Boas Práticas Agropecuárias reduzem as Emissões de GEE

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BOAS PRáTICAS
AGROPECUÁRIAS reduzem
as emissões de GEE e
aumentaM a produção de
carne na Amazônia
O Imaflora® é uma organização
brasileira, sem fins lucrativos,
criada em 1995 para promover a
conservação e o uso sustentável
dos recursos naturais e para gerar benefícios sociais nos setores
florestal e agropecuário.
ÍNDICE
PREFÁCIO
PRODUÇÃO DE CARNE BOVINA E
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
METODOLOGIA E DESCRIÇÃO GERAL
DO PROGRAMA NOVO CAMPO
Análise da Fase Piloto e Potencial
do Programa Novo Campo
RESULTADOS E
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
E ANEXOS
08
10
17
30
45
47
PREFÁCIO
A agropecuária brasileira é uma das mais importantes produtoras de alimento do mundo. Entretanto, tem enfrentado um duplo desafio: aumentar sua produção para atender uma população em crescimento e reduzir suas emissões de gases de efeito
estufa (GEE) para mitigar as mudanças climáticas globais.
Os desafios tem sido pauta de compromissos climáticos mundiais, como o que ocorreu na 21ª Conferência das Partes (COP21) em Paris, em 2015, e que culminou com o Acordo de Paris.
Nessa ocasião, o governo brasileiro se comprometeu a recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e expandir
outros 5 milhões de hectares de sistemas produtivos integrados
como estratégia para reduzir as emissões de GEE nacionais
até 2030.
Contudo, são limitadas as evidências de como um conjunto
de práticas agropecuárias afetam a eficiência de produção e as
emissões de GEE em propriedades rurais brasileiras. O
tem trabalhado para suprir essa lacuna de informações avaliando iniciativas regionais já estabelecidas e que promovam
sistemas de produção mais sustentáveis, conciliando produção
e conservação.
No presente trabalho o
apresenta estimativas do balan-
ço de GEE durante a intensificação sustentável da produção
pecuária na Amazônia, aplicadas à análise do Programa Novo
Campo, uma iniciativa que atua em fazendas de pecuária de
corte no estado do Mato Grosso. Promovendo a gestão integrada da propriedade rural, o programa fomenta a adoção progressiva das Boas Práticas Agropecuárias – Gado de Corte (BPA),
da Embrapa e do Guia de Indicadores de Pecuária Sustentável
(GIPS) do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS).
Essa análise mostra que o potencial de redução de emissões de
GEE das fazendas participantes do programa alcançará cerca
de 50% por hectare e 90% por quilograma de carne produzida,
com elevação da produção de carne em cinco vezes. Apenas nos
dois primeiros anos de melhorias nas práticas agropecuárias em
propriedades com elevada taxa de degradação de pastagens,
o programa já proporcionou aumento da produção de carne de
quase 100% e reduziu as emissões de GEE em 25% por hectare
de pastagem e em 60% por quilograma de carne produzida.
Esses resultados são consequência de uma estratégia que inicialmente recuperou cerca de 10% da área de pastagem das
propriedades participantes. Essa proporção representa quase 500 dos 3500 ha de pastagens degradadas cobertas pelo
programa - dos quais 190 ha foram reformados com sistema
de Integração Lavoura-Pecuária (iLP). Adicionalmente, essa
estratégia introduz e aperfeiçoa práticas como o pastejo rotacionado, técnicas de suplementação, sanidade e reprodução
animal, e sistemas de gestão para a sustentabilidade das propriedades como um todo.
A avaliação feita pelo
mostra que a estratégia ado-
tada pelo Programa Novo Campo tem conduzido os níveis
de emissão de GEE das fazendas participantes a patamares
similares aos encontrados em outras localidades do mundo
com alta eficiência de produção, como Nova Zelândia, União
Europeia e Estados Unidos.
Este trabalho também mostra o potencial e a capacidade da
pecuária de corte em reduzir suas emissões de GEE e aumentar a produção de proteína animal, podendo subsidiar produtores na adoção de boas práticas em larga escala. Ao mesmo
tempo também deve auxiliar tomadores de decisão, consumidores e demais atores da cadeia da carne quanto à importância da produção sustentável em escala para a manutenção do
clima e atendimento a demanda por alimentos.
O trabalho apresentado pelo
reforça a coerência das
metas propostas pelo governo brasileiro para redução das
emissões nacionais. Mas também alerta tomadores de decisão para o desafio de ampliar a assistência técnica e a difusão de tecnologia ao produtor rural. Somente a reforma de
pastagens não será suficiente - é necessário a implementação
de sistemas de gestão que incluam um conjunto de boas práticas agropecuárias em escala no Brasil para que as metas
sejam alcançadas.
Conselho Diretor
Conselho Consultivo
Sec. Executiva
Adalberto Veríssimo
Mário Mantovani
Laura de Santis Prada
André Villas-Bôas
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Conselho Fiscal
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Adauto Tadeu Basílio
Fátima Nunes
Erika Bechara
Diuliane Silva
Rubens Mazon
Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora®)
Como boas práticas agropecuárias têm reduzido as emissões de GEE e aumentado
a produção de carne na Amazônia / Marina Piatto, Ciniro Costa Junior - Piracicaba, SP:
Imaflora, 2016. 68 p; 21 x 28 cm.
I SBN
978-85-98081-86-1
1. Agropecuária brasileira. 2. Emissões de GEE. 3. Cadeia de valor - Carne.
4. Amazônia. Como boas práticas agropecuárias têm reduzido as emissões de GEE e
aumentado a produção de carne na Amazônia
Essa licença não vale para fotos e ilustrações, que permanecem em copyright. Nota inserida na contracapa.
Realização
Instituto de Manejo e
Certificação Florestal
e Agrícola (Imaflora®)
Coord. do estudo
Marina Piatto
Autoria do estudo
Ciniro Costa Junior
Marina Piatto
Revisão
Eduardo Assad
(Embrapa)
Susian Martins
(FGV-EESP GV-AGRO)
Projeto gráfico
Thiago Oliveira Basso
(Obass InfoDesign)
Fotografia
Acervo Imaflora®
Instituto Centro
de Vida (ICV)
Apoio financeiro
Moore Foundation
GTPS
produção de
carne bovina
E mudanças
climáticas
11
O Brasil
além de possuir o maior rebanho comercial do mundo, é também um dos
maiores produtores, consumidores e exportadores de carne bovina. Da atual produção de
carne brasileira (oito milhões de toneladas anuais), 75% é consumida internamente e o
restante é exportado principalmente para países da Europa e da Ásia (IBGE; ABIEC, s.d.).
Com esses números, o Valor Bruto da Produção (VBP) da carne bovina foi estimado em
R$ 70,4 bilhões para 2015 (atrás apenas do complexo da soja), tornando-se assim um dos
principais setores da economia do país (BRASIL, 2015a). Além disso, essas posições tendem a se manter com a projeção de aumento de produção de 25% para suprir demandas
por carne na próxima década (BRASIL, 2015b).
Por outro lado, a criação de bovinos de corte é também uma das principais fontes de
emissão de gases de efeito estufa (GEE) do Brasil – em 2015 foram emitidos 274
MtCO2e por essa atividade. Nesse mesmo ano, o país todo emitiu cerca de 1900 MtCO2e, sendo que o setor de agropecuária contribuiu com 22% dessas emissões
(425 MtCO2e). Assim, a quantidade de GEE emitida apenas pela pecuária de corte representa 65% das emissões do setor agropecuário e 15% das emissões do país
atualmente (SEEG, s.d.). Existem ainda as emissões de GEE devido a degradação dos
solos de pastagens, estimada em aproximadamente 200 MtCO2e, mas que ainda não são
computados no inventário nacional (SEEG, 2016).
O impacto da atividade pecuária seria reduzido caso o aumento da eficiência de produção
fosse melhorado. Estima-se que a produção de carne bovina no Brasil pode ao menos dobrar utilizando as áreas de pastagem já existentes (STRASSBURG et al., 2014). Com baixa
exploração de seu potencial, as áreas de pastagem tornam-se susceptíveis a degradação.
Com isso, estima-se que hoje existem entre 40 e 50 milhões de hectares de pastagens
degradadas no Brasil (Eduardo Assad/Embrapa-Comunicação Pessoal).
Para o Brasil suprir a demanda de carne bovina prevista para 2030 com as atuais tendências de produtividade (IBGE, s.d.), seria necessário aumentar seu rebanho em torno
de 15% (30 milhões de cabeças). Nesse contexto, acredita-se que apenas os estados da
Amazônia comportariam 40% desses animais adicionais (BARBOSA et al., 2015). Com
isso, há um alerta para a potencial conversão de áreas nativas e degradação de áreas já
estabelecidas para acomodar esses animais excedentes.
12
Nesse sentido, a produção de carne bovina brasileira tem sido foco de preocupações
quanto o seu atual e futuro impacto nas mudanças climáticas globais. Tanto é que se
tornou o tema central nas metas de redução de emissão de GEE apresentadas pelo Brasil
na 21ª Conferência das Partes (COP-21) realizada em Paris em 2015, evento global que
culminou com maior acordo climático global já visto: o Acordo de Paris (BRASIL, 2015c, d).
Acordos climáticos e a agropecuária brasileira
De acordo com o decreto que regulamenta a
Política Nacional sobre Mudança do Clima –
2. Expansão de 4 milhões de hectares de
PNMC (BRASIL, 2010), o Brasil oficializa um
Integração Lavoura-Pecuária-Floresta
compromisso voluntário de reduzir suas emis-
(iLPF) e Sistemas Agroflorestais (SAFs).
sões de GEE entre 36,1% e 38,9% até 2020 com-
3. Expansão de 8 milhões de hectares
paradas aos níveis de 2005. Para cumprir essa
de Sistema Plantio Direto (SPD).
meta, o decreto também prevê a elaboração
4. Introdução da Fixação Biológica
de Planos Setoriais com a inclusão de ações,
de Nitrogênio (FBN) em 5,5
indicadores e metas específicas de redução de
milhões de hectares.
emissões e mecanismos para a verificação do
seu cumprimento para guiar cada setor.
5. Expansão de florestas plantadas
em 5,5 milhões de hectares.
