos. Sendo assegurado aos pesquisados todos os direitos que lhes são garantidos pela ética em pesquisa, sendo sua participação voluntária e anônima (BRASIL, 2012). RESULTADOS E DISCUSSÃO A TAB. 1 demonstra as características socioeconômicas e demográficas dos participantes, segundo as variáveis: sexo, faixa etária, orientação sexual, cor da pele, estado civil e escolaridade. TABELA 1- Características socioeconômicas e demográficas dos participantes Ipatinga, MG, 2013 Variáveis Frequência Percentual Gênero Feminino 14 58% Masculino 10 42% Faixa etária 20 - 30 anos 31 - 40 anos 41 - 50 anos 51 - 60 anos 2 5 13 8% 21% 54% Orientação sexual Heterossexual Homossexual 4 21 3 17% 87% 13% Cor da pele declarada Parda Branca Negra 10 9 5 42% 37% 21% Estado Civil Solteiro Casado Viúvo Divorciado 15 5 3 1 62% 21% 13% 4% 13 1 2 1 2 3 1 1 55% 4% 8% 4% 8% 13% 4% 4% Escolaridade a a 1 a 4 série incompleta do Ensino Fund. a 4 série completa do Ensino Fund. a a 5 a 8 série incompleta Ensino fundamental completo Ensino médio incompleto Ensino médio completo Educação superior incompleto Educação superior completo FONTE: Dados da pesquisa Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste, V. 6 - N. 2 - Nov./Dez. 2013 1159 Predominaram entre os participantes o sexo feminino com 14 (58%); a faixa etária de 41 a 50 anos que foi representada por 13 (54%); orientação sexual heterossexual com 21 (87%); cor da pele auto-declarada com predominância da cor parda, sendo 10 (42%) seguido da cor branca 9 (37%); estado civil solteiro correspondendo a 15(62%) participantes e escolaridade de 1ª a 4ª serie incompletos do antigo ensino fundamental representado por 13 (55%) participantes. Em relação ao sexo, percebe-se na pesquisa predominância entre as mulheres, corroborando com os dados do Plano Integrado de Enfrentamento da Feminização da epidemia de AIDS e outras DST que revela ao longo dos anos aumento significativo de mulheres portadoras de HIV/AIDS no Brasil. Em 1986 a proporção era de 15 homens para cada mulher, já em 2002 a proporção passou de 15 homens para 10 mulheres. Esta mudança ocorre em detrimento da dominação masculina, onde muitas mulheres mesmo sabendo que seu companheiro tem múltiplos parceiros são coagidas a manter relações sexuais sem utilização de preservativo (BRASIL, 2008a). Na faixa etária e o tipo de orientação sexual predominantes na pesquisa percebe-se um alinhamento com a estatística nacional do ano de 2010 demonstrada no boletim epidemiológico da AIDS onde observa-se predominância da faixa etária de 40 a 49 anos, e maior exposição dos heterossexuais (BRASIL, 2010). Em relação a cor da pele auto-declarada observou-se predominância da cor parda, seguida da cor branca, diferindo dos resultados de âmbito nacional onde observa-se uma predominância da cor branca, seguida da cor negra. Em relação ao estado civil, os dados encontrados condizem com a tendência nacional, sendo o solteiro o mais predominante (BRASIL, 2010). Sobre a escolaridade, os dados também vão de encontro às estatísticas do boletim epidemiológico, onde o maior numero de pessoas portadoras do vírus HIV/AIDS são aquelas com menor índice de escolaridade (BRASIL, 2010). TABELA 2 – Características socioeconômicas dos participantes. Ipatinga, MG, 2013. Variáveis Freqüência Percentual Desenvolve atividade remunerada Não 18 75% Sim 6 25% Participação na vida econômica da família Não trabalho e meus gastos são custeados Trabalho, e sou financeiramente independente Trabalho, e sou responsável pelo sustento da família Sou aposentado e /ou afastado do trabalho 4 3 2 15 17% 13% 8% 62% Modalidade de atividade trabalhista Autônomo 6 25% Renda mensal Bolsa família até R$ 100,00 R$ 101,00 a R$ 200,00 R$ 201,00 a R$ 300,00 R$ 301,00 a R$ 560,00 R$ 561,00 a R$ 1.000,00 1 0 0 3 12 4 4% 0% 0% 13% 50% 17% Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste, V. 