Revista de Artes y Humanidades UNICA ISSN: 1317-102X [email protected] Universidad Católica Cecilio Acosta Venezuela Graça, Helena Souza Reseña "Infância, estrangeiridade e ignorância. Ensaios de Filosofia e Educação" de Walter Oman Kohan Revista de Artes y Humanidades UNICA, vol. 12, núm. 2, mayo-agosto, 2011, pp. 294-297 Universidad Católica Cecilio Acosta Maracaibo, Venezuela Disponible en: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=170121976014 Cómo citar el artículo Número completo Más información del artículo Página de la revista en redalyc.org Sistema de Información Científica Red de Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal Proyecto académico sin fines de lucro, desarrollado bajo la iniciativa de acceso abierto RESEÑAS KOHAN, Walter Oman. Infância, estrangeiridade e ignorância. Ensaios de Filosofia e Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. ISBN: 978 85 7526 264 1 Apresentar um livro é ousar pronunciar algumas palavras como experiência leitora e como movimento de dar a ler, no sentido que Derrida nos coloca, arriscando a lhe acrescentar algum novo fio à trama. Urdiduras que aproximam escrituras e leituras. Para tanto, é preciso que o gesto de leitura seja portador da coragem de tomar o texto pelas mãos. Apresentar Infância, estrangeiridade e ignorância a leitores que transitam pelo mundo da filosofia, da educação e, quiçá, de outros mundos que se avizinham por afinidades, desejos e invenções, além de ousadia, resulta do desejo de apresentar textos que nos colocam diante de pensamentos inquietantes sobre política, filosofia e educação. Por isso nos auxiliam a fazer importantes deslocamentos entre infâncias, alteridades e estrangeiridades intempestivas. O livro reúne um conjunto de ensaios, e outros escritos, que marcaram importantes contribuições levadas por Walter Kohan, entre os anos de 2004 a 2007, a encontros internacionais de filosofia da educação, no Brasil e na Itália. Alguns dos ensaios integraram outras importantes publicações, que reuniram experiências de pensamento que interrogam filosoficamente dilemas que marcam o mundo da filosofia e da educação. São escritos que anunciam infâncias plurais, onde filosofia e educação possam estar urdidas através de delicadas tramas de cuidado e pensamento, geradoras de ressonâncias dotadas de potente alegria spinozista. O livro traz como primeiro texto a entrevista que Chiara Chiapperini realiza com Walter Kohan, durante as Jornadas de estudos “Filosofia com crianças e jovens”, em Montesca (Cittá de Castello, Itália, Perúgia) em março de 2005. A seguir, reúne seis ensaios: “Um estranho estrangeiro: entre a pedagogia e a educação; entre a polícia e a política”; “A filosofia e o trabalho sobre nós mesmos. Algumas considerações sobre as relações, entre política, 294 z Revista de Artes y Humanidades UNICA / Volumen 12 Nº 2 Mayo-Agosto 2011 RESEÑAS filosofia e educação”; “Sócrates e Foucault professores: entre o ensino do já sabido e a busca por ensinar diferentemente”; “A infância da educação: o conceito devir-criança”; “Infância e filosofia”; e “Excursos sobre A Villa: a cidade da formação”. O posfácio também é de Chiara Chiapperini. As tramas de cada texto revelam o pensamento e intervenção de Walter Kohan, abordando questões que resgatam a importante contribuição de Matthew Lipman, que se dedicou a elaborar um programa de filosofia para crianças em sistemas educacionais, aproximando filosofia e pedagogia. Kohan também revela sua crescente aproximação, ao longo do tempo, de outras experiências de filosofia com crianças, ou que se nutrem da aproximação a um devir-criança (Deleuze), para além de uma infância cronológica. Nessa perspectiva, o autor não deixa de nos alertar sobre alguns riscos, que podem ameaçar a desafiadora aproximação entre filosofia e infância: idealismos que naturalizam filosofia e infância a partir de um universal para cada uma; usos mercantis; e o dogmatismo associado a uma atitude de tomar para si um lugar moralizante, como instrumento de catequese no interior de uma instituição. Kohan também nos fala de possibilidades potentes quando na filosofia e na educação nos movemos com o espírito mais aberto, instituinte, dispostos a nos destituírmos de saberes disciplinares e adultícios, em direção às crianças ou às outras infâncias. Quando agimos assim, podemos sofrer atravessamentos e protagonizar experiências, após o que, não voltamos a ser os mesmos de antes, já que uma busca pode nos levar a encontros que quase sempre negarão correspondências lineares e biunívocas, e experiências impossíveis de serem antecipadas, sobretudo por nossos roteiros pouco intrépidos. O intempestivo pode então reafirmar o enigmático valor da busca. Experiência como fissura, a partir da qual, algo de novo pode nascer como ignorância ou saber. Um aprendizado sincero que pode provocar nosso deslocamento de lugares conquistados a partir do quais parece estar definido quem ensina e quem aprende. Confrontos que podem produzir novo pensamento e ação, com os Revista de Artes y Humanidades UNICA z 295 RESEÑAS quais podemos perceber que quando a educação não enseja emancipação intelectual, só pode estar a serviço do embrutecimento. Walter Kohan coloca-nos diante da força da molecularidade das infâncias, quando se trata do exercício de um pensamento e presença potentes, por parte daqueles que costumam ser apartados dos jogos de poderes adultícios, possibilitando-nos ouvir uma voz própria, que pronuncia palavras que podem afirmar a singularidade de cada um no mundo. Potências que possibilitam aos infantes valerem-se de sua palavra e presença para dar testemunho. De filosofia. De educação. De vida. Os escritos de Walter Kohan confirmam que essa é uma das forças afirmativas de educar infantilmente na filosofia. O texto Excursos sobre A Villa (longa-metragem dirigido por M. Night Shyamalan) nos coloca diante da metáfora “aqueles de quem não falamos”, e somos provocados pelo autor a pensar em outras e reais condições, onde se operam interdições, estigmas, silenciamentos, apartações, fascismos e genocídios. Por isso, Kohan vai lembrar que a “A morte tem ciúmes do nascimento” (p.140). E seguirá afirmando que o desafio “É apostar na vida. Na vida da infância. De uma infância vital. De uma força afirmativa, falante, outra. O desafio é resistir à morte da vida.” (p.140). Desvelando a existência de um aparato que reúne dispositivos e práticas de controle, nos vemos diante da possibilidade de pensar nas semelhanças entre a ficcional Villa e a história que marca o Ocidente, por exemplo, e seus projetos coloniais de conquista de territórios, riquezas e de educação dos povos. Para finalizar, gostaria de lembrar Lucius, jovem nascido na Villa, cujo único medo é perder o que ama, melhor dizendo, quem ama. O jovem Lucius lembra que “às vezes não fazemos o que queremos, e os outros não saberão o que queremos”. Vejo que é isso também que Walter Kohan confronta através de seus escritos e intervenções: o desafio de pensar e praticar uma filosofia e uma educação, através das quais possamos reconhecer o que temos desejado, o que nos faz desejantes, e a força que existe em pronunciar o 296 z Revista de Artes y Humanidades UNICA / Volumen 12 Nº 2 Mayo-Agosto 2011 RESEÑAS desejo. Desejos de vida e nascimentos? De uma infância para filosofia? De uma infância para a educação? Faço, então, o convite para ler, e acrescentar mais um fio, à trama dos textos e das intervenções de Walter Kohan. Graça Helena Souza Rio de Janeiro, 25 de julho de 2011. Revista de Artes y Humanidades UNICA z 297