FÓSFORO NO CRESCIMENTO E PRODUÇÃO

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VII Congresso Brasileiro do Algodão, Foz do Iguaçu, PR – 2009
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FÓSFORO NO CRESCIMENTO E PRODUÇÃO DO ALGODOEIRO EM CONDIÇÕES
CONTROLADAS
Marcos Antonio Camacho (UEMS – Unidade Universitária de Aquidauana/ [email protected]),
Fernando Geovannetti de Macedo (FCAV/UNESP – Programa de Pós-graduação em
Agronomia/Ciência do Solo), Jolimar Antonio Schiavo (UEMS – Unidade Universitária de Aquidauana)
RESUMO – A planta de algodoeiro é exigente em fertilidade do solo, sendo o fósforo um nutriente que
impulsiona grandes investimentos para adubação, especialmente em solos pobres deste nutriente,
como é o caso dos solos de Cerrado. Este trabalho teve por objetivo verificar a influencia de doses de
fósforo sobre a produção e a nutrição fosfatada do algodoeiro em condições controladas. O ensaio foi
desenvolvido em vasos aplicando diferentes doses de fósforo. Aos 50 d.a.e. as doses de fósforo
estudadas proporcionaram plantas com menor porte e maior número de nós. A produção de caroço e
de fibra foram alteradas, sendo estimada as doses de 0,979 e 0,976 g vaso -1, respectivamente, como
as mais adequadas. A variedade Delta Opal® não teve seu rendimento de fibras alterado em função do
aumento da quantidade de P2O5 aplicada. As produções mais elevadas foram correlacionados com
teores foliares de fósforo de 3 a 8 g kg -1.
Palavras-chave: Gossypium hirsutum, nutrição de plantas, macronutriente.
INTRODUÇÃO
O algodão, que é considerado a mais importante das fibras têxteis, naturais ou artificiais,
também é a planta de aproveitamento mais completo e que oferece os mais variados produtos de
utilidade (PASSOS, 1982). É um dos produtos de maior importância econômica do grupo das fibras,
pelo volume e valor da produção. Seu cultivo é também de grande importância social, pelo número de
empregos que gera direta ou indiretamente (RICHETTI; MELO FILHO, 2001).
Com o aumento do potencial produtivo de cultivares de algodão com frutificação precoce,
especialmente sob irrigação ou com regime de chuvas abundantes, a manutenção de maior fertilidade
do solo e do suprimento de nutrientes pode ser requerida de modo a acompanhar e a suprir a
necessidade de absorção dos nutrientes (SILVA, 2005).
A exigência nutricional de qualquer planta é determinada pela quantidade de nutrientes que ela
extrai durante o seu ciclo para a obtenção de produções econômicas. Para se fazer uma adubação
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equilibrada, entre outros parâmetros a ser considerados, é de fundamental importância conhecer a
extração total de nutrientes, a quantidade exportada (caroço) e o que fica nos restos de cultura e
retorna ao solo (STAUT; KURIHARA, 2001).
Considerando que o algodão em caroço, constituído de sementes e fibra, representa o único
produto a ser extraído da lavoura na operação de colheita, o algodoeiro poderia ser relacionado entre
as culturas pouco esgotantes do solo agrícola. Com efeito, a fibra, que compõe mais de um terço do
total exportado, é formada essencialmente de material celulósico. Acrescentando-se a ela constituintes
praticamente inertes da semente, como óleo e línter, pode-se chegar a quase metade do peso total do
algodão em caroço, que é pobre em nutrientes minerais. Em nosso meio, estima-se que com a colheita
de uma tonelada de produto somente abandonam o terreno via torta, casca de sementes e outros
resíduos, cerca de 21, 8 e 20 kg de N, P2O5 e K2O, respectivamente. Assim, para uma produção de 2 t
de algodão em caroço/ha, estariam sendo exportados próximos de 42, 16 e 40 kg ha -1 de N, P2O5 e
K2O. Uma adubação de 42, 60 e 60 kg ha-1 de N, P2O5 e K2O, como média praticada ultimamente no
Estado de São Paulo, estaria fornecendo nutrientes em doses mais do que adequadas, especialmente
em relação a fósforo e a potássio - 28 kg ha-1 de N + 40 kg ha-1 de P2O5 e 4 kg ha-1 de K2O (SILVA et
al., 1995).