6 - N. 2 - Nov./Dez. 2013 1160 > R$ 1.000,00 Sem renda Cidade residente Ipatinga Coronel Fabriciano Modalidade de residência Casa ou apartamento próprio Casa ou apartamento alugado Casa ou apartamento de familiares FONTE: Dados da pesquisa OBS.: Salário mínimo vigente no período R$560,00 1 3 4% 12% 19 5 79% 21% 17 6 1 71% 25% 4% Os dados socioeconômicos revelam que 18 (75%) participantes não desenvolvem atividade remunerada; 15 (62%) são aposentados ou afastados; 6 (25%) são autônomos; 12 (50%) possuem uma renda mensal de R$301,00 a R$ 560,00; 19 (79%) residem em Ipatinga e 17 (71%) habitam em casa ou apartamento próprio. Os resultados demonstram uma condição socioeconômica que vai de encontro com um estudo realizado por Garrido et al. (2007) na cidade de São Paulo, onde encontrou-se entre os participantes uma maioria de portadores do HIV afastados ou aposentados, seguido daqueles que trabalhavam como autônomos. Os autores afirmam que o estigma e o preconceito que norteia esta doença contribui para esta realidade, pois o mercado de trabalho ainda não é inclusivo para estas pessoas. Segundo Nemes et al. (2009) a renda familiar esta diretamente relacionada ao nível de escolaridade, quanto maior o grau de instrução, maiores serão as possibilidades de um salário satisfatório. Na TAB. 3 pode-se visualizar a caracterização dos participantes quanto a utilização da terapia antirretroviral. TABELA 3 - Caracterização dos participantes quanto a utilização da terapia antirretroviral segundo auto relato. Ipatinga, MG, 2013. Variáveis Frequência Percentual Você faz tratamento com antirretrovirais? Sim 24 100% Não 0 0% Quantas vezes você faz uso dos antirretrovirais por dia? 1 vez por dia 2 8% 2 vezes por dia 20 84% 3 vezes por dia 2 8% 4 vezes por dia 0 0% Outros 0 0% Você consome estes medicamentos exatamente de acordo com a prescrição médica? Sim 21 87% Não 3 13% Você considera que faz adesão ao tratamento? Sim 15 62% Não 9 38% FONTE: Dados da pesquisa Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste, V. 6 - N. 2 - Nov./Dez. 2013 1161 Observa-se, que todos os participantes utilizam a TARV; 20 (84%) fazem o uso duas vezes ao dia; 21 (87%) participantes consideram que utilizam a medicação conforme prescrição médica; porém somente 15 (62%) consideram que possuem adesão à terapia. A TARV é prescrita de acordo com cada caso e condição clínica do paciente. É prescrita para pacientes sintomáticos e pacientes assintomáticos que apresentam imunodeficiência acentuada identificada na contagem de linfócitos T-CD4+ < de 200/mm3. No Brasil atualmente existem quatro classes de AVR mais potentes, menos tóxicos e posologia confortável que permitem a prescrição de apenas uma ou duas doses diárias (BRASIL, 2008b). Analisar a aderência a medicamentos, em especial AVR é uma atividade complexa, que pode envolver diferentes métodos. A pesquisa considerou adesão na perspectiva do auto-relato do participante. Percebeu-se que embora muitos afirmaram que consomem o medicamento conforme prescrição médica, nem todos consideram que tem adesão ao tratamento. Isto denota uma possível autocrítica dos participantes se realmente atendem a todas as recomendações dos profissionais da saúde. De acordo com o MS, para que haja uma boa adesão ao tratamento o próprio paciente além de compreender os benefícios da terapia para sua saúde, deve entender que seguir as orientações dos profissionais de saúde implicará na melhor qualidade do tratamento e isto inclui consumir os medicamentos na dose e horários corretos, manter boa alimentação, praticar exercícios físicos, comparecer ao serviço de saúde nos dias previstos e realizar os exames prescritos (BRASIL, 2013). A TAB. 4 demonstra a caracterização dos participantes quanto o acesso ao serviço de saúde. TABELA 4 - Caracterização dos participantes