UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE FISIOTERAPIA SIMONE SATICO HAYASHI A EFICÁCIA DO INCENTIVADOR RESPIRATÓRIO A VOLUME VOLDYNE COMO FORTALECEDOR DOS MÚSCULOS INSPIRATÓRIOS TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Cascavel- PR 2004 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 2 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE FISIOTERAPIA SIMONE SATICO HAYASHI A EFICÁCIA DO INCENTIVADOR RESPIRATÓRIO A VOLUME VOLDYNE COMO FORTALECEDOR DOS MÚSCULOS INSPIRATÓRIOS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná Campus Cascavel como requisito parcial para obtenção do título de Graduação em Fisioterapia. Orientadora: Profa . Keila Okuda Tavares Cascavel - PR 2004 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 3 TERMO DE APROVAÇÃO SIMONE SATICO HAYASHI A EFICÁCIA DO INCENTIVADOR A VOLUME VOLDYNE COMO FORTALECEDOR DOS MÚSCULOS INSPIRATÓRIOS Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para obtenção do título de Graduado em Fisioterapia, na Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Profª . Josiane Rodrigues da Silva Coordenadora do Curso BANCA EXAMINADORA ........................................................................................ Orientadora: Profª . Keila Okuda Tavares Colegiado de Fisioterapia – UNIOESTE .......................................................................................... Profª . Erica Fernanda Osaku Colegiado de Fisioterapia – UNIOESTE .......................................................................................... Profª . Francyelle Pires dos Santos Suzin Colegiado de Fisioterapia - UNIOESTE Cascavel, 11 novembro de 2004. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 4 Dedico este trabalho aos meus pais, Yoshio e Miyoko e a minha irmã, Fabiana com amor e gratidão. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 5 AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar a Deus, pelas oportunidades em minha vida e por me dar forças para não desistir quando tudo parecia dar errado. Ao meu pai Yoshio, à minha mãe Miyoko e à minha irmã Fabiana pelo incentivo, compreensão e confiança, principalmente por estares ao meu lado em todas as etapas da minha vida. À minha orientadora Keila pelo apoio, paciência e por ter compartilhado seu conhecimento. Ao professor Carlos pela amizade e por ter me ajudado com os resultados. Aos meus amigos pela amizade, companheirismo e por todos os momentos bons compartilhados. Ao pessoal de república João, Rodrigo e Rubens pela paciência e compreensão. A todos aqueles que contribuíram de alguma forma para a realização deste trabalho. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 6 RESUMO A espirometria de incentivo melhora a insuflação pulmonar restaurando volumes e capacidades como conseqüência melhora a performance clínica do paciente pneumopata em suas atividades diárias. Este trabalho se justifica pela escassez de estudos que comprovem a atuação do incentivador respiratório a volume Voldyne como fortalecedor muscular inspiratório, melhorando a ventilação pulmonar. Tem como objetivos verificar a melhora da força muscular inspiratória nos indivíduos submetidos ao uso do incentivador respiratório a volume Voldyne; verificar qual é a dimensão/proporção do ganho de força diafragmática com o uso do incentivador respiratório a volume Voldyne e verificar a melhorar a expansibilidade torácica. A amostra foi composta por acadêmicos da Universidade Estadual do Oeste do Paraná de ambos os sexos, com idade variando entre 20 a 41 anos. Foram realizadas duas avaliações, uma no início, antes da aplicação do protocolo proposto e outra após seu término. Foram avaliadas a Pimáx, a Cirtometria Dinâmica e a força diafragmática manual. Concluída a avaliação, os vinte indivíduos foram divididos aleatoriamente em dois grupos de 10 pessoas; grupo controle e tratado. O grupo tratado utilizou o exercitador volumétrico Voldyne com freqüência de 2 atendimentos semanais, durante 20 sessões. Foi encontrada variação estatisticamente significativa entre os valores iniciais e finais da Pimáx e força diafragmática manual no grupo tratado. No grupo controle não foi encontrado variação significativa. Não houve alterações significativas em relação aos valores da Cirtometria Torácica. Concluí-se que o incetivador inspiratório a volume Voldyne fortalece os músculos inspiratórios, melhorando a função diafragmática. Palavras-chave: Diafragma; Reeducação Respiratória; Espirometria de Incentivo. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 7 ABSTRACT The espirometry of incentive improves the insuflation of the lung restoring volumes and capacities as consequence it improves the clinical performance of the patient with respiratory problems in their daily activities. This work is justified for the shortage of studies that prove the performance of the incentive breathing of volume called Voldyne as inspiratory muscular strengthening, getting better to lung ventilation. It has as objectives to verify the improvement of the inspiratory muscular force in the individuals submitted to the use of the incentive breathing of volume Voldyne; to verify which is the proportion of the earnings of diaphragm force with the use of the incentive breathing of volume Voldyne and to verify improve the thoracic expansibility. The sample was composed by academics of the UNIOESTE of both sexes, with age varying among 20 to 41 years. Two evaluations were accomplished, one in the beginning, before the application of the proposed protocol and other after its end. They were appraised Maximum Inspiratory Pressure (Pimáx), Dinamics Cirtometry and the manual test of diaphragm force. Concluded the evaluation, the twenty individuals were divided in two groups of 10 people; control group and treaty group. The treaty group used frequently Voldyne of 2 weekly services, during 20 sessions. It was found variation statistically significant among the initial values and final values of Pimáx and manual test of diaphragm force in the treaty group. In the control group it was not found significant variation. There were not significant alterations in relation to the values of Thoracic Cirtometry. It was ended that the inspiratory incentive of volume Voldyne strengthens the inspiratory muscles, improving the diaphragm function. Word-key: Diaphragm; Reeducation Breathing; Espirometry of Incentive. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 8 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 9 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS .................................................................................................................. 9 LISTA DE TABELAS ................................................................................................................. 10 LISTA DE GRÁFICOS............................................................................................................... 11 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................ 12 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................................................... 15 2.1 Músculos ................................................................................................................................ 15 2.2 Músculos esqueléticos........................................................................................................... 16 2.2.1 Composição Química do Músculo Esquelético....................................................................... 16 2.2.2 Estrutura do Músculo Esquelético .......................................................................................... 16 2.2.3 Microestrutura do Músculo Esquelético.................................................................................. 18 2.3 Anatomia da Unidade Motora............................................................................................... 21 2.4 Contração Muscular.............................................................................................................. 22 2.5 Energia para Contração Muscular........................................................................................ 23 2.6 Mecanismos para a Produção de ATP.................................................................................. 25 2.7 Tipos de Fibras Musculares.................................................................................................. 29 2.8 Forças Musculares ................................................................................................................ 31 2.9 Anatomia do Sistema Respiratório ....................................................................................... 33 2.9.1 Trato respiratório Superior e Inferior...................................................................................... 33 2.9.2 Tórax .................................................................................................................................... 34 2.10 Músculos Respiratórios ...................................................................................................... 36 2.11 Fisiologia da Respiração ..................................................................................................... 39 2.11.1 Diferenças de Pressão Durante a Respiração........................................................................ 41 2.11.2 Difusão................................................................................................................................ 43 2.11.3 Relação Ventilação/Perfusão (V/Q)...................................................................................... 44 2.11.4 Trabalho Respiratório .......................................................................................................... 45 2.12 Avaliação da Força dos Músculos Inspiratórios ................................................................ 46 2.13 Expansibilidade Torácica..................................................................................................... 47 2.14 Espirometria de Incentivo ................................................................................................... 48 3 METODOLOGIA..................................................................................................................... 50 4 RESULTADOS ......................................................................................................................... 56 5 DISCUSSÃO............................................................................................................................. 63 6 CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 65 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 66 ANEXO ....................................................................................................................................... 69 APÊNDICES ............................................................................................................................... 71 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 10 LISTA DE FIGURAS Figura 01: Estrutura do músculo esquelético .................................................................................... 17 Figura 02: Microestrutura do músculo esquelético............................................................................ 19 Figura 03: Filamentos protéicos....................................................................................................... 20 Figura 04: Resumo do metabolismo anaeróbico da glicose............................................................... 27 Figura 05: Os três estágios da fosforilação oxidativa ....................................................................... 28 Figura 06: Trato respiratório............................................................................................................ 33 Figura 07: Lobos pulmonares.......................................................................................................... 35 Figura 08: Inspirações em decúbito lateral esquerdo........................................................................ 53 Figura 09: Inspirações em decúbito lateral direito............................................................................. 53 Figura 10: Inspirações sentado com flexão de ombro esquerdo........................................................ 53 Figura 11: Inspirações sentado com flexão de ombro direito ............................................................ 54 Figura 12: Inspirações em posição ortostática com abdução de ombro esquerdo.............................. 54 Figura 13: Inspirações em posição ortostatica com abdução de ombro direito .................................. 