O plano setorial para a Agricultura é chama-
6. Tratamento de 4,4 milhões
do de Plano ABC (BRASIL, 2012). Esse plano
3
de m dejetos animais.
tem abrangência nacional e seu período de vigência é de 2010 a 2020, sendo composto por
Enquanto isso na 21ª Conferência das Partes
seis programas relacionados a tecnologias de
(COP-21), da Convenção-Quadro das Nações
mitigação:
Unidas sobre Mudança do Clima, realizada em
1. Recuperação de 15 milhões de
hectares de pastagens degradadas.
novembro de 2015, em Paris, reuniu 195 países
e culminou na elaboração do Acordo de Paris.
Esse acordo tem objetivo de conter o aumento
13
da temperatura média global em bem menos
abaixo dos níveis de 2005 em 2025 e, subse-
do que 2oC acima dos níveis pré-industriais.
quentemente, reduzir essas emissões em 43%
Essa meta deverá ser atingida por meio da
abaixo dos níveis de 2005 (2,1 GtCO2e) em 2030
soma de esforços desses 195 países, incluindo
(BRASIL, 2015c,d). Isso significa o país reduzir
o Brasil, por meio de sua pretendida Contribuição
900 Mt CO2e até 2030, o que resultaria em uma
Nacionalmente Determinadas (INDC).
emissão nesse ano estimada em 1200 Mt CO2e.
Após ratificada pelo presidente Michel Temer, em
No que se refere ao setor agrícola, a NDC brasi-
setembro de 2016, a INCD brasileira deixou de
leira planeja fortalecer o Plano ABC por meio da
ser uma pretensão e se tornou um compromis-
recuperação adicional de 15 milhões de hecta-
so formal de contribuição, chamando-se agora
res de pastagens degradadas e incremento de 5
NDC. A NDC brasileira, por sua vez, se compro-
milhões de hectares de sistemas de integração
mete em reduzir as emissões do país em 37%
Lavoura-Pecuária-Florestas (iLPF) até 2030.
14
Nessa ocasião, o governo brasileiro, por meio de sua pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada (INDC – do inglês intended Nationally Determined Contribution), se
comprometeu em fortalecer o Plano ABC (BRASIL, 2012) com a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e expansão de 5 milhões de hectares sistemas de produção pecuária integrados com lavoura e floresta no país até 2030.
A INDC brasileira foi ratificada em setembro de 2016 pelo presidente Michel Temer, deixando assim de ter caráter de pretensão e se tornando um compromisso formal de contribuição. E assim passa, a partir de agora, a ser chamada de NDC. As ações contempladas
na NDC brasileira têm como objetivo de suprir a demanda por produtos agropecuários e
manter as emissões do setor de agropecuária em 2030 sob mesmo patamar de emissões
de 2005, ano base da NDC brasileira (BRASIL, 2015c, d).
Entretanto, existem poucas evidências de como um conjunto de boas práticas afetam as
emissões de GEE e a produção de fazendas de gado de corte (HAVLIK et al., 2014; WOLLENBERG et al., 2016). Nesse contexto, existe a necessidade da avaliação de iniciativas
reais que introduzem práticas baseadas na recuperação de pastagens degradadas com
o objetivo de aumentar a eficiência da produção de carne bovina no Brasil e ao mesmo
tempo reduzir as emissões de GEE.
Esse é o caso, por exemplo, do Programa Novo Campo. Coordenado pelo Instituto Centro
de Vida (ICV), o programa tem por objetivo promover práticas sustentáveis de produção de
carne em fazendas de pecuária na Amazônia, melhorando o seu desempenho econômico,
social e ambiental. Com isso, contribui para reduzir o desmatamento, conservar ou recuperar os recursos naturais e fortalecer a economia local (ICV, 2014).
As intervenções promovidas pelo Programa Novo Campo são baseadas na gestão integrada da propriedade rural, com a adoção progressiva das Boas Práticas Agropecuárias – Bovinos de Corte (Valle, 2011) da Embrapa e do Guia de Indicadores de Pecuária Sustentável
(GIPS) do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS). Ambos estão centralizados
na recuperação e intensificação de pastagens degradadas, no fornecimento adequado de
suplementação, na melhoria do manejo sanitário e reprodutivo do rebanho e na adequação ambiental das propriedades (MARCUZZO, 2015).
15
Boas Práticas Agropecuárias
BPA-EMBRAPA e GIPS-GTPS
Boas Práticas Agropecuárias (BPA) podem ser
rentáveis e competitivos e que forneçam ali-
definidas como um conjunto de normas e de
mentos oriundos de produções sustentáveis. Ao
procedimentos a serem observados para tornar
adotar as BPA, o produtor rural poderá identificar
os sistemas de produção mais eficientes e ren-
e controlar os diversos fatores que influenciam a
táveis, além de assegurar ao mercado consumi-
produção, contribuindo para sistemas de produ-
dor o fornecimento de alimentos produzidos de
ção mais competitivos, mediante a consolidação
forma sustentável (Valle, 2011).
do mercado interno e a ampliação das possibili-
A Embrapa e o Grupo de Trabalho da Pecuária
dades de conquista de novos mercados que va-
Sustentável (GTPS) desenvolveram e atualizam
lorizam a carne e o couro de alta qualidade (Valle,
periodicamente guias para a disseminação de
2011).
boas práticas para a pecuária de corte brasilei-
GIPS-GTPS: o objetivo do material é encorajar
ra. Esses materiais apresentam critérios e indi-
todos os elos da cadeia de valor da pecuária
cadores que abrangem todo o sistema produti-
bovina a usarem os indicadores como uma fer-
vo, desde a gestão da propriedade (ambiental,
ramenta de busca da sustentabilidade. Para o
social e produtiva) até o manejo dos animais e
GTPS, sustentabilidade é um processo de me-
das pastagens.
lhoria contínua. Esses indicadores são parâme-
BPA-EMBRAPA: desenvolvido desde 2007
tros quantitativos ou qualitativos, que podem ser
pela EMBRAPA, as Boas Práticas Agropecuá-
avaliados de acordo com alguns critérios. No
rias – Bovinos de Corte (BPA) referem-se a um
GIPS, os indicadores estão organizados segun-
conjunto de normas e de procedimentos a se-
do estágios cumulativos de desempenho e os
rem observados pelos produtores rurais para
critérios descrevem o nível mais alto da escala
que seus sistemas de produção se tornem mais
de desempenho (GTPS, s.d.).
16
Durante sua fase piloto, realizada entre 2012 e 2014 na região de Alta Floresta (MT) (MARCUZZO, 2015), o Programa Novo Campo demonstrou que suas intervenções nas fazendas
participantes foram capazes de impactar nos aspectos apresentados a seguir.
Intervenções do Programa Novo
Campo foram capazes de:
• Reduzir a idade média de abate de 44 para 30 meses para
machos e de 34 para 24 meses para fêmeas.
• Aumentar a lotação animal de 1,2 UA/ha para 1,6 UA/ha, sendo que nas áreas
intensificadas de cada fazenda, a lotação chegou a 2,7 UA/ha, em média.
• Elevar a produtividade de 4,7@/ha/ano para 10,8 @/ha/ano nas fazendas,
sendo que nas áreas intensificadas, chegou à média de 20,8 @/ha/ano.
• Melhorar o acabamento de carcaças, com abates que
qualificaram 70% das carcaças como superiores.
• Aumentar a rentabilidade da propriedade significativamente,
de R$100,00/ha para R$ 680,00/ha.
Com os positivos resultados produtivos e econômicos atingidos pelo Programa Novo
Campo, o
estimou o impacto da intensificação sustentável da pecuária, por meio
da adoção de boas práticas, no balanço das emissões de GEE das propriedades participantes do programa. Nesse contexto, o
apresenta a análise das cinco primeiras
fazendas participantes da fase piloto do Programa Novo Campo. E ainda, avalia o potencial impacto de sua estratégia para os próximos anos e seus impactos para a redução de
emissões.
Espera-se que esse estudo promova a discussão sobre as formas de produção que supram a demanda por alimentos e mitiguem as emissões de GEE e, em última análise, possam atenuar os efeitos das mudanças climáticas globais.
METODOLOGIA E
DESCRIÇÃO GERAL
DO PROGRAMA
NOVO CAMPO
18
Cinco fazendas
de gado de corte foram avaliadas neste estudo. Essas fa-
zendas estão localizadas na região do município de Alta Floresta (MT) e compreendem as
primeiras propriedades a participarem da fase piloto do Programa Novo Campo (Figura 1;
Tabela 1; Anexo 1 e 2).
As fazendas apresentam típicos históricos de produção de carne bovina dessa região. Após
estabelecerem suas pastagens pela conversão da vegetação nativa amazônica durante as
décadas de 1980-2000, as propriedades empregaram baixo ou nenhum manejo produtivo,
como: a correção dos solos, o pastejo rotacionado e o controle reprodutivo do rebanho.
Com isso, as pastagens que foram estabelecidas nos solos férteis deixados pela floresta,
passaram a se degradar ao longo do tempo. E as fazendas viram sua eficiência de produção de carne declinar, atingindo níveis que poderiam comprometer a viabilidade econômica dessa atividade (MARCUZZO, 2015).
TABELA 1: DESCRIÇÃO GERAL DAS FAZENDAS
PARTICIPANTES AO INGRESSAREM NO PROGRAMA
NOVO CAMPO AO FINAL DE 2012
Nome
fazenda
Área de
pastagem (ha)
Número médio
de animais
Sistema
produção
Produção
média
carne
(kg ha-1 ano-1)
Bevilaqua
1400
3500
Ciclo completo
79,0
Mitaju
580
1300
Ciclo completo
73,2
São Matheus
550
650
Recria-Engorda
72,4
Cinco irmãos
500
1000
Ciclo completo
50,0
Paraíso
480
1100
Ciclo completo
51,1
19
FIGURA 1: BIOMAS BRASILEIROS
E Localização da FAZENDAS
do PROGRAMA NOVO CAMPO
5 000 km
N
250km
Amazônia
Cerrado
Pantanal
Caatinga
Mata Atlântica
Pampa
Fazendas Novo Campo
Mato Grosso (MT)
Sistemas de produção de carne
Os segmentos de cria, recria e engorda, cons-
• Engorda: Terminação do animal
tituem-se nas etapas de produção de bovinos
para o abate, que pode ser feita
de corte. Estes podem estar presentes em uma
a pasto ou no confinamento.
mesma propriedade ou separados.
• Cria: Compreende o período de
cobertura até a desmama.
• Recria: Compreende a período entre a
Assim, essas fases designam o sistema de produção de determinada fazenda (i.e. fazenda de
cria; de cria e recria; recria e engorda). Entretanto, quando essas fases estão presentes em uma
desmama até o início da engorda ou até
mesma fazenda, diz-se que a mesma possui um
a reprodução em fêmeas.
sistema de produção de ciclo completo.
