ca-0471.pdf 1 de 3 http://www.medicinacomplementar.com.br/convertido/ca-0471.htm As células cancerosas de várias origens são muito semelhantes entre si, se assemelham às células embrionárias e possuem em comum mecanismos arcaicos de proliferação celular novembro/2009 José de Felippe Junior “Se a Medicina Convencional não surtiu os efeitos desejados temos o direito e o disponíveis “ Declaração de Helsinki dever como médicos de utilizar todos recursos “Sonhamos com o dia que o Templo do Conhecimento onde ensinam Medicina não formará apenas simples repetidores de informações, mas verdadeiros médicos que aprenderam os fundamentos do livre pensar” JFJ “A verdadeira causa das doenças e a MEDICINA ainda não fizeram as pazes. É porque a MEDICINA ainda é muito jovem. E o que dizer dos tratamentos” JFJ “As enfermidades são muito antigas e nada a respeito delas mudou. Somos nós que mudamos ao aprender a reconhecer nelas o que antes não percebíamos” Charcot Jesse Greenstein em1947, foi o primeiro a alertar sobre a semelhança química entre as células cancerosas de várias origens: “à medida que as células cancerosas tornam-se mais malignas elas ficam cada vez mais diferentes do tecido que a originou e se aproximam de um tipo comum, parecido com o tecido embrionário”. Vários autores compararam as células cancerosas entre si e verificaram entre elas semelhanças morfológicas (Graham-1972), semelhante aumento da glicólise (Warburg-1930), similar aumento de ácido lático com queda da glicose (Cori-1925), semelhante atividade enzimática (Greenstein-1956) e acúmulo dos mesmos aminoácidos (Roberts e Frankel-1949), pH intracelular alcalino (Johnson e Epel-1976, Yamagata-1996), o mesmo padrão do tempo de relaxamento T1 e T2 na ressonância nuclear magnética (Damadian-1971, Ling e Tucker-1980) entre muitas outras semelhanças. O primeiro trabalho da literatura que implicou o pH citoplasmático na mitose foi escrito por Johnson e Epel em 1976: “O pH intracelular do embrião do ouriço do mar aumenta 0.3 unidades de pH entre 1 e 4 minutos após a fertilização. O aumento do pH é requerido para o desenvolvimento inicial do tecido embrionário. Este aumento resulta da troca de Na+ extracelular por H+ intracelular”. O mesmo acontece nas células cancerosas. O início da proliferação celular por indução da mitose quase sempre é precedido pela alcalinização do citoplasma usualmente desencadeada pela estimulação dos canais de Na+ / H+ (Tannock -1989). Vários autores verificaram que o pH na zona alcalina ou melhor a alcalose metabólica intracelular é elemento chave na indução e na manutenção do processo neoplásico (Harguindey-1995 , Perona-1988 , Reshkin-2000). Comparando o tecido neoplásico de uma grande variedade de tumores de camundongo com o tecido normal correspondente, quanto aos padrões de aminoácidos livres detectados por cromatografia bidimensional, descobriu-se que cada tecido normal possui um padrão de aminoácidos característico daquele tecido, enquanto todos os tumores não importando a origem mostram padrões de aminoácidos semelhantes (Roberts e Frankel-1949). Segundo Greenstein “Não importa como ou de onde o tumor surge, eles mais se assemelham um ao outro quimicamente entre si do que os próprios tecidos normais se assemelham entre eles” e acresce “a uniformidade entre os tumores pode ser adequadamente descrita como uma perda ou diminuição de funções especializadas características das células normais e que se assemelha muito ao tecido embrionário que deu origem às células normais” (Greenstein-1956). Todas as células dos mamíferos possuem um determinado genoma. As células normais apresentam na sua composição diferentes tipos de proteínas, dependendo do tecido que pertencem e de acordo com as suas funções. A diferença bioquímica entre as células normais entre si ocorre após a completa diferenciação celular e depende da função que elas desempenham, isto é, nas diferenças de transcrição e translação do genoma de cada tecido ou órgão. Na hipótese acima o autor sugere a convergência para trás das células cancerosas para um padrão de transcrição e translação do genoma original, isto é, aquele existente na fase embrionária. Como o produto final da transcrição e translação são as proteínas celulares Ling e Murphi em 1986 dosaram a concentração de uma grande variedade de proteínas em vários tipos diferentes de neoplasias altamente malignas do rato. Frisamos que esta alta malignidade significa que as células cancerosas estão no que se chama de “desvio máximo” e quando transplantadas crescem em cerca de 1 semana (Potter-1961). Foram estudados 15 tipos diferentes de câncer: leucemia linfocítica, sarcoma pleomórfico de leucócitos induzido pelo DMBA, sarcoma de células reticulares, linfoma, adenocarcinoma mamário, carcinoma da região inguinal, linfosarcoma, fibrosarcoma, hepatoma, leucemia