Ciência e Natura ISSN: 0100-8307 [email protected] Universidade Federal de Santa Maria Brasil Crivellaro Minuzzi, Felipe; Lukaszczyk, João Paulo Solução para as Equações de Navier-Stokes em domínios tridimensionais finos Ciência e Natura, vol. 37, núm. 1, enero-abril, 2015, pp. 23-44 Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=467546185003 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto Artigo Original DOI:10.5902/2179460X14635 Ciência e Natura, v.37 n.1, 2015, jan.-abr. p. 23 – 44 Revista do Centro de Ciências Naturais e Exatas - UFSM ISSN impressa: 0100-8307 ISSN on-line: 2179-460X Solução para as Equações de Navier-Stokes em domínios tridimensionais finos Solutions for the Navier-Stokes Equations in tridimensional thin domains Resumo Crivellaro Minuzzi* , João Paulo Lukaszczykem , Solução paraFelipe as Equações de Navier-Stokes domínios A forma clássica do sistema de equações de Navier-Stokes, o qual deriva do princípio de conservação de massa e momento linear, Acadêmico do fluido Mestrado em Matemática, de Santa Maria, Santa Maria, Brasil. descreve o movimento de um homogêneo sujeito aUniversidade um campo deFederal forçasfinos externas. Neste trabalho, desenvolve-se um estudo tridimensionais 1 2 1 Professoro Associado do Departamento de Matemática, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria,em Brasil. para encontrar intervalo maximal de existência de soluções no tempo para as equações de Navier-Stokes um domínio tridimensional é, ΩNavier-Stokes = ω × (0, ), onde ω ⊂ R2 e ∈ (0, 1)in , considerando combinações dethin diferentes condições de Solutionsfino, foristothe Equations tridimensional domains fronteira. Palavras-chave: Equações de Navier-Stokes, Domínios finos, Existência de solução. Abstract Resumo The classical form of the Navier-Stokes equations system, which is derived from the principle of conservation of mass and momentum, describes the motion of a homogeneous fluid subject to a field of external forces. In this work, we develop a study to A forma clássica do sistema equações Navier-Stokes, o qual deriva do princípio de conservação de massa e momento linear, find the maximal interval of de existence of de solutions in time to the Navier-Stokes equations in a three dimensional thin domain, i.e., 2 e homogêneo descreve o movimento de um fluido sujeito a um campo de forças externas. Neste trabalho, desenvolve-se um estudo Ω = ω × ( 0, ) , where ω ⊂ R ∈ ( 0, 1 ) , considering different combinations of boundary conditions. para encontrar o intervaloequations; maximal de existência deExistence soluções no tempo para as equações de Navier-Stokes em um domínio Keywords: Navier-Stokes Thin domains; of solutions. tridimensional fino, isto é, Ω = ω × (0, ), onde ω ⊂ R2 e ∈ (0, 1), considerando combinações de diferentes condições de fronteira. Palavras-chave: Equações de Navier-Stokes, Domínios finos, Existência de solução. Abstract The classical form of the Navier-Stokes equations system, which is derived from the principle of conservation of mass and momentum, describes the motion of a homogeneous fluid subject to a field of external forces. In this work, we develop a study to find the maximal interval of existence of solutions in time to the Navier-Stokes equations in a three dimensional thin domain, i.e., Ω = ω × (0, ), where ω ⊂ R2 e ∈ (0, 1), considering different combinations of boundary conditions. Keywords: Navier-Stokes equations; Thin domains; Existence of solutions. Recebido: 30/06/2014 Aceito: 20/11/2014 * [email protected] Ciência Ciência ee Natura Natura v.37 n.1, 2015, p. 23 – 44 Introdução 11 Introdução P Por volta dos séculos XVIII e XIX, os matemáticos or volta dos séculos XVIII e XIX, os matemáticos Leonhard Paul Euler (1707 - 1783), Claude Louis Marie Leonhard Paul Euler (1707 - 1783), Claude Louis Henri Marie NavierHenri (1785Navier - 1836) (1785 e George Gabriel Stokes (1819 - 1836) e George Gabriel -Stokes 1903) (1819 fizeram grandes avanços no campo da mecânica - 1903) fizeram grandes avanços no campo dosmecânica fluidos. O primeiro dedução da dos fluidos.foi O responsável primeiro foipela responsável do movimento de fluidos quando estes não são pela dedução do movimento de fluidos quando viscoestes sos, são enquanto os enquanto outros dois consideraram o efeito da não viscosos, os outros dois consideraram viscosidade. O resultadoOde seus trabalhos o que o efeito da viscosidade. resultado de seus são trabalhos hojeochamamos de Equações Euler e de Equações Naviersão que hoje chamamos dede Equações Euler ede Equações Stokes, esta, objeto de estudo deste trabalho. de Navier-Stokes, esta, objeto de estudo deste trabalho. As equações de Navier-Stokes descrevem o movimento de um fluido homogêneo, sujeito a um campo de forças externos, e são deduzidas a partir da 2a Lei de Newton, do Princípio de Conservação da Massa e de Momento Linear, como pode ser visto em Melo e Neto (1991), Chorin e Marsden (1990), Fox e McDonald (1988) e Kreiss e Lorenz (1989). Sua importância não atinge apenas a Matemática, mas campos como Física, Dinâmica dos Fluidos, Meteorologia, e, mais específicos, Dinâmica dos Oceanos, Geofísica, Mecânica dos Sólidos e Fisiologia, entre outros. Apesar de muito usada, quando falamos em existência de soluções clássicas em R3 × [0, ∞), este ainda é um problema em aberto da Matemática, conhecido por ser um dos Millenium Problems do Clay Mathematical Institute, que premia 1 milhão de dólares a quem resolvê-lo. O trabalho da matemática russa Olga Ladyzhenskaya foi o primeiro que provou de maneira rigorosa a convergência de um método de diferenças finitas para as equações de Navier-Sokes. Hoje em dia, são conhecidos resultados de existência e unicidade para solução fraca em espaços de Sobolev, como pode ser encontrado em Lions (1969) e Temam (1984), os quais usam o método de Galerkin. Recentemente, em janeiro de 2014, o matemático cazáque Muchtarbai Otelbajew publicou um artigo afirmando ter encontrado solução clássica para as equações de NavierStokes. Tal trabalho ainda está em análise pela comissão examinadora do Clay Mathematical Institute. A forma vetorial das equações de Navier-Stokes é dadas por ut + u · ∇u − µ∆u + ∇ p = f , em Ω × (0, ∞) div u = 0, em Ω × (0, ∞) onde Ω é um domínio suave em R3 . O objetivo deste trabalho é estudar o intervalo maximal de existência no tempo de solução para o sistema acima em domínios tridimensionais finos, isto é, quando uma dimensão é pequena quando comparada as demais. Em outras palavras, consideraremos um domínio do tipo Ω = ω × (0, ) ⊂ R3 , sendo ω ⊂ R2 um domíno regular e 0 < < 1. O estudo de solução global no tempo para domínios finos foi iniciado por Raugel e Sell (1989), os quais 242 consideraram uma dilatação no domínio para encontrar as equações de Navier-Stokes definidas em ω × (0, 1) fixo. Diferentemente, o artigo de Temam e Ziane (1996), não usa a dilatação e sim, trabalha diretamente em Ω . Além disso, consideramos combinações entre condições de fronteira, as quais influenciam fortemente no comportamento das soluções. Nosso trabalho está estruturado em duas seções principais; na primeira seção, deduzimos uma formulação matemática específica para domínios finos, como as combinações entre as condições de fronteira de Dirichlet, periódica e livre, e a interferência dessas na definição dos espaços funcionais H e V. Outra importante ferramenta usada nesta seção é o operador média integral na direção fina, definido de acordo com a condição de fronteira a ser utilizado. Por fim, apresentamos algumas desigualdades clássicas, como a de Poincaré, além de outras essencialmente importantes. Na segunda seção, é feita uma formulação fraca para as equações de Navier-Stokes, baseando-se no operador média integral, além de estimativas a priori para o mesmo. Tais estimativas tornam-se uma importante ferramenta para os resultados acerca do intervalo maximal de existência de solução no tempo, estes dependendo da condição de fronteira considerada. 