AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO SUBJETIVA DOS SINAIS E SINTOMAS DE DTM ANTES E APÓS TRATAMENTO COM PLACA DE MIGHIGAN Basile, A.C.A.*; Magri,L.V.;****; Melchior, M.O. ****; da Silva, A.M.B.R.****; da Silva, M.A.M.R.*** Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto – FORP/USP Ana Cláudia Approbato Basile (aluna de iniciação científica) Laís Valencise Magri (colaboradora) Melissa de Oliveira Melchior (colaboradora) Ana Maria Bettoni Rodrigues da Silva (colaboradora) Marco Antônio Moreira Rodrigues da Silva (orientador) RESUMO A percepção subjetiva dos sinais e sintomas das disfunções temporomandibulares (DTM) é de suma importância para o diagnóstico e tratamento destas condições, pois expressa a maneira como o sujeito se porta frente ao tratamento. Neste sentido, o protocolo ProDTMMulti e a Escala Visual Analógica ( EVA) são instrumentos eficientes de avaliação da percepção subjetiva. Objetivo: O objetivo deste trabalho foi avaliar e percepção subjetiva dos sinais e sintomas de DTM, antes e após o tratamento com placa miorrelaxante do tipo Michigan através da aplicação do Protocolo para Centros Multiprofissionais para Determinação de Sinais e Sintomas de Desordens Temporomandibulares (ProDTMMulti) e da Escala Visual Analógica (EVA). Método: Para tanto, foram avaliados 10 pacientes (n) com DTM, diagnosticados através do Eixo I do Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders (RDC/TMD), nos momentos pré (avaliação inicial, antes da instalação da placa) e pós-tratamento com placa (após 30 dias de instalação). Resultados: No momento inicial, a intensidade média da dor foi 7,2 (±1,6) e no momento final 2,6 (±2,2), com p=0,008 (significância estatística). Com relação ao ProDTMMulti, as médias antes do uso da placa foram: ao acordar 35,8(±12,1), ao mastigar 26,3 (±14,8), ao falar 25,9 (±18,6) e em repouso 22,1 (±18,1), e após o uso da placa foram 15,6 (±12,1), 13,8 (±14,7), 8,2 (±10,7), 8 (±10,1), respectivamente. Na comparação dos momentos pré e pós-tratamento, os valores de p obtidos foram, respectivamente, ao acordar 0,004; ao mastigar 0,04; ao falar 0,04 e em repouso 0,07. Conclusão: Considerando-se as limitações deste estudo, conclui-se que os instrumentos ProDTMMulti e EVA foram capazes de quantificar a mudança na percepção dos sinais e sintomas de DTM após o tratamento com placa miorrelaxante. Palavras-chave: Síndrome da Disfunção da Articulação Temporomandibular, Escala Visual Analógica, Placas Miorrelaxantes. INTRODUÇÃO A articulação temporomandibular (ATM) é umas das mais requisitadas do corpo humano e realiza cerca de 1500 a 2000 movimentos funcionais por dia (abertura, fechamento, lateralidade e protrusão). É formada pelo disco articular, côndilo da mandíbula, fossa articular do osso temporal e estruturas associadas e está intimamente relacionada aos músculos da mastigação. A Disfunção Temporomandibular (DTM) ocorre quando há um desequilíbrio neste sistema e o organismo, na tentativa de compensar os danos causados tende a realizar adaptações nas estruturas acima descritas. O stress e as excessivas cargas de trabalho podem ser adjuvantes na manifestação da DTM, que tem se tornado cada vez mais frequente na vida das pessoas. Os principais sinais e sintomas associados a esta condição são: restrição dos movimentos mandibulares, sons articulares e dor nos músculos da face e/ou na região pré-auricular.1 A DTM tem grande impacto na qualidade de vida dos indivíduos sua prevalência de DTM é maior entre homens do que em mulheres e é comum em adultos com idades entre 20-50 anos 3,4. Por sua complexidade e o envolvimento de diversos sintomas, como dor nos músculos da face, fadiga muscular, dor nas ATMs, ruídos na ATM, dores de cabeça, zumbido no ouvido, dor de ouvido, sensação de ouvido tapado, dificuldades de movimentação mandibular, deve ser tratada de maneira multidisciplinar. Para tanto é de extrema importância um bom