Parques e Vida Selvagem - Parque Biologico de Gaia

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Ano XII • N.º 43 • 22 de junho a 21 de setembro de 2013
Portfolio
BERÇO DE ESTRELAS
Entrevista
TRATAR AS DOENÇAS
DAS PLANTAS
Reportagem
RESERVA BIOLÓGICA
DO RIO TROMBETAS
3 euros
IVA incluído
Portfolio
Astronomical
Photography Contest
Interview
Taking care of plants
Report
Biological Reserve
of the Trumpets river
CONCURSO DE FOTOGRAFIA + TURISMO E DIVERSIDADE
NOVOS PARQUES DE GAIA + A RELEVÂNCIA DA FLORA DO LITORAL
EDITORIAL 3
Nuno Oliveira
Diretor da revista
"Parques e Vida Selvagem"
Coisas da Natureza
urso-pardo (Ursus arctus), extinto
em Portugal “oficialmente” em
1650, ainda ocorria nas serranias
fronteiriças do Norte de Portugal
em meados do século XX, tendo sido abatido
um macho em junho de 1946, na Serra do
Laboreiro, a menos de 5 km da fronteira
portuguesa de Melgaçoi.
Agora voltou a aproximar-se de Portugal:
em maio, o “El Correo de Zamora” dava
conta da sua presença na zona de Sanabria
e em agosto passado o mesmo jornal
publicou fotos de um urso em Muelas de los
Caballeros, a 27 km da fronteira portuguesa
de Bragança. Claro que do lado espanhol
há áreas imensas florestadas e desabitadas,
condições que o urso não encontrará do
nosso lado.
Quanto ao lince-ibérico (Lynx pardinus) foi visto
e fotografado um em maio, em Vila Nova de
Milfontes. O padrão de pele permitiu identificar
o exemplar, que nasceu em 2011, perto de
Sevilha e faz parte da população do Parque
Nacional de Doñana.
Desde 2010, quando outro lince de Doñana
foi visto e capturado (para substituição do
emissor) na zona de Moura-Barrancos, que
não se via um lince em Portugal.
Entretanto continuam a nascer linces no
Centro Nacional de Reprodução em Cativeiro,
em Silves, tendo sido já libertados na
Andaluzia alguns animais ali criados.
O
MAIS UM RAMO DE EUCALIPTO
A FERIR UMA CRIANÇA
No passado mês de julho, noticiava o JN
(“Jornal de Notícias”), um ramo de eucalipto
caiu subitamente e feriu gravemente uma
criança, no Parque da Cidade do Porto.
Idêntico acidente ocorreu em agosto de
2006 na serra de Sintra, causando a morte
de um bebé a ferimentos graves em mais
duas pessoas.
O fenómeno parece estar a alastrar em
Portugal, devido à seca e ao excesso de
calor. Para além dos casos referidos, há três
casos conhecidos em Vila Nova de Gaia,
ocorridos em 8 para 9 de agosto de 2006:
um no Parque Biológico e dois na Quinta de
Stº. Inácio, todos sem consequências graves
e outro em julho desde ano no Parque
Biológico, também sem consequências.
A queda de ramos de árvores,
nomeadamente de eucaliptos, é um
fenómeno natural e normal, que pode
ocorrer com maior intensidade em épocas
de calor.
“Elevadas temperaturas das folhas,
resultantes de intensa insolação, de altas
temperaturas do ar ou de ambos os factores,
podem provocar taxas de transpiração
excessivas. Uma taxa relativamente elevada
de perda de água, especialmente nas
épocas em que a absorção é baixa, conduz
muitas vezes à morte de algumas ou de
todas as folhas ou ramos de uma planta,
devido à dessecação.”ii
Devido a este fenómeno da queda de ramos,
que causam frequentemente ferimentos
e morte de campistas, montanhistas e
trabalhadores florestais, na Austrália alguns
eucaliptos são designados por “widowmakers” (fabricantes de viúvas). De tal modo
este fenómeno é habitual nesse país que
criaram a lenda do “Drop Bear” (o urso que
cai) para afastar as crianças dos eucaliptais.
A lenda pode ter-se inspirado no koalagigante (Phascolarctos stirtoni), um marsupial
arborícola, pertencente à designada
Megafauna Australiana, extinto há mais de
50 mil anos.
A medida possível para minorar a queda de
ramos de eucaliptos, em parques públicos,
é proceder à rega da sua zona de inserção
radicular, em épocas de maior calor.
NINGUÉM LIGA AO ORDENAMENTO
DO TERRITÓRIO E, DEPOIS...
“Prédio construído sobre linha de água
está à beira do colapso”, noticiava o jornal
“Público” em junho. O prédio foi licenciado
em 1996, e localiza-se, ironicamente, na
“Rua da Alagoa”, uma zona, obviamente,
lagunar. Com o construtor e o diretor da
obra já condenados a prisão (em recurso) o
edifício apresenta uma inclinação superior a
30 cm.
AS DEZ FLORESTAS MAIS
AMEAÇADAS NO MUNDO
Um estudo divulgado em julho pela
organização Conservation International
revelou o decréscimo da área das 10 áreas
florestas mundiais mais importantes para a
biodiversidade:
1 – Regiões da Indo-Birmânia (Ásia-Pacífico):
restam apenas 5% da vegetação original.
2 - Nova Zelândia (Oceânia): restam apenas
5% do bioma local.
3 – Sunda (Indonésia, Malásia e Bornéu
– Ásia Pacífico): a área abriga 17 mil ilhas
equatoriais; apenas 7% da vegetação
original existe atualmente.
4 – Filipinas (Ásia-Pacífico): é considerado
um dos países mais ricos em biodiversidade
do mundo; 93% da vegetação do país foi
destruída.
5 – Mata Atlântica (América do Sul): já esteve
presente em praticamente toda a costa
brasileira, abrigando 20 mil espécies de
plantas.
6 – Montanhas do Centro-Sul da China
(Ásia): inclui uma incrível diversidade de
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 3
4 EDITORIAL
PRAGAS DE INSETOS
EM GUIMARÃES E SILVES
Um estudo da Universidade de Cornell (Nova
Iorque), publicado em maio, demonstra
o efeito dos pesticidas na diminuição
da biodiversidade que, no caso dos
invertebrados, pode chegar a 42% das
espécies. Também um relatório da Agência
Europeia do Ambiente, EEA, divulgado em
julho, afirma que nas pradarias da Europa
a população de borboletas caiu 50% entre
1990 e 2011.
Hans Bruyninckx, diretor executivo da EEA,
chama a atenção para a importância das
borboletas e outros insetos na polinização.
"O que eles transportam é essencial para os
ecossistemas naturais e para a agricultura."
Apesar disso, em julho o JN noticiava que
“Silves intensifica combate aos mosquitos em
Armação de Pêra” e a 15 de agosto que uma
“Praga de insetos afeta 15 mil pessoas em
Guimarães.”
A “culpa” foi atribuída a fatores ambientais
e provocados pelo homem, mas ninguém
se lembrou de refletir sobre a diminuição
dos predadores naturais das moscas e
mosquitos, e das suas larvas e ovos, peixes,
anfíbios, morcegos, aves e mesmo outros
insetos.
Ainda não há muitos anos, no fim do
verão, Portugal era literalmente invadido
por multidões de tralhões (nome que caiu
em desuso) e se refere a duas espécies
de pequenas aves insetívoras migradoras,
o papa-moscas-cinzento (Muscicapa
striata) e o papa-moscas-preto (Ficedula
hypoleuca). De tal modo eram abundantes,
4 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
que a rapaziada os caçava em enormes
quantidades.
Não resistimos a transcrever parcialmente
um texto do arqueólogo António Carlos de
Varela, publicado em 30/1/2011 no seu
blogue “Irrealidade prodigiosa”iii:
“Mas o que mais me marcava eram
as surtidas pelos campos, com os
companheiros locais.
E foi com eles que aprendi a caçar tralhões
(o tralhão é a designação local para um
pássaro tipo pardal). O ritual de preparação
foi sempre o que mais me entusiasmou.
Primeiro havia que encontrar o isco: as
“haúdes” (não sei se é assim que se escreve)
[na realidade designam-se por aúdes as
formigas de asas]. São simplesmente
formigas de asa. Com uma sachola escavase um formigueiro até as ditas aparecerem,
as quais eram guardadas vivas numas
caixas.
Depois preparavam-se os “costilos” (também
não sei se é assim que se escreve). São
ratoeiras de arame, que se fecham sobre a
cabeça do animal que come o isco preso ao
centro. A preparação consistia nisso mesmo:
prender as formigas de asa aos arames do
centro da armadilha.
Depois, de sachola ao ombro e “costilos”
presos à cintura, lá íamos pelos campos.
Quando se entendia que um local era bom,
cavava-se uma pequena fossa, deixando a
terra retirada em rampa, onde se armava o
“costilo”, enterrado, deixando apenas visível
a “haúde” [aúde] com as suas atraentes asas
brilhantes ao sol.
As armadilhas iam ficando ao longo de uma
rota, a qual era depois percorrida várias
vezes: recolhiam-se os tralhões capturados,
remontavam-se armadilhas.
Esta era a parte que sempre mais me
custou. Não tanto quando eles estavam
mortos, mas quando estavam feridos. Nessa
altura havia que matá-los, o que nunca
consegui fazer. Felizmente, havia sempre um
local que me acompanhava e que, com um
sorriso trocista nos lábios, fazia o que havia
a fazer.
Os tralhões eram um petisco muito
apreciado naquelas bandas. Chegávamos ao
final do dia com longos cordões de pássaros
(ligados pelas patas ao bicos, através de um
processo técnico que implicava a fractura de
uma pata de um e o espetar do osso através
do bico do outro). No dia seguinte o almoço
era arroz de tralhões.
Nunca comi.”
Os tralhões, de que anilhei centenas, têm
vindo a diminuir de ano para ano, disso sou
testemunha nos meus 30 anos de Parque
Biológico de Gaia onde ainda há uma
década eram abundantes, especialmente o
papa-moscas-preto (Ficedula hypoleuca),
aparecendo regularmente por volta de 15 de
agosto e de que, este ano (estou a escrever
a 18 de agosto) apenas ouvi dois ou três.
Mas não foram só os tralhões: a
generalidade das aves insetívoras tem
visivelmente diminuído, e as moscas,
mosquitos e pragas agrícolas agradecem!
E o uso maciço de inseticidas ainda mais
agrava esta situação pois, como são
produtos não seletivos, tanto matam as
pragas, como os seus predadores.
JG
habitats, a maior taxa de endemismo do
mundo; restam apenas 8% da vegetação
natural.
7 – Província Florística da Califórnia (América
do Norte): possui clima mediterrâneo e abriga
o maior organismo vivo do planeta, a sequóia
gigante; restam 10% de sua área inicial.
8 – Florestas Costeiras da África Oriental
(África): espalhadas por países como Quénia
e Tanzânia possuem grande diversidade
de espécies endémicas; sofrem com o
crescimento populacional.
9 – Madagáscar e ilhas do oceano Índico
(África): somente 10% do habitat original
conseguiu resistir às pressões oferecidas pelo
aumento populacional, mineração e extração
de madeira.
10 – Florestas Afromontanas (África Oriental):
a agricultura é a principal ameaça, seguida
do comércio de carne, que resultou na
destruição de 89% do habitat original.
Juvenil de rola-brava, tendo como fundo o JN de 19/08/2012
DE NOVO EM DEFESA
DA ROLA-BRAVA
Uma das espécies que está a sofrer maior
declínio populacional na Europa é a rolabrava (Streptopela turtur) que em Portugal
se pode caçar e que diminui na Europa
62% entre 1980 e 2005.iv O bem informado
jornal inglês “The Independent” referia na
sua edição de 8 de maio deste ano, que em
Inglaterra desde 1970 a população de rolas
desceu 93% e que em muitos locais onde era
familiar é, hoje, uma memória. Num artigo de
Jenny Dunn e Anthony Morris publicado na
revista “Bird Study” (Vol. 59, n.º 4, 2012), os
autores afirmam que “Com o ritmo atual de
declínio, a rola-brava pode perder-se como
ave nidificante em Inglaterra em 2012.”
No Parque Biológico de Gaia, como
nidificante, já se extinguiu!
A 14 de agosto a Liga para a Proteção da
Natureza (LPN) e a Federação Portuguesa
de Caçadores (FPC) pediram, em
comunicado, uma moratória de dois anos na
caça à rola-brava.
OPINIÃO 5
Estava a escrever estas reflexões e eis
que “cai” um e-mail com um comunicado
da QUERCUS (Associação Nacional de
Conservação da Natureza), datado de
16 de agosto, apelando aos Ministros
da Agricultura e do Ambiente para que
suspendam este ano a caça à rola, que
começou exatamente hoje, 18 de agosto.
Um dos argumentos invocados pela
QUERCUS, e que também já uso há anos,
é o facto de em final de agosto ainda
haver rolas a nidificar, como bem ilustra a
foto anexa.
Ora como na época da caça à rola deste
ano (3.º domingo de agosto a 30 de
setembro) haverá 22 jornadas de caça
nos terrenos cinegéticos ordenados
(nos restantes é proibida), e podendo
cada caçador abater até seis rolas por
jornada, temos que, no limite teórico, os
130 mil caçadores que o JN refere na
notícia acima poderiam abater mais de
17 milhões de rolas, número próximo do
total da população de rola na Europa, que
o Bird Life International estima em 10,5 a
21,6 milhões de indivíduos.v
Claro que nem todos os caçadores se
dedicam às rolas, nem todos caçam
todos os dias, e muito menos seis rolas
por dia, e também é verdade que só
uma parte da população europeia de rola
migra através de Portugal; mas qualquer
que seja o número de rolas abatidas,
terá um efeito muito significativo na
população que nidifica em Portugal e que
se estimava, há uma década, em 10 mil a
100 mil casais.vi
i. ÁLVARES, Francisco e DOMINGOS, José
(2010). Presença histórica do urso em
Portugal e testemunhos da sua relação com
as comunidades rurais. AÇAFA On Line, no
3, Associação de Estudos do Alto Tejo, www.
altotejo.org, acedido em 17/08/2013.
Luís Filipe Menezes
Presidente da Câmara Municipal
de Vila Nova de Gaia
Dever cumprido
ste é o último artigo de opinião
que publicarei na revista “Parques
e Vida Selvagem” enquanto
Presidente da Câmara Municipal
de Gaia, dado que a partir de outubro, por
força da lei, terei de deixar de desempenhar
essa função, a que me dediquei com
determinação durante 16 anos. A avaliar
pelas opiniões e resultados eleitorais, não
desiludi os Munícipes. E muito do trabalho
que desenvolvi na Câmara teve a ver, muito
diretamente, com os objectivos desta
revista, que são a defesa do ambiente e a
conservação da biodiversidade.
Se hoje o rio Febros, que nasce em Gaia e
atravessa o Parque Biológico, tem Lontras,
isso deve-se à total prioridade dada
desde o início do meu primeiro mandato
ao saneamento básico. Poderão alguns
perguntar-me qual a importância das
Lontras para o bem-estar dos Munícipes?
São o melhor indicador de que a água que
o rio Febros faz desaguar no rio Douro tem
excelente qualidade, e é a boa qualidade
das águas do Douro que garante a boa
qualidades das águas das praias de Gaia e
Porto.
Sabemos que, de montante, o Douro ainda
traz alguma poluição; mas também nisso
estamos, indiretamente a agir, desde 2009
quando integramos a empresa pública
E
Simdouro, com 32,58% do seu capital,
permitindo, assim, que municípios
do interior, com maiores dificuldades,
tenham neste momento em construção
sistemas de saneamento e várias ETAR.
O plano de investimentos da Simdouro,
no montante total de aproximadamente
59,5 milhões de euros, a executar
no período de 2010 a 2015 permitirá
a construção de 22 Estações de
Tratamento de Águas Residuais (ETAR),
de cerca de 113 km de interceptores,
de 15 km de condutas elevatórias e
de 12 estações elevatórias. Está ainda
prevista a reabilitação de 13 ETAR já
existentes.
A área dos espaços verdes públicos e
de conservação da natureza foi outra
das minhas apostas e se não atingimos
a meta desejada, 10 m2 por habitante,
ficamos muito perto e com projetos em
andamento que permitirão, ainda neste
mandato, ficar ainda um pouco mais
próximo daquele número, e ao próximo
Executivo Municipal atingir e ultrapassar
rapidamente essa meta. E para isso
poderá contribuir a ideia que lancei, ao
inaugurar o Parque de Ponte Maria Pia,
no passado dia 1 de Agosto, da criação
de uma empresa intermunicipal de
parques e espaços verdes.
ii. MEYER et all. (1973). Introduction to Plant
Physiology, USA.
iii. VARELA, António Carlos de, http://
irrealidadeprodigiosa.blogspot.pt/2011/01/0328caca-aos-tralhoes.html, acedido em 17/08/2013.
iv. Fonte: European Bird Census Council, RSPB e
BirdLife International.
vi. Turtle Dove Management Plan 2007-2009, The
European Commission (DG ENV B2).
João L. Teixeira
v. BirdLife International (2013) Species factsheet:
Streptopelia turtur. Downloaded from http://www.
birdlife.org, acedido em 18/08/2013.
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 5
Na produção desta revista,
ao utilizar um papel com 60% de fibras
recicladas (Satimat Green)
em vez de um papel não reciclado,
o impacto ambiental foi reduzido em:
Verão 2013
1762
kg de aterro
159
litros de água
1590
kg de CO2 (gases de efeito de estufa)
38170
kWh de energia
3804
kg de madeira
2863
km de viagem num automóvel europeu
de consumo médio
FICHA TÉCNICA
Revista “Parques e Vida Selvagem”
Diretor Nuno Gomes Oliveira
Editor Parque Biológico de Gaia
Coordenador da Redação Jorge Gomes
Fotografias Arquivo Fotográfico
do Parque Biológico de Gaia
Propriedade Águas e Parque Biológico de Gaia, EEM
Pessoa coletiva 504763202
Tiragem 10 000 exemplares
ISSN 1645-2607
N.º Registo no I. C. S. 123937
Dep. Legal 170787/01
Administração e Redação
Parque Biológico de Gaia
Rua da Cunha • 4430-681 Avintes
Portugal
Telefone 227878120
E-mail: [email protected]
Internet http://www.parquebiologico.pt
Conselho de Administração
José Miranda de Sousa Maciel, Nuno Gomes Oliveira,
Serafim Silva Martins, José António Bastos Cardoso,
Brito da Silva
"OP9**t/tEFKVOIPBEFTFUFNCSPEF
3 euros
IVA incluído
www.facebook.com/parquesevidaselvagem
Portfolio
BERÇO DE ESTRELAS
Entrevista
TRATAR AS DOENÇAS
DAS PLANTAS
Reportagem
RESERVA BIOLÓGICA
DO RIO TROMBETAS
Portfolio
Astronomical
Photography Contest
Interview
Taking care of plants
Report
Biological Reserve
of the Trumpets river
CONCURSO DE FOTOGRAFIA + TURISMO E DIVERSIDADE
NOVOS PARQUES DE GAIA + A RELEVÂNCIA DA FLORA DO LITORAL
Capa: Mellote 15, foto vencedora da categoria
"Espaço Profundo" no concurso de fotografia
de astronomia.
Foto de João Vieira
6 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
44
30
70
20
14 BERÇO
DE ESTRELAS
portfolio
A exposição do concurso nacional de fotografia lançado pelo Observatório Astronómico do Parque Biológico de Gaia, na sua primeira edição,
abriu dia 1 de junho com a entrega dos prémios.
Face aos bons resultados desta experiência, a organização promete
que haverá uma próxima edição deste concurso.
SECÇÕES
8
Cartoon
9 Ver e falar
12
Fotonotícias
22
Quinteiro
28
Dunas
DAS PLANTAS
34
Espaços verdes
entrevista
44
Recuperar
46
Voo das aves
62
Migrações
64
Retratos naturais
72
Atualidade
77
Crónica
82
Coletivismo
52 TRATAR AS DOENÇAS
Bactérias, fungos, nemátodes: palavras umas mais familiares que outras,
mas frequentes nos serviços da Divisão de Apoio ao Setor Agroalimentar,
como explica a engenheira agrónoma Gisela Chicau — tudo para que as
plantas não deitem a perder a sua saúde.
56 RESERVA BIOLÓGICA
DO RIO TROMBETAS
reportagem
Um gigantesco tapete verde domina a porção setentrional da América
do Sul: trata-se da Amazónia, o supra-sumo das florestas tropicais.
São milhares de quilómetros de natureza no seu estado mais puro,
refúgio do poderoso jaguar, da águia hárpia e de enigmáticas tartarugas de água doce, tema central desta reportagem.
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 7
8 CARTOON
Por Ernesto Brochado
CONHEÇA AS EDIÇÕES DO PARQUE
Desejo adquirir os seguintes títulos nas quantidades indicadas:
Livro “Guia da Reserva Natural Local do Estuário do Douro”de vários autores ...........................................€5,00
Livro “José Bonifácio de Andrada e Silva: Um Ecologista no Séc. XVIII” de Nuno Gomes Oliveira............€10,00
Livro “Ecoturismo e Conservação da Natureza” de Nuno Gomes Oliveira .................................................... €10,00
Livro “Áreas de Importância Natural da Região do Porto” de Nuno Gomes Oliveira .................................€25,00
Livro “Manual da Confecção do Linho” de Domingos Quintas Moreira...........................................................€5,00
Livro “Empresas Municipais” de Catarina Siquet ...........................................................................................€11,00
Livro “Conservação dos Sistemas Dunares” de vários autores .......................................................................€5,00
Livro “Cobras de Portugal” de Jorge Gomes .....................................................................................................€5,00
Livro “Uma Escola Sem Muros: Diário de Um Professor”, de Paulo Gandra..................................................€7,00
Livro “Parque Biológico de Gaia - 1983/2013”............................................................................................€23,00
Livro “Borboletas dos Parques de Gaia” de Jorge Gomes.............................................................................€10,00
Livro “Mauro e Emília”, cágados em perigo, de Ana Mafalda e ilustrado por Ernesto Brochado e Delfina Sordo
(Oferecido na compra de “Galvino e Galvão, a galinha-de-água e o galeirão” (em baixo)
Livro infantil “Galvino e Galvão, a Galinha-de-água e o Galeirão” de Manuel Mouta Faria ..................... €15,00
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IVA incluído à taxa em vigor
NOME _______________________________________________________________________________________________________________________________________________
MORADA ___________________________________________________________________________________________________________________________________
CÓDIGO POSTAL ____________________________ - _____ TELEFONE ________________
JUNTO COMPROVATIVO DE TRANSFERÊNCIA BANCÁRIA PARA O NIB SOLICITO P. F. QUE ME ENVIEM À COBRANÇA (PORTES DE CORREIO NÃO INCLUÍDOS)
Enviar este cupão preenchido em letra legível para:1BSRVF#JPMØHJDPEF(BJBt-PKBt3VBEB$VOIBtou por e-mail para [email protected]
8 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
Palavras dos
A revista anterior saiu em 20 de junho
e os leitores escreveram...
Assinar a revista
João Tomaz escreve: «Boa tarde, gostaria
de receber informações para ser assinante
da revista Parques e Vida Selvagem».
Resposta: «Agradecendo a sua
mensagem, mediante a mesma anexamos
a informação, acrescentando que deverá
pedir aos Amigos do Parque (telefone
227878120 ou
[email protected]) para ser seu
associado, o que lhe dará a garantia de
receber prontamente por correio a revista
PARQUES E VIDA SELVAGEM».
Lince-ibérico
João Caçote envia em nome de um
grupo de alunos a sua mensagem:
«Somos alunos da Escola Secundária de
Ermesinde, Porto. Estamos a realizar um
trabalho sobre conservação de espécies a
nível nacional para a disciplina de BiologiaGeologia A. Queríamos saber se o zoo
tem e preserva a espécie Lince-Ibérico
(Lynx pardinus). Desde já agradecemos a
atenção».
Nuno Gomes Oliveira responde: «Bom
dia a todos, passo a responder à vossa
questão.
Há dois tipos de conservação de
populações de espécies animais ou
vegetais em perigo: in situ (no local) e ex
situ (fora do local, em cativeiro).
A primeira é á mais habitual e aconselhável,
pois não produz alterações genéticas nem
comportamentais nas populações.
À segunda recorre-se em última instância.
Por isso, são raros os casos em que os
zoos e jardins botânicos contribuíram para
a recuperação de espécies ameaçadas.
Um caso célebre é do do Bisonte-europeu
que só foi salvo por haver algumas
dezenas de indivíduos em cativeiro.
Quanto ao Lince-ibérico, os esforços
para salvaguarda na natureza (in situ)
falharam, especialmente em Portugal;
com a população muito reduzida e a
perder viabilidade genética, foi lançado
um programa luso-espanhol para reproduzir
o Lince em cativeiro (ex situ), quer em
Espanha, quer cá, em centros especialmente
construídos para o efeito.
Pretende-se constituir uma população cativa
geneticamente viável e, então, começar a
libertar linces na natureza; o programa está a
dar bons resultados.
Junto uma nota sobre este programa. Fico à
disposição».
Queria a revista!
Susana Fernandes, de Turquel, Alcobaça,
escreve: «É possível receber a revista “Parques
e Vida Selvagem” por correio? É necessário
pagar alguma mensalidade?
Se sim, enviem por favor, os exemplares de
edições anteriores que puderem e o exemplar
que vai sair neste inverno com a encomenda
que estou a pedir! É que através do “Jornal de
Notícias” é muito difícil arranjar! Sou Professora
de Biologia e Geologia, e como tal gostava de a
ter, e informar-me sobre estas questões».