21
Implementação do Manual BPA e Guia GTPS
Entre 2012 e 2013 as fazendas aderiram ao Programa Novo Campo, seguindo o manual
de Boas Práticas Agropecuárias – Bovinos de Corte (BPA), desenvolvido pela Embrapa, e
o Guia de Indicadores da Pecuária Sustentável (GIPS) do Grupo de Trabalho da Pecuária
Sustentável (GTPS). Com isso, o programa tem progressivamente introduzido e aperfeiçoado práticas que melhoram a capacidade de gestão e de manejo das pastagens e dos
animais nas fazendas.
Um dos primeiros passos do programa foi a preparação de um diagnóstico técnico de
cada fazenda. Esse diagnóstico avaliou o status atual de produção e de gerenciamento da
propriedade, identificando as ações prioritárias para melhorar seus índices produtivos e
estruturar atividades futuras para melhoria continua da propriedade.
Devido à extensa área de pastagens degradadas na região, os diagnósticos de todas as
fazendas avaliadas neste estudo apontaram a necessidade de reforma ou recuperação de
pastagem. Entretanto, pelo fato dessa ação ter um custo financeiro relativamente elevado,
o Programa Novo Campo encontrou uma solução: recuperar inicialmente apenas parte
da pastagem dessas propriedades, que variou de 3 a 8% da área total – o que representa
aproximadamente 40 ha em média de pastagem.
A reforma dessas áreas consistiu no preparo (aração e gradagem), calagem, semeadura
e aplicação de fertilizantes ao solo (ureia e fosfato supertriplo). Enquanto que a recuperação da pastagem consistiu nas mesmas intervenções, exceto a preparação do solo. A decisão entre reformar e recuperar deveu-se ao grau de degradação da pastagem – quanto
mais degradado, maior a necessidade de reforma.
Dividida em parcelas, a área recuperada/reformada foi utilizada para pastejo rotacionado
dos animais durante a fase de recria, a uma lotação média de 3 UA por hectare. Esses animais foram mantidos em cada parcela por um período de três a quatro dias (até a altura
da pastagem se reduzir de 90 a 40 cm em média). Logo depois, foi realizada a alocação
dos animais em nova parcela, a anterior recebeu uma aplicação de ureia (totalizando 100
kg ha-1 ano-1) (MARCUZZO, 2015).
22
Esse manejo foi associado à introdução de outras práticas determinadas no manual BPA
– Gado de Corte e GTPS, como a: suplementação animal com grãos (a base de milho), a
instalação de bebedouros nas pastagens para proteção dos cursos d’agua e melhorias
na capacidade de gestão da propriedade e no manejo reprodutivo e sanitário do rebanho
(MARCUZZO, 2015).
Principais Ações da Pecuária
• Recuperar pastagens degradadas: uma
para a produção de carne de melhor qualida-
das principais ações para uma pecuária de
de, pois permite o abate de animais mais jo-
corte sustentável, a recuperação de pasta-
vens e com melhor acabamento. No entanto,
gens degradadas permite a reutilização das
para a garantia da produção de um alimen-
áreas já desmatadas e que atualmente se
to de boa qualidade, todos os insumos não
encontram abandonadas ou subutilizadas,
podem conter componentes ou resíduos que
promovendo ganhos de produtividade e au-
possam acarretar problemas à saúde animal
mentando o sequestro de carbono nos solos.
e humana.
Entre as principais vantagens da recuperação
• Manejo sanitário: consiste em um conjunto
estão o aumento da eficiência de produção e
de atividades veterinárias regularmente pla-
de energia. Sistemas produtivos estabeleci-
nejadas e direcionadas para a prevenção e
dos em pastagens recuperadas podem pro-
manutenção da saúde dos rebanhos. Essas
duzir pelo menos três vezes mais carne se
ações se concentram na: limpeza e higieni-
comparados a sistemas em pastagens de-
zação das instalações zootécnicas, desin-
gradadas. O primeiro passo para recuperar
fecção umbilical do recém-nascido, ingestão
pastagens é por meio de um diagnóstico da
precoce do colostro; vacinação, vermifuga-
fazenda, para posterior intervenção.
ção e banho carrapaticida.
• Suplementação animal: suplementar a ali-
• Manejo reprodutivo: é o arranjo de um
mentação dos bovinos em pastagem possibi-
conjunto de práticas que objetiva otimizar a
lita um melhor uso da forragem, aumentando
eficiência reprodutiva do rebanho, principal-
a eficiência de todo o sistema e contribuindo
mente as que abrangem as características li-
gadas à reprodução da fêmea. A otimização
• Gestão ambiental: trata do manejo adequa-
do desempenho reprodutivo e da eficiência
do dos recursos naturais existentes na pro-
produtiva do rebanho de cria pode ser obtida
priedade rural, em conformidade com as leis
por meio das seguintes práticas de manejo:
ambientais e com as técnicas recomendadas
a. Identificação dos animais e registro de
para a conservação do solo, da biodiversida-
ocorrências (nascimentos, abortos, mortes etc.).
de, dos recursos hídricos e da paisagem.
• Gestão da propriedade: atender aos re-
b. Escolha do período de monta.
quisitos mínimos de gestão, desenvolvendo
c. Escolha do sistema de acasalamento.
ações de planejamento, organização, dire-
d. Preparo de novilhas para reposição.
ção e controle. Dentre essas ações, desta-
e. Diagnóstico de gestação e descartes.
cam-se: a revisão de objetivos, a previsão
f. Determinação da idade à desmama.
de receitas e despesas, a coordenação e
g. Atendimento às exigências nutricionais.
direção dos processos de produção, o aten-
h. Controle sanitário do rebanho.
dimento das exigências legais e; o registro
de todos as atividades e processos da propriedade (social, trabalhista, fiscal, sanitária
e ambiental)(Valle, 2011).
24
Cálculo do balanço das emissões de GEE
Ferramenta de cálculo
A calculadora GHG Protocol Agrícola (WRI, 2014) foi utilizada para avaliar o balanço das
emissões de GEE das fazendas participantes do Programa Novo Campo antes e após suas
aderências ao programa. A ferramenta foi selecionada por permitir avaliar as principais
fontes de emissão e remoção de GEE do sistema de produção de carne bovina em escala
de fazenda (COSTA JUNIOR et al., 2016): o rebanho, os insumos aplicados ao solo, a variação de carbono no solo e a queima de combustíveis fósseis (Figura 2). E ainda apresentar a vantagem de utilizar alguns fatores de emissão desenvolvidos especificamente para
condições específicas brasileiras – o que traz maior precisão aos resultados (IPCC, 2006;
WRI, 2014; EMBRAPA, 2015a;b).
Fator de emissão de GEE e o cálculo
do balanço de emissões
Um Fator de Emissão (ou remoção) de GEE é a
O balanço de emissões do sistema compreende
quantidade de GEE emitido (ou removido) pela
a soma das emissões e remoções (sequestro)
quantidade de material consumido ou processa-
de GEE do sistema em análise. Por exemplo, na
do. Fatores de Emissão e Remoção são usual-
pecuária de corte o balanço de GEE em esca-
mente expressos em relação de massa (i.e. kg/
la de fazenda (da porteira para dentro) envolve
kg) ou porcentagem (%).
a soma das emissões de GEE pelos animais e
Balanço de GEE
=
seus dejetos, pela aplicação de insumos utiliza-
Emissões (animais, dejetos,
insumos e solos degradados)
–
Remoções (solos bem manejados)
quinário) e pelos solos em degradação subtraí-
dos no campo (incluindo o combustível de ma-
da pela remoção de GEE (sequestro de C) em
solos bem manejados.
25
FIGURA 2: ESCOPO DE ANÁLISE E
SUAS FONTES DE EMISSÃO DE GASES
DE EFEITO ESTUFA UTILIZANDO A
FERRAMENTA GHG-ProTOCOLO AGRÍCOLA
PASTO
O
D
ÇÃO
I
D
N
CO
US
REBANH
O
S
UMO
INS
DE
OS
PRO
IN
ST R
SP
OR
SOS
TE S
C ES
DU
TRA
IA IS
P R O D U ÇÃ O A G RÍ C OL A
CO2
N2O
Escopo
CH4
Fora do escopo
N
26
Com relação às fontes de emissão, a calculadora estima às emissões de metano (CH4)
pela fermentação entérica, e as emissões de CH4 e óxido nitroso (N2O) pelo manejo de
dejetos dos animais do rebanho (Figura 2). Essas emissões são ainda relativizadas de
acordo com a idade, categoria e tempo de permanência desses animais na propriedade.
A GHG Protocol Agrícola também considera as emissões de N2O e CO2 pela aplicação de
fertilizantes nitrogenados (sintéticos e orgânicos) e calcários (dolomítico e calcítico) ao
solo, respectivamente. As emissões de CO2 pela degradação do solo da pastagem e pela
queima de combustível fóssil utilizado em maquinários também são consideradas no cálculo. Além disso, essa ferramenta também contabiliza a remoção de CO2 da atmosfera pelo
sequestro de C no solo de pastagens bem manejadas (sequestro de carbono) (Figura 2).
Ao final, a calculadora efetua o balanço (soma) das emissões e remoções dos gases de
GEE provenientes das fontes em escala de fazenda (Figura 2) e os converte em equivalentes de CO2 (CO2e), utilizando fatores de Potencial de Aquecimento Global (GWP – do
inglês Global Warming Potential) fornecidos pelo IPCC (1995; 2007; 2013).
O balanço de GEE obtido para cada uma das cinco fazendas analisadas foi correlacionado
com as respectivas áreas produtivas (emissão de GEE por hectare de fazenda) e produções de carne (emissão de GEE por kg de carne produzida) dessas fazendas. E apresentado aqui como um balanço de GEE consolidado dessas cinco fazendas (média anual dessas propriedades). Entretanto, o balanço de GEE das análises individuais de cada fazenda
analisada pode ser visto no Anexo 1.
Coleta de dados e parametrização da ferramenta de cálculo
Baseado no escopo de análise considerado nesse trabalho (Figura 2), o
coletou
os dados necessários para o cálculo das emissões de GEE de cada uma das cinco propriedades avaliadas nesse estudo durante a sua fase piloto (2012 - 2014) (Anexo 1 e 2) e
suas emissões potenciais, considerando a intensificação moderada dos pastos visando a
total recuperação das áreas degradadas.