planejamento, associado a uma anamnese completa, incluindo história médica e dental do paciente, exame físico intra e extraoral. Por se tratar de uma desordem que tem manifestações clínicas gerais, deve ser tratada com um olhar ampliado e, se necessário, incluir investigações complementares que ajudem no diagnóstico e prognóstico. Na área odontológica, a modalidade de tratamento mais empregada para a DTM é a placa de oclusão miorrelaxante ou estabilizadora, que simula uma oclusão ideal e favorece a relação côndilo-fossa, reduzindo a sintomatologia. Existem algumas controvérsias na literatura quanto ao uso da placa oclusal e seu real efeito sobre os sintomas da DTM. Kreiner et al. (2001) concluíram que considerando-se todos os dados disponíveis (prós e contras), o uso de aparelhos oclusais na gestão da mialgia mastigatória localizada, artralgia ou ambos é suficientemente apoiada por evidências na literatura.13 O uso do dispositivo é de fácil confecção e instalação, e seu mecanismo de ação consiste na interrupção do esquema oclusal precedente e modificação da posição mandibular.3 Nesse sentido, muitos tipos de placas foram desenvolvidas com intuito terapêutico para a DTM, dentre elas a placa Michigan é a mais utilizada e estudada. A DTM tem etiologia multifatorial e é influenciada por aspectos biopsicossociais, sendo assim, é importante quantificar a frequência e severidade dos sinais e sintomas com base na percepção dos pacientes. Felício et al (2006) desenvolveram um protocolo denominado Protocolo para Centros Multiprofissionais para Determinação de Sinais e Sintomas de Desordens Temporomandibulares (ProDTMMulti) baseando-se nos sinais e sintomas mais frequentemente encontrados na literatura e nas situações que produzem maior desconforto. 4,5 Este protocolo foi validado com base no Índice de Disfunção Clínica de Helkimo, e tem como objetivo complementar o exame clínico com informações dadas pelo próprio paciente, de maneira mensurável.6 A avaliação subjetiva dos sinais e sintomas da DTM, principalmente da dor, tem se mostrado um grande desafio no tratamento destas condições crônicas. A Escala Visual Analógica (EVA) tem sido utilizada como principal instrumento de avaliação subjetiva da dor; consiste em uma linha de 100 mm, em que a extremidade da esquerda representa ausência de desconforto ou dor e a da direita o maior desconforto possível, neste caso, a máxima dor imaginável. O paciente registra a intensidade da dor fazendo uma marca sobre a linha entre os dois extremos, a intensidade da dor é descrita como sendo a distância entre a extremidade esquerda e a marca do sujeito, medida com régua milimetrada7,8. OBJETIVO Avaliar a percepção subjetiva dos sinais e sintomas de DTM antes e após tratamento com placa miorrelaxante tipo Michigan através do protocolo ProDTMMulti e Escala Visual Analógica. MATERIAIS E MÉTODO A amostra foi composta por 10 pacientes com DTM, diagnosticados através do Eixo I do Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders (RDC/TMD)9, os quais foram atendidos na Clínica de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP/USP). Os critérios de inclusão foram: possuir diagnóstico de DTM (Eixo 1 do RDC/TMD) e não estar recebendo nenhum outro tratamento para a disfunção. Não houve distinção de gênero, idade e raça para a inclusão na pesquisa. Os critérios de exclusão adotados foram: mulheres gestantes, em tratamento ortodôntico e/ou fonoaudiológico, com diagnóstico de doenças reumáticas ou fibromialgia, com problema neurológico, em tratamento de radioterapia ou quimioterapia, pacientes que sofreram trauma na região de cabeça/pescoço ou que passaram por cirurgia de cabeça/pescoço,. Após a fase de triagem os sujeitos de pesquisa que se enquadraram, de acordo com os critérios de inclusão/exclusão, passaram por exames através do protocolo RDC/TMD (Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders) para confirmação do diagnóstico de DTM. O