54 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 11 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Dados sobre a amostra .................................................................................................... 56 Tabela 2: Resultados da Pimáx, médias e desvios padrão dos grupos tratado e controle ................... 57 Tabela 3: Resultados da força muscular diafragmática dos grupos tratado e controle......................... 59 Tabela 4: Valores da cirtometria torácica do grupo tratado .............................................................. 61 Tabela 5: Valores da cirtometria torácica do grupo controle............................................................. 61 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 12 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Variação das médias da Pimáx dos grupos controle e tratado .......................................... 58 Gráfico 2: Comparação dos valores de Pimáx iniciais e finais dos grupos tratado e controle.............. 58 Gráfico 3: Variação dos valores das médias da força diafragmática nos grupos controle e tratado............................................................................................................................................ 60 Gráfico 4: Valores do teste de força diafragmática para os grupos tratado e controle........................ 60 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 13 1 INTRODUÇÃO A respiração é um processo fisiológico fundamental à vida. O sistema respiratório pode ser comparado a uma bomba vital permitindo a troca de gases entre as células de um organismo e o ambiente externo. Algumas fases compõem o processo respiratório, como a ventilação e a circulação. A ventilação consiste no movimento dos gases para dentro e para fora dos pulmões e a circulação realiza o transporte desses gases para os tecidos (AZEREDO, 2002; KENDALL, 1995). Os responsáveis pela adequada promoção da ventilação são os músculos respiratórios. A contração executada por esses músculos age sobre a estrutura óssea que compõe a caixa torácica, fazendo com que ocorra uma diferença de pressão entre o meio interno e externo, o que por sua vez promove a entrada de ar nos pulmões. A pressão no interior do organismo é representada pela pressão pleural e alveolar, e a pressão externa é representada pela pressão atmosférica. O fluxo inspiratório ocorre quando a pressão pleural baixa a níveis subatmosféricos, este decréscimo ocorre pela contração dos músculos inspiratórios. A alteração de pressão pleural influencia o interior do pulmão, provocando mudança na pressão alveolar, alterando-a também a níveis subatmosféricos. Quando essa diminuição acontece forma-se uma pressão de propulsão que permite o processo ventilatório, pois o ar tem a tendência de fluir de regiões de alta pressão para regiões de baixa pressão (FISHMAN, 1992; TARANTINO, 1997; WEST, 2002). Os músculos respiratórios são classificados em inspiratórios e expiratórios. Os músculos inspiratórios são o diafragma, os intercostais paraesternais e interósseos. Como a expiração é um processo passivo, os músculos expiratórios atuam somente quando há necessidade de um processo ativo. Contribuem para esta atividade o músculo intercostal Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 14 paravertebral e os músculos da parede abdominal. Os músculos acessórios da inspiração não estão ativos na inspiração tranqüila, mas são recrutados sempre que a ventilação pulmonar estiver aumentada, como, na dispnéia. Dentre eles, há os músculos da região da cintura escapular e cervical que ajudam a elevar as costelas, como peitoral menor, escalenos, serrátil anterior e esternocleidomastoídeo (COSTA, 1999; TARANTINO, 1997). Durante a respiração normal, o principal músculo responsável pela inspiração é o diafragma (IRWIN e TECKLIN, 1994). Ele é formado por feixes musculares delgados em forma de duas cúpulas voltadas cranialmente, que separa, em termos anatômicos, a cavidade torácica da abdominal. Ele representa pelo menos 70% da atividade muscular respiratória (AZEREDO, 2002). O diafragma pode ser classificado pelas origens das suas fibras musculares. As fibras que se originam na região vertebral lombar constituem a parte crural do diafragma, aquelas que se originam nas últimas seis costelas formam o diafragma costal. As partes costal e crural se convergem formando um tendão central, que constitui a inserção do diafragma. A contração do diafragma puxa sua inserção para baixo, comprime as vísceras, desloca o abdômen para fora e eleva o gradil costal (IRWIN e TECKLIN, 1994). A espirometria de incentivo vem se tornando uma modalidade de terapia respiratória profilática, além de ser muito eficaz e segura na reabilitação respiratória. O principal objetivo da espirometria de incentivo é incentivar uma inspiração profunda. A técnica permite melhorar a insuflação pulmonar restaurando volumes e capacidades, otimizar o mecanismo de tosse e aumentar a força muscular dos músculos inspiratórios tendo como conseqüências a melhora da performance clínica do paciente em suas atividades diárias, pois produz um maior feedback ao paciente, redução das complicações pós-operatórias e promoção da educação do paciente (AZEREDO, 2002; PRYOR, 2002; TARANTINO, 1997). Têm-se dois tipos de incentivadores respiratórios, os a fluxo e os a volume. No incentivador a fluxo, como o Respiron e o Triflo, pode ocorrer fluxo turbulento inicial, Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 15 alteração no trabalho ventilatório, alterando assim o padrão de ventilação durante o exercício. O incentivador a volume é mais fisiológico porque o volume de treinamento é constante até atingir a capacidade inspiratória máxima ou o nível prefixado pelo terapeuta, tendo-se como exemplo o Voldyne (AZEREDO, 2002). Este trabalho se justifica pela escassez de estudos que comprovem a atuação do incentivador respiratório a volume Voldyne como um fortalecedor muscular inspiratório visando a melhora da ventilação pulmonar. Os objetivos deste trabalho são: verificar a melhora da força muscular inspiratória nos indivíduos submetidos ao uso do incentivador respiratório a volume Voldyne, de acordo com o protocolo proposto neste estudo; verificar qual é a dimensão/proporção, do ganho de força do diafragma com o uso do incentivador respiratório a volume Voldyne e verificar a melhorar a expansibilidade torácica. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 16 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Músculos Os músculos são controlados pelo sistema nervoso. Cada músculo possui um nervo motor que se divide em muitos ramos, que terminam na placa motora, com a função de controlar todas as células musculares. O nervo motor e todas fibras musculares que ele inerva formam a unidade motora. Quando um impulso percorre o nervo motor, a placa motora transmite este o impulso às células musculares originando a contração muscular (WILMORE e COSTILL, 2001). Se o impulso para a contração resultar de um ato consciente, o músculo é voluntário. Se o impulso originar de uma porção do sistema nervoso sobre o qual o indivíduo não tem controle consciente, o músculo é involuntário. Os músculos voluntários se diferenciam histologicamente dos músculos involuntários por apresentarem estriações transversais. Por esse motivo, os músculos voluntários são denominados estriados e os músculos involuntários são denominados lisos (WILMORE e COSTILL, 2001). Outra maneira de distinguir esses músculos é através da topografia. Os músculos estriados são esqueléticos, pois se fixam ao esqueleto, já os músculos lisos são viscerais, sendo encontrados nas paredes dos órgãos de diversos sistemas do organismo e nas paredes dos vasos sangüíneos. O músculo cardíaco é semelhante histologicamente ao músculo estriado, porém atua como músculo involuntário. (DÂNGELO e FATTINI, 1995; WILMORE e COSTILL, 2001). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 17 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 18 2.2 Músculos Esqueléticos 2.2.1 Composição Química do Músculo Esquelético Setenta e cinco porcento do músculo esquelético é constituído por água, 20% por proteína e os 5% restantes são constituídos por sais inorgânicos e outras substâncias como os fosfatos de alta energia, uréia, ácido láctico, cálcio, magnésio, fósforo, várias enzimas, íons de sódio, potássio e cloreto, aminoácidos, gorduras e carboidratos (MCARDLE et al, 1998). 2.2.2 Estrutura do Músculo Esquelético O tecido muscular é constituído por células alongadas, cilíndricas e multinucleadas com diâmetro variando de 10 a 100 µm, chamadas fibras musculares. Essas células originamse da mesoderme e diferenciam-se através de um processo de alongamento gradativo (JUNQUEIRA e CARNEIRO, 1990). As fibras musculares estão organizadas em feixes envoltos por uma membrana externa de tecido conjuntivo denominada de epimísio. Septos finos de tecido conjuntivo saem do epimísio e se dirigem para o interior do músculo envolvendo feixes individuais de fibras musculares, dividindo-os em fascículos. Esses septos de tecido conjuntivo têm o nome de perimísio. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 19 Cada fibra muscular de um fascículo é revestida por um tecido conjuntivo chamado endomísio. O tecido conjuntivo mantém as fibras musculares unidas, permitindo que a força de contração individual de cada fibra atue no músculo como um todo (JUNQUEIRA e CARNEIRO, 1990; POWERS e HOWLEY, 2000). Figura 1: Estrutura do músculo esquelético Fonte – POWERS, S. K. HOWLEY, E. T. Fisiologia do Exercício. 3a ed. São Paulo: Manole, 2000 p. 127. Os vasos sanguíneos aprofundam-se no músculo por meio dos septos do tecido conjuntivo, formando uma rica rede capilar que circunda as fibras musculares. Além de trabalhar no fornecimento de oxigênio, de nutrientes e de hormônios, os vasos sangüíneos Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 20 retiram o calor e os subprodutos originados do metabolismo dos tecidos ativos (JUNQUEIRA e CARNEIRO, 1990; MCARDLE et al, 1998). 2.2.3 Microestrutura do Músculo Esquelético O retículo endoplasmático das células musculares recebe o nome de retículo sarcoplasmático. Este é um sistema composto de redes longitudinais de canais tubulares e vesículas, que tem como função armazenar cálcio e conferir integridade estrutural à célula muscular, permitindo a propagação rápida da onda de despolarização da superfície externa da fibra muscular para o ambiente interno, a fim de iniciar a contração (MCARDLE et al, 1998; WILMORE e COSTILL, 2001). A membrana das células musculares é denominada sarcolema. Na extremidade de cada fibra muscular, o sarcolema se une ao tendão, o qual se insere no osso. Os tendões são constituídos por cordões fibrosos de tecido conjuntivo que tem a função de transmitir a força gerada pelas fibras musculares aos ossos, gerando o movimento (WILMORE e COSTILL, 2001). O citoplasma das células musculares chama-se sarcoplasma, que é a parte líquida da fibra muscular. O sarcoplasma contém organelas, proteínas, minerais, glicogênio e gorduras dissolvidas. A diferença entre o sarcoplasma e o citoplasma das outras células está no fato de que o sarcoplasma contém grande quantidade de glicogênio armazenado e mioglobina, que se liga ao oxigênio (JUNQUEIRA e CARNEIRO, 1990; POWERS e HOWLEY, 2000). No interior do sarcoplasma, encontram-se fibrilas paralelas denominadas de miofibrilas, que são estruturas em forma de bastão, constituídas por dois importantes filamentos protéicos: os filamentos espessos compostos de proteína miosina e os filamentos Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 21 finos formados pela proteína actina. Localizados na proteína actina existem duas outras proteínas, a troponina e a tropomiosina. Cada miofibrila é constituída por sarcômeros. Estas estruturas são cilíndricas com diâmetro de 1 a 2 µm e se localizam longitudinalmente à fibra muscular (MCARDLE et al, 1998; POWERS e HOWLEY, 2000; WILMORE e COSTILL, 2001). Visualizando as miofibrilas em microscópio óptico, observa-se estriações transversais devido à alternância de faixas escuras e claras, que são determinadas pela disposição da miosina e da actina. A faixa escura recebe o nome de banda A, nela são encontrados os filamentos tanto de miosina quanto de actina. A faixa clara chama-se banda I, onde se encontram os filamentos de actina. No centro de cada banda I aparece uma linha transversal escura, a linha Z. Cada sarcômero forma-se pela parte que fica entre duas linhas Z e contém uma banda A separando duas semibandas I. No centro da banda A nota-se uma zona mais clara, chamada banda H, onde são encontrados somente filamentos de miosina (JUNQUEIRA e CARNEIRO, 1990; POWERS e HOWLEY, 2000). Figura 2: Microestrutura do músculo esquelético. Fonte – POWERS, S. K. HOWLEY, E. T. Fisiologia do Exercício. 