A nova rampa para lançar empresas

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Âmbito: Economia, Negócios e.
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A nova rampa para
lançar empresas
start-ups
sectores tradicionais
e grandes empresas / Textos João Ramos / Fotos Lucília Monteiro
c A Farfetch, o primeiro unicórnio de origem portuguesa, já criou na região do Porto
perto de 700 empregos. Um número que
pode ser multiplicado nos próximos anos
se surgirem na Invicta mais unicórnios, ou
seja, start-ups avaliadas em mil milhões
de dólares. Esta é a expectativa da Câmara
Municipal do Porto e da UPTEC – Parque
de Ciência e Tecnologia da Universidade
do Porto, dois dos organismos públicos
da cidade que mais estão empenhados em
desenvolver o ecossistema de empreendedorismo da Invicta. Para o efeito foi lançada
a iniciativa ScaleUp Porto, que visa apoiar
as scale-ups, empresas tecnológicas que,
segundo a deftnição da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), têm mais de 10 colaboradores
e conseguem ao longo de três anos ter uma
média de crescimento anual de colaboradores (ou volume de negócios) superior a 20%.
“Queremos demonstrar que é possível criar em Portugal algumas empresas
de crescimento exponencial e que criam
emprego qualiftcado cuja competitividade
assenta no conhecimento”, defende Carlos Melo Brito, pró-reitor da Universidade
do Porto.
Uma estratégia que é concertada a nível europeu, uma vez que o Porto faz parte
da recém-criada rede europeia de cidades
ScaleUp. E acaba de lançar o Manifesto
ScaleUp do Porto (ver caixa). “Queremos
criar um modelo de empreendedorismo
adaptado à realidade europeia, e não tanto
replicar o modelo de Silicon Valley”, ex-
plica Filipe Araújo, vereador da Câmara
Municipal do Porto com os pelouros da
inovação e do ambiente. Através da rede
de contactos direcionados que esta rede
europeia de cidades ScaleUp vai proporcionar, o autarca espera que as tecnológicas portuenses possam acelerar a sua
internacionalização.
O ponto de partida é prometedor, uma
vez que, além do unicórnio português
fundado por José Neves, há na região do
Porto uma mão-cheia de tecnológicas com
grande potencial de crescimento. Algumas
são nomes conhecidos, como a Blip e a
Veniam. Outras scale-ups começam a dar
nas vistas, como a Jscrambler, InovRetail e
Mendira, que a EXAME apresenta nas pá-
As indústrias
tradicionais
na região do
Porto são uma
mais-valia para
a fixação de
tecnológicas
de comércio
eletrónico
ginas seguintes. “A escala é essencial para
criarmos os milhares de empregos qualiftcados que permitam ftxar na região os
nossos estudantes que formamos todos os
anos”, aftrma o pró-reitor da Universidade
do Porto. A meta de Carlos Melo Brito é que
a UPTEC se torne, até 2020, num parque
tecnológico de referência a nível mundial
e que sejam criadas 350 novas empresas e
cinco mil postos de trabalho qualiftcados.
Uma ambição fundamentada no facto
de a Universidade do Porto ser um estabelecimento de ensino com 32 mil alunos
que já contribui com 23% para a produção científtca nacional. Para transformar
o conhecimento em riqueza, Carlos Melo
Brito diz que estão a ser usados dois mecanismos: um consiste na venda de propriedade intelectual através do departamento
de patentes da Universidade e outro na incubação de start-ups na UPTEC. “Somos
provavelmente o maior parque de ciência
e tecnologia de base universitária do país”,
salienta.
Ligar start-ups a sectores tradicionais
Nesta altura, o ecossistema de empreendedorismo do Porto gira sobretudo em torno de dois polos. Um situa-se
na Baixa portuense, por ser o local onde
algumas das empresas em rápido crescimento preferem instalar-se. O outro
é a incubadora da UPTEC, que ftca no
Campus Universitário da Asprela, uma
zona que concentra os principais estabelecimentos de ensino superior
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A ESCADA PARA O CRESCIMENTO
Manifesto ScaleUp
quer via europeia
start
stand
scale-ups
,
Manifesto ScaleUp,
Manifesto ScaleUp
start-ups
Carlos Melo Brito O pró-reitor da Universidade do
Porto espera que até 2020 o seu polo tecnológico
(UPTEC) tenha criado 350 start-ups, que deem
origem a cinco mil postos de trabalho qualificados
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POTENCIAL DE INOVAÇÃO
Z (Universidade do Porto e Universidade Católica), os centros de investigação
(INESC-Porto, IPATIMUP - Instituto de
Patologia e Imunologia Molecular) e o
Hospital de São João.