quanto o acesso ao serviço de saúde para retirada da medicação. Ipatinga, MG, 2013. Variáveis Frequência Percentual Você busca seu medicamento mensalmente na Unidade de Saúde? Sim 24 100% Não 0 0% Você se sente a vontade para ir a Unidade de saúde buscar seu remédio? Sim 16 67% Não 8 33% Você já deixou de pegar seu medicamento por algum motivo? Não 19 79% Sim 5 21% Qual o meio de transporte que você utiliza para buscar seu medicamento? Transporte coletivo (ônibus) 21 88% Bicicleta 2 8% Transporte da prefeitura (ambulância) 1 4% Carona 0 0% Próprio (carro/moto) 0 0% FONTE: Dados da pesquisa Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste, V. 6 - N. 2 - Nov./Dez. 2013 1162 Observa-se, que todos os participantes buscam seus medicamentos AVR na Unidade de Saúde; 16 (67%) se sentem a vontade para este procedimento; 5 (21%) absteram-se de buscar o medicamento por algum motivo e 21 (88%) utilizam o transporte coletivo para se deslocarem até a unidade de saúde. Alguns estudos confirmam que fatores socioeconômicos e sociodemograficos como baixa renda, menos de oito anos de estudo e residência distante dos grandes centros urbanos interferem diretamente na acessibilidade dos pacientes à medicação, e consequentemente na adesão ao tratamento (GONÇALVES et al., 1999; MEHTA; MOORE; GRAHAM, 1997; NEMES, 2009; SOARES, 2001). No que se refere ao predomínio do transporte coletivo utilizado pelos participantes, ressalta-se que provavelmente isto ocorre devido a gratuidade do mesmo a pessoas portadoras do vírus HIV/AIDS no município de Ipatinga, regulamentado pelo Decreto Municipal nº 7.055 de 13 de julho de 2011. A Lei já previa este beneficio aos idosos com mais de 60 anos, pessoas com deficiências físicas, visuais, mentais, auditivas ou múltiplas, bem como paciente portador de câncer em tratamento, sendo acrescentado esse beneficio as pessoas que vivem com o HIV/AIDS (FERREIRA, 2011). Na TAB. 5 é possível observar a caracterização dos participantes quanto aos efeitos colaterais oriundos da TARV. TABELA 5 - Caracterização dos participantes quanto aos efeitos colaterais oriundos da terapia antirretroviral. Ipatinga, MG, 2013. Variáveis Freqüência Percentual Você apresentou efeito colateral com seus medicamentos? Náuseas 6 25% Cefaléia 3 13% Diarréia 2 8% Pesadelos 2 8% Lipodistrofia 2 8% Outros 9 38% Estes efeitos duraram quanto tempo? 1 mês 2 meses 3 meses mais de 3 meses FONTE: Dados da pesquisa 4 3 2 15 17% 13% 8% 62% Observou-se que o efeito colateral mais vivenciado foi de náuseas, correspondendo a 6 (25%) participantes; onde também pode se observar que para 15 (62%) participantes os efeitos colaterais tiveram uma duração superior a 3 meses. Resultados semelhantes foram encontrados no trabalho realizado por Lignani Júnior, Greco e Carneiro (2001), que identificaram predomínio de efeito colateral no sistema gastrointestinal, com prevalência de vômitos e náuseas. De acordo com o MS, os efeitos adversos mais comuns ocasionados pelos AVR são náuseas, pesadelos e lipodistrofia. Em relação ao tempo de duração dos Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste, V. 6 - N. 2 - Nov./Dez. 2013 1163 efeitos colaterais é previsto no mínimo três meses dependendo do paciente (BRASIL, 2008b). Os medicamentos disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em sua maioria são fabricados no Brasil, na modalidade de genéricos, o que contribui para um menor custo para o governo, porém são drogas que apresentam possibilidade de propiciar mais efeitos colaterais. Existem medicamentos com efeitos colaterais e dosagens menores para tratamento da AIDS, porém são de alto custo o que torna inviável sua distribuição pelo SUS (BRASIL, 2008b). A TAB. 6 revela a opinião dos participantes quanto aos motivos que interferem no tratamento. TABELA 6 - Opinião dos participantes quanto aos motivos que