2 Introdução ao estudo em domínios finos No desenvolver deste trabalho, usamos notações e resultados usuais no estudo de equações diferenciais parciais e em análise funcional, baseando-se principalmente em Evans (2010), Adams e Fournier (2003), Brezis (1983) e Rudin (1986). No que segue, Ω é um aberto limitado do R3 e L p (Ω), 1 ≤ p < ∞, é o espaço das funções mensuráveis g : Ω → R tais que 1/p p | g( x ) | dx < ∞. | g | L p (Ω) = Ω e H 1 (Ω) é o espaço de Sobolev no qual todas as derivadas parciais de primeira ordem, com relação a todas variáveis, pertencem à L2 (Ω). Considera-se também os espaços funcionais: 1. Λ = {u ∈ Cc∞ (Ω); divu = 0}; 2. H é o fecho de Λ em L2 (Ω ), munido da norma 1/2 | u |2 dx |u| = Ω 3. V é o fecho de Λ em H01 (Ω ), munido da norma 1/2 | ∇u |2 dx ||u|| = |∇u| = Ω Minuzzi e Lukaszczyk: Solução para equação de Navier-stokes em domínios tridimensionais finos Autores: Título curto do artigo 25 3 Os produtos internos de H e V são denotados por (·, ·) e ((·, ·)) , respectivamente. A fórmula trilinear b é dada por b (u, v, w) = (u · ∇v, w) = 3 ∑ i,j=1 Ω ui ∂v j w dx, ∂xi j onde u, v, w ∈ H 1 (Ω). Ainda, faz-se o uso do Operador de Stokes: Definição 2.1. Seja P : L2 (Ω ) → H o operador projeção. Define-se o operador de Stokes, denotado por A , por A : V ∩ H 2 (Ω ) ⊂ H −→ u −→ H 2.1 No que segue, a fronteira ∂Ω de Ω será denotada por ∂Ω = Γt ∪ Γb ∪ Γl , onde Γt = ω × {}, Γb = ω × {0}, e Γl = ∂ω × (0, ). Para a formulação do problema, faz-se algumas combinações entre certas condições para ∂Ω , a saber, as condições de Dirichlet, periódica e de fronteira livre. Mais precisamente, as combinações usadas são: 1. A condição de fronteira livre em Γt ∪ Γb e periódica em Γl , denotada por (FP). Considera-se, neste caso, ω = (0, l1 ) × (0, l2 ), l1 , l2 > 0, A u = − P (∆u) u3 = 0 e Bastante utilizado são as potências do Operador de Stokes, em particular, A1/2 . Quando usamos esta potência, o domínio do operador coincide com V, ou seja, D ( A ) = V. Sendo assim, se u ∈ V, então u ||u|| = A1/2 Para mais detalhes sobre este operador, veja Foias et al. (2002). Seja Ω um domínio fino, isto é, Ω = ω × (0, ), onde 0 < < 1 e ω ⊂ R2 é suave. O objetivo deste trabalho é estudar o intervalo maximal de existência de soluções u( x, t) no tempo do sistema ut + u · ∇u − µ∆u + ∇ p = f , div u = 0, u( x, 0) = u0 ( x ), Condições de Fronteira em em em Ω × (0, ∞) Ω × (0, ∞) x ∈ Ω , e ui é periódica nas direções x1 e x2 com período l1 e l2 , respectivamente, para i = 1,2,3. Além disso, j Ω u0 ( x ) dx = u0 ∈ H ou V e f ∈ L∞ (0, +∞, H ) Para isso, serão necessárias algumas definições iniciais com relação a fronteira de Ω e aos espaços V e H, os quais serão definidos de acordo com a condição de fronteira em questão. f j ( x, t) dx = 0, j = 1,2. A primeira relação acima indica que a velocidade é sempre perpendicular ao vetor normal, isto é, acompanha a superfície da fronteira. 3. A condição de Dirichlet em ∂Ω , denotada por (DD), ou seja, u( x, t) = 0 em ∂Ω . 4. A condição de Dirichlet em Γt ∪ Γb e periódica em Γl , denotada por (DP). Neste caso, u( x, t) = 0 em Γt ∪ Γb e u é periódica em Γl . Além disso, (iii) µ > 0 é a viscosidade do sistema e; Neste trabalho, supõe-se que Ω u · n = 0, rotu × n = 0 em ∂Ω . (ii) p : Ω × (0, T ) → R, T > 0, é a pressão; (iv) u0 ( x ) = (u10 ( x ), u20 ( x ), u30 ( x )) é a velocidade inicial dada. 2. A condição de fronteira livre em ∂Ω , denotada por (FF). Neste caso, se n é o vetor normal apontado para fora de ∂Ω , então onde (i) u( x,t) = (u1 ( x, t), u2 ( x, t), u3 ( x, t)) é o campo de velocidades no ponto x = ( x1 , x2 , x3 ) e no instante t; ∂u1 ∂u = 2 = 0 em Γt ∪ Γb , ∂x3 ∂x3 Ω u30 dx = Ω f 3 ( x, t) dx = 0. Observe que os espaços H e V são influenciados por estas condições de fronteiras. Sendo assim, quando não houver diferença nas demonstrações, utilizaremos a notação para estes espaços por H e V . 2.2 Os operadores M̃ e Ñ Seja φ ∈ L2 (Ω ) uma função escalar. O operador média integral na direção fina é definido por: M : L 2 ( Ω ) −→ L2 ( Ω ) Ciência Ciência ee Natura Natura v.37 n.1, 2015, p. 23 – 44 φ −→ 1 M φ = 0 264 φ( x1 , x2 , s) ds. (1) Note que apesar de φ ser uma função de três variáveis, M possui apenas duas, a saber, x1 e x2 , visto que a integral em (1) depende apenas da terceira componente de φ. Define-se, também, o operador N por N φ( x1 , x2 , x3 ) = φ( x1 , x2 , x3 ) − M φ( x1 , x2 ). Proposição 2.1. Vale que: (i) M é a projeção ortogonal de L2 (Ω ) em L2 (ω ). (ii) M N = 0 e M̃ Ñ = 0. N + M = IL2 (Ω ) . O operador M̃ é definido para funções u = (u1 , u2 , u3 ) ∈ L2 (Ω ), isto é, M̃ : L2 (Ω ) −→ L2 (Ω ) u −→ M̃ u = ( M u1 , M u2 , M u3 ) (v) A condição de fronteira para M̃ em ∂ω é a mesma de u ∈ L2 (Ω ) em ∂ω × (0, ). (vi) Os operadores M̃ e Ñ são auto-adjuntos. Demonstração: (i) Dado φ ∈ L2 (Ω ) tem-se, para todo θ ∈ L2 (ω ), Dependendo da condição de fronteira, define-se: (i) Para (FF) e (FP), M̃ u = ( M u1 , M u2 , 0). (φ − M φ, θ ) L2 (Ω ) (ii) Para (DD) e (DP), M̃ u = 0. Analogamente, define-se o operador Ñ por Ñ u = u − M̃ u, ou seja, Ñ + M̃ = IL2 (Ω ) . Um fato interessante sobre os operadores definidos acima é que todos são projeções, isto é, M2 = M , N2 = N , M̃2 = M̃ , Ñ2 = Ñ . M ( M φ ) = = = M φ( x1 , x2 ) dx3 0 M φ ( x 1 , x 2 ) dx3 0 M φ ( x 1 , x 2 ) . Ω φθ − M φθ dx Ω φθ dx − Ω M φθ dx (3) Ω φθ dx = ω θ ( M φ) dx. (4) Ω M φθ dx = ω θ ( M φ) dx. (5) Comparando (4) e (5), segue que (φ − M φ, θ ) L2 (Ω ) = 0, ou seja, M é a projeção ortogonal de L2 (Ω ) em L2 (ω ). com φ ∈ L2 (Ω ). Analogamente mostra-se para M̃ e Ñ . Além disso, é pertinente observar que, independente da condição de fronteira, cada componente de Ñ u satisfaz uma das seguintes situações: N u j ≡ 0 em Γt ∪ Γb 0 [φ − M φ]θ dx Resolvendo a primeira integral de (3), obtêm-se = N ( N φ) = N (φ − M φ) = N φ − N ( M φ) = φ − M φ − ( M φ − M ( M φ)) = φ − M φ − ( M φ − M φ ) = φ − M φ = N φ, Ω Da segunda integral de (3), Para N , tem-se N2 (φ) = M2 (φ) = ( M ◦ M )(φ) = M ( M φ). = = De fato, seja φ ∈ L2 (Ω ). Então, 1 (iv) Se φ ∈ H k (Ω ) então M φ ∈ H k (ω ) e N φ ∈ H k (Ω ), ∀ k ≥ 0. Portanto, Assim, (iii) M̃ ∇ = ∇ M , Ñ ∇ = ∇ N . N u j dx3 = 0, ou para j = 