Capítulo 03 - Desenvolvimento pré-natal e nascimento

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“O desenvolvimento da criança e do adolescente” Michael Cole & Sheila Cole – Ed Artmed, 2004
CAPÍTULO 3 – DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL E NASCIMENTO
PERÍODOS DO DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL
Período germinal
Período embrionário
Período fetal
O ORGANISMO EM DESENVOLVIMENTO NO AMBIENTE PRÉ-NATAL
Habilidades sensoriais do feto
Aprendizagem fetal
Condições maternas e desenvolvimento pré-natal
Teratogênicos: fontes ambientais de deficiências no nascimento
DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL RECONSIDERADO
NASCIMENTO: A PRIMEIRA ALTERAÇÃO BIOSSOCIOCOMPORTAMENTAL
Os estágios do trabalho de parto
Variações culturais no parto
O parto nos Estados Unidos
AS CONDIÇÕES DO RECÉM-NASCIDO
Avaliando a viabilidade do bebê
Problemas e complicações
INÍCIO DO RELACIONAMENTO PAIS-FILHO
A aparência do bebê
Expectativas sociais
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“Todo homem é alguns anos mais velho do que ele se lembra, porque vivemos, movemos-nos,
tomamos forma e somos sujeitos às ações dos elementos e à malignidade da doença em outro
mundo, o verdadeiro Microcosmo, o útero da nossa mãe.”
- Sir Thomas Browne, Religio Mediei, 1642 De toda a nossa existência, os nove meses que vivemos dentro do útero da nossa mãe são os mais
importantes para o nosso crescimento e desenvolvimento. Começamos como um zigoto, uma única
célula do tamanho de um ponto desta página, pesando aproximadamente 15 milionésimos de um
grama. No nascimento, consistimos de cerca de 2 bilhões de células e pesamos, em média, 3 quilos.
As mudanças que ocorrem em nossa forma não são menos notáveis do que o aumento no nosso
tamanho (ver Figura 3.1). As primeiras células a se desenvolver a partir do zigoto são todas
idênticas mas, em algumas semanas, serão muitos tipos de células diferentes dispostas em órgãos
interdependentes, intrincadamente estruturados.
Uma tarefa básica no estudo do desenvolvimento pré-natal é explicar como ocorrem essas
mudanças na forma e no tamanho. Entender o desenvolvimento pré-natal é importante tanto por
razões teóricas quanto por razões práticas. Muitos teóricos consideram o desenvolvimento durante
o período pré-natal como um modelo para o desenvolvimento durante todos os períodos
subseqüentes, do nascimento à
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morte. Na verdade, vários princípios do desenvolvimento são vistos em ação pela primeira vez
durante o período pré-natal. Por exemplo, ocorrem mudanças que se processam por meio de
estágio através dos quais o organismo adquire novas físicas qualitativamente distintas que seguem
uma a outra em uma seqüência regular. Cada novo estágio está associado a tipos diferentes de
interação entre o organismo em desenvolvimento e o seu ambiente.
No lado prático, entender o período pré-natal é importante porque o organismo em
desenvolvimento pode ser positiva ou adversamente afetado pela condição nutricional,
pela saúde e pelos hábitos da futura mãe, incluindo se ela usa ou não drogas ou álcool. Muitas
pesquisas têm-se dedicado a promover um desenvolvimento pré-natal saudável e a evitar danos ao
organismo em crescimento durante esse período fundamental.
Para entender a relação do desenvolvimento pré-natal no útero com o desenvolvimento posterior
no mundo, precisamos primeiro acompanhar as mudanças que ocorrem à medida que o organismo
progride, desde o zigoto até o recém-nascido, e examinar os fatores ambientais que apóiam ou
ameaçam o desenvolvimento. Depois, podemos considerar as circunstâncias que envolvem o
ingresso do recém-nascido no mundo.
