1Doutor, é câncer?

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Doutor, é câncer?
A história de Marília
— Doutor, é câncer?
Dez dias antes desta pergunta, Marília percebeu um “caroço” no seio esquerdo. Além do medo terrível do que poderia ser, sentiu na mesma hora um grande remorso. Fazia
mais de dois anos que tinha ido ao ginecologista. Sabia que
tinha se descuidado. Culpou-se em voz alta enquanto examinava suas mamas diante do espelho – Mais de dois anos...
Sua estúpida! Por que você não se cuidou direito? E agora? E se
for câncer?
Marcou consulta com seu médico para o dia seguinte.
Ele não tinha horário, mas deu um jeito de atendê-la porque
percebeu pelo telefone o desespero de Marília, uma de suas
mais antigas clientes. Eles tinham a mesma idade – 35 anos.
Quando ambos tinham 25 anos, ele no final da residência
médica, ela recém-casada, conheceram-se e desenvolveram
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uma boa relação médico-paciente. Ele já havia feito duas cesarianas nela e mais de dez exames ginecológicos de rotina,
todos normais. Ela tinha confiança absoluta nele, tanto que já
havia indicado suas irmãs e amigas para se consultarem com
ele. O dr. Marcos era um bom profissional, educado, ético e
bem preparado.
Na primeira consulta ele também percebeu o “caroço”, não
conseguiu esconder uma certa preocupação, mas não arriscou
palpites. Procurou tranquilizar sua nervosa paciente, no que
não teve sucesso. Ela saiu chorando do consultório porque
seu médico não lhe disse o que ela desejava tanto ouvir – Não
é nada, Marília, volte no ano que vem. Levou dois pedidos de
exames – ultrassom e mamografia. Dois dias depois, de volta
ao consultório com os resultados, desta vez com o marido,
ela recebeu a notícia de que precisaria ser submetida a uma
biópsia porque os exames deixavam dúvidas. Dr. Marcos
marcou a pequena cirurgia para o dia seguinte, não sem antes
responder pacientemente às inúmeras perguntas e dúvidas
do casal. A tensão dentro do consultório foi crescendo até o
último diálogo entre Marília e o dr. Marcos:
— Parece câncer, Marília, mas pode não ser. Mesmo que seja,
você tem boas chances de cura. Não fique desesperada.
— Não vou deixar que você arranque meu seio! Prefiro morrer a ser mutilada!
Ela começou a chorar desconsoladamente. Seu marido
conseguiu acalmá-la e levá-la para casa. À saída, desculpou-se
com o doutor pelo comportamento da esposa e pelo longo
tempo que haviam tomado dele naquele dia.
— Doutor, é câncer? – perguntou Marília no dia em que
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veio ao consultório junto com o marido para retirar os pontos
e receber o resultado da biópsia, logo depois de um nervoso
“boa tarde, dr. Marcos”. Ela sempre o tratava por você, nunca o chamava de senhor ou doutor, mas naquele momento
estava diferente, mais agressiva e até com um pouco de raiva
dele. Não é raro que os pacientes se virem contra seus médicos, especialmente aqueles que descobrem portar uma doença
séria. Não raras vezes projetam neles sua raiva e trocam de
profissional.
— Infelizmente é, Marília. O resultado foi revisado e confirmado por dois patologistas muito experientes. É câncer de
mama.
— Eu tinha certeza desde o começo, desde que percebi o “caroço”. E agora, qual o próximo passo?
— O seu caso não é simples, Marília. O tumor, além de
ser relativamente grande, tem características bastante agressivas,
segundo os patologistas. Se não formos também agressivos no tratamento, você talvez não fique curada. Minha proposta é clara:
faremos rapidamente alguns exames adicionais para estadiar a
doença, isto é, para avaliar todos os outros órgãos e saber se há
câncer fora do seio. Depois, se os resultados forem normais, eu a
operarei para remover parte do seio, talvez a quarta parte dele,
talvez mais, e também os gânglios da axila esquerda. Na mesma
cirurgia farei as duas coisas. Dentro de alguns meses, por meio de
uma cirurgia plástica, seu seio será restaurado e ficará mais ou
menos com a aparência que tem hoje. Você não ficará mutilada
como temia. Continuará a ser a mulher lindíssima que sempre
foi. Poderá usar biquíni sem que ninguém perceba qualquer defeito.