O levantamento de dados da fase piloto e do potencial de produção foi feito a partir da
base de dados do ICV e de visitas a campo pela equipe do
nessas propriedades
participantes do programa. Assim, os seguintes dados foram levantados para parametrizar a ferramenta GHG Protocol utilizada para esse estudo (WRI, 2014).
Potencial de Aquecimento Global (GWP)
O Potencial de Aquecimento Global (Global
GHG Protocolo-Agrícola (WRI, 2014) apresenta
Warming Potential em inglês ou GWP) é uma es-
em seu modo default os valores GWP reporta-
timativa que uniformiza a contribuição dos dife-
dos no quarto relatório do IPCC (AR4), apesar
rentes gases de efeito estufa (GEE) em relação
de permitir a mudança pelo usuário para qual-
ao gás CO2 . Essa estimativa é necessária uma
quer outro valor GWP. Entretanto, nota-se que
vez que diferentes GEEs têm diferentes poten-
para a comparação com segurança de resulta-
ciais de aquecer a Terra quando presentes na
dos apresentados em CO2e, é preciso checar
atmosfera. O IPCC determina os valores GWP
se esses valores foram calculados utilizando os
a serem utilizados e os atualiza de acordo com
mesmos fatores GWP.
o avanço das pesquisas científicas nessa área.
Até o momento três diferentes valores GWP já
Assessment report
foram publicados nos relatórios de avaliação
(Assessment Report) do IPCC:
AR2, AR4 e AR5 (IPCC, 1995; 2007; 2013). A tendência é que os valores mais recentes sejam utilizados globalmente. A calculadora de emissões
AR2
AR3
AR5
1
1
1
21
25
28
310
298
265
Parâmetros utilizados
1. Quantidade média anual de animais do rebanho
da propriedade por categoria e idade.
2. Quantidade média anual de ureia, calcário e combustível
fóssil utilizada para manutenção das pastagens.
3. Área de pastagem degradada e bem manejada (reformada ou recuperada).
29
Como descrito, os dados foram analisados anualmente, entretanto, para se evitar que
intervenções pontuais não anuais de calagem dos solos causassem picos de emissão na
média dos resultados, foi executado um tratamento nesses valores como segue.
A quantidade de calcário comumente utilizada no ano em uma mesma área foi
dividida por 60 – o que equivale a cinco anos (60 meses), que é o período médio
entre calagens do solo - e o valor alocado relativamente nos meses dos anos
de análise.
Outro detalhe do cálculo do balanço de GEE do sistema produtivo se refere à condição
das pastagens das propriedades. Baseadas em conversas com os proprietários e técnicos
do programa foi entendido e assumilado o quadro que se apresenta abaixo:
Condição das pastagens
• 100% das áreas de pastagens estavam sob um nível
moderado de degradação (IPCC, 2006).
• As áreas não recuperadas/reformadas continuariam em processo
de degradação e, assim, partindo da condição de degradação
moderada para severamente degradada (IPCC, 2006).
• As áreas recuperadas/reformadas passaram de um nível moderado de
degradação para um nível melhorado com adição de insumos (IPCC, 2006).
Para manter a análise em escopo de fazenda, as emissões de GEE pela produção da
matéria-prima e fabricação da suplementação animal e transportes (inclusive dos animais) não foram contabilizadas nesse trabalho. Entretanto, reconhece-se que essas
atividades podem ser importantes fontes de emissão e devem ser avaliadas em futuros
trabalhos.
Análise da Fase
Piloto e Potencial
do Programa
Novo Campo
31
As cinco
primeiras fazendas participantes do Programa Novo Campo abrangiam
no início desse projeto totalizavam uma área de 3.500 ha e um rebanho de 7.500 cabeças.
Com as pastagens predominantemente degradadas e com o deficiente manejo dos animais, essas propriedades produziam anualmente cerca de 70 kg de carcaça (4,7@) por
hectare (Tabela 1; Figura 3).
Sob essas condições, as emissões de GEE dessas fazendas tinham patamares médios de
5,0 tCO2e ha-1 ao ano e 79,4 kg CO2e por kg de carne produzida (Figura 3). Cerca de 60%
dessas emissões eram provenientes do rebanho e 40% pela degradação dos solos (Figura 4). Ambos os índices produtivos e ambientais são considerados de baixa performance
quando comparados ao potencial dessa atividade (CROSSON et al., 2011; BARBOSA et
al., 2015; CARDOSO et al., 2016).
Os resultados de 2012, antes do início do projeto, foram consequência do sistema de
produção essencialmente extensivo e com baixo grau de investimento no sistema de gestão e de manejo do sistema produtivo. Com essa falta de estratégia, as propriedades não
manejavam pastos, não forneciam suplementação alimentar ao rebanho e não efetuavam
o manejo reprodutivo dos animais adequadamente. Assim, as fazendas foram degradando
suas áreas de pastagens e seus rebanhos perdendo eficiência de produção.
FIGURA 3: EMISSÃO GEE E PRODUçÃO
mÉDIA NAS 5 fazendas participantes
Intensidade emissão GEE
PRODUÇÃO DE CARNE
80
350
2012
2013
2014 Potencial
0
2012
2013
2014 Potencial
0
2012
2013
122
96
65
0
175
7
2.4
40
32.2
48.3
3.8
3
(kg carcaça ha -1)
79.4
(CO2e por kg de carcaça produzida -1)
4.5
5
5.0
(t CO2e ha -1)
350
Emissão de GEE
2014 Potencial
32
A degradação de pastagem pode ser definida como o processo de perda de vigor, de
produtividade e da capacidade de recuperação natural da pastagem, tornando-a incapaz
de sustentar os níveis de produção e qualidade exigidos pelos animais, bem como o de
superar os efeitos nocivos de pragas, de doenças e de plantas invasoras (MACEDO, 1995).
Como consequência, os animais não recebem o tratamento e a quantidade e qualidade de
alimento necessária para seu desenvolvimento e assim demoram mais tempo para atingir
o peso de abate adequado. Dessa forma, o rebanho passa a ter animais mais velhos, agravando ainda mais a situação produtiva e ambiental da fazenda, uma vez que esses animais
são menos eficientes para ganhar peso e por isso emitem maior quantidade de GEE por
quantidade de alimento ingerido comparado a animais mais jovens – principalmente na
época das secas, quando a oferta de pastos é menor que na época das chuvas.
FIGURA 4: EMISSÃO DE GEE (t CO2 e / ha)
NAS 5 fazendas participantes
SOLO
2.4
3
0
2012
2013
0
2012
2013
2014 Potencial
0
0.86
2013
0.07
2012
2014 Potencial
3.8
4.5
5.0
BALANÇO GEE
5
1.29
2.46
2014 Potencial
0.03
2013
0.1
0.01
2012
1
- 2.76
0
2.65
2.94
3
1
1.83
2
4.34
5
INSUMOS
2.03
REBANHO
2014 Potencial
Emissões de GEE anuais médias
consolidadas por fonte emissora
de cinco fazendas participantes
do Programa Novo Campo.
33
Por isso, uma das primeiras intervenções da fase piloto do Programa Novo Campo foi
melhorar a condição das pastagens. Nessa fase, as fazendas participantes juntas recuperaram e reformaram 13% da área de pasto degradado abrangida pelo programa (453
ha de pastagens degradadas), das quais 190 ha foram com integração Lavoura-Pecuária
(sucessão com soja e milho; ver Fazenda 5 Irmãos - Anexo 1).
Com produção de alimento em quantidade e qualidade adequada à criação dos animais,
essas áreas reformadas e recuperadas foram utilizadas para pastejo rotacionado do rebanho. Além disso, as propriedades progressivamente introduziram boas práticas agropecuárias complementares - definidas nos manuais BPA e GIPS, as quais se baseiam na
suplementação animal, melhorias no manejo reprodutivo e sanitário do rebanho e gestão
da fazenda.
Sequestro de Carbono no solo
O sequestro de carbono pode ser definido como
Pastagens influenciam esse ciclo de acordo
a captura e estocagem de carbono que é retira-
com o manejo empregado. Pastagens em pro-
do da atmosfera. Nas pastagens a estocagem
cesso de degradação, devido a pisoteios, super
de C no solo se inicia pela fixação de CO2 da
pastoreio ou infestações de cupins tendem a di-
atmosfera na forragem por meio do processo de
minuir sua produção de forragem, o que reduz a
fotossíntese. Posteriormente, os resíduos dessa
entrada de C no solo e, consequentemente, não
forragem são decompostos por microrganismos
conseguem manter seus níveis de matéria orgâ-
do solo, sendo que uma parte é estocada na
nica – emitindo assim mais CO2 do que conse-
matéria orgânica do solo (55% de C) e a outra
guem sequestrar. Além disso, outros processos
parte volta para a atmosfera na forma de CO2.
decorrentes da degradação do solo, como a
Assim, é formado um ciclo, onde a quantidade
erosão, também contribuem com a redução do
de matéria orgânica está em equilíbrio devido ao
nível de C no solo.
balanço entre o consumo e a fixação do C con-
Por outro lado, pastagens bem manejadas
tido nos resíduos vegetais.
produzem forragem suficiente para manter ou
Continua na página seguinte...
34
aumentar seus níveis de matéria orgânica do
mulo de carbono no solo estimado em 20 anos
solo. Adicionalmente, o aumento da matéria or-
(se for mantido o manejo sustentável nesse pe-
gânica incrementa a conservação e a fertilidade
ríodo), posteriormente esse estoque de carbono
do solo. Entretanto, existe um período de acú-
se equilibra (IPCC, 2006).
A suplementação alimentar dos bovinos auxilia principalmente na conservação das pastagens e na nutrição animal, fornecendo alimento adequado na época das secas (quando
há insuficiente forragem nos pastos) e permitindo o abate de animais mais jovens e com
melhor acabamento. Já o manejo sanitário consiste em um conjunto de atividades veterinárias regularmente planejadas e direcionadas para a prevenção e manutenção da saúde
do rebanho. Enquanto o manejo reprodutivo é o arranjo de práticas que otimizam a eficiência de reprodução do rebanho, principalmente relacionadas à reprodução da fêmea. Finalmente, as melhorias na gestão da propriedade visam aprimorar ações de planejamento,
organização, direção e controle da fazenda (Valle, 2011).
Esse conjunto de práticas conseguiu paulatinamente aumentar a eficiência de produção
das fazendas e, após dois anos adotando boas práticas agropecuárias, as propriedades
aumentaram a produção média de carne em 85% e reduziram suas emissões de GEE em
25% por hectare. Com isso, as propriedades reduziram 60% das emissões de GEE por
quilograma de carcaça produzida (Figura 3).