FIGURA 3.1
Mudanças no tamanho e na forma do corpo humano de 14 dias até 15 semanas após a concepção
(Adaptada de Arey, 1974). [A figura mostra o feto em 9 estágios do seu desenvolvimento: 14 dias
= 1mm; 18 dias = 2mm; 24 dias = 4mm; 4 semanas = 5mm; 6½ semanas = 14mm; 8 semanas =
22mm; 9 semanas = 31mm; 11 semanas = 66mm; 15 semanas = 115mm (medidas da imagem)]
PERÍODOS DO DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL
As transformações que ocorrem durante o desenvolvimento pré-natal são simplesmente
assombrosas. Através de um microscópio, o óvulo fertilizado parece ser composto de pequenas
partículas no interior de partículas maiores. Os cromossomos portadores dos genes ficam no
interior do núcleo, no centro da célula. Em volta do núcleo está a matéria da célula, que serve como
matéria-prima para as primeiras divisões da célula. Todo o zigoto está contido na zona pelúcida,
um delicado invólucro com a espessura de apenas algumas moléculas. Nas primeiras semanas após
a concepção, essa célula única subdivide-se muitas vezes para formar muitos tipos de células com
destinos muito diferentes. Em aproximadamente 266 dias, essas células terão sido transformadas
em um bebê que chora e se mexe.
Como um primeiro passo rumo ao entendimento dessas transformações, os cientistas
freqüentemente dividem o desenvolvimento pré-natal em três períodos amplos, cada um
caracterizado por padrões de crescimento distintos e pela interação entre o organismo e o seu
ambiente:
1. O período germinal inicia-se quando as células germinativas da mãe e do pai se unem na
concepção e dura até o organismo em desenvolvimento se ligar à parede do útero, cerca de 8 a 10
dias depois.
2. O período embrionário estende-se desde o momento em que o organismo se liga ao útero até o
final da oitava semana, quando todos os principais órgãos assumem sua forma primitiva.
3. O período fetal inicia-se na nona semana após a concepção, com os primeiros sinais de
endurecimento dos ossos, e continua até o nascimento. Durante esse período, os sistemas orgânicos
primitivos se desenvolvem até o ponto em que o bebê pode existir fora da mãe sem apoio médico.
Em qualquer etapa desses períodos pré-natais o processo do desenvolvimento pode interromperse. Um estudo estima que aproximadamente 25% de todas as gestações terminam antes de a mulher
sequer saber que está grávida (Wilcox et ai., 1999). No entanto, se tudo correr bem, a criação de
um novo ser humano está em andamento.
Conceitos:
Zona pelúcida: O fino invólucro que envolve o zigoto e, mais tarde, a mórula;
Período germinal: O período que se estende da fertilização até a implantação do organismo em
desenvolvimento na parede do útero;
Período embrionário: O período que se inicia quando o organismo se liga ao útero e se estende até
o final da oitava semana, quando os principais órgãos adquirem forma.
Período fetal: O período que se estende da nona semana após a concepção até o nascimento.
PERÍODO GERMINAL
Durante os 8 a 10 primeiros dias depois da concepção, o óvulo fertilizado se move lentamente
através das trompas de Falópio em direção ao útero (ver Figura 3.2).
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O tempo dessa jornada é fundamental. Se o novo organismo entra no útero muito cedo ou muito
tarde, o ambiente uterino não estará hormonalmente preparado e o organismo será destruído.
As primeiras células da vida
Como foi explicado no Capítulo 2, todas as células do corpo se reproduzem através do processo
de duplicação e divisão conhecido como mitose. A primeira segmentação do ovo, divisão mitótica
do zigoto em várias células, inicia-se cerca de 24 horas após a concepção, quando o óvulo
fertilizado desce pelas trompas de Falópio. O zigoto, de célula única, divide-se para produzir duas
células-filhas, cada qual se dividindo para produzir mais duas células-filhas, e assim por diante
(Figura 3.3). Graças a esse período de duplicação, o organismo em desenvolvimento já consistirá
de centenas de células no momento em que atingir o útero.