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— Só a cirurgia e mais nada? — perguntou ela.
— Dependendo da análise do material retirado, principalmente os gânglios, você terá que se submeter à radioterapia e,
talvez, quimioterapia. Eu diria que da radioterapia você não
poderá ficar livre, mas da químio, quem sabe?
— Marcos, em que consistiriam exatamente a radioterapia e
a quimioterapia no meu caso? Dê-me uma ideia mais precisa do
que vou enfrentar, mas, por favor, fale de um jeito que eu entenda — disse Marília com um quase sorriso.
— Não sei ainda se você vai passar mesmo por isso, Marília,
mas vamos lá. Você perguntou e tem o direito de saber. Vou
tentar explicar da melhor maneira possível. Uma explicação
bem melhor que a minha poderá ser dada pelos especialistas
em outra oportunidade. A radioterapia é um tratamento feito
por um especialista no assunto, o radioterapeuta, e deve ser
individualizada para cada paciente. Depois de avaliá-la, ele
vai decidir se você precisará da radioterapia ou não. Mas isto
só depois da recuperação da cirurgia, digamos um mês depois
pelo menos. Basicamente, no tratamento do câncer de mama,
são feitas aplicações radioativas externas na região operada, isto
é, parte do tórax, parte do pescoço e parte do braço, para incluir
a axila. Não é necessário que você fique internada. Todos os
dias de manhã, menos sábados e domingos, durante algumas
semanas, você irá ao hospital, fará o tratamento e retornará para
casa antes do almoço. As sessões de radioterapia são rápidas e não
causam qualquer dor. A radioterapia queima os tecidos bons e
o tecido canceroso igualmente. Como as células cancerosas são
mais frágeis do que as células normais, pelo menos neste tipo de
câncer que você tem, elas morrem com mais facilidade do que as
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células normais sob o efeito da radiação. Naturalmente, os tecidos
bons sofrem um pouco. O pulmão esquerdo, o coração, o braço
esquerdo e a pele serão afetados e poderão apresentar complicações
futuras. A radioterapia é, portanto, um tratamento localizado
na região do câncer. Já a quimioterapia é um tratamento
sistêmico, isto é, envolve todos os órgãos e sistemas do organismo.
A quimioterapia se faz com drogas administradas por boca,
por injeções intramusculares e endovenosas. São várias drogas
ao mesmo tempo. Os remédios são muitos fortes e promovem
a morte das células, tanto normais como cancerosas. Como as
células cancerosas morrem mais depressa, a quimioterapia tem
o objetivo de atingir as células malignas espalhadas por todo o
organismo. O tratamento é feito por ciclos, isto é, uma grande dose
de vários remédios e depois um período de algumas semanas sem
remédios para que os tecidos normais se recuperem; depois outro
ciclo, outro e assim por diante. Cada ciclo dura três semanas,
em média. Depois dos ciclos principais, outros quimioterápicos
podem ser usados de modo contínuo ou a intervalos maiores. A
quimioterapia é muito complicada, mesmo para mim. Muda
toda hora. O risco da quimioterapia é que ela mate um número
muito grande de células normais, como as células que produzem
o sangue, na medula óssea, causando danos graves ao organismo.
As doses dos medicamentos precisam ser adaptadas ao tamanho
do paciente e também à sua sensibilidade. A quimioterapia é
planejada e acompanhada também por um especialista, que é o
oncologista clínico. Geralmente requer alguns dias de internação
por mês durante alguns meses. As reações do organismo são fortes,
os cabelos caem, ocorrem anemia e mal-estar temporariamente,
e depois tudo volta ao normal. Outros tratamentos modernos
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são as chamadas terapias de células-alvo e a imunoterapia. Tudo
isso é muito complicado e não vejo necessidade de falarmos agora
sobre isso.