Para tornar este ecossistema mais
conhecido a nível internacional, o município liderado por Rui Moreira tem em
marcha uma estratégia, em coordenação
com a UPTEC, que também visa atrair
grandes empresas nacionais e internacionais a instalarem na cidade centros de
competência e centros de serviços partilhados nearshore. “AUPTEC tem aplicado
com bons resultados o modelo que reúne
no mesmo espaço algumas grandes empresas – por exemplo, Vodafone, Sonae,
Amorim ou Efacec – e start-ups”, refere
Carlos Melo Brito. Em complemento, Filipe Araújo defende que algumas das start-ups tecnológicas também podem ajudar
campus
a promover o conceito Indústria 4.0 junto
das empresas industriais da região, nomeadamente em sectores tradicionais,
como o calçado ou o têxtil. “A existência
deste tecido industrial na região também
pode ser uma mais-valia para a ftxação
de tecnológicas que atuam no comércio
eletrónico do têxtil ou calçado. Assim,
estão perto dos seus fornecedores”, defende o autarca. Também importante para
o ecossistema de empreendedorismo da
região é o papel do CEIIA - Centro para a
Excelência e Inovação na Indústria Automóvel e o trabalho de investigação que
tem sido feito na área do armazenamento de energia (baterias), que, na opinião
de Filipe Araújo, pode dar origem a uma
nova indústria de futuro.
Para que os empreendedores tenham
mais hipóteses de transformar as suas scale-ups em projetos de sucesso, a UPTEC
e o município querem organizar iniciativas de formação que lhes proporcionem
competências de gestão. “Haverá um esforço coordenado que vai envolver a Porto
Business School, a Agência de Inovação,
a Universidade do Porto e o Instituto Politécnico”, revela o vereador. A Câmara
Municipal do Porto também está a dar o
seu contributo ao nível da modernização
da infraestrutura tecnológica. “Temos um
operador, através da Associação Porto Digital, que gere toda a ftbra ótica da cidade
e está a suportar a rede de Hi-Fi, as áreas
analíticas de dados e a sala de operações
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que reúne a PSP, bombeiros e proteção
civil e ambiente”, defende Filipe Araújo.
Qualidade de recursos
humanos é vantagem
Questionado sobre as vantagens que o
Porto pode oferecer a uma start-up ou a
uma scale-up nacional ou estrangeira que
pretenda instalar-se na cidade, o vereador
destaca a “qualidade dos recursos humanos formados no eixo Porto/Braga” e “a
qualidade de vida”.
Em termos de bloqueios, Filipe Araújo admite que no futuro poderá haver
escassez de recursos humanos qualiftcados para trabalharem em algumas áreas.
“Temos que atrair mais portugueses e estrangeiros para virem trabalhar e estudar
nesta cidade”, defende.
Sobre a disponibilidade de edifícios na
cidade que permitam responder ao previsível aumento da procura, Filipe Araújo
admite que tem faltado dinamismo ao
mercado de escritórios. Para antecipar
esta eventual escassez de espaços para as
scale-ups e start-ups se instalarem, o município, através da APOR - Agência para
a Modernização do Porto, vai recuperar
quatro mil metros quadrados de um antigo edifício dos CTT no centro da cidade.
Porém, o vereador aftrma que o objetivo
da Câmara do Porto não é substituir-se ao
papel dos privados no sector imobiliário
e refere que também já há algumas empresas nacionais e estrangeiras a investir
em espaços de escritórios e de coworking
na Invicta.
A melhoria das condições para ftxar
start-ups não invalida que empresas como
a Farfetch ou a Veniam, por questões legais
e de mercado, acabem por criar as suas
sedes em Londres ou em Silicon Valley. “O
mais importante é que criem empregos
qualiftcados na região do Porto”, defende o
vereador, salientando que a Farfetch criou
perto de 700 empregos e a Veniam tem o
seu centro de investigação e desenvolvimento (I&D) no Porto, dando emprego a
perto de 40 engenheiros. Diftcilmente as
empresas conseguem escalar com sede em
Portugal. “Quando uma empresa levanta
20 milhões de euros junto de investidores internacionais, temos de valorizar o
facto de grande parte desse dinheiro ser
investido em centros de I&D em Portugal”,
defende Filipe Araújo.
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NEGOCIAR
X MINDERA
Aplicações
para o mundo
software
Fundadores
Trabalhadores
Mercados
VIA ZEN
PARA CRIAR
SOFTWARE
c Fazer um intervalo na absorvente tarefa
de criar aplicações de software e aproveitar
para jogar pingue-pongue ou matrecos, ou
simplesmente para preparar uma refeição
na cozinha. Estaremos a falar do campus
de uma tecnológica de Silicon Valley? Não,
isto acontece na Mindera, uma scale-up especializada no desenvolvimento de software sediada no centro do Porto, que faz
questão ter uma cultura de bem-estar para
os seus trabalhadores pouco comum em
Portugal. Sem chefes controladores, esta
tecnológica dá liberdade aos seus engenheiros para gerirem não só o seu espaço
como o tempo de trabalho. E também os
encoraja a terem uma intervenção social.