Uma importante característica da segmentação é que as células que existem em qualquer dado
momento não se dividem todas ao mesmo tempo. Em vez de procederem de maneira ordenada, de
um estágio de duas células para um estágio de quatro células, e assim por diante, as células se
dividem em velocidades diferentes (Gilbert e Raunio, 1997). Essa é a primeira instância da
heterocronia desenvolvimental, por meio da qual diferentes partes do organismo se desenvolvem
em velocidades diferentes. Heterocronia
significa literalmente "variabilidade no tempo". Como diferentes partes do organismo se
desenvolvem em velocidades diferentes, o comportamento do organismo estará mais ou menos
maduro, dependendo das partes do organismo envolvidas no comportamento em questão. A
desigualdade das velocidades de desenvolvimento dá origem a outra característica importante do
desenvolvimento - a variabilidade nos níveis de desenvolvimento de diferentes partes do
organismo em um determinado tempo. Esse tipo de variabilidade é chamado de heterogeneidade.
Os dois tipos de variabilidade desempenham um papel importante no processo de desenvolvimento
durante toda a vida
da criança.
A emergência de novas formas
Quando ocorrem as primeiras segmentações, um amontoado de células, chamado mórula, toma
forma no interior da zona pelúcida. Durante os 4 ou 5 primeiros dias após
a concepção, as células da mórula tornam-se cada vez menores a cada segmentação, até que ficam
todas aproxima103
damente do tamanho da célula corporal média. À parte serem menores, elas parecem idênticas às
suas células-mães e se parecem com um grande número de bolas de pingue-pongue amontoadas
dentro de um balão de gás.
Quando as células da mórula atingem o tamanho das células corporais médias, a mórula passa para
o útero. No útero, o líquido passa para dentro da mórula e se acomoda entre as células. As primeiras
mudanças perceptíveis que ocorrem na forma interna do organismo ocorrem ao mesmo tempo que
essa interação. Quando o líquido aumenta na mórula, as células da mórula se separam em duas
partes - uma massa de células externas e um grupo de células localizadas no centro (Figura 3.4).
A mórula agora se transformou no blastocisto. Essa transformação da mórula é o primeiro
momento de um padrão repetido em que o desenvolvimento se manifesta como um processo de
diferenciação e reintegração. Nesse caso, as células idênticas da mórula são diferenciadas em dois
tipos de células que são então reintegradas na forma mais madura do organismo, que é o
blastocisto.
Os dois tipos de células presentes no blastocisto desempenham papéis diferentes no
desenvolvimento. O grupo de células pequenas amontoadas ao longo de um lado da cavidade
central do blastocisto (blastocele) é chamado de massa celular interna. Essas células dão origem
ao próprio organismo. Em torno da massa celular interna e da cavidade, uma camada dupla de
células grandes e planas chamadas trofoblasto forma uma barreira de proteção entre a massa celular
interna e o ambiente. Posteriormente, o trofoblasto vai-se desenvolver nas membranas que vão
proteger o organismo em desenvolvimento e lhe transmitir os nutrientes. (Apropriadamente,
"trofoblasto" deriva
do grego trophe, que significa "nutrição".) Quando as células do blastocisto se diferenciam, a zona
pelúcida circundante se desintegra. A camada de trofoblasto serve
agora como uma espécie de bomba, enchendo a cavidade interna com o fluido produtor da vida
proveniente do útero, que permite que as células continuem a se dividir e que o organismo cresça.
Embora seja bastante fácil descrever as transformações das células indiferenciadas do zigoto,
primeiro nos dois tipos de células do blastocisto e finalmente na multiplicidade de tipos de células
presentes no nascimento, os mecanismos pelos quais essas mudanças ocorrem permanecem como
um quebra-cabeça básico do desenvolvimento. O que faz com que os diferentes grupos de células
assumam formas diferentes?