Depois de alguns instantes de um silêncio total no consultório, muito constrangedor para todos, o marido de Marília
falou pela primeira vez:
— Meu bem, a coisa não é tão feia assim. Vamos enfrentar
isso juntos e vamos vencer.
Marília não abriu mais a boca. Estava chocada. Seu marido
e o médico discutiram detalhes, marcaram a data da internação e acertaram o preço. Terminada a consulta, ela só teve
forças para se levantar e dizer:
— Tchau, dr. Marcos. Grata por tudo.
Naquele dia Marília começou a morrer. Tornou-se uma
mulher triste e amargurada. Entregou-se à doença. Perdeu o
prazer de viver. Envelheceu muito rapidamente. Enfrentou
a cirurgia, que foi um sucesso, mas não quis fazer a cirurgia
plástica depois de alguns meses, conforme o desejo de seu marido e do dr. Marcos, quando havia ainda esperança concreta
de cura. O câncer reapareceu nos pulmões e nos ossos depois
de um ano da cirurgia. Ela passou, sem reclamar, por radioterapia, quimioterapia e imunoterapia, mas o câncer progrediu.
Ela faleceu depois de dois anos de luta e enorme sofrimento,
aos 37 anos. Morreu de câncer generalizado.
A história de Marília poderá ser a história de muitos de
nós. Atualmente, em quase todo o mundo, de cada três pessoas que morrem de causas naturais, isto é, não violentas, uma
morre de câncer. Câncer de pele, mama, próstata, pulmão,
estômago, intestino, pâncreas, esôfago e todos os outros. Há
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uma infinidade de diferentes tipos de câncer. Todos podem
matar. Todos podem ser curados.
A história de Pedro
— Doutor, é câncer?
— É sim, Pedro. É câncer mesmo, confirmado. Mas é um
câncer de próstata daqueles pouco agressivos, com alta chance de
cura. Você vai ficar bom.
— Eu ouvi dizer que o tratamento do câncer de próstata deixa o homem sexualmente impotente. Eu não quero ficar assim.
Tenho só quarenta e nove anos e prefiro viver alguns poucos anos
doente e potente do que muitos anos impotente e curado.
Pedro estava acompanhado da esposa, que nesse momento
interrompeu a conversa:
— O que é isso, Pedro? Que conversa é essa? Nossa vida não
é só sexo. Temos uma família bonita, gostamos um do outro e eu
vou aceitar você do jeito que você é e do jeito que você ficar depois
do tratamento, potente ou impotente. Não fale uma bobagem
assim. A vida foi boa para você até agora. Não seja ingrato!
— Sua esposa tem razão Pedro, e você está mal informado.
O tratamento do câncer de próstata, que ainda não escolhemos,
pode acarretar a impotência, mas geralmente só em trinta ou
quarenta por cento dos casos. Os demais sessenta ou setenta por
cento permanecem potentes. E mesmo os que ficam impotentes,
podem recuperar a potência com o tempo, geralmente depois de
um ou dois anos, ou podem ser tratados com sucesso por meio
de drogas, injeções e cirurgias. A impotência pode ser superada em quase todos os casos. Se seu grande medo é esse, fique
tranquilo porque a impotência pode ser vencida pela Urologia
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moderna. Você não vai ficar impotente para o resto da vida, eu
lhe asseguro.
— Desculpe meu jeito de falar, doutor, mas eu fico muito ansioso com as sequelas do tratamento, principalmente com a impotência sexual. Outro dos meus medos é a incontinência urinária.
Conheço gente no meu condomínio que usa fralda permanentemente, dia e noite, depois da cirurgia da próstata. Não quero
ficar assim. Já que o senhor falou em escolha de tratamento, quais
são suas propostas para o meu caso e quais os riscos de sequelas?