Entretanto, as quantidades de P2O5 utilizadas na cultura são geralmente mais elevadas em
decorrência da alta capacidade de fixação de fosfatos nos solos, especialmente aqueles sob cerrado e
de uma maneira geral os solos argilosos (LOPES, 1984 citado por STAUT; KURIHARA, 2001)
resultando assim na baixa recuperação pela planta do fósforo aplicado ao solo.
Por se tratar de uma planta oleaginosa, o algodoeiro herbáceo afirma-se, teoricamente, como
exigente, no que se refere ao solo (GRIDI-PAPP et al., 1992 citado por MEDEIROS et al., 1999)
preferindo aqueles de textura média, profundos, ricos em matéria orgânica, permeáveis, bem drenados
e de boa fertilidade; no entanto, trata-se de uma cultura de larga adaptação, no que se refere às
condições edáficas, podendo ser cultivada em diversos tipos de solo de características físicas adversas
e menos férteis, desde que sejam efetuadas as devidas correções, de forma que passem a apresentar
características suficientes para atender às necessidades básicas ao seu pleno desenvolvimento
(GARCIA-LORCA; CARNERO ORTEGA, 1991; WADDLE, 1984; citados por MEDEIROS et al., 1999).
Porém, grande são as variáveis do algodoeiro quanto à necessidade de fósforo: clima, tipo de
solo, cultivar entre outros. Segundo Silva et al. (1995), a recomendação de fósforo em função da
análise de solo varia de 20 a 100 kg/ha, o que na prática esses valores já foram superados por
produtores do Estado que alcançam grandes produtividades.
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A regionalização das pesquisas busca compreender melhor as respostas das culturas em
relação as peculiaridades de cada região. O mesmo ocorre com a cultura do algodoeiro e suas
microregiões dentro do Estado, bem como, as regiões potencialmente agrícolas.
Este trabalho teve por objetivo verificar a influencia de doses de fósforo sobre a produção e a
nutrição fosfatada do algodoeiro em condições controladas.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido no município de Aquidauana (MS), na fazenda experimental da
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. O local tem clima do tipo Tropical, com precipitação
média anual de 1300 mm e temperatura média anual em torno de 25ºC e, altitude de 200 m. O tipo de
solo é classificado como Argissolo Vermelho-Amarelo distrófico, A moderado, textura média/argilosa.
O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado, com cinco repetições, sendo utilizados
vasos individuais com capacidade para 6 L cada, que foram preenchidos com amostras do solo citado
acima, recebendo 90 dias antes do plantio correção de calcário do tipo dolomítico para elevar a
saturação por bases à 60% conforme preconizado por Raij et al. (1996). Os tratamentos consistiram de
cinco doses de fósforo (0; 0,44; 0,88; 1,32 e 1,76 g vaso -1 de P2O5), aplicados por ocasião da
semeadura, equivalentes a 0, 40, 80, 120 e 160 kg.ha-1 para uma população de 90.000 plantas ha -1,
sendo utilizado como fonte de fósforo o Superfosfato Triplo. Os demais adubos utilizados na
semeadura e na cobertura (30 d.a.e.) seguiram o preconizado por Raij et al. (1996).
A variedade utilizada foi a Delta Opal, sendo semeadas cinco sementes por vaso no dia
12/08/2005, sendo que a emergência plena ocorreu decorridos seis dias. Aos 20 d.a.e. (dias após a
emergência) foi feito o desbaste deixando apenas uma planta por vaso. Para o controle de pragas e
doenças foram utilizados produtos preconizados por Algodão (2001). O controle de plantas daninhas foi
realizado pela coleta manual nos vasos.
Aos 50 d.a.e. foi realizada avaliação das plantas, sendo feita mensurações relativas a altura da
planta, número de nós por planta e estádio fenológico. A escala para estádio fenológico proposta neste
trabalho foi a de Marur e Ruano (2004), com a inclusão dos estádios M (M 1, M2, ..., Mn), sendo M o
representativo de maçã (fruto do algodoeiro), que aparece entre a fase de flor e a fase de capulho.
A amostragem para diagnose nutricional foi realizada através das folhas coletadas também aos
50 d.a.e. Cada planta teve a quinta folha (limbo+pecíolo) amostrada, a fim de compor a amostra de
tecido vegetal (RAIJ et al., 1996). Após a coleta, as amostras foram lavadas, secas em estufa com
circulação forçada de ar (65+-5ºC), moídas e tamisadas, conforme especificação em Malavolta et al.,
(1997). As determinações dos teores foliares de macronutrientes (N, P, K, Ca, Mg e S) e
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micronutrientes (B, Cu, Fe, Mn e Zn) foram realizadas de acordo com a metodologia descrita em
Bataglia et al. (1993).
