Descrição de Técnica DIAO: Diagrama individual anatômico objetivo. Uma proposta para escolha da forma dos arcos na técnica de Straight-Wire, baseada na individualidade anatômica e nos objetivos de tratamento Leopoldino Capelozza Filho*, José Antonio Zuega Capelozza** Resumo Avaliar a forma dos arcos dentários com objetivo de definir, de modo individualizado, a forma dos arcos a serem utilizados no tratamento ortodôntico é conduta obrigatória. Este artigo sustenta a tese de que a individualização só é verdadeira quando permite que as intenções de tratamento, interagindo com as características anatômicas, definam a forma dos arcos. Para permitir a prática desse conceito, introduz o DIAO, um diagrama onde a forma dos arcos pode e deve ser definida com base neste princípio. Palavras-chave: Diagrama. Straight-wire. Introdução Os dentes dos seres humanos estão dispostos em forma de arcos. Esta determinação morfogenética para a espécie apresenta variações que caracterizam a individualidade permitida à oclusão e a face de seus membros. Todos estudos realizados com intenção de determinar estabilidade ou recidiva pós-tratamento ortodôntico, mostram que variações introduzidas de modo aleatório na forma e dimensões dos arcos são instáveis. Assim, respeito a forma original e expansões e protrusões feitas apenas quando justificadas, parecem constituir atitudes necessárias para atribuir, neste aspecto, estabilidade potencial para os casos tratados com Ortodontia. Ao analisar a forma do arco original de um paciente a ser tratado, o ortodontista precisa fazer algumas considerações antes de emitir o seu conceito sobre ela, incluindo o que manter e o que alterar durante o tratamento.Os conceitos de normalidade, revistos principalmente nas duas últimas duas décadas do século passado, passam longe da simplificação de regras rígidas como o ideal da posição vertical de incisivos inferiores. Ao mesmo tempo dogmas, como o respeito à posição dos caninos inferiores e a necessidade da preservação da distância entre eles parecem confirmadas. O que se pretende neste artigo é, portanto, definir condutas para análise da forma dos arcos dentários, mais especificamente do inferior, considerando o diagnóstico e os objetivos do tratamento. Após isto, sugerir o uso de um guia que possa representar a forma do arco escolhido e de um diagrama que permita a construção dos arcos, que serão usados para tornar realidade a forma definida como ideal para o tipo de tratamento proposto para cada paciente. * Professor doutor da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo - USP-Bauru. Membro do setor de Ortodontia do HRAC - USP - Bauru. ** Especialista em Ortodontia, professor da Profis, Bauru. 84 • R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 3, n. 5, p. 84-92 - out./nov. 2004 Leopoldino Capelozza Filho, José Antonio Zuega Capelozza O diagnóstico Antes de examinar os modelos dos arcos dentários com objetivo de avaliar sua forma, especificamente para determinar o diagrama, é necessário que o diagnóstico já tenha sido formulado e as metas gerais do tratamento definidas. Neste ponto, provavelmente os arcos dentários já tenham sido examinados e influenciado o diagnóstico e o plano de tratamento. Só após isto é possível ter parâmetros para julgar o arco inferior, avaliando sua forma. Classicamente, a determinação da forma ideal dos arcos dentários pressupõe que os dentes devem ser colocados idealmente sobre a base óssea. Diagramas que se tornaram de uso corrente em nosso meio, como o de Interlandi7 para a técnica de Edgewise e de Trevisi para Straight-Wire, obedecem a este critério. Isto é um ideal a ser buscado apenas para os pacientes candidatos a um tratamento corretivo pleno, seja ele ortodôntico ou ortodôntico cirúrgico4. Como sabemos, eles são a minoria no universo ortodôntico, já que tratamentos compensatórios provavelmente sejam feitos em mais de 50% dos pacientes1. Portanto, considerando esta realidade, não é razoável admitirmos esta premissa clássica de modo genérico, sob pena de estarmos definindo forma para arcos dentários não compatíveis com a intenção do tratamento. Para aclarar este