As explicações atuais enfatizam a idéia de que cada nova forma emerge como um resultado das
interações que ocorrem entre a forma precedente e seu ambiente, um processo chamado epigênese
(de uma expressão grega que significa "no momento da geração") (Gottlieb, 1997). No caso da
mórula, o "ambiente" varia de acordo com a localização das células em questão. As células do
centro da mórula são cercadas por outras células da mórula. Aquelas células de fora têm algum
contato
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com outras células da mórula, mas, em um lado, elas também estão em contato com a zona
pelúcida, que, por sua vez, está em contato com o trato reprodutor da mãe e seus fluidos. Quando
a mórula começa a receber os nutrientes, esses nutrientes devem passar através das células de fora
para alcançar as células de dentro. Como resultado, as células de fora ficam sujeitas a influências
ambientais diferentes daquelas de dentro. Segundo a explanação epigenética do desenvolvimento
embrionário, a divisão celular sob tais condições ambientais diferentes é que conduz à criação de
diferentes tipos de células e novas formas de interação entre o organismo e o ambiente (Gilbert e
Raunio, 1997). Esse padrão é repetido, muitas vezes, durante o desenvolvimento do organismo.
A implantação
Quando o blastocisto se move mais para o interior do útero, as células do trofoblasto expelem
minúsculos ramos que se refugiam na parede esponjosa do útero até entrarem em contato com os
vasos sangüíneos da mãe. Assim se inicia a implantação, o processo pelo qual o blastocisto se liga
ao útero. A implantação marca a transição entre os períodos germinal e embrionário. Como muitas
transições da vida (das quais o nascimento é um exemplo especialmente dramático), a implantação
é perigosa para o organismo e a interrupção da gravidez é comum durante esse processo. É
intrigante, porém, que um perigo que poderia ser esperado, raramente ocorre: se qualquer outro
pedaço de tecido estranho fosse introduzido no útero de uma mulher, ele seria atacado pelo sistema
imunológico da mãe e expelido. No entanto, por razões que ainda não são bem entendidas, em
geral, não ocorre a rejeição do blastocisto (Jones, 1997).
FIGURA 3.2
O desenvolvimento do embrião humano no trato reprodutivo da mãe desde a fertilização até a
implantação (Adaptada de Tuchmann-Duplessis, David e Haegel, 1971). [ A figura mostra um
ovário, uma trompa de falópio e um trecho do útero. Nesse “trajeto”, mostra o óvulo fecundado –
no início da trompa de Falópio –, seu primeiro e segundo estágio de segmentação, o estágio final
de mórula – no fim da trompa de Falópio -, a entrada no útero, já como blastócito e o primeiro
estágio de implantação.]
FIGURA 3.3
O zigoto após duas segmentações, resultando em quatro células de igual tamanho e aparência. [ A
figura mostra quatro células redondas unidas de dois centímetros cada.]
FIGURA 3.4
Dois estágios no desenvolvimento do blastocisto: (a) a formação da massa de células internas no
estágio inicial do blastocisto e (b) a diferenciação das células
trofoblásticas no estágio tardio do blastocisto. No estágio tardio do blastocisto, a zona pelúcida
desapareceu (Adaptada de Moore e Persaud, 1993). [ (a) mostra o blastócito inicial (redondo, de 4
centímetros) com células de mesma forma ocupando o círculo mais externo dentro do blastócito e
a metade superior desse blastócito (chamada de “massa celular interna”), a metade inferior do
blastócito recebe o nome de “cavidade do blastócito (blastocele)” e mostra uma faixa envolvendo
o blastócito, simbolizando a zona pelúcida em degeneração. (b) mostra blastócito tardio, que
apresenta, basicamente, a mesma conformação do blastócito inicial, porém com células do
trofoblasto diferentes das células da massa celular interna, sem camada envoltória externa e
medindo 5 centímetros.]
CONCEITOS
segmentação A divisão mitótica das células no zigoto.
heterocronia Variabilidade nas velocidades de desenvolvimento das diferentes partes do
organismo.
heterogeneidade Variabilidade nos níveis de desenvolvimento de diferentes partes do organismo
em um determinado tempo.
mórula O amontoado de células no interior da zona pelúcida.
CONCEITOS
blastocisto A esfera oca das células que resulta da diferenciação da mórula no trofoblasto e massa
celular interna.
massa celular interna A coleção de células que fica no interior do blastocisto que, finalmente, se
transforma no embrião.
trofoblasto A camada externa das células do blastocisto que se desenvolvem nas membranas que
protegem e que dão sustentação ao embrião.
epigênese O processo pelo qual novas formas emergem através das interações da forma precedente
e seu ambiente atual.