A colheita foi realizada por etapas, uma vez que os frutos do algodoeiro não atingem
maturidade fisiológica simultaneamente, iniciando aos 120 d.a.e. e terminando aos 130 d.a.e.
A análise estatística foi realizada com auxilio do software SAS®, através do procedimento
ANOVA e REG (FREUND; LITTELL, 2000). Após a estimação dos parâmetros de regressão, e, sendo
a mesma quadrática, foi calculada a máxima eficiência técnica (MET), igualando a derivada da equação
quadrática a zero, conforme metodologia proposta por Alvarez (1985).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A avaliação aos 50 d.a.e. revelou que o número de nós por planta possui uma correlação
positiva com as doses de fósforo (Figura 1a), ou seja, quanto maior a dose de P 2O5 aplicada na cultura
do algodoeiro, maior a quantidade de ramos reprodutivos, pois cada nó dá origem a um ramo e é
desejável que as plantas possuam uma arquitetura de maneira a possuírem muitos ramos, desde que
estes não empecem a chegada de luminosidade aos ramos da parte inferior (ou baixeiro).
14,5
50
(a)
(b)
y = 2,472x 2 - 8,4643x + 49,477
R2 = 0,98**
48
Altura da planta, cm
Número de nós por planta
y = -0,3689x 2 + 1,2403x + 13,057
R2 = 0,81*
14,0
13,5
46
44
42
13,0
40
0
0,5
1
1,5
2
0
0,5
P2O5, g vaso-1
1
1,5
2
P2O5, g vaso-1
Figura 1. Número de nós por planta e altura das plantas, aos 50 d.a.e., em função de doses de fósforo.
As doses de P2O5 também induziram a planta com alturas menores (Figura 1b). Estes dois
fenômenos associados (altura de plantas e número de nós) refletem características altamente
desejáveis do ponto de vista agronômico para a cultura do algodoeiro, pois, aos 50 d.a.e. as doses de
P2O5 induziram as plantas a um menor porte com maior número de nós.
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A redução do porte da planta exerce influência também no que diz respeito ao custo de
produção uma vez que, se faz necessário durante seu ciclo a utilização de reguladores de crescimento
para evitar o crescimento excessivo das plantas.
Ao avaliarmos os número de nós, entende-se que quanto antes esse efeito for evidenciado na
cultura (maior número de nós) melhor, pois, significa que teremos grande número de nós no terço
inferior da planta, e são justamente esses ramos que tendem a possuir a maior produção, ou capulhos
com maior peso e, consequentemente, com maior quantidade de fibras (SOARES et al., 1999).
Os resultados obtidos em vasos diferem dos encontros por Staut e Athayde, (1999) à campo no
qual não encontraram diferença significativa para nenhuma das variáveis (n° de nós e altura de
plantas) em função do aumento das doses de fósforo. A vantagem de trabalhos em ambientes
controlados é justamente a detecção de parâmetros influenciados pelo fator em estudo, que em
experimentos a campo, muitas vezes não são detectados.
A avaliação fenológica, conforme Tabela 1, demonstra que as doses de fósforo não resultaram
em modificações no desenvolvimento fenológico, ou seja, as doses de fósforo utilizadas não
implicaram, a princípio, em redução do tempo de maturação da planta.
A produção, em caroço (total) e em fibras, obedeceu uma tendência quadrática (Figura 2a).
Esta tendência representa a resposta clássica esperada em ensaios de adubação, com baixas
produções sem a adição do nutriente em estudo, seguido de aumentos desproporcionais (segmento da
equação que representa diminuição do coeficiente angular por cada incremento de uma mesma dose
do nutriente) e finalmente, decréscimo na produção. Avaliando os pontos isoladamente no gráfico, é
perceptível que as doses de 0,44, 0,88 e 1,32 g vaso -1, comparativamente as outras doses, retornaram
maiores produções.
Tabela 1. Avaliação da fenologia da planta aos 50 d.a.e.