1,2,3. (2) O seguinte resultado reúne algumas propriedades para os operadores M , N , M̃ , Ñ , as quais serão úteis na demonstração do lema 2.1. (ii) Tem-se, para φ ∈ L2 (Ω ), M N = = = = M ( N φ) M ( φ − M φ ) M φ − M ( M φ ) M φ − M φ = 0. Para M̃ Ñ a demonstração é análoga. (iii) Seja φ ∈ L2 (Ω ). Então, M̃ ∇ = = = M̃ (∇ φ) ∂φ ∂φ , ,0 M̃ ∂x1 ∂x2 ∂φ ∂φ M , M ,0 . ∂x1 ∂x2 Minuzzi e Lukaszczyk: Solução para equação de Navier-stokes em domínios tridimensionais finos Autores: Título curto do artigo 27 5 Pelo Teorema da Convergência Dominada, pode-se inverter a integração pela derivação em cada coordenada do último vetor da expressão acima. Assim, ∂φ ∂φ M , M ,0 = ∂x1 ∂x2 ∂ ∂ M φ, M φ, 0 = ∇ M φ ∂x1 ∂x2 Logo, M̃ (∇ φ) = ∇ M φ. Para Ñ ∇ , tem-se ∂φ ∂φ ( Ñ ∇ )(φ) = Ñ (∇ φ) = Ñ , ,0 ∂x1 ∂x2 ∂φ ∂φ N , N ,0 = ∂x1 ∂x2 = ∂φ − M ∂x1 ∂φ ∂x1 ∂φ , − M ∂x2 ∂φ ∂x2 Além disso, já que M φ ∈ H k (ω ) e φ ∈ H k (Ω ), segue que N φ = φ − M φ ∈ H k (Ω ). (v) Suponha que u satisfaz (DD). Então, u ≡ 0 em Γl , isto é, ui ≡ 0 para i = 1, 2, 3 em ∂ω × (0, ). Assim, como M̃ u = ( M u1 , M u2 , M u3 ), tem-se que M ui ≡ 0 para i = 1, 2, 3, ou seja, M̃ u ≡ 0 em ∂ω. Se u satisfaz (FP), u é periódica nas direções x1 e x2 com período l1 , l2 > 0, ou seja, para todo i = 1, 2, 3, temse ui ( x1 + l1 , x2 + l2 , x3 ) = ui ( x1 , x2 , x3 ). Assim, para todo i = 1, 2, 3, 1 ,0 . Novamente, pelo Teorema da Convergência dominada, ∂φ ∂φ ∂φ ∂φ − M − M = , ,0 ∂x1 ∂x1 ∂x2 ∂x2 ∂ ∂ N φ, N φ, 0 = ∂x1 ∂x2 (iv) Seja φ ∈ H k (Ω ). Para k = 0, tem-se 2 | M φ( x1 , x2 )| dx1 dx2 ω 2 1 φ( x1 , x2 , s) ds dx1 dx2 . ω 0 0 0 |φ| ds ui ( x1 + l1 , x2 + l2 , s) ds = ui ( x1 , x2 , s) ds = M ui ( x1 , x2 ), M̃ u · n = = (6) = = ≤ 0 2 |φ| ds. De (6) e (7), obtem-se 2 1 dx1 dx2 φ ds ω 0 2 1 dx1 dx2 |φ| ds ω 0 1 |φ|2 ds dx1 dx2 ω 0 0 (u1 , u2 , u3 ) · n ds = 0. Além disso, ( M̃ u) × n = M̃ (u × n) e rot ( M̃ u) × n = rot M̃ (u × n) M̃ (rot(u × n)) = 0, quando ( x1 , x2 ) ∈ ∂ω e x3 ∈ (0, ). Portanto, M̃ u satisfaz (FF). (vi) Sejam u, v ∈ L2 (Ω ). Então, 0 2 1 = Mas, pela Desigualdade de Hölder, para p = q = 2, 1/2 1/2 1 ds |φ| ds ≤ |φ|2 ds Logo, = Assim, 0 0 M u i ( x 1 + l1 , x 2 + l2 ) M̃ u( x1 , x2 ) = ( M u1 , M u2 , M u3 ) 1 1 1 u ds, u2 ds, u3 ds 0 1 0 0 1 (u , u2 , u3 ) ds. 0 1 ∇ N φ. isto é, M̃ u é periódica nas direções x1 e x2 . A condição (FF) implica que u · n = 0 e rot(u × n) = 0 em ∂Ω . Logo, Logo, Ñ (∇ φ) = ∇ N φ. 0 1 (7) M̃ u, v = = = = Assim, || M φ||2L2 (ω ) ≤ ||φ||2L2 (Ω ) . Como φ ∈ H k (Ω ), segue que || M φ||2L2 (ω ) é finito e portanto M φ ∈ H k (ω ). = ω Ω Ainda, Ñ u, v M̃ u v dx M̃ u v dx1 dx2 dx3 ω 0 v dx3 dx1 dx2 M̃ u ω 0 1 u ds v dx3 dx1 dx2 ω 0 0 u ds M̃ v dx1 dx2 = ≤ Ω = ≤ ||φ||2L2 (Ω ) . = 0 u M̃ v dx = u, M̃ v . u − M̃ u, v Ciência e Natura v.37 n.1, 2015, p. 23 – 44 Ciência e Natura 28 6 = (u, v) − M̃ u, v = (u, v) − u, M̃ v = u, v − M̃ v = u, Ñ v Os resultados do lema a seguir independem da condição de fronteira escolhida e por isso estas serão omitidas. Lema 2.1. Sejam u, v ∈ H1 (Ω ). Então: (i) Ω ∇ Ñ u · ∇ M̃ v dx = 0 2 2 (ii) |u|2 = M̃ u + Ñ u Ñ u2 2 e ||u| |2 = M̃ u + (iii) Se v ∈ V então M̃ v ∈ V e Ñ v ∈ V (v) Para todo u ∈ D ( A ), tem-se ∆ Ñ u = Ñ ∆u e ∆ M̃ u = M̃ ∆u Demonstração: (i) Sejam u, v ∈ H1 (Ω ). Tem-se Ω Ω Ω + + ∇ N u3 ∇ M v3 ) dx ∇ N u1 · ∇ M v1 ∇ N u2 · ∇ M v2 + + Ω Ñ ∇ ui · M̃ ∇ vi dx = 0, Ω ∇ Ñ u · ∇ M̃ v dx = 0. (10) (ii) No item anterior, foi provado que o conjunto A é fechado e portanto, pode-se escrever u ∈ L2 (Ω ) como a soma dos vetores ortogonais M̃ u e Ñ u. Assim, M̃ u + Ñ u 2 dx |u|2 = |u|2 dx = = Ω Ω Ω M̃ u + Ñ u · M̃ u + Ñ u dx M̃ u2 + Ñ u2 + 2 Logo, Ω M̃ u · Ñ u dx. = 0 pois M̃ u⊥ Ñ u 2 2 |u|2 = M̃ u + Ñ u . Além disso, vale que ∂N u1 ∂M v1 + ∂x3 ∂x3 ∂N u2 ∂M v2 + ∂x3 ∂x3 ∇ Ñ u · ∇ M̃ v dx = (∇ N u1 ∇ M v1 + ∇ N u2 ∇ M v2 = Note que a expressão acima é igual a é fechado. De fato, tomando uma sequência de funções (φn ) ⊂ A tal que φn → φ, onde φ ∈ L2 (ω ), basta esco1 lher θ ( x1 , x2 , x3 ) ∈ L2 (Ω ) de modo que φ = θ ds 0 e assim φ ∈ A. Portanto, pela propriedade (i) da 2 proposição anterior,pode-se decompor 2 L (Ω ) como 2 a soma direta de M L (Ω ) e N L (Ω ) da mesma 2 2 maneira 2 que L (Ω ) é soma direta de M̃ L (Ω ) e Ñ L (Ω ) . Logo, para todo i = 1, 2, 3 e a integral em (9) é nula, ou seja, (iv) b (u, u, M̃ v) = b ( M̃ u, M̃ u, M̃ v) + b ( Ñ u, Ñ u, M̃ v) e b (u, u, Ñ v) = b ( Ñ u, M̃ u, Ñ v) + b ( M̃ u, Ñ u, Ñ v) + b ( Ñ u, Ñ u, Ñ v), onde u,v ∈ V . Observe que o conjunto 1 2 A= φ( x1 , x2 , s) ds, φ ∈ L (Ω ) ⊂ L2 (ω ) 0 ||u||2 = = + ∇ N u3 · ∇ M v3 + ∂N u3 ∂M v3 dx. (8) + ∂x3 ∂x3 Como M vi não dependem de x3 , pois N ui depende de ∂M vi x3 , segue que ≡ 0, para i = 1, 2, 3 e, além disso, ∂x3 pela propriedade (iii) da proposição anterior, ∇ N ui · ∇ M vi = Ñ ∇ ui · M̃ ∇ vi , i = 1, 2, 3. Logo, (8) é igual à Ñ ∇ u1 · M̃ ∇ v1 + Ñ ∇ u2 · M̃ ∇ v2 + Ω (9) Ñ ∇ u3 · M̃ ∇ v3 dx. = + Ω Ω |∇u|2 dx = Ω ∇( M̃ u + Ñ u)2 dx ∇( M̃ u + Ñ u) · ∇( M̃ u + Ñ u) dx M̃ u2 + Ñ u2 + 2 ∇ M̃ u · ∇ Ñ u dx. Ω = 0 por (10) Logo, 2 2 ||u||2 = M̃ u + Ñ u (iii) Seja v ∈ V . Então, para qualquer condição de fronteira considerada, v ∈ H1 (Ω ). Pelo item (iv) da proposição anterior, conclui-se que M̃ v ∈ H1 (ω ). Mas, M̃ v2 2 M̃ v( x1 , x2 , x3 )2 dx = = L (Ω ) Ω Minuzzi e Lukaszczyk: Solução para equação de Navier-stokes em domínios tridimensionais finos Autores: Título curto do artigo 29 7 0 ω M̃ v( x1 , x2 , x3 )2 dx1 dx2 dx3 . 0 M̃ v2 2 L (ω ) M̃ v2 2 L (ω ) 0 dx3 = dx3 = 2 M̃ v 2 L (ω ) isto é, M̃ v ∈ V . Além disso, Ñ v ∈ V pois Ñ v = v − M̃ v e v, M̃ v ∈ V . = . Logo, como M̃ v ∈ H1 (ω ), tem-se que M̃ v 2L2 (ω ) é (iv) Sejam u, v ∈ V . Tem-se que b (u, u, M̃ v) = b M̃ u + Ñ u, M̃ u + Ñ u, M̃ v = b M̃ u, M̃ u, M̃ v + b M̃ u, Ñ u, M̃ v + b Ñ u, M̃ u, M̃ v + b Ñ u, Ñ u, M̃ v . Note que b Ñ u, M̃ u, M̃ v = 0, pois finita e portanto M̃ v ∈ L2 (Ω ). Analogamente, para ∂ ∂ 3 M̃ v, i = 1, 2, 3, sendo que M̃ v ≡ 0. Além disso, ∂M u j ∂xi ∂x3 N ui b Ñ u, M̃ u, M̃ v = ∑ M v j dx ∂xi Ω pelo item (v) da proposição anterior, M̃ v satisfaz a i,j=1 mesma condição de fronteira de v. 3 ∂M u j Para concluir que M̃ v ∈ V , resta verificar se div M̃ v = ∑ ω 0 N ui ∂xi M v j dx i,j=1 0. De fato, para as condições (DD) e (DP), como M̃ v = 0, 3 segue que div M̃ v = 0. Para as demais condições, tem∂M u j N u dx ∑ ω 0 i 3 ∂x M v j dx1 dx2 . se que divv = 0, isto é, i i,j=1 divv = ∂v1 ∂v ∂v + 2 + 3 = 0. ∂x1 ∂x2 ∂x3 0 1 divv dx3 ∂v1 ∂v2 ∂v3 1 dx3 + dx3 + dx3 0 ∂x1 0 ∂x2 0 ∂x3 ∂ 1 ∂ 1 ∂v3 dx3 , v dx3 + v2 dx3 + ∂x1 0 1 ∂x2 0 ∂x 0 3 0 = − ∂v3 0 ∂x3 dx3 . = 0 ∂x3 dx3 = (11) 1 1 v3 ( x1 , x2 , ) − v3 ( x1 , x2 , 0) = 0, pois, para (FP), v3 ( x1 , x2 , ) = v3 ( x1 , x2 , 0) = 0, para (PP), tomando como período, v3 ( x1 , x2 , ) = v3 ( x1 , x2 , 0) e, para (FF), como M̃ v = ( M v1 , M v2 , 0), tem-se que 1 M v3 = 0, ou seja, v3 dx3 = 0. Isto implica que 0 0= ∂ 1 ∂x3 0 v3 dx3 = 1 ∂v3 0 ∂x3 dx3 . Portanto, de (11), ∂ ∂ M v 1 + M v2 = 0, ∂x1 ∂x2 e, já que ∂ M v3 = 0 pois M v3 não depende de x3 , ∂x3 div M̃ v = 0, (12) 1 0 N ui dx3 = M ( N ui ) = ( M ◦ N ) (ui ) = 0, ou seja, a integral em (12) é nula. Além disso, b