A redução nas emissões foi reflexo direto de um ajuste do rebanho, através da redução do
tempo de abate dos animais (em pelo menos seis meses – pela maior oferta e eficiência de
conversão do alimento) e identificação e descarte dos animais mais velhos e ineficientes.
E também da diminuição das taxas de degradação das pastagens. Por causa dessas práticas, as emissões pelos animais foram reduzidas em 15%, enquanto o sequestro de carbono no solo nas áreas de pastagem reformadas e recuperadas diminuíram as emissões
de GEE pela degradação em 35% nesse período, mesmo com o aumento das emissões
provenientes pela aplicação e uso de insumos, como ureia e óleo diesel para a manutenção dessa área reformada (Figura 4).
Sistemas Integrados Lavoura, Pecuária e Floresta
Os sistemas de integração envolvem a produ-
volvida pela Embrapa em parceria com outras
ção de grãos, fibras, madeira, energia, leite ou
instituições.
carne na mesma área, em plantios em rotação,
O ILP, por exemplo, consiste no plantio simultâ-
consorciação e/ou sucessão. O sistema funcio-
neo do cereal (i.e. milho) e da forrageira ou no
na basicamente com o plantio, durante o verão,
plantio defasado da forrageira em aproximada-
de culturas agrícolas anuais (arroz, feijão, milho,
mente 30 dias depois da emergência do cereal
soja ou sorgo) e de árvores, associado a espé-
de modo a produzir grãos no verão e pasto no
cies forrageiras.
período da seca. Basicamente, as plantas de
Há várias possibilidades de combinação entre
milho se desenvolvem mais rapidamente e som-
os componentes agrícola, pecuário e florestal,
breiam o capim, retardando seu crescimento.
considerando o espaço e o tempo disponível,
Entretanto, quando o milho é colhido, a luz solar
resultando em diferentes sistemas integrados,
penetra no interior do dossel da lavoura e atinge
como Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), lavoura
as plantas de capim, que passam a crescer e
-pecuária (iLP), silvipastoril (SSP) ou agroflores-
emitir novas folhas, formando forragem de alta
tais (SAF). Esta solução tecnológica foi desen-
qualidade para pastejo no inverno.
36
Com esses níveis de emissão, as fazendas se aproximam dos patamares emitidos por eficientes sistemas produtivos encontrados em outros importantes países produtores de carne bovina (Figura 5). Isso sugere que a estratégia de produção adotada pelo Programa Novo Campo,
além de elevar a produção de carne com menor emissão de GEE, pode ainda proporcionar um
melhor posicionamento da carne brasileira no cenário mundial.
Figura 5. Comparação da intensidade
de emissão da produção de carne bovina
INTENSIDADE DA EMISSÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA
(kg CO2e / kg carcaça produzida)
60
30
Emissões reportadas internacionalmente
Antes da aderência ao Programa Novo Campo (5 fazendas)
Após da aderência ao Programa Novo Campo (5 fazendas)
Programa Novo Campo (antes)
Programa Novo Campo (depois)
Evans and Williams (2009)
Williams et al. (2006)
Williams et al. (2006)
Williams et al. (2006)
Williams et al. (2006)
White et al. (2010)
Williams et al. (2006)
White et al. (2010)
Veysset et al. (2010)
Subak (1999)
Phetteplace el at (2001)
Peters et al (2010)
Ogino et al (2004)
Pelletier et al. (2010)
Nguyen et al. (2004)
Crosson et al. (2010)
Crosson et al. (2010)
Crosson et al. (2010)
Cederberg and Stadig (2003)
Casey and Holden (2006b)
Casey and Holden (2006b)
Casey and Holden (2006b)
Casey and Holden (2006a)
Beauchemin et a. (2010)
0
Comparação da intensidade de emissão da produção
de carne bovina reportados nacional e internacionalmente
com os proporcionados pelo Programa Novo Campo
(*dados foram normalizados para GWP-AR4 – IPCC, 2007).
AJUSTE DO REBANHO
Sistemas de produção de carne menos eficien-
de abate leva a um “represamento” de gado na
tes tendem a possuir baixas taxas de desfrute
propriedade. Assim, com o aumento da eficiên-
(proporção de animais abatidos em relação ao
cia do sistema produtivo, as taxas de natalidade
rebanho total). Essa ineficiência é causada por
e abate tendem a se equilibrar, ajustando o reba-
inúmeros fatores, como a insuficiente oferta de
nho à nova condição. Com isso, a propriedade é
alimento ou um reduzido manejo do rebanho
capaz de produzir uma maior quantidade de car-
(i.e. sanitário e reprodutivo). Entretanto, sob
ne e aumentar sua rentabilidade com um menor
uma mesma taxa de natalidade, a baixa taxa
número de animais.
38
Potenciais do Programa Novo Campo –
Intensificação sustentável das pastagens
A evolução recente do Programa Novo Campo indica haver melhorias substanciais nos índices
produtivos e ambientais dessas propriedades com o programa estimulando a intensificação
moderada dos pastos visando a total recuperação das áreas degradadas e o manejo do rebanho.
Estima-se que nos próximos anos emissões de GEE nessas propriedades atingirão 2,4
t CO2e ha-1 ano-1 e 7,0 t CO2e por kg de carcaça produzida (Figura 7). Isso significa que
essa estratégia proporcionará uma aumento de produção de carne em cinco vezes, o que
reduzirá as emissões de GEE em 50% por hectare e quase 90% por kg de carne produzida
quando comparado aos níveis encontrados no início da fase piloto do programa em 2012
(Figura 3; 6).
Estratégia para manter a pecuária de
corte sequestrando carbono
Espera-se que nos próximos anos o Programa
dadas, será necessário adotar manejos capazes
Novo Campo promova um aumento de produ-
de explorar outras formas de sequestrar carbo-
ção de carne cinco vezes maior com a mesma
no. Uma delas é a adoção de sistemas integra-
quantidade de GEE emitida pela propriedade
dos, principalmente com árvores (Integração La-
quando comparado ao início do programa. Con-
voura-Pecuária- Floresta). Esses sistemas, além
tudo, deve-se atentar que apenas reduzindo as
de potencializarem o sequestro de carbono no
emissões de GEE para a atmosfera é que será
solo, também são capazes de sequestrar car-
possível frear o aquecimento global. Nesse sen-
bono em sua biomassa aérea (raízes, troncos,
tido, para que a agropecuária consiga direcionar
galhos e folhas), o que deve abrir novas opor-
suas emissões a zero, após o importante e fun-
tunidades de reduzir o impacto dos sistemas
damental passo de recuperar pastagens degra-
agropecuários no clima.
39
Esse cenário projeta as fazendas sob um sistema de produção de ciclo completo (cria,
recria e engorda), com pastagens 100% recuperadas e bem manejadas, as quais teriam
condições de suportar uma lotação animal de 3,09 cabeças ha-1 (70% maior que a lotação
média de 2014) e produzir 23,8 @ de carne ha-1 ano-1. Sob essas condições o solo das pastagens receberiam em média 100 kg de ureia e 300 kg de calcário ha-1 ano-1 e o rebanho
seria composto por 120 vacas, 95 bezerros, 1 touro, 68 novilhos e 25 novilhas (para cada
100 hectares).
FIGURA 6: PRINCIPAIS RESULTADOS
da estratégia do Programa Novo Campo
Intensificação sustentável da PECUÁRIA
MENOS 90%
GEE / KG
CARNE
SEQUESTRO
DE CARBONO
NO SOLO
MENOS 50%
GEE / HA
Impacto no meio ambiente
Impacto na produtividade
400%
MAIS CARNE
MELHOR
GESTÃO DA
PROPRIEDADE
REBANHO
MAIS JOVEM
E EFICIENTE
40
A drástica redução de emissões projetadas para as fazendas participantes do programa
para os próximos anos, demostrada no gráfico acima, é principalmente consequência do
sequestro de carbono nos solos durante o restabelecimento total das pastagens degradadas, que compensa as emissões adicionais pelo rebanho e pelo uso de insumos (Figura
3 e 4). Enquanto o expressivo aumento de produção de carne (Figura 3) é função da área
total de pastagem fornecendo alimento em quantidade e qualidade capaz de otimizar a
performance de produção de um rebanho jovem e eficiente.
Esses resultados mostram que com investimentos no sistema de produção, a atividade
agropecuária é capaz de, em um relativo curto espaço de tempo, reduzir consideravelmente suas emissões de GEE concomitantemente a um aumento de produção.
Recuperação de pastagens degradadas
– benefícios além do carbono
A recuperação de pastagens degradadas pode
textura, estrutura e quedas nas taxas de infiltra-
ser definida como um processo de tornar as
ção e retenção de água são alguns dos efeitos
áreas em terras produtivas e autossustentáveis,
da erosão sobre as características do solo. As-
de acordo com uma proposta estabelecida pelo
sim, uma vez recuperado, o solo restabelece
Ibama (1990).
funções importantes para o bom funcionamento
A manutenção da cobertura é um dos principais
do sistema produtivo, como promover melhores
aspectos da recuperação de pastagens degra-
condições para germinação de sementes, au-
dadas, principalmente por evitar a erosão, um
mentar a fertilidade e umidade do solo e reduzir
dos mais sérios problemas do campo, tanto pela
o escoamento superficial da água e, consequen-
perspectiva ambiental quanto produtiva. Perdas
temente, o carreamento de sedimentos para os
de nutrientes e matéria orgânica, alterações na
cursos d’água (THE WORLD BANK, 1992).
Intensificação sustentável da pecuária é chave
para suprir demandas de produção no campo
Para o Brasil suprir a demanda de carne bovina prevista para 2025, o Ministério da Agri-
41
cultura, Pecuária e Abastecimento projeta uma produção 25% maior que os 8 milhões de t
de carcaça produzidos em 2014 (BRASIL, 2015b).
Nesse contexto, é esperado que apenas os estados da Amazônia contribuirão com aproximadamente 40% dessa produção total e o estado do Mato Grosso continuará sendo o
principal produtor (IBGE, s.d.; BARBOSA et al., 2015). Projeções do Outlook-2025 feitas
pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA, 2015) apontam que esse
estado deve aumentar sua produção de carne em 46% entre 2014 e 2025 para atender essa
demanda (de 1,33 para 1,94 milhões de toneladas de carcaça bovina).