Pedro era um dentista bem sucedido na profissão, casado
com uma dentista e pai de dois filhos adolescentes. Era um
atleta amador e fazia seus exames de próstata desde seus
quarenta e dois anos de idade. Sabia que era do grupo de
risco porque seu pai havia morrido de câncer de próstata. Ele
sabia perfeitamente que os filhos de tais pessoas correm riscos
aumentados e que devem fazer exames de rotina mais cedo,
antes dos quarenta e cinco anos. Durante vários anos ele se
submeteu ao toque retal e ao exame de sangue para dosagem
do PSA (antígeno prostático específico), mas no mês anterior
seu urologista detectou, durante o exame de toque, um nódulo
e pediu uma biópsia, que acabou por confirmar o diagnóstico
de câncer de próstata inicial, com boa chance de cura.
— Pedro, você tem que escolher o tratamento que você quer e
o tratamento que você pode pagar. Há várias formas de cirurgia
aplicáveis no seu caso. Primeiramente, a cirurgia convencional,
que se faz há trinta anos da mesma maneira, por meio de um
corte do umbigo para baixo. A próstata e as vesículas seminais são
removidas, e a uretra é suturada na bexiga. Você fica com sonda
por duas semanas e depois volta ao trabalho e ao esporte. Pode ficar
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usando fralda por alguns meses, até que a continência se restabeleça
totalmente. A chance de incontinência permanente é menor do que
dez por cento. A potência sexual costuma voltar depois de vários
meses e ela pode ser antecipada por meio de remédios ou de injeções
no pênis, coisa fácil de aprender. Outra opção é a cirurgia feita pelo
períneo, em que se faz um pequeno corte entre o escroto e o ânus, com
a qual eu mesmo não tenho muito experiência, mas que funciona
bem, tanto quanto a outra. Há também a cirurgia laparoscópica,
por meio de pequenos orifícios no abdome, e a cirurgia robótica,
a que está na moda e que só pode ser feita em poucos lugares do
país atualmente. Esta última é a mais cara de todas e ainda não
mostrou vantagens claras sobre as outras formas de operar sobre as
quais eu lhe falei agora. Eu, pessoalmente, estou habilitado a lhe
oferecer a cirurgia convencional, a chamada prostatectomia radical
retropúbica, e a cirurgia laparoscópica. Caso você opte por fazer
uma das outras formas de cirurgia, eu prefiro encaminhá-lo para
outros colegas. Fora as cirurgias, há várias formas de radioterapia,
que são aplicadas pelo radioterapeuta, não por mim. Há a
radioterapia externa conformal, que é aplicada durante mais ou
menos um mês e meio, por meio de uma máquina enorme dentro
de um instituto especializado. Você vai lá de segunda a sexta-feira
e recebe durante poucos minutos uma dose de radioterapia e pode
continuar a trabalhar normalmente. Pode haver sequelas também,
como impotência e incontinência, além de complicações no reto
e na bexiga, que são parcialmente atingidos pela radioterapia.
Outra forma de tratamento é a braquiterapia de baixa taxa de
dose, em que sementes de iodo radioativo são inseridas na sua
próstata e ficam queimando a próstata de dentro para fora durante
algumas semanas. Essa forma de tratamento preserva um pouco
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mais a potência sexual e tem bons resultados quanto à continência
urinária, mas é cara no Brasil porque as sementes são importadas.
Há ainda outras formas de radioterapia, mas isso teria que ser
explicado por um radioterapeuta, porque eu não conheço todos os
detalhes, nem os custos.
Pedro ficou atrapalhado com a explicação, estava com a
cabeça cheia de dúvidas, tinha mil perguntas para fazer, estava
fazendo força para se controlar e aparentar certa frieza, mas
não aguentou. Começou a chorar e foi abraçado pela esposa
ali na frente de seu médico. Depois de alguns instantes de
silêncio, ele se recompôs e disse:
— Desculpe, doutor, mas eu não estava preparado para enfrentar um câncer. Não sinto absolutamente nada e estou com
medo do que vai me acontecer. Vou tentar me recuperar nos próximos dias, vou procurar a opinião de um radioterapeuta e volto aqui para tomarmos, juntos, uma decisão. Obrigado pelo seu
tempo e sua gentileza de me dar todas essas explicações.