3a ed. São Paulo: Manole, 2000 p. 127. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 22 A miosina corresponde à cerca de dois terços das proteínas totais dos músculos. Cada filamento de miosina é composto por 200 ou mais moléculas individuais de miosina. Cada molécula de miosina é formada por dois filamentos protéicos retorcidos. Uma extremidade de cada filamento é envolvida por uma cabeça globular chamada de cabeça da miosina, formando protusões no filamento de miosina para compor pontes cruzadas que vão interagir durante a ação muscular nos lugares de união do complexo actina-miosina, ou seja, nos sítios ativos dos filamentos de actina. Os filamentos de miosina são estabilizados por filamentos finos, compostos de titina. Este possui cerca de 5 nm de diâmetro e 1 µm de comprimento (MCARDLE et al, 1998; POWERS e HOWLEY, 2000; WILMORE e COSTILL, 2001). O filamento de actina possui uma extremidade inserida numa linha Z com a extremidade oposta se estendendo em direção ao centro do sarcômero. As moléculas de actina são globulares e formam o filamento de actina pela união dessas moléculas. Dois filamentos se dispõem de maneira helicoidal. Cada molécula de actina contém um sítio ativo onde a cabeça da miosina se liga (MCARDLE et al, 1998; POWERS e HOWLEY, 2000; WILMORE e COSTILL, 2001). A tropomiosina é uma proteína em forma de tubo que se retorce em torno dos filamentos de actina, encaixando-se nas fissuras existente entre eles. A troponina é uma proteína mais complexa que se fixa em intervalos regulares, tanto aos filamentos de actina quanto aos de tropomiosina (MCARDLE et al, 1998; POWERS e HOWLEY, 2000; WILMORE e COSTILL, 2001). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 23 Figura 3: Filamentos protéicos. Fonte – POWERS, S. K. HOWLEY, E. T. Fisiologia do Exercício. 3a ed. São Paulo: Manole, 2000 p. 130. Existe uma extensa rede de túbulos transversos (túbulos T), que são extensões do sarcolema e passam lateralmente à fibra muscular. Esses túbulos são interconectados quando passam entre as miofibrilas e permitem que os impulsos nervosos recebidos pelo sarcolema sejam transmitidos as miofibrilas, além de transportar substâncias como glicose, oxigênio e os íons para as partes mais internas das fibras musculares (WILMORE e COSTILL, 2001). 2.3 Anatomia da Unidade Motora Células musculares esqueléticas estão acopladas a um prolongamento de uma fibra nervosa, que se origina de uma célula nervosa. Esta célula é denominada motoneurônio anterior e tem origem na medula espinhal. O motoneurônio anterior é composto de um corpo celular, um axônio e dendritos, que permitem transmitir um impulso da medula para o músculo. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 24 O corpo celular é o centro de controle, está envolvido com a replicação e a transmissão do código genético. Ele fica localizado dentro da substância cinzenta da medula espinhal. O axônio se estende desde a medula até a placa motora, transmitindo o impulso ao músculo. Os dendritos são os ramos neurais curtos que recebem impulsos de outros neurônios e os conduzem para o corpo celular (MCARDLE et al, 1998). O sistema formado entre o motoneurônio anterior e as células musculares formam uma unidade motora. Esses componentes ficam próximos, porém sem entrar em contato direto um com o outro. A interface entre o motoneurônio anterior e as células musculares é chamado de junção neuromuscular ou placa motora terminal, tem por finalidade transmitir o impulso nervoso para a fibra muscular, a fim de iniciar a contração (POWERS e HOWLEY, 2000; WILMORE e COSTILL, 2001). A porção terminal do axônio do motoneurônio anterior se divide formando vários ramos axônicos, chamados terminais pré-sinápticos. Nesta região existem aproximadamente 50 a 70 vesículas que contém o neurotransmissor acetilcolina. No sarcolema pós-sináptico existe uma região invaginada que é denominada de goteira sináptica. A região entre a goteira sináptica e o terminal pré-sináptico do axônio chama-se fenda sináptica, a transmissão do impulso neural se processa neste local (MCARDLE et al, 1998). Quando um impulso nervoso atinge a extremidade pré-sináptica do nervo motor, a acetilcolina é liberada e se difunde através da fenda sináptica para se ligar aos sítios receptores das células musculares. Isso provoca um aumento da permeabilidade do sarcolema ao sódio resultando em uma despolarização, denominada de potencial da placa motora o qual é forte suficiente para ultrapassar o limiar de despolarização, sendo um sinal para o início da contração (POWERS e HOWLEY, 2000; WILMORE e COSTILL, 2001). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 25 2.4 Contração Muscular . A contração muscular é explicada pela teoria do filamento deslizante. Um músculo se encurta ou alonga, pois os filamentos de actina e miosina deslizam uns sobre os outros, gerando assim, tensão. As cabeças das pontes cruzadas da miosina estão voltadas para a molécula de actina. A ligação entre essas duas proteínas é inibida pelo complexo troponina-tropomiosina. Quando ocorre despolarização do tecido muscular, ela é conduzida pelos túbulos transversos e esse potencial chega ao retículo sarcoplasmático. O cálcio é, então, liberado difundindo-se para o músculo, unindo-se a troponina, removendo, assim, a inibição do complexo troponinatropomiosina (MCARDLE et al, 1998; POWERS e HOWLEY, 2000; WILMORE e COSTILL, 2001). Com a remoção da inibição do complexo troponina-tropomiosina, as pontes cruzadas da miosina podem se conectar fortemente a actina, tendo como resultado uma alteração da conformação da ponte cruzada, que faz com que a cabeça da miosina incline em direção ao braço da ponte cruzadas tracionando os filamentos de actina. A cabeça globular da ponte cruzada de miosina possui uma enzima chamada miosina ATPase, esta é ativada pela actina gerando uma energia potencial que faz com que os filamentos de actina e miosina deslizem uns sobre os outros através da hidrólise do ATP (adenosina trifosfato) (MCARDLE et al, 1998; POWERS e HOWLEY, 2000; WILMORE e COSTILL, 2001). Após acontecer a inclinação da cabeça da miosina, ela se separa da actina, volta a sua posição original e se conecta a um novo sítio ativo sobre a actina. Essa separação ocorre quando o ATP se une à ponte cruzada de miosina. O acoplamento e desacoplamento da Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 26 miosina e actina continuam enquanto a concentração de cálcio permanece suficiente para inibir o sistema troponina-tropomiosina. 2.5 Energia para a Contração Muscular Para ocorrer uma contração muscular é necessária energia, esta é oriunda da degradação da ATP pela enzima miosina ATPase. A energia formada é usada também para bombear cálcio do sarcoplasma para o retículo sarcoplasmático, ao final da contração; e bombear íons sódio e potássio, através da membrana da fibra muscular, mantendo o ambiente iônico adequado para a propagação de potenciais de ação (GUYTON, 1992; POWERS e HOWLEY, 2000). A concentração de ATP na fibra muscular é pequena, e somente é capaz de manter a contração por no máximo 1 a 2 segundos. Porém após a degradação do ATP em ADP (adenosina difosfato), ele é refosforilado formando um novo ATP, em fração de segundos. Uma das fontes de energia usadas para a refosforilação do ATP é o composto fosfocreatina, que contém uma ligação fosfato de alta energia semelhante à do ATP. A fosfocreatina é quebrada e a energia liberada provoca a ligação de um novo íon fosfato ao ADP, formando, assim, um novo ATP. A combinação da energia do ATP e da fosfocreatina é suficiente apenas para manter a contração por aproximadamente 7 a 8 segundos (BERNE, 1996; GUYTON, 1992). Uma importante fonte de energia utilizada para a formação tanto do ATP como da fosfocreatina é o glicogênio armazenado nas células musculares. A instantânea degradação Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 27 enzimática do glicogênio a ácido pirúvico e ácido lático libera energia para a conversão de ADP em ATP e reconstrução da fosfocreatina. Essas reações glicolíticas podem ocorrer na ausência de oxigênio e é duas vezes e meio mais rápida que a formação de ATP pelas reações que envolvem a utilização do oxigênio. Por outro lado, ocorre o acúmulo de muitos produtos finais da glicólise nas células musculares, sendo capaz de manter a contração por apenas no máximo 1 minuto (BERNE, 1996; GUYTON, 1992). O metabolismo oxidativo é uma outra fonte de energia. Acontece uma combinação de oxigênio com nutrientes celulares para a formação do ATP. Noventa e cinco porcento da energia utilizada pelos músculos em contrações continuadas de longa duração derivam dessa fonte de energia. Os nutrientes que fazem parte dessas reações são os carboidratos, as gorduras e as proteínas (BERNE, 1996; GUYTON, 1992). 2.6 Mecanismos de Produção de ATP A energia proveniente do sol sob a forma de energia luminosa possibilita a fotossíntese realizada pelas plantas que converte a luz em energia química. Quando ingerimos as plantas e animais, obtemos a energia química que está armazenada nos alimentos na forma de carboidratos, gorduras e proteínas. Para que possamos utilizar essa energia é necessária a clivagem dos alimentos, liberação da energia armazenada em ligações químicas (ligações de alta energia) e transferência dessa energia numa forma biologicamente utilizável. Os carboidratos são convertidos em glicose. Em condições de repouso, o glicogênio é sintetizado, pela união de centenas a milhares de moléculas de glicose. Quando necessário, o glicogênio armazenado no fígado é reconvertido em glicose, que é transportada pelo sangue Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 28 aos tecidos, onde é metabolizada, produzindo ATP (MCARDLE et al, 1998, POWERS e HOWLEY, 2000; WILMORE e COSTILL, 2001). As gorduras fornecem grande quantidade de energia durante o exercício prolongado. Elas são menos acessíveis ao metabolismo porque, primeiramente, elas necessitam ser reduzidas para componentes básicos como o glicerol e os ácidos graxos. Somente o ácido graxo é utilizado na formação do ATP (MCARDLE et al, 1998, POWERS e HOWLEY, 2000; WILMORE e COSTILL, 2001). As proteínas são compostas por aminoácidos, elas contribuem para a produção de energia, através de dois processos. Ou o aminoácido alanina é convertido em glicose no fígado, ou os aminoácidos como a isoleucina, alanina, leucina e valina podem ser convertidos em intermediários metabólicos nas células musculares, contribuindo diretamente nas vias energéticas (MCARDLE et al, 1998, POWERS e HOWLEY, 2000; WILMORE e COSTILL, 2001). O organismo necessita do combustível energético para realizar o crescimento celular, reparar tecidos lesados, promover transporte ativo das substâncias como glicose e cálcio através das membranas celulares, provocar a ação muscular para geração de força (WILMORE e COSTILL, 2001). A fosforilação direta do ADP a partir de fosfocreatina é o sistema mais simples e rápido de obtenção de energia. Este sistema funciona como um tampão para manter a concentração normal do ATP no início da contração, enquanto ocorre a regeneração do ATP por outros processos. A liberação de energia é intermediada pela enzima creatina quinase (CK), atuando sobre a fosfatocreatina para separar o grupo fosfato-inorgânico (Pi) da creatina. A energia resultante é utilizada, então, para ligar o Pi a uma molécula de ADP, criando um ATP (POWERS e HOWLEY, 2000; WILMORE e COSTILL, 2001). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 29 Uma segunda via produtora de energia é chamada glicólise anaeróbica. É a transferência energética da glicose, unindo o Pi ao ADP. Envolve várias reações acopladas catalisadas enzimaticamente. Produz um ganho de duas moléculas de ATP e duas moléculas de ácido pirúvico ou ácido láctico por molécula de glicose. O ácido pirúvico penetra nas mitocôndrias das células musculares e reage com oxigênio, formando um número ainda maior de molécula de ATP. Entretanto, se o oxigênio for insuficiente para que ocorra esta etapa do metabolismo da glicose (etapa oxidativa), a maior parte do ácido pirúvico é convertida em ácido láctico. A glicólise pode ser dividida em duas fases: a fase de investimento de energia e a fase de geração de energia. As cinco primeiras reações representadas na figura 4 mostram a fase de investimento de energia, em que o ATP armazenado é utilizado para formar substâncias fosfatadas. Para que a glicólise consiga exercer sua função de produção de energia é necessária a adição de ATP em dois pontos no início da via metabólica. O objetivo do uso inicial da ATP é a adição de grupos fosfatos à glicose e à frutose-6-fosfato (POWERS e HOWLEY, 2000; WILMORE e COSTILL, 2001). As últimas cinco reações representadas na figura 4 representam a fase de geração de energia da glicólise. São produzidas duas moléculas de ATP em cada uma das duas reações separadas perto do final da via glicolítica. Então, o ganho da glicólise é de dois ATP quando a glicose serve como substrato (POWERS e HOWLEY, 2000; WILMORE e COSTILL, 2001). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 30 Figura 4: Resumo do metabolismo anaeróbico da glicose. Fonte – POWERS, S. K. HOWLEY, E. T. Fisiologia do Exercício. 3a ed. São Paulo: Manole, 2000 p. 31. A produção aeróbica de ATP ocorre no interior das mitocôndrias e produz 36 mols de ATP por mol de glicose, pode operar continuamente quando a circulação é adequada, porém este é um processo lento. Esse processo de produção aeróbico de ATP é chamado de fosforilação oxidativa, sendo composto por três estágios: a geração de uma molécula com dois carbonos, o acetil coenzima A (acetil-CoA); a oxidação do acetil-CoA no ciclo de Krebs e o Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 31 processo de fosforilação oxidativa na cadeia de transporte de elétrons (POWERS e HOWLEY, 2000). Figura 5: Os três estágios da fosforilação oxidativa. Fonte – POWERS, S. K. HOWLEY, E. T. Fisiologia do Exercício. 3a ed. São Paulo: Manole, 2000 p. 34. Na presença de oxigênio, o ácido pirúvico é convertido em acetil-CoA, pelo processo de glicólise aeróbica. O ciclo de Krebs é a conclusão da oxidação (remoção de hidrogênio) dos carboidratos, das gorduras ou proteínas. A remoção dos hidrogênios dos substratos nutricionais nas vias bioeneregéticas é feita por moléculas transportadoras chamadas nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD) e flavina adenina dinucleotídeo (FAD). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 32 A importância da oxidação é que os hidrogênios possuem energia potencial das moléculas dos alimentos, sendo essa energia utilizada na cadeia de transporte de elétrons. O acetil CoA entra no ciclo de Krebs e sofre a ação de uma série de reações químicas que permite sua oxidação completa. No final desse ciclo, os produtos formados são 2 moles de ATP e o substrato (carboidrato) é degradado em dióxido de carbono e hidrogênio (WILMORE e COSTILL, 2001). Os hidrogênios liberados durante a glicólise e durante o ciclo de Krebs são transportados pelo NAD e FAD para a cadeia de transporte de elétrons, onde são clivados em prótons e elétrons. No final da cadeia, o H+ (íon hidrogênio) se combina com o oxigênio formando água. Os elétrons separados do hidrogênio passam por várias reações, fornecendo energia para a fosforilação da ADP, criando o ATP (WILMORE e COSTILL, 2001). 2.7 Tipos de Fibras Musculares As fibras musculares podem ser classificadas em dois tipos por suas características contráteis e metabólicas. Existem as fibras rápidas ou fibras de contração rápida (tipo II) e as fibras lentas ou fibras de contração lenta (tipo I). A maioria dos grupos musculares é composta de uma combinação entre as fibras lentas e rápidas. A porcentagem dos tipos de fibra sofre influência genética, dos níveis hormonais no sangue e dos hábitos de exercício do indivíduo (POWERS e HOWLEY, 2000). As fibras de contração rápida apresentam uma alta capacidade para a transmissão eletrolítica dos potenciais de ação, um alto nível de atividade da miosina ATPase, um nível Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 33 rápido de liberação e captação do cálcio por um retículo sarcoplasmático altamente desenvolvido e um alto ritmo de renovação das pontes cruzadas. Essas características estão relacionadas com sua capacidade de geração de energia para as contrações rápidas e vigorosas. Essas fibras dependem dos processos glicolíticos rápidos de produção de energia (MCARDLE et al, 1998; POWERS e HOWLEY, 2000). As fibras rápidas podem ser subdivididas em tipo IIa e IIb. A fibra tipo IIa é denominada fibra intermediária pois possui características bioquímicas e de fadiga que se encontram entre as fibras tipo I e tipo IIb. Sua capacidade de contração rápida é combinada com uma capacidade para a transmissão de energia tanto aeróbica quanto anaeróbica. A fibra tipo IIb contém um número relativamente pequeno de mitocôndrias, capacidade limitante de metabolismo aeróbico e são menos resistentes à fadiga do que as fibras lentas. Essas fibras são ricas em enzimas glicolíticas e possuem grande capacidade anaeróbica, mas são menos eficientes do que todos os outros tipos, o que se deve à alta atividade da ATPase, que acarreta maior consumo de energia por unidade de trabalho realizado (MCARDLE et al, 1998; POWERS e HOWLEY, 2000). A fibra tipo I possui grande quantidade de fibras oxidativas, muitas mitocôndrias, são envoltas por grande número de capilares e têm altas concentrações de mioglobina. Estas características capacitam essas fibras ao metabolismo aeróbico e elevada resistência à fadiga. Ainda apresentam um nível baixo de atividade da miosina ATPase, uma menor capacidade de manipular o cálcio e uma velocidade de contração reduzida (MCARDLE et al, 1998; POWERS e HOWLEY, 2000). 2.8 Força Muscular Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 34 Força muscular é a capacidade do músculo de suportar uma resistência, é a força máxima que um músculo pode gerar. Resistência muscular é a capacidade de um músculo realizar contrações repetidas contra uma carga submáxima (HILLMAN, 2002; POWERS e HOWLEY, 2000; WILMORE e COSTILL, 2001). A força de um músculo tem relação com a quantidade e os tipos de unidades motoras recrutadas, comprimento inicial do músculo e a natureza da estimulação nervosa das unidades motoras. Se um pequeno número de unidades motoras é recrutado, a força gerada será insuficiente. Quando a quantidade de impulsos nervosos aumenta, a força contrátil também se eleva em decorrência da estimulação de unidades motoras suplementares (POWERS e HOWLEY, 2000). Além disso, as fibras rápidas produzem uma força maior do que as fibras lentas, por esse motivo o tipo de fibra recrutada influencia a geração de força (POWERS e HOWLEY, 2000). O comprimento inicial do músculo influencia na geração da força muscular, pois se um músculo estiver com o comprimento inicial maior do que o ideal, uma pequena quantidade de pontes cruzadas conseguirá se acoplar, gerando assim uma tensão menor e conseqüentemente, menos força. Por outro lado, quando um músculo é encurtado em aproximadamente 60% do seu comprimento, as linhas Z se encontram muito próximas aos filamentos espessos de miosina, isso limita a contração muscular, pois não há espaço suficiente para que ocorra o deslizamento dos filamentos de actina e miosina. Com isso uma quantidade insuficiente de pontes cruzadas conseguirá se ligar, causando como conseqüência menor força muscular (POWERS e HOWLEY, 2000). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 35 A natureza do estímulo nervoso também influencia na força muscular. Os movimentos corporais normais envolvem contrações mantidas. Quando estímulos sucessivos são aplicados ao músculo, as primeiras contrações são consideradas simples espasmos, mas à medida que a freqüência dos estímulos aumenta, o músculo não tem tempo de se relaxar e a força parece ser aditiva. Essa adição de espasmos sucessiva é denominada somação (POWERS e HOWLEY, 2000). Se a freqüência dos estímulos aumentar mais, as contrações individuais serão unidas em uma única contração mantida, chamada de tetania. Contrações tetânicas persistem até que os estímulos parem ou o músculo fadigue (POWERS e HOWLEY, 2000). Essas contrações mantidas resultam de uma série de impulsos repetidos conduzidos pelos motoneurônios. Os impulsos nervosos não chegam às unidades motoras ao mesmo tempo. Várias unidades motoras são estimuladas em momentos diferentes, enquanto algumas se contraem outras relaxam. Esse tipo de contração provoca uma contração suave e auxilia a manutenção de uma contração muscular coordenada (POWERS e HOWLEY, 2000). Os princípios de treinamento muscular dos músculos respiratórios são os mesmos que dos músculos esqueléticos, ou seja, baixa repetição e alta intensidade de estímulos beneficiam o aumento da força muscular (OLIVEIRA et al, 1996). No treinamento de curta duração (aproximadamente 8 a 20 semanas) as adaptações neurais relacionadas ao aprendizado, coordenação e capacidade de recrutamento das fibras têm papel importante no ganho de força (POWERS e HOWLEY, 2000). As adaptações neurais incluem melhor sincronia do disparo das unidades motoras e maior habilidade de recrutamento de unidades motoras permitindo que uma pessoa se ajuste à força desencadeada pela estimulação elétrica (POWERS e HOWLEY, 2000). 2.9 Anatomia do Sistema Respiratório Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 36 O sistema respiratório é responsável pelas trocas gasosas entre o ambiente externo e o organismo. Esse sistema promove um contato entre o gás inspirado e o fluxo capilar pulmonar, fornecendo uma maneira de repor o oxigênio e remover o gás carbônico do sangue. Essa troca de gases acontece por causa da ventilação e difusão dos gases (AIRES, 1999; POWERS e HOWLEY, 2000). 2.9.1 Trato Respiratório Superior e Inferior O trato respiratório superior é formado pelas cavidades nasal, nasofaringe, orofaringe, laringe e parte superior da traquéia. O trato respiratório inferior é formado pela parte inferior da traquéia, brônquios fonte direito e esquerdo, brônquios lobares, brônquios segmentares, bronquíolos terminais, bronquíolos respiratórios, ductos alveolares e alvéolos. O limite entre esses dois tratos é a cartilagem cricóide (BETHLEM, 2000; SCANLAN, 2000). Figura 6: Trato respiratório. Fonte: www.enfernurse.hpg.com.br. O trato respiratório pode ainda ser dividido do ponto de vista funcional em zona de condução e zona respiratória. A zona de condução é composta pelas estruturas do trato Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 37 respiratório superior, parte inferior da traquéia, brônquios e bronquíolos terminais. A zona respiratória começa a partir dos bronquíolos respiratórios e se estende até os alvéolos (PALOMBINI et al, 2001; POWERS e HOWLEY, 2000). A zona de condução tem função de conduzir os gases, servir de mecanismo de defesa para os pulmões, umidificar e aquecer o ar inspirado. Essa umidificação e aquecimento do ar impedem o ressecamento do tecido pulmonar e o desequilíbrio térmico. A zona respiratória tem relação com as trocas gasosas, que ocorrem através dos 300 milhões de alvéolos contidos nos pulmões. A ação da zona de condução bem como da zona respiratória está relacionado com a filtração do ar inspirado sendo importante na prevenção da lesão pulmonar decorrente do acúmulo de partículas inaladas (POWERS e HOWLEY, 2000). 2.9.2 Tórax O tórax é constituído pelas costelas, vértebras torácicas e esterno, e é limitado em sua região basal pelo músculo diafragma. A estrutura óssea da caixa torácica tem a função de proteção dos órgãos internos e também de gerar diferenças de pressão que capacitam o ar fluir para dentro e para fora dos pulmões. Isso é possível por causa da interação entre os ossos torácicos e os músculos, que aumentam e diminuem o volume torácico (SCANLAN, 2000). Ele é formado por três compartimentos: o mediastino e as cavidades pleurais direita e esquerda. O mediastino se localizada na região central do tórax e contêm a traquéia, esôfago, coração e grandes vasos do sistema circulatório. Nas cavidades pleurais direita e esquerda se encontram os pulmões (SCANLAN, 2000). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 38 Os pulmões são órgãos em forma de cone, pesam aproximadamente 800g no adulto e seu volume é composto de 90% de gás e apenas 10% de tecido. O pulmão esquerdo é um pouco mais estreito que o direito devido a protusão do mediastino e do coração para o lado esquerdo. O pulmão direito é maior, mais curto e mais largo que o esquerdo, isso acontece por causa da elevação da hemicúpula diafragmática direita pelo fígado e como já foi citado anteriormente, o coração e o mediastino projetam-se para a esquerda (SCANLAN, 2000). A parte superior do pulmão é denominada de ápice, a parte inferior se chama base. A superfície pulmonar próxima às costelas é denominada face costal. A face mediastinal, que é a superfície medial do pulmão adjacente ao mediatino, contém uma abertura chamada hilo. Passam pelo hilo as vias aéreas, vasos sangüíneos, vasos linfáticos e nervos. Existe ainda a face diafragmática, que é a superfície pulmonar que entra em contato com o músculo diafragma (DÂNGELO e FATTINI, 1995; SCANLAN, 2000). Cada pulmão é formado por lobos, que são separados pelas fissuras pulmonares. O pulmão direito possui três lobos, denominados lobo superior, médio e inferior, possuindo então duas fissuras, a fissura oblíqua e a horizontal. Já o pulmão esquerdo possui apenas dois lobos, o lobo superior e médio, por isso possui apenas a fissura oblíqua (DÂNGELO e FATTINI, 1995). Figura 7: Lobos pulmonares Fonte: www.hcanc.org.broutrasinfs ensaiosexbronc.html. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 39 Cada lobo é suprido pelas subdivisões dos brônquios fonte ou brônquio primário. O brônquio fonte direito origina o brônquio lobar superior, que por sua vez se subdivide em brônquio lobar médio e inferior. O brônquio fonte esquerdo origina os brônquios lobares superior e inferior. Os brônquios lobares se dividem em brônquios segmentares, estes em bronquíolos terminais e por fim em bronquíolos respiratórios (SCANLAN, 2000). A superfície dos pulmões e o interior da parede torácica são revestidos por uma camada fina chamada pleura. Ela é formada por um tecido de revestimento contínuo, sendo classificada conforme as estruturas com as quais tem contato. A pleura visceral é o tecido pleural que reveste os pulmões e a parietal reveste a parede interna do tórax e o mediastino (POWERS e HOWLEY, 2000; SCANLAN, 2000). Entre as duas pleuras se encontra a cavidade pleural, que é ocupada por líquido seroso. Esse líquido possibilita o deslizamento das pleuras, permitindo também que as forças produzidas na parede torácica pela atuação dos músculos respiratórios sejam transmitidas aos pulmões. A pressão na cavidade intrapleural é inferior a pressão atmosférica, tornando-se ainda mais baixa durante a inspiração, fazendo com que o ar insufle os pulmões (POWERS e HOWLEY, 2000). 2.10 Músculos Respiratórios Os músculos respiratórios contribuem para o processo de ventilação, pois eles bombeiam o ar para dentro e para fora dos pulmões de forma rítmica e coordenada. Possuem características como maior resistência à fadiga, fluxo sangüíneo elevado, maior capacidade oxidativa e densidade capilar. Podem ser classificados em músculos inspiratórios e Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 40 expiratórios. Uma outra classificação seria em músculos principais e acessórios da respiração (AIRES, 1999). O principal músculo responsável pela ventilação é o diafragma, sendo considerado o músculo inspiratório mais importante. Ele é responsável por aproximadamente 70% das alterações do volume torácico que ocorre durante a respiração (SCANLAN, 2000). É constituído por duas cúpulas de ventre musculares e um centro frênico formado por uma aponeurose central. O centro frênico contém forames por onde passam grandes vasos sangüíneos e o esôfago. A cúpula diafragmática direita está localizada um pouco acima em relação à cúpula esquerda, por causa da posição do fígado (COSTA, 1999; SOUCHARD, 1989). A contração das cúpulas diafragmáticas ocasiona um aumento de diâmetro láterolateral, ântero-posterior e longitudinal do tórax. Durante a inspiração, o músculo se contrai, as cúpulas descem, aumentando o volume torácico e diminuindo a pressão da cavidade torácica; por outro lado, diminui o volume abdominal e aumenta a pressão da cavidade abdominal (AIRES, 1999; KENDALL, 1995). O abaixamento das cúpulas é limitado pelas vísceras abdominais. A contração continua com as fibras presas às costelas elevando a margem costal. Na expiração, o diafragma relaxa e as cúpulas se elevam, diminuindo o volume torácico e aumentando a pressão da cavidade torácica, enquanto aumenta o volume abdominal e diminui a pressão da cavidade abdominal (AIRES, 1999; KENDALL, 1995). O diafragma pode ser definido pelas origens de suas fibras musculares. As fibras originárias das vértebras lombares constituem a parte crural do diafragma e as fibras originárias das últimas seis costelas constituem a parte costal. Essas fibras costais e crurais se convergem num tendão central, formando a inserção do diafragma (AIRES, 1999; IRWIN e TECKLIN, 1994). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 41 Sua inervação parte da medula espinhal nas raízes anteriores dos terceiro a quinto segmentos cervicais e descende pelo nervo frênico. Sua vascularização se faz pelas artérias mamária interna, intercostais, frênica inferior e superior. O sistema venoso leva o sangue à veia cava inferior e veias mamárias internas. Em relação à rede linfática, a trama linfática torácica se anastomosa com a trama abdominal. Numerosos coletores implantados em torno da base do pericárdio, levam a linfa aos gânglios do mediastino (AIRES, 1999; COSTA, 1999; IRWIN e TECKLIN, 1994; SOUCHARD, 1989; TARANTINO, 1997). O músculo diafragma contém fibras brancas e vermelhas, porém há um predomínio das fibras vermelhas, que são mais resistentes, justificando sua ação ininterrupta do nascimento à morte. Outros músculos inspiratórios são os intercostais paraesternais (que estão presentes próximo ao esterno) e interósseos, que são músculos curtos presentes em todos os espaços intercostais. Eles apresentam a função de elevação do gradil costal, afastando uma costela da outra, aumentando assim, o diâmetro transversal e ântero-posterior da caixa torácica. São inervados pelos nervos intercostais que são derivados do 1o ao 12o segmento torácico (AIRES, 1999; COSTA, 1999). O trabalho mecânico dos músculos intercostais paraesternais e interósseos resulta em pouca amplitude articular, porém a somatória do trabalho de todos eles, em conjunto com o diafragma, supre satisfatoriamente as necessidades ventilatórias do organismo (COSTA, 1999). Os músculos acessórios da inspiração não estão ativos na inspiração tranqüila, mas são recrutados quando há maior demanda ventilatória como na dispnéia. Nesse grupo incluem-se os músculos esternocleidomastoídeo, escalenos, serrátil anterior e os peitorais (COSTA, 1999; IRWIN e TECKLIN, 1994; TARANTINO, 1997). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 42 A expiração é considerado um processo passivo. Os músculos expiratórios atuam somente quando há necessidade de um processo ativo como na tosse. Esses músculos são os intercostais paravertebrais, oblíquos internos e externos, reto abdominal, transverso do abdômen e triangular do esterno. Os intercostais são inervados pelos nervos intercostais e os abdominais são inervados por fibras nervosas originárias dos últimos seis segmentos torácicos e primeiro lombar da medula espinhal (COSTA, 1999; IRWIN e TECKLIN, 1994). Os músculos expiratórios acessórios são o grande dorsal, serrátil póstero-inferior, quadrado lombar e iliocostal lombar. Eles agem durante o exercício, altos níveis de ventilação, na obstrução moderada a grave das vias aéreas e fadiga (AIRES, 1999; KENDALL, 1995). 2.11 Fisiologia da Respiração Para ocorrer arterialização do sangue venoso, é necessário que ocorram trocas gasosas eficientes através das membranas capilares-alveolares. Essa arterialização envolve processos mecânicos do aparelho ventilatório, ou seja, dos pulmões, parede torácica, parede abdominal e diafragma (FISHMAN, 1992). A contração dos músculos inspiratórios produz forças contráteis que precisam vencer as forças elásticas e forças de atrito. As forças elásticas envolvem os tecidos pulmonares e torácicos, associados à tensão superficial nos alvéolos. As forças de atrito incluem a resistência provocada pelo fluxo gasoso e pelo movimento tecidual durante a respiração (BERNE, 1996; BETHLEM, 2000; FISHMAN, 1992; SCANLAN, 2000). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 43 O pulmão e o tórax são compostos por fibras elásticas e de colágeno, que proporcionam a eles, a propriedade da elasticidade (propriedade da matéria que provoca seu retorno à posição inicial de equilíbrio após ter sido distendida por alguma força externa). No pulmão, a distensão ocorre devido à insuflação, que por sua vez sofre oposição das forças elásticas (BERNE, 1996; BETHLEM, 2000; FISHMAN, 1992; SCANLAN, 2000). A retração pulmonar é uma combinação da elasticidade tecidual e das forças de tensão superficial nos alvéolos. A tensão superficial é a força criada pela atração entre as moléculas de água da superfície interna dos alvéolos, que age como uma tensão elástica. Durante a insuflação é necessária uma pressão adicional para superar as forças da tensão superficial (BERNE, 1996; BETHLEM, 2000; FISHMAN, 1992; SCANLAN, 2000). Uma outra força tem relação com a fricção dos tecidos que se movem durante a inspiração, ela apresenta dois componentes: resistência viscosa tecidual e resistência das vias aéreas. A resistência viscosa tecidual é a impedância do movimento causado pelo deslocamento dos tecidos durante a ventilação. A energia para deslocar as estruturas se compara com a impedância causada pelo atrito em qualquer sistema dinâmico (BERNE, 1996; BETHLEM, 2000; FISHMAN, 1992; SCANLAN, 2000). Os músculos inspiratórios têm que vencer também a resistência ao fluxo aéreo através da árvore traqueobrônquica. A resistência das vias aéreas é proporcional a pressão de propulsão responsável pelo movimento gasoso em relação ao fluxo de gás. Essa resistência depende do número, comprimento, calibre das vias aéreas, tipo de fluxo e composição dos gases. O fluxo de ar pode ser aumentado quando há um aumento do gradiente de pressão no sistema pulmonar ou diminuição da resistência das vias aéreas (BERNE, 1996; BETHLEM, 2000; POWERS e HOWLEY, 2000; TARANTINO, 1997). As forças contráteis dos músculos inspiratórios têm relação com a massa celular, comprimento da fibra e sua velocidade de encurtamento, do número de unidades contráteis Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 44 ativadas, da freqüência de disparo do neurônio motor e da presença ou ausência de fadiga muscular. A geração dessas forças permite o fluxo de gás pela árvore traqueobrônquica, como conseqüência à expansão pulmonar e torácica. Esse processo é chamado ventilação (BETHLEM, 2000; EMMERICH, 2001; FISHMAN, 1992; SCANLAN, 2000). A ventilação é um processo mecânico automático, rítmico e regulado pelo sistema nervoso central. É uma atividade cíclica que possui duas fases: a inspiração e a expiração. O volume de gás (volume corrente) que transita pela árvore traqueobrônquica ocorre durante essas fases. O volume corrente normal retira o dióxido de carbono e fornece oxigênio para suprir as necessidades metabólicas do organismo (BERNE, 1996; BETHLEM, 2000; SCANLAN, 2000). 2.11.1 Diferenças de Pressão Durante a Respiração A ventilação é viabilizada por causa dos gradientes de pressão (diferença entre duas pressões) criados pela expansão e retração torácica. As pressões respiratórias têm relação com a pressão atmosférica, sendo que também existem três gradientes de pressão envolvidos no processo ventilatório: transrespiratório, transpulmonar e transtorácico (BERNE, 1996; SCANLAN, 2000; WEST, 2002). O gradiente de pressão transrespiratório representa a diferença de pressão entre a atmosfera e os alvéolos. Esse gradiente possibilita que o gás flua para dentro e para fora dos alvéolos durante a respiração. O gradiente de pressão transpulmonar se define pela diferença de pressão entre os alvéolos e o espaço pleural, é a pressão responsável pela insuflação alveolar. O gradiente de pressão transtorácica é a diferença de pressão entre o espaço pleural e Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 45 a superfície corpórea, ou seja, a pressão através da parede torácica. Ela representa a pressão total necessária para expandir ou contrair em conjunto os pulmões e a parede torácica (SCANLAN, 2000). Anteriormente a inspiração, a pressão pleural é de aproximadamente – 5 cm H2 O e a pressão alveolar é de 0 cm H2 O. O gradiente de pressão transpulmonar é de aproximadamente + 5 cm H2 O. As pressões alveolares e de abertura das vias aéreas são iguais a zero. Isso faz com que gás não transite para dentro e para fora do sistema respiratório (BERNE, 1996; SCANLAN, 2000; WEST, 2002). Durante a inspiração, a ação dos músculos inspiratórios causa dilatação da parede torácica e o recuo elástico aumenta, fazendo com que a pressão pleural se torne mais subatmosférica. Ao ocorrer esse decréscimo da pressão pleural, o gradiente de pressão aumenta, fazendo com que os alvéolos expandam. Essa modificação de pressão transmite-se ao interior dos pulmões de forma que a pressão alveolar também se torne subatmosférica. Esse gradiente de pressão transrespiratório permite que o ar flua da abertura das vias aéreas até os alvéolos, aumentando seu volume (BERNE, 1996; FISHMAN, 1992; SCANLAN, 2000; WEST, 2002). A pressão pleural continua o seu decréscimo até o final da inspiração. O enchimento alveolar acontece e o fluxo inspiratório cai a zero. No término da inspiração, o gradiente de pressão transpulmonar atinge seu valor máximo de + 10 cm H2 O. Na expiração, o tórax retrai e a pressão pleural aumenta. Quando isso ocorre, o gradiente de pressão transpulmonar diminui e os alvéolos começam a desinsuflar. A pressão alveolar excede a pressão da abertura das vias aéreas, permitindo ao ar se mover dos alvéolos em direção à abertura das vias aéreas. No momento que a pressão alveolar atinge o nível da pressão atmosférica, o fluxo interrompe e um novo ciclo começa (BERNE, 1996; SCANLAN, 2000; WEST, 2002). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 46 2.11.2 Difusão O movimento dos gases entre os pulmões e os tecidos acontece por difusão simples, que é um processo onde as moléculas gasosas se movimentam de uma área de pressão parcial alta para uma área de pressão parcial baixa. A difusão repõe o suprimento de oxigênio do sangue, que é utilizado ao nível tecidual para produção de energia e remove o dióxido de carbono do sangue venoso (WILMORE e COSTILL, 2001). Os gases difundem-se através das barreiras à difusão, no pulmão a barreira é chamada membrana alvéolo-capilar. Ao nível celular, os gases devem passar uma barreira semelhante entre o capilar tecidual e a parede celular. Para que a difusão aconteça, os gradientes de pressão devem ser suficientes para superar essas barreiras contra a difusão. Para que o oxigênio e o dióxido de carbono se movimente entre os alvéolos e o sangue, esses gases devem vencer quatro barreiras: o surfactante pulmonar, o epitélio alveolar, o espaço intersticial e o endotélio capilar. Além dessas existe ainda a membrana eritrocitária que os gases atravessam para entrar e sair dos eritrócitos (SCANLAN, 2000). No pulmão normal, a pressão parcial de oxigênio (PO2 ) alveolar é 100 mmHg. O sangue venoso que retorna aos pulmões possui uma PO2 menor que o gás alveolar, aproximadamente 40 mmHg. Então o gradiente de pressão para a difusão de oxigênio no sangue é aproximadamente 60 mmHg. Tendo como conseqüência uma PO2 capilar final próximo de 100 mmHg, à medida que o fluxo sangüíneo passa pelos alvéolos e capta o oxigênio (SCANLAN, 2000). Os gradientes de pressão parciais de oxigênio dos tecidos são opostos que aos dos pulmões. À medida que o metabolismo celular depleta seu oxigênio, a PO2 intracelular cai a Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 47 um valor inferior ao da PO2 do sangue que entra no capilar tecidual, obrigando o oxigênio a se difundir para o interior das células (SCANLAN, 2000). O dióxido de carbono (CO2 ) percorre o caminho inverso ao oxigênio. A pressão parcial de CO2 (PCO2 ), no pulmão é 40 mmHg. O sangue venoso apresenta uma PCO2 maior que o gás alveolar, aproximadamente 46 mmHg, o gradiente de pressão de CO2 provoca difusão do CO2 na direção do sangue para os alvéolos. Apesar do gradiente de pressão resultante ser relativamente pequeno, de apenas 6 mmHg, ele é mais do que adequado para permitir a troca do dióxido de carbono. Sua solubilidade na membrana é 20 vezes maior do que a do oxigênio, por isso atravessa facilmente a membrana, mesmo sem um grande gradiente de pressão (SCANLAN, 2000). A PCO2 é maior nas células, aproximadamente 60 mmHg, e menor no ar ambiente, 1 mmHg, com isso o CO2 é capaz de se difundir dos tecidos para os pulmões e finalmente para a atmosfera (SCANLAN, 2000). 2.11.3 Relação Ventilação/Perfusão (V/Q) A relação Ventilação/Perfusão (V/Q) é a razão existente entre a quantidade de ventilação e a quantidade de sangue que chega ao pulmão. Para que ocorra uma troca gasosa ideal é necessário que o volume de ar que entra no alvéolo seja próximo ao volume de sangue que passa através do pulmão. Uma relação V/Q excelente seria igual a 1, demonstrando que a ventilação e a perfusão estão num equilíbrio perfeito (BERNE, 1996; POWERS e HOWLEY, 2000; SCANLAN, 2000; WEST, 2002). Se a relação V/Q estiver alta, quer dizer que a ventilação é maior do que a normal, a Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 48 perfusão é menor do que a normal ou ambas as situações. Nas regiões em que a relação V/Q é alta, a PO2 é maior e a PCO2 é menor do que as normais (SCANLAN, 2000; WILMORE e COSTILL, 2001). Caso a relação V/Q estiver baixa, isso mostra que a ventilação é menor do que o normal, a perfusão é maior do que o normal ou ambas as situações. Nas regiões em que a V/Q é baixa, a PO2 alveolar é mais baixa e a PCO2 é mais elevada do que as normais (SCANLAN, 2000; WILMORE e COSTILL, 2001). 2.11.4 Trabalho Respiratório O trabalho respiratório depende do tipo de respiração. Volumes correntes altos aumentam o trabalho elástico respiratório, enquanto que freqüências respiratórias rápidas aumentam o trabalho contra as forças de resistência ao fluxo. Durante a respiração calma e no exercício, os indivíduos procuram ajustar o volume corrente e a freqüência respiratória a valores que tornam mínimo o trabalho e a força respiratória (BETHLEM, 2000; FISHMAN, 1992; WEST, 2002). O trabalho inspiratório pode ser dividido em três partes: trabalho de complacência ou elástico, necessário para dilatar os pulmões contra suas forças elásticas; trabalho de resistência tecidual, necessário para superar a viscosidade do pulmão e das estruturas da parede torácica e trabalho de resistência das vias aéreas (GUYTON, 1992). Na respiração normal a maior parte do trabalho executado pelos músculos respiratórios é utilizada para expandir os pulmões. Uma pequena parte do trabalho total é utilizada para vencer a resistência tecidual, mas uma parte maior é utilizada para vencer a Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 49 resistência das vias aéreas. Nos pulmões sadios, o trabalho muscular é realizado durante a fase inspiratória, sendo a expiratória uma manobra passiva (GUYTON, 1992). Os músculos respiratórios necessitam de oxigênio para realização do seu trabalho. O custo de oxigênio para a respiração é de aproximadamente 1 ml/L de ventilação e constitui menos de 5% do consumo total de oxigênio. Quanto maior for a ventilação, maior será o custo em oxigênio (FISHMAN, 1992; WEST, 2002). Normalmente, os músculos respiratórios trabalham com uma grande margem de segurança, sendo capazes de realizarem suas tarefas indefinidamente. Entretanto podem sofrer fadiga muscular quando a força elástica ou resistiva for maior que o suprimento sangüíneo disponível, causando a fadiga ventilatória. Com isso os músculos respiratórios são incapazes de ventilar os pulmões adequadamente para suprir as necessidades fisiológicas de oxigênio (BERNE, 1996). 2.12 Avaliação da Força dos Músculos Inspiratórios A força dos músculos inspiratórios pode ser avaliada pelo manuvacuômetro. É um aparelho que mede ao nível da boca as pressões respiratórias estáticas máximas – pressão inspiratória máxima (Pimáx) e pressão expiratória máxima (Pemáx). Este aparelho é constituído por um tubo cilíndrico, cuja extremidade distal é conectada a um manômetro capaz de medir pressões negativas e positivas. A extremidade proximal é aberta, onde se encaixa uma peça bucal, que através dela, o indivíduo a ser avaliado realiza esforços expiratórios ou inspiratórios máximos. Segundo as Diretrizes para Teste de Função Pulmonar (2002), as mensurações da Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 50 pressão respiratórias máximas dependem da compreensão das manobras a serem executadas, da cooperação do indivíduo, e também da realização dos movimentos e esforços realmente máximos. A força não depende apenas da força dos músculos, depende também do volume pulmonar em que foi feita a mensuração e do correspondente valor da pressão de retração elástica do sistema respiratório. A força é exercida em dois sentidos, na inspiração e na expiração, produzindo, respectivamente a pressão negativa ou pressão inspiratória máxima e positiva ou pressão expiratória máxima. A Pimáx é mensurada a partir do volume residual, isto é, após uma expiração profunda. (AIDE et al, 2001; AZEREDO, 2002; BETHLEM, 2000). A força muscular inspiratória em adultos tem seu valor normal nas faixas de pressão inspiratória entre -90 a –120 cm de H2 O. Em ambos os sexos, após os 20 anos, há um decréscimo anual de 0,5 cm de H2 O (AZEREDO, 2002). Os músculos inspiratórios podem ainda ser avaliados por outra técnica, denominada mensuração manual da força muscular. Esta técnica subjetiva de avaliação necessita de alguns itens que tornem este teste mais eficaz, como o relaxamento dos músculos abdominais na fase da inspiração, a correta introdução das mãos ou dos dedos nas proximidades das inserções costais do diafragma, uma sensibilidade tátil suficiente nas mãos e o correto posicionamento do indivíduo a ser avaliado (COSTA, 1999). 2.13 Expansibilidade Torácica O músculo diafragma tem uma ação sobre a porção inferior da caixa torácica, promovendo a expansão deste seguimento. Isto ocorre, pois, após a contração desse músculo Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 51 em direção a cavidade abdominal, ele continua sua contração elevando as costelas inferiores através de suas fibras musculares inseridas nestas costelas. Com a elevação das costelas inferiores ocorrerá a elevação das costelas superiores por intermédio do esterno. Desta forma percebe-se que o diafragma tem influência indireta sobre a expansibilidade nos níveis médio e superior da caixa torácica. Como existe esta relação entre a contração diafragmática e expansibilidade torácica, é possível avaliar, indiretamente, a eficiência do diafragma através da cirtometria dinâmica, que é a maneira mais indicada para medir a expansibilidade torácica. Quanto maior for a expansão da caixa torácica, maior será a força do diafragma. A expansibilidade torácica se altera conforme a anatomia das costelas. As costelas inferiores são mais obliquas que as superiores. O grau de obliqüidade tem relação com o movimento. Quanto maior for o grau de obliqüidade, maior será o movimento que as costelas podem realizar. Portanto, a expansão da caixa torácica é proporcional à amplitude de elevação das costelas. E a expansão da caixa torácica é maior na sua porção inferior em comparação com a porção superior (YOKOHAMA, 2004). Um outro fator que influencia a expansão da caixa torácica é o comprimento das cartilagens costais, que aumenta da 1ª a 10ª costela. Por esse motivo, a parte inferior do tórax é mais móvel que a superior (TRIBASTONE, 2001). 2.14 Espirometria de Incentivo A espirometria de incentivo é uma técnica que tem a função de promover a insuflação pulmonar, aumentar a pressão transpulmonar e os volumes pulmonares, melhorar a Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 52 força muscular, o mecanismo de tosse e a performance clínica do indivíduo em sua atividade de vida diária. Ela fornece um feedback visual aos indivíduos fazendo com que se inspire um volume desejado, sustentando a inspiração por períodos progressivos de tempo. O desempenho inicial serve como base para estabelecer o volume inspirado alvo (AZEREDO, 2000; SCANLAN, 2000, SLUTZKY, 1997). O problema mais comum da espirometria de incentivo é a alcalose respiratória conseqüência da hiperventilação pulmonar, que ocorre quando o indivíduo realiza o exercício muito rapidamente. Os sintomas da alcalose respiratória são as tonturas e formigamento em torno da boca (SCANLAN, 2000). O incentivador a fluxo, que indica visualmente o grau do fluxo inspiratório, tem a tendência de produzir um fluxo turbulento inicial, aumento no trabalho ventilatório, tosse e dor. Pode-se citar como exemplos o Respiron e o Triflo. Já o incentivador a volume, que indica visualmente o volume alcançado durante a inspiração máxima, é mais fisiológico, pois o volume de treinamento é constante até atingir a capacidade inspiratória máxima ou o nível prefixado pelo fisioterapeuta e não aumenta o trabalho respiratório; temos como exemplo o Voldyne. A desvantagem do incentivador a volume é seu custo elevado (SCANLAN, 2000). O efeito básico da espirometria de incentivo é um aumento do gradiente de pressão transpulmonar acima de 40 cm H2 O por 5 a 15 segundos e um volume corrente acima de 40 ml/Kg (AZEREDO, 2000). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 53 3 METODOLOGIA O presente estudo foi realizado na Clínica de Fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, no Campus de Cascavel. A amostra foi composta por acadêmicos da UNIOESTE de ambos os sexos, com idade variando entre 20 a 41 anos. Foram realizadas duas avaliações, uma no início, antes da aplicação do protocolo proposto e outra após seu término. Para a verificação da força da musculatura inspiratória foram utilizados dois métodos, a mensuração da pressão inspiratória máxima (Pimáx) e a mensuração manual da força do diafragma. Foi realizada também a Cirtometria Dinâmica, para avaliar a expansibilidade torácica. A Pimáx foi medida através do manuvacuômetro da Marca Gerar. Este aparelho tem por finalidade medir as pressões inspiratória e expiratória máximas ao nível da boca, permitindo a mensuração da força da musculatura respiratória. Por meio da mensuração criteriosa da Pimáx pode se diagnosticar a fraqueza da musculatura inspiratória quando seu valor for menor que o limite inferior de normalidade. Segundo as Diretrizes para Teste de Função Pulmonar (2002) do Jornal de Pneumologia, o indivíduo a ser avaliado permaneceu sentado, estando o tronco em um ângulo de 90º com os membros inferiores e o nariz foi ocluído com um clipe nasal. Para verificar a Pimáx, o indivíduo expirou até alcançar seu volume residual, conectou imediatamente à peça bucal, efetuando um esforço inspiratório máximo contra a via aérea ocluída. Para a Pimáx, é recomendado que sejam feitas cinco manobras, onde se procura obter três manobras aceitáveis (sem vazamentos e com duração de pelo menos dois segundos). De cada manobra, anota-se a pressão mais elevada alcançada após o primeiro segundo. Deve existir entre as manobras, pelo menos duas manobras reprodutíveis (com valores que não Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 54 difiram entre si por mais de 10 % dos valores mais elevados). Caso o melhor valor apareça na última manobra, deve-se repetir o teste até que seja produzido um valor menos elevado. Com isso o número de manobras pode passar de cinco. O valor de Pimáx é habitualmente expresso em cm de água, sendo precedido de sinal negativo. A Pimáx, como já dito anteriormente, costuma ser medida a partir da posição de expiração máxima, quando o volume de gás contida nos pulmões é o volume residual. Contudo pode ser medida ao final de uma expiração calma quando o volume de gás contido nos pulmões é a capacidade residual funcional. A seguir são apresentadas as equações para o cálculo das pressões inspiratórias máximas em função da idade, de acordo com o sexo segundo as Diretrizes para Teste de Função Pulmonar (2002). Homens de 20 a 80 anos: - Pimáx = 155,3 - 0,8 x idade EPE = 17,3 Mulheres de 20 a 80 anos: - Pimáx = 110,4 - 0,49 x idade EPE = 9,1 Para cada parâmetro, o limite inferior de normalidade é calculado subtraindo-se o valor previsto do seguinte produto: 1,645 x EPE (erro padrão de estimativa). A avaliação manual da força do diafragma foi feita com o paciente em decúbito supino, com os braços ao lado corpo. O examinador colocou a região hipotenar e a região externa do dedo mínimo por debaixo do rebordo costal das últimas costelas e cartilagens costais, visando alcançar o diafragma. Durante a avaliação, o indivíduo inspirou direcionando o ar para o abdome (respiração diafragmática), no sentido de expulsar a mão do examinador. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 55 A mensuração da força pode ser graduada em: grau 1 ou ausência de contração, 2 ou ruim, 3 ou regular e 4 ou bom. O grau um é atribuído quando não há expulsão da mão do examinador e sensação de contração. Grau ruim, quando se percebe a contração muscular, mas não há expulsão da mão do examinador. Grau regular, quando ocorre uma tentativa de expulsão da mão do examinador e grau bom, quando o abdome expulsa a mão do examinador (COSTA, 1999). A Cirtometria Dinâmica mediu a expansibilidade torácica, verificada a partir de inspirações e expirações máximas. A diferença entre essas duas medidas fornece informações do índice da expansibilidade torácica. A realização da mensuração foi feita pela fixação do ponto zero da fita métrica na região anterior do nível axilar, mamilar e xifóideo e a outra extremidade da fita, após percorrer o perímetro corpóreo foi tracionada pelo examinador sobre o ponto fixo. No perímetro axilar, a fita foi posicionada sobre a porção mais alta do tórax, ao nível das axilas; no perímetro mamilar, a fita foi posicionada anteriormente em cima dos mamilos e posteriormente no ângulo inferior da escápula; no perímetro xifóideo, a fita foi posicionada anteriormente ao ângulo de Charpy (processo xifóideo) e lateralmente no rebordo das últimas costelas (COSTA, 1999; HOPPENFELD, 1997). Concluída a avaliação, os vinte sujeitos foram divididos aleatoriamente em dois grupos, um grupo controle composto de 10 pessoas e outro grupo que recebeu o protocolo proposto composto também por 10 pessoas. O grupo que recebeu a abordagem utilizou o exercitador volumétrico Voldyne 5000 com freqüência de 2 atendimentos semanais de 30 minutos, durante 20 sessões. Os exercícios deveriam ser realizados através de inspirações pelo bucal do incentivador a partir do seu volume residual até atingir a capacidade pulmonar total, sustentando ao máximo a inspiração. Cada participante realizou 20 inspirações em decúbito lateral esquerdo (figura 8), 20 inspirações em decúbito lateral direito (figura 9), 10 inspirações sentado associado ao movimento de flexão do ombro esquerdo (figura 10), 10 inspirações Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 56 sentado associado ao movimento de flexão do ombro direito (figura 11), 10 inspirações em posição ortostática associada ao movimento de abdução de ombro esquerdo (figura 12) e 10 inspirações em posição ortostática associada ao movimento de abdução de ombro direito (figura 13). Figura 8: Inspirações em decúbito lateral esquerdo. Fonte: a autora . Figura 9 – Inspirações em decúbito lateral direito. Fonte: a autora. Figura 10: Inspirações sentado com flexão de ombro esquerdo. Fonte: a autora. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 57 Figura 11: Inspirações sentado com flexão de ombro direito. Fonte: a autora. Figura 12: Inspirações em posição ortostática com abdução de ombro esquerdo. Fonte: a autora. Figura 13: Inspirações em posição ortostática com abdução de ombro direito. Fonte: a autora. Os fatores de inclusão neste estudo foram: a constatação de fraqueza da musculatura inspiratória não relacionada a qualquer patologia pulmonar obstrutiva ou restritiva, disponibilidade de tempo do indivíduo para ser submetido a abordagem proposta no estudo, Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 58 possuir nível de compreensão adequado e ter assinado o termo de consentimento livre e esclarecido. Se a idade do participante fosse menor que 18 anos, o termo de consentimento livre e esclarecido deveria ser assinado pelos pais ou responsável. Foi excluído do estudo indivíduo tabagista, gestante, portador de patologia pulmonar, os que faltassem três vezes consecutivas ou mais que três vezes intercaladas e aqueles que realizavam atividades que envolvessem a reeducação respiratória. Ao final do protocolo fisioterapêutico, os indivíduos foram novamente submetidos a avaliação da Pimáx, força manual do diafragma e da expansibilidade. Os dados da manuvacuometria e da cirtometria dinâmica obtidos em cada grupo foram comparados utilizando-se o teste t para dados pareados. Os dados da força muscular diafragmática obtida em cada grupo foi comparada pelo teste Wilcoxon. Nos dois testes utilizados consideram-se estatisticamente significativas as diferenças com p<0,05. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 59 4 RESULTADOS A tabela 1 mostra dados sobre a amostra em relação à idade e sexo. Tabela 1: Dados sobre a amostra. Grupo Controle Grupo Tratado Sexo Idade Sexo Idade feminino 20 feminino 20 feminino 22 feminino 22 feminino 22 feminino 22 feminino 20 feminino 20 feminino 26 masculino 22 feminino 20 masculino 24 feminino 21 masculino 20 feminino 41 masculino 21 feminino 22 feminino 20 feminino 23 feminino 22 Média 23,70 21,30 Desvio Padrão ± 6,02 ± 1,27 Fonte: a autora. Pela tabela 1, nota-se que a amostra foi composta por 16 integrantes do sexo feminino e 4 integrantes do sexo masculino. O grupo controle foi composto em sua totalidade por integrantes do sexo feminino e o grupo tratado foi composto por seis integrantes do sexo feminino e quatro integrantes do sexo masculino. Em relação à idade dos participantes, a média das idades no grupo controle foi 23,70 anos (±6,02) e no grupo tratado, a média das idades foi 21,30 anos (±1,27). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 60 Os valores de Pimáx, as médias e os desvios padrão dos grupos tratado e controle antes e depois da realização do protocolo estão ilustrados na tabela 2. Tabela 2: Resultados da Pimáx, médias e desvios padrão dos grupos tratado e controle. Grupo Tratado Média Desvio Padrão Grupo Controle Antes Depois Antes Depois 50 60 60 80 30 60 40 40 70 100 40 30 80 90 70 70 100 110 30 35 50 80 50 50 60 70 70 50 60 70 30 30 30 50 40 50 40 90 60 60 57,00 78,00 49 49,5 ± 22,14 ± 19,32 ± 15,24 ± 16,74 Fonte: a autora. Para o grupo tratado a média inicial da Pimáx foi 57,0 cm de H2 O (±22,14) e após o tratamento a média foi 78,0 cm de H2 O (±19,32). Houve um ganho de 21,0 cm de H2 O; uma variação de +36,84% significativa (p<0,001). No grupo controle, a média inicial de Pimáx foi 49,0 cm de H2 O (±15,24) e na avaliação final a média foi 49,5 cm de H2 O (±16,74). Houve um ganho de 0,5 cm de H2 O; uma variação de +1,02% não significativa (Gráfico 1). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 61 Gráfico 1: Variação das médias da Pimáx dos grupos controle e tratado. PRE POS * 100 90 80 70 60 50 40 TRATADO CONTROLE *p< 0,001. Fonte: a autora. Na avaliação inicial, os valores médios de Pimáx para o grupo controle e tratado não apresentavam diferença significativa, ou seja, os dois grupos podem ser considerados homogêneos; ao final do trabalho as médias dos grupos apresentavam diferença significativa (p<0,01), isto é, houve aumento dos valores da Pimáx no grupo tratado e com isso se aumentou a média deste grupo, causando a diferença estatisticamente significativa. Gráfico 2: Comparação dos valores de Pimáx iniciais e finais dos grupos tratado e controle. 120 *** 100 80 60 40 20 ** 0 TRAT-PRE CONT-PRE TRAT-POS CONT-POS Os pontos representam as médias. Linhas tracejadas mostram o desvio padrão. TRAT: Grupo Tratado; CONT: Grupo Controle. **p>0,05;***p<0,01. Fonte: a autora. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 62 A tabela 3 ilustra os valores da força muscular diafragmática, a média e o desvio padrão dos grupos tratado e controle antes e depois do protocolo. A graduação da força muscular foi classificada em: 1 – ausência de contração muscular; 2 – ruim; 3 – regular e 4 – bom. Tabela 3: Resultados da força muscular diafragmática dos grupos tratado e controle. Antes Grupo Tratado Grupo Controle Depois Antes Depois 3 4 4 4 3 4 4 4 2 3 4 4 3 4 2 2 3 4 4 4 3 4 4 4 3 4 3 2 3 4 4 4 3 4 4 4 2 4 4 4 Média 2,80 3,90 3,70 3,60 Desvio Padrão ± 0,42 ± ,032 ± 0,67 ± 0,84 Fonte: a autora Para o grupo tratado a média da força muscular diafragmática inicial foi 2,80 (±0,42) e após o tratamento a média foi 3,90 (±,032). Houve um ganho de 1,10; uma variação de +39,28% significante estatisticamente (p<0,01). No grupo controle, a média inicial da força muscular diafragmática foi 3,70 (±0,67) e reavaliação final, a média foi 3,60 (±,084); uma variação de –2,7% não significante estatisticamente (Gráfico 3). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 63 Gráfico 3: Variação dos valores das médias da força diafragmática nos grupos controle e tratado. PRE POS *** 6 5 4 3 2 1 0 TRATADO CONTROLE ***p<0,01 Fonte: a autora. Na avaliação inicial, as médias da força muscular diafragmática para o grupo controle e tratado apresentavam diferença significativa, isto é, o grupo controle apresentava uma média maior que o grupo tratado; ao final do trabalho as médias dos grupos não apresentavam diferença significativa, ou seja, a média da força muscular do grupo tratado aumentou, se aproximando da média do grupo controle, enquanto esta sofreu decréscimo. Gráfico 4: Valores do teste de Força Diafragmática para os grupos tratado e controle. 5,0 *** 4,5 4,0 3,5 3,0 2,5 ** 2,0 TRAT-PRE CONT-PRE TRAT-POS CONT-POS Os pontos representam as médias. Linhas tracejadas mostram o desvio padrão. TRAT: Grupo Tratado; CONT: Grupo Controle. **p>0,05;***p<0,01. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 64 Fonte: a autora. A tabela 4 ilustra os valores da cirtometria torácica à nivel axilar, mamilar e xifóideo; a média e o desvio padrão do grupo tratado antes e depois do protocolo. Tabela 4: Valores da cirtometria torácica do grupo tratado Perímetro Axilar Perímetro Mamilar Perímetro Xifóideo Antes Depois Antes Depois Antes Depois 4 3 4 3 7 4 5 6 5 6 5 7 5 6 4 6 5 5 5 5 5 7 6 7 8 10 9 11 10 12 6 8 6 7 8 9 3 4 4 6 7 8 6 7 7 7 8 6 6 6 6 6 7 8 7 7 6 8 7 9 Média 5,50 6,20 5,60 6,70 7,00 7,50 Desvio Padrão 1,43 1,99 1,58 2,00 1,49 2,27 Fonte: a autora A tabela 5 ilustra os valores da cirtometria torácica à nivel axilar, mamilar e xifóideo; a média e o desvio padrão do grupo controle antes e depois do protocolo. Tabela 5: Valores da cirtometria torácica do grupo controle Perímetro Axilar Perímetro Mamilar Perímetro Xifóideo Antes Depois Antes Depois Antes Depois 4 3 4 3 7 4 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 65 4 6 5 6 5 7 3,5 6 4 6 5 5 2,5 5 5 7 6 7 2,5 10 9 11 10 12 3,5 8 6 7 8 9 2,5 4 4 6 7 8 2 7 7 7 8 6 2 6 6 6 7 8 4 7 6 8 7 9 Média 3,05 2,85 3,45 3,35 4,15 3,30 Desvio Padrão 0,83 0,78 0,93 0,82 1,18 1,18 Fonte: a autora Os valores da cirtometria dinâmica nos níveis axilar, mamilar e xifóideo para os grupos tratado e controle antes e após a realização do protocolo não apresentaram diferenças estatisticamente significantes (p>0,05). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 66 5 DISCUSSÃO Os resultados apresentados mostram que houve uma variação estatisticamente significativa entre os valores iniciais e finais da Pimáx e força muscular manual diafragmática no grupo tratado. No grupo controle não houve variação estatisticamente significativa entre os valores iniciais e finais da Pimáx e força muscular manual diafragmática. A Pimáx tem relação com o músculo diafragma, sua força é verificada através da mensuração dessa pressão. No protocolo proposto havia abordagens específicas para esse músculo, tendo como conseqüência aumento da Pimáx e da força manual diafragmática. Inicialmente, os valores médios da Pimáx entre o grupo controle e tratado não apresentavam diferença significativa, ou seja, esses grupos podem ser considerados equivalentes. Ao final do protocolo, as médias dos grupos apresentavam diferença significativa, isto é, houve um ganho de força muscular diafragmática no grupo tratado, sendo representado pelo aumento da Pimáx e pela melhora no teste muscular manual diafragmático. AZEREDO (2002), monitorou a Pimáx de 15 pessoas com doença restritiva pulmonar por 45 dias consecutivos. Cada pessoa deste estudo realizou 3 vezes ao dia, um treino com o incentivador a volume Voldyne, onde foram executadas 15 repetições com um volume de 80% da capacidade inspiratória do indivíduo. Ao final dos 45 dias, o valor medido da Pimáx apresentou aumento de 8 a 12%. BRITO (1998) apud ROCHA (2002) utilizou o incentivador a volume Voldyne em um estudo com 18 pessoas divididas em 2 grupos: A (19 a 25 anos) e B (65 a 85 anos). Os indivíduos treinaram por cinco semanas, realizando 3 séries de 10 repetições, três vezes por semana. O grupo A não obteve ganhos de força, porém o grupo B obteve ganho significativo de força muscular inspiratória. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 67 O resultado do teste manual da força muscular diafragmática nos grupos controle e tratado apresentavam diferenças significativas antes da realização do protocolo. O grupo controle apresentava uma média de 3,70 e o grupo tratado, 2,80. Isso mostra que inicialmente o grupo controle possuía melhor força muscular diafragmática que o grupo tratado. Porém, ao final do protocolo, o grupo tratado aumentou sua média para 3,90; enquanto o grupo controle sofreu uma diminuição de sua média para 3,60. O que demonstra que o grupo tratado melhorou a força muscular diafragmática com o protocolo, enquanto que o grupo controle obteve uma variação negativa. Não houve alterações significativas em relação aos valores da Cirtometria Torácica, sugere-se então, a realização de outros trabalhos que apresentem abordagens específicas para aumento da expansibilidade torácica. Apesar de ter existido um aumento de força do diafragma, isto não se correlacionou com a melhora da expansibilidade torácica, demonstrando que apesar do diafragma ser o principal músculo inspiratório, o seu aumento de força não se traduz necessariamente em aumento da expansibilidade, pois esta depende de fatores como amplitude de movimento da caixa torácica e tronco, e parênquima pulmonar. Durante a pesquisa bibliográfica observou-se escassa quantidade de trabalhos relacionados com o assunto. Sugere-se mais estudos sobre o tema, com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre o assunto. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 68 6 CONCLUSÃO Deste trabalho pode-se concluir que o incentivador respiratório a volume Voldyne melhora a força dos músculos inspiratórios. Houve um ganho de força muscular inspiratória superior a 36%. Observou-se que a expansibilidade torácica não apresentou melhora, indicando que para que ocorra resultado positivo seriam necessárias abordagens específicas para ocorrer seu aumento e formas de avaliação mais específicas. O presente trabalho alcançou alguns dos seus objetivos como a verificação da melhora da força muscular inspiratória com a utilização do incentivador a volume Voldyne e a verificação da proporção do ganho de força do diafragma como o uso do Voldyne. Porém, o objetivo de melhorar a expansibilidade torácica não foi alcançado, com isso sugere-se mais estudos sobre este assunto. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 69 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AIDÉ, M. A. et al. Pneumologia Aspectos Práticos e Atuais. 1 ed. Rio de Janeiro: Ed. Revinter, 2001. AIRES, M.M. Fisiologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 1999. AZEREDO, C. A C. Fisioterapia Respiratória Moderna. 4 ed. Barueri: Ed. Manole, 2002. AZEREDO, C. A C. Fisioterapia respiratória no hospital geral. 1 ed. São Paulo: Ed. Manole, 2000. BERNE, R. M.; LEVY, M. N. Fisiologia. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 1996. BETHLEM, N. Pneumologia. 4 ed. São Paulo: Ed. Atheneu, 2000. COSTA, D. Fisioterapia respiratória básica. 1 ed. São Paulo: Ed Atheneu, 1999. DANGÊLO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar. 2 ed. São Paulo: Ed Atheneu, 1995. EMMERICH, J. C. Monitoração Respiratória - Fundamentos. 2 ed. Rio de Janeiro: Ed. Revinter, 2001. FISHMAN, A P. Diagnóstico das Doenças Pulmonares. 2 ed. V 1.São Paulo: Ed. Manole, 1992. GUYTON, A.C. Tratado de Fisiologia Médica. 8 ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 1992. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO J. Histologia Básica. 7 ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 1990. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 70 HILLMANN, S.K. Avaliação, prevenção e tratamento imediato das lesões esportivas. Barueri: Manole, 2002. HOPPENFELD, S. Propedêutica ortopédica. São Paulo: Ed. Atheneu, 1997. IRWIN, S; TECKLIN, J.S. Fisioterapia cardiopulmonar. 2 ed. Editora Manole. São Paulo.1994 KENDALL, F.P. Músculos - Provas e Funções. 4 ed. São Paulo: Ed. Manole, 1995. MCARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V.L. Fisiologia do Exercício. 4 ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 1998. OLIVEIRA, L. C. et al. Treinamento de músculos respiratórios: relato de uma experiência em UTI Fisioterapia em movimento. Curitiba. V. IX, n. 1, p.55 a 85, 1996 PALOMBINI, B. C. et al. Doenças das vias aéreas. 1 ed. Rio de Janeiro: Ed. Revinter, 2001. POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do Exercício. 1 ed. São Paulo: Ed. Manole, 2000 PRYOR, J. A.; WEBBER, B. A. Fisioterapia para problemas respiratórios e cardíacos. 2 ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 2002. ROCHA, J. M. S. Ganho de força muscular respiratória com o uso de inspirômetro incentivador. Revista Digital Vida e Saúde . V.1, n. 2. Out-Nov. 2002. Disponível em www. Revistadigitalvidaesaúde.hpg.ig.com.br/revistav1n2.html. Acesso em 17/10/04. SCANLAN, C. L.; WILKINS, R. L.; STOLLER, J.K. Fundamentos da Terapia Respiratória de Egan. 7 ed. Barueri:Ed. Manole, 2000 SILVA, L. C. C. Condutas em Pneumologia. 1 ed. V 1. Rio de Janeiro: Ed. Revinter, 2001. SLUTZKY, L. C. Fisioterapia Respiratória nas Enfermidades Neuromusculares. Rio de Janeiro: Ed. Revinter, 1997. SOUCHARD, P. E. O Diafragma. 1 ed. São Paulo: Summus editorial, 1989. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 71 SOUZA, R. B. Diretrizes para Testes de Função Pulmonar. Jornal de Pneumologia. V 28, Suplemento 3, 2002. TARANTINO, A B. Doenças Pulmonares. 4 ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 1997. TRIBASTONE, F. Tratado de Exercícios Corretivos Aplicados à Reeducação Motora Postural. São Paulo: Ed. Manole, 2001. WEST, J. B. Fisiologia Respiratória. 6 ed. Barueri: Ed. Manole, 2002. WILMORE, J. H.; COSTILL, D. L. Fisiologia do Esporte e do Exercício. 2 ed. São Paulo: Ed. Manole, 2001. YOKOHAMA, T.V. A Pratica do Iso-Stretching na Melhora da Expansibilidade Toracopulmonar, Verificada Através de Espirometria e da Cirtometria. Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Cascavel, 2004. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 72 ANEXO A – APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 73 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 74 APÊNDICE A – FICHA DE AVALIAÇÃO Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 75 FICHA DE AVALIAÇÃO Identificação: Nome: Idade: Sexo: Raça: Telefone: Endereço: Antecedente patológico pessoal: Hábitos de vida: ( ) tabagista ( ) praticante de exercícios físicos Exame físico: Perimetria (cm): Variação Perímetro Axilar: Antes Depois Perímetro Mamilar: Perímetro Xifóideo: Cálculo da Pimáx para cada indivíduo: Homens de 20 a 80 anos: PImáx = 155,3 - 0,8 x idade (EPE = 17,3) Mulheres de 20 a 80 anos: PImáx = 110,4 - 0,49 x idade (EPE = 9,1) Limite inferior da taxa de normalidade da Pimáx para cada individuo: O limite inferior de normalidade é calculado subtraindo-se o valor previsto do seguinte produto: 1,645 x EPE (erro padrão de estimativa). Pimáx (cm de água): Variação Pimáx Antes Depois Avaliação da força muscular do diafragma manualmente: Músculo Graduação da força Graduação antes depois da força Diafragma Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 76 Volume máximo inspirado alcançado em cada dia (ml) com o Voldyne: Número de dias do protocolo Volume máximo alcançado com o uso do Incentivador Respiratório a Volume Voldyne 1º dia 2º dia 3º dia 4º dia 5º dia 6º dia 7º dia 8º dia 9º dia 10º dia 11º dia 12º dia 13º dia 14º dia 15º dia 16º dia 17º dia 18º dia 19º dia 20º dia 21º dia 22º dia 23º dia 24º dia Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 77 APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 78 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Nome da pesquisa: A eficácia do incentivador a volume Voldyne como fortalecedor dos músculos inspiratórios. Pesquisador responsável: Keila Okuda Tavares. Clínica de Fisioterapia da UNIOESTE. CCBS. Telefones para contato: (41) 224-8194/ (45) 220-7046/ (45) 9965-2041. E-mail: [email protected]/ [email protected]. Este trabalho visa verificar a eficácia de um protocolo de tratamento fisioterapêutico no fortalecimento dos músculos inspiratórios. Os voluntários selecionados para este trabalho serão aleatoriamente divididos em dois grupos, sendo que um deles realizará o tratamento com o incentivador respiratório a volume Voldyne duas vezes por semana, num total de 20 sessões. O segundo grupo será o grupo controle. Todos os voluntários serão submetidos a uma avaliação para verificação da força da musculatura inspiratória e da expansibilidade torácica, antes e ao final do protocolo proposto. Após a realização do protocolo, os voluntários serão informados dos resultados por ele obtidos. Assinatura do pesquisador:_______________________________________ Tendo recebido as informações anteriores e, esclarecido dos meus direitos relacionados a seguir, declaro estar ciente do exposto e desejar participar da pesquisa. 01-A garantia de receber a resposta a qualquer pergunta ou esclarecimento a dúvidas sobre os procedimentos, riscos, benefícios e outros relacionados com a pesquisa; 02-A liberdade de retirar meu consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo; 03-A segurança de que não serei identificado e que será mantido o caráter confidencial das informações relacionadas com a minha privacidade; 04-Compromisso de me proporcionar informação atualizada durante o estudo, ainda que possa afetar minha vontade de continuar participando. Em seguida, assino meu consentimento. Cascavel,_____de____________________de 2004. Nome:____________________________________________RG______________________ Assinatura:_____________________________________ Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265