conceito, admitamos que após a análise de um paciente, o diagnóstico indique uma má oclusão do padrão III4. Se a decisão for por um tratamento compensatório, o exame do arco dentário deveria considerar a compensação já presente, avaliar o que pode ser mantido e o que necessita ser eliminado. Admitindo o caráter conservador do tratamento compensatório5, muito provavelmente apenas a excrescência criada pela compensação, como por exemplo o freqüente apinhamento na região dos incisivos inferiores, necessita obrigatoriamente ser eliminada. Se este tratamento compensatório, que estamos hipoteticamente analisando, for para uma má oclusão do padrão III tratada em época adequada4, após o final do surto de crescimento facial, provavelmente este apinhamento deverá ser tratado com redução da massa dentária. Isto significa que ao definir o limite anterior do arco dentário inferior, a meta será mantê-lo onde está ou torná-lo mais retrusivo, se possível e necessário for. O diagnóstico determinará isto, e a curvatura anterior do arco con- siderado para o tratamento deste paciente deveria incorporar esta intenção. Se, ao contrário, estivéssemos tratando com intenção compensatória uma má oclusão do padrão II4, muito provavelmente um apinhamento na região dos incisivos inferiores deveria ser tratado com protrusão destes dentes. Isto significa aceitar ou introduzir a compensação. Com certeza, a meta não seria retruir estes dentes. De qualquer modo, seu diagnóstico indicará o que fazer e a curvatura anterior do arco considerado ideal para o tratamento deste paciente, deveria incorporar esta intenção. Assim, se a meta for compensar, inclinando os incisivos inferiores para vestibular, a forma de arco deveria incorporar uma curvatura anterior protrusiva para incisivos. Ambas as ações para o arco inferior, aqui descritas como exemplo, teriam reflexos óbvios sobre o arco superior. Isto acontece, porque definida a forma para o arco inferior através do diagrama, a forma do arco superior será a mesma ampliada. Em outras palavras, conforme definido por Andrews no conceito original do Straight-Wire2, os arcos superior e inferior usados nesta técnica devem ter a mesma forma, com o superior ampliado. O que se pretende com estas considerações, é introduzir o conceito de que as metas determinadas para o tratamento, seja uma inclinação vestibular de incisivos inferiores no tratamento compensatório de uma má oclusão do padrão II, ou a conduta oposta, obrigatória para as más oclusões do padrão III, devem ser consideradas e incorporadas na forma do arco na região pertinente. Isso significa que os arcos de nivelamento serão portadores da intenção manifesta no plano de tratamento. Outros exemplos serão dados nesse aspecto no decorrer da explanação feita aqui, mas essas, formuladas neste tópico, tentam justificar a necessidade de que o diagnóstico e as metas de tratamento já estejam definidas no momento de avaliar os arcos dentários para definição do diagrama. Parâmetros para definição das dimensões e forma dos arcos Distância inter-caninos inferiores Talvez esta seja uma das únicas unanimidades na Ortodontia. Dogma confirmado pelas pesquisas10,11, a distância inter-caninos deve ser respeitada. Sempre? Sempre que estiver certa. Como sabemos, R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 3, n. 5, p. 84-92 - out./nov. 2004 • 85 D I A O: Diagrama individual anatômico objetivo... em portadores de más oclusões, é relativamente freqüente o posicionamento inadequado dos caninos. Vítima da falta de espaço para irrupção dos incisivos inferiores, característica muito comum da espécie humana, muitas vezes o canino é obrigado a fazer uma irrupção atípica, ocupando um lugar fora daquele que seria o normal para ele. Nesta circunstância, sua posição deve ser considerada equivocada e a forma do arco escolhida deveria considerar sua correção. Muitas vezes isto é uma ocorrência unilateral e o canino melhor posicionado deveria servir como orientação a determinar a posição correta daquele mal posicionado. Ainda nesta área e considerando o apinhamento, muitas vezes extrações são indicadas para correção da discrepância de massa