Nem sempre possível
De Portimão escreve Maria Margarida Almeida:
«Gostava que me enviassem a revista "Parques
e Vida Selvagem", por vós editada, que já não
sai juntamente com o “Jornal de Notícias” no
Algarve.
Assim gostaria, caso ainda tenham disponíveis,
que me enviassem as revistas que saíram a
partir do n.º 35 (inclusive) do verão de 2011 até
ao n.º 41 referente ao inverno de 2012.
Agradecia que o envio das revistas fosse feito
para a morada indicada.».
Reviistas
tas ant
nter
erio
iore
res
s
Vários leitores continuam a enviar pedidos
de aquisição de revistas mais antigas.
Como entretanto já não há exemplares
em armazém para atender a todos os
pedidos, a alternativa de reunir uma
coleção completa recai na internet:
basta ir ao site www.parquebiologico.
pt, procurar Recursos e aí Revistas —
todas as anteriores edições da revista
«Parques e Vida Selvagem» estão ali
disponíveis.
após me ter sentado defronte! A luz estava
de feição e não fiz grandes ajustes. Sendo
estas aves já minhas velhas amigas, quando
tive oportunidade, nem pestanejei».
Mais adiante, diz, «quando finalmente
cheguei ao cercado dos cabritos monteses
confesso que pedi pornografia ao casal na
fotografia, mas fiquei por uns longos 45
minutos encostado à rede (como se vê na
imagem, as manchas vertical e horizontal) a
fotografar comportamentos de acasalamento que não passaram de afetos».
Visita fotográfica
O leitor Cláudio Anes envia-nos uma mão-cheia
de fotografias obtidas em março no percurso
de descoberta da natureza do Parque Biológico de Gaia por e-mail e comenta duas: «Ia eu
preparado para nesse dia só fotografar cabritos
monteses quando parei para tirar a máquina da
mochila e zás, fiz uma fotografia das limícolas
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 9
Aprender com a Natureza
Esta história, verídica, não pauta pela
qualidade das fotos, mas sim pela
singularidade da própria situação.
Aparentemente inimigos, pois como se
sabe, as borboletas são predadas pelos
répteis, esta borboleta Vanessa atalanta
e a lagartixa Podarcis bocagei, são um
excelente exemplo para a humanidade
em geral, seguir. E porquê? Vou contar
uma breve história por mim presenciada,
e que, tenho a certeza, tal como a mim,
também vos vai ajudar a refletir um pouco,
e, espero eu, a olhar para estes e outros
animais como um exemplo de vida a ser
seguido.
Andava eu a fotografar borboletas, no
Castro de São Lourenço, em Vila-Chã /
Esposende, quando me deparei com uma
fantástica imagem. Tratei logo de fazer
10 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
uns registos, ainda que não muito bons, antes
que a borboleta fosse comida pela lagartixa,
pensava eu! Mas, para surpresa minha, o
tempo foi passando e nada aconteceu. A
borboleta voou para outro sítio e a lagartixa
continuou a apanhar Sol. Depois de fazer mais
uns registos, fui-me embora.
Voltei no dia seguinte e, surpreendentemente,
deparei-me com as duas novamente, mas
desta vez, muito amigas! E porquê muito amigas? Porque, como se pode ver pela imagem
(e não é composição), a borboleta levantou e
voltou a pousar a uns 15 cm da lagartixa. Foi
então que me aproximei um pouco mais, sob
o olhar desconfiado da Pordacis bocagei.
Todavia, ou porque estava insatisfeita com a
distância, ou sabe-se lá porquê, e para meu
espanto, a Vanessa levantou voo e pousou
encostada à lagartixa, como se estivesse
a fazer-lhe sombra, pois o calor era muito!
Incrédulo, e à espera de ver a borboleta ser
devorada, sentei-me e esperei pelo terrível
desfecho que, felizmente, nunca viria a
acontecer.
Foi assim durante quatro dias, sempre juntas
a partilhar o Sol e o esplêndido espaço natural
que os rodeava. Uma verdadeira lição de
vida, que tenho sempre presente quando me
deparo com estes magníficos seres. Mas,
inimigos porquê? Aproveitemos, respeitemos
e, sobretudo, aprendamos com tudo aquilo
que nos rodeia, não esquecendo, como é
óbvio, que os nossos ditos inimigos, afinal de
contas, até podem ser os nossos melhores
amigos.
Por Aires Pires
Espécies Exóticas Invasoras, EEI, são todos
os animais, plantas ou outros organismos
introduzidos pela mão do Homem em locais
fora da sua área de distribuição natural.
Onde quer que se estabilizem e propaguem,
possuem um efeito nefasto sobre os
ecossistemas e as espécies autóctones.
Desde o século XV que as espécies
exóticas originárias de locais distantes,
que normalmente não teriam possibilidade
de conquistar ambientes longínquos,
são introduzidas pelo ser humano
recorrentemente, alterando ecossistemas
e causando a extinção de um elevado
número de espécies nativas que não têm
como se adaptar a competidores menos
especializados, com maior capacidade de
dispersão e com um ciclo de vida mais rápido
do que o seu.
As EEI danificam os ecossistemas, prejudicam
a economia e até a nossa saúde, além
de que o seu controlo é, na maior parte
das situações, caro e difícil e a completa
erradicação impossível.
Portanto, além das medidas de controlo
exequíveis, cada pessoa deve ter
conhecimento das espécies exóticas
invasoras ou potencialmente invasoras
existentes, não as deve manter e muito
menos libertar na natureza.
A primeira espécie invasora aqui tratada é
uma planta: Hakea sericea (Proteaceae).
Esta árvore invasora, de características
que lhe conferem notável resistência e que
pode atingir até 4 metros de altura, é nativa
do Sul da Austrália e, por causa das folhas
persistentes em forma de agulha – daí a
Jorge Gomes
Háquea-picante:
cuidado!
designação comum de háquea-picante – foi
introduzida noutras partes do mundo com
fins ornamentais assim como para criar sebes
impenetráveis.
Além de Portugal, é uma EEI em Espanha,
África do Sul e Nova Zelândia. Incluída no
mesmo género e também considerada
invasora em Portugal, existe ainda por cá a
Hakea salicifolia que se distingue facilmente da
háquea-picante pelas folhas lanceoladas.
A háquea-picante é originária de um clima
mediterrânico semelhante ao nosso, encontrase bem adaptada aos incêndios e a sua
estratégia de dispersão de sementes passa
exatamente por aí: após a ação do fogo e
consequente morte da planta, os frutos, sem
predadores nativos na nossa região, libertam
as sementes que são lançadas a distâncias
consideráveis. Este processo diminui a
competição de recursos com o progenitor e,
sobretudo, aumenta a área invadida.
Encontra-se muitas vezes em ecossistemas
alterados mas surge igualmente em locais
naturais, como é o caso do Parque Natural
das Serras de Aire e Candeeiros, podendo os
espécimes dominar grandes extensões de
terreno. Consequentemente, condiciona
a movimentação e abrigo da maior parte
dos animais no interior da área afetada, tal
como impede o crescimento da vegetação
nativa.
Texto Ana Gonçalves
Foto Jorge Gomes
Bibliografia
Le Maitre D.C., Krug R.M., Hoffmann J.H.,
Gordon A.J. and Mgidi T.N. 2008. Hakea
sericea: development of a model of the impacts
of biological control on population dynamics
and rates of spread of an invasive species.
Ecological Modelling 212: 341-358.
Marchante E, Freitas H, Marchante H (2008)
Guia prático para a identificação de plantas
invasoras de Portugal Continental. Imprensa da
Universidade de Coimbra, Coimbra, 183pp.
Gordon AJ (1999) A review of established and
new insect agents for the biological control of
Hakea sericea Schrader (Proteaceae) in South
Africa. African Entomology. Memoir n.°1: 35-43.
De segunda a sexta-feira
Aqu
das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 18h00
Sábados, domingos e feriados
das 10h00 às 18h00
1SBJBEB"HVEBt7JMB/PWBEF(BJB
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Parques e Vida Selvagem verão 2013• 11
Ritmos
estivais
Mesmo que os dias quentes
já não convençam, a luz do sol
pé ante pé começa a cair
mais cedo: é altura de migrar
para paragens mais tépidas
ou de engordar para resistir,
acordado ou a dormitar...
João L. Teixeira
O nome científico desta urze, X
também conhecida por torga, é
Erica umbellata
12 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
David Guimarães
12 FOTONOTÍCIAS
Papas há muitos
Como os dedos de uma mão contam-se cinco aves do património natural
português cujo nome vulgar inicia com estas duas sílabas monótonas:
papa.
Alguns destes animais ligam-se a espécies afins mas dificilmente se verão
nos parques. Não será o caso de outros, obrigatórios como os papamoscas – o preto e o cinzento – que desde fins de agosto vão passando
com casaco outonal rumo a África, após concluírem a nidificação na
Europa Central e do Norte.
Difícil de ver por cá é, por exemplo, o papa-figos, Oriolus oriolus, bem
como o papa-moscas-pequeno, Ficedula parva, sem insulto.
Entre todos estes papas o mais difícil de avistar é o papa-amorascinzento, Sylvia curruca.
Sem tanto prurido entra em cena o papa-amoras-comum, Sylvia
communis, que gosta dos matos de montanha, acima dos mil metros.
Se tiver a sorte — como aconteceu durante dias no Parque Biológico
de Gaia faz pouco mais de um ano — de achar graça a esta garça, o
papa-ratos, Ardeola ralloides, terá de saber que resta ainda referir um
derradeiro papa, ao qual se junta a palavra mar e o nome de outra ave
abundante nesta região, o gaio: é o papagaio-do-mar, Fratercula arctica.
Esta ave marinha pertence ao grupo das espécies que mais sofrem com
os derrames de petróleo.
Ao acabar estas linhas poderá estar a pensar que nos esquecemos de
um outro papa, aquele que encontrou o ano passado por esta altura, o
papa-a-sorda. Mas, esse, ora dê-nos lá razão, não é animal de penas
para conseguir entrar nesta fasquia!
Matos luminosos
Vistos por vezes como imprestáveis, pela índole bravia que
evidenciam, os matos reúnem numerosas espécies de plantas
surgidas no plano normal da sucessão ecológica.
Só de urzes, abrigam uma mão-cheia de diferentes espécies e,
protegido pela profusão de corolas, este gafanhoto espreita para
dar o próximo passo da sua sobrevivência.
O facto é que representa uma importante fatia de biodiversidade,
que se interliga na teia da vida a uma plêiade de outras tantas.
Na verdade, está bem longe de questionar sobre o
aproveitamento que os países estão a dar à Década da
Biodiversidade. Pelo contrário, está é muito atento à emergência
de algum ser que lhe esteja acima na cadeia alimentar.
Incêndios
de todos os enganos
João L. Teixeira
TPapa-moscas-cinzento Muscicapa striata
Segundo dados oficiais de há três anos, a área ardida em
2010 ultrapassou os 133 mil hectares e contaram-se mais
de 22 mil incêndios.
Este ano ainda se juntam números.
Era de esperar, infelizmente. Assim que o mapa apareceu
na televisão, mesmo sem querer pensou-se: está dado o
sinal de partida.
No dia seguinte já havia florestas incandescentes. Quem
ganha sempre com isso?
O trabalho de detetive não deverá ser complicado. Quem
perde? Fácil mais fácil não há: perdemos sempre todos.
O fogo, o bosque autóctone e a água andam em
equilíbrio.
Mais fogo, menos bosque, logo, menos água.
Simples silogismo que bate certo ano a ano.
Os incêndios por causas naturais, raros, fazem parte
da natureza, mas os incêndios ateados por interesses
criminosos criam desertos a médio prazo.
Nestes a água escasseia. E quantos seres vivos têm
talento para sobreviver sem o precioso líquido?
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 13
14 PORTFOLIO
1.º Concurso Astronómico
LUA
MELLOTE 15
Categoria Espaço Profundo, João Vieira
Categoria Terra e Espaço, Mário Rocha
THE LIGHTRAILS OF THE KNIGHTS TEMPLAR
Categoria Terra e Espaço, Miguel Claro
Berço de estrelas
A exposição do concurso nacional de fotografia lançado pelo Observatório
Astronómico do Parque Biológico de Gaia, na sua primeira edição, abriu
sábado, dia 1 de junho às 21h30, com a entrega dos prémios.
Segundo as condições do regulamento, o vencedor a quem foi atribuída a
distinção de 1.º Prémio do concurso foi Paulo Lobão no valor de 500 euros.
Os vencedores por categoria distinguiram-se: Terra e Espaço, vencedor,
«The Lightrails of the Knights Templar» de Miguel Claro; segundo classificado,
«Lua» de Mário Luís Domingues Rocha. Sistema Solar, vencedor, «Três
planetas» de João Luís Cruz; segundo classificado, «The Spring Moon» de
Miguel Claro. Espaço profundo, vencedor, «Nebulosa Tromba de Elefante» de
Paulo Lobão; segundo classificado, «Nebulosa remanescente de supernova»
de João Vieira. Júnior, vencedor, «Sol» de Daniel Diaz, de 16 anos.
Face aos bons resultados desta experiência, a organização promete que
haverá uma próxima edição deste concurso.
14 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
Astronomical Photography Contest
portfolio
The Astronomical Observatory at the
Biological Park in Gaia organized a new
National Photography Contest which is
being planned as an Annual Event. On
June 1st, the Awards were presented by
the Jury to the Winners in each Section.
The themes were divided into various
categories such as Deep Space, Earth
and Space, Solar System and a Junior
Prize.
THE SPRING MOON
Categoria Sistema Solar, Miguel Claro
NEBULOSA CABEÇA DE CAVALO
Categoria Espaço Profundo, João Paulo Vieira
NEBULOSA REMANESCENTE DE SUPERNOVA
Categoria Espaço Profundo, João Vieira
Paulo Lobão, à esquerda, recebeu o 1.º Prémio com a fotografia de uma nebulosa
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 15
16 PORTFOLIO
NEBULOSA TROMBA DE ELEFANTE
NA CONSTELAÇÃO DE CEPHEUS
Paulo Lobão, vencedor geral
16 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 17
18 PORTFOLIO
A INTEMPORALIDADE DOS ELEMENTOS
M42 NEBULOSA DE ORION
Categoria Terra e Espaço, Rui Silva
Categoria Espaço Profundo, Diogo Sant’Ana
18 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
TRÊS PLANETAS
Categoria Sistema Solar, João Luís Cruz
SOL
Categoria Júnior, Daniel Diaz (16 anos)
GALÁXIA M101
Categoria Espaço Profundo, Ana Sofia Lopes
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 19
20 CONTRA-RELÓGIO
Bando de flamingos na Reserva Natural do Estuário do Sado
20 • Parques
20
Par
arqquues e VVida
idda SSe
ida
Selvagem
elvvaggem
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verão
erãão 20
2
2013
13
13
João L. Teixeira
As paisagens naturais
que evidenciam maior
diversidade biológica
são as que mais
atraem: nas zonas
costeiras, os turistas
apreciam nadar em
águas límpidas entre
peixes e rochedos
cobertos de vida,
esticando a vista no
fito de observar aves
marinhas e baleias...
João L. Teixeira
Turismo e diversidade
utros enriquecem as férias
palmilhando um trilho de
descoberta da natureza para
observar o mais possível a vida
selvagem própria do local.
Para que se possa fruir destas atividades é
condição essencial que haja ecossistemas
saudáveis.
Os parques nacionais existem para conservar
esses ecossistemas naturais, mantendo-os em
funcionamento, de modo a que proporcionem
serviços vitais e também recreio, educação,
cultura e diversão aos visitantes.
O turismo é uma das indústrias que crescem
mais rapidamente e revela ser uma alternativa
sustentável às atividades económicas que
se tornariam normalmente prejudiciais à
conservação da diversidade biológica.
Em suma, pode ser uma alternativa sustentável
a indústrias que degradam acentuadamente o
meio ambiente.
O
biológica
O dinheiro que os turistas gastam pode servir
a natureza, a sociedade e a cultura mediante
zonas protegidas, salvaguardando motivos de
elevado interesse turístico.
O turismo sustentável também pode fazer
com que as comunidades se consolidem ao
conservar e compartilhar as suas tradições,
conhecimentos e arte, o que contribui para a
utilização sustentável da diversidade biológica
local.
Por outro lado, o turismo pode ter uma série
de impactos negativos sobre a diversidade
biológica, particularmente quando há uma
gestão inadequada.
O turismo irresponsável e não sustentável
pode danificar a natureza através da
destruição de habitats e da sobreexploração
dos recursos locais, derrame de efluentes
e contaminação, somando-se a introdução
de espécies exóticas invasoras e o
desenvolvimento de infra-estruturas. Há
ainda as emissões acrescidas de gases
de efeito-estufa que impõem um quadro
preocupante.
Os turistas são atraídos por um meio
ambiente limpo e não voltarão a lugares
contaminados ou degradados, o que
inevitavelmente levará a perdas económicas.
Tanto os viajantes como a indústria
do turismo, os governos e entidades
interessadas neste setor têm todo o
interesse na conservação da natureza
através do uso sustentável dos recursos.
A diversidade biológica mantém o turismo
em marcha, permitindo satisfazer as
necessidades mais básicas do ser humano
ao produzir alimentos, água potável e
medicamentos, pelo que não é difícil
concluir que o turismo sustentável é do
interesse de todos.
Fonte www.cbd.int
factos
&números
•
O turismo é responsável por cerca
de 8% do produto interno bruto mundial
e emprega um trabalhador em cada 12
empregos em todo o mundo.
•
Nos últimos anos o movimento turístico
internacional caiu alguns milhões um pouco
por toda a parte em comparação com anos
anteriores.
Porém, apesar da crise económica, não
há motivo para alterar a projeção de
crescimento a longo prazo, segundo a
estimativa da Organização Mundial de
Turismo.
•
Cerca de 45% da mão-de-obra no
setor do turismo são mulheres, já que
as suas percentagens de emprego na
maioria dos países são melhores do que
na mão-de-obra em geral — 34 a 40% são
mulheres, segundo dados da Organização
Internacional do Trabalho.
•
As emissões de dióxido de carbono
procedentes do turismo representam
aproximadamente 5% das emissões
mundiais, um problema que se agrava dada
a natureza imprevisível das emissões na alta
atmosfera.
•
Tourism and Biodiversity
The Natural landscapes that show the greatest biological
diversity are also usually the most attractive. In Coastal areas,
Tourists enjoy swimming in clear water with the fish and may
see rocks covered with living plants and animals, thus extending
the bigger picture as they observe the seabirds and whales.
O Prémio de Melhor Sítio Web de
Turismo Indígena e Biodiversidade do CDB
(Prémio ITBW) é entregue anualmente a
duas entidades. Para saber mais veja:
http://planeta.wikispaces.com/itbw.
•
O conjunto de oficinas sobre
comunidades indígenas, turismo e
biodiversidade tem como objetivo apoiar
a gestão das atividades turísticas que
respeitam a diversidade biológica, a
capacidade que têm os operadores de
turismo de comunidades indígenas e locais
para utilizar a internet, e a comercialização
de aspetos culturais e biologicamente
sustentáveis dos produtos de turismo das
comunidades indígenas e locais.
PParques
arrquuess e VVida
i a Selv
id
SSelvagem
Se
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em verão
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rãoo 2013•
2013
20
13•• 2
13
21
1
22 QUINTEIRO
Um estudo
desenvolvido
d
por uma
equipa de investigação
da Universidade da
Estremadura,
em Espanha, concluiu
que há uma dezena
de espécies de aves
selvagens que são mais
afetadas do que as
outras pela poluição
acústica própria das
cidades
meio urbano em que se insere o
seu jardim, caso o tenha, pode
determinar de forma incontornável a
lista de espécies de aves selvagens
que observa no local.
Os mais céticos serão capazes de desvalorizar esta
afirmação perguntando algo do género: Já passou
na auto-estrada que dá acesso a Aveiro? Se passar
lá na primavera verá a quantidade de cegonhas que
fazem ninho nas traves sinalizadoras suspensas
sobre a rodovia».
De facto, nidificar num sítio mais agitado e
barulhento é difícil!
Mas que dizer do efeito do ruído sobre a maioria das
espécies?
É neste item que as linhas de abertura desta
página fazem todo o sentido, mais ainda quando
se dá conta de que nenhum jardim existe
isolado, refletindo o ambiente em que se insere,
nomeadamente os habitats da proximidade.
Quatro cientistas do Departamento de Botânica,
de Ecologia e Ciências da Terra da Universidade da
Estremadura, em Espanha, resolveram debruçar-se
sobre 91 espécies de aves selvagens centrando a
sua atenção em 27 parques de diversos centros
urbanos ibéricos.
O
22 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
Passados alguns anos de recolha de dados,
entenderam que as espécies mais sensíveis
ao barulho são estas, por ordem decrescente:
estrelinha-de-poupa, Regulus regulus, 34,62%
da variabilidade da sua presença explicada pelo
nível de ruído; rola-brava, Streptopelia turtur,
24,24%; pica-pau-galego, Dendrocopos minor,
20,39%; águia-de-asa-redonda, Buteo buteo,
15,15%; andorinha-dáurica, Cecropis daurica,
13,15%; corvo, Corvus corax, 11,09%; papafigos, Oriolus oriolus, 10,23%; rouxinol-bravo,
Cettia cetti, 6,47%; pardal-espanhol, Passer
hispaniolensis, 6,33%; toutinegra-de-cabeçapreta, Sylvia melanocephala, 5,82%.
Estes números sugerem que os espaços verdes
podem ser otimizados através da utilização de
barreiras acústicas capazes de reduzir ruído até
ao limite de 50 dB.
Se arquitetos e gestores dos espaços urbanos
tiverem em linha de conta estes conhecimentos
conseguirão conceber jardins e parques mais
favoráveis à biodiversidade.
Outro assunto que merece cuidado, sobretudo
nesta época do ano, é a disponibilidade de
água. Este tema sugere um lago de jardim.
Não são só as aves selvagens que beneficiam
deste recurso precioso: merece um destaque
especial neste ponto o grupo dos anfíbios,
terminologia que junta rãs, sapos, salamandras
e tritões.
Os lagos podem transformar-se em importantes
pontos de reprodução destes animais com um
ciclo de vida fantástico.
Tudo isto parece muito bonito mas há
condicionantes que devem ser observadas.
Uma delas é a compreensão de que o lago
não deve secar, sob pena de comprometer as
formas de vida que acolheu.
Outro ponto importante é a incoerência
exemplificada pela introdução de peixes
ornamentais. Não seria preciso dispor dos dados
das investigações científicas existentes sobre
esta singularidade recorrente, pois os chamados
peixes-vermelhos, derivados de espécies
asiáticas, alimentam-se dos ovos dos anfíbios
e das suas larvas, esterilizando assim boa parte
da biodiversidade que deseja hospedar no seu
quintal.
Fontes
www.ornithomedia.com, www.froglife.org, www.charcoscomvida.org
Jorge Casais
Jorge Gomes
SSe reduzir a poluição sonora observará mais aves: pisco-de-peito-ruivo
SAs toutinegras-de-cabeça-preta são uma das dez espécies que mais se ressentem
com o elevado barulho produzido pela vida citadina
Little Noise
A introdução de peixes exóticos
ornamentais no seu lago reduz
seriamente a diversidade da vida
que poderia vir ali a observar
A Study developed by a Research Team from
the University of Extremadura in Spain, concluded
that there are a dozen species of wild birds
that are more affected than others
by the noise pollution created by Cities.
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 23
24 QUINTEIRO
SBotões florais necrosados
SVaras enegrecidas
SLenha de poda deixada no pomar - prática incorreta
Pseudomonas syringae pv actinidiae
Nova bacteriose
da Actinidea
Pseudomonas
syringae. pv. actinidiae
Takikawa, Serizawa,
Ichikawa & Goto (Psa)
é o agente causal
da doença designada
“cancro bacteriano
do kiwi”
sta doença tem como hospedeiros
as plantas do género Actinidia: A.
deliciosa, A. chinensis, A. arguta
e A. kolomita, sendo A. chinensis
(polpa amarela) mais sensível do que A.
deliciosa (polpa verde).
Atendendo à sua perigosidade e aparecimento
em diversos países do Sul da Europa, em 2009
este organismo foi incluído na lista de alerta
da EPPO (European and Mediterranean Plant
Protection Organization).
A doença foi assinalada pela primeira vez no
Japão (Takikawa, et al. 1989). Posteriormente
foi referida na Coreia (Koh et al. 1994) e no Irão
(Mazarei e Mostofipour 1994).
Na Europa, surge em 1994, em Itália, na
E
24 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
região de “Latium”, onde a bactéria é isolada
em plantas de Actinidia deliciosa (Scortichini,
1994), mas apenas em 2008 é referida como
causando prejuízos importantes.
Neste momento está presente na Turquia,
França, Espanha, Suíça, Nova Zelândia,
Austrália e Chile.
Em março de 2010 a bactéria é detetada pela
primeira vez em Portugal, na região de Entre
Douro e Minho.
Face à situação detetada, nos últimos anos,
a DRAPN (Direção Regional de Agricultura e
Pescas do Norte) sob coordenação da DGAV
(Direção Geral de Alimentação e Veterinária) tem
desenvolvido diversas ações de prospeção e
divulgação junto dos produtores e organizações
no sentido de serem tomadas as devidas
medidas de proteção aquando da deteção da
Psa e ou prevenção da sua introdução nos
pomares.
Sintomas
A idade das plantas, a fase do ciclo cultural, as
condições de temperatura e humidade relativa
e a estirpe da bactéria presente são os fatores
que determinam a severidade com que esta
doença se manifesta no pomar.