Esta aparente ausência de hierarquia e
o regime de autorresponsabilização “não
afeta a produtividade e até estimula a criatividade dos programadores”, garante José
Fonseca, presidente executivo da Mindera.
“É importante proporcionarmos um espaço onde os nossos engenheiros gostem de
trabalhar todos os dias”, sublinha o empreendedor. Esta forma de organização,
que privilegia o conforto e o respeito pelos
seus colaboradores, já tinha sido posta em
na cidade do Porto por José Fonseca e que
foi vendida em 2010 à multinacional Betfair. “Num trabalho criativo como o desenvolvimento de software é importante que
os trabalhadores se sintam bem”, reforça
Paul Evans, cofundador da Mindera, um
londrino que se diz apaixonado pelo Porto
e que tece rasgados elogios à qualidade dos
engenheiros informáticos portugueses.
Os resultados estão à vista. Fundada
em 2011, a Mindera passou rapidamente de
uma start-up para uma scale-up emblemática da Invicta. Atualmente conta com perto
de 150 colaboradores, conseguindo entregar as aplicações de software aos clientes
(maioritariamente do Reino Unido) “com
qualidade e dentro do prazo. Construímos
relações de parceria com os nossos clientes
e fornecedores”, diz José Fonseca.
A empresa especializou-se no desenvolvimento de software para várias plataformas que tira partido das chamadas
metodologias ágeis (agile software), que
permitem encurtar signiftcativamente o
tempo de programação face aos métodos
tradicionais de criar software. “O agile software também ajuda a criar maior
proximidade com o cliente, porque os reJosé Fonseca.
Z
prática pela Blip, outra empresa fundada
sultados surgem mais depressa”, defende
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Segurança Web
SURFAR NA
INTERNET
SEM MEDO
c A linguagem de programação JavaScript
é uma ilustre desconhecida da esmagadora
maioria de utilizadores da Internet, embora seja muito popular entre os programadores de aplicações Web de todo o mundo.
Como foi criada nos EUA no longínquo ano
de 1995, tem algumas vulnerabilidades em
termos de segurança. Um defeito original
que é a razão da existência e do sucesso da
Jscambler. Hoje esta start-up, hospedada
no UPTEC, já presta serviços a 25 mil utilizadores de 145 países e tem como grandes
clientes algumas grandes multinacionais
da lista Fortune 500, como, por exemplo,
Samsung, Bandai Namco ou Splunk. “Já
protegemos até à data 540 milhões de linhas de código JavaScript”, salienta Pedro
Fortuna, cofundador da empresa.
Curiosamente, a Jscrambler não era o
projeto inicial de negócio de Pedro Fortuna
e Rui Ribeiro, o outro fundador. Este dois
empreendedores, ambos com 38 anos,
começaram por criar, em 2009, a AuditMark, vocacionada para fazer a gestão de
campanhas de marketing online. Como
usavam a linguagem Javascript para criar
as suas aplicações, aperceberam-se de que
havia grandes vulnerabilidades a nível da
dade de criar ferramentas tecnológicas
como antídoto.“Apercebemo-nos de que
não era apenas um problema nosso, mas
um problema do mercado mundial”, refere Rui Ribeiro. A prestação de serviços de
segurança informática (na nuvem ou nos
servidores do cliente) passou, assim, a ser
o principal foco da Jscrambler (o antigo
nome, AuditMarket, caiu). “Há cada vez
mais aplicações em equipamentos móveis,
PC ou Smart TV que precisam de segurança para não defraudarem os utilizadores”,
salienta Pedro Fortuna.
Após um investimento da Portugal
Ventures em 2010, a empresa começou a
vender desde o momento zero e cresceu
rápido. “A maior parte do nosso mercado
é internacional. As primeiras vendas foram
para Israel e Irão, mas agora os Estados
Unidos são o nosso maior mercado”, refere
Rui Ribeiro. Hoje tem 24 pessoas, a maioria
engenheiros a trabalhar na sede do Porto.
Entretanto abriu escritórios em Lisboa e
São Francisco. Apesar de o investimento da
Portugal Ventures não ter sido todo gasto,
a aceleração do crescimento dos próximos
anos irá implicar uma nova ronda de investimento de capitais de risco internacionais,
segurança. É então que surge a necessi-
que já está em fase de negociação.
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