M̃ u, Ñ u, M̃ v = 0 e, portanto, Mas, pelo Teorema Fundamental do Cálculo, ∂v3 N ui dx3 = = isto é, ∂ ∂ M v 1 + M v 2 ∂x1 ∂x2 = Mas, pela propriedade (ii) da proposição anterior, Assim, 0= = b (u, u, M̃ v) = b M̃ u, M̃ u, M̃ v + b Ñ u, Ñ u, M̃ v . Analogamente, vale que b (u, u, Ñ v) = b M̃ u, M̃ u, Ñ v + b Ñ u, M̃ u, Ñ v + b M̃ u, Ñ u, Ñ v + b Ñ u, Ñ u, Ñ v . Mas b M̃ u, M̃ u, Ñ v = 0, já que b M̃ u, M̃ u, Ñ v = 3 ∑ i,j=1 ω Logo, b (u, u, Ñ v) 0 3 ∑ i,j=1 Ω M u i ∂M u j N v j dx ∂xi = ∂M u j N v j dx3 M ui dx1 dx2 = 0. ∂xi =0 = b Ñ u, M̃ u, Ñ v + b M̃ u, Ñ u, Ñ v + b Ñ u, Ñ u, Ñ v . (v) Para as condições de fronteira (DP) ou (DD), temse M̃ u = 0, para u ∈ D ( A ). Neste caso, ∆ M̃ u = 0, Ciência e Natura v.37 n.1, 2015, p. 23 – 44 Ciência e Natura 30 8 1 2 i∑ =1 e M̃ ∆u = M̃ (∆u1 , ∆u2 , ∆u3 ) = 0, visto que, como u ∈ D ( A ), então u ∈ H2 (Ω ) e assim ∆u ∈ L2 (Ω ). Portanto, ∆ M̃ u = M̃ ∆u. Ainda, tem-se que Ñ u = u − M̃ u = u − 0 = u, isto é, ∆ Ñ u = ∆u. Por outro lado, Ñ ∆u = ∆u − M̃ ∆u = ∆u − 0 = ∆u. Logo, ∆ Ñ u = Ñ ∆u. Para as condições de fronteira (FP), (FF), sejam v ∈ C0∞ (ω ) × C0∞ (ω ) e u ∈ D ( A ). Como Ω ∂Ω vi ∂ui dS ∂n ω = ∆ M u1 ,∆ M u2 , 0 · (v1 , v2 , 0) dx1 dx2 = ω 2 ∑ ∆ M ui vi dx1 dx2 . i =1 ω − 2 ∆ M ui vi dx1 dx2 ∑ i =1 ω ∇ ( M ui ) · ∇ vi dx1 dx2 2 ∑ i =1 ∂ω − 2 ∑ vi i =1 ω ∂ M ui dS ∂n = + = − 2 Assim, ∑ i =1 ∇ ( M ui ) · ∇ vi dx1 dx2 ∑ M̃ (∇ ui ) · ∇ vi dx1 dx2 = 1 (∇ ui ) dx3 · ∇ vi dx1 dx2 ω 0 = i =1 ω − Γl vi ∂ui dS ∂n 1 2 i∑ =1 Ω 2 1 i∑ =1 Ω (15) ∂u ∂ui =− i ∂n ∂x3 ou ∂ui =0 ∂x3 ∂u ∂u2 − 3 = 0. ∂x3 ∂x2 ∇ui · ∇vi dx. ∇ui · ∇vi dx = ∂u3 = 0. ∂x2 ∂u1 ∂u = 2 = 0. ∂x3 ∂x3 Como o somatório em (13) só compreende i = 1,2, segue que a primeira e a terceira integral depois da igualdade de (15) são nulas e portanto = Novamente, pela fórmula de Green, − ∂ui dS + ∂n Γt ∂u vi i dS. ∂n Γb vi Mas u · n = 0 em Γt e Γb , isto é, u3 = 0 e ∑ − ∂u1 ∂u − 3 =0 e ∂x3 ∂x2 ∇ ( M ui ) · ∇ vi dx1 dx2 , i =1 ω 2 (14) A segunda integral depois da igualdade de (15) é nula, pois se x ∈ Γl , então ( x1 , x2 ) ∈ ∂ω e vi ( x1 , x2 ) = 0, já que vi ∈ C0∞ (ω ). Agora, quando x ∈ Γt ou x ∈ Γb , tem-se que n = ±e3 = (0, 0, 1) e assim + 2 ∂ui dS. ∂n ou seja, pois v ≡ 0 em ∂ω e n é a normal de ∂ω. Assim, pela propriedade (iii) da proposição anterior, − vi e n = (0, 0, 1) em Γt e Γb , logo, ∂u ∂u ∂u ∂u1 rotu × n = 0 ⇒ − 3 , 2 − 3 , 0 = 0, ∂x3 ∂x2 ∂x3 ∂x2 Usando a fórmula de Green, então ∑ ∂Ω para i = 1, 2. Já para a condição de fronteira (FF), observa-se que ∂u2 ∂u1 ∂u3 ∂u2 ∂u1 ∂u3 rotu = − , − , − ∂x2 ∂x3 ∂x3 ∂x2 ∂x1 ∂x2 i =1 ω 2 e, de acordo com a condição (FP), deve-se ter ∆( M̃ u) · v dx1 dx2 = ∂ui ∂ui = ∂n ∂x3 tem-se 1 2 i∑ =1 Note que M̃ u = ( M u1 , M u2 , 0) , vi ∆ui dx − ∂Ω vi ∂ui dS = 0. ∂n Substituindo em (14), tem-se 1 2 − ∑ i =1 (13) 1 2 ∇ui · ∇vi dx = vi ∆ui dx i∑ Ω =1 Ω 1 2 1 2 vi ∆ui dx = vi ∆ui dx i∑ i∑ 0 =1 ω 0 =1 ω 2 ∑ = vi M ∆ui dx1 dx2 = (v1 , v2 ) · ( M ∆u1 , M ∆u2 ) dx1 dx2 = i =1 ω ω = M̃ (∆ u) Minuzzi e Lukaszczyk: Solução para equação de Navier-stokes em domínios tridimensionais finos Autores: Título curto do artigo 31 9 = ω Vale notar que a desigualdade acima vale para qualquer condição de fronteira a ser considerada. Como visto no lema (2.1), se u ∈ V então Ñ u ∈ V e portanto, tem-se o seguinte resultado. M̃ (∆u) · v dx1 dx2 . Conclui-se que ∆( M̃ u) · v dx1 dx2 = ω ω M̃ (∆u) · v dx1 dx2 , Corolário 2.1. Para qualquer u ∈ V , vale que Ñ u ≤ ∂ Ñ u ∂x 3 ou seja, ω M̃ (∆u) − ∆( M̃ u) · v dx1 dx2 = 0. Corolário 2.2. Sob as mesmas hipóteses da proposição 2.2, tem-se Assim, M̃ (∆u) = ∆( M̃ u) q.s. em ω. Além disso, |u| ∆u = ∆ M̃ u + ∆ Ñ u = M̃ (∆u) + ∆ Ñ u. Mas por outro lado, Ñ (∆u) = ∆u − M̃ (∆u) ⇒ ∆u = M̃ (∆u) + Ñ (∆u). Portanto, Ñ (∆u) = ∆ Ñ u. Além destes resultados, os operadores M̃ e Ñ também comutam-se com o operador de Stokes A , isto é, A M̃ u = M̃ A u e A Ñ u = Ñ A u, onde u ∈ D ( A ). Para as condições (FF) e (FP), ainda temos o seguinte resultado: Lema 2.2. Se u ∈ D ( A ) satisfaz (FF) e (FP), então b M̃ u, M̃ u, A ( M̃ u,) = 0 2.3 Desigualdades Fundamentais em Domínios Finos Nesta seção, serão enunciados resultados para desigualdades clássicas em domínios finos. Tal ferramenta torna-se importante para conhecer a exata dependência das constantes que aparecem em desigualdades do tipo Sobolev com relação à espessura do domínio. Algumas serão apenas enunciadas, pelo fato de suas demonstrações serem extensas e fugirem do escopo principal deste trabalho. A primeira desigualdade aqui enunciada é a de Poincaré, cuja demonstração pode ser encontrada em Temam e Ziane (1996). Proposição 2.2 (Desigualdade de Poincaré). Seja u ∈ H 1 (Ω ) satisfazendo: u ≡ 0 em Γt ∪ Γb (16) 0 u ( x1 , x2 , x3 ) dx3 = 0 q.s. em ω. Então, ∂u |u| ≤ ∂x 3 ≤ |∇u| . Demonstração: De fato, basta notar que 2 ∂u = ∂u |u| ≤ ∂x3 ∂x3 ∂u 2 ∂u 2 ∂u 2 + + ≤ ∂x1 ∂x2 ∂x3 = |∇u| . Corolário 2.3. Sob as mesmas hipóteses da proposição 2.2, tem-se ||u|| ≤ | A u| Demonstração: Da definição do operador de Stokes, A é definido positivo, isto é, vale ( A u, u) = ||u||2 > 0. Mas, pela desigualdade de Holder, tomando p = q = 2, tem-se ( A u, u) ≤ | A u| |u| . Logo, ||u||2 ≤ | A u| |u| . Usando o corolário anterior, ||u||2 ≤ | A u| |∇u| = | A u| ||u|| . Portanto, ||u|| ≤ | A u| . Uma outra desigualdade importante é a de Agmon, a qual será apresentada aqui na sua forma específica para domínios finos. A demonstração pode ser encontrada em Temam e Ziane (1996). Ciência e Natura v.37 n.1, 2015, p. 23 – 44 Ciência e Natura 32 10 Corolário 2.4 (Desigualdade Anisotrópica de Agmon para Domínios Finos). Existe uma constante positiva c0 (ω ), que não depende de , tal que, para toda u ∈ H 2 (Ω ), ∂2 u 1 ∂u 1/4 |u| L∞ (Ω ) ≤ c0 (ω ) |u| · 2 + ∂x3 ∂x3 L2 (Ω ) 1/4 2 2 2 1 ∂ u + ·∏ ∑ | u | L2 ( Ω ) 2 ∂xi ∂x j i =1 j =1 1/4 ∂u + . + |u| ∂x j Corolário 2.5. Suponha que u ∈ D ( A ). Então, para qualquer condição de fronteira, vale ∂2 N u ∂N u j j ∂x ≤ ∂x ∂x , para i,j = 1, 2, 3. (17) i i 3 Demonstração: Observe que, para i = 1,2, devido à (2), tem-se ∂N u j = 0 em Γt ∪ Γb ∂xi e ∂N u j 0 ∂xi dx3 = 0, ∂N u com j = 1,2,3. Sendo assim, ∂x j satisfaz (16). Logo, i pela Desigualdade de Poincaré, ∂2 N u ∂N u j j ≤ . ∂x ∂xi ∂x3 i Agora, para a dimensão espacial x3 , deve-se ter um pouco mais de cuidado, visto que não é possível passar a derivada com relação à x3 para dentro da integral em (2). Portanto, usando integração por partes em x3 , temos ∂2 N u j ∂N u j 2 N u j dx = − dx. ∂x3 ∂x32 Ω Ω Assim, Ω ∂N u j ∂x3 2 dx = − ≤ ≤ ∂N u j 2 ∂x 3 pelo Corol. (2.1) ≤ ≤ ou seja, ∂N u j ∂x 3 Ω N u j ∂2 N u j ∂x32 dx ∂2 N u j N u j dx ∂x32 Ω ∂2 N u j N u j 2 L (Ω ) ∂x2 3 L2 ( Ω ) 2 ∂ N u j N u j ∂x2 3 2 ∂N u j ∂ N u j , ∂x3 ∂x32 ≤ ∂2 N u j . ∂x32 Combinando os corolários 2.1 e 2.4, resulta o que segue. Corolário 2.6. Existe uma constante positiva c0 (ω ), que não depende de , tal que, para toda u ∈ D ( A ), 3/4 3 1/4 ∂ Ñ u Ñ u ∞ ≤ c0 (ω ) Ñ u ∑ ∂xi ∂x j L (Ω ) i,j=1 Corolário 2.7. Existe uma constante positiva c0 , independente de , tal que 2 Ñ u2 6 ≤ c0 Ñ u . L (Ω ) A partir do corolário acima e da proposição 2.2, obtem-se o seguinte lema. Lema 2.3. Para 2 ≤ q ≤ 6, existe uma constante positiva c(q), independente de tal que, para todo u ∈ V , 6− q 2 Ñ u2 q ≤ c(q) q Ñ u L (Ω ) Teorema 2.1. Sob qualquer uma das condições de fronteira consideradas, existe uma constante c, independente de , tal que, para todo u ∈ D ( A ), 2 3 ∂2 u ∑ ∂xi ∂x j ≤ c | A u|2 . i,j=1 Por fim, o próximo resultado está relacionado com desigualdades para a forma trilinear b . 