No final do inverno/início da primavera
aparecem os primeiros sintomas da doença:
exsudado bacteriano de cor avermelhada
(ferruginoso) nos ramos e tronco onde se
observam cancros. Os ramos poderão secar,
e, dependendo do grau de infeção, a planta
morrer.
Nas folhas são visíveis pequenas necroses
castanhas, por vezes circundadas por halo
amarelo.
No período da floração observam-se
necroses nos botões florais, o que tem como
consequência a redução da produção.
Os frutos já vingados podem sofrer
deformações perdendo valor comercial.
Biologia
Neste momento os dados disponíveis no que
se refere à biologia de P. syringae pv. actinidiae
são escassos.
A bactéria penetra na planta através de
feridas naturais ou dos cortes da poda, tendo
capacidade de se movimentar através do
sistema vascular.
Na primavera, em condições de elevada
humidade relativa e com temperaturas entre
os 10 e 18º C, há produção de exsudado
bacteriano, o que permite a dispersão da
doença através de operações culturais
inadequadas, da chuva e do vento.
Invernos frios e húmidos, seguidos de
primaveras húmidas, parecem ser favoráveis à
doença.
SSintomas nas folhas
SExsudado bacteriano de cor avermelhada (ferruginoso)
A utilização de plantas infetadas na plantação
de pomares novos é responsável pela
transmissão da bactéria a grandes distâncias.
Na polinização assistida também deverá usarse pólen isento da bactéria.
A legislação fitossanitária prevê que a circulação
de plantas e pólen no espaço comunitário seja
acompanhada de passaporte fitossanitário
que atesta o cumprimento dos requisitos
especificados nos anexos da Decisão
2012/756/EU de 5 de dezembro. Com a
publicação deste diploma comunitário foi
criado um quadro legislativo, comum a todos
os Estados-membros, que define um conjunto
de medidas de proteção de forma a impedir a
introdução e consequente dispersão da Psa no
território da União Europeia.
próprio local pela sua queima ou enterrandoos em vala profunda (com mais de 50 cm de
profundidade).
A queima deve cumprir todos os dispositivos
de segurança e regulamentares previstos no
Decreto-lei n.º 124/2006, alterado e republicado
pelo Decreto-lei n.º 17/2009 (o n.º 4 do artigo
28.º prevê a possibilidade de queima durante o
período crítico, quando decorre de exigências
fitossanitárias de cumprimento obrigatório).
Os proprietários das plantas infetadas deverão
contactar previamente o dispositivo da GNR
(SEPNA), para agendamento da realização
da queima e para obter informação sobre as
condições para a sua realização.
Devem ainda ser seguidas as seguintes
recomendações:
• As adubações deverão ter por base análises
de solo e foliares, evitando o vigor excessivo
das plantas.
• Manter o controlo do coberto vegetal no
pomar.
• Na poda, as plantas com sintomas deverão
ser podadas em último lugar, tendo-se o
cuidado de desinfetar as tesouras e os
serrotes com uma solução álcool a 70%
durante dois minutos. Deve-se podar com
tempo seco.
• Nunca devem ser colhidas varas de pomares
com plantas doentes, nem de áreas onde a
bactéria esteja presente.
• Restringir a circulação de pessoas no pomar
(desinfeção do calçado por imersão em
solução desinfetante).
• Verificar se os tratores e pulverizadores estão
limpos antes de entrar no pomar (sem folhas
e ramos). Pulverizar os pneus com solução
desinfetante (ex.º Virkon).
• Na colheita, inspeccionar os palox, que não
devem trazer folhas ou varas.
Meios de controlo
Não existem meios de luta curativos, pelo que
se deve evitar a introdução da Psa no pomar.
O pomar deverá ser inspecionado com
regularidade, nomeadamente no início da
primavera e no outono, quando os sintomas
são mais evidentes.
As medidas a aplicar, caso a doença se instale,
estão definidas no “Plano de Ação Nacional
para o Controlo da Psa”:
• Arranque das plantas que revelarem sintomas
no tronco, ou proceder ao atarraque do
tronco até 1 metro abaixo do ponto de infeção
desde que não sejam visíveis sintomas de
infeção nos feixes.
• Nas plantas que não tiverem sintomas no
tronco, corte de todos os ramos que mostrem
sintomas, pelo menos 70 cm abaixo do ponto
de infeção e desde que não sejam visíveis
sintomas de infeção nos feixes.
• Nas plantas com sintomas apenas nas folhas,
poda cuidada após colheita.
• Desinfeção de todo o pomar utilizando um
produto cúprico autorizado.
• Destruição de todos os detritos vegetais no
SPlanta morta em pomar infetado
Bibliografia
Balestra GM, Mazzaglia A, Quattrucci A, Renzi
M, Rossetti A (2009) Current status of bacterial
canker spread on kiwifruit in Italy. Australasian Plant
Disease Notes 4, 34–36.
Bulletin KiwiTech nº F68 (Abril 2009) Chancre
bactérien du kiwi, Pseudomonas syringae pv.
actinidia ( HYPERLINK "http://www.ctifl.fr" www.
ctifl.fr)
Bulletin KiwiTech nº N70 (Abril 2009)
Guidelines for control of Kiwifruit Bacterial
Canker Pseudomonas syringae pv. Actinidiae
( HYPERLINK "http://www.batteriosi.it" www.
batteriosi.it)
Ferrante P, Scortichini M (2009) Identification of
Pseudomonas syringae pv. actinidiae as Causal
Agent of Bacterial canker of Yellow Kiwifruit
(Actinidia chinensis Planchon) in Central Italy.
Journal of Phytopathology 157, 768-770.
Hennion B, Brun S (2009) Pseudomonas syringae
pv. actinidiae (Psa): une nouvelle menace pour le
kiwi. Infos Kiwi Nº 12 (www.ctifl.fr)
Koh JK, Cha BJ, Chung HJ, Lee DH (1994)
Outbreak and spread of bacterial canker in
kiwifruit. Korean Journal of Plant Pathology 10,
68–72 (cit. Balestra et al.2009).
Mazarei M, Mostofipour P (1994) First report
of bacterial canker of kiwifruit in Iran. Plant
Pathology 43, 1055–1056.
Plano de Ação Nacional para o Controlo da
Pseudomonas syringae. pv. actinidiae do Kiwi
(Psa) (Maio 2013). ( HYPERLINK "http://www.
dgv.min-agricultura.pt" http://www.dgv.minagricultura.pt).
Scortichini M (1994) Occurrence of
Pseudomonas syringae pv. actinidiae in Italy.
Plant Pathology 43, 1035–1038. (cit. Ferrante e
Scortichini, 2009).
Takikawa Y, Serizawa S, Ichikawa T, Tsuyumu S,
Goto M (1989) Pseudomonas s. pv. actinidiae pv.
Por Gisela Chicau* (Eng.ª Agrónoma)
e Miguel Rebelo* (Eng.º Agrícola)
*DRAPN – Divisão de Apoio ao Sector Agroalimentar
nov.: The Causal Bacterium of Canker of Kiwifruit
in Japan. Annals of the Phytopathological Society
of Japan 55, 437–444.
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 25
26 DUNAS
Ensino superior
na Estação
Litoral
da Aguda
SMergulho científico
A Estação Litoral da Aguda (ELA)
integra um Museu das Pescas, um
Aquário e um Departamento
de Educação e Investigação
SLibertação de tartaruga marinha
ertence à Câmara Municipal
de Vila Nova de Gaia (CMG), é
gerida pela empresa municipal
Águas e Parque Biológico de
Gaia e está ligada ao Instituto de Ciências
Biomédicas Abel Salazar ICBAS da
Universidade do Porto. Tendo aberto ao
público em julho de 1999, recebeu até
agora 325 mil visitantes.
Em 1988 foi lançada a ideia da construção
de um pequeno aquário público na praia
da Aguda baseado na edificação de dois
pré-fabricados de madeira, erguidos sobre
estacas no terreno atual. A proposta foi
apresentada ao então presidente da CMG,
coronel Pinto Simões, que sugeriu uma
construção sólida. A ideia do aquário
foi reformulada e alargada, nascendo o
projeto ELA em 1989.
O projeto veio ao encontro da necessidade
do ICBAS de ter uma estação exterior, à
beira-mar, para fazer face às exigências do
curso de Ciências do Meio Aquático (CMA)
que decorria em instalações precárias num
velho edifício no centro do Porto.
As vantagens da ELA para o ensino e
a investigação científica são múltiplas:
a proximidade de um litoral rochoso
com toda a sua biodiversidade; a frota
pesqueira e as artes da pesca artesanal;
a lota com o pescado de importância
económica; um museu das pescas que
P
26 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
divulga a pesca artesanal aos níveis local,
regional e mundial; e um aquário com a fauna
e flora aquáticas da região.
As vantagens para o Município são a
consolidação do ensino superior público e a
investigação marinha na costa do concelho
de Vila Nova de Gaia, o prestígio e uma
mais-valia para o desenvolvimento cultural,
pedagógico e científico, associado ao
impacto no turismo académico.
Em 1993 começou a construção do edifício,
sendo o financiamento do projeto garantido
pela Secretaria de Estado do Turismo e
Indústria (75%) e pela CMG (25%).
Em 1996 deu-se início a uma série de
atividades de educação ambiental para
proporcionar às escolas da região um
contacto direto com o mar. A praia da Aguda
começou a tornar-se num ponto de encontro
para muitas gerações de alunos do Norte e
Centro do país.
Em meados de 1997 foi celebrado um
protocolo de colaboração, respeitante à ELA,
entre a CMG e o ICBAS/UP, e começaram
as aulas do ensino superior na ELA.
Desde então, foram concluídos na ELA 18
estágios e oito teses de mestrado de várias
universidades, duas teses de doutoramento e
nove projetos de investigação científica.
Em meados de 1999, a ELA abriu ao
público e em 2004 foi classificada pela
Direcção-Geral de Veterinária, pelo Instituto
SEstação Litoral da Aguda
de Conservação da Natureza e pelo Euro
Grupo de Bem-Estar-Animal como o melhor
“Aquário” de Portugal. Respeitando todos os
pressupostos da legislação e considerado um
exemplo de otimização de recursos, o projeto
ELA serviu de inspiração para o «Aquamuseu
do Rio Minho» em Vila Nova de Cerveira que
abriu em 2005.
Em 1981 o ICBAS criou o curso de CMA
que é uma licenciatura na área da Biologia
Aplicada. Tem como principais objetivos
formar investigadores, docentes e quadros
superiores de instituições e empresas, com
uma preparação específica em Biologia
Marinha, Ecologia e Produção Aquáticas,
Gestão de Recursos Vivos e Tecnologia
Alimentar.
Com a nova reforma curricular do Processo
Bolonha, a licenciatura em CMA passou a ter
a duração de três anos. Além da admissão
via regime geral de acesso ao ensino superior,
podem também ingressar estudantes de
outras licenciaturas que se candidatem às
vagas disponíveis para mudança de curso.
Os currículos de outras licenciaturas da área
biológica permitem obter equivalências a
diversas disciplinas de CMA. Os candidatos
devem possuir o 12.º ano de escolaridade
e ter completado, com sucesso, as provas
específicas de Biologia e de Química.
As saídas profissionais estão nas áreas da
investigação científica, da gestão e educação
SMarcação de lavagante
http://www1.icbas.up.pt/cma/index.php/icbas-up
SCultivo de percebes
SLaboratório na Estação Litoral da Aguda
SInstituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar
ambientais, do ensino superior, profissional
e secundário, de serviços, da aquacultura,
e das pescas. Muitos licenciados em CMA
têm optado por uma pós-graduação como
mestrado e/ou doutoramento.
Na ELA são lecionadas as seguintes
disciplinas da licenciatura em CMA:
Sistemática dos Vertebrados (1.º ano),
Ecologia Aquática (2.º ano) e Tecnologia das
Pescas (3.º ano).
Ao nível de pós-graduação, o ICBAS oferece
o curso do Mestrado em Ciências do Mar e
Recursos Marinhos que conta com a estreita
colaboração do Centro Interdisciplinar de
Investigação Marinha e Ambiental CIIMAR, do
Instituto Português do Mar e Atmosfera IPMA
e da ELA.
O curso está orientado para o estudo
de organismos marinhos, encarandoos como elementos integrantes de um
ambiente dinâmico que importa preservar,
e dos recursos cuja exploração é complexa
e limitada e que necessita de meios
humanos qualificados. O mestrado fornece
conhecimentos e competências que garantem
a formação de profissionais, capazes de
intervir na investigação e na gestão do mar e
das zonas costeiras, e no desenvolvimento
sustentado da aquacultura e das pescas.
Existem duas especialidades, uma em
Aquacultura e Pescas e outra em Biologia e
Ecologia Marinhas.
Na ELA são lecionadas duas disciplinas,
no âmbito da Biologia e Aquacultura: a
disciplina Introdução à Biologia e Ecologia
Marinhas foca aspetos como oceanos,
mares e correntes; fatores abióticos e
bióticos; métodos e instrumentos; bentos dos
substratos rochosos e sedimentos; litoral,
bactérias, produção primária e secundária,
estuários; e recifes de corais.
A Produção de Peixes Ornamentais
promove conhecimentos no âmbito das
espécies ornamentais aquáticas e das
metodologias utilizadas no cultivo das
espécies mais procuradas no mercado,
ensinando-se a avaliação autónoma e
concetualização de sistemas de produção
de espécies ornamentais, sob aspetos
comerciais nacionais e internacionais.
Por Mike Weber, Jaime Prata
e José Pedro Oliveira
ESTAÇÃO LITORAL DA AGUDA
Rua Alfredo Dias, Praia da Aguda
4410-475 Arcozelo • Vila Nova de Gaia
Tel.: 227 536 360 / fax: 227 535 155
[email protected]
www.fundação-ela.pt
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 27
28 DUNAS
s dunas enchem-se de sementes
no final do verão.
Depois das flores amarelas da
perpétua-das-areias e das esporas-bravas,
da de cor branca do lírio-das-praias e da
silene-do-porto e das tonalidades róseas da
chapeleta e do goivo-das-praias, entre tantas
outras espécies de plantas dunares, vem o
vento e dispersa as sementes caídas.
Os insetos polinizadores fizeram o seu trabalho
A
Jorge Gomes
Cordão
dunar
e multiplicaram sementes a troco de um pouco
de néctar extraído das corolas e frutos.
Agora é tempo de acabar de amadurecer e
aguardar tempo oportuno, capaz de otimizar as
hipóteses de sobrevivência.
O litoral compõe-se de habitats que é
necessário preservar. Além do seu valor natural,
enquadra importantes funções ecológicas na
pesca costeira, na migração das aves, para
além do seu valor turístico e de lazer.
SMorrião-das-areias
SOuriço-das-dunas, centáurea endémica
28 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
SPaisagem dunar
Parque
de Dunas
da Aguda
ábado, 2 de fevereiro, o Parque de Dunas da
Aguda foi um dos locais do litoral de Vila Nova
de Gaia que recebeu um grupo de visitantes
estrangeiros, todos eles participantes na reunião do
Conselho Diretivo do EUROPARC, federação europeia
de parques nacionais e naturais, que decorreu em
Portugal por esses dias.
Trata-se da maior organização não governamental que
federa os espaços protegidos e classificados de 36
países maioritariamente europeus com 430 associados e
que afirma ser «a voz das áreas protegidas europeias».
Ao todo seriam mais de uma dúzia de pessoas de várias
nacionalidades, nomeadamente da Escócia, Inglaterra,
Alemanha, Bélgica, Holanda, Suécia, Letónia, República
Checa, Espanha e Portugal.
Jorge Gomes
S
SGoivo-da-praia
Henrique N. Alves
Henrique N. Alves
SFalsa-mostarda-das-dunas, endémica
SSilene-das-dunas
SCardo-marítimo
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 29
30 DUNAS
Estuário
do Douro
Assim, 29 de março, marca o início da chegada dos primeiros migradores
transarianos, em que se inclui a espécie referida.
Este fenómeno migratório de regresso aos locais de nascimento designa-se
de “homing”. Muitas das aves que passam o inverno na zona Afro-tropical
todos os anos atravessam a grande barreira que representa o deserto do
Sara, regressando aos locais em que nasceram. Muitas destas aves migram
durante a noite.
A 20 de março de 2013 tinha sido já observado o chasco-cinzento
(Oenanthe oenanthe), um pequeno passeriforme de 28 gramas que
normalmente serve de indicador desta deslocação de passeriformes - que
inclui as aves canoras a caminho das suas áreas de reprodução no Ártico,
Gronelândia, Nordeste do Canadá e Sibéria.
A partir de então chegaram outras aves que passaram o inverno a sul do
Sara.
Muitas delas exigem atenção para a sua observação (felosas, papa-amoras,
rouxinóis, papa-figos, torcicolos, noitibós, abelharucos, entre outras).
Assim, ao fim de dois anos de melhoria contínua no espaço da RNLED,
aumentam as probabilidades de observar estas espécies de passagem.
Texto Paulo Paes de Faria
João L. Teixeira
Dia 29 de março, apesar de ter
sido um dia de muita chuva, foi
observada de manhã na RNLED
a primeira das alvéolas-amarelas,
Motacilla flava, chegada de África
para aqui nidificar
Presidente do ICNF
visita a RNLED
Na tarde do passado dia 16 de julho, Paula
Sarmento, presidente do Instituto de Conservação
da Natureza e das Florestas esteve presente na
Reserva Natural Local do Estuário do Douro. A
visita surgiu na sequência da sua participação na
sessão comemorativa do 30.º aniversário do Parque
Biológico de Gaia e foi alargada também ao Parque
de Dunas da Aguda e ao Centro Interpretativo do
Património da Afurada.
30 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
Paulo Paes de Faria
Final de Verão
No final do estio começam a ver-se uma série de
espécies a partir da Reserva Natural Local do Estuário
do Douro rumo a África.
É o que acontece com as andorinhas-do-mar e as
alvéolas-amarelas, por exemplo, mas contam-se
pelo menos em largas dezenas outras espécies que
começarão a passar vindas do Norte da Europa.
Já a abandonar as penas com colorido nupcial, chegam
com cores da época baixa. A qualquer altura surgem,
presenteando quem gosta de as observar.
Nova espécie
de gaivota
Subiu para 17 o número de espécies de
gaivotas cuja ocorrência está registada para a
RNLED.
O estuário do Douro é assim: surpreende
quando menos se espera. Já antes, dia 1
de março, tinha sido observado junto aos
guinchos, Chroicocephalus ridibuntus, uma
gaivota-de-bonaparte, Larus philadelphia, do
primeiro inverno.
É uma espécie do continente americano que
se reproduz desde o Alasca ao Quebeque, no
Canadá. Normalmente inverna na costa do
Atlântico Oeste, até ao Norte da Florida e golfo
do México, e costa do Pacífico.
Texto Paulo Paes de Faria
Maria Rego
WA alvéola-amarela é uma ave migradora
que se vê com facilidade no estuário
do Douro na primavera e no verão
Pato-fusco
Não havia antes registo de um pato-fusco,
Melanitta fusca, ter estado na Reserva Natural
Local do Estuário do Douro.
Até que em 19 de janeiro deste ano aconteceu
e, entre outros, Francisco Bernardo e Maria
Rego, fotógrafos da natureza que residem na
vizinhança, fizeram o registo.
Trata-se de «uma espécie muito rara em
Portugal: o pato-fusco nidifica na Escandinávia
e na Sibéria e passa o inverno no mar Báltico
e na zona costeira do Norte da Europa. Pode
chegar a Portugal, de facto, mas só há quatro
observações recentes confirmadas, todas a
norte de Aveiro, em dezembro, a última das
quais em 2007».
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 31
32 MUSEU
Centro Interpretativo da
Afurada
Após a requalificação de antigos
armazéns ali existentes, um acervo
das tradições piscatórias, concretizado
nos mais diversos suportes de
informação, está agora à vista e reflete
a identidade desta aldeia piscatória nos
seus aspetos culturais e naturais, sem
esquecer que se encontra a um par de
quilómetros da Reserva Natural Local
do Estuário do Douro.
Resultado de uma parceria entre
o Parque Biológico de Gaia e a
Administração dos Portos do Douro
e Leixões, este centro está equipado
com modernos meios tecnológicos,
englobando áreas com exposições
permanentes e temporárias.
Trata-se de um lugar «identitário e
relacional» que ajuda à dinamização
da Afurada e incentiva a presença de
turistas.
O presidente do Município, Luís Filipe
Menezes, referiu que «um investimento
público qualificado também serve
para os privados acreditarem» e
ilustrou estas palavras com os hotéis e
restaurantes que foram surgindo.
No dia da abertura, um mar de gente
afluiu ao evento.
Luís Filipe Menezes
inaugurou o Centro
Interpretativo do
Património da Afurada
32 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
A Afurada conta
desde 22 de março
com o Centro
Interpretativo do
seu Património
Parque
da Ponte
Maria Pia
Arquivo PBG/MD
No final da manhã de 1 de agosto
teve lugar a inauguração da primeira
fase do Parque da Ponte Maria Pia,
que se localiza na Alameda
da Serra do Pilar, em Santa Marinha,
Vila Nova de Gaia
Trata-se do mais recente parque de Vila Nova de Gaia.
O espaço da antiga linha de caminho de ferro Porto/Lisboa, desativada
com a construção da nova ponte ferroviária, ganhou novo uso de
interesse público.
Presente no local, o presidente do Município, Luís Filipe Menezes, disse
que “seria vantajosa a criação de uma empresa metropolitana para a
área da construção e manutenção de parques e jardins que conjugasse
o saber-fazer de Gaia com o excelente
“know-how” que o Porto tem na área dos hortos”.
Aberto todos os dias das 10h00 às 18h00, o Parque da Ponte Maria Pia
será ampliado numa fase posterior, prevendo-se uma ligação à ponte e a
construção de um percurso ciclo-pedonal até à cidade do Porto.
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 33
34 ESPAÇOS VERDES
Os jardins envolventes do solar do Conde das
Devesas foram transformados num parque aberto
ao público, que pode ser visitado desde o passado
dia 10 de maio.
A presença neste espaço de numerosas camélias,
e até a existência de uma variedade de camélia
designada “Conde das Devesas", motivou o
desenvolvimento de um projeto de "parque das
camélias".
Estas plantas de origem asiática, as camélias ou
japoneiras, terão chegado ao nosso país antes de
entrarem em Inglaterra e daqui difundiram-se para
a Galiza. No século XIX chegaram à Austrália, via
Inglaterra.
Neste novo parque é obrigatória também uma
referência a uma monumental faia e a um tulipeiro
com troncos antigos, que fazem o visitante sentir-se
perante seres vivos especiais.
O Parque das Devesas fica próximo do Cais de
Gaia, na Rua D. Leonor de Freitas, n.º 162, e tem as
portas abertas para si todos os dias, das 10h00 às
18h00. Se for adepto da eletrónica, pode chegar ali
também através da orientação do seu GPS:
João L. Teixeira
Parque da Quinta
do Conde das Devesas
41º7'58.98"N/8º37'8.36"W
jornadas
arqueológicas
Em 28 e 29 de junho decorreram no Parque Botânico do Castelo e no
auditório do Parque Biológico de Gaia as primeiras Jornadas Arqueológicas do
Castelo de Crestuma.
O certame reuniu investigadores de várias proveniências, nomeadamente da
Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, da Faculdade de Letras
de Lisboa, da University College of London e da Faculdade de Letras da
Universidade do Porto.
As mais recentes escavações arqueológicas no Castelo de Crestuma,
realizadas de há três anos para cá, têm revelado um sítio complexo, com uma
fase de ocupação mais expressiva aparentemente centrada nos séculos V e VI.
A importância dos dados já recolhidos levou à convocação deste evento.
Entre 10 de agosto e 14 de setembro pode visitar neste parque uma exposição
itinerante sobre o Castelo de Crestuma.
34 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
Jorge Gomes
Parque Botânico do Castelo
João L. Teixeira
Parque da Lavandeira
Aberto há já oito anos este parque oferece a quem o
visita várias vertentes de recreio e lazer.
Encontra, assim, percursos pedestres, jardins temáticos,
zonas de merendas e uma série de iniciativas que
constam da agenda ao lado.
No Parque da Lavandeira há uma cafetaria e organizamse feiras de artesanato, venda de legumes, atividades de
yoga, entre outras iniciativas.
Situado em Oliveira do Douro, este parque de uma
dezena de hectares localiza-se muito perto do centro
de Gaia e resulta da aquisição, pelo Município, da antiga
quinta da Lavandeira.
Chega-se ao Parque da Lavandeira pelas Oficinas
Municipais, na Estrada n.º 222, que leva os utentes da
principal Avenida de Vila Nova de Gaia a Avintes.
A entrada neste parque é grátis.
Apesar de não ser a mesma coisa que pôr lá o seu
pezinho, também pode visitar o Parque da Lavandeira
através do seu computador, indo ao “Google Maps” e
entrando no modo “Street view”!
Agenda
As mulheres do campo vêm à vila
Aos sábados de manhã, venda de legumes sem
pesticidas.
Yoga
A orientação é da responsabilidade da Dr.ª Luísa
Bernardo, que proporciona a atividade em regime de
voluntariado. Quartas e sextas-feiras às 9h45.
Pode seguir o Parque da Lavandeira
no Facebook,
no site www.parquebiologico.pt
(botão Parque da Lavandeira),
enviar uma mensagem pelo
e-mail [email protected]
ou telefonar para 227 878 138.
Tai Chi
Às segundas e às quintas-feiras, aulas às 9h30.
Participação e entrada grátis.