CONCEITOS
implantação O processo pelo qual o blastocisto se liga ao útero.
âmnio Uma membrana fina, flexível e transparente que detém o líquido amniótico.
córion Uma das membranas que se desenvolve fora do trofoblasto. Ela forma o componente fetal
da placenta.
placenta Um órgão composto de tecido da mãe e do feto que serve como barreira e filtro entre suas
correntes sangüíneas.
cordão umbilical Um tubo macio contendo vasos sangüíneos que conecta o organismo em
desenvolvimento coma placenta.
PERÍODO EMBRIONÁRIO
Se o blastocisto for implantado com sucesso, o organismo em desenvolvimento entra no período
embrionário, que dura cerca de seis semanas. Durante o período embrionário, todos os órgãos
básicos do corpo tomam forma e o organismo começa a reagir à estimulação direta. O rápido
crescimento do organismo durante esse período é facilitado
pela maneira eficiente pela qual a mãe agora o supre com a nutrição e o protege de influências
ambientais prejudiciais.
Fontes de nutrição e proteção
Logo no início do período embrionário, membranas emergem do trofoblasto para proporcionar ao
organismo em desenvolvimento os nutrientes e a proteção que ele vai precisar para sobreviver (ver
Figura 3.5). O âmnio, uma membrana fina, flexível e transparente que detém o líquido amniótico
("bolsa d'água"), envolve o embrião. Enquanto a mãe se move, o líquido amniótico protege o
organismo em desenvolvimento, dá sustentação líquida para seus músculos fracos e ossos
delicados e lhe proporciona um meio em que ele pode mover-se e mudar de posição.
Envolvendo o âmnio, há outra membrana, o córion, que se torna o componente fetal da placenta,
um órgão complexo e composto de tecido da mãe e do embrião. A placenta e o embrião são ligados
pelo cordão umbilical. Até o nascimento, a placenta atua simultaneamente como uma barreira, que
evita que as correntes sangüíneas da mãe e do bebê entrem em contato direto, e como um filtro
que permite que os nutrientes e o oxigênio sejam trocados. Ela converte os nutrientes carregados
pelo sangue da mãe em alimento para o embrião. Também permite que os produtos não
aproveitados pelo embrião sejam absorvidos pela corrente sangüínea da mãe e, finalmente,
extraídos por seus rins. Desse modo, a mãe, literalmente, come, respira e urina por dois.
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O crescimento do embrião
Enquanto o trofoblasto está formando a placenta e as outras membranas que vão suprir e proteger
o embrião, o número crescente de células da massa celular interna começa a diferenciar-se nos
vários tipos de células que, finalmente, vão originar todos os órgãos do corpo. O primeiro passo
nesse processo é a separação da massa celular interna em duas camadas. O ectoderme, a camada
externa, dá origem à superfície externa da pele, as unhas, parte dos dentes, as lentes dos olhos, o
ouvido interno e o sistema nervoso (o cérebro, a medula espinal e os nervos). O endoderme, a
camada interna, desenvolve-se para formar o sistema digestivo e os pulmões. Logo depois que
essas duas camadas se formam, aparece uma camada intermediária, o mesoderme, que vai,
finalmente, formar os músculos, os ossos, o sistema circulatório e as camadas internas da pele
(Gilbert e Raunio, 1997).
Como deixa claro a Tabela 3.1, o embrião se desenvolve em uma incrível velocidade. A tabela
também reflete dois padrões do desenvolvimento corporal que são mantidos até que o organismo
atinja a adolescência. No primeiro, o padrão cefalocaudal, o desenvolvimento se processa da
cabeça para baixo. As células germinativas
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do braço, por exemplo, aparecem antes das células germinativas das pernas. No segundo, o padrão
proximodistal, o desenvolvimento se processa do meio do organismo para a periferia. Assim, a
medula espinal se desenvolve antes das células germinais do braço; os braços, antes dos antebraços
e assim por diante. Em geral, o processo de formação do órgão é o mesmo para todos os embriões
humanos mas, em um aspecto importante - a diferenciação sexual -, ele varia. Esse aspecto do
desenvolvimento está discutido no Destaque 3.1.