1 . Existe uma constante positiva 2 c4 (q), que não depende de , tal que, para qualquer condição de fronteira considerada, tem-se (i) b M̃ u, Ñ u, w ≤ c4 q M̃ u A Ñ u |w| , ∀ u ∈ D ( A ) e w ∈ L 2 ( Ω ). (ii) b Ñ u, M̃ u, w ≤ c4 1/2 M̃ u A Ñ u |w| , ∀ u ∈ D ( A ) e w ∈ L 2 ( Ω ). 3/2 1/2 (iii) b Ñ u, Ñ u, w ≤ c4 Ñ u A Ñ u |w| ≤ c4 1/2 Ñ u A Ñ u |w| , ∀ u ∈ D ( A ) e w ∈ L 2 ( Ω ). Lema 2.4. Seja 0 < q < A demonstração do lema acima pode ser encontrado em Temam e Ziane (1996). 3 Solução Fraca em Domínios Finos Com relação a existência de solução das equações de Navier-Stokes em domínios gerais, o seguinte resultado é conhecido em diversas bibliografias, tais como Temam (Temam (1984), Temam (1995)) e Lions (Lions (1969)). Ambos usam o método de Galerkin para encontrar solução fraca em espaços de Sobolev. Mais precisamente, tem-se Minuzzi e Lukaszczyk: Solução para equação de Navier-stokes em domínios tridimensionais finos Autores: Título curto do artigo 33 11 Teorema 3.1. Sejam u0 ∈ H e f ∈ L2 (0, T, V ). Então existe u ∈ L2 (0, T, V ) ∩ L∞ (0, T, H ) para todo T > 0, solução das equações de Navier-Stokes. Se u0 ∈ V então existe T = T (Ω, µ, u0 , f ) > 0 tal que u ∈ L2 (0, T, D ( A )) ∩ L∞ (0, T, V ) é a única solução das equações de Navier-Stokes. Observe que M̃ ut = M̃ u t e µ M̃ ∆u = µ∆ M̃ u . Ainda, ∂p ∂p ∂p M̃ ∇ p = M̃ , , ∂x1 ∂x2 ∂x3 ∂p ∂p ∂p , M M = , M ∂x1 ∂x2 ∂x3 ∂ ∂ ∂ = ∂x1 ( M p) , ∂x2 ( M p) , ∂x3 ( M p) No que segue, a solução única dada pelo teorema acima é chamada de solução forte. 3.1 Estimativas para M̃ e Ñ As desigualdades apresentadas na última seção motivam algumas estimativas a priori para os operadores M̃ e Ñ , as quais formam o principal mecanismo para o estudo do tempo máximo de existência das soluções. Primeiramente, a partir das equações de Navier-Stokes, faz-se a formulação fraca para M̃ e Ñ . Antes de demonstrar a formulação fraca, observe 1/2 que como (u, v) D( A1/2 ) = (( A1/2 u, A v )) , segue que 1/2 A1/2 M̃ u, A M̃ v = = M̃ u, M̃ v = ∇ M̃ p. Multiplicando (18) por M̃ v e integrando em Ω tem-se M̃ u t , M̃ v + M̃ (u · ∇u), M̃ v − µ ∆ M̃ u, M̃ v + ∇ M̃ p, M̃ v = M̃ f , M̃ v . (19) Agora, note que d M̃ u, M̃ v dt D ( A1/2 ) ∇ M̃ u, ∇ M̃ v . Note que faz sentido tomar o produto interno com relação a M̃ u e M̃ v, pois, como u,v ∈ D ( A1/2 ) = V , tem-se pelo lema 2.1 que M̃ u, M̃ v ∈ V . Proposição 3.1 (Formulação fraca para M̃ e Ñ ). Sejam v ∈ V e u ∈ H . Então, d 1/2 (i) M̃ u, M̃ v + µ A1/2 M̃ u, A M̃ v dt + b M̃ u, M̃ u, M̃ v + b Ñ u, Ñ u, M̃ v = M̃ f , M̃ v , (ii) =0 d 1/2 Ñ u, Ñ v + µ A1/2 Ñ u, A Ñ v dt +b M̃ u, Ñ u, Ñ v + b Ñ u, M̃ u, Ñ v + b Ñ u, Ñ u, Ñ v = Ñ f , Ñ v . Demonstração: Considere a forma vetorial das equações de Navier-Stokes, ut + u · ∇u − µ∆u + ∇ p = f . Aplicando o operador M̃ em cada componente da equação acima, tem-se M̃ ut + M̃ (u · ∇u) − µ M̃ ∆u + M̃ ∇ p = M̃ f . (18) = + M̃ u t , M̃ v M̃ u, M̃ v t , e, como v ∈ V , não depende de t, donde M̃ u, M̃ v t = 0. Logo, d M̃ u, M̃ v = M̃ u t , M̃ v . dt (20) Como M̃ é auto-adjunto e M̃2 = M̃ , segue que u · ∇u, M̃ M̃ v M̃ (u · ∇u), M̃ v = = u · ∇u, M̃ v = b u, u, M̃ v Usando o item (iv) do lema 2.1, M̃ (u · ∇u), M̃ v = b ( M̃ u, M̃ u, M̃ v) + b ( Ñ u, Ñ u, M̃ v). (21) Ainda, − µ ∆ M̃ u, M̃ v = µ ∇ M̃ u, ∇ M̃ v = 1/2 µ A1/2 u, A v . (22) M̃ M̃ Além disso, ∇ M̃ p, M̃ v =0 (23) Substituindo (20), (21), (22) e (23) em (19), obtem-se a seguinte formulação fraca para M̃ d 1/2 M̃ u, M̃ v + µ A1/2 M̃ u, A M̃ v dt + Ciência e Natura v.37 n.1, 2015, p. 23 – 44 Ciência e Natura 34 12 b M̃ u, M̃ u, M̃ v + b Ñ u, Ñ u, M̃ v M̃ f , M̃ v . = Para o operador Ñ , procede-se analogamente, aplicando Ñ à forma vetorial das equações de NavierStokes, multiplicando por Ñ v e integrando em Ω . Deste modo, ao aplicar o item (iv) do lema 2.1, temse que Ñ (u · ∇u) , Ñ v = = = + + u · ∇u, Ñ v b (u, u, Ñ v) b ( M̃ u, Ñ u, Ñ v) b ( Ñ u, Ñ u, Ñ v). Assim, conclui-se a formulação fraca para o operador Ñ dada por + + (ii) b0 () = A1/2 Ñ u0 ; (iii) α() = M̃ f ; (iv) β() = Ñ f ; Observe que, de acordo com (ii) do lema 2.1, = = 2 2 | f |2 = M̃ f + Ñ f = α2 () + β2 (), Então, existe 1 = 1 (µ) > 0 tal que para todo , 0 < ≤ 1 , existem T σ () > 0 e uma constante positiva c5 (µ), independente de , de modo que para , 0 < ≤ 1 e 0 < t < T σ (), tem-se: 2 µt 22 2 − 2 2 (i) A1/2 Ñ u ( t ) ≤ b0 ( ) e 2 + 2 β ( ); µ t A Ñ u(s)2 ds ≤ 2 b2 () + 2 tβ2 (); µ 0 µ2 0 t 3 1/2 (iii) A Ñ u(s) A Ñ u(s) ds ≤ 0 c5 (µ) b02 () + 2 β2 () b02 () + tβ2 () . (ii) + + ou seja, 1 2 Observe que, pela comutatividade do operador de Stokes com Ñ , Ñ u, Ñ A u = Ñ u, A Ñ u = Ñ u, Ñ u 1/2 A1/2 Ñ Ñ = u, A u 2 1/2 = A Ñ u , e 2 2 R20 () = A1/2 u0 + | f | . Lema 3.1 (Estimativas para Ñ u). Suponha que 0 < q < e 2 2 2q 1/2 lim A u0 + | f | = 0. d 1/2 Ñ u, Ñ A u + µ A1/2 Ñ u, A Ñ A u dt b M̃ u, Ñ u, Ñ A u + b Ñ u, M̃ u, Ñ A u b Ñ u, Ñ u, Ñ A u = Ñ f , Ñ A u . 1/2 2 A u0 2 2 1/2 M̃ A1/2 u0 + Ñ A u0 2 2 1/2 A M̃ u0 + A1/2 Ñ u0 = a20 () + b02 (), Com efeito, caso não valesse a igualdade, teria uma contradição com o fato de T σ () ser o tempo máximo. Apresentamos agora dois lemas com as estimativas para os operadores Ñ e M̃ , fundamentais para prova dos teoremas de existência. O resultado a seguir independe da condição de fronteira considerada. Demonstração: Da formulação fraca para Ñ , substituindo v por A u, tem-se (v) R20 () = a20 () + b02 () + α2 () + β2 (). = Aqui, é o intervalo máximo onde a desigualdade acima corresponde. Vale notar que se T σ () < ∞, então 2 1/2 (26) A u( T σ ()) = σR20 (). →0 Para facilitar as expressões calculadas nas estimativas, utiliza-se, no que segue, as seguintes notações: (i) a0 () = A1/2 M̃ u0 ; |u0 |2D( A1/2 ) [0, T σ ()) b ( Ñ u, M̃ u, Ñ v) d 1/2 Ñ u, Ñ v + µ A1/2 Ñ u, A Ñ v dt b M̃ u, Ñ u, Ñ v + b Ñ u, M̃ u, Ñ v b Ñ u, Ñ u, Ñ v = Ñ f , Ñ v . Agora, dado σ > 1, como consequência do teorema 3.1, tem-se que existe T σ () > 0 tal que, para todo t ∈ [0, T σ ()), 2 1/2 (25) A u(t) ≤ σR20 (). Logo, (24) 2 d d 1/2 Ñ u, Ñ A u = A Ñ u . dt dt (27) Minuzzi e Lukaszczyk: Solução para equação de Navier-stokes em domínios tridimensionais finos Autores: Título curto do artigo 35 13 Mas d Ñ u, Ñ A u dt d d + Ñ u, Ñ A u Ñ u, Ñ A u dt dt d d + Ñ u, A Ñ u Ñ u, Ñ A u dt dt d d + Ñ u, A Ñ u, Ñ A u Ñ u dt dt d d + A Ñ u, Ñ u Ñ u, Ñ A u dt dt d 2 Ñ u, Ñ A u . dt Assim, de (27), d Ñ u, Ñ A u dt = = = = 1 d 2 dt 1 d 2 dt Também, Ñ u, Ñ A u 2 1/2 A Ñ u . 1/2 u, A A u µ A1/2 Ñ Ñ 1/2 1/2 µ A Ñ u, A A Ñ u µ A Ñ u, A Ñ u 2 µ A Ñ u . = ≤ = A M̃ u, M̃ u 1/2 A1/2 = M̃ u, A M̃ u 2 1/2 = A M̃ u , = M̃ u, M̃ u ou seja, M̃ u = A1/2 u M̃ . Analogamente, Ñ u = A1/2 Ñ u , = = = 2 2 δ2 1 Ñ f + 2 A Ñ u . 