dentária. Mais freqüentemente, primeiros pré molares são os dentes de escolha para resolver esta incompatibilidade entre massa dentária e óssea. O espaço criado para corrigir este apinhamento anterior localiza-se, portanto, atrás dos caninos e exige seu movimento distal. A sugestão dos diagramas clássicos é que os caninos sejam movimentados nesta direção, com aumento de sua distância. Isso parece obrigatório por que a forma da mandíbula determina dimensões aumentadas para largura na direção distal, mas pode ser um equívoco se feito de maneira padronizada, sem considerar as condições de cada caso onde extrações são executadas. Esse movimento dos caninos para distal, com aumento na distância entre eles é condizente com a premissa de que este incremento seja potencialmente instável. A sugestão para tornar esse movimento mais consistente, é considerar individualmente cada caso e evitar que este movimento seja feito necessariamente com incremento da largura do arco nessa região dos caninos. Evitar isso parece consistente com a idéia de que alguma coisa equivocada tem sido feita durante o movimento dos caninos para distal em casos de extrações. A marcada recidiva obtida no apinhamento anterior observada a longo prazo9, com a participação dos caninos, sugere que seu movimento distal obrigatório quando das extrações de pré molares, deveria ser feito, quando possível, sem aumento da distância entre eles. No tratamento compensatório, procedimento freqüentemente adotado no manejo das más oclusões com envolvimento esquelético, a posição do canino deve ser avaliada com perspectiva diferente. Um 86 • R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 3, n. 5, p. 84-92 - out./nov. 2004 exemplo específico pode ser obtido a partir de uma má oclusão do padrão III. Nesta má oclusão os caninos tipicamente apresentam angulação diminuída3,5, muitas vezes negativa, resultado de um movimento com intenção compensatória. Adicionalmente, estes dentes costumam apresentar uma rotação, com a colocação para vestibular da distal da coroa. Estes movimentos quase sempre provocam um aumento da distância inter caninos. Se o tratamento for compensatório, este aumento deverá ser mantido. De algum modo, mais freqüentemente com desgaste da massa dentária, o mau posicionamento (rotação) dos caninos deve ser eliminado, mas o dente mantido na posição. Considerando que a relação maxilomandibular que ocasionou a posição compensatória dos caninos será mantida no pós tratamento, sua ação determinante de forma continuará presente. Isto significa que respeitar a posição compensatória dos caninos, eliminando apenas a excrescência, é sensato na perspectiva de estabilidade futura. Como você sabe, se a intenção do tratamento para esta má oclusão do padrão III fosse corretiva, esta posição compensatória típica dos caninos inferiores deveria ser corrigida. O tratamento seria cirúrgico e, como bem expressa o nome, a fase descompensatória do tratamento ortodôntico, teria este objetivo. Nesta circunstância, a distância inter-caninos seria diminuída com um movimento para frente e para medial destes dentes. Adicionalmente, como já vimos neste artigo, a posição dos incisivos também deve ser considerada dentro de critérios anatômicos, mas considerando os objetivos do tratamento. Junto com a análise da distância inter-caninos, conforme sugerida aqui, temos uma nova perspectiva, mais realista e produtiva, para definirmos a curvatura do arco inferior. O que acabamos de discutir, nada mais é do que um reforço ao conceito de que as metas determinadas para o tratamento, devem ser consideradas e incorporadas na forma do arco na região pertinente. Isso significa que os arcos de nivelamento serão portadores da intenção manifesta no plano de tratamento. Distância inter-molares A largura do arco deve ser definida na região do primeiro molar inferior. A referência é a borda Wala1, limite da gengiva inserida, facilmente visualizada Leopoldino Capelozza Filho, José Antonio Zuega Capelozza quando do exame dos modelos dos arcos dentários pela vista oclusal. Arcos contornados de acordo com esta referência anatômica, determinariam a posição ideal