mielógena, sarcoma pleomórfico de leucócitos, leucemia linfóide, leucemia linfocítica, leucemia de mastócitos e adenocarcinoma mamário de Ehrlich e a conclusão foi: “todos esses 15 tipos de câncer de etiologias bem diferentes possuem essencialmente os mesmos tipos principais de proteínas”. Ao todo foram dosados 16 tipos de proteínas. Desta forma, quando as células cancerosas chegam ao estado de “desvio máximo” de malignidade as proteínas constituintes destas células se tornam muito semelhantes entre si significando que a carcinogênese está sendo comandada por um conjunto de genes comuns não ao tipo de células que deu origem ao câncer, mas, ligadas diretamente à proliferação celular mitótica. Seria como se existisse um conjunto de genes poderosos e adormecidos no genoma de todas as células normais que funcionariam como um mecanismo extra de sobrevivência. No momento que as células normais são agredidas (agentes químicos, físicos ou biológicos) e entram no que chamamos de “estado de quase morte” estes genes acordam e desencadeiam a proliferação celular redentora da vida. Sabe-se há muito tempo que os chamados oncogenes estão presentes na grande maioria das células cancerosas humanas e em células quimicamente transformadas e que eles existem na forma de proto-oncogenes em praticamente todas as células normais (Reddy-1982, Winberg-1982, Cooper-1982). Pode ser que seja este o conjunto de genes que desencadeiam a proliferação celular que permite a sobrevivência das células em profunda agressão, quando alcançam o “estado de quase morte”. Murray em 1981 mostrou que este conjunto de genes pode diferir quanto à seqüência de DNA nos vários tipos de tumores, entretanto a sua função permanece a mesma (Murray-1981) . Albert Szent-Gyorgiy observou que a célula é como um sítio de escavação arqueológico que mantém as conquistas antigas e usufrui 5/10/2011 09:57 ca-0471.pdf 2 de 3 http://www.medicinacomplementar.com.br/convertido/ca-0471.htm das conquistas mais recentes. Para Szent-Gyorgiy “A vida se constrói gradualmente e não rejeita o que construiu, mas constrói em cima. Conseqüentemente as células são comparáveis a sítios de escavação arqueológico onde podemos encontrar sucessivas camadas uma encima da outra, a mais velha na parte mais profunda. A mais antiga é a mais largamente espalhada na Natureza e mais firmemente ancorada”. Assim quando uma célula é intensamente agredida ela descarta o pesado mecanismo recentemente adquirido da fosforilação oxidativa mitocondrial e passa a operar com o seu mecanismo mais arcaico de produção de ATP, o ciclo de Embeden Meyerhof. Volta ao estado primitivo alfa de baixa produção de ATP e alta saturação onde reina o ambiente redutor propício à proliferação mitótica (Szent-Gyorgy-1966, 1971, 1972a, 1972b, 1973). Os proto-oncogenes funcionariam como um tipo de mecanismo potente e muito antigo, alojado no seu devido sítio arqueológico do genoma normal pronto a desencadear a proliferação celular mitótica que permite a sobrevivência das células ao chegar no “estado de quase morte”. Os proto-oncogenes passam para oncogenes em alguns tecidos perdendo apenas uma base do DNA (Reddy-1982). É muito importante a conclusão de pesquisadores de alto nível afirmando que a semelhança química de todos esses cânceres na fase de máxima malignidade mostra claramente que os genes que determinam as proteínas das células cancerosas são genes já pré-existentes do genoma da célula normal e não novos genes resultantes de mutação (Ling e Murphy-1986). De fato, já foi demonstrado que vários tipos de proteínas são comuns apenas no tecido canceroso e no tecido embrionário, mas não no tecido adulto, diferenciado. Entre elas estão as alfa-fetoproteínas (Abelev-1968), o antígeno carcino-embrionico - CEA (Gold e Feedman-1965), a ferritina carcinofetal (Alpert-1973), etc. o que está de acordo com a hipótese de regressão da célula cancerosa ao estado de transcrição e translação embrionário. Desta forma, estamos diante de uma reversão da célula diferenciada normal para uma célula com características embrionárias; a célula normal regrediu para o seu estado original, primitivo e se transformou em célula cancerosa, adaptada para proliferar e sobreviver, o que acontece quando a célula é fortemente agredida e entrou no “estado de quase morte”. A célula cancerosa melhor denominada como recém-formada ou neoplásica e muito parecida com a célula embrionária de origem possui as seguintes diferenças com as células normais do mesmo tecido: 1. os proto-oncogenes inativos das células normais passam para oncogenes ativos nas células neoplásicas (Reddy-1982, Winberg-1982, Cooper-1982); 2. o estado beta da fosforilação oxidativa de alta produção de ATP democrático das células normais passa para o estado alfa de metabolismo anaeróbio