2 2δ A última desigualdade acima vem de 2ab ≤ a2 + b2 , − 1 tomando a = δ Ñ f e b = δ A Ñ u , onde δ > 0 é 1 µ um número real. Escolhendo 2 = , tem-se δ2 = µ−1 . 2 2δ Daí, Ñ f , Ñ A u M̃ u2 = Além disso, pela desigualdade de Cauchy-Schwarz, Ñ f , Ñ A u = Ñ f , A Ñ u ≤ Ñ f A Ñ u Note que (28) = ≤ 2 + c4 1/2 Ñ u A Ñ u . 2 µ 2 1 Ñ f + A Ñ u 2µ 2 Pelas estimativas do Lema 2.4, b M̃ u, Ñ u, Ñ A u + b Ñ u, M̃ u, Ñ A u + b Ñ u, Ñ u, Ñ A u ≤ c4 q M̃ u A Ñ u A Ñ u + c4 1/2 M̃ u A Ñ u A Ñ u + c4 1/2 Ñ u A Ñ u A Ñ u 2 2 = c4 q M̃ u A Ñ u + c4 1/2 M̃ u A Ñ u e, com isso, b M̃ u, Ñ u, Ñ A u + b Ñ u, M̃ u, Ñ A u + b Ñ u, Ñ u, Ñ A u 2 ≤ c4 q A1/2 u M̃ A Ñ u 2 1/2 A Ñ u . M̃ + c4 1/2 A1/2 u + A Ñ u Temos, portanto, a seguinte estimativa 2 2 1 d 1/2 A Ñ u + µ A Ñ u 2 dt 2 2 µ 1 Ñ f + A Ñ u 2µ 2 2 q 1/2 c4 A M̃ u A Ñ u 2 1/2 1/2 1/2 c4 A M̃ u + A Ñ u A Ñ u . ≤ + + Como 0 < < 1 e 0 < q < 12 , pode-se afirmar que 2 1/2 1/2 q q < . Assim, somando c4 A Ñ u A Ñ u , o qual é um valor positivo, na última expressão acima, obtem-se 2 d 1/2 µ − 4c4 q A1/2 A Ñ u + M̃ u dt 2 1/2 A Ñ u + A Ñ u ≤ 2 1 Ñ f . µ Observe que, do item (ii) do Lema 2.1, 2 2 2 1/2 1/2 A u(t) = M̃ A1/2 u ( t ) + Ñ A u ( t ) 2 2 1/2 1/2 = A M̃ u(t) + A Ñ u(t) , para t ∈ [0, T σ ()) e, além disso, 1/2 ≤ A M̃ u(t) + A1/2 Ñ u ( t ) √ 1/2 2 A u(t) . Ciência e Natura v.37 n.1, 2015, p. 23 – 44 Ciência e Natura 36 14 Mas, de (25), temos √ √ 1/2 2 σR0 (). A M̃ u(t) + A1/2 Ñ u ( t ) ≤ e, substituindo em (32), 2 µt 22 − 1/2 A Ñ u ≤ b02 ()e 22 + 2 β2 (), µ Assim, 1/2 µ − 4c4 A1/2 M̃ u + A Ñ u √ √ µ − 4c4 q 2 σR0 (), q ≥ o que prova o item (i) do lema. Integrando de 0 à t a expressão em (31), tem-se t 2 2 µ 1/2 1/2 A Ñ u(s) ds A Ñ u(t) + 2 2 0 1 b02 () + tβ2 (). µ isto é, 2 √ 2 d 1/2 A Ñ u + µ − 4c4 q 2σR0 () A Ñ u dt 2 1 Ñ f . µ ≤ (29) A partir deste momento, usando a hipótese 2 2 2q 1/2 lim A u0 + | f | = lim 2q R20 () = 0, →0 pode-se afirmar que √ lim µ − 4c4 q 2σR0 () = µ > 0, Como t 2 µ 1/2 Ñ u ( s ) A ds 22 0 t 2 µ 1/2 A Ñ u(s) ds, 22 0 µ 22 →0 ou seja, ou seja, existe um 1 > 0 tal que para todo 0 < < 1 , √ µ µ − 4c4 q 2σR0 () ≤ . 2 µ 2 2 2 2 µ 1 d 1/2 Ñ f . A Ñ u + 2 A1/2 Ñ u ≤ dt µ 2 (31) ou seja, ≤ e ≤ e − µt 22 b02 () + − µt 22 µ e µt − 2 2 µ t 0 e µt 22 µ tβ2 () ≤ 22 µ2 β2 () ds tβ2 () 22 µt2 Para algum t, com t ≤ e 2 , vale que µ − µ (34) β2 ( ), ≤ (32) t 0 A Ñ u(s)2 ds ≤ b2 () + 1 tβ2 (), 0 µ t Agora, aplicando a desigualdade de Gronwall, obtem-se e µ Daí, b02 () + µ 2 µ t 1/2 A Ñ u(s)2 ds A Ñ u(t) + 2 0 1 b02 () + tβ2 (). µ (30) 2 2 1/2 A Ñ u ≤ 2 A Ñ u , µt 22 0 t 2 22 2 22 1/2 b0 () + 2 tβ2 (), A Ñ u(s) ds ≤ para todo 0 < < 1 e 0 ≤ t < T σ (). Pela desigualdade de Cauchy-Schwarz, tem-se − para todo 0 < ≤ 1 e 0 < t < T σ (). Agora, integrando (30) de 0 à t, 2 µ 2 2 d 1/2 1 A Ñ u + A Ñ u ≤ Ñ f , dt 2 µ 2 1/2 A Ñ u 2 Ñ ≤ A1/2 u ( t ) + t 2 1 1/2 A Ñ u(s) ds ≤ b02 () + tβ2 (), 0 Substituindo em (29), e portanto, ≤ obtem-se →0 (33) 0 A Ñ u(s)2 ds ≤ 2 b2 () + 2 tβ2 (), µ 0 µ2 (35) para todo 0 < ≤ 1 e 0 < t < T σ (), provando assim o item (ii) do lema. Aplicando a desigualdade de Hölder com p = q = 2 3 para as funções u = A1/2 Ñ u e v = A Ñ u , temos t 3 1/2 A Ñ u(s) A Ñ u(s) ds 0 =Ψ t 1/2 6 1/2 t 2 1/2 A Ñ u(s) ds A Ñ u(s) ds 0 0 ≤ Minuzzi e Lukaszczyk: Solução para equação de Navier-stokes em domínios tridimensionais finos Autores: Título curto do artigo 37 15 Observe que (iv) t 6 1/2 1/2 A Ñ u(s) ds 0 0 2 t 2 1/2 1/2 1/2 sup A Ñ u(s) A Ñ u(s) ds 0≤ s ≤ t ≤ Portanto, Ψ 2 t 2 1/2 1/2 1/2 sup A Ñ u(s) A Ñ u(s) ds ≤ 0≤ s ≤ t · t 0 0 A Ñ u(s) ds 1/2 t 2 A M̃ u(s)2 ds ≤ 2a0 ()t + µ 0 4 c8 (µ)Rn ()(1 + t). Demonstração: Da formulação fraca para M̃ , substituindo v por u, tem-se d 1/2 M̃ u, M̃ u + µ A1/2 M̃ u, A M̃ u dt b M̃ u, M̃ u, M̃ u + b Ñ u, Ñ u, M̃ u M̃ f , M̃ u . + = É possível afirmar (veja Temam (1984), Lema 1.3, pág. 162) que b M̃ u, M̃ u, M̃ u = 0, 4 e, pela desigualdade de Cauchy-Schwarz, Note que é possível tomar o supremo da função A1/2 Ñ u , pois vale (33). M̃ f , M̃ u ≤ M̃ f M̃ u . Substituindo as estimativas encontradas em (33), (34) e (35) na expressão acima, obtem-se Assim como foi feito no lema anterior para Ñ , o termo com a derivada em relação ao tempo é tal que, 22 1 1 2 antes de substituir, b0 () + 2 tβ2 () . Ψ ≤ 4 b02 () + 2 β2 () µ µ µ d d M̃ u, M̃ v = M̃ u, M̃ v , Fazendo dt dt 2 1 1 c5 (µ) = 2 max(1, 2 , ) , pois v ∈ V e não depende de t. Mas, µ µ d d conclui-se que M̃ u, M̃ u = M̃ u, M̃ u dt dt Ψ ≤ c5 (µ) b02 () + 2 β2 () b02 () + tβ2 () , d d + M̃ u, M̃ u = 2 M̃ u, M̃ u , dt dt o que prova o item (iii) e, portanto, o lema está demonsou seja, trado. d d M̃ u, M̃ u = M̃ u, M̃ u dt dt Lema 3.2 (Estimativas para M̃ u). Considerando as condi d 1 = M̃ u, M̃ u ções (FF) e (FP), suponha que 0 < q < 12 e 2 dt 2 1 d 2 = M̃ u . 2 2q 1/2 lim A u0 + | f | = 0. 2 dt →0 Então, existe 1 = 1 (µ) > 0, tal que para todo , com 0 < ≤ 1 , existem T σ () > 0 e uma constante positiva c10 (µ), independente de , a partir dos quais vale: t 2 a2 () 2α2 ()t 1/2 + (ii) A M̃ u(s) ds ≤ 0 2 4 + c6 (µ)Rn ()(1 + t); µλ1 2 1/2 = µ A1/2 µ A1/2 M̃ u, A M̃ u M̃ u . Logo, 2 α2 ( ) (i) M̃ u(t) ≤ a20 ()e−µλ1 t + 2 3 µ λ1 + c6 (µ)R4n ()(1 + t); 0 Ainda, µ2 λ1 2 2 −µλ21 t + 2α ( ) + 2 (iii) A1/2 M̃ u ( t ) ≤ a0 ( ) e µ2 λ1 4 c8 (µ)Rn ()(1 + t); 2 2 1 d M̃ u + µ A1/2 M̃ u 2 dt b Ñ u, Ñ u, M̃ u ≤ M̃ f M̃ u . Do lema 2.4, obtem-se b Ñ u, Ñ u, M̃ u 3/2 1/2 c4 Ñ u A Ñ u M̃ u 3/2 1/2 A Ñ u M̃ u c4 A1/2 u Ñ + (36) ≤ = Ciência e Natura v.37 n.1, 2015, p. 23 – 44 Ciência e Natura 38 16 3 2c24 1/2 u Ñ A A Ñ u . 2 µλ1 onde a última igualdade acima vem de (28). Substituindo em (36), 2 2 1 d u M̃ M̃ u + µ A1/2 ≤ M̃ f M̃ u 2 dt 3/2 1/2 1/2 c4 A Ñ u A Ñ u M̃ u . De (37), + 2 2 2 d M̃ f M̃ u + µλ1 M̃ u ≤ 2 dt µλ1 2 2c4 1/2 3 A Ñ u A Ñ u . 2 µλ1 A desigualdade de Poincarè, neste contexto, afirma que M̃ u ≤ 1 A1/2 M̃ u (37) , λ1 2 M̃ u(t)2 ≤ a2 ()e−µλ1 t + α () 0 µ2 λ31 2c24 t 1/2 3 A Ñ u A Ñ u ds 2 µλ1 0 ≤ e, (39) + (40) Do item (iii) do lema 3.1, + 2 M̃ u(t)2 ≤ a2 ()e−µλ1 t + α () 0 µ2 λ31 2c24 2 2 2 2 2 c ( µ ) b ( ) + β ( ) ( ) + tβ ( ) b . 5 0 0 µλ21 Para δ > 0, 2 u M̃ M̃ f A1/2 λ1 2 2 1 1/2 2δ A M̃ u + M̃ f , 2δλ21 + Aplicando a desigualdade de Gronwall, obtemos onde λ1 é o primeiro autovalor (o menor) do operador de Stokes. Assim, 2 2 d u M̃ M̃ u + 2µ A1/2 dt 1/2 2 M̃ f A M̃ u λ1 3/2 1/2 1/2 2c4 1/2 A Ñ u A M̃ u . A Ñ u λ1 (38) ≤ Seja + (41) R2n () = max(b02 (), β2 ()). Tem-se 3/2 1/2 2c4 1/2 u M̃ A Ñ u A Ñ u A1/2 λ1 2 3/2 c4 1/2 2 1/2 A Ñ u A Ñ u 4δ λ1 2 M̃ 2δ A1/2 u . b02 () + 2 β2 () b02 () + tβ2 () 2 2 2 max(b0 (), β () tβ2 ()) + b02 () 2R2n () tR2n () + R2n () ≤ + Pondo c6 (µ) = Logo, 2 2 2 d 1/2 M̃ u + 2µ A1/2 M̃ u ≤ 2δ A M̃ u dt 2 3/2 1 c4 1/2 2 2 1/2 M̃ f + A Ñ u A Ñ u 4δ λ1 2δλ21 2 2δ A1/2 M̃ u , isto é, ≤ µ Seja δ de forma que 2µ − 4δ = µ, ou seja, δ = 4 . Daí, 2 2 2 d 2 u M̃ u + µ A1/2 M̃ M̃ f ≤ 2 dt µλ1 ≤ = 2R4n ()(1 + t). 