Pode seguir o Parque da Lavandeira no Facebook,
no site www.parquebiologico.pt (botão Parque da
Lavandeira), enviar uma mensagem pelo e-mail
[email protected] ou telefonar para
227 878 138.
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 35
36 ESPAÇOS VERDES
Comemoração
João L. Teixeira
30.º aniversário do Parque
Biológico de Gaia
Em 25 de fevereiro Luís Filipe Menezes
procedeu à abertura da celebração
do 30.º aniversário de existência
do Parque Biológico
«Trinta anos, três novos espaços» foi o
mote com que o presidente da Câmara
Municipal de Gaia, Luís Filipe Menezes,
iniciou a celebração do 30.º aniversário
do Parque Biológico de Gaia, referindose à abertura do Parque da Quinta das
Devesas, do Parque da Ponte Maria Pia e
do Centro Interpretativo do Património da
Afurada.
O evento, que decorreu no edifício da
Presidência, incluiu a síntese de alguns
dos pontos mais significativos da história
destas três décadas contadas pelo
Parque: «Conseguimos alavancar na última
dúzia de anos um projeto único no país
e passar de cerca de 3,5 m2 para quase
10 m2 de espaços verdes por habitante, o
que significa muitos parques urbanos e a
ampliação daquele que é uma referência
nacional na educação ambiental, o Parque
Biológico. Temos, em meio urbano, a
primeira Reserva Natural Local reconhecida
pelo Estado e pela União Europeia, o
Estuário do Douro, e estamos, em fase final
de mandato, a construir novos parques
citadinos, numa lógica única no país».
SEstas comemorações tiveram início no edifício da Presidência
do Município gaiense
Selos comemorativos
Na tarde de sábado, 15 de junho, assistiu-se
no Parque Biológico de Gaia à antestreia do
documentário “José Bonifácio”, com produção
e realização de Francisco Manso.
Considerado o primeiro ecologista lusobrasileiro, José Bonifácio de Andrada e
Silva (1763-1838), também patriarca da
independência do Brasil e da libertação dos
escravos no país irmão, foi alvo de uma sessão
comemorativa alusiva à passagem de 250 anos
sobre o seu nascimento.
Aberta a solenidade com palavras do
representante do Consulado do Brasil, no
programa destacou-se a antestreia de um
documentário de vídeo produzido e realizado
por Francisco Manso para a RTP.
No trabalho audiovisual assiste-se ao “relato da
sua trajetória de aprendizagem científica”, que “é
36 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
João L. Teixeira
Primeiro ecologista
de Portugal e do Brasil
Da esquerda para a direita, Francisco Manso, Nuno Gomes
Oliveira e Francisco Castro Rego, co-autor do documentário
“José Bonifácio”
feito pelo próprio como secretário perpétuo da
Academia Real das Ciências de Lisboa, numa
representação ficcionada da preparação do
seu discurso histórico de junho de 1819, que
antecedeu o seu regresso ao Brasil”.
Em 3 de junho, às 15h00, abriu no Parque
Biológico de Gaia a "Filexgaya 2013",
mostra filatélica comemorativa dos 30 anos
desta instituição.
Nesse dia foram lançados dois selos
personalizados editados pelo Clube de
Colecionadores de Gaia. Os selos retratam
um carvalho-comum (Quercus robur)
e um pirilampo (Luciola lusitanica). Os
interessados puderam adquirir estes selos e
a marca do dia comemorativa dos Correios,
no dia de abertura, nas instalações do
Parque, das 10h00 às 17h00.
João L. Teixeira
José Bonifácio de Andrada e Silva
João L. Teixeira
Vinte anos
de parceria
A Associação Portuguesa de Pais e Amigos
do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM)
celebrou em 19 de março o 20.º aniversário
da parceria estabelecida com o Parque
Biológico de Gaia e o 30.º aniversário da
abertura desta IPSS em Vila Nova de Gaia.
Mercês Ferreira, vereadora do Pelouro do
Ambiente da Câmara de Gaia, realçou o
valor especial deste projeto que «permitiu
que pessoas com diferenças fossem
respeitadas e integradas em equipas de
trabalho».
Prémios FAPAS
Borboletas dos Parques
Dia 6 de julho, sábado, às 15h00, houve lugar à
apresentação do livro “Borboletas dos Parques
de Gaia”.
O livro, com cerca de 180 páginas, aponta uma
centena de espécies de borboletas diurnas
e noturnas, todas elas fotografadas nestes
parques. As imagens mais antigas que serviram
de fonte para a obra datam de 2004 e evocam
as palavras de Mário Quintana: "O segredo é
não correr atrás das borboletas... é cuidar do
jardim para que elas venham até si".
O FAPAS - Fundo para a Proteção dos
Animais Selvagens atribuiu os seus prémios
a 27 de fevereiro, às 18h30, no auditório do
Parque Biológico de Gaia.
A entrega dos prémios distinguiu a categoria
"Documentário Natureza" com o programa
"Vida animal em Portugal e no mundo" - de
Luís Henrique Pereira, jornalista da RTP - e
a categoria "Divulgação Ambiente" com o
programa "Biosfera", programa já com oito
anos de vida, numa parceria entre a RTP e o
Farol de Ideias.
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 37
38 ESPAÇOS VERDES
Simpósio Internacional
Tartarugas
de água doce
Com início no próprio Dia Internacional da
Biodiversidade, entre 22 e 24 de maio,
decorreu no Parque Biológico de Gaia um
Simpósio Internacional sobre Conservação
de Tartarugas, no âmbito do Projeto LIFE-Trachemys, em que se
encontra envolvido.
Os parceiros deste projeto ibérico cofinanciado pela Comissão
Europeia - LIFE-Trachemys 09NAT/ES/000529 são a Generalitat
Valenciana - Conselleria de Infrastructuras, Territorio y MedioAmbiente (Valência, Espanha), e instituições como o CIBIOICETA da Universidade do Porto, o Parque Biológico de Gaia e a
associação ALDEIA-RIAS.
No encontro participaram cientistas de Portugal, Espanha,
França, Itália, Alemanha, Letónia, Lituânia e Austrália.
O evento, também no âmbito da Década da Biodiversidade
preconizada pelas Nações Unidas, juntou investigadores de
diversos países e abordou temas dos mais diversos, desde
os programas de reprodução em cativeiro e a ecologia de
populações em habitat natural aos problemas e eventuais
soluções decorrentes das perdas inerentes à introdução
de espécies invasivas, à epidemiologia e aos projetos de
conservação em curso.
SO certame juntou investigadores de várias nacionalidades
Encontro Internacional de Fitossocio
ALFA-Associação Lusitana de
Fitossociologia organizou, entre
9 e 12 de maio, em parceria
com a Faculdade de Ciências
da Universidade do Porto, o CIBIO-Centro
de Investigação em Biodiversidade e
Recursos Genéticos, e a empresa Águas
e Parque Biológico de Gaia, o IX Encontro
Internacional de Fitossociologia ALFA. O
certame decorreu no Parque Biológico
de Gaia, e teve por tema “Vegetação e
paisagem: uma perspetiva socioecológica”.
Nos dois últimos dias do evento fizeramse percursos interpretados nas serras do
Marão e da Nogueira para observação e
discussão dos aspetos mais notáveis da
flora, da vegetação e da paisagem das
montanhas de Trás-os-Montes e Alto
Douro.
A
38 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
SMesa de abertura do encontro: João Honrado, docente da Universidade do Porto, Nuno Oliveira do Parque Biológico,
e Miguel Sequeira, presidente da ALFA e docente da Universidade da Madeira
Mauro e Emília: os cágados
na Década da Biodiversidade
Jorge Gomes
Ilustrado por Ernesto Brochado e Delfina Sordo, o conto de Ana
Mafalda Alves “Mauro e Emília, os nossos cágados estão em
perigo! Vamos ajudá-los” foi lançado
o no Parque
Biológico de Gaia no Dia Mundial
da Criança, celebrado a 1 de
junho, pelas 17h30.
A obra, com texto em português
e castelhano, descreve aos mais
pequenos a história de Emília,
a primeira fêmea de cágadode-carapaça-estriada (espécie
ameaçada) a integrar o programa
de criação em cativeiro que
decorre há já um par de anos no
Parque. O programa em causa está
incluído num projeto ibérico – LIFETrachemys 09NAT/ES/000529 – e
envolve várias instituições da Península Ibérica.
A obra foi apresentada por Luís Henrique Pereira, jornalista da RTP.
SMomento da apresentação
da obra: da esquerda para
a direita, Luís Henrique
Pereira, Nuno Gomes
Oliveira, Ana Mafalda e
Ernesto Brochado
Jorge Gomes
Jorge Gomes
ologia
SRivas Martinez, conhecido investigador espanhol, esteve
presente no evento: em 1.º plano, segundo a contar da direita
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 39
40 ESPAÇOS VERDES
Livro comemorativo
dos 30 anos
do Parque Biológico
Nos últimos 30 anos
o Parque Biológico
de Gaia recebeu a
visita de 2,5 milhões
de pessoas — em 15
de julho, em sessão
comemorativa, foi
apresentado o livro
“Parque Biológico de
Gaia: 1983/2013”
O programa arrancou de manhã, conforme
sublinhou a presidente do Instituto da
Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF),
Paula Sarmento: «Comecei o dia da melhor
maneira, com um passeio no Parque Biológico,
um local onde se observa fauna e flora do nosso
país com um ótimo apoio didático».
Paula Sarmento visitou também o Centro de
Recuperação de Fauna Selvagem do Parque e
ficou sensibilizada para o esforço de conservação
da biodiversidade que ali se desenrola. Ainda
houve oportunidade de libertar uma andorinhadas-chaminés reabilitada.
Já em plena sessão, o presidente do Município
de Vila Nova de Gaia, Luís Filipe Menezes, disse:
“Sentimos orgulho por termos feito a diferença”
e “é com muita honra que reparto este sucesso
Ainda houve tempo para libertar uma andorinha reabilitada
Agenda
Eis algumas das iniciativas a curto prazo que podem ser do seu interesse...
Desfolhada
Com a ajuda do Rancho Folclórico
Danças e Cantares de Santa Maria
do Olival o milho vai ser rei no Parque
Biológico de Gaia, a partir das 16h30.
Uma hora antes esta iniciativa
vai aquecer com diversas atividades
centradas em burricos.
Em torno da eira, as espigas vão ser
despidas para que os grãos maduros
possam luzir ao sol.
De participação livre, as inscrições são
feitas no próprio dia por ordem de chegada,
havendo no entanto lugar no máximo para
apenas cem participantes.
João L. Teixeira
Sábado, 5 de outubro, revivem-se
alguns aspetos de uma desfolhada
tradicional...
A recriação da desfolhada do milho X
é uma atividade que sublinha
a forte ligação do ser humano à terra
40 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
Jorge Gomes
com as restantes pessoas que contribuíram
para as metas alcançadas”.
Adiantou também que “este Parque tem
dos melhores técnicos do país e do mundo”
e, salientou, “oxalá quem me suceder no
Município saiba valorizar este facto”.
No que toca ao livro apresentado, Nuno Gomes
Oliveira, fundador e diretor do Parque Biológico
de Gaia, explicou que “é um repositório de
memórias, um trabalho coletivo que nas suas
Concurso Nacional
de Fotografia da Quercus
• Abre às 15h00 de 21 de setembro
últimas páginas termina com uma listagem
das 2654 espécies selvagens, animais e
vegetais, registadas até agora em Vila Nova
de Gaia”.
Após a sessão de autógrafos, e já ao início
da tarde, a presidente do ICNF visitou
também a Reserva Natural Local do Estuário
do Douro, o Centro Interpretativo do
Património da Afurada e o Parque de Dunas
da Aguda.
a exposição relativa ao 1.º Concurso
Nacional de Fotografia da Quercus, com
entrega de prémios. A mostra pode
ser visitada todos os dias, até 31 de
outubro, no horário de funcionamento
do Parque Biológico de Gaia.
condições meteorológicas o permitirem.
Em 2 de novembro o destaque vai para
a abertura da exposição do Concurso
Nacional de Fotografia da Natureza
Parques e Vida Selvagem, com entrega
de prémios, às 15h00.
De manhã, às 11h00, o atelier é
preenchido com iniciação à fotografia
da natureza.
de castanhas e magusto. Saiba mais no
Gabinete de Atendimento do Parque.
Sábado no Parque
• Dia 5 de outubro o Parque prepara
Percurso de descoberta
• Sábado, dia 19 de outubro, há um
Oficinas de Inverno
• Para crianças e jovens, dos 5 aos 15
algumas atividades especiais para os
seus visitantes, com início às 11h00:
atelier “Anilhagem científica de aves
selvagens”.
Depois do almoço, às 14h30, há a
conversa do mês intitulada “Sete anos
da estação de esforço constante de
anilhagem científica em serviço no
Parque Biológico de Gaia”, seguindose pelas 15h00 a visita guiada por
técnicos do Parque e, simultaneamente,
percurso ornitológico.
Entre as 15h00 e as 17h00 há a
recriação da desfolhada do milho.
No mesmo dia, à noite, às 22h00 há
observações astronómicas, se as
percurso no Geoparque de Arouca,
com saída e chegada em autocarro a
partir do Parque Biológico de Gaia.
anos, de 17 a 21, 26 a 28 de dezembro
de 2013 e 2 e 3 de janeiro 2014 com
entrada às 9h00 e saída às 17h30.
Anilhagem científica
de aves selvagens
• Nos primeiros e terceiros sábados
Observação de aves
selvagens
• Nos primeiros domingos e nos
de cada mês, das dez ao meio-dia, os
visitantes do Parque podem assistir a
esta atividade na Quinta do Chasco de
passagem pelo percurso de descoberta
da natureza, se não chover. Está em
causa o bem-estar animal.
Orientada por anilhadores
credenciados, há uma dúzia de
formandos que prosseguem no
segundos sábados de cada mês, das
10h00 às 12h00, leve, se tiver, um
guia de campo de aves europeias e
binóculos à Reserva Natural Local do
Estuário do Douro.
Com telescópio, estará um técnico
do Parque para ajudar os presentes a
identificar as aves do litoral a partir dos
observatórios ali instalados.
objetivo de aprenderem sempre mais
nesta iniciativa útil para um melhor
conhecimento da população de aves
da região.
Magusto
• Sábado, 9 de novembro, há colheita
Receba notícias por e-mail
Para os leitores saberem das
suas atividades a curto prazo,
o Parque Biológico sugere
uma visita semanal a
www.parquebiologico.pt
A alternativa será receber
os destaques, sempre que
oportunos, por e-mail.
Para isso, peça-os a
[email protected]
Mais informações
Gabinete de Atendimento
[email protected]
Telefone direto: 227 878 138
4430-861 Avintes - Portugal
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 41
Jorge Gomes
42 ESPAÇOS VERDES
Fauna
m casal de milhafres selvagens já
tinha ensaiado com êxito fazer o seu
ninho no passado ano no Parque
Biológico de Gaia.
Uma árvore grande, junto ao açude em pleno
rio Febros, tê-los-á atraído como um local
adequado para nidificar, mas nunca se chegou
a ver crias.
Este ano, sem perturbar, embora não houvesse
ângulo para ver a cria no ninho, foi possível
observar uma a voar, inexperiente, com os
progenitores no passado dia 11 de julho à hora
de almoço.
Quatro dias depois, mesmo em cima do
gaiolão dos milhafres irrecuperáveis, posou
para a fotografia, à distância, após um pedido
de alimento a um dos pais. O juvenil é a ave à
direita. Voltará este casal para o ano?
É provável que sim, lá para início de março
talvez.
U
42 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
Também com asas mas muitíssimo mais
pequena, uma outra espécie ganha lugar.
Fotografada na quinta de Santo Tusso, no
Parque Biológico de Gaia, é a segunda espécie
de borboleta observada neste espaço verde
da família dos Sesídeos, uma Pyropteron
chrysidiformis (Esper, 1783), em 28 de junho,
registo feito pouco antes das duas da tarde.
Trata-se de uma borboleta discreta que se
alimentava nesse dia nas flores amarelas das
santolinas, à beira do percurso de descoberta
da natureza na quinta de Santo Tusso.
Este grupo de lepidópteros copia as formas
e cores de vespas e com esse aspeto
consegue prestar outros serviços — como
o da polinização — durante mais tempo nos
ecossistemas em que se integram, até que
por fim marcam derradeira presença na cadeia
alimentar.
Jorge Gomes
Novidades
As borboletas da família X
dos Sesídeos tentam imitar
pequenas vespas
Flora
Musgo-comum-de-caliptra-nua
Atrichum undulatum (Hedw.) P. Beauv.
usgo de crescimento ereto, com
frutificações no topo de cada
indivíduo e, por isso, denominado
de acrocárpico. Sendo um musgo robusto,
até 7 cm de altura, de cor verde escura
quando cresce na sombra ou amarelada
quando cresce sob luz mais intensa e com
tufos bem individualizados, torna-se fácil
de distinguir no meio das outras plantas
do mesmo habitat. Para além disso, é um
musgo com filídeos (órgãos análogos a
folhas) longos e pontiagudos, até 1 cm de
comprimento e ligeiramente ondulados
transversalmente (daí o nome “undulatum”),
que quando secam ficam ainda mais
característicos porque encaracolam.
Quando se observa à lupa a nervura do
filídeo, na zona central, observam-se
linhas paralelas de colunas celulares que
maximizam a superfície foliar e, por isso a
capacidade fotossintética. Como plantas,
os musgos têm células com clorofila e
cloroplastos e as células dos filídeos têm
os conteúdos celulares necessários para
realizar a fotossíntese e fabricar a energia
e os açúcares que necessitam para
sobreviver, crescer e reproduzir-se. No caso
dos musgos, a quantidade de luz, água e
nutrientes necessários para este processo
são tipicamente inferiores às das plantas
vasculares, o que faz dos musgos plantas
“low-cost”, ou seja com necessidades
energéticas e nutritivas baixas.
Quando este musgo dispõe de energia e
nutrientes suficientes aposta na reprodução
sexuada e produz uma ou várias cápsulas por
M
indivíduo, inclinadas, cilíndricas, de 3-4 mm
de comprimento e com opérculos (tampas
das cápsulas) de comprimento igual ao da
cápsula, uma característica típica da espécie.
A caliptra, uma membrana que aparece sobre
a cápsula e que deriva dos tecidos superiores
do ovário, é desprovida de pelos, daí o nome
do género (“Atrichum”- sem pelo) e nome
comum (musgo-comum-de-caliptra-nua).
Este musgo é frequente nos solos de florestas
e taludes de caminhos, evitando os solos
muito ácidos ou calcários. Geralmente,
encontra-se em cantos sombrios, bem
drenados e é um dos musgos terrestres mais
amplamente distribuído nos países europeus.
Pelo seu tamanho, fisiologia simples e fácil
reconhecimento, este musgo, tal como
outras espécies, é utilizado em experiências
de pesquisa científica na área de fisiologia
e genética vegetal. Vários investigadores
tentaram cultivar este musgo em ambiente
laboratorial (in vitro), de modo a reduzir o
impacto nas suas populações, assim como
reduzir o grau de contaminação com outros
microorganismos. Porém, esta tarefa tem
sido difícil, porque, tal como a maior parte dos
musgos, esta espécie não cresce facilmente
nem rapidamente fora do seu micro-habitat
natural (in vivo), mesmo quando todos os
nutrientes lhe são disponibilizados em grandes
quantidades. Tal como muitos dos animais
selvagens, também os musgos não são
felizes em cativeiro…
Texto Cristiana Vieira e Helena Hespanhol
(CIBIO-UP)
Foto Cristiana Vieira
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 43
44 CENTRO DE RECUPERAÇÃO
As duas vidas da
águia-calçada
ma centena de alunos
assistiu em 12 de junho à
libertação de uma águiacalçada que tinha entrado
ferida em 20 de novembro do ano
passado no Centro de Recuperação
de Fauna Selvagem do Parque
Biológico de Gaia.
Sara Loio, médica-veterinária, disse
que a ave «apresentava uma fratura no
cúbito esquerdo», ficando assim com «a
asa imobilizada cerca de três semanas».
Em «17 de dezembro foi para o centro
de recuperação do Parque Nacional da
Peneda-Gerês completar o processo
de reabilitação e regressou ao Parque
Biológico em 19 de abril deste ano,
U
onde permaneceu no túnel de voo até
ao dia em que foi devolvida à natureza».
As aves de rapina são espécies
protegidas por lei e representam
importante ponto de equilíbrio da cadeia
alimentar do ecossistema. No caso
destas águias, passam a primavera e o
verão na Europa e o resto do ano em
África.
Estando o animal, depois de um
tratamento de meio ano, em boas
condições tornou-se necessário
devolvê-lo à vida selvagem.
Quem teve a honra de libertar a rapace
foi a espanhola Isabel Ortega, então
estagiária de um curso de zoologia do
país vizinho.
Anilhagem científica de aves selvagens
O que se esconde
por trás de um nome?
uito se diz dos
chamados nomes
científicos dos animais
e plantas: estranhos,
impronunciáveis, complicados.
Não seria mais fácil usar apenas os nomes
vulgares, aqueles mais simples que
atribuímos sem grandes pretensões?
Ophrys tenthredinifera… porque não
orquídea-vespa? Tarentola mauritanica…
porque não osga?
Mas a verdade é que se alguns de nós
neste país veem “garças-boieiras”, e
outros ainda “carraceiros”, um inglês vê
“cattle egrets”, um alemão um “kuhreiher”,
um letão um “lopu garnis” e um checo um
“volavka rusohlavá”, todos estão a falar da
mesma espécie de ave, e todos poderão
comunicar através do nome científico
dessa linda garça, Bubulcus ibis, pois este
M
44 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
é independente da linguagem que se utiliza, e
por isso universal.
Embora estes nomes científicos pareçam por
vezes algo demasiado exóticos, têm por base
um sistema, a nomenclatura biológica (que foi
impulsionada de forma decisiva pelo grande
naturalista sueco Carl von Linné, também
conhecido por Lineu), que se rege por alguns
princípios, mais ou menos rígidos, como por
exemplo a obrigatoriedade do nome de uma
espécie ser representado por duas palavras
(referentes ao género e espécie, formando a
nomenclatura binomial), ou a recomendação de
o nome ser latinizado. E quando os cientistas
atribuem uma designação científica a uma
espécie, ela esconde em si significados mais ou
menos percetíveis.
Vejamos o exemplo das aves. Alguns são fáceis
de perceber, como o pardal-de-telhado Passer
domesticus (“pardal doméstico”) ou o melro-
preto, Turdus merula (“tordo melro”); outros,
mais descritivos, apontam para características
físicas, como o caso do pato-real, Anas
platyrhynchos (“pato de bico-achatado”),
Se passar um destes dias
numa mesa de anilhagem
científica de aves
selvagens ouvirá nomes
esquisitos: saiba porquê!
da estrelinha-de-cabeça-listada, Regulus
ignicapillus (“príncipe com cabelo-em-fogo”) ou
do maçarico-real, Numenius arquata (“lua-nova
arqueada”, devido ao longo bico em forma de
quarto crescente).
João L. Teixeira
Muitos também são os casos em que os
nomes foram atribuídos com base no estilo
de vida e comportamento: casos como o
picanço-real, Lanius meridionalis (“carniceiro
do Sul”, dado ser uma ave sul-europeia que
tem o peculiar hábito de espetar as presas em
ramos com espinhos), o tordo-pinto, Turdus
philomelos (“tordo aficionado-da-música”, pelo
seu lindo canto), o gaio, Garrulus glandarius
(“barulhento das bolotas”, por ser um ruidoso
apreciador do fruto dos carvalhos, fruto esse
classificado como glande) ou até do gansopatola, Morus bassanus (“tolo da ilha Bass
Rock”, já que a sua atitude sem medo fez com
que muitos fossem mortos por marinheiros,
e referência também à ilha escocesa onde a
maioria dos animais desta espécie nidifica).
Outros casos curiosos envolvem figuras
mitológicas ou lendas. É o caso do pobre
noitibó, Caprimulgus europaeus (“ordenhacabras europeu”), que no tempo da Roma
Antiga se pensava que voava até às cabras
para lhes sugar o leite, lesionando os mamilos
e induzindo nelas a cegueira – na realidade,
o noitibó é apenas um inofensivo insetívoro
noturno! Mais sorte teve o guarda-rios, Alcedo
atthis (“guarda-rios de Atthis”), em honra de um
lindo e bem-vestido filho de uma ninfa do rio
Ganges. Bonita também a origem do nome das
João L. Teixeira
S A águia-calçada recebeu uma anilha mesmo antes da libertação: se algum dia for recapturada conseguir-se-á identificá-la
SO chasco-cinzento, Oenanthe oenenthe, é um
habitual visitante de outono no Sul da Europa: já
Aristóteles falava de uma ave com este nome que
surgia na época das vindimas (oine: vinha; anthos:
florescer), nome que Lineu aproveitou na designação
desta espécie
garças do género Ardea (como a garçareal, Ardea cinerea): diz a mitologia romana
que a cidade de Ardea, perto de Roma, foi
arrasada pelas tropas do troiano Aeneas, e
dos escombros nasceu uma ave elegante e
pálida que afastava as cinzas das suas asas
enquanto soltava gritos lamuriosos...
E quanto às nossas amigas boieiras (ou
carraceiros), Bubulcus ibis? O restritivo
genérico provém do latim “bubulcus”,
que significa pastor de vacas, o que não
surpreenderá quem conhece esta ave bem
adepta de acompanhar o gado nos campos
à procura dos insetos levantados pelos
ruminantes. Já o nome da espécie tem uma
história mais complicada: numa viagem
ao Egipto, no início da década de 1750,
o naturalista sueco Fredrik Hasselqvist
deixou-se convencer pelo seu guia que as
garças-boieiras eram a mítica íbis-sagrada
(que na realidade é uma outra espécie,
Threskiornis aethiopicus), tendo esta ideia
passado para o seu mentor, o próprio Lineu,
que perpetuou a falácia quando nomeou
a espécie. Dizem que até os grandes
cientistas cometem lapsos... mas na altura
também não havia internet para confirmar!