dos molares, colocando esses dentes a uma distância de 2 mm do ponto EV (eixo vestibular da coroa clínica) à borda Wala1. Este conceito pressupõe que se a distância do ponto EV dos molares à borda Wala estiver aumentada, os molares estarão atrésicos e, quando diminuída, os molares estarão expandidos. Se os demais dentes posteriores acompanharem a posição molar, esta definição a eles se aplica. Neste momento, depois do que já foi descrito neste artigo, você provavelmente já pressupõe o que vamos analisar. Repetindo o que foi aplicado à distância inter-caninos, o que fazer com a distância inter-molares também vai depender da intenção do tratamento. Considerando a mesma situação utilizada naquela análise, se o tratamento da má oclusão do padrão III for corretivo, a típica inclinação lingual dos dentes posteriores inferiores, molares incluídos4, deverá ser eliminada. A forma do arco, escolhido de acordo com a borda Wala, promoverá uma expansão do arco dentário inferior permitindo a consecução deste objetivo. Se, ao contrário, o tratamento eleito for de caráter compensatório, a correção da atresia do arco dentário inferior será descartada e a borda Wala ignorada. A largura do arco inferior será determinada a partir da posição do molar, 2 mm distante do ponto EV, considerando apenas o que seria a espessura do acessório. Esta posição não ideal, mas resultado de uma compensação, deve ser aceita na conjuntura de a um tratamento compensatório. Resumindo o que vimos até aqui, no hipotético exemplo que adotamos, analisando o arco dentário de uma má oclusão do padrão III, diagramas absolutamente diferentes serão escolhidos para um tratamento compensatório ou corretivo. Chamamos isto de influência do objetivo do tratamento sobre a forma dos arcos. Apresentação do diagrama O diagrama consiste em uma série de transparências (41), com desenhos de arcos com diferentes curvaturas (C1 - C7) combinadas com diferentes aberturas (Fig. 1). As curvaturas médias (C3, C4, C5) podem ser combinadas com sete aberturas (A1 a A7), enquanto as curvaturas extremas (menores e maiores) podem ser combinadas com cinco aberturas (A1 - A5) . Esta combinação permite a opção de 41 formas de arcos diferentes que, provavelmente, atendam as necessidades mais freqüentes da prática ortodôntica. Além disso, para cada forma de arco, ou para cada transparência, são fornecidas 10 páginas com as formas dos arcos impressas em papel branco, o superior em cor preta e o inferior em cor vermelha (Fig. 1B). Após escolher a forma dos arcos através da transparência, a página correspondente a esta forma seria sacada do bloco, e serviria como base para construção dos arcos a serem utilizados no tratamento do paciente. Uso do diagrama Após o diagnóstico e plano de tratamento defini- b Figura 1 - Transparências A) e blocos de papel B) com a forma dos arcos superior (cor preta) e inferior (cor vermelha). R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 3, n. 5, p. 84-92 - out./nov. 2004 • 87 D I A O: Diagrama individual anatômico objetivo... dos, as transparências seriam utilizadas para definir uma forma para o arco inferior, compatível com as características anatômicas de normalidade e ou objetivos do tratamento. O arco superior, como já vimos, terá a mesma forma, ampliada. A curvatura anterior deve se ajustar à distância inter-caninos desejada e à posição dos incisivos pretendida, enquanto a abertura posterior do arco deve se ajustar à borda Wala e/ou à largura inter-molar desejável ao final do tratamento. Se você está lendo este artigo desde o princípio, não deve estar surpreso com estas opções, que podem parecer contraditórias. Em absoluto, elas não são. Obedecem ao critério de respeitar características de normalidade, não genéricas, mas sim a decantada normalidade individual. Como o normal é individual e apresenta-se sob múltiplas formas, o que propomos é definir o tipo de tratamento (corretivo ou compensatório) e, nessa perspectiva, definir se o ideal ou o aceitável será o critério a definir a forma do arco. O ideal é mais fácil de ser definido. É um ponto, aplicável aos indivíduos candidatos a um tratamento ortodôntico