Democracia e liberalismo, inimigos íntimos ou amigos em conflito? Uma abordagem a partir de Chantal Mouffe Laurenio Leite Sombra* * professor assistente de Filosofia da Universidade Estadual de Feira de Santana, doutorando em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e mestre em Filosofia pela Universidade de Brasília (UnB) _______________________________________________________________________________ A história política ocidental é marcada e consolidada em torno das chamadas democracias liberais. O filósofo Francis Fukuyama chegou a decretar o “fim da história” nos anos 90, com a promessa de consolidação definitiva dessas democracias. Mas por trás desse otimismo, há uma ocultação ideológica: ‘democracia’ e ‘liberalismo’ representam duas construções que não andaram de mãos dadas desde o alvorecer da modernidade. Se valores essenciais do liberalismo foram constituídos a partir da filosofia de John Locke, a ideia moderna de democracia se apresentou, ao menos desde a Revolução Francesa, como algo atraente, de um lado, mas também perigoso e assustador. Segundo Tocqueville, embora inevitável, a democracia deveria ter seus efeitos perigosos minorados. E todo um conjunto de pensadores conservadores, ao menos desde Edmund Burke, se estabeleceu para reagir e reduzir esses efeitos. A filósofa Chantal Mouffe tem produzido diversos trabalhos que visam justamente discutir a tensão permanente entre democracia e liberalismo (que ela chama de “paradoxo democrático”), tensão que não visa eliminar um dos polos, mas apresentá-los em permanente atrito, condição que representa justamente a característica e as possibilidades abertas pela política contemporânea. Minha apresentação visa, justamente, refletir esses dois conceitos a partir dessa tensão. Nessa perspectiva, pretende refletir que possibilidades se abrem, uma vez considerada uma visão clara do que se pretende construir em termo de propostas liberais, mas sob uma efetiva perspectiva democrática.