Por Pedro Andrade
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 45
João L. Teixeira
46 BATER DE ASA
SOs gansos-patola são aves marinhas da avifauna portuguesa
O voo das aves
Foi encontrado
em Espinho um
ganso-patola, Sula
bassanus, em 19 de
dezembro do ano
passado, portador de
uma anilha originária
da Islândia com
o código Reykjavík
133004...
purados os dados, veio a
saber-se que esta ave foi
anilhada por Hallgrímur
Gunnarsson em 6 de julho de
2001 em Skrúður, S-Múl, na Islândia.
Entre esse sítio e Espinho marca-se uma
distância de 2674 quilómetros!
Outro caso data de 18 de janeiro deste ano,
quando chegou uma mensagem de correio
A
46 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
eletrónico de Carlos Cação que assinalava a
captura de uma outra ave com anilha: «Para os
efeitos que julgarem convenientes informo que
no dia 23 de dezembro de 2012, no decorrer
de uma jornada de caça, que ocorreu na serra
de Santo António, concelho de Alcanena,
foi abatido um tordo, creio que "Turdus
philomelos" com uma anilha, com a seguinte
informação: 8X79519, MUSEUM SC. NAT.
1000 BRUSSELS».
Informada a Central de Anilhagem, aguardar-se
ainda no fecho desta edição pelos dados deste
animal.
Antes disso, já também Vítor Ramos, em 4
de dezembro do ano passado, comunicava:
«Bom dia! Gostaria de informar que no passado
dia 2-12-2012, quando me encontrava numa
caçada na Reserva Municipal de Vale de Seda,
abati um tordo anilhado. Na anilha constavam
os seguintes dados: 7852296, HELGOLAND,
GERMANIA. Agradecia informações sobre este
tordo».
Contactada a central de anilhagem alemã,
aguarda-se ainda pela resposta.
Mais recentemente, em 4 de fevereiro do
corrente ano, escrevia Nuno Boto, do Algarve:
«Boa noite, foi encontrado um tordo numa
jornada de caça em Estombar, Lagoa, no
Algarve com uma anilha com a seguinte
descrição: MUSSEUM SC. NAT. 1000,
BRUSSELS, 23Z51964. O local exato por
GPS é o seguinte — 37º 09´ 21 / 8º 29´ 48».
Recebidas as informações pedidas, apurouse que a ave foi anilhada no ano em que
nasceu, em 5/10/2012, em Ingooidem, na
Bélgica, e recapturada em Estombar, 1793
km a sul, quatro meses e um dia depois da
anilhagem.
OBSERVATÓRIO 47
O triângulo estival
e as constelações de verão
No período estival
as noites são mais
quentes e agradáveis,
convidam a estar um
pouco mais tempo
ao ar livre para que
possamos saborear
a brisa noturna e
porque não aproveitar
para contemplar o
céu e as miríades de
estrelas que se podem
observar?
esta época do ano o Sol atinge
a sua máxima altitude ao meio
dia solar no dia 21 de junho. É o
momento do solstício de verão no
hemisfério norte terrestre. Se fosse possível ver
estrelas durante o dia, podíamos verificar que
o Sol “vagueava” pelas constelações do Touro,
Gémeos, Caranguejo e Leão deixando visíveis
à noite, depois do pôr-do-sol, as constelações
de verão do zodíaco que se encontram do
lado oposto do céu e por onde passará a
nossa estrela no período de inverno. As mais
visíveis são Escorpião, Sagitário, Capricórnio e
Aquário. Quem tiver a sorte de poder observar
o céu num local isento de poluição luminosa,
pode constatar que na direção da constelação
do Sagitário irá notar um brilho mais intenso e
uma concentração maior de estrelas: estará a
olhar em direção do centro da nossa galáxia,
a Via Láctea, apesar de observar que esta
constelação nunca sobe muito alto às nossas
latitudes.
Se olharmos bem mais para cima veremos
três estrelas brilhantes a formar um triângulo
N
gigantesco a subir no céu a cada dia que
passa vindo de nascente e que passará bem
por cima das nossas cabeças onde está o
ponto fictício no local mais alto da abóbada
celeste, o zénite. Estas três estrelas formam
o famoso asterismo visível ao longo deste
período conhecido por “Triângulo estival”.
As estrelas que formam o triângulo têm
diferentes características e pertencem a
constelações diferentes. Vistas a partir da
Terra a mais brilhante deste trio é “Vega”, a
estrela a (alfa) de Lira (Lyra), pertence ao tipo
espectral A0V, Se estivesse no lugar do Sol a
sua luminosidade seria 40 vezes maior que a
nossa estrela, o seu raio é aproximadamente
2.5 o raio do Sol e está a cerca de 25 anos
luz de distância. A estrela que se situa no
vértice Sul deste triângulo chama-se “Altair”,
o seu nome vem do árabe e significa “aquele
que voa”, esta estrela é a mais brilhante da
constelação da Águia (Aquila), o tipo espectral
é A7V, tem 10 vezes a luminosidade do Sol,
o seu raio é 1.8 vezes maior que o do Sol e é
das três a mais próxima de nós, está a cerca
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 47
Joaquim Gomes
48 OBSERVATÓRIO
Joaquim Gomes
SM13 Enxame globular de Hércules
Joaquim Gomes
S
SM27 Nebulosa planetária do haltere
SM57 Nebulosa planetária de Lira
de 16 anos-luz de distância. Finalmente, a
estrela mais oriental tem como nome “Deneb”,
é a estrela mais brilhante da constelação do
Cisne (Cygnus) e representa a sua cauda.
Esta estrela, uma supergigante azul, é do
tipo espectral A2Ia, a sua luminosidade é
cerca de 200000 vezes a luminosidade do
Sol, o seu raio é 200 vezes maior que o do
48 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
Sol e a sua distância estima-se em cerca de
2600 anos-luz, por isso das três é a menos
brilhante quando vista a partir da Terra.Nesta
área do céu, podemos encontrar outras
maravilhas celestes, mas neste caso iremos
precisar de usar instrumentos de observação
como um telescópio. Para tal o Observatório
Astronómico do Parque Biológico de Gaia
(OAPB), está de portas abertas nos primeiros
sábados de cada mês para quem as queira
contemplar.
Na constelação da Lira, relativamente perto
da estrela Vega, podemos observar um
astro que é a premonição do futuro do
nosso Sol: trata-se da nebulosa planetária
da Lira, ou a nebulosa do anel; Charles
Messier catalogou-a com o nome de M57.
As imagens deste artigo foram obtidas no
OAPB. No fim de vida de uma estrela como o
nosso Sol, as camadas exteriores da estrela
são atiradas para o espaço circundante
e a radiação intensa do núcleo central da
estrela moribunda excita os átomos desses
restos que foram lançados para o espaço
que começam a emitir luz de diversas cores
tornando assim visível a nebulosa. Esta
nebulosa está a cerca de 2300 anos-luz de
distância e as suas dimensões chegam a ter
1.3 anos-luz de raio.
Entre as estrelas Deneb do Cisne e Altair da
Águia, mais próximo de Altair, na constelação
da Raposa (Vulpecula), encontramos outro
astro do mesmo tipo, a nebulosa planetária do
Haltere, cujo nome é devido à semelhança que
este astro tem com a de um haltere; o nome
atribuído por Charles Messier foi M27. Esta
nebulosa encontra-se a cerca de 1360 anosluz de distância, com um raio de 1.44 anos-luz
de extensão.
Se olharmos um pouco mais para ocidente
relativamente ao triângulo de verão, vamos
encontrar uma outra constelação, Hércules
(Hercules), nesta constelação vamos encontrar
também outro objeto celeste de interesse, é
o enxame globular de estrelas de Hércules:
foi catalogado por Charles Messier com o
nome M13 e situa-se a 1/3 da distância que
separa a estrela n (eta) em direcção à estrela
s (zeta) desta constelação. Trata-se de um
aglomerado de estrelas unidas pela força de
gravidade existente entre elas e este tipo de
objetos situam-se espacialmente no halo da
nossa galáxia, fora do plano onde se encontra
o disco galático. O enxame é constituído por
mais de 300000 estrelas, encontra-se a uma
distância de cerca de 23000 anos-luz, cujo
raio é tal que a luz demora cerca de 84 anos a
viajar do seu centro à sua periferia.
Aproveite bem este verão e observe as
maravilhas do céu noturno, siga-nos
no facebook em www.facebook.com/
observatorioastronomicopbg, informe-se das
atividades desenvolvidas pelo OAPB através
do telefone 227 878 138 ou pelo e-mail:
[email protected]
Por Joaquim Gomes
REGISTO 49
Alfred Smith (1822-1898)
Pioneiro do turismo ornitológico
em Portugal
Alfred Smith foi,
provavelmente,
a primeira pessoa
a fazer turismo
ornitológico
em Portugal,
quando nos visitou
em abril e maio
de 1868
sta visita deu lugar a um artigo
na conceituada revista inglesa
de ornitologia “Ibis", em 1868 (A
Sketch of the Birds of Portugal)
e a um livro, em 1870 (Narrative of a
spring tour in Portugal), cujo capítulo
XV é dedicado às aves de Portugal,
apresentando uma das primeiras listas de
aves do país.
O pastor protestante Alfred Charles
Smith (1822-1898) era um dos, então,
40 membros honorários da prestigiada
British Otnitologists´Union. Foi reitor
da igreja de Todos os Santos, em
Yatesbury, Wiltshire, em Inglaterra, de
1852 a c. 1878 (vendeu este título1 em
1882); foi, ainda, um amador da história
natural, arqueologia e viagens, que se
correspondeu com Charles Darwin.2
Veio a Portugal com o pai, “... tal como
nas melhores viagens dos últimos anos”
e “...carregava uma espingarda, um
par de binóculos, e todos os utensílios
necessários a um ornitologista, para obter
e preservar espécimes de aves, ele [o
pai] levou a sua câmara, e tudo o que
um fotógrafo precisa.” Para esta viagem
Smith calculou gastar cerca de 50 libras.
Embarcou nas docas de Southampton
no navio brasileiro “Shannon” por volta
E
do dia de Páscoa de 1868. Visitou Lisboa,
Sintra, Évora e Setúbal, e depois veio para o
Norte, por Alcobaça, Batalha e Coimbra até
ao Porto, de onde partiu para Braga e Viana.
Smith usou o comboio expresso de Coimbra
para o Porto, e nisso gastou três horas;
na parte final desta viagem, após passar
Ovar, anota que “... agora surgiu a costa,
com o extenso Atlântico a oeste, e areia
nos dois lados, e nada mais que areia, pura
e simples, para ser visto. Isto foi no final
da nossa jornada, e depressa chegamos
ao términos em Vila Nova de Gaia.” Esta
descrição faz sentido pois o revestimento
florestal das dunas de Ovar, Cortegaça e
Esmoriz iniciou-se, apenas, em 1930 (Lamy
& Rodrigues, 2000), pelo que à data da
viagem de Smith (1868, recorde-se) a linha
da caminho de ferro de Ovar a Vila Nova de
Gaia atravessava os areais costeiros, com
uma paisagem idêntica à que hoje ainda
podemos ver um pouco no troço de S. Félix
da Marinha.
Smith atravessou para o Porto pela Ponte
Pênsil e instalou-se no Hotel Mary Castro
que, nesta data, ainda seria na esquina da
Rua de Sampaio Bruno com a do Bonjardim
e, mais tarde, se mudou para a Rua das
Motas, na Foz.
Entre o muito que visitaram e os
impressionou no Porto cabe destacar os
jardins do último capelão da Feitoria inglesa,
rev. Edward Whiteley, que, entre outras
espécies, tinha um Tulipeiro (Liriodendron
tulipifera), com cerca de 5,2 m de perímetro
a 90 cm do solo, segundo as medições de
Smith e do pai; atribuíram este excecional
crescimento ao facto de ter um sistema de
rega. Dizem que, no entanto, uma magnólia
ali existente ainda era mais espetacular, com
18 m de altura. Também as camélias de
diversas variedades chamaram a atenção de
Smith.
O rev. Whiteley tinha um colégio na Rua de
Entre-Quintas (Gonçalves, 2001), perto do
Palácio de Cristal, onde fica a conhecida
Casa Tait; a Casa Tait, anteriormente
designada Quinta de Meio, foi adquirida
em 22/04/1900 pelo negociante inglês
William Tait. Será que o jardim do rev.
Whiteley era o mesmo da futura Casa
Tait?
Capítulo XV – Aves de Portugal
Na sua listagem de aves de Portugal
Smith começa por dizer que, à época,
sobre as aves de Portugal apenas existia
uma listagem em português feita pelo
Professor Barbosa du Bocage, em 1862,
e umas notas do G. F. Matews, que foram
publicadas na revista “The Naturalist”, do
ano de 1864.
Quanto ao trabalho do Professor Barbosa
du Bocage, Smith refere-se à brochura
publicada em 1862 “Instruções praticas
sobre o modo de coligir e remeter
productos zoológicos para o Museu de
Lisboa” que inclui uma lista comentada
de 326 espécies de aves que ocorriam
ou podiam ocorrer em Portugal, das
quais Bocage apenas pôde confirmar
a ocorrência de 280, das 440 que se
conhecem hoje3. Curiosamente, entre as
espécies cuja presença não conseguiu
confirmar, estão algumas que hoje são
comuns, como a garça-branca-pequena
(Egretta garzetta) ou a gaivota-parda
(Larus canus).
Por outro lado, a lista de Bocage de
1862 incluiu espécies cuja ocorrência em
Portugal é duvidosa, como a perdizmourisca (Alectoris barbara) de que só
há três referências para o nosso país;
um exemplar que Tait (1924) diz ter um
tio seu caçado anos antes em Vendas
Novas e duas que António Themido
(1944) diz integrarem a coleção rei D.
Carlos e terem sido capturadas em Vila
Viçosa em 14/12/1906. É uma espécie
do Norte de África e na Península Ibérica
a única população conhecida é em
Gibraltar, embora haja alguns exemplares
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 49
50 REGISTO
capturados em Telleria (Cádiz), na primeira
metade do século XX (Lorenzo et al, 2003).
Alguns sites referem a introdução recente em
Portugal, para fins cinegéticos, o que não se
conseguiu comprovar.
Quando acima Alfred Smith fala de G.
F. Matews deveria estar a referir-se ao
naturalista e arqueólogo que era vigário
da igreja de S. Pedro, em Mancetter
(Warwickshire, UK), secretário do clube de
Cricket de Hayles (Kent, UK) e do Clifton
Rugby Football Club (Bristol, UK) que
publicou em 1865 na revista inglesa “The
Naturalist” o artigo “Notes on the Azurewinged magpie (Pica cyanea) & c.” (Notas
sobre a Pega-azul (Cyanopica cyanea), etc.);
o autor acrescentou ao título “etc.” porque
fala de diversas outras espécies de aves que
viu nos arredores de Lisboa, ao todo três
dezenas de espécies, quando ali esteve em
fevereiro de 1863 e em janeiro de 1865, e no
Funchal, em dezembro de 1863.
Era, pois, esta a bibliografia que Alfred
Smith dispunha sobre as aves de Portugal;
mas, em Portugal, socorreu-se de outros
métodos de pesquisa, desde a observação
de campo “... armado com uma espingarda
de dois canos e um binóculo - o último, não
posso deixar de acrescentar, tão útil para o
estudante de ornitologia como a primeira.”
Além disso Alfred Smith também frequentou
feiras e mercados, de manhã cedo, para
inspecionar os “bouquets” de pequenas aves
à venda; visitou, ainda, o Museu de Zoologia
de Lisboa e o de Coimbra.
Mas Alfred Smith também teve a
colaboração de algumas pessoas da
comunidade científica, como o já referido
Professor Barbosa du Bocage, diretor
do Museu de Zoologia de Lisboa, e o Dr.
George Suche (ou Such) médico em Londres
e coletor no Brasil, onde estava em 1825
e enviou, entre outras coisas, um tucanode-bico-verde (Ramphastos dicoloris) e um
tucano-de-cinta ou araçarii-de-bico-branco
(Pteroglossus aracari) para Nicholas Aylward
Vigors (1785-1840), um zoólogo e político
irlandês (Macgregor e Headon, 2000). Tal
como Alfred Smith, Vigors era “Fellow of the
Linnean Society”.
Smith recolheu em Portugal uma “pequena”
coleção de aves que embalsamou e, já
em Inglaterra, recorreu ao conhecido
ornitologista inglês Canon Henry Baker
Tristram (1822–1906) (Baker, 1996) para a
sua clara identificação.
No artigo que publicou na revista “Ibis",
em 1868, Alfred Smith enumera 193
espécies e acrescenta: “Também fiz menção
50 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
acessória de 57 outras, que me afirmaram
com confiança serem bem conhecidas
em Portugal, pessoas em cujo rigor podia
confiar.” Assim, Smith apresenta uma lista de
250 espécies.
O aditamento do Professor
Bocage à lista de Smith
Posteriormente o Professor Barbosa du
Bocage fez uma revisão à lista de Smith
e publicou-a no “Jornal das Sciencias
matemáticas, physicas e naturais da
Academia Real de Sciencias de Lisboa”
(Tomo II, agosto de 1868 - dezembro
de 1869, págs. 214-219); basicamente
Barbosa du Bocage fala da reserva que
Smith teve sobre a classificação de uma
águia-imperial (Aquila heliaca) existente
no Museu de Lisboa, e demonstra que é
mesmo uma águia-imperial juvenil, espécie
que segundo Barbosa du Bocage “...póde
dizer-se comum; abunda nas serras da Beira
e do Alemtejo. D´esta ultima província tenho
recebido mais d´uma vez exemplares vivos
d´ella.”
Acrescenta, depois, uma listagem de 44
espécies de aves de Portugal não referidas
por Smith, e começa com a Aquila naevia,
cujo nome atual é Aquila clanga, referindo
“Um exemplar proveniente de Traz-osmontes, morto nos arredores de Bragança.”
A Aquila clanga é atualmente muito rara em
Portugal, havendo apenas nove observações
registadas desde 1998, todas no estuário do
Tejo, salvo uma, no estuário do Sado4.
Refere, em seguida, a Alauda lusitana Gm.
dizendo que “Não existem ainda exemplares
d´esta espécie no museu de Lisboa, porém
sei que se encontra frequentemente no
Alentejo e Algarve; d´esta província trouxe
vários exemplares d´ela um ornitologista de
Halle, o sr. E. Rey, que ali foi recentemente.”
Barbosa du Bocage referia-se a Eugène
Rey (1838-1909), ornitologista alemão que
visitara Portugal no ano anterior (1869) e
deu conta das suas observações no artigo
“Zur Ornis von Portugal” (Para a Ornitologia
de Portugal) publicado no “Journal für
Ornithologie” (March 1872, volume 20, issue
2, pp 140-155).
Na reedição da “Histoire Naturelle”, do conde
de Buffon5, da autoria de Charles Sinnini6,
feita em 1800-1801, este autor acrescentou
uma nota intitulada “L´Alouette de Portugal”
na qual, depois de descrever a espécie,
diz que “É ainda ao Senhor Latham que
devemos o conhecimento desta espécie de
cotovia, natural de Portugal”. John Latham7
escreveu a “General History of Birds” e no
Ammomanes deserti, ilustração de Henry Eeles Dresser (1871)
seu vol. IV, pág. 283 (1822), fala da “Portugal
Lark” de que faz uma pequena descrição
que começa com a indicação de ter um
“bico robusto” e termina dizendo que “habita
Portugal”, informação que atribui ao “senhor
Pennant”8, Thomas Pennant (1726-1798),
um amador de antiguidades e naturalista
britânico.
Em 1810 A. F. Seabra, no seu “Catalogue
des Vertébrés du Portugal” considera a
Alauda deserti (Licht) (Oliv. 189, sinónimo de
Alauda lusitanica Blyth (Oliv. 18); Gray ? e de
Ammomanes deserti (Oliv. 18) e escreve que
“Hab. Env. de Coimbra (Oliv. 18)”.
Em 1816 o “Nouveau dictionnaire d´
histoire naturelle” registava: “A Cotovia de
Portugal, Alauda lusitana, Lath. A côr geral
da plumagem desta cotovia é um ruivo
muito pálido, que fica ainda mais claro nas
partes inferiores; as coberturas e as penas
das asas tem uma bordadura cinzenta, e
as penas da cauda são ruivas amareladas,
mais claras nas penas exteriores; a ponta do
bico e as unhas são pretas; o resto do bico
é branco, e os pés são cor de carne. Esta
ave tem tantas semelhanças com a alouette
calandrelle (Alauda arenaria, Vieill,) depois da
muda, que eu julgo que pertencem à mesma
espécie”. (pág. 371, tradução do autor).
Hab. — Ha annos que ferimos uma cotovia
perto de Coimbra, e presumimos não
poder ser senão um ind. d'esta esp. Para
a estudar vagarosamente mettemol-a
n'uma passareira e no dia immediato tinha
desapparecido”. — Cita-se do s. e e. de
Hesp. — Afr. (Oliveira, 1896:139).
Quer William C. Tait, no seu livro “The Birds
of Portugal” (Tait, 1924), quer Reis Júnior, no
seu “Catálogo Sistemático e Analítico das
Aves de Portugal” (Júnior, 1930-1935), quer
ainda António Armando Themido, no livro
“Aves de Portugal” (Themido, 1952) ignoram
a espécie.
Atualmente esta espécie distribui-se desde
o Sara à Península Arábica, Médio Oriente,
Irão, Afeganistão e Paquistão, pelo que tudo
indica que Henry Dresser, em 1871, tinha
razão e a espécie nunca existiu em Portugal.
Nuno Gomes Oliveira
Parque Biológico de Gaia
[email protected]
A “Alouette calandrelle” tem o nome atual de
Calandrella brachydactyla Leisler, 1814 e é a
Calhandrina-comum, que ocorre em todo o
território nacional, na primavera e verão, mas
que nada tem a ver com a erroneamente
chamada “Cotovia de Portugal”.
No “Catálogo de las aves de España,
Portugal é islas Baleares” Reys (1886)
dá como sinónimo da Alauda lusitana
Gm a Alauda deserti Licht e anota
“Accidentalmente en Granada (Seoane10).
Obetenida dos veces en San Ildefonso
(Castellarnau) [Barcelona]” (Reys, 1886:66).
Entre 1871 e 1882, o ornitologista inglês
Henry Eeles Dresser (1838-1915) publica
uma extensa história das aves da Europa e
refere a Alauda lusitanica, a “Portugal Lark
de Latham11”, considerando que houve
um erro de identificação, e que se trata
da Ammomanes deserti Licht.,12 nome
atualmente aceite e acrescenta: “Nem
mesmo parece que qualquer espécime
autêntico de A. deserti tenha sido obtido em
Portugal ou Espanha.” (Dresser, 1871: 329).
Apesar disso, em 1896 Paulino d´Oliveira
publica “Aves da Península Ibérica e
especialmente de Portugal” e sobre a Alauda
lusitanica faz a seguinte nota:
“119 A. lusitanica, Blyth. (A. deserti, Calb.).
1. Este título, em inglês “advowson” ou “patronage” era
um direito da lei inglesa.
2. Darwin Correspondence Project, http://www.
darwinproject.ac.uk/all-darwins-correspondents
3. Fonte: http://www.avesdeportugal.info/
avesdeportugal.html, acedido em 7/7/2013.
4. Fonte: http://avesdeportugal.info/, acedido em
04/08/2013.
5. Georges-Louis Leclerc, Conde de Buffon (17071788) foi um naturalista, matemático, cosmólogo e
enciclopedista francês.
6. Charles-Nicolas-Sigisbert Sonnini de Manoncourt
(1751-1812) foi um naturalista francês.
7. John Latham (1740-1837) foi um médico e ornitólogo
britânico.
8. Thomas Pennant (1726-1798), um amador de
antiguidades e naturalista britânico.
9. Refere-se ao livro de Paulino d´Oliveira Aves da
Peninsula Ibérica e especialmente de Portugal
10. Víctor López Seoane y Pardo-Montenegro (18321900) foi um naturalista galego.
11. Ver nota 7.
12. Martin Hinrich Carl Lichtenstein (1780-1857),
zoólogo alemão.
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THEMIDO, António Armando (1952). Aves de
Portugal (Chaves para a sua determinação).
Coimbra Editora, Limitada, Coimbra.
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 51
52 ENTREVISTA
Direitos Reservados
Tratar as doenças
das
plantas
Observação de
nemátode no sistema
de aquisição de
imagens
f
A flavescência
dourada da videira
é originada por um
fitoplasma veiculado
por um inseto
f
Direitos Reservados
Bactérias, fungos, nemátodes:
palavras umas mais familiares
que outras, mas frequentes nos
serviços da Divisão de Apoio ao
Setor Agroalimentar, como explica a
engenheira agrónoma Gisela Chicau
— tudo para que as plantas não
deitem a perder a sua saúde...
«
oença?», diz com ênfase a
dona da mercearia, «Ò minha
senhora, as plantas lá têm
doenças!».
O assunto caiu ali mesmo, inapelável.
Tudo porque uma maçã com as manchas
do pedrado, uma perturbação causada
por um fungo, sugeriu a Gisela Chicau um
esclarecimento numa ida à mercearia.
Os sinais vistos na casca esverdeada
tinham levantado dúvidas à cliente que a
antecedeu.