RDC/TMD foi desenvolvido como um instrumento de diagnóstico e classificação, com base nos melhores dados científicos disponíveis25,26. Os pacientes foram submetidos à aplicação do protocolo ProDTMMulti e da Escala Visual Analógica em dois momentos: pré-tratamento (no momento da avaliação inicial) e após 30 dias de instalação (pós-tratamento). Os voluntários da pesquisa não receberam qualquer outro tipo de tratamento para DTM, apenas placa, a fim de evitar vieses no momento de análise dos dados obtidos. Após a moldagem com hidrocolóide irreversível (alginato) os modelos obtidos foram montados em articulador semi-ajustável (Bioart®) com arco facial para montagem do superior, JIG de Lucia e registro de mordida em cera sete para montagem do modelo inferior. Após o processo de montagem iniciou-se o enceramento da placa miorrelaxante de Michigan. Foi confeccionada a guia canina para facilitar os movimentos de lateralidade. Os modelos com a placa encerada foram enviados para o laboratório da FORP- USP para o processo de inclusão em resina acrílica. Os dados obtidos após a coleta passaram por tabulação em planilhas Excel e foram analisados por meio de estatística descritiva e teste não paramétrico (Mann-Whitney), adotandose 5% como significância (Bioestat 5.0). RESULTADOS RDC/TMD De acordo com o Gráfico 1, da amostra composta por 10 indivíduos, 10% (1 pessoa) apresentaram diagnóstico de dor miofascial e deslocamento de disco, 30% (3 pessoas) somente dor miofascial, 20%(2 pessoas) dor miofascial e atralgia, 20%( 2 pessoas) atralgia e 20%( 2 pessoas) dor miofascial com limitação de abertura. Gráfico 1. Diagnóstico obtido por meio do RDC/TMD para a amostra analisada. Ia – dor miofascial, Ib – dor miofascial com limitação de abertura bucal, IIa – deslocamento de disco com redução, IIIa – artralgia. VAS No momento inicial, a média e o desvio-padrão obtidos com relação à intensidade da sintomatologia dolorosa foram 7,2 (±1,6) e no momento final 2,6 (± 2,2). O valor p encontrado para a comparação pré e pós-tratamento foi de 0,008, demonstrando que houve diferença estatisticamente significante (Tabela 1). Tabela 1. Intensidade da sintomatologia dolorosa antes e após tratamento com placa por meio da EVA: média, desvio-padrão e p-valor (Mann-Whitney). Sujeitos VAS Inicial VAS Final 1 9 4 2 5 1 3 5 0 4 8 2 5 8 7 6 10 2 7 6 2 8 6 3 9 8 5 10 7 0 Média (DP) 7,2 (±1,6) 2,6 (± 2,2) p-valor 0,008* PRODTMMULTI Quanto à presença de dor na musculatura mastigatória, 9 sujeitos relataram sentir dor antes e 5 depois do uso da placa dos quais 8 eram bilateral e 1 do lado esquerdo; 10 indivíduos sentiam fadiga na musculatura mastigatória antes e 4 depois do uso da placa dos quais todos eram bilateral, 7 indivíduos sentiam dor na ATM antes e 4 depois do uso da placa todos com localização bilateral , 6 indivíduos relataram ruídos na ATM, destes os número 1, 4, 9 e 10 relataram ser do tipo estalo, os números 5 e 7 relataram ser do tipo folha seca todos com localização bilateral. Em relação à presença de dor de cabeça 9 apresentavam o sintoma antes e 6 depois do uso da placa todos com localização bilateral. Dos 10 sujeitos, 6 apresentavam sintoma auditivo antes e 4 depois do uso da placa, dos quais 4 com otalgia, 6 com plenitude auricular, 7 com zumbido antes do uso da placa, 1 com otalgia, 3 plenitude auricular, 2 zumbido depois do uso da placa. Todos os sintomas auditivos foram bilaterais para todos os participantes da pesquisa. Antes do tratamento com placa miorrelaxante 5 pacientes tinham dificuldade de movimentar a boca e 1 depois do tratamento com placa, dos quais 6 com dificuldade de abrir antes 1 depois, 3 fechar antes 0 depois, 8 mastigar antes 2 depois, 5 bocejar antes 1 depois, 3 engolir 2 depois e 2 com dificuldade para falar antes do uso da placa e 1 depois do uso. Diante dos valores encontrados, pode-se notar que houve diminuição em todos os sintomas relatados pelos sujeitos de pesquisa