interferem no tratamento. Ipatinga, MG, 2013 Variáveis Freqüência Percentual Motivos que dificultam o tratamento Nenhum motivo 7 24% Falta de apoio familiar 2 7% Medo dos efeitos colaterais 2 7% Uso de bebidas alcoólicas 2 7% Distante de sua residência 2 7% Falta de apoio do(a) companheiro(a) 1 3% Medo de alguém descobrir que sou portador ou HIV positivo 1 3% Uso de drogas 1 3% Não acredito no efeito e nos benéficos do medicamento 0 0% Outros 4 14% Não responderam 7 24% FONTE: dados da pesquisa. Nota-se uma variedade de respostas dos participantes quanto aos motivos que interferem no tratamento. Entre os motivos, destaca-se a falta de apoio familiar, medo dos efeitos colaterais, uso de bebidas alcoólicas e distância de sua residência. Estes motivos são reconhecidos pelo MS que ressalta que o preconceito familiar contribui para a não adesão dos pacientes ao uso de AVR, uma vez que não querem revelar sua sorologia aos amigos e familiares por medo da discriminação. Os efeitos colaterais também são fatores que dificultam à adesão a TARV (BRASIL, 2007, 2008a).A pesquisa de Lignani Junior, Greco e Carneiro (2001) encontrou em seus resultados como principal agravante o efeito colateral dos medicamentos. Segundo o MS a crença que o uso de bebidas alcoólicas não deve ser utilizada junto com medicamentos fazem com que até as pessoas que tem adesão à TARV deixem de tomar a medicação nos dias festivos ou finais de semana. Dados de uma pesquisa nacional realizada com portadores de HIV/AIDS demonstrou que 51% dos participantes que fazem uso do álcool mesmo que socialmente deixam de tomar a medicação (BRASIL, 2007, 2008a). Já a questão da distância da residência alegada por dois participantes é relevante, porém deve-se ressaltar a existência de gratuidade do transporte publico urbano para portadores de doenças crônicas na cidade onde residem ambos. Os participantes foram questionados se em alguma ocasião não utilizaram a medicação, 15 (63%) responderam afirmativamente. Entre os motivos destacaramse impossibilidade do armazenamento dos medicamentos na geladeira, Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste, V. 6 - N. 2 - Nov./Dez. 2013 1164 representado por 4 (27%) respostas, e sintomas estresse e depressão que corresponderam a 3 respostas (20%). Segundo o MS, os principais motivos que as pessoas deixam de tomar os medicamentos são devido a quantidade de comprimidos, o medo de seus efeitos colaterais no qual destaca a lipodistrofia e o uso de bebidas alcoólicas. O estresse e a depressão geralmente são frutos do isolamento social que o paciente enfrenta, à medida que o medo do preconceito e não aceitação de familiares e amigos o faz se afastar das pessoas, e consequentemente os sintomas da doença torna-se um motivo para não utilizar a medicação (BRASIL, 2007). CONCLUSÃO A adesão ao tratamento tem grande importância para a melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV/AIDS e não se limita ao ato de tomar medicamentos prescritos ou seguir as orientações médicas, significa também o desejo de cuidar de sua saúde e bem estar. A pesquisa evidenciou que é primordial promover e fortalecer a participação mais ativa dos pacientes na dinâmica do tratamento. As estratégias de ação dos profissionais de saúde devem ter como objetivo sensibilizar estes pacientes sobre a importância de sua total adesão à terapia. No entanto, ressalta-se a necessidade do profissional compreender e considerar as dificuldades dos pacientes e juntamente com eles criar alternativas de enfrentamento e superação destes fatores limitadores. REFERÊNCIAS ADAMOVICZ L. C. et al. Busca ativa de possíveis portadores de HIV/AIDS em projeto extensionista e seu perfil . 9º CONEX. Encontro Conversando sobre Extensão Universitária.Ponta Grossa, Paraná. 2011. BRASIL. 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