Mais do que contraditar a afirmação,
confessa, «quis explicar a quem ia comprar
que bastava cortar à volta com a faca e
tratar de comer a maçã, sem qualquer
problema».
Ainda assim ficou a pensar: «Meu Deus!
O nosso trabalho não é minimamente
conhecido das pessoas...».
Tínhamos chegado sem dificuldade à
quinta de S. Gens, que fica mesmo em
frente ao quartel do Exército na Estrada da
Circunvalação que une a cidade do Porto à
Senhora da Hora. A conversa desenrolavase sem tropeço, como quando se puxa
uma cereja e depois saem outras tantas
enredadas.
De facto, «todos os seres vivos podem
52 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
Mafalda Felgueiras
D
SO fungo Phaeomoniella chlamydospora
causa a degenerescência da vinha
f
Cultura de fungos
em laboratório
adoecer», salienta, e no caso «das espécies
vegetais cultivadas há entre dez a cem
doenças descritas, sendo o limite superior
ultrapassado no caso de um grupo dentro
do qual se contam as macieiras».
Maus da fita
Os problemas de saúde das plantas
decorrem geralmente de agentes
patológicos como «vírus, bactérias, fungos e
nemátodes, mas também podem derivar de
fatores ambientais entre os quais se contam
os nutrientes do solo, a quantidade de água
Placas
cromotrópicas
amarelas utilizadas
para captura e
monitorização
do inseto vetor
da flavescência
dourada em vinhas
f
flavescência dourada da videira que é um
fitoplasma, temos o fogo bacteriano nos
pomares que é outra bactéria, entre outros».
Apoio científico
O assunto puxa o fio à meada e dá pano
para mangas. Como se processa todo este
trabalho?
Há várias modalidades: «Por vezes começa
nos próprios agricultores quando reparam
que há uma elevada incidência de algo que
lhes foge ao entendimento».
Repare-se que «o agricultor já tem alguma
sensibilidade para a generalidade dos
problemas mais frequentes».
É normal recolherem amostras das plantas
com problemas e tratam de as levar a este
serviço de interesse público.
De facto, quando entrámos no edifício
algumas plantas aromáticas perfilavam-se
para exame fitossanitário, concretamente
limonete e tomilho.
Outras vezes, «é necessário ir ao campo: as
situações têm de ser avaliadas uma a uma
para sabermos o que se passa realmente».
Com método, tudo se esclarece: «Aqui
fazemos despiste de fungos, nemátodes e
identificamos algumas pragas. Fazemos o
diagnóstico e a análise, indicando os meios
de luta a adotar. Quando a análise exige o
recurso a métodos de biologia molecular
(como no caso dos vírus, fitoplasmas e
bactérias, por exemplo), encaminhamos as
amostras para os laboratórios do INIAV, em
Lisboa».
Gisela Chicau: «A mais-valia do nosso trabalho consiste
em esclarecer o que se passa com as plantas»
e luz, ou até a poluição», sublinha.
Gisela Chicau trabalha na Divisão de
Apoio ao Setor Agroalimentar da DRAPN,
que engloba a proteção das culturas
agrícolas, prospeções e inspeções
fitossanitárias, Avisos Agrícolas, entre
outras funções.
Nem sempre para um leigo será fácil
distinguir uma planta doente, desde que
não esteja claramente a caminho de
morrer: «Há doenças que se detetam
à vista desarmada através da alteração
da cor dos tecidos, por terem as folhas
murchas ou por apresentarem necroses»,
ou seja, tecidos mortos.
O assunto é importante e pode descambar
em prejuízo económico na agricultura,
pelo que «algumas doenças são até
regulamentadas por normas europeias,
concretamente quando se trata de
organismos que na realidade nem deveriam
ter entrado na Comunidade Europeia».
Quando isso ocorre, «ficam sujeitos
a regimes de contenção ou até de
erradicação. Depois temos de implementar
na região esse tipo de procedimento».
Por exemplo, «neste momento temos a PSA,
uma bactéria que ataca os kiwis, temos a
Procedimento
Na prática, trata-se então de detetar um
problema, esclarecer a origem e determinar
uma solução, correto?
«Em traços gerais sim. Podem ocorrer vários
tipos de tratamento, mas normalmente
passa pela aplicação de medidas preventivas
– nas plantas os problemas podem
aparecer porque ou regamos em demasia,
ou adubamos em excesso ou aplicamos
um qualquer produto também que não
é adequado à cultura... há um leque de
hipóteses muito alargado».
Bem, é do conhecimento comum que o
excesso de químicos pode contaminar até
o solo…
«Sim, mas as medidas são cada vez mais
apertadas para prevenir esse problema. Os
pesticidas são discriminados numa listagem
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 53
54 ENTREVISTA
própria para cada cultura e para cada
finalidade, bem como as doses que devem
ser aplicadas e as condições de aplicação.
Isso está regulamentado».
Taking care of Plants
Bacteria, virus, fungus, nematodes:
some of this words are more familiar
than the others to the readers, but
all of them are very common in
the Services Division of Support to
Agriculture and Nutrition, explains
Gisela Chicau, Agronomist – just so
the plants do not become infected.
Mais ou menos
Será frequente as pessoas menos informadas
pensarem que mais vale aplicar a mais do
que a menos para a colheita não diminuir?
«Notamos que as pessoas estão cada vez
mais esclarecidas» e, «além disso, fazem-se
análises a resíduos de pesticidas e, quem
produz para o mercado aplicando-os de
forma errada, num desses rastreios pode ser
identificado», explica Gisela Chicau.
«Hoje existe a possibilidade de saber quem
produziu uma alface que está à venda num
supermercado (rastreabilidade do produto).
Periodicamente são efetuadas colheitas
de amostras para análises de resíduos de
pesticidas, pelo que aplicações incorretas são
detetadas e penalizadas. É compreensível
que quem aplica tem de ter formação para o
que está a fazer», adianta.
Por exemplo, «se for a uma cooperativa
verá que há um balcão que se dedica
apenas a isso, ao fornecimento de
determinados produtos, para não haver
misturas. O mercado tem sido cada vez mais
disciplinado».
Porém, ninguém se iluda, «apesar dos
produtos estarem estudados, quanto menos
químicos se aplicar melhor!».
Está a referir-se a soluções de ordem
biológica?
«Sim, trata-se de um mercado que emerge
e, em Portugal, é relativamente recente: isso
exige um consumidor mais esclarecido, mais
exigente, e que tenha também mais algum
poder de compra».
Assinala: «É um mercado que vai ser muito
interessante! Temos contacto com produtores
que já utilizam meios de luta biológica, tanto
em estufa, como em ar livre, e obtêm bons
resultados. Tem é de se saber trabalhar...».
Elucida: «Não se pode fazer uma largada de
auxiliares e, em seguida aplicar um inseticida.
O modo de produção biológico exige
conhecimento técnico neste domínio».
Já há livros de autores portugueses nesta
área «que dizem muito sobre estes aspetos».
Exemplifica: «Nos vinhos verdes já temos
quintas em modo de produção biológica. É
um produto muito valorizado, sobretudo para
exportação».
54 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
TTomilho e limonete no início do processo de investigação
eOs laboratórios ajudam a perceber que
«andar a tentar acertar no tratamento
de uma cultura por tentativas não é um
bom método»
Ai o vizinho
Avisos agrícolas
As doenças e pragas são influenciadas ano
após ano pelas condições meteorológicas
(temperatura e chuva). Isto é, num
ano o míldio da videira pode ser muito
preocupante, noutro ano nem tanto.
Os técnicos da Estação de Avisos Agrícolas
de Entre Douro e Minho fazem observações
de campo em diferentes culturas na região
e dispõem de um conjunto de estações
meteorológicas automáticas, o que
lhes permite indicar a época mais
oportuna de realização dos tratamentos
fitossanitários.
Os "Avisos Agrícolas" são enviados
gratuitamente via internet, ou através do
correio mediante o pagamento de uma
taxa.
Por vezes, há histórias caricatas. É o caso
de quando surgem pessoas «que chegam
até nós e pensam que o problema que lhes
apareceu resulta de um vizinho que quis
estragar as suas plantas. Na maior parte dos
casos não se trata de nada disso», acentua
Gisela Chicau.
Em nome da boa vizinhança, «são situações
frequentes que tratamos de esclarecer:
quando as plantas têm um problema na
raiz é frequente secarem de um dia para o
outro».
Nenhum indivíduo normalmente tem essa
perceção: «Quando os problemas se
desenvolvem no sistema radicular, como ele
está debaixo da terra, não os vemos. A raiz
vai sendo progressivamente tomada e fica
apodrecida – a planta perde capacidade de
absorver água e de se alimentar, e de um dia
para o outro seca. Em pleno verão acontece
muito!».
E «quando se trata de flora ornamental,
própria de jardins, há a tendência de pensar
que alguém foi ali derramar qualquer coisa
mal-intencionada...».
Além de qualquer dúvida, seja em casos
de verniz social seja dentro da tipologia das
culturas agrícolas com impacto económico
na região, a Divisão de Apoio ao Setor
Agroalimentar, sob a égide do Ministério da
Agricultura, está a servir o país e quem lê
estas páginas, mesmo que se desse o caso
de crer que as plantas estariam sempre de
boa saúde.
Texto Jorge Gomes
Fotos João L. Teixeira
Divisão de Apoio
ao Setor Agroalimentar
Quinta de S. Gens
Estrada Exterior da Circunvalação, 11846
4460-281 Senhora da Hora
Telefone
229 574 010
Correio eletrónico
[email protected]
www.drapn.min-agricultura.pt
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 55
Catarina Serra Gonçalves
56 REPORTAGEM
Biological Reserve of the Trumpets River
A giant green carpet dominates the northern portion of South
America: the Amazon, the pinnacle of the tropical forests. Thousands
of kilometers of Nature in its purest form: the refuge of the mighty
Jaguar, the Harpy Eagle and the enigmatic Freshwater Turtles, were
the main reasons for my visit and the central theme of this story.
Um gigantesco tapete verde domina a porção setentrional
da América do Sul: trata-se da Amazónia, o supra-sumo das
florestas tropicais. São milhares de quilómetros de natureza
no seu estado mais puro, refúgio do poderoso jaguar, da águia
hárpia e de enigmáticas tartarugas de água doce, razão da
minha visita, e tema central desta história
56 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
Ricardo Rocha
Ricardo Rocha
SCapivara, Hydrochoerus hydrochaeris
SArara-canindé, Ara ararauna
Reserva Biológica
do Rio Trombetas
aventura começou com uma
longa viagem de avião. Seguiuse outra, desta vez mais curta.
Mudaram-se as malas para
um barco e serpenteamos pelo imponente
Amazonas. Somos regados por chuvas
torrenciais, sacudidos pelo vento até que,
dois dias depois e debaixo de um implacável
calor equatorial, alcançamos o nosso destino
no coração da Amazónia brasileira. Esta é a
Reserva Biológica do Rio Trombetas, lar de
algumas das mais importantes populações de
tartarugas de rio do continente sul-americano.
No primeiro dia tudo era novidade. Apesar
do cansaço, todo e qualquer movimento
suscitava curiosidade, aguçando-nos os
sentidos. A ânsia de descobrir os primeiros
animais era muita, afinal de contas, a reserva,
com uma área quatro vezes e meia superior
ao nosso Parque Nacional do Gerês, abriga
uma fatia considerável das mais populares
espécies amazónicas. Algumas destas não
se tardaram a revelar, as anhingas, aves
primitivas semelhantes aos nossos corvosmarinhos, deixavam-se avistar facilmente
enquanto pescavam junto à margem, e por
vezes mantendo-se em cima de um tronco
de asas abertas a secar as suas penas. O
seu nome, “anhinga”, tem origem no Tupi
(língua nativa) e significa ave-cobra. Quando
a vemos a nadar apenas com o seu longo
A
Ricardo Rocha
TAnhinga, Anhinga anhinga: o nome tem origem numa língua
nativa e significa ave-cobra
pescoço baloiçando fora de água facilmente
percebemos o porquê de tão exótica
denominação.
As conspícuas ciganas Opisthocomus
hoazin também não passam despercebidas
enquanto saltitam de árvore em árvore junto à
margem. Partilham com as anhingas o ar préhistórico, parecendo resultar de uma exótica
mistura entre um faisão e uma galinha, de
faces azuis e uma grande crista avermelhada.
Têm baixas habilidades de voo e as suas
crias possuem um par de garras funcionais
que apenas desaparecem quando chegam
à maturidade permitindo que, em caso de
queda do ninho, consigam facilmente trepar
de regresso à segurança – os predadores que
patrulham as águas fazem com que o leito do
rio não seja um lugar amistoso para pequenas
aves indefesas.
Desfeitas as mochilas está na hora de organizar
os trabalhos de campo. Os próximos meses
serão passados na companhia da equipa do
projeto "Tartarugas da Amazónia: Conservando
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 57
58 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
SIaçá, Podocnemis sextuberculata
motor abafava o chilrear dos pássaros que
saltitavam nos arbustos junto à margem.
À medida que éramos impelidas rio fora
ganhávamos uma visão panorâmica da
floresta. Víamos verde, muito verde, apenas
rasgado pelo azul das águas do rio Trombetas
que, conjugado com o amarelo da areia
depositada nas suas margens e com o
vermelho do céu matinal se combinava numa
paleta de cores digna do mais requintado dos
artistas.
O rio é o lar das tartarugas mas estas estão
longe de constituir os seus únicos habitantes.
Lontras, ariranhas, capivaras, golfinhos,
manatins (aqui conhecidos como “peixesTJacaré-de-lunetas, Caiman crocodilus
Ricardo Rocha
para o futuro". O projeto, desenvolvido pela
Associação de Icitiólogos e Herpetólogos
da Amazónia (AIHA) em conjunto com o
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazónia
(INPA) e em parceria com o Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio), órgão que administra a reserva,
combina investigação sobre a história
natural das espécies com sensibilização das
populações locais para a problemática do
comércio ilegal de ovos e carne de tartaruga,
uma das principais ameaças à conservação
destes répteis ancestrais. São diversas as
espécies de tartarugas que podem ser ali
encontradas. A estrela da reserva é a maior, a
tartaruga-da-amazónia Podocnemis expansa.
Trata-se da maior tartaruga de água doce da
América do Sul, chegando a pesar 90 kg.
Entre as tartarugas de água doce há uma
particularidade interessante: é das poucas
espécies em que a desova ocorre em grupo.
Todos os anos, centenas de tartarugas-fêmea
emergem do rio para depositar os seus ovos
nas praias ao longo do rio Trombetas, uma
espécie de arribada, mais característica das
praias da América Central do que das margens
de um rio.
Mas não será com esta espécie que irei
trabalhar. As “minhas” tartarugas são as
tracajá Podocnemis unifilis e as pitiú P.
sexturbeculata - parentes próximas das
tartarugas-da-amazónia que, apesar das suas
dimensões mais modestas, são igualmente
apreciadas na gastronomia local. A caça
destes animais não é um fenómeno recente
- já os índios utilizavam tartarugas na sua
alimentação. Contudo, após a chegada dos
europeus o consumo excessivo de ovos
e adultos de ambas as espécies levou a
uma redução drástica dos seus números,
elevando-as atualmente à categoria de
vulneráveis no que toca à sua extinção.
Trabalhar com tartarugas de água-doce na
Amazónia implica acordar cedo, muito cedo.
Todos os dias despertávamos antes das seis
da manhã, tomávamos um rápido “café-damanhã” e somente quando chegávamos
ao pequeno cais em frente à estação o sol
começava timidamente a dar sinais da sua
graça, pintando o horizonte numa gradação
de vermelho torrado. Na reserva não existem
estradas, as viagens fazem-se de lancha
(“voadeira” como por lá eram apelidadas) e
assim que começávamos viagem o som do
Ana Romero
58 REPORTAGEM
boi”), anacondas e jacarés também se
banham por estas águas. Destes os únicos
que vislumbramos com frequência são as
duas espécies de golfinho, o tucuxi Sotalia
fluviatilis e o boto-rosa Inia geoffrensis, que
não rara vez nos brindam com os seus saltos
e os jacarés, tanto o jacaré-de-lunetas Caiman
crocodilus como jacaré-açu Melanosuchus
niger, o maior crocodiliano da América do
Sul que, sendo capaz de chegar aos cinco
metros e meio de comprimento, é senhor
incontestável destas águas. A todos estes
juntam-se centenas de espécies de peixe,
largas dezenas de aves aquáticas e anfíbios
e eis que temos uma das mais ricas e
complexas faunas fluviais do planeta.
Para trabalhar para a conservação das
tartarugas temos de trabalhar com as
populações locais. Aqui os locais são os
Quilombolas, descendentes de escravos
que terão fugido das antigas plantações de
açúcar e encontrado refúgio em quilombos à
beira-rio. São pessoas simples, acolhedoras,
de conversa fácil e de sorriso rasgado.
Trabalhamos em nove praias. Todas as
praias têm uma família, todas as famílias
têm crianças, todas as crianças ajudam no
Rafael Bernhard
Catarina Serra Gonçalves
Ana Romero
STracajá, Podocnemis unifilis
SIaçá, Podocnemis sextuberculata
trabalho com as tartarugas – assim se forma
a próxima geração de conservacionistas
amazónicos! Ajudam-nos a encontrar os
ninhos, a contar os ovos e as crias, a pesar e
a fazer medições – são verdadeiros cidadãoscientistas, guardiões de praias e protetores
das tartarugas. Sem eles tamanha tarefa
nunca seria possível, apenas com a sua
colaboração é possível realizar investigação
em tão larga escala.
Numa das praias que visitamos diariamente
vivem o senhor Manuel e a dona Margarida.
Os seus filhos já se mudaram para a cidade
faz muito, mas o casal por cá permaneceu.
“Gosto é de estar entre a natureza”, diznos o senhor Manuel enquanto bebemos
um (doce) café preparado pela sua esposa.
Acrescenta: “Aqui estamos muito melhor,
temos os nossos bichinhos, a nossa casinha,
isto é uma maravilha!”. Foram dos primeiros
STracajá, Podocnemis unifilis
a colaborar no projeto… pelas suas mãos já
terão passado milhares de pequenos tracajás
e pitiús, partilham de um amor imenso pelas
tartarugas refletido todas as manhãs na alegria
com que nos recebem.
Os pais e avós que coordenam o trabalho
das famílias nas praias estão bem cientes
que as tartarugas estão a desaparecer dos
rios. “Contam os antigos que na época seca
os barcos não conseguiam subir o rio por
bater em tanta tartaruga”, conta Manuel
dos Santos (Socó como é conhecido pelos
seus), adicionando: “Se não as conservarmos
acabarão… não passarão de uma lenda para
os nossos netos, uma lenda como tantas
outras que existem por essa Amazónia fora”.
Felizmente Socó, o senhor Manuel, a dona
Margarida, todos os outros Quilombolas e
as várias entidades envolvidas no projeto
viram o seu trabalho árduo e dedicação
recompensados. Em 2012 o Trombetas
ganhou 50 mil filhotes de tartarugas… e eu,
eu ganhei a experiência de uma vida.
Texto Catarina Serra Gonçalves
e Ricardo Rocha
TCardeal-da-amazónia, Paroaria gularis
Reserva Biológica
do Rio Trombetas
Praça da Feirinha s/n.º Porto
Trombetas Oriximiná
CEP 68 275-000 Brasil
www.icmbio.gov.br
Ricardo Rocha
(0055)+(93)+3549-7698/7377
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 59
60 BLOCO DE NOTAS
Avifauna
do Estuário
do Cávado
Muitos se interrogarão sobre o significado do
estatuto fenológico das aves, mas quem não sabe
que as andorinhas chegam na primavera para se
reproduzirem, os melros estão entre nós todo o
ano, os bandos de patos povoam as nossas zonas
húmidas durante o inverno e os pintassilgos passam
em migração pelo Litoral Norte no outono?
fetivamente, a fenologia trata de
um aspeto da vida das plantas e
dos animais a que todos estamos
acostumados, em particular se nos
referirmos às aves e à época do ano em que
habitualmente ocorrem na nossa região.
Porém, para lá deste saber mais ou menos
proverbial, desde cedo os principiantes
em observação de aves selvagens sentem
necessidade em desenvolver este tema,
até porque disso depende o seu êxito na
localização e identificação das diferentes
espécies.
Aprendem, assim, a chamar de estivais ou
nidificantes às andorinhas-das-chaminés
(Hirundo rustica) e às que as sucedem nos
seus esforços reprodutores, como as poupas
(Upupa epops) ou as alvéolas-amarelas
(Motacilla flava).
Também descobrem que algumas só
procuram abrigo no nosso país enquanto
invernantes, ou seja, nos meses frios, tais
como as marrequinhas (Anas crecca), os
abibes (Vanellus vanellus) ou as petinhas-dosprados (Anthus pratensis).
Neste vaivém constante, outras há que
pouco se demoram. São as migradoras
de passagem que embora possam ser
detetadas em trânsito em quase todos os
meses do ano, se avistam sobretudo em abril
e maio a caminho do Norte para criarem a
descendência, como as seixoeiras (Calidris
canutus) ou os fuselos (Limosa lapponica),
E
e desde agosto ou setembro de regresso a
África, como os chascos-cinzentos (Oenanthe
oenanthe) ou os papa-moscas-pretos
(Ficedula hypoleuca). Se não considerarmos
as tão ansiadas espécies ocasionais, raras ou
acidentais, restam, por fim, as residentes, das
quais se destacam pela abundância ou maior
visibilidade as fuinhas-dos-juncos (Cisticola
juncidis) ou os cartaxos-comuns (Saxicola
rubicola).
Outras espécies, porém, estão representadas
no nosso território por mais do que um tipo
de população. Exemplo disto são as águiaspesqueiras (Pandion haliaetus). Algumas
ocorrem como invernantes e outras apenas
passam em migração.
Assim, desde que em finais do século
passado morreu um dos membros do último
casal nidificante em Portugal, por regra
apenas são observadas entre setembro e abril.
Mas em janeiro de 2012 juntaram-se duas
invernantes no estuário do Cávado, uma delas
ostentando no tarso esquerdo uma anilha de
cor preta com a inscrição «3SP».
A partir de então foram aqui vistas quase
diariamente a capturarem tainhas e
grandes solhas e faziam-no a tal ritmo que
pareciam estar a acumular energias para
uma longa viagem. Nada disto provocaria
espanto se, como seria esperado, tivessem
debandado no desencadear dos primeiros
eventos fenológicos associados ao período
reprodutor. As crias dos borrelhos-de-coleiraSEsta águia-pesqueira apanhou uma tainha
60 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
Alberto Calheiros
SPerspetiva da águia-pesqueira a caçar
interrompida (Charadrius alexandrinus)
começavam a eclodir, todos os grandes
bandos de maçaricos-galegos (Numenius
phaeopus) já tinham passado para as
núpcias e ambas as rapinas teimavam em
continuar por cá em pleno mês de maio.
Houve até quem sugerisse tê-las visto em
rituais de cortejamento. Estaríamos prestes a
testemunhar o regresso da águia-pesqueira
como nidificante?
Facilmente se pode confirmar neste estuário
ao longo de um ciclo anual que alguns
indivíduos de outras aves também invernantes
e migradoras, como os pilritos-comuns
(Calidris alpina) ou os borrelhos-grandes-decoleira (Charadrius hiaticula), se detêm pela
nossa faixa costeira quando já “deveriam”
estar no Norte a acasalar.
É sabido, no entanto, que se trata de imaturos
não aptos para a reprodução e que, por tal,
não encetam aquela viagem ou apenas a
cumprem parcialmente.
E a chegada dos dados da anilha «3SP»
enquadrava aquele indivíduo nesta explicação.
Era, de facto, um juvenil anilhado no ninho em
junho de 2011 no Nordeste da Alemanha.
Entretanto sem par, continuou pelo Cávado,
foi-se cruzando com outras congéneres mais
fugazes, voltou a partilhar estas águas com
a mesma companheira na época seguinte e,
enfim, sem descendência, acabou por partir
na primavera de 2013. Esperemos que até
breve!
Por Jorge Araújo da Silva
www.verdes-ecos.blogspot.com
SÁguia-pesqueira: captura de uma solha
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 61
62 MIGRAÇÕES
Petromyzon marinus (Linnaeus, 1758)
Lampreia-marinha
A lampreia-marinha (nome científico: Petromyzon marinus Linnaeus, 1758) é
uma espécie migradora dita “anádroma”, isto é, nasce no rio, vive durante a
fase adulta no mar e volta ao rio para se reproduzir: está presente no Atlântico
Norte e na parte Ocidental do mar Mediterrâneo enquanto adulta
s lampreias nascem nas águas
límpidas e rápidas dos rios
europeus e da América do Norte.
Os ovos são muito sensíveis
à poluição e servem de alimento a várias
espécies aquáticas.
Estes ovos darão origem às larvas, que se
denominam por “amocetes”. Por serem tão
diferentes ao longo da vida, no passado os
amocetes e as lampreias eram considerados
espécies distintas!
É que os amocetes vivem enterrados no fundo
dos rios durante cerca de quatro anos e não
têm olhos, nem dentes e alimentam-se de
seres microscópicos. Posteriormente, com
cerca de 15 cm de comprimento, é que sofrem
uma metamorfose e já conseguem ver e nadar
melhor.
Além disso, durante esta transformação física,
as “novas” lampreias desenvolvem um “disco
oral”, com várias filas de dentes. Com este
disco, as lampreias começam a alimentar-se
por parasitismo, fixando-se a peixes, dos quais
sugam sangue para retirar os nutrientes.