Apenas com o aumento de produção de carne fomentado pelo Programa Novo Campo
nas fazendas participantes em sua fase piloto (+85%), o resultado já é 25% maior que o
aumento esperado para o estado do Mato Grosso para os próximos 15 anos (IMEA, 2015).
Contudo, esse aumento de produção proporcionado pelo programa é similar ao esperado
por sistemas inovadores de produção de carne (BARBOSA et al., 2015) (Figura 7).
Entende-se por um cenário inovador de produção fazendas de gado que adotam tecnologias agropecuárias visando à intensificação moderada, de modo a garantir a demanda
futura de carne utilizando áreas já estabelecidas. E ainda, apresentam potencial de ceder
Figura 7. Produção de carne
esperada para 2030
Cenário
TENDENCIAL
Cenário
INOVADOR
Brasil
Mato Grosso
Cenário
PROGRAMA
300
300
300
150
150
150
0
0
BR
MT
Amazônia
Amazônia
Novo Campo Program
0
BR
MT
Amazônia
Antes
Cenários Tendencial (BAU) e Inovador (BARBOSA et al., 2015) comparados ao Programa Novo Campo.
Piloto
Potencial
42
área para outros usos agrícolas e regularizar eventuais passivos ambientais (PIATTO et
al., 2015; BARBOSA et al., 2015).
Para se ter uma ideia do potencial do Programa Novo Campo aplicado em larga escala,
assumindo apenas as porcentagens médias de aumento de produção de carne bovina projetados para os próximos anos para o Brasil (+25%) e nas fazendas durante a fase piloto
(+85%) e fase futura (+405%), estima-se que para cada hectare de fazenda que adere ao
programa, a demanda de carne é atendida e entre 3 e 15 hectares poderiam ser destinados
para outra modalidade de produção ou conservação.
Análise econômica do Programa Novo Campo
Análises bioeconômicas feitas no âmbito do
nário e dos equipamentos), não considerando o
Programa Novo Campo mostram que o ganho
valor da terra no modelo nem do custo da regu-
de eficiência das fazendas participantes pode
larização ambiental. Para as áreas intensificadas
aumentar o valor presente líquido (VPL) dessas
foi considerado o investimento adicional de R$
propriedades em aproximadamente R$ 2.000,00
2.400,00/ha (R$ 1.000,00 para a reforma do pas-
por hectare, além de reduzir substancialmente
to e R$ 1.400,00 com insumos como correção
o risco de prejuízo de 99% para 15% (IIS, 2015).
do solo e adubação). Os custos fixos incluem
Assim, com a recuperação de pastagens de-
depreciação, manutenção de pastagens regu-
gradadas e adoção de boas práticas agrope-
lares ou pastagens intensificadas. Custos vari-
cuárias, uma atividade de produção de carne
áveis incluem manejo sanitário, mineralização
bovina deficitária se transforma em lucrativa,
e manejo reprodutivo. Após o cálculo do lucro
reduzindo os custos de produção por meio do
antes dos juros e imposto de renda (EBIT), fo-
aumento de produtividade. Esses cálculos se
ram descontadas as despesas financeiras que a
baseiam em um investimento inicial no valor de
propriedade teria com financiamentos e imposto
R$ 2.000,00 por hectare de pastagem (incluindo
de renda (IIS, 2015).
o valor do rebanho, das instalações, do maqui-
43
Pecuária sustentável protagoniza as metas da
agropecuária brasileira no Acordo de Paris
A 21ª Conferência das Partes (COP-21), da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima, realizada em novembro de 2015 em Paris, culminou na elaboração do
Acordo de Paris. O acordo tem objetivo de conter o aumento da temperatura média global
abaixo dos 2ºC acima dos níveis pré-industriais e envidar esforços para limitar esse aumento em 1,5ºC.
Essa meta deverá ser atingida por meio da soma de esforços dos quase 200 países signatários, incluindo o Brasil, por meio de sua NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada). A NDC brasileira estima que em 2030 as emissões de GEE do país serão de 1208 Mt,
em que o setor agropecuário corresponderá por 490 Mt CO2e, ou 40% dessas emissões
totais nacionais (BRASIL, 2015c,d).
As emissões de GEE do setor da agropecuária projetadas para 2030 são próximas aos
valores emitidos por esse setor em 2005 (484 Mt CO2e) - ano que é a linha de base da NDC
(Figura 8). Contudo, as emissões projetadas para 2030 estarão potencialmente associadas a uma produção agropecuária cerca de 30% maior que a atual (BRASIL, 2015b,c,d).
1500
750
2005
2020
Agropecuária
Energia
Uso da terra
2030
Resíduos
Indústria
*Em Mt CO2e. Adaptado de Brasil (2015d).
Figura 8. EMISSÕES GEE NO BRASIL POR SETOR
até 2030 apresentado pela NDC Brasileira
44
O aumento de produção agropecuária associada à manutenção das emissões de GEE em
2030 se deve às propostas contidas na NDC brasileira que se concentram no sequestro de
carbono no solo por meio de ações ligadas à pecuária: 15 milhões de ha de recuperação
de pastagens degradadas e 5 milhões de ha de expansão de sistemas integrados de produção, com Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF).
Com a implementação dessas ações, estima-se que o sequestro de carbono compensará
boa parte das emissões de GEE originárias do aumento do rebanho e de aumento da produção agrícola necessário para suprir a demanda por produtos agropecuários em 2030.
Entretanto, as evidências de como a recuperação de pastagens degradadas e a implantação de sistemas integrados afetam a eficiência de produção e as emissões de GEE em
propriedades rurais brasileiras ainda estão sendo entendidas. Nesse contexto o Programa Novo Campo também se torna um importante exemplo para se verificar o impacto
dessas ações.
De acordo com as análises apresentadas nesse relatório, as ações propostas pela NDC
para o setor agropecuário apresentam coerência para fazendas de pecuária de corte na
região Amazônica: recuperando pastagens e implantando sistemas integrados é possível
aumentar a produtividade e ao mesmo tempo reduzir as emissões de GEE em escala (Figura 3; 6).
Entretanto, o Programa Novo Campo também mostra que além das ações propostas na
meta brasileira é necessário melhorar o manejo do rebanho (como na suplementação alimentar e práticas reprodutivas e sanitárias) e a gestão da propriedade – os quais são
diretamente dependentes de assistência técnica ao produtor. Nota-se que a assistência
contínua proporcionada pelo Programa Novo Campo foi fundamental para promover melhorias produtivas e ainda reduzir as emissões de GEE.
Fica evidente que as metas brasileiras estão no caminho certo para a redução de emissões no setor agropecuário, porém, para garantir a execução do compromisso climático,
será fundamental ampliar a assistência técnica ao produtor rural e ao mesmo tempo monitorar este aumento de eficiência produtiva Nesse contexto, o Programa Novo Campo
apresenta-se como um exemplo a ser replicado em escala nacional.
RESULTADOS e
CONCLUSÕES
46
A implementação
de boas práticas agropecuárias, a gestão integrada
da propriedade e o monitoramento das emissões de GEE no Programa Novo Campo
mostram que:
Evidências do programa
1. O Programa Novo Campo tem o potencial de aumentar a produção de
carne em 5 vezes e reduzir 50% das emissões de GEE por hectare de área
produtiva e 90% das emissões por quilograma de carne produzida.
2. Após dois anos de adoção progressiva de boas práticas agropecuárias
(recuperação de pastagens degradadas, suplementação animal, melhorias
no manejo sanitário e reprodutivo do rebanho e gestão da propriedade)
as fazendas participantes do programa aumentaram sua produção de
carne em quase 100% e reduzir as emissões de GEE por hectare em 20%
– resultando em 60% menos GEE por quilograma de carcaça produzida.
3. A transição de fazendas para sistemas produtivos mais eficientes
e em áreas já antropizadas (áreas desmatadas há muitos anos)
apresenta-se como um meio viável para atender a demanda crescente
de produtos agropecuários ao mesmo tempo em que esse setor
colabora com a mitigação das mudanças climáticas globais.
4. O Programa Novo Campo apresenta-se como um importante estudo
de caso para produtores elevarem sua produtividade por meios
sustentáveis e para tomadores de decisão implementarem políticas
públicas para o cumprimento de acordos climáticos globais.
A pecuária de corte é o setor de maior oportunidade de redução de emissões de GEE e
sequestro de carbono no Brasil. Sistemas mais eficientes de produção aumentam a rentabilidade do produtor e ainda colaboram com a manutenção do clima. Os setores público e
privado devem apoiar o produtor para que esta transição seja efetiva e em escala suficiente para atender a demanda por carne e ainda passar de emissor ao maior sequestrador de
carbono do país.
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ANEXOS
Anexo 1. Análise individuais das 5 primeiras fazendas
participantes do Programa Novo Campo.
FAZENDA
5 IRMÃOS
500 ha
Responsável
Valdomiro
Ferraresi
190
35
900 animais
Redução GEE/hectare
Redução GEE/kg de carne
–60%
–85%
Área de pastagem
+150%
Aumento da produção de carne
Área de pastagem reformada/recuperada
Pastagem reformada com
integração lavoura-pecuária
53
Trabalhando em 500 ha de pastagem com um rebanho médio de 900 animais em ciclo
completo de produção, a Fazenda 5 Irmãos, assim como a média nacional, explorava pouco seu potencial, produzindo não mais que 50,4 kg de carne ha-1 ano-1 (Anexo 2).
Isso se devia principalmente, à degradação das pastagens que não proporcionava forragem com quantidade e qualidade suficiente aos animais - consequência da falta de orientação para implantar um manejo produtivo mais eficiente.
Com esse perfil, as emissões de GEE médias da Fazenda 5 Irmãos eram de 5,2 t CO2e ha-1
ano-1, sendo a fazenda que mais emitia GEE para se produzir um quilograma de carne (104
TABELA 2: ACOMPANHAMENTO DE EMISSÕES GEE
ANTES E DURANTE O PROGRAMA NOVO CAMPO
Fonte
Emissão de GEE (t CO2e / ha)
2012
2013
2014
Bovinos
3.1
2.6
2.3
Fermentação entérica
2.9
2.4
2
Dejetos
0.3
0.2
0
Insumos
0.024
0.038
0.217
Ureia
0.014
0.028
0.208
Calcário
0.010
0.010
0.009
Diesel
0.002
0.002
0.011
Pastagem
2
1.7
-0.6
Degradada
2
1.9
1.7
Reformada
0
-0.2
-2.3
Emissão GEE/ha
5.2
4.3
1.9
Produção de carne*
50
87.4
124.4
Intensidade**
103.9
50.7
16
* Produção de carne (kg carcaça ha-1). **Intensidade de emissão (kg CO2e/kg carne produzida).
kg CO2e) dentre as primeiras fazendas participantes do Programa Novo Campo (Tabela 2).