Dose de P (g vaso-1)
0,00
0,44
0,88
1,32
1,76
Fenologia
Menor estágio
M3
M2
M3
M4
M2
Estágio predominante
M4
M3
M3
M5
M3
Maior estágio
M5
C1
M5
C2
M4
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-1
14
Algodão em pluma, g vaso
Algodão em caroço, g vaso
-1
7
12
y = -5,397x 2 + 10,563x + 9,6859
R2 = 0,95**
10
8
6
5
y = -2,3428x 2 + 4,572x + 4,1889
R2 = 0,90**
4
0
0,5
1
1,5
2
0
P2O5, g vaso-1
0,5
1
1,5
2
P2O5, g vaso-1
Figura 2. Produção total (em caroço) e de fibras das plantas de algodoeiro em função de doses de
fósforo.
Ao aplicar-se a técnica proposta por Alvarez V. (1985) para ser identificado a dose que estima
a maior produção, encontramos, aproximadamente, a dose de 0,979 e 0,976 g vaso -1 de P2O5 para a
produção total e produção de fibras.
Embora a produção de fibras tenha sido alterada significativamente, é possível perceber que o
mesmo não ocorreu com o rendimento de fibras (Fig. 3), logo, podemos inferir que doses crescentes de
fósforo não retornam, necessariamente, em maiores rendimentos de fibra (porcentagem de fibra dentro
da produção total).
Os níveis foliares seguiram a tendência clássica de absorção conforme o esperado, a medida
que se aumentou o fósforo disponível, aumentou-se a absorção da planta(Fig. 4a), porém esse efeito
não necessariamente resultou em aumentos lineares de produtividade (Fig. 4b). O mesmo não
aconteceu com os níveis foliares em relação a produção que embora tenha seguido uma função
quadrática as maiores produtividades não correlacionaram-se as maiores doses encontradas nas
folhas. Conforme se verifica na Figura 4, as maiores produções ocorreram entre 3 e 8 g kg -1 de
nitrogênio nas folhas. Estes valores abrangem os apresentados por SIilva et al., 2004; Macêdo et al.
(2004) e Shinohara et al. (2004), que foram de 2,5 a 5,3 g kg -1.
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45
45
44
Rendimento de fibra, %
Rendimento de fibra, %
44
43
42
y = 0,3459x 2 - 1,0495x + 43,784
R2 = 0,12ns
41
43
42
y = 0,1113x 2 - 1,264x + 46,19
R2 = 0,3ns
41
40
40
0
0,5
1
1,5
2
2
4
6
8
10
P foliar, g kg -1
P2O5, g vaso-1
Figura 3. Rendimento de fibra do algodoeiro em função de doses de fósforo e do teor foliar de fósforo.
10
(b)
Algodão em caroço, g vaso
-1
y = 3,8364x + 2,14
R2 = 0,96**
8
P foliar, g kg -1
16
(a)
6
4
2
14
12
10
y = -0,3925x 2 + 4,4865x + 2,2321
R2 = 0,78*
8
0
0,5
1
1,5
2
0
P2O5, g vaso-1
2
4
6
8
10
P foliar, g kg -1
Figura. 4. Relação entre teor foliar de P com doses de P2O5 e produção de algodão em caroço.
Quanto ao rendimento de fibra, esse não apresentou diferença significativa como se pode
observar pela curva do gráfico (Fig. 3). Estes dados complementam as informações obtidas pelo gráfico
de rendimento de fibra e doses de fósforo aplicadas ao solo.
Estas informações podem servir como subsídios para novos estudos e aprimoramento nas
técnicas de adubação do algodoeiro, e, embora possa ser extrapolado para outras variedades
utilizadas atualmente, é conveniente que seja realizado estudos específicos para cada espécie, uma
vez que a produção é uma característica fenotípica, e a adubação está relacionada ao ambiente onde
um certo genótipo está inserido, toda vez que se altera o genótipo a interação com o ambiente pode
resultar em respostas fenotípicas diferentes.
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CONCLUSÃO
Aos 50 d.a.e. as doses de fósforo estudadas proporcionaram plantas com menor porte e maior
número de nós.
A produção de caroço e de fibra foram alteradas, sendo estimada as doses de 0,979 e 0,976 g
vaso-1, respectivamente, como as mais adequadas.
A variedade Delta Opal® não teve seu rendimento de fibras alterado em função do aumento da
quantidade de P2O5 aplicada.
As produções mais elevadas foram correlacionados com teores foliares de fósforo de 3 a 8 g
kg-1.
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