Nesta fase, as lampreias também já estão
prontas para viver em zonas com mais
salinidade, tais como os estuários ou o mar. A
alimentação por parasitismo continua assim
durante a fase adulta propriamente dita, já em
alto mar, por um ano ou mais!
Há diversas espécies que são hospedeiras de
lampreias, tais como os sáveis, salmões, e até
tubarões ou mamíferos marinhos como baleias!
A
62 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
A viagem das lampreias durante a vida adulta
depende da viagem dos seus hospedeiros, no
entanto alguns estudos científicos sugerem que
as populações de lampreias estarão delimitadas
dentro de “grandes bacias oceânicas”.
Após a fase marinha, as lampreias adultas com
cerca de um metro de comprimento, conseguem
detetar os rios saudáveis onde já crescem
amocetes em grande abundância.
É nesses rios que elas preferem realizar a
migração reprodutora, podendo não ser
exatamente os mesmos rios onde elas próprias
nasceram.
Nesta fase, as lampreias já não se alimentam
e apenas consomem as reservas energéticas
acumuladas durante a fase marinha.
A migração normalmente ocorre entre finais
de dezembro e maio, mas depende de várias
condições, tais como a temperatura da água ou
o caudal dos rios.
No nosso país, ocorre com maior frequência
entre finais de fevereiro e meados de abril.
É de salientar que o acesso às zonas de
postura está muitas vezes limitado pela
existência de barragens e outros obstáculos!
É por esta altura que as lampreias são
capturadas pelos pescadores nos rios
portugueses, por serem tão apreciadas
gastronomicamente.
Para isso, são utilizadas várias artes de pesca,
tais como as redes verticais (por exemplo, os
tresmalhos ou lampreeiras) ou armadilhas (por
exemplo, os botirões).
Por estas razões, o seu estatuto de
conservação é de Vulnerável em Portugal.
As lampreias que conseguem superar com
êxito todas as dificuldades para alcançar as
zonas de postura têm aí um comportamento
bastante interessante. Fixam e arrastam
seixos com o disco oral, formando autênticos
“ninhos” com cerca de um metro e meio de
diâmetro no leito dos rios. Daqui vem o nome
em latim “Petromyzon”, ou seja, sugadora
(“myzon”) de pedras (“petro”). É o macho que
inicia a formação do ninho, sendo depois
acompanhado pela fêmea, com a qual realiza
várias vezes a cópula, enrolando-se à volta dela
e fecundando os ovos. O macho e a fêmea
investem muito na reprodução e acabam por
morrer para garantir a preservação da sua
espécie!
Texto Mário Jorge Araújo/CIIMAR
Fase larvar
e metamorfose
+ fase reprodutora
Fase larvar
e metamorfose
+ fase reprodutora
Fase adulta
parasitária
Migração reprodutora do mar para o rio
Migração do rio para o mar
Curiosidades
“Lampreia, a invasora”
f Apesar de não ser nativa nos
Grandes Lagos, a lampreiamarinha está presente nestas
grandes massas de água do
continente norte-americano.
Nessa região, as lampreias
passam toda a vida em água
doce.
as distinguem evolutivamente
dos peixes comuns, e por
isso diz-se que são autênticos
fósseis vivos! Ao contrário
dos peixes “verdadeiros”, as
lampreias possuem uma boca
sem mandíbula, não possuem
escamas nem barbatanas pares
e têm sete pares de orifícios
branquiais em vez de um par.
“A lampreia, um peixe
que não é bem um peixe”
“Histórias…”
f Apesar de também ser um
vertebrado aquático, as lampreias
possuem características que
f Plínio no seu livro Naturalis
Historia IX contava que um antigo
imperador de Roma torturava até
à morte os escravos em lagos
com lampreias. Esta era uma
história fantasiosa que explorava
o lado desconhecido e o aspeto
estranho das lampreias, mas era
tão exagerada que nem os seus
contemporâneos acreditavam
nela…
“Consumo da lampreia
e outras histórias”
f Desde o tempo dos romanos
que se consomem lampreias
marinhas. Por ser um alimento
de difícil digestão e fortemente
apreciado nas cortes reais,
a morte do rei Henrique I
de Inglaterra foi atribuída ao
exagerado consumo de estufado
de lampreia. Talvez por essa
razão se tenha perdido o hábito
do consumo de lampreia-marinha
no Norte da Europa...
Alguma bibliografia utilizada:
«Livro Vermelho dos Vertebrados
de Portugal», edição ICNB.
«Lampreys Life without Jaws»,
Forrest Text, Reino Unido.
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 63
64 RETRATOS NATURAIS
Vamos desenhar...
(macro)algas
Microalga
(Dunaliella sp.)
Macroalga
(Undaria pinnafitida)
Desenhar plantas,
como já vimos,
é poder traduzir
em linha e cor todos os
seres fotossintetizantes
(autotróficos),
independentemente
da sua dimensão (visível,
ou não, a olho nu),
ou meio em que vivem
(terrestres, ou aquáticas,
dulciaquícolas/marinhas)
64 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
m termos de evolução, dita
o conhecimento atual que os
primeiros ensaios e “esboços” das
plantas começaram a desenhar-se
sob a redoma protetora da água, na forma
multi-expressiva que hoje denominamos
como algas. Parece pois justo dedicar um
dos capítulos desta rubrica à ilustração
destes seres e à luz dos cânones da ciência
e da sua objetiva figuração — a ilustração
ficológica, um dos vários subdomínios da
ilustração científica.
As macroalgas fascinam o Homem desde
tempos imemoriais, graças em muito à forma
como ondulam ao sabor das correntes e
marés, numa dança hipnótica e ritmada. Por
outro lado, os arranjos das suas frondes e talos
depositadas num fundo homogéneo de areias
amarelo-esbranquiçadas, assim dispostas ao
acaso pelas ondas que as humedecem e lhes
dão brilho anímico, criam o necessário enlevo
bucólico capaz de evocar um quadro sem
E
moldura. Fluem assim cadências de design,
de que o Homem desde cedo se procurou
apropriar levando-as consigo e incutindo-lhes o
seu próprio e egoístico conceito de ordem e/ou
estética — primeiro colhendo sistematicamente
as que são diferentes na cor, na forma e na
arquitetura orgânica, criando os seus algários
de algas secas e prensadas em papel, e
também acabando por as perpetuar através da
ilustração, gravura e/ou pintura.
Olhando para aquilo que obras seculares
nos mostram, as algas só começaram a
ser vistas, através do objetivo prisma de
enfoque científico e como modelo diferente
do adorno ilustrado, em finais do século
XIX, principalmente. Por esta altura a obra
impressa era dominada essencialmente pela
florescente e mais produtiva estampagem
litográfica de sempre, como se comprova
pela edição de várias e maravilhosas obras,
um pouco por toda a Europa (França, Suíça,
Alemanha, Holanda, Dinamarca, Portugal).
4
Nelas, as algas e as macroalgas, em particular,
acabam por explodir num boom gráfico nunca
antes visto, com obras a elas dedicadas, em
exclusivo, ou então mistas e intercaladas entre
outras espécies de plantas terrestres e com
elas competindo visualmente. É então que
começam a ser instituídas — e paulatinamente
a ser aceites pela comunidade científica (até
porque muitos dos ficologistas acumulavam
em si a responsabilidade da sua figuração nas
obras que editavam e eram o corolário de uma
vida dedicada ao seu estudo, como aconteceu
com o eminente William Henry Harvey, autor da
renomada “Phycologia Britannica”, publicada
em cinco volumes profusamente ilustrados,
entre 1846 e 1851) — as regras e convenções
que hoje delimitam esta categoria da ilustração
botânica e as pranchas ficológicas.
Curiosamente e apesar de o domínio da
ilustração ficológica ter mais de 250 anos,
gera alguma incredibilidade o constatarse que praticamente nenhuma das obras
especializadas e publicadas mundialmente
nos últimos 70 anos sobre ilustração científica,
ou mesmo sobre ilustração biológica, lhe
devotou a necessária atenção. Essa lacuna
foi recentemente preenchida pela obra
“Macroalgas marinhas da costa portuguesa —
biodiversidade, ecologia e utilizações” (Leonel
Pereira & Fernando Correia; em publicação
e Prémio do Mar Rei D. Carlos, da edição de
2013).
Sendo as macroalgas formas vegetais com
relativamente baixa complexidade anatómica
externa, é certo que para se criar uma estampa
ficológica será preciso ter em conta que poderá
existir variabilidade entre formas reprodutoras
Chondrus crispus (Filo Rhodophyta, Ordem Gigartinales)
A
B
5
6
3
7
1
Anatomia externa de macroalgas
de talo ereto
A - Palmaria palmaria
B - Laminaria ochroleuca
1. Disco de fixação
2. Rizóides
3. Proliferações
e não-reprodutoras de uma mesma espécie e/
ou entre espécies de grupos diferentes (tipo
de talos, maciços ou não, tipo de ramificação,
com ou sem estipe, etc.); poderá ter que se
desenhar um habitat (pelo menos o substrato
de fixação – se por meio de ápteros, disco
de fixação, epífitas ou não, etc.); por vezes,
como auxiliar identificativo, é também
necessário desenhar detalhes diagnosticantes
ampliados, geralmente das estruturas/células
reprodutoras (oogónios e anterídeos contidos
nos concetáculos; esporófitos/esporângios;
gametófitos/gametângio, cistocarpos, etc.) e/
ou das paredes celulares (tipo de células do
córtex, presença/ausência de mucilagem no
talo, filamentos, etc.) observadas à lupa, ou em
cortes e ao microscópio ótico composto.
Regra geral, a ilustração científica de uma
macroalga começa sempre com um desenho
preliminar a grafite (obtenção do contorno/
silhueta e pormenores morfológicos mais
significativos, respeitando a escala métrica), a
partir da observação direta de um exemplar
da espécie em causa, fresco ou então seco
e conservado em algário (que pode ser
conveniente re-hidratar em água do mar, por
forma a ter uma percepção volumétrica mais
próxima de como seria in vivo). Nesta fase
de ensaios gráficos deve-se decidir qual o
tipo de visualização a imprimir ao talo/hábito
da macroalga — ou mais estático e próximo
de modelo conservado em algário, ou então
mais “dinâmico”, natural e ondulante, como
se estivesse a acompanhar as ritmadas
correntes marinhas, que esbracejam as suas
ramificações, frondes ou lâminas. De seguida
2
4. Ápices
5. Lâminas
6. Axilas
7. Estipe
devem ser pormenorizados os detalhes
anatómicos: como terminam as frondes, qual a
sucessão e ritmo de divisão das ramificações e/
ou divertículos, como são as nervuras (de onde
partem, sua espessura, cor e onde terminam),
ou a espessura do talo (nas suas várias partes,
como estipe, frondes, lâminas, etc.), ou os
aerocistos, ou as estruturas reprodutoras
(posição, forma, textura e densidade), etc.
Só depois devem ser feitos os primeiros
estudos de volumetria/textura/ornamentação/
transparência, recorrendo à dicotomia
contrastante entre as áreas iluminadas e as
ensombradas (umbra, ou sombra; penumbra
— geralmente utilizando lápis de grafite, em
traços, ou mancha), bem como de tintagem
(ou com tinta-da-china, ou com a cor do risco
dos lápis, ou das pinceladas de aguarela,
guache ou acrílicos, ou ainda através das
técnicas de pintura digital). Convém ter sempre
em mente que este tipo de ilustração não é
de pendor artístico e tem como objetivo que
quem aprecie essa ilustração científica consiga
aferir informações pertinentes sobre a espécie
em causa, como auxiliar visual comparativo
capaz de futuramente agilizar a diagnose e
identificação das algas, encontradas num
qualquer passeio à beira-mar.
Texto e ilustrações
Fernando Correia
Biólogo e ilustrador científico
Dep. Biologia, Universidade de Aveiro
[email protected]
www.efecorreia-artstudio.com
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 65
Madalena Madeira
66 PESQUISA
S Lagoa dos Cântaros
66 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
Ainda há
sapos
no topo da serra
as esta história já havia
começado há um tempo
atrás. Estávamos no verão de
2009 e Ibone Anza, estagiária
no CERVAS, fazia uma caminhada por
entre os trilhos que desbravam a serra. Já
ao aproximar-se da lagoa do Covão das
Quelhas deparou com o mais devastador
dos cenários… a manchar a deslumbrante
paisagem glaciar, dezenas de pequenos
sapos mortos polvilhavam as águas e
margens da lago, em pleno coração do
Parque Natural da Serra da Estrela.
O alerta foi dado de imediato ao investigador
espanhol Jaime Bosch do Museu Nacional
de Ciências Naturais de Madrid, com vasta
experiência neste tipo de casos. As análises
M
Gonçalo M. Rosa
Ao passear pela serra
da Estrela no cair da
noite, um estranho
silêncio é notório…
os típicos “assobios”
que melodiosamente
enchiam os nossos
ouvidos deixaram
de se escutar…
inconfundíveis coros
do sapo-parteirocomum (Alytes
osbtetricans) durante
a reprodução já não
dominam a banda
sonora que se fazia
sentir nos meses
de primavera
aos cadáveres revelaram uma infeção
causada por um fungo, tornando-se este o
principal suspeito de tal mortalidade.
A quitridiomicose é uma doença provocada
por um fungo microscópico, Batrachochytrium
dendrobatidis, sendo reconhecida, na
atualidade, como uma das mais preocupantes
ameaças globais ao frágil grupo dos anfíbios.
O fungo, que se pensa ter tido origem
na África do Sul, ter-se-á posteriormente
espalhado pelo resto mundo com a “ajuda” do
Homem. Segundo a IUCN (União Internacional
para a Conservação da Natureza), este tem
o potencial de causar declínios populacionais
massivos numa questão de semanas,
tendo conduzido já a extinções, não só de
populações mas mesmo de espécies, com
SLarva de sapo-parteiro-comum
Gonçalo M. Rosa
TSapo-parteiro-comum morto na água
T S Indivíduo adulto de sapo-parteiro-comum
o primeiro caso de infeção na Europa a ser
registado em 1997 na serra de Guadarrama,
em Espanha.
De acordo com registos e relatórios relativos
à década de 90, o sapo-parteiro-comum
era uma das espécies de anfíbios mais
abundantes na serra da Estrela! Em certos
pontos de água na zona do Planalto Superior
da serra era possível contar milhares de
girinos de grandes dimensões!
Nos dois anos que se seguiram, iniciouse então uma monitorização em riachos,
tanques, lagoas e represas da serra, onde se
sabia ter ocorrido sapo-parteiro. O objetivo
era perceber a distribuição do fungo na zona
e qual o impacto que teria este tido nas
populações de sapo-parteiro, olhando para a
atual distribuição e abundância da espécie.
Os resultados deste estudo recentemente
publicado na revista «Animal Conservation»
apontam para um cenário bastante
preocupante: hoje em dia os números de
girinos encontrados não vão além de uma ou
duas dezenas, para os poucos lugares onde
ainda é possível encontrá-los. Em poucos
anos desapareceram da maioria dos pontos
onde habitavam (quase 70%), e o quitrídio
terá tido um maior impacto na população dos
sapos-parteiros acima dos 1200 metros de
altitude.
Este fungo aquático, que se fixa na boca
dos girinos e na pele dos pequenos sapos
metamorfoseados, têm uma predileção por
temperaturas mais baixas, tirando partido
dos verões amenos tendencialmente mais
longos da serra. Daí se explica também o
seu maior impacto a maiores altitudes. Este
é considerado o primeiro caso de declínio
de uma espécie de anfíbios em Portugal
mediado por uma doença. Em poucos anos,
o sapo-parteiro-comum criou um vazio no
maior “hotspot” de biodiversidade do país,
deixando um silêncio pairar durante a época
de acasalamento, altura em que machos e
fêmeas faziam as suas “cantorias”.
O Alytes obstetricans é um sapo bem
conhecido pelos cuidados parentais dos
machos que transportam os ovos às costas
até à sua eclosão (daí o seu nome comum). É
nesta altura que se aproximam de um ponto
de água para libertar os girinos. Quando por
fim completam a metamorfose, os pequenos
sapos saem da água e passam a ter uma
vida totalmente terrestre, procurando abrigo
debaixo de pedras e troncos.
Os anfíbios desempenham um papel
essencial no ecossistema, situando-se
no meio da cadeia alimentar. Milhares de
girinos invernantes, “grandes e gordos”,
numa lagoa representam uma parte
considerável da biomassa e são um recurso
nutricional para um elevado número de
espécies, desde invertebrados a serpentes
e aves.
Estes novos dados colocam as populações
de anfíbios de altitude, em particular o sapoparteiro-comum, em estado crítico. Dada
a semelhança deste caso com o cenário
na serra de Guadarrama, prevê-se que nas
zonas mais altas da Estrela a população
possa sofrer uma redução ainda maior. Um
acompanhamento contínuo no local bem
como análises de viabilidade populacional
são essenciais. Mais amplamente, o
risco que a quitridiomicose manifesta
nas comunidades de anfíbios em toda a
Península Ibérica representa um desafio
crucial para os gestores da vida selvagem
e levanta uma necessidade urgente de
otimização das estratégias de conservação,
que poderá passar por uma componente
de reprodução em cativeiro e protocolos de
tratamento para indivíduos infetados.
Por Gonçalo M. Rosa – CBA-UL, DICE-UK
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 67
68 EXÓTICOS
Rã-de-unhas-africana
fungo
cítrico
“Está uma rã amarela na ribeira,
já viste?”, comenta a técnica
do CEARGaia.
“Não será uma rã-verde
mais amarelada?”
ma pesquisa visual pela ribeira do
Espírito Santo (Miramar, Vila Nova
de Gaia) não deu resultados.
Para além das habituais rãverde (Pelophylax perezi), só tinham sido
identificados no local o tritão-de-ventrelaranja (Lissotriton boscai) e a salamandra-depintas-amarelas (Salamandra salamandra).
Alguns dias passados e surge uma família
na exposição “Fauna e Flora das Ribeiras de
Gaia” interessada em saber se existia alguma
rã amarela na nossa anfibiofauna, pois tinham
acabado de observar uma lá fora na ribeira.
Analisada a foto, compreende-se a urgência
em capturar aquela rã amarela, uma espécie
exótica, ou seja, não nativa do nosso país.
Galochas nos pés e camaroeiro na mão, a rã
de coloração amarela clara e olhos vermelhos
confirmou ser um adulto albino com 10 cm de
Xenopus laevis, a rã-de-unhas-africana.
Com honras de selo na Tanzânia e Ilhas
Comores, e tendo sido o primeiro animal
a ser clonado, esta é uma rã originária da
África subsariana facilmente identificável. Se
não fosse albina apresentaria cor castanha
ou olivácea com pequenas manchas.
Não possui pálpebras, língua, dentes ou
ouvido externo, captando as vibrações pela
linha lateral, tal como os peixes. O corpo
achatado dorsoventralmente adquire uma
forma hidrodinâmica ajudando-a a ser uma
boa nadadora, visto ser uma rã aquática.
Tem garras negras em três dedos das
patas traseiras para ajudar a despedaçar
68 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
João L. Teixeira
U
o alimento e uma boca larga que atesta a
sua voracidade, alimentando-se de insetos,
moluscos, lagostins, peixes e anfíbios.
Atingem os 13 cm, sendo as fêmeas maiores
que os machos.
Devido ao exaustivo estudo e conhecimento
da sua biologia é largamente utilizada como
modelo em estudos científicos e também
para testes de gravidez em humanos (anos
40 e 50), o que explica a sua exportação,
dispersão pelo mundo e existência de
populações não controladas iniciadas por
indivíduos que escaparam de laboratórios.
Atualmente, encontra-se dispersa como
espécie exótica invasora em França, Sicília,
Reino Unido, Alemanha, Holanda, Israel, Chile,
México, EUA, Venezuela, Brasil e Indonésia.
A introdução desta espécie na natureza
representa uma ameaça à conservação
dos anfíbios nativos, não só através da
competição e da predação mas também
por ser um vetor do fungo cítrico
(Batrachochytrium dendrobatidis) que provoca
ameaça à
a quitridiomicose, fatal para os anfíbios e ao
qual esta espécie é imune.
Por estes motivos, qualquer indivíduo desta
espécie encontrado na natureza deverá
ser capturado, mantido em cativeiro e a
ocorrência comunicada ao Instituto da
Conservação da Natureza e das Florestas.
Em Portugal foram já localizadas populações
invasoras, em duas ribeiras no concelho de
Oeiras, cujo plano de erradicação e deteção
de quitridiomicose foi posto em prática pela
Faculdade de Ciências da Universidade de
Lisboa (FCUL) desde 2010.
Indivíduos albinos desta espécie podem ser
encontrados à venda em lojas de aquariofilia,
por um módico preço, sem que haja
informação de base e teste prévio ao fungo
Ana Jervis Cunha
SXenopus laevis em quarentena no CEARGaia (17.jun.2009)
anfibiofauna portuguesa
da parte do vendedor. O facto de só serem
vendidos albinos justifica-se para em caso de
fuga para a natureza, aumentar a possibilidade
de controlo natural da rã por predadores
devido à ausência de camuflagem e também
pelo interesse acrescido do público por
animais coloridos fora do comum.
Infelizmente, sabemos que muitos animais
comprados em lojas, à semelhança do que se
passa com as tartarugas aquáticas, acabam
por ser libertados ou por fugir para a natureza,
provocando grandes impactes nos nossos
ecossistemas.
É preferível encaminhar estes animais exóticos
para uma instituição competente, como o
Parque Biológico de Gaia, do que abandonálos na natureza. Como exemplo, à custa desta
atitude está em curso o programa LIFE Cágados, numa parceria do Parque Biológico,
CIBIO-UP e RIAS, entre outras instituições,
com o objetivo de capturar os cágados
exóticos das nossas águas e reproduzir e
reintroduzir as duas espécies de cágados
autóctones.
O investigador da FCUL, Gonçalo Rosa, fez
o teste de despistagem de fungo cítrico à rãde-unhas-africana capturada em Gaia, bem
como a três outras, provenientes de cativeiro
e entregues pelo proprietário no Parque,
tendo os resultados sido negativos.
No entanto, chama-se a atenção do leitor
para a importância de colaborar na prevenção
da disseminação de doenças, evitando
qualquer contacto de animais exóticos e do
material associado (aquários, redes, água,
etc.) com os anfíbios nativos ou com os seus
habitats. Recomenda-se também a todas as
pessoas que visitam habitats de água doce
que desinfetem (lixívia/álcool/calor) as mãos e
todo o material que tenha tido contacto com
a água ou com anfíbios, quer entre diferentes
locais quer no final de cada visita.
Texto Ana Jervis Cunha (1)
e Jael Palhas (2)
(1)
Curadora de aquários da Estação Litoral da Aguda (ELA) na
exposição Fauna e Flora das Ribeiras de Gaia no CEARGaia e
monitora de Educação Ambiental na ELA.
(2)
Investigador do CIBIO – Centro de Investigação em
Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do
Porto.
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 69
70 EXÓTICOS
Caranguejo-verde-europeu
quando
são de cá
as espécies
invasoras
que estão lá
A colonização de novos ecossistemas
por espécies invasoras é um processo
que pode ocorrer naturalmente, contudo
tem aumentado de intensidade nos últimos
anos com o auxílio do Homem
esde há muitos anos que
ocorre a introdução intencional
de espécies exóticas, seja por
motivos estéticos, recreativos,
ou no sentido de potenciar a economia
local. No entanto, há introduções que são
consequência do comércio internacional de
organismos vivos e do tráfego internacional
de navios, que descarregam as “águas de
lastro” em países afastados da sua origem.
As espécies aquáticas acabam por ser
aquelas que têm uma maior capacidade de
dispersão e de uma forma pouco visível.
Quando estas espécies se multiplicam para
além da nossa capacidade de controlo,
estamos perante uma invasão biológica.
As invasões biológicas são dos principais
fatores responsáveis pela alteração global
da biosfera, modificando a estrutura
e funcionamento dos ecossistemas.
Neste sentido, discute-se atualmente
sobre a eventual “homogeneização” dos
D
70 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
ecossistemas à escala global, onde apenas
as espécies mais resistentes prevalecerão.
O caranguejo-verde-europeu (Carcinus
maenas) é considerado uma espécie
invasora em vários locais do mundo,
causando avultados prejuízos económicos
e ecológicos. Encontra-se, inclusivamente,
na lista das “100 Piores Espécies Invasoras
do Mundo” da Organização Internacional
de Conservação da Natureza (IUCN). No
entanto, esta espécie é nativa em Portugal e
tem por cá valor conservacionista, pelo que
interessa preservá-la!
O caranguejo-verde nasce em mar aberto,
migrando posteriormente para o fundo das
zonas costeiras e estuarinas, onde passa
a fase adulta. Esta espécie atinge os nove
centímetros de largura e pode viver até sete
anos. Caracteriza-se por comportamentos
agressivos e hábitos alimentares omnívoros
vorazes.
O caranguejo-verde encontra-se presente
ao longo de toda a costa portuguesa e nos
estuários. A nível global, a sua distribuição
nativa estende-se desde o Leste do mar
Báltico, Sul da Islândia e Noruega Central até
aos países do Norte de África (Marrocos e
Mauritânia).
Enquanto espécie invasora, a sua dispersão
ter-se-á iniciado por volta de 1817 e
intensificou-se nos últimos 25 anos, estando
presente em ambas as margens do
Atlântico, Pacífico Leste, assim como nas
costas da África do Sul, Austrália e Ásia. A
dispersão das larvas deste crustáceo é por
si só bastante eficiente, mas os fenómenos
naturais extremos (tais como o “El Niño”) e
outros fatores de origem humana também
terão contribuído para o seu estabelecimento
em novos ecossistemas.