corretivo. Como sabemos4, este tratamento é aplicável aos indivíduos normais com má oclusão ou portadores de más oclusões do padrão I. Além deles, os indivíduos com más oclusões relacionadas a discrepâncias esqueléticas, que criem desarmonias severas o suficiente para deixar a face desagradável e exigir intervenção ortodôntica e cirúrgica, também serão objeto de tratamento corretivo. O aceitável é uma faixa ampla de variações, condicionadas ao padrão de crescimento que determina a má oclusão. As más oclusões determinadas por discrepâncias no padrão de crescimento, quando presentes em indivíduos aceitáveis em termos de agradabilidade facial4,6,8, devem ser tratadas de modo compensatório. Isto significa compactuar com posições dentárias diferentes da ideal, eliminando apenas as excrescências que, geralmente, constituem a queixa do paciente. Esta premissa, aplicável à maioria dos pacientes na clínica ortodôntica, abre um horizonte de possibilidades para a posição final dos dentes, incluindo curvatura anterior (distância inter caninos e posição dos incisivos) e largura dos arcos dentários. A definição destes parâmetros depende absolutamente do profissional, e deve resultar do diagnóstico e compor o plano de tratamento. Para exemplificar o uso do diagrama, os exemplos 88 • R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 3, n. 5, p. 84-92 - out./nov. 2004 que seguem foram escolhidos com objetivo de permitir exercitar o escopo principal deste artigo, que visa introduzir o conceito da escolha da forma dos arcos dentários de um modo absolutamente individual. Desse modo, modelos dos arcos dentários de pacientes padrão III, adultos jovens, serão utilizados (Fig. 2, 3). Vamos admitir, para atingir nossos objetivos demonstrativos, duas hipóteses de tratamento. Na primeira (Fig. 2), tratamento ortodôntico descompensatório corretivo, preparatório para uma cirurgia ortognática, está indicado para esta má oclusão, porque o paciente apresenta uma face desagradável. Na segunda hipótese (Fig. 3), o tratamento seria ortodôntico compensatório, indicado porque a face do paciente é aceitável e há condições biológicas para sua realização. Definição do diagrama para tratamento corretivo A observação do arco inferior pela vista oclusal é o primeiro passo (Fig. 4A). Em seguida, de posse das transparências, algumas serão testadas e uma será escolhida de acordo com os preceitos já descritos para tratamento corretivo (Fig. 4B). Veja que a curvatura dos caninos escolhida, somada a um movimento destes dentes para frente e para mesial, significa dar a eles posição ideal, desmanchando a compensação. Este movimento vai diminuir a distância inter-caninos. Adicional e obrigatório é o movimento para vestibular dos incisivos, novamente buscando uma melhor posição na base óssea. Esta intenção, descompensar na busca da posição ideal dos dentes na base óssea, norteou a escolha da curvatura anterior C 4 para ser o modelo de forma desejada nesta área para o arco inferior. Definida a curvatura, passamos a analisar a abertura posterior do arco. Considerando que o tratamento é descompensatório, o ideal deve ser buscado. Esse parâmetro nessa região é a borda Wala (Fig. 4C), limite inferior da gengiva inserida. Mantendo sempre a curvatura escolhida, as transparências são testadas para a abertura e aquela coincidente com a borda Wala, A 6 é escolhida (Fig. 4D). Veja que existe inclinação lingual excessiva dos dentes posteriores inferiores, aumentando a distância do ponto EV à borda Wala. Isto caracteriza atresia dento alveolar típica das más oclusões do padrão III, e que será objeto de correção pela forma do arco escolhida. Leopoldino Capelozza Filho, José Antonio Zuega Capelozza FIGURA 2 - Modelos dos arcos dentários de uma má oclusão do padrão III de uma paciente com face desagradável, com indicação de tratamento ortodôntico corretivo descompensatório e cirurgia ortognática. FIGURA 3 - Modelos dos arcos dentários de uma má oclusão do padrão III de uma paciente com face aceitável, com indicação de tratamento ortodôntico compensatório primário. Pronto! O diagrama para o arco inferior esta escolhido: C4-A6. O próximo