Alguns dias depois, de novo com a esposa no consultório
de seu urologista, Pedro marcou a cirurgia. Preferiu a cirurgia
laparoscópica porque se convenceu de que era a melhor opção
para ele naquele momento e dentro de suas possibilidades
financeiras. Foi operado com sucesso e ficou usando fralda
por apenas uma semana. Sua potência sexual voltou depois
de quase um ano e ele ficou curado. Ficou diferente, segundo
sua família e amigos. Mudou o estilo de vida e começou a dar
mais valor a coisas para as quais ele não ligava antes. Mudou
para melhor, segundo sua esposa. O câncer, que foi vencido, o
transformou numa pessoa mais madura, mais sensível e mais
humana.
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A história de Alfredo
Alfredo era um jovem de dezenove anos, que cursava o segundo ano da faculdade de Medicina. Cheio de vida, gostava
de música e de esportes. Destacava-se na turma da faculdade por suas habilidades e sua simpatia. Alfredo era um rapaz
muito especial, transpirava alegria e vontade de viver.
Um dia, ele percebeu que seu testículo esquerdo estava duro
e aumentado. Pensou em câncer e ficou muito preocupado.
Para não preocupar desnecessariamente a família, não contou
nada e procurou um de seus professores na faculdade. Não
demorou nem uma semana e ele foi operado com o diagnóstico
de câncer de testículo. O médico explicou a ele e a seus pais
que o câncer de testículo acomete principalmente jovens
como ele, sadios, esportistas, cheios de vida. E assegurou a
todos que ele ficaria curado.
— Alfredo, o câncer que você tem é relativamente raro e acomete somente moços como você. A mídia tem mostrado sempre os
atletas profissionais que tiveram câncer e voltaram a ser atletas
pouco tempo depois. O maior exemplo é o do norte-americano
Armstrong, que tinha um câncer de testículo muitíssimo pior do
que o seu, e que foi o maior ciclista profissional que o mundo já
conheceu até hoje. E tudo isso depois de enfrentar o câncer. Você
vai ficar curado e vai ter sua vida de volta. Não tenha uma atitude negativa diante desta crise porque você vai enfrentar coisas
piores na sua vida. Os tratamentos modernos para o câncer de
testículo, especialmente o seu, que é inicial, curam quase todos os
casos. Trate de ter uma atitude positiva. Você vai vencê-lo.
A cirurgia foi simples e Alfredo voltou para a faculdade
três dias depois. Não era mais o mesmo. Havia perdido sua
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alegria e não participava mais das atividades, nem se aplicava
tanto aos estudos. Entrou em depressão. Quando ficou sabendo que teria que enfrentar várias sessões de quimioterapia
durante os meses seguintes, porque seu tipo de câncer assim
o exigia, preferiu trancar a matrícula na faculdade. Tinha vergonha de aparecer careca diante dos colegas e tinha uma forte
ideia de que morreria logo. Seus pais o levaram a um psiquiatra e ele começou a tomar antidepressivos e a fazer sessões de
psicanálise três vezes por semana.
Com o passar dos meses, seu tratamento terminou e ele
ficou aparentemente curado e sem sequelas físicas permanentes. Precisou guardar amostras de seu esperma num banco de
esperma porque eventualmente ficaria infértil, o que acabou
não acontecendo. Com o apoio da família e dos médicos, ele
conseguiu voltar para a faculdade no ano seguinte e retomou
parte de suas atividades esportivas. Não voltou para a música.
Não conseguiu pegar mais seu violão. Era como se ele não
fosse o mesmo de antes. Havia de fato mudado. Mesmo com
o uso de antidepressivos e com a ajuda do psicanalista, além
de todo o apoio de amigos, da namorada e da família, ele
nunca mais foi o mesmo. A vida, a seu ver, passou de colorida
para preto e branco depois do câncer.
Somente muitos anos depois Alfredo conseguiu superar as
graves sequelas psicológicas que o câncer havia trazido para
sua vida e conseguiu se libertar dos antidepressivos. Quando
nasceu seu primeiro filho, doze anos depois do câncer, voltou
a tocar seu violão e a interessar-se pela música. Recuperou as
cores da vida em todas as suas nuances e venceu finalmente o
câncer, física e emocionalmente.
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