após o uso da placa, o que indica que o tratamento foi efetivo em minimizar o desconforto causado quadro de DTM dos indivíduos (Tabela 2). Todos os participantes da pesquisa apresentavam hábitos parafuncionais, antes do uso da placa. Quatro roíam unha, 1 mordia objetos, 1 sujeito relatou somente ranger os dentes durante o dia, nenhum rangia os dentes durante a noite, 7 sujeitos relataram apertar os dentes durante o dia e 6 durante a noite, 2 sujeitos afirmaram ranger e apertar durante o dia e 2 durante a noite. Tabela 2. Média dos escores atribuídos aos Sinais/sintomas e Hábitos parafuncionais obtidos a partir do ProDTMMulti. Antes da Placa Depois da Placa Dor na musculatura mastigatória 9 5 Fadiga na musculatura mastigatória 10 4 Dor na ATM 7 4 Ruídos na ATM 6 8 Dor de cabeça 9 6 Sintoma auditivo 6 4 Otalgia 4 1 Plenitude auricular 6 3 Zumbido 7 2 Dificuldade para movimentar a boca 5 1 Dificuldade para abrir a boca 6 1 Dificuldade para fechar a boca 3 0 Dificuldade para mastigar 8 2 Dificuldade para bocejar 5 1 Dificuldade para engolir 3 2 Dificuldade para falar 2 1 Mascar chiclete 6 3 Roer unhas 4 3 Morder objetos 1 2 Ranger ou apertar os dentes ao dormir 10 8 Ranger ou apertar os dentes durante o dia 8 7 Outros 0 0 A dificuldade para mastigar os alimentos foi testada com nove alimentos, o escore para cada alimento é 10 e a dificuldade global 90. A média global entre os 10 sujeitos antes do uso da placa foi 38,3 e depois do uso da placa foi de 20,6. Os alimentos que apresentaram menor dificuldade para mastigação foram macarrão e a batata cozida com média de 1,8 antes do uso da placa e 1 depois do uso. O alimento que apresentou maior dificuldade para mastigação foi o churrasco com média 7,6 antes do uso da placa e 4,3 depois do uso (Tabela 3). Tabela 3. Média dos escores atribuídos à dificuldade para mastigar alimentos obtidos a partir do ProDTMMulti. Antes da placa Depois da placa Pão 4,4 1,6 Bife 7,4 3,5 Arroz/feijão 2,3 1 Maçã 5,2 4,2 Macarrão 1,8 1 Batata cozida 1,8 1 Churrasco 7,6 4,3 Amendoim 5,2 2,1 Frango em molho 2,6 1,9 Dificuldade global (Score de 90) 38,3 20,6 A percepção dos sinais e sintomas de DTM foi medida em quatro momentos: ao acordar, ao mastigar, ao falar e em repouso antes e após o tratamento com placa de Michigan. As médias (DP) entre os 10 indivíduos antes do uso da placa ao acordar foi 35,8(±12,1), ao mastigar 26,3 (±14,8), ao falar 25,9 (±18,6) e em repouso 22,1 (±18,1), depois do uso da placa as médias (DP) foram 15,6 (±12,1), 13,8 (±14,7), 8,2 (±10,7), 8 (±10,1), respectivamente. O pvalor para o situação ao acordar foi 0,004, ao mastigar 0,04, ao falar 0,04 e em repouso 0,07, as situações ao acordar, ao mastigar e ao falar apresentaram valor estatisticamente significante (Tabela 4). Tabela 4. Média e desvio-padrão da percepção dos sinais e sintomas ao acordar/mastigar/falar/em repouso e comparação entre momentos antes e depois da placa, obtidos a partir do ProDTMMulti. Antes da placa Depois da placa p-valor Ao acordar 35,8 (±12,1) 15,6 (±12,1) 0,004* Ao mastigar 26,3 (±14,8) 13,8 (±14,7) 0,04* Ao falar 25,9 (±18,6) 8,2 (±10,7) 0,04* Em repouso 22,1 (±18,1) 8 (±10,1) 0,07 *Nível de significância (5%). DISCUSSÃO O exame de diagnóstico utilizado para esta pesquisa (RDC/TMD) demonstrou que a maior parte da amostra (n=10) apresentava dor miofascial isolada (50%) ou associada a um problema articular (30 %), o que reafirma os dados da literatura sobre o tipo mais comum de DTM encontrado ser o muscular4,11,12. O tratamento com placa miorrelaxante de Michigan instituído para todos os sujeitos nesta pesquisa é considerado apropriado e bem sucedido por ser conservador1. As teorias para seus mecanismos de ação são descritas na literatura de forma a justificar seus benefícios, reconhecidos cientificamente, em sujeitos com DTM29. De acordo com essas teorias, o tratamento proposto nesta pesquisa, procurou reduzir a atividade parafuncional dos músculos