54
Contudo, com o suporte do Programa Novo Campo, a Fazenda 5 Irmãos reformou inicialmente 7% da sua área de pastagem (35 ha), que foi utilizada para pastejo rotacionado de
parte dos bovinos de recria da propriedade, e introduziu outras práticas de produção determinadas nos manuais BPA e GIPS-GTPS, como a suplementação alimentar dos animais
e o aperfeiçoamento do controle reprodutivo e sanitário do rebanho.
Após um ano, essas intervenções foram capazes de reduzir as emissões por hectare de
pastagem da Fazenda 5 Irmãos em quase 20% (de 5,2 para 4,3 t CO2e ha-1), mesmo com
a aplicação regular de ureia e uso de diesel no maquinário para a manutenção da área
reformada (Tabela 2).
Essa redução de emissões de GEE foi consequência do sequestro de carbono no solo da
área de pastagem reformada e da melhoria da eficiência de produção do rebanho. Com
alimento suficiente e de qualidade a engorda do rebanho foi acelerada, o que diminuiu as
emissões pelo rebanho e aumentou a produção de carne em 74%, saltando de 50,4 para
87,4 kg de carcaça produzidas por hectare ao ano (Tabela 2).
E a Fazenda 5 Irmãos foi além. Em Janeiro de 2014, também com auxilio do Programa Novo
Campo e das práticas definidas nos manuais BPA e GIPS-GTPS, a propriedade recuperou
mais 190 hectares de pastagens degradadas. Entretanto, dessa vez com a implantação de
um sistema integrado lavoura e pecuária (Anexo 2).
Dessa maneira, com 45% da área produtiva recuperada (218 ha), a Fazenda 5 Irmãos passou a ter um balanço de emissões de GEE negativo pelo solo, ou seja, passou a sequestrar
mais carbono no solo do que emitia pela degradação. Além disso, com a introdução da
Integração Lavoura-Pecuária, a fazenda aumentou sua capacidade de disponibilizar forragem de qualidade aos animais, principalmente no período da seca, além de complementar
sua renda com a soja e o milho produzido no verão.
Como consequência, a fazenda conseguiu acelerar ainda mais o tempo de abate de seu
rebanho, passando a produzir 124 kg de carcaça por hectare ao ano, ou seja, 150% mais
que a produção de 2012 (Tabela 2). Como resultado da aderência ao Programa Novo Campo, após dois anos de adoção de boas práticas agropecuárias as emissões por hectare da
Fazenda 5 Irmãos foram reduzidas em 60% (de 5,2 para 2,0 t CO2e ha-1) e a intensidade de
emissão em quase 85% (de 102,9 para 16,0 t CO2e por kg de carcaça produzida) - a maior
redução de emissão de GEE entre os primeiros participantes do Programa Novo Campo.
55
FAZENDA
BEVILAQUA
1400 ha
Responsável
CELSO
BEVILAQUA
38
3100 animais
Redução GEE/hectare
Redução GEE/kg de carne
–15%
–60%
+98%
Área de pastagem
Área de pastagem reformada/recuperada
Aumento da produção de carne
A Fazenda Bevilaqua se destaca por ter a maior área de pastagem e o maior rebanho dentre as primeiras propriedades participantes do Programa Novo Campo: 1400 ha e 3100
animais em média (Anexo 2). Trabalhando com um ciclo de produção completo produzia
aproximadamente 80 kg de carcaça ha-1 ano-1, quantidade acima da média nacional, estimada ao redor de 50 kg de carcaça ha-1 ano-1 (IBGE, s.d.; Tabela 3).
No entanto, a falta de atualização sobre técnicas de manejo das pastagens e dos animais
impedia que a fazenda incorporasse tecnologias mais recentes no campo. E com isso,
logo veio a degradação das suas áreas e a produtividade da fazenda não prosperava.
Desse modo, as emissões de GEE da Fazenda Bevilaqua eram de 5,7 t CO2e ha-1 ano-1,
sendo os bovinos, por meio da fermentação entérica e seus dejetos, a principal fonte de
emissão de GEE da propriedade (60%) (Tabela 3).
Com o suporte do Programa Novo Campo, a Fazenda Bevilaqua reformou inicialmente
menos de 3% da área de pastagem (38 ha), e introduziu outras práticas de produção determinadas nos manuais BPA e GIPS-GTPS.
TABELA 3: ACOMPANHAMENTO DE EMISSÕES GEE
ANTES E DURANTE O PROGRAMA NOVO CAMPO
Fonte
Emissão de GEE (t CO2e / ha)
2012
2013
2014
Bovinos
3.6
3.2
2.8
Fermentação entérica
3.3
3
3
Dejetos
0.3
0.3
0
Insumos
0.009
0.015
0.015
Ureia
0.005
0.011
0.011
Calcário
0.004
0.004
0.004
Diesel
0.001
0.001
0.001
Pastagem
2
1.9
1.9
Degradada
2
2
2
Reformada
0
-0.1
-0.1
Emissão GEE/ha
5.7
5.2
4.8
Produção de carne*
79
138.2
156.7
Intensidade**
71.8
38.2
30.5
* Produção de carne (kg carcaça ha-1). **Intensidade de emissão (kg CO2e/kg carne produzida).
56
Após dois anos de adoção dessas boas práticas agropecuárias, a Fazenda Bevilaqua foi
capaz de reduzir as emissões por hectare de pastagem em aproximadamente 15% (de 5,7
para 4,8 t CO2e ha-1), mesmo com a aplicação regular de ureia e uso de diesel no maquinário para a manutenção da área reformada (Tabela 3).
Essa redução de emissões de GEE foi principalmente consequência da melhoria da
eficiência de produção do rebanho, que além de ter o tempo de abate menor devido à
recuperação da pastagem, reduziu em 21% após identificar e descartar os animais improdutivos. Essas ações fizeram com que a produção de carne da propriedade aumentasse em 98%, saltando de 79 para 157 kg de carcaça produzidas por hectare ao ano
(Tabela 3).
57
Como resultado da aderência ao Programa Novo Campo, após dois anos de adoção de
boas práticas agropecuárias a intensidade de emissão da Fazenda Bevilaqua foi reduzida
em 60% (de 72 para 31 t CO2e por kg de carcaça produzida) (Tabela 3).
FAZENDA
PARAÍSO
480 ha
Responsável
ALDO
DANETTI
40
900 animais
Redução GEE/hectare
Redução GEE/kg de carne
–22%
–66%
+136%
Área de pastagem
Área de pastagem reformada/recuperada
Aumento da produção de carne
Dentre as primeiras fazendas participantes do Programa Novo Campo, é na Fazenda Paraíso onde foi visto o maior aumento na produção de carne com a reforma de apenas 8% de
sua área de pastagem, antes predominantemente degradada.
Com 480 ha de pastagem e um rebanho médio de 900 animais, a Fazenda Paraíso por meio
de um ciclo de produção completo produzia aproximadamente 52 kg de carcaça ha-1 ano-1.
Sob esse cenário, as emissões de GEE médias da Fazenda Paraíso eram de 5,2 t CO2e ha-1
ano-1 (Anexo 2; Tabela 4).
Com o suporte do Programa Novo Campo, a Fazenda Paraíso além de reformar 8% de
sua área de pastagem (40 ha), introduziu outras práticas de produção determinadas nos
manuais BPA e GIPS-GTPS, como a suplementação alimentar dos animais e o aperfeiçoamento do controle reprodutivo e sanitário do rebanho.
TABELA 4: ACOMPANHAMENTO DE EMISSÕES GEE
ANTES E DURANTE O PROGRAMA NOVO CAMPO
Fonte
Emissão de GEE (t CO2e / ha)
2012
2013
2014
Bovinos
3.1
3
2.4
Fermentação entérica
2.9
2.8
2
Dejetos
0.2
0.2
0
Insumos
0.028
0.045
0.045
Ureia
0.017
0.033
0.033
Calcário
0.012
0.012
0.012
Diesel
0.002
0.002
0.002
Pastagem
2
1.7
1.7
Degradada
2
1.9
1.9
Reformada
0
-0.2
-0.2
Emissão GEE/ha
5.2
4.7
4.1
Produção de carne*
52.1
91.2
123.2
Intensidade**
99.5
52.5
34.1
* Produção de carne (kg carcaça ha-1). **Intensidade de emissão (kg CO2e/kg carne produzida).
58
Após dois anos de adoção dessas boas práticas agropecuárias, a Fazenda Paraíso foi
capaz de reduzir as emissões por hectare de pastagem em aproximadamente 20% (de 5,2
para 4,1 t CO2e ha-1), mesmo com a aplicação regular de Ureia e uso de diesel no maquinário (Tabela 4).
Essa redução de emissões de GEE teve como principal consequência a melhoria da eficiência de produção do rebanho que, após fornecer alimento de melhor qualidade devido
à reforma da pastagem e ao descartar os animais improdutivos, passou a produzir quase
140% mais carne, saltando de 52 para 123 kg de carcaça por hectare ao ano (Tabela 4).
59
Como resultado da aderência ao Programa Novo Campo, após dois anos de adoção de
boas práticas agropecuárias a intensidade de emissão da Fazenda Paraiso foi reduzida em
66% (de 100 para 34 t CO2e por kg de carcaça produzida).
FAZENDA
SÃO MATHEUS
550 ha
Responsável
FRANCISCO MILITÃO
MATHEUS DE BRITO
32
650 animais
Redução GEE/hectare
Redução GEE/kg de carne
–5%
–35%
+57%
Área de pastagem
Área de pastagem reformada/recuperada
Aumento da produção de carne
A Fazenda São Matheus mostra um cenário interessante com relação as emissões de GEE
e a produção de carne de seu sistema de manejo. Trabalhando com recria e engorda, as
emissões dessa propriedade eram as menores entre as primeiras participantes do Programa Novo Campo: 3,6 t CO2e ha-1 ano-1 (Tabela 5).
Isso se devia à baixa lotação animal de sua área de pastagem, menos de 1,2 animal por
hectare, a principal fonte de emissão de GEE do sistema produtivo. Contudo, com pastagens em degradação, a produção da Fazenda São Matheus era inferior a 75 kg de carcaça
ha-1 ano-1 (Tabela 5).