2 2 d M̃ u + (2µ − 2δ − 2δ) A1/2 M̃ u dt 2 3 c4 1/2 1 2 M̃ f + A Ñ u A Ñ u 2δλ21 2δλ21 ≤ + 4c24 c5 (µ) e substituindo em (41), µλ21 M̃ u(t)2 + + (42) ≤ a20 ()e−µλ1 t + α2 ( ) µ2 λ31 + c6 (µ)R4n ()(1 + t), o que prova o item (i) do lema. Integrando de 0 à t a expressão em (38), t 2 1/2 M̃ u(t)2 + µ u ( s ) M̃ A ds 0 2 2 M̃ f t M̃ u(0)2 + µλ21 3 2c24 t 1/2 ds. A u u Ñ Ñ A µλ21 0 ≤ + Segue que µ t 2 2 1/2 A M̃ u(s) ds ≤ M̃ u(0) 0 + Minuzzi e Lukaszczyk: Solução para equação de Navier-stokes em domínios tridimensionais finos Autores: Título curto do artigo 39 17 2α2 ()t + c6 (µ)R4n ()(1 + t). µλ21 + A partir de (37), t 2 1/2 A M̃ u(s) ds 0 ≤ a20 () 2α2 ()t + 2 2 µλ1 µ λ1 + c6 (µ)R4n ()(1 + t), provando, assim, o item (ii) do lema. Agora, para encontrar estimativas em H 1 para substituindo v por A u na formulação fraca de obtem-se d 1/2 M̃ u, M̃ A u + µ A1/2 M̃ M̃ u, A A u dt b M̃ u, M̃ u, M̃ A u + b Ñ u, Ñ u, M̃ A u M̃ f , M̃ A u . M̃ , M̃ , + 2 2 1 d 1/2 A M̃ u + µ A M̃ u 2 dt M̃ f , M̃ A u − b M̃ u, M̃ u, M̃ A u b Ñ u, Ñ u, M̃ A u . Usando o lema 2.2, 2 2 d 1/2 A M̃ u + 2µ A M̃ u dt 2 M̃ f , M̃ A u − 2b Ñ u, Ñ u, M̃ A u . (43) d dt 2 2 M̃ f µ Usando Aplicando o item (iii) do lema 2.4 à forma trilinear acima, temos 2b Ñ u, Ñ u, M̃ A u ≤ 3/2 1/2 ≤ 2c4 Ñ u A Ñ u A M̃ u 3/2 1/2 A Ñ u A M̃ u = 2c4 A1/2 u Ñ = ≤ + 3/2 1/2 1 2c4 A1/2 A Ñ u k A M̃ u Ñ u k 1/2 2 1 1/2 3/2 c4 A Ñ u A Ñ u k 2 k A M̃ u , onde a última desigualdade acima foi obtida pela deµ sigualdade de Young. A partir daí, seja k2 = 2 , isto é, 1 2 2 = µ . Então, k 2b Ñ u, Ñ u, M̃ A u ≤ ou seja, 3 2c24 1/2 A Ñ u A Ñ u µ 2 2 1/2 A M̃ u + µ A M̃ u 3 1/2 + c7 A Ñ u A Ñ u , = (46) 1/2 A M̃ u ≤ (47) 2c24 µ . 1/2 A M̃ u onde c7 (µ) = no lugar de M̃ u em (37), obtem-se ≤ 1 1/2 1/2 A M̃ u , A λ1 2 2 1 1/2 A M̃ u ≤ 2 A M̃ u . λ1 Logo, de (47), 2 2 d 1/2 M̃ u A M̃ u + µλ21 A1/2 dt 3 2 2 1/2 M̃ f + c7 (µ) A Ñ u A Ñ u . µ = (44) ≤ k = − = Novamente, usa-se aqui a desigualdade de Young e µ k2 = 2 , isto é, 12 = µ2 . Substituindo (45) e (46) em (44), Logo, (45) Ainda, 2 M̃ f , M̃ A u ≤ 2 M̃ f M̃ A u 1 2k M̃ f M̃ A u k 2 2 1 2 k M̃ f + 2 M̃ A u k 2 µ 2 2 M̃ f + M̃ A u . µ 2 = Procedendo analogamente aos cálculos iniciais feitos no lema 3.1, mas dessa vez para M̃ , encontra-se as seguintes relações: 2 d 1 d 1/2 (i) M̃ u, M̃ A u = A M̃ u ; dt 2 dt 2 1/2 (ii) µ A1/2 = µ A M̃ u . M̃ u, A M̃ A u 2 µ A M̃ u . 2 ≤ Com base na desigualdade de Gronwall, e procedendo analogamente aos cálculos que levam a desigualdade em (40), tem-se 2 1/2 A M̃ u 2 ≤ a20 ()e−µλ1 t + 2α2 () µ2 λ1 + c8 (µ)R4n ()(1 + t), provando, assim, o item (iii) do lema. Integrando de 0 à t a expressão em (47), prova-se o item (iv). 3.2 Comportamento de T σ () A partir de agora, demonstramos o resultado principal deste trabalho, isto é, o intervalo maximal de existência da solução forte das equações tridimensionais de Navier-Stokes, quando o domínio é considerado fino. Na seção anterior, foram demonstrados dois lemas com relação as estimativas para M̃ e Ñ . O lema 3.1 vale Ciência e Natura v.37 n.1, 2015, p. 23 – 44 Ciência e Natura 40 18 para qualquer condição de fronteira a ser considerada. Entretanto, o lema 3.2 faz referência apenas para as condições (FF) e (FP). Esta distinção nas estimativas para M̃ decorre da definição da mesma; por exemplo, sabese que M̃ u = 0 para (DD) e (DP), isto é, não faz sentido calcular estimativas neste caso. O primeiro resultado diz respeito as condições de fronteira (DD) e (DP). Teorema 3.2. Suponha que 1/2 2 2 lim A u0 + | f | = 0. →0 u ∈ C0 ([0, ∞); V ) ∩ L2 (0, T, D ( A )) , 2 2 R20 () = A1/2 u0 + | f | , a desigualdade acima implica que σ ≤ 1, o que contradiz a suposição inicial de que σ > 1. Portanto, Demonstração: Como definido inicialmente para as condições de fronteira (DD) e (DP), tem-se que M̃ u ≡ 0. Deste modo, Ñ u = u, onde u ∈ L2 (Ω ) e, portanto, as estimativas encontradas no lema 3.1 valem também para u. Aplicando o item (i) do referido lema para a função u, obtem-se que 2 2 22 − 2µt2 1/2 u e + | f |2 A u(t) ≤ A1/2 0 µ2 Suponha que T σ () < ∞. Para < √µ , 2 (48) vale que 2 22 1/2 2 − 2µt2 2 + 2 | f |2 ≤ A1/2 u A u0 e 0 + | f | , µ ≤ 1. Daí, 2 2 1/2 2 A u(t) ≤ A1/2 u0 + | f | . 0≤ t ≤ T σ ( ) 2 1/2 A u(t) = σR20 (). (49) 2 2 Mas, por (49), A1/2 u0 + | f | é uma cota superior para 2 a função A1/2 u ( t ) . Logo, 2 2 σR20 () ≤ A1/2 u0 + | f | , √µ 2 √ µ 4c4 1/2 2σR0 () ≤ , 2 para 0 < < 1 . Vale salientar que, para t > 0 em (48), fazendo tender a zero, tem-se que 2 22 1/2 2 − 2µt2 2 e f u ≤ lim u + lim A1/2 | | A t 0 = 0, →0 →0 µ2 2 1/2 2 lim A1/2 ut ≤ 0 ⇒ lim A ut = 0, →0 →0 a partir do qual se conclui que lim ||u || = 0, →0 isto é, a norma em H 1 da solução u converge para zero quando tende a zero, desde que t > 0. Com relação as condições (FF) e (FP), demonstra-se que T σ () = ∞ em dois passos. Primeiro, tem-se o seguinte resultado: Proposição 3.2. Considere as condições de fronteira (FF) e (FP) e suponha que 2 2 lim q A1/2 u + f (50) | | 0 = 0, →0 Observe que, de (25) e (26), sup T σ () = +∞, , 1 , onde 1 satisfaz ou seja, ∀ t > 0, para todo T > 0. µt 22 Como, de (24) com as condições de fronteira (DD) e (DP) existe para todo tempo, isto é, T = ∞ e − √µ . 2 quando < min Então, existe 1 = 1 (µ) tal que para 0 < < 1 , a solução forte u de ut + u · ∇u − µ∆u + ∇ p = f , em Ω × (0, ∞) div u = 0, em Ω × (0, ∞) u( x, 0) = u0 ( x ), em x ∈ Ω , pois e para < para algum 0 < q < 1. Então, lim 2−2q T σ () = ∞. →0 Demonstração: Dos lemas 3.1 e 3.2, tem-se 2 µt 22 2 − 2 2 (i) A1/2 Ñ u ( t ) ≤ b0 ( ) e 2 + 2 β ( ) µ para 0 ≤ t < T σ () e 2 2 −µλ21 t + 2α ( ) 2 (ii) A1/2 M̃ u ( t ) ≤ a0 ( ) e 2 µ λ1 + c8 (µ)R4n ()(1 + t). Minuzzi e Lukaszczyk: Solução para equação de Navier-stokes em domínios tridimensionais finos Autores: Título curto do artigo 41 19 Somando as duas expressões acima e usando o item (ii) do lema 2.1, temos 2 1/2 A u(t) ≤ b02 ()e + α2 ( ) µ2 λ1 µt − 2 2 + 22 µ2 β2 () + a20 ()e −µλ21 t + c6 (µ)R4n ()(1 + t). Fixando σ de modo que 2 1 σ = 4 max 1, 2 , 2 3 µ µ λ1 (51) , − µt <1 σ b02 22 2 α2 ( ) 2 −µλ1 t β ( ) + a ( ) e + 0 µ2 λ3 µ2 1 3σ 4 ≤ = (53) e, substituindo em (53), ≤ c6 (µ) q R20 () 1−q R20 ()(1 (54) R20 () Não é difícil ver que = 0. De fato, se esta não 2 fosse válida, isto é, se R0 () = 0, de (24) | f |2 = 0. Assim, f = 0 e A1/2 u0 = 0 q.s. em Ω . Daí u0 = 0 q.s. o que implicaria u(t) = 0, uma solução trivial a qual não interessa. Logo, R20 () = 0 e, portanto, de (54), 3σ 4 ≤ c6 (µ) q R20 () 1−q (1 + T σ ()). 1− q n , ∀ n ≥ 1. ≤ c6 ( µ ) q n R20 (n ) 1− q n 1+ L1 1− q n Mas 0 < q < 1 e n < 1, daí, 1 − q > 0 e n 3σ 4 3σ 4 . < 1. Logo, q ≤ c6 (µ) n R20 (n ) (1 + L1 ) ≤ q L2 n R20 (n ), (57) onde L2 = L2 (µ) = c6 (µ)(1 + L1 ). Fazendo n tender ao infinito e usando a hipótese (50), o lado direito da expressão (57) tende a zero e, portanto, σ = 0, uma contradição com a escolha de σ em (52). Logo, vale (56) e a proposição está demonstrada. Agora, mostra-se que o intervalo maximal de existência da solução forte das equações de Navier-Stokes é infinito, quando o domínio é fino. Mais precisamente, 2 1/2 A u( T σ ()) = σR20 (), L1 ≤ L1 , isto é, para 0 ≤ t < T σ (). Agora, suponha que T σ () < ∞. Logo, de (26) 1/2 2 A u0 = 0 e n) 1− q a partir do qual + T σ ()). e n Voltando na expressão (55), Note ainda que, como R2n () = max(b02 (), β2 ()), temse R2n () ≤ R20 () =⇒ R4n () ≤ R40 (), 2 σ 1/2 A u(t) ≤ R20 () + c6 (µ)R4n ()(1 + t) 4 σ 2 R0 () + c6 (µ)R40 ()(1 + t) 4 σ 2 q 2 R0 () + c6 (µ) R0 () 1−q R20 ()(1 + t), 4 1− q σ T ( 1 n T σ ( n ) ≤ Substituindo em (51), 2 σ 1/2 A u(t) ≤ R20 () + c6 (µ)R4n ()(1 + t). 