A emergência do movimento embrionário
Quando os sistemas orgânicos essenciais e as células nervosas da espinha se formam, o embrião
torna-se capaz de realizar suas primeiras respostas organizadas ao ambiente. Os estudos de
embriões abortados espontaneamente indicam que o embrião de oito semanas de idade vai virar
sua cabeça e pescoço em resposta a um toque de luz na direção da área em torno da boca. Seus
braços vão estremecer, a parte superior do corpo vai flexionar e, em muitos casos, sua boca vai
abrir (de Vries, 1992; Hooker, 1952). No interior do útero, esses movimentos não são detectados
pela mãe porque o embrião ainda é excessivamente pequeno.
FIGURA SEM NÚMERO
O embrião humano na terceira e quinta semanas após a concepção. [Uma foto mostrando os dois
tempos do desenvolvimento do embrião].
FIGURA 3.5
O feto em seu ambiente protetor (Adaptada de Curtis, 1979) [A figura mostra um útero de uma
grávida. A placenta mostra a circulação sanguínea materna, o córion e o âmnio envolvendo o feto,
este ligado à mãe pelo cordão umbilical e o líquido amniótico fica dentro da placenta.]
TABELA 3.1 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO EMBRIÃO
Dias 10 a 13 As células separam-se nas camadas ectoderme, endoderme e mesoderme. A placa
neural, que vai originar o cérebro e a medula espinal, forma-se a partir do ectoderme.
Terceira semana No final da terceira semana, as três principais divisões do cérebro - o cérebro
posterior, o mesocérebro e o cérebro anterior- começam a se diferenciar. Estão presentes as
primeiras células sangüíneas e vasos sangüíneos. O coração começa a se formar e, no final da
semana, está batendo.
Quarta semana As células germinais do pulmão são visíveis. Os olhos, os ouvidos e um sistema
digestivo começam a tomar forma. As quatro principais veias e artérias são formadas. As vértebras
estão presentes e os nervos começam a assumir sua forma primitiva.
Quinta semana Toma forma o cordão umbilical. Tomam forma as células germinais dos brônquios,
que, finalmente, vão originar os pulmões. Massas pré-musculares estão presentes na cabeça, no
tronco e nos membros. São formadas as placas das mãos.
Sexta semana A cabeça torna-se dominante no tamanho. As metades do osso inferior da mandíbula
encontram-se e se fundem, e já estão presentes os componentes da mandíbula superior. O ouvido
externo começa a despontar. As três principais partes do cérebro estão distintas.
Sétima semana A face e o pescoço estão começando a tomar forma. As pálpebras formam-se. O
estômago está assumindo sua forma e posição final. Os músculos vão rapidamente se
diferenciando através do corpo todo e assumindo suas formas e relacionamentos finais. O cérebro
está desenvolvendo milhares de células nervosas por minuto.
Oitava semana O crescimento dos intestinos torna o corpo equilibradamente arredondado. A
cabeça é elevada e o pescoço torna-se distinto. Os ouvidos externo, médio e interno assumem suas
formas finais. No final dessa semana, o feto é capaz de algum movimento e responde à estimulação
em volta da boca.
PERÍODO FETAL
O período fetal começa quando todos os tecidos e órgãos básicos já existem em forma rudimentar,
e o tecido que vai se tornar esqueleto começa a enrijecer, ou ossificar (Gilbert, 1991). Durante o
período fetal, que dura da oitava ou nona semana de gravidez até o nascimento, o feto aumenta em
tamanho de aproximadamente 3 centímetros para 50 centímetros, e em peso de 8 gramas para
3.250 gramas (ver Figura 3.6).
No decorrer do período fetal, cada um dos sistemas orgânicos aumenta em complexidade. Na
décima semana após a concepção, os intestinos assumem sua posição ...
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