induzindo o relaxamento, o aumento da dimensão vertical para diminuir a sobrecarga sobre as ATM e os sintomas dolorosos, proteger os dentes de atrito e desgaste, permitir uma posição de maior conforto e estabilidade oclusal e dar informações diagnósticas para o tratamento de DTM17,18,19. Seu efeito cognitivo e placebo também são considerados29, ou seja, alguns autores consideram que quando há esperança por parte do paciente de que o tratamento seja eficaz, isto pode influenciar positivamente na resposta do tratamento, efeito existente em diversos estudos23,24,29. Existem alguns sujeitos de pesquisa que mostram resultados melhores do que outros, independente de sua situação inicial ser pior comparada a do outro sujeito. Esta diferença nos resultados pode ser explicada também pela assiduidade do paciente ao tratamento. Estudos epidemiológicos transversais de populações adultas não pacientes demonstraram que 40 a 75% dos indivíduos apresentam pelo menos um sinal de disfunção articular como, por exemplo, anormalidade da mobilidade mandibular, ruídos articulares e sensibilidade à palpação, e aproximadamente 33% apresentam pelo menos um sintoma de disfunção muscular, como presença de dor e/ou desconforto na região orofacial. As mulheres em idade fértil (20 a 40 anos) são as mais acometidas por esta condição clínica, que está intimamente relacionada a aspectos biopsicossociais30. A escala visual analógica (EVA) de 10 centímetros, tornou-se uma das medidas mais utilizadas de fenômenos subjetivos em pesquisa clínica. Sua validade, sensibilidade e os métodos estatísticos apropriados para lidar com as pontuações são objeto de muita discussão na literatura. Diversos estudos utilizam a EVA para avaliar a intensidade da dor, como os que fizeram uso da escala para avaliar a dor durante e após um teste de capacidade mastigatória6,31. A EVA foi escolhida neste estudo para avaliar a dor por ser de fácil aplicação e entendimento, por evitar vieses relacionados a qualquer informação que leve a um préjulgamento do paciente baseado em experiências prévias, por fornecer parâmetros de avaliação da dor pelo clínico e ser sensível para avaliar sinais e sintomas de DTM10. A média inicial da escala VAS foi de 7,2 (±1,6), a média final foi 2,6 (± 2,2) com diferença estatisticamente significante (p=0,008). Houve redução de 4,6 no valor da média do momento inicial para o final, o que demonstra que a placa oclusal utilizada desempenhou a função esperada, influenciando positivamente a dor relatada pelos sujeitos de acordo com essa escala. Existem alguns sujeitos de pesquisa que mostram resultados melhores do que outros, independente de sua situação inicial ser pior comparada a do outro sujeito. Esta diferença nos resultados pode ser explicada também pela assiduidade do paciente ao tratamento. As placas miorrelaxantes promovem o relaxamento muscular, alterando o recrutamento das fibras e reduzindo hábitos orais e o bruxismo de sono. As placas estabilizadoras permitem proteção passiva da mandíbula e dos dentes, evitando desgastes nas superfícies oclusais e incisais. Estes dispositivos representam objetos “estranhos” na cavidade oral, alterando estímulos táteis, diminuindo o espaço da língua e fazendo com que o paciente fique mais consciente de sua posição mandibular. Todos estes mecanismos de ação da placa, ainda bastante controversos, levam à redução da sintomatologia dolorosa e melhoria da qualidade de vida32. Os efeitos da placa oclusal sobre a musculatura mastigatória também foram demonstrados por estudos envolvendo eletromiografia. Shan e Yun (2007) em estudos anteriores observaram um decréscimo de atividade eletromiográfica do grupo com placa oclusal, em comparação com o grupo de controle20. Outros estudos mostraram diminuição da atividade EMG dos músculos quando se comparava períodos com o uso da placa com períodos sem uso.21 Nascimento et al. (2007) observaram redução dos sinais e sintomas