passo é destacar o impresso correspondente, onde já está desenhado também o diagrama para o arco superior (Fig. 5E). Ambos os arcos são portadores de forma correspondentes e que somarão na intenção de descompensar os arcos dentáR Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 3, n. 5, p. 84-92 - out./nov. 2004 • 89 D I A O: Diagrama individual anatômico objetivo... rios na fase pré-cirurgica do tratamento ortodôntico. No arco inferior, os movimentos determinados ao dentes geram espaço e, por si só, via de regra, são capazes de permitir a correção de forma desejável. No arco superior, a forma do arco com intenção de descompensar pode exigir espaço, que terá que ser fornecido pelo ortodontista, de algum modo que deve estar previsto no plano de tratamento. Após o final do nivelamento e alinhamento, os arcos dentários geridos pelo diagrama escolhido, parecerão ao exame clínico, estar em completo desacordo devido ao equívoco na relação sagital maxilo mandibular, mas em plena condição de relação, quando este erro for eliminado pela cirurgia. Isto deve ser avaliado pelo exame dinâmico dos modelos dos arcos dentários4 e, quando uma correta oclusão não for possível, provavelmente seja por erros de inclinação dos dentes posteriores. Na técnica de Straight-Wire, com braquetes programados, muitas vezes a prescrição da canaleta tem dificuldades para expressar plenamente, seja pelo calibre do fio ou pelas relações de mordida pré-cirurgia. Nesta situação, antes de pensar em alterar a forma dos arcos ditadas pelo diagrama, diligentemente escolhido, pense em introduzir torques no fio ou usar um fio de calibre máximo. Definição do diagrama para tratamento compensatório A observação do arco inferior pela vista oclusal é o primeiro passo (Fig. 5A). Em seguida, de posse das transparências, algumas serão testadas e uma será escolhida de acordo com os preceitos já descritos para tratamento compensatório (Fig. 5B). Veja que a curvatura dos caninos escolhida embora pressuponha um movimento do dente 43, em essência, mantém a forma original do arco na área dos caninos e incisivos. Isto significa manter a compensação e, potencial estabilidade, introduzida para estes dentes ao longo do tempo, por fatores que estarão presentes e com ação condicionante no pós tratamento. Adicional e obri- Ponto EV Borda Wala a b c C4-A6 DIAO d Paciente: No.: e figura 4 - O modelo do arco dentário é observado pela vista oclusal A) e a curvatura anterior escolhida através das transparências B), considerando a distância e posição dos caninos e incisivos. Para avaliar a largura molar, borda Wala e ponto EV são considerados C) e uma é escolhida através das transparências D). Com a curvatura anterior e a largura molar o diagrama está definido, permitindo separar o impresso correspondente E). 90 • R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 3, n. 5, p. 84-92 - out./nov. 2004 Leopoldino Capelozza Filho, José Antonio Zuega Capelozza gatório será o movimento dos incisivos para lingual e dos caninos para distal, com objetivo de permitir uma relação de trespasse horizontal e vertical aceitável. Este movimento será feito através da tração distal do arco e, portanto, sem alterar a distância inter-caninos e a forma da curvatura anterior. Esta intenção, manter a posição compensatória dos dentes na base óssea norteou a escolha desta curvatura anterior C 4 para ser o modelo de forma desejada nesta área para o arco inferior. Definida a curvatura, passamos a analisar a abertura posterior do arco. Considerando que o tratamento é compensatório, como regra, apenas a excrescência deve ser eliminada da forma original. O parâmetro ideal nessa região é a borda Wala (Fig. 5C), limite inferior da gengiva inserida. Veja que existe inclinação lingual dos dentes posteriores inferiores, o que caracteriza moderada atresia dento alveolar. Esta atresia compensatória típica das más oclusões do padrão III será ignorada, já que o objetivo do tratamento é manter a compensação. Deste modo, a abertura do arco deve contemplar a posição original do primeiro molar, passando a 2 mm (espessura do acessório) do ponto EV da face vestibular da coroa