4 3σ 2 R () 4 0 lim n = 0, n→∞ ≤ <1 (56) Suponha que a expressão acima não seja verdade, ou seja, existe uma constante L1 > 0 tal que para todo δ > 0, tem-se > 0 com 0 < < δ e 1−q T σ () ≤ L1 . 1 Sendo assim, tome δ = , n ≥ 1. Então, existe uma n sequência (n )n≥1 com pois 0 < < σ σ σ σ + β () + a20 () + α2 () = R20 () . 4 4 4 4 4 2 lim 1−q T σ () = ∞. →0 (52) e, com isso, observe que b02 () e 22 + Afirma-se que (55) Teorema 3.3. Suponha que 2 2 u + f lim 2q A1/2 | | 0 = 0, →0 (58) para algum 0 < 2q < 1. Então, existe 2 = 2 (µ, q, ω ) tal que para 0 < < 2 , a solução forte u de ut + u · ∇u − µ∆u + ∇ p = f , em Ω × (0, ∞) div u = 0, em Ω × (0, ∞) u( x, 0) = u0 ( x ), em x ∈ Ω , com as condições de fronteira (FF) e (FP) existe para todo tempo, isto é, T = ∞ e u ∈ C0 ([0, ∞); V ) ∩ L2 (0, T, D ( A )) , para todo T > 0. Ciência e Natura v.37 n.1, 2015, p. 23 – 44 Ciência e Natura Demonstração: Seja 2 M̃ u K2 = A1/2 0 + onde 8 µ2 λ 1 42 20 M̃ f 2 + B2 , 2 2 B2 = A1/2 Ñ u0 + Ñ f . Observe que, substituindo a expressão acima em K2 , aplicando o item (ii) do lema 2.1 e a hipótese (58) temos 2 2 q 2 q 1/2 lim K = lim A u0 + | f | →0 →0 = 0 (59) Agora, escolhe-se 2 = 2 (µ, λ1 , q) satisfazendo (i) 0 < 2 < 1 ; 4 onde t ≤ t < 2t . Assim, usando as condições satisfeitas por 2 , 2 1 1 1/2 A Ñ u(t) ≤ b02 + β2 () 4 8 1 1 1 = b02 + + β2 ( ) 8 8 8 1 1 ≤ B2 + B2 8 8 1 2 B , = 4 ou seja, 2 1 1/2 A Ñ u(t) ≤ B2 , 4 para t ≤ t < 2t . Agora, usando o item (iii) do lema 3.2, isto é, 2 1/2 A M̃ u(t) (ii) Para 0 < ≤ 2 , q K2 ≤ 1; 1 − µλ1 1 22 e (iii) 2 ≤ , e 2(1−q) ≤ 8 µ 4 1 1 16c4 (µ) max 1, 3 q ≤ ; µ 4 µ Note que o item (ii) decorre de (59) e, no item (iii), o lado esquerdo das desigualdades tendem a zero a medida que se aproxima de zero. Pela proposição 3.2, o lado esquerdo da expressão em (iv) tende ao infinito, tornando válido tal item. Sendo assim, está bem definido este 2 . Lembrando o item (iii) do lema 3.1, pode-se reescrever tal estimativa com os dados acima, isto é, t 3 1/2 A Ñ u(s) A Ñ u(s) ds ≤ 0 c5 (µ) b02 () + 2 β2 () b02 () + tβ2 () ≤ c5 (µ) 2 B2 + B2 tB2 + B2 = c5 (µ)B4 2 + 1 (1 + t) ≤ 1 4 max 1, 3 B4 (1 + t) . µ µ Defina, para 0 < ≤ 2 , t = 2( q −1) . Do lema 3.1, item (i), e como e − µt 22 ≤e − µt 22 ≤ b02 ()e − µt 22 2α2 () µ2 λ1 + c8 (µ)R4n ()(1 + t), (62) e recordando que R2n () = max(b02 (), β2 ()), obtem-se (iv) Para 0 < ≤ 2 , 2−2q T σ () > 4. 2 1/2 A Ñ u(t) 2 ≤ a20 ()e−µλ1 t + (61) + 22 2 β (), (60) µ2 , onde t ≤ t < 2t , vale que 2 µt 22 − 1/2 A Ñ u(t) ≤ b02 ()e 22 + 2 β2 (), µ + 2 2 2α2 () 1/2 A M̃ u(t) ≤ a20 ()e−µλ1 t + 2 µ λ1 q 2 2 1− q c(µ) B B (1 + 2t ), (63) 1 16c4 (µ) max 1, 3 . para t ≤ t < 2t , onde c(µ) = µ µ Usando as condições satisfeitas por 2 , tem-se 1 2 K e 4 1 ≤ K2 . 4 2 a20 ()e−µλ1 t ≤ 2α2 () 1 ≤ K2 8 µ2 λ1 (64) Além disso, observe que q B2 ≤ q K2 ≤ 1 e portanto, 3 2 B . c(µ) q B2 B2 1−q (1 + 2t ) ≤ (65) 4 Substituindo (65) e (64) em (63), 2 1/2 A M̃ u(t) ≤ 5 2 K , 4 (66) para t ≤ t < 2t . Somando as expressões (66) e (61), novamente aplicando o item (ii) do lema 2.1, 2 3 2 1/2 K A u(t) ≤ 2 Sabe-se que a norma de uma aplicação é uma função contínua. Isto vale também para a norma ||·|| . Posto isso, calculando o limite quando t tende à t , para a 2 função A1/2 u ( t ) , tem-se 2 lim A1/2 u(t) t→t = lim ||u(t)||2 t→t Minuzzi e Lukaszczyk: Solução para equação de Navier-stokes em domínios tridimensionais finos Autores: Título curto do artigo 43 21 = ||u(t )||2 2 = A1/2 u (2t ) , = para 22(q−1) ≤ t < 32(q−1) . Logo, e como segue que 2 u ( t ) lim A1/2 t→t 2 1/2 A u(2t ) ≤ ≤ 2 2 A u(t) 3 2 K , 2 3 2 K . 2 A desigualdade de Gronwall para o intervalo t0 ≤ t < T σ () faz com que as expressões (60) e (62) sofram alguma mudança. Sendo assim, temos + µ ( t − t0 ) 2 1/2 22 e A Ñ u(t0 ) ≤ 1 2 − B e 2 − ≤ 22 2 β ( ), µ2 com t0 ≤ t < T σ (). Também 2 1/2 A M̃ u(t) ≤ + 2α2 () µ2 λ1 µ ( t − t0 ) 22 22 + 2 β2 ( ), µ 2 2 e−µλ1 (t−t0 ) A1/2 M̃ u ( t0 ) + c8 (µ)R4n ()(1 + t − t0 ). ≤ + 1 2 −µλ2 (t−t0 ) 2α2 () 1 + 2 K e 2 µ λ1 c8 (µ) q B2 B2 1−q (1 + t − t0 ), com t0 ≤ t < T σ (). Tome, portanto, t0 = 22(q−1) . Assim como feito em (66) e (61), obtêm-se 2 1 2 1 2 1/2 B + B A Ñ u(t) ≤ 8 8 1 2 B , = 4 e 2 1 2 1 2 1 2 1/2 K + K + K A M̃ u(t) ≤ 8 8 4 1 2 1 2 B + K 4 2 1 2 1 2 K + K 4 2 3 2 K , 4 para 22(q−1) ≤ t < 32(q−1) , o que implica T σ () > 32(q−1) . Analogamente, para t0 = 32(q−1) , tem-se 2 2 A u(t) ≤ 3 2 K , 4 para 32(q−1) ≤ t < 42(q−1) , a partir do qual T σ () > 42(q−1) . Repetindo este argumento n vezes, concluí-se que T σ () > n2(q−1) , ∀ n ≥ 1. Portanto, T σ () = +∞ para 0 < ≤ 2 , ou seja, o intervalo maximal de existência da solução forte para o sistema de equações de Navier-Stokes em domínios tridimenisonais fino é infinito. 4 De (67), 2 1/2 A M̃ u(t) ≤ = e, por (67), 2 1/2 A Ñ u(t) 2 2 1/2 = A1/2 Ñ u ( t ) + A M̃ u ( t ) ≤ O objetivo agora é usar indução. Suponha que existe um tempo t0 satisfazendo 2 1 1/2 A Ñ u(t0 ) ≤ B2 e 2 2 1 1/2 (67) A M̃ u(t0 ) ≤ K2 . 2 2 1/2 A Ñ u(t) 1 2 K , 2 Conclusões O estudo sobre as equações de Navier-Stokes é importante para a matemática não somente pelo seu amplo campo de aplicações, mas para melhor entendimento e desenvolvimento de teorias no campo das equações diferenciais parciais. Este trabalho teve como objetivo compilar resultados que levaram ao estudo do intervalo maximal de existência da solução das equações de Navier-Stokes em domínios tridimensionais finos do tipo Ω = ω × (0, ), com ω ⊂ R2 e ∈ (0, 1). O principal resultado obtido neste artigo depende do teorema clássico de existência de soluções para domínios limitados quaisquer, o qual garante, com certas hipóteses, a existência de solução fraca. Restringindo os dados iniciais, tal teorema garante também a existência de uma solução única, denominada solução forte, para um tempo T > 0 que depende do domínio, dos dados iniciais e da viscosidade. Com isso, podemos concluir que em domínios finos, dependendo de uma relação entre os dados iniciais, este tempo T é infinito, ou seja, o intervalo maximal de existência de solução forte para as equações de Navier-Stokes é infinito. Ciência e Natura v.37 n.1, 2015, p. 23 – 44 Ciência e Natura Referências Adams, R. A., Fournier, J. J. (2003). Sobolev spaces, vol 140. Academic press. Brezis, H. (1983). Analyse fonctionelle, vol 5. Masson. Chorin, A. J., Marsden, J. E. (1990). A mathematical introduction to fluid mechanics, vol 2. Springer New York. Evans, L. (2010). Partial Differential Equations. Graduate studies in mathematics, American Mathematical Society. Foias, C., Manley, I., Rosa, R., Temam, R., Mayer, M. E. (2002). Navier-Stokes equations and turbulence, vol 55. Taylor & Francis. Fox, R., McDonald, A. (1988). Introdução a mecânica dos fluidos. 3a . Ed Rio de Janeiro: Ed Guanabara. Kreiss, H. O., Lorenz, J. (1989). 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