que produz ATP para o núcleo, ativando o ciclo celular mitótico (Szent-Gyorgy1966,1971,1972a,1972b,1973); 3. de ácido pirúvico passam a fabricar acido lático (Warburg- 1930,1956,1958 ; Cori-1925); 4. de água estruturada com baixo T1 e T2 na RNM passam para água desestruturada de alta mobilidade com elevado T1 e T2 (Damadian-1971-1973 , Hazlewood-1971); 5. de um padrão específico de proteínas que diferenciam as células normais entre si passam a ter proteínas comuns a todos os tipos de células cancerosas independentemente da etiologia e semelhantes às proteínas das células embrionárias (Roberts e Frankel-1949, Ling-Murphy-1986); 6. de alto conteúdo em oxidases (succínica, citocromo C e citocromo) passam para baixo conteúdo no tecido tumoral(Stote-1939, Schneider-1943); 7. de alto consumo de oxigênio passam para baixo consumo de oxigênio (Greenstein-1956); 8. de alto conteúdo enzimático (cistina desulfurase, esterase, timonuclease, fosfatase ácida, xantina dehidrogenase, catalase, arginase, citocromo oxidase) passam para baixo e uniforme conteúdo enzimático nas células neoplásicas (Greenstein-1956); 9. de alto conteúdo de osmolitos orgânicos passam para baixo conteúdo (Tossi-2000, Tugnoli-2003, Righi-2007); 10. de pH intracelular tendendo para ácido passam para pH alcalino (Harguindey-1995 , Perona-1988 , Reshkin-2000). 11. de baixa entropia e alto grau de ordem na célula normal passam para alta entropia e baixo grau de ordem-informação na célula cancerosa (Ilya Prigogine in-Soddi-Pallares-1998). Ao atingir o “estado de quase morte” e proliferação celular mitótica encontramos a presença de centenas de fatores (NF-kappaB, NFATs, VEGF, EGF, PDGF, etc.) que são ativados por uma gama enorme de vias de sinalização (STAT3, SAP/MAPK, JNK/MAPK, ERK/MAPK, p38/MAPK), ao lado da ativação de inúmeros “oncogenes” (c-fos, c-jun, c-myc, etc.). Todos esses eventos cursam em paralelo com a diminuição da apoptose, geração de neo-vasos e a diminuição da diferenciação celular e pertençam à fase final do processo de carcinogênese que é a proliferação celular para sobreviver (Felippe-maio-2009). Concluímos que as células cancerosas aparecem em um determinado momento da vida das pessoas como mecanismo de defesa para não morrerem devido às profundas agressões internas ou externas. Este mecanismo de defesa está no genoma de todas as células normais na forma de proto-oncogenes que rapidamente se transformam em oncogenes e desencadeiam a proliferação celular redentora da vida no momento que a célula normal agredida atingiu o “estado de quase morte”. Neste estado onde passou a funcionar um conjunto de genes específicos e pré existentes aptos para a mitose celular as células neoplásicas independentemente do tecido que a originou se assemelham entre si, porque esse conjunto de genes passam a fabricar os mesmos tipos de proteínas. Este estudo corrobora a hipótese da carcinogênese de Felippe Jr: “A inflamação crônica persistente evolui em meio hipotônico devido ao edema intersticial o que provoca leve “inchaço celular” e a conseqüente diminuição dos osmolitos cosmotropos citoplasmáticos os quais vagarosamente transformam a água B estruturada em água A desestruturada a qual gradativamente diminui o grau de ordem-informação do sistema termodinâmico celular que ao atingir o ponto máximo suportável de entropia provoca na célula um “estado de quase morte”. Neste ponto de baixa concentração de osmolitos, predomínio de água desestruturada e alta entropia celular as células se transformam e lutam para se manterem vivas e o único modo de sobreviverem é através da proliferação celular. Elas colocam em ação mecanismos milenares de sobrevivência, justamente aqueles que mantiveram as células normais vivas no Planeta durante a Evolução. Desta forma, ocorre ativação de fatores e vias de sinalização, alcalinização citoplasmática, predomínio do ciclo de Embden-Meyerhof, etc., os quais promovem a proliferação celular neoplásica, a diminuição da apoptose, a formação de novos vasos e o impedimento da diferenciação celular. O predomínio da água A no intracelular incrementa o aumento da hidratação e do volume celular provocado pela hipotonicidade do meio inflamatório. As estratégias que transformam a água A desestruturada em água B estruturada, hiperosmolalidade intersticial e osmolitos intracelulares, restauram a fisiologia e a bioenergética celular e as células neoplásicas se diferenciam em células normais e caminham para o processo fisiológico contínuo de morte celular programada (Felippefev-2008 e maio-2009). Deixar de aprender é omitir socorro e esperar por maiores evidências científicas para tratar é ser cientista e não médico e médicos que somos sempre lembraremos: “Primun non nocere” JFJ Referências bibliográficas 1. 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