clínica deste dente. Mantendo sempre a curvatura escolhida, as transparências são testadas para a abertura e aquela coincidente com este parâmetro, A 7 é a escolhida (Fig. 5D). Pronto! O diagrama para o arco inferior esta escolhido: C4-A7. O próximo passo é destacar o impresso correspondente, onde já esta desenhado também o diagrama para o arco superior (Fig. 5E). Ambos os arcos são portadores de forma correspondentes e que somarão na intenção de manter a compensação possível nos arcos dentários. No arco superior, a forma do arco com intenção de manter Ponto EV Borda Wala a b c C4-A7 DIAO d Paciente: No.: e figura 5 - O modelo do arco dentário é observado pela vista oclusal A) e a curvatura anterior escolhida através das transparências B), considerando a distância e posição dos caninos e incisivos. Para avaliar a largura molar, borda Wala e ponto EV são considerados C) e uma é escolhida através das transparências D). Com a curvatura anterior e a largura molar o diagrama está definido, permitindo separar o impresso correspondente E). R Clín Ortodon Dental Press, Maringá, v. 3, n. 5, p. 84-92 - out./nov. 2004 • 91 D I A O: Diagrama individual anatômico objetivo... ou criar compensação, gera espaço e, por si só, via de regra, permite efetuar a correção desejada na forma. Embora no exemplo que estamos a apresentar isto não se aplique, quando houver apinhamento, no arco inferior, será necessário criar espaço evitando protrusão. Este espaço terá de ser fornecido pelo ortodontista, de algum modo que deve ser previsto no plano de tratamento. Após o final do nivelamento e alinhamento, os arcos dentários geridos pelo diagrama escolhido, deverão estar em plena condição de relação. Os dentes geralmente estarão em posições dentro das bases ósseas parecidas com as do pré tratamento, exceto aquelas necessárias para permitir criar as relações oclusais pretendidas. Estas posições, se diferentes das consideradas ideais, são, para estes pacientes onde o tratamento compensatório foi indicado com base em um diagnóstico adequado, as melhores possíveis e potencialmente mais estáveis. Conclusão A mudança de conceitos de normalidade na Ortodontia contemporânea, impõe àqueles que a praticam, nova perspectiva para diagnóstico, plano de tratamento e prognóstico. A escolha de diagramas para a confecção dos arcos de trabalho, que determinam a forma dos arcos dentários, não foge a esta evolução. A escolha de diagramas baseada em características anatômicas dos pacientes, com dependência do tipo de tratamento adotado, é apresentada neste artigo como um esforço nessa direção. OAID: Objective Anatomic Individual Diagram. A proposal for choosing the form of the arches in the Straight-wire technique, based on both the anatomic individuality and the aims of the treatment Abstract Evaluating the dental arches with the purpose of defining, in a individualized way, the form of the arches to be used in the orthodontic treatment is a compulsory procedure. This article supports the thesis that individualization is only true when it allows that the intentions of the treatment, interacting with the anatomic characteristics, define the form of the arches. In order to put this concept into practice, an OAID is introduced, a diagram in which the form of the arches can and must be defined based on this principle. Key words: Diagram. Straight-wire. REFERÊNCIAS 1. ANDREWS, L.F. Entrevista. R Dental Press Ortodon Ortop Maxilar, Maringá, v. 2, n. 5, p. 6-7, set./out. 1997. 2. ANDREWS, L.F. Straight-wire: the concept and appliance. San Diego: L.A. Willes, 1989. 3. AZEVEDO, L.R.; PERUZZO, C.D. Estudo comparativo do grau de angulação dos caninos permanentes em pacientes com má oclusão de Classe III: análise ortopantomográfica e computadorizada de modelos. 2003. 37f. (Conclusão de Curso) – Faculdade de Odontologia, Universidade Federal do Pará, Belém, 2003. 4. CAPELOZZA FILHO, L. Diagnóstico em Ortodontia. Maringá: Dental Press, 2004. 5. CAPELOZZA FILHO, L. et al. Individualização de braquetes na técnica de straight-wire: revisão de conceitos e sugestões de indicação para uso. 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