Durante sua participação no Programa Novo Campo a propriedade reformou apenas 6%
de seus 550 ha de pastagem em degradação e manteve o mesmo perfil de rebanho: cerca
de 650 com idade média menor que 24 meses (Anexo 2). Ou seja, essa fazenda não preci-
60
sou descartar animais menos eficientes como as demais propriedades precisaram. Contudo, a adoção de boas práticas aperfeiçoou a eficiência de seu sistema, o qual passou
a produzir quase 60% mais carne, saltando de 72 para 113 kg de carcaça produzidas por
TABELA 5: ACOMPANHAMENTO DE EMISSÕES GEE
ANTES E DURANTE O PROGRAMA NOVO CAMPO
Fonte
Emissão de GEE (t CO2e / ha)
2012
2013
2014
Bovinos
1.6
1.6
1.6
Fermentação entérica
1.5
1.5
2
Dejetos
0.1
0.1
0
Insumos
0.000
0.025
0.032
Ureia
0.000
0.018
0.023
Calcário
0.000
0.007
0.008
Diesel
0.000
0.001
0.002
Pastagem
2
1.9
1.8
Degradada
2
2
1.9
Reformada
0
-0.1
-0.1
Emissão GEE/ha
3.6
3.5
3.4
Produção de carne*
72.4
84.2
113.4
Intensidade**
50.1
42
32.6
* Produção de carne (kg carcaça ha-1). **Intensidade de emissão (kg CO2e/kg carne produzida).
hectare ao ano (Tabela 5).
Após dois anos de adoção dessas boas práticas agropecuárias, a Fazenda São Matheus
foi capaz ainda de reduzir as emissões por hectare de pastagem em aproximadamente
-1
5% (de 3,6 para 3,4 t CO2e ha ), mesmo com a aplicação regular de ureia e uso de diesel
(Tabela 5).
61
Como resultado da aderência ao Programa Novo Campo, após dois anos de adoção de
boas práticas agropecuárias a intensidade de emissão da Fazenda São Matheus foi reduzida em 33% (de 50 para 33 t COze por kg de carcaça produzida) (Tabela 5; Figura 13).
FAZENDA
MITAJU
580 ha
Responsável
MILTON
SOUZA
33
1200 animais
Redução GEE/hectare
Redução GEE/kg de carne
–8%
–32%
+34%
Área de pastagem
Área de pastagem reformada/recuperada
Aumento da produção de carne
A Fazenda Mitaju ao longo dos anos tem trabalhado com um sistema de produção de recria e engorda. Com uma lotação média de 2,1 animais por hectare e produção de carne,
antes de aderir ao Programa Novo Campo, de cerca de 70 kg de carcaça ha-1 ano-1, as
emissões de GEE eram de 5,2 t CO2e ha-1 ano-1 (Tabela 6).
Após aderir ao Programa Novo Campo a propriedade reformou quase 6% de seus 580 ha
de pastagem em degradação. No entanto, com a adoção de práticas de produção determinadas nos manuais BPA e GIPS-GTPS e com o sequestro de carbono no solo da área
reformada, a Fazenda Mitaju foi capaz de reduzir as emissões por hectare de pastagem
em aproximadamente 8% (de 5,2 para 4,8 t CO2e ha-1), mesmo com a aplicação de ureia e
uso de diesel (Tabela 6).
TABELA 6: ACOMPANHAMENTO DE EMISSÕES GEE
ANTES E DURANTE O PROGRAMA NOVO CAMPO
Fonte
Emissão
2012
2013
2014
Bovinos
3.2
2.9
3
Fermentação entérica
2.9
2.6
3
Dejetos
0.3
0.2
0
Insumos
0.000
0.006
0.031
Ureia
0.000
0.004
0.023
Calcário
0.000
0.002
0.008
Diesel
0.000
0.000
0.002
Pastagem
2
2
1.8
Degradada
2
2
1.9
Reformada
0
0
-0.1
Emissão GEE/ha
5.2
4.9
4.8
Produção de carne*
73.2
78.9
98.2
Intensidade**
71.4
62.8
48.9
* Produção de carne (kg carcaça ha-1). **Intensidade de emissão (kg CO2e/kg carne produzida).
62
Apesar dessa redução de emissões de GEE não ser tão expressiva quanto nas fazendas
com sistemas de produção de ciclo completo participantes do programa, a adoção de
boas práticas aperfeiçoou a eficiência desse sistema, a ponto de produzir quase 35% mais
carne, passando de 73 para 98 kg de carcaça produzidas por hectare ao ano (Tabela 6).
Como resultado da aderência ao Programa Novo Campo, após dois anos de adoção de
boas práticas agropecuárias a intensidade de emissão da Fazenda Mitaju foi reduzida em
32% (de 71 para 49 t CO2e por kg de carcaça produzida) (Tabela 6).
63
Anexo 2. Dados anuais médios utilizados para o cálculo
do balanço das emissões de gases de efeito estufa, por
meio da ferramenta GHG Protocolo Agrícola, de cinco
fazendas participantes do Programa Novo Campo.
TABELA 7: Dados Do cÁlculo das emissões
de GEE utilizando a GHG-Protocolo
* Valores anuais foram relativizados pelo número de meses em que ocorreu a reforma da pastagem (entre Novembro e Dezembro de
2012 - exceto para a Faz. Mitaju que ocorreu entre Outubro e Novembro de 2013), pois antes dessa reforma não havia uso desses
insumos nas pastagens; adicionalmente considerou-se que não houve aplicação de Ureia no primeiro mês da reforma da área, mas a
partir do segundo mês, em cobertura após semeadura do pasto.
Fazenda 5
Irmãos
2012
2013
2014
Fazenda
Bevilaqua
2012
2013
Fazenda
Paraíso
2014
2012
2013
Fazenda S.
Matheus
Fazenda
Mitaju
2014
2012
2013
2014
2012
2013
2014
Rebanho (cabeças)
Entre 6 e 12 meses
Macho
124
88
80
500
501
353
222
199
101
112
35
133
229
156
288
Fêmea
136
141
117
222
237
160
155
182
156
112
35
133
235
197
231
Entre 12 e 24 meses
Macho
27
22
46
301
257
270
142
161
164
109
191
167
18
5
70
Fêmea
145
157
349
520
517
384
192
164
77
109
197
203
100
116
32
Acima de 24 meses
Macho
90
24
11
346
352
358
66
42
15
163
114
15
51
56
36
Fêmea
511
430
229
1558
1320
1209
285
290
298
48
37
32
636
602
581
Total
1033
862
833
2447
3185
2733
1062
1038
811
653
608
682
1269
1132
1239
Ureia (t)*
0,3*
3,5
22,5
0,3*
3,2
3,2
0
10,0*
3,3
Aplicação/uso de Insumos
0,3*
3,8
3,8
0,3*
4,0
4,0
Calcáreo (t)
1,8*
52,4
337,4
1,9*
56,6
56,6
2,0*
59,4
59,4
1,6*
48,2
48,2
0
148*
49,5
Diesel maq. (l)
58,3*
349,5
2250
62,8*
377
377
66*
396
396
53,5*
321
321
0
82,5*
330
123,2
72,4
84,2
113,4
73,2
78,9
98,2
Produção de carne
-1
Kg carcaça ha
50,0
87,4
124,4
79,0
Em degradação
500
465
275
1400
1362
1362
480
440,4
440,4
550
518
518
580
547
547
Bem manejada
0
35
35
0
37,7
37,7
0
39,6
39,6
0
32,1
32,1
0
33
33
Integração l-p
0
0
190
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
138,2
156,7
52,1
91,2
Área de pastagem
64
TABELA 8: BALANÇO DAS EMISSÕES DE GEE ENTRE
AS 5 FAZENDAS PARTICIPANTES DO PROGRAMA
Fazenda 5
Irmãos
2012
2013
2014
Fazenda
Bevilaqua
2012
2013
2014
Fazenda
Paraíso
2012
2013
Fazenda S.
Matheus
2014
Fazenda
Mitaju
2012
2013
2014
2012
2013
2014
Emissão de GEE (t CO2e ha-1)
Rebanho
3,1
2,6
2,3
3,6
3,2
2,8
3,1
3,0
2,4
1,6
1,6
1,6
3,2
2,9
3,0
Ferm. entérica
2,9
2,4
2,1
3,3
3,0
2,6
2,9
2,8
2,2
1,5
1,5
1,5
2,9
2,6
2,7
Dejetos
0,3
0,2
0,2
0,3
0,3
0,2
0,2
0,2
0,2
0,1
0,1
0,1
0,3
0,2
0,2
Insumos
0,024
0,038
0,217
0,009
0,015
0,015
0,028
0,045
0,045
0,000
0,025
0,032
0,000
0,006
0,031
Ureia
0,014
0,028
0,208
0,005
0,011
0,011
0,017
0,033
0,033
0,000
0,018
0,023
0,000
0,004
0,023
Calcário
0,010
0,010
0,009
0,004
0,004
0,004
0,012
0,012
0,012
0,000
0,007
0,008
0,000
0,002
0,008
Diesel
0,002
0,002
0,011
0,001
0,001
0,001
0,002
0,002
0,02
0,000
0,001
0,002
0,000
0,000
0,002
Área pastagem
2,0
1,7
-0,6
2,0
1,9
1,9
2,0
1,7
1,7
2,0
1,9
1,8
2,0
2,0
1,8
Degradadas
2,0
1,9
1,7
2,0
2,0
2,0
2,0
1,9
1,9
2,0
2,0
1,9
2,0
2,0
1,9
Manejada
0,0
-0,2
-2,3
0,0
-0,1
-0,1
0,0
-0,2
-0,2
0,0
-0,1
-0,1
0,0
0,0
-0,1
GEE/ha
5,2
4,3
3,5
3,4
5,2
4,9
4,8
32,6
71,4
Balanço das emissões de GEE (kg CO2e)
Variação
5,7
16,0
71,8
-60%
Variação
GEE/kg carne
1,9
103,9
50,7
-85%
5,2
4,8
5,2
30,5
99,5
-15%
38,2
-60%
4,7
4,1
3,6
34,1
50,1
-22%
52,5
-66%
-5%
42,0
-35%
-8%
62,8
-32%
48,9
65
66
* As fotografias utilizadas nesta publicação fazem parte do Acervo Imaflora e têm a finalidade de ilustrar os processos e de promover
as comunidades e as propriedades certificadas. ** Para democratizar ainda mais a difusão dos conteúdos publicados no Imaflora,
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