Em alguns locais, o caranguejo-verde não
conseguiu estabelecer populações com
sucesso (tais como no Mar Vermelho, Sri
Lanka, Hawaii ou Paquistão) devido às
SCaranguejo-verde-europeu Foto de Allan Souza
O caranguejo-verde-europeu habita o sapal do rio Minho durante a fase adulta Foto de Carlos Antunes
condições inadequadas para o recrutamento
e crescimento.
As invasões pelo caranguejo-verde tornaramse num motivo de grande preocupação
uma vez que a introdução desta espécie em
determinadas áreas do Globo tem provocado
impactos significativos na pesca, na
aquacultura e nos ecossistemas. O impacto
económico do caranguejo-verde na pesca
e aquacultura de bivalves e crustáceos nos
Estados Unidos e Canadá é estimado em
várias dezenas de milhões de dólares por
ano.
A teoria da “Facilitação das Invasões
Biológicas” tem justificado várias sequências
de invasões, sugerindo que algumas
espécies exóticas, ao entrarem num
determinado ecossistema, facilitam a invasão
por outras espécies exóticas.
Assim, a invasão pelo caranguejo-verde
em determinados locais terá resultado da
invasão de outras espécies, e além disso
também terá contribuído para a introdução
de espécies onde previamente não existiam.
Por outro lado, também já foi registado
o desaparecimento de espécies nativas
de moluscos devido às invasões pelo
caranguejo-verde. O seu potencial invasor
deriva, em grande parte, da ampla resistência
a diversos fatores ambientais, tais como a
capacidade de tolerar elevadas gamas de
temperatura e salinidade e de escassez de
oxigénio na água.
Texto Mário Jorge Araújo/CIIMAR
Bibliografia: Lowe, S., M. Browne, S.
Boudjelas. 2000. 100 of the world’s worst
invasive alien species: A selection from the
Global Invasive Species database. The World
Conservation Union (IUCN). Klassen, G., A.
Locke. 2007. A biological synopsis of the
European green crab, Carcinus maenas. Can.
Man. Rep. Fish. Aquat. Sci. 2818: 75 pp.
Simberloff, D., B. Von Holle. 1999. Positive
interactions of nonindigenous species:
Invasional meltdown? Biological Invasions
1(1): 21-32.
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 71
72 ATUALIDADE
Os olhos das
libélulas
Segundo um estudo realizado por cientistas
de Adelaide, na Austrália, os insetos da
ordem Odonata demonstram possuir
capacidades cerebrais conhecidas até
à data em primatas, nomeadamente a
atenção seletiva.
Esta característica faz com que consigam
concentrar a atenção numa presa inserida
num enxame de alternativas, sem a
perderem de vista durante a captura.
Sendo assim, conseguem evitar reagir
a visualizações mais atrativas durante o
processo predatório, o que lhes atribui o
condão de conseguirem ser predadores
com elevados níveis de êxito.
Os cientistas confessam que não
esperavam deparar com um dispositivo
neurológico complexo nas libélulas.
Se se der o caso de avançarem nesta linha
de investigação, acreditam poder contribuir
para um melhor domínio científico do
funcionamento neuronal: este “know-how”
tem várias aplicações práticas, sendo uma
delas a robótica.
No universo dos insetos X
as libélulas enquadram-se
no grupo Odonata
Peixes reproduzidos
em cativeiro
Gafanhoto novo
para a ciência
Um estudo relatado num artigo da
publicação “Zoological Journal of
the Linnean Society”, 2013, 168,
29–60, levou à descrição de duas
novas espécies de gafanhoto,
sendo uma delas nova para a
ciência e nova para Portugal.
Ficou a chamar-se
Sphingonotus nodulosus.
72 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
O Aquário Vasco da Gama, o Centro de
Biociências do ISPA e a Quercus procederam
à libertação no meio natural de alguns milhares
de peixes autóctones reproduzidos
em cativeiro.
Estas ações ocorreram em diversos cursos de
água do Oeste, da Grande Lisboa
e no Sul do país.
Em 2 de abril do corrente ano, em S. Luís,
Odemira, libertaram-se escalos do Mira e
bogas do Sudoeste na ribeira do Torgal,
afluente do rio Mira. Em 6 de abril, foi a vez
João L. Teixeira
Interligar a natureza
e as pessoas
Está em prática na Bélgica a ideia de
transformar velhas áreas industriais em
áreas verdes, no fito de criar postos de
trabalho para a população local e reintegrar
a natureza nas atividades humanas.
A entidade que está por trás desta filosofia
é a IUCN (União Internacional para a
Conservação da Natureza).
Em 2012 o Governo belga estimulou o
retorno da natureza aos cenários urbanos
criando legislação para esse efeito.
Trata-se de uma filosofia de coexistência
pacífica entre a cidade e a vida selvagem.
Um exemplo prático desta ideia costuma
ser representado pelo já existente Hoge
Kempen National Park, criado há meia dúzia
de anos na região Leste deste país, com
cerca de 5700 hectares.
Tornou-se um raro exemplo de cooperação
entre unidades industriais, governo e
organizações ambientalistas.
Apesar do seu pequeno tamanho, a Bélgica
acolhe muita biodiversidade. São mais de
35 mil espécies de animais, plantas, fungos
e outros seres vivos. Perto de dois terços
destas espécies são animais, sendo os
insetos os mais numerosos: 4500 espécies
de escaravelhos, 4500 espécies de moscas
e mosquitos, 2400 espécies de borboletas
diurnas e noturnas, entre outros.
da localidade de Odelouca, em Silves, que
recebeu escalos do Arade na ribeira de
Alferce, afluente desse rio. Em 9 de abril,
em Oeiras decorreu a libertação de bogaportuguesa na ribeira da Lage. Por fim, em
16 de abril, em Canal Caveira, Grândola,
houve libertação de boga-portuguesa na
ribeira de Grândola, afluente do rio Sado.
No Bombarral, na região Oeste de Portugal,
foram encontrados numerosos fósseis de
tartaruga correspondentes à espécie Testudo
hermanni datados do Paleolítico Médio
(29000/26500 anos).
O achado deveu-se ao trabalho dos
investigadores Emiliano Jiménez Fuentes, João
Luís Cardoso e Eduardo Gonçalves Crespo.
Esta presença amplia consideravelmente a
área de distribuição desta espécie de réptil no
passado, embora atualmente não conste das
listagens lusitanas de biodiversidade.
Jorge Gomes
Fósseis de tartaruga
no Bombarral
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 73
74 PROJETO
PAR
Cada dia que passa há mais empresas e cidadãos a confiarem
ao Parque Biológico de Gaia o sequestro de carbono
Ajude a neutralizar os efeitos das emissões de CO2, adquirindo área
de floresta em Vila Nova de Gaia com a garantia, dada pelo Município,
de a manter e conservar e de haver em cada parcela a referência
ao seu gesto em favor do Planeta
Para mais informações pode contactar
pelo n.º (+351) 227 878 120
ou em [email protected]
Parque Biológico de Gaia,
Projeto Sequestro do Carbono
4430-681 Avintes • Vila Nova de Gaia
Sequestro de Carbono
Agrupamento de Escolas Ovar Sul - Curso EFA
B3 • Agrupamento Vertical de Escolas de Rio
Tinto • Alice Branco e Manuel Silva • Alunos
do 9.º ano (2012/13) da Escola Secundária
do Castelo da Maia • Amigos do Zé d’Adélia
• Amigos do Zé d’Adélia e Filhos • Ana Filipa
Afonso Mira • Ana Luis Alves Sousa • Ana Luis
e Pedro Miguel Teixeira Morais • Ana Miguel
Padilha de Oliveira Martins • Ana Paula Pires
• Ana Rita Alves Sousa • Ana Rita Campos,
Fátima Bateiro, Daniel Dias, João Tavares e
Cláudia Neves do 11.º A (2009/10) da Escola
Secundária de Oliveira do Douro • Ana Sofia
Magalhães Rocha • Ana Teresa, José Pedro
e Hugo Manuel Sousa • António Miguel da
Silva Santos • Arnaldo José Reis Pinto Nunes
• Artur Mário Pereira Lemos • Bárbara Sofia e
Duarte Carvalho Pereira • Bernardete Silveira
• Carolina de Oliveira Figueiredo Martins •
Carolina Sarobe Machado • Carolina Birch •
Catarina Parente • Cipriano Manuel Rodrigues
Fonseca de Castro • Colaboradores da Costa
& Garcia • Cónego Dr. Francisco C. Zanger •
Convidados do Casamento de Joana Pinto e
Pedro Ramos • Cursos EFA Básicos (2009/10)
da Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes
Ferreira Alves • Deolinda da Silva Fernandes
Rodrigues • Departamento Administrativo
Financeiro da Optimus Comunicações, SA DAF DAY 2010 • Departamento de Ciências
Sociais e Humanas da Escola Secundária de
Ermesinde • Departamento de Matemática e
Ciências Experimentais (2009/10) da Escola
Secundária de Oliveira do Douro • Dinah Ferreira
• Dinis Nicola • Dulcineia Alaminos • Eduarda
e Delfim Brito • Eduarda Silva Giroto • Escola
Básica da Formigosa • Escola Dominical da
Igreja Metodista do Mirante • Escola EB 2,3
de Valadares • Escola EB 2,3 Dr. Manuel Pinto
Vasconcelos, Projecto Pegada Rodoviária
Segura, Ambiente e Inovação • Escola EB 2,3
Escultor António Fernandes de Sá • Escola
Secundária Almeida Garrett - Projecto Europeu
Aprender a Viver de Forma Sustentável •
Escola Secundária Augusto Gomes • Escola
74 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
Secundária do Castelo da Maia • Família
Carvalho Araújo • Família Lourenço • Fernando
Ribeiro • Francisco Gonçalves Fernandes
• Francisco Saraiva • Francisco Soares
Magalhães • Graça Cardoso e Pedro Cardoso •
Grupo ARES - Turma 12.º B (2009/10) da Escola
Secundária dos Carvalhos • Grupo Ciência e
Saúde no Sec. XXI - Turma 12.º B (2009/10) da
Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira
Alves • Grupo de EMRC da Escola Básica D.
Pedro IV - Mindelo • Guilherme Moura Paredes
• Hélder, Ângela e João Manuel Cardoso • Inês,
Ricardo e Galileu Padilha • Joana Fernandes
da Silva • Joana Garcia • João Guilherme
Stüve • João Monteiro, Ricardo Tavares, Rita
Mendes, Rita Moreno, e Sofia Teixeira, do 12.º
A (2011/12) da Escola Secundária Augusto
Gomes • Joaquim Pombal e Marisa Alves •
Jorge e Dina Felício • José Afonso e Luís António
Pinto Pereira • José António da Silva Cardoso
• José António Teixeira Gomes • José Carlos
Correia Presas • José Carlos Loureiro • José da
Rocha Alves • José, Fátima e Helena Martins •
Lina Sousa, Lucília Sousa e Fernanda Gonçalves
• Luana e Solange Cruz • Manuel Mesquita •
Maria Adriana Macedo Pinhal • Maria Carlos
de Moura Oliveira, Carlos Jaime Quinta Lopes
e Alexandre Oliveira Lopes • Maria de Araújo
Correia de Morais Saraiva • Maria Guilhermina
Guedes Maia da Costa, Rosa Dionísio Guedes
da Costa e Manuel da Costa Dionísio • Maria
Helena Santos Silva e Eduardo Silva • Maria
Joaquina Moura de Oliveira • Maria Manuela
Esteves Martins Alves • Maria Violante Paulinos
Rosmaninho Pombo • Mariana Diales da Rocha
• Mário Garcia • Mário Leal e Tiago Leal •
Marisa Soares e Pedro Rocha • Marta Pereira Lopes
• Mateus de Oliveira Nunes Miranda Saraiva • Miguel
Moura Paredes • Miguel Parente • Miguel, Cláudia e
André Barbosa • Nuno Topa • Paula Falcão • Pedro
Manuel Lima Ramos • Pedro Miguel Santos e Paula
Sousa • Professores (2010/11) da Escola Secundária
de Oliveira do Douro • Professores e Funcionários
(2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro
• Protetores do Ambiente Professores e Alunos da
Escola Básica de Canidelo • Regina Oliveira e Abel
Oliveira • Ricardo Parente • Rita Nicola • Sara Pereira
• Sara Regueiras, Diana Dias, Ana Filipa Silva Ramos
do 11.º A (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira
do Douro • Serafim Armando Rodrigues de Oliveira •
Sérgio Fernando Fangueiro • Tiago José Magalhães
Rocha • Tiago Pereira Lopes • Turma A do 6.º ano
(2010/11) do Colégio Ellen Key • Turma A do 8.º ano
(2008/09) da Escola EB 2,3 de Argoncilhe • Turma
A do 9.º ano (2009/10) da Escola Secundária de
Oliveira do Douro • Turma A do 11.º ano (2010/11)
da Escola Secundária de Ermesinde • Turma A
do 10.º ano e Professores (2010/11) da Escola
Secundária de Oliveira do Douro • Turma A do 12.º
ano (2010/11) da Escola Secundária de Ermesinde •
Turma C do 10.º ano (2010/11) da Escola Secundária
de Ermesinde • Turma D do 10.º ano e Professores
(2010/11) da Escola Secundária de Oliveira do
Douro • Turma D do 11.º ano (2010/11) da Escola
Secundária de Ermesinde • Turma E do 10.º ano
(2008/09) da Escola Secundária de Ermesinde
• Turma E do 12.º ano (2010/2011) da Escola
Secundária de Ermesinde • Turma G do 12.º ano
(2010/11) - Curso Profissional Técnico de Gestão do
Ambiente do Agrupamento de Escolas Rodrigues
de Freitas • Turma IMSI do Curso EFA - ISLA GAIA
(2008/09) • Turmas A e C do 10.º ano (2009/10) da
Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turmas A
e C do 11.º ano; A e B do 12.º ano e Professores
(2010/11) da Escola Secundária de Oliveira do Douro
•Turmas B e C do 12.º ano - Psicologia B (2009/10)
da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turmas
B e D do 11.º ano (2009/10) da Escola Secundária de
Oliveira do Douro • Turmas A, B e G do 12.º ano; G
e H do 11.º ano e F do 10.º ano (2010/11) da Escola
Secundária de Ermesinde • Vânia Rocha
Posto de Abastecimento
de Avintes
Para aderir a este projeto recorte o seguinte rectângulo e remeta para:
Parque Biológico de Gaia • Projeto Sequestro do Carbono • 4430 - 681 Avintes • Vila Nova de Gaia
O regulamento encontra-se disponível em www.parquebiologico.pt/sequestrodocarbono
Pretendo/Pretendemos aderir à Campanha Confie ao Parque Biológico de Gaia o Sequestro do Carbono
apoiando a aquisição de
m2 de área florestal X € 50 =
Junto se envia cheque para pagamento
euros.
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Parques e Vida Selvagem verão 2013• 75
76 BIBLIOTECA
“Os Pescadores”
de Raul Brandão
Não é uma publicação científica esta obra
de Raul Brandão, pelo menos na correta
aceção da palavra, é, isso sim,
uma dedicada obra aos homens do mar
D
onde se retira para a Casa do Alto, quinta
próxima de Guimarães, onde viria a produzir
a maior parte da sua obra literária. Em
paralelo desenvolveu uma intensa atividade
jornalística com frequentes deslocações
a Lisboa onde colaborava em diversas
publicações.
Considera-se que a par de Fernando
Pessoa, Brandão foi figura tutelar na
evolução da literatura portuguesa do século
XX, influenciando gerações de escritores e
novelistas contemporâneas e posteriores à
sua.
Esta obra está entre as centenas de obras
que o Parque Biológico mantém no seu
fundo bibliográfico. Através de compra ou
doação, o Parque está a juntar um espólio
ilustrativo da história natural portuguesa. Sob
marcação pode consultar estas obras.
Encontra o catálogo completo no sítio do
Parque Biológico no botão Biblioteca:
www.parquebiologico.pt
Quando lhe for conveniente, pode marcar a
sua visita através do e-mail atendimento@
parquebiologico.pt ou através do 227878120.
Por Filipe Vieira
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PARQUES E VIDA SELVAGEM
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concorrentes termina já em 30 de setembro!
2013 • 11.ª edição
O projeto Raízes Bibliográficas da História Natural de
Portugal (RBHNP), em desenvolvimento pelo Parque Biológico
desde 2008, visa reunir publicações antigas sobre a história
natural de Portugal e das ex-colónias portuguesas, com as
quais o Parque tem protocolos de cooperação.
Pode consultar o catálogo de publicações em
www.parquebiologico.pt clicando em Biblioteca.
ou no Facebook
www.facebook.com/parquebiologicodegaia
Pedro Caldas Cardoso
“
o extremo norte ao Algarve,
toda a costa reluz em cores
de frescura admirável... São
os seus irmãos pescadores,
gente do mesmo sangue que o seu e que o
escritor conhece e compreende à maravilha”
como diz Manuel Mendes no prefácio desta
obra de Raul Germano Brandão, prosador,
ficcionista e dramaturgo, pintor, militar e
jornalista, famoso pelo realismo das suas
descrições. Este livro reúne num conjunto de
crónicas o exigente labor dos pescadores e a
vida nas principais comunidades piscatórias
portuguesas, recorrendo muitas vezes a uma
linguagem pitoresca e poética num estilo
que caracteriza tão bem o autor nascido em
1867 no Porto, filho e neto de homens do
mar (esta obra é dedicada ao seu avô, morto
no mar), com uma infância marcada pela
paisagem física e humana da zona da Foz do
Douro.
Este livro espelha bem as memórias e ainda
acrescenta retratos falados de uma atividade
económica humana típica da costa portuguesa
e que nem sempre conhecemos bem.
Raul Brandão frequentou o curso superior
de Letras e ingressou mais tarde na carreira
militar, tendo sido colocado em Guimarães, de
CRÓNICA 77
Jorge Paiva
Biólogo
Centro de Ecologia Funcional
da Universidade de Coimbra
[email protected]
Ecossistemas rupícolas
II
A relevância
da flora do Litoral
Como referimos
(Introdução) as plantas
dos ecossistemas
rupícolas do litoral
marítimo são aerohalinas, apresentam
um característico
hábito em coxim, são
predominantemente
xerófitas e aromáticas,
variando a
composição florística
dos ecossistemas
consoante as condições
climáticas do Norte para
o Sul do país, assim
como com a altitude
e natureza do material
rochoso onde
vegetam
as, seja qual for a composição do
maciço rochoso, a planta mais
comum nos alcantilados marítimos
e capaz de suportar imersões
esporádicas das ondas é o funcho-marítimo
(Crithmum maritimum). Como é uma planta
simultaneamente aromática [pertence à família
das umbelíferas, que são todas aromáticas,
sendo muitas utilizadas para aromatizar a
comida, como a salsa (Petroselinum crispum)
e os coentros (Coriandrum sativum)] e salgada
M
SPlantas com hábito em coxim; Echo Valley, Table Mountain
National Park, África do Sul
TPlantas com hábito em coxim - Açores, Santa Maria,
miradouro de São Lourenço
(aero-halina) é utilizada em saladas nalguns
países. É também conhecido por perrexildo-mar, particularmente nos Açores, onde,
por ser muito comum e abundante no litoral
predominantemente rochoso deste arquipélago,
ainda é muito utilizado como alimento ou
como condimento, geralmente conservado em
vinagre (conserva denominada nalgumas ilhas
por curtume). Antigamente, os pescadores
açorianos levavam-no como alimento para o
mar, podendo também ser consumido frito.
Ainda hoje, muitos dos emigrantes açorianos,
depois de visitarem a respetiva ilha natal, levam
consigo frascos desta conserva (curtume),
assim como o levam os familiares que visitam
os emigrantes nos países onde labutam.
O litoral marítimo rochoso em Portugal
Continental encontra-se principalmente a Norte
de Espinho, um pouco na Beira Litoral (Serra
da Boa Viagem), Estremadura Meridional,
Sudoeste Alentejano e Barlavento Algarvio.
Aí predominam plantas rupestres xerófilas
e aero-hialinas, que só recebem águas dos
nevoeiros, do orvalho e das chuvas. Devido
à intensidade do vento na costa ocidental,
frequentemente em regime de nortada, nos
ecossistemas rupícolas, as plantas lenhosas
(subarbustos, arbustos e até as pequenas
árvores que aí vegetam), para não perderem
muita da água orgânica, apresentam hábito em
coxim, como, por exemplo, o comum tojo-arnal
(Ulex europaeus), o tojo-gatunho (Ulex densus)
das arribas calcárias da Arrábida e arredores
de Lisboa e o endémico tojo-de-sagres (Ulex
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 77
78 CRÓNICA
SCynomorium coccineum, parasita de quenopodiáceas,
Praia da Rocha
erinaceus) e pequenas árvores como a aroeira
(Pistacia lentiscus). Nestes ecossistemas estão
sempre presentes leguminosas, como, por
exemplo, os referidos tojos, que enriquecem o
solo de azoto, por terem uma simbiose radicular
(nodosidades) com cianobactérias (fixadoras de
azoto). O mesmo acontece nos ecossistemas
dunares, mas com outras leguminosas,
particularmente herbáceas, como, por exemplo,
as luzernas-das-areias (Medicago marina e
Medicago littoralis) e o trevo-rasteiro-das-praias
(Lotus arenarius).
Nas arribas calcárias existem muitas plantas
calcícolas como, por exemplo, o alecrim
(Rosmarinus officinalis), o sal-puro ou belaluz (Thymus mastichina) e o tomilho-algarvio
(Thymus camophoratus) e nas graníticas,
areníticas ou metamórficas, as silicícolas, como,
por exemplo, a sabina-das-praias (Juniperus
turbinata).
Muitas das plantas herbáceas e lenhosas
na base, que ocorrem nestes ecossistemas
rupícolas litorais, também apresentam hábito
em coxim, como, por exemplo, algumas
das nossas maçacucas [a erva-marítima
(Armeria welwitschii) dos rochedos e areias
marítimas entre o Cabo Mondego e Cascais;
o craveiro-romano (Armeria pseudarmeria),
um endemismo dos substratos graníticos ou
basálticos do Cabo da Roca, e o craveirodas-berlengas (Armeria berlenguensis), um
endemismo dos rochedos graníticos das
Berlengas] e o, já citado, funcho-marítimo
(Crithmum maritimum).
Nas arribas litorais calcárias há diferenciação
florística nítida não só entre as do Norte e as
do Sul, como entre as da costa ocidental e
as da costa sul algarvia. Assim, por exemplo,
as assembleias-bravas (Iberis procumbens
subsp. microcarpa) ocorrem apenas nas arribas
marítimas da Beira Litoral e da Estremadura (a
subsp. procumbens é das areias); as arribas
78 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
SPlantas com hábito em coxim e icnofósseis de dinossauro (iguanodonte), no cabo Espichel
calcárias viradas a sul da Serra da Arrábida
apresentam plantas tipicamente macaronésicas,
como a malva-marítima (Lavatera maritima),
a juliana-laciniada (Hesperis laciniata), o
endemismo (Convolvulus fernandesii) e a
Fagonia cretica, enquanto que nas falésias
calcárias expostas a Norte do Cabo Espichel
não apresentam plantas macaronésicas,
mas atlânticas, como a rasteira (Frankenia
laevis), o cardo-azul (Eryngium dilatatum) e a
eufórbia (Euphorbia portlandica) e as falésias
calcárias do Barlavento Algarvio apresentam
plantas tipicamente mediterrânicas, muitas
delas endemismos, como o já citado tomilhoalgarvio (Thymus camophoratus) e onde ocorre
uma planta parasita muitíssimo rara na nossa
costa, nas arribas calcárias da Praia da Rocha,
parasitando a salgadeira (Atriplex halimus),
ali conhecida pelo vernáculo piça-de-mouro
(Cynomorium coccineum). Finalmente, o
Promontório Vicentino, essencialmente calcário,
é muito rico em endemismos, como Centaurea
vicentina, Hyacinthoides vicentina e Biscutella
sempervirens subsp. vicentina.
Nas arribas marítimas, rochosas e vulcânicas
das ilhas dos Açores e Madeira, ainda não
delapidadas de vegetação, as plantas nativas
apresentam igualmente hábito em coxim, mas
são componentes da Laurisilva. Para os Açores
exemplificamos com típicos endemismos
lenhosos, como a subarbustiva vidália (Azorina
vidalii), pequenas árvores ou arbustos como
o pau-branco (Picconia azorica), a urze (Erica
azorica), até a murta (Myrtus communis) e
herbáceas, como a erva-leiteira (Euphorbia
azorica) e o bracel-da-rocha (Festuca petraea),
algumas leguminosas, como a serradelarasteira (Ornithopus pinnatus). Para a Madeira
são exemplos o barbuzano (Apollonias
barbujana), o marmulano (Sideroxylon
marmulano), o zambujeiro (Olea maderensis),
os bucho-da-rocha (Chamaemeles coriacea
e Maytenus umbellata) o jasmineiro-branco
(Jasminum azoricum), o jasmineiro-amarelo
(Jasminum odoratissimum), o maçaroco
(Echium nervosum), uma eufórbia nas ravinas
junto ao mar (Euphorbia piscatoria), as
estreleiras (Argyranthenum pinnatifidium subsp.
succulentum) e (Argyranthemum haematomma)
e o piorno endémico (Teline maderensis),
pertencente às leguminosas, plantas muito
relevantes nestes ecossistemas, como já foi
referido. Tal como nos Açores também ocorrem
gramíneas nas arribas do litoral madeirense,
como, por exemplo, os bracel-da-rocha
(Festuca jubata e Festuca donax).
Nos ecossistemas rupícolas do