de DTM após o uso de placa oclusal por 60 dias principalmente em pacientes com sintomas graves, de acordo com o índice de Helkimo27. Landulpho et al. estudaram através da EMG de superfície nos músculos masseter e temporal em 22 pacientes com DTM, durante 90, 120 e 150 dias de uso de placa e encontraram diferenças (p<0,05) em contração máxima (isomérica) dos músculos28. O ProDTMMulti quantifica a frequência e a severidade dos sinais e sintomas mais frequentes de DTM, de acordo com a percepção subjetiva de cada paciente. A primeira parte deste instrumento é composta por questões com respostas afirmativas ou negativas e a segunda parte atribui um escore a cada sinal e sintoma nas situações de vida diária de acordar, mastigar, falar e em repouso7. De acordo com os resultados do ProDTMMulti, todos os sinais e sintomas de DTM tiveram redução comparando-se os momentos antes e após o tratamento com placa, o que demonstra que o tratamento teve um efeito positivo para DTM. Os valores mais altos foram nas situações ao acordar e ao mastigar, sendo que, ao acordar foi à situação com valores mais altos. O que pode explicar os maiores valores ao acordar é a presença de hábitos parafuncionais de apertamento e ranger de dentes durante a noite (bruxismo do sono). Este hábito é difícil de ser detectado, pois muitas vezes a pessoa não tem consciência de apresentar o problema 15,16. Inicialmente, todos os sujeitos relataram, pelo menos, um destes fatores, ao final da pesquisa oito sujeitos relataram apertamento ou ranger de dentes ou os dois sintomas. Os valores mais baixos encontrados foram na situação em repouso, provavelmente porque nesta situação o sistema estomatognático está sendo menos exigido se comparadas às demais situações. O que pode explicar esta ausência de significância estatística é que inicialmente esta situação foi a que teve menos desconforto para os participantes da pesquisa. De um modo geral houve redução dos sintomas em todas as situações comparando-se antes e depois do tratamento com placa miorrelaxante e o quadro de dor percebida pelos sujeitos reduziu sensivelmente para todos os indivíduos, este estudo encontrou resultados condizentes com a literatura, o que indica sucesso no tratamento com placa miorrelaxante de Michigan para casos de DTM. É válido ressaltar que em todo tratamento médico e odontológico existe o efeito placebo, sensação de estar sendo cuidado e para que os resultados sejam bons deve-se ter assiduidade do paciente. Alguns autores consideram que quando há esperança de que o tratamento seja eficaz pode influenciar na resposta placebo existente23,24. Porém, é preciso considerar que os instrumentos de avaliação utilizados neste estudo são direcionados à percepção subjetiva de sinais e sintomas de DTM. Sendo assim o efeito placebo pode ter existido, assim como em qualquer outra pesquisa clínica intervencional com seres humanos. CONCLUSÃO Considerando-se as limitações deste estudo, conclui-se que os instrumentos ProDTMMulti e EVA foram capazes de quantificar a mudança na percepção dos sinais e sintomas de DTM após o tratamento com placa miorrelaxante. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Greene CS, Klasser GD, Epstein JB. Revision of the American Association of Dental Research's Science Information Statement about Temporomandibular Disorders. J Can Dent Assoc. 2010; 76:115. 2. Dworkin SF, LeResche L, DeRouen T, Von Korff M. Assessing clinical signs of temporomandibular disorders: reliability of clinical examiners. J Prosthet Dent. 1990, May; 63(5):574-9. 3. Mohl ND, R. Ohrbach. Clinical decision making for temporomandibular disorders. Dent J Educ 1992; 56: 823-833. 4. Comparing TMD diagnoses and clinical findings in centers DT Swedes and Americans using research diagnostic criteria for temporomandibular disorders. Orofac J Pain 1996; 10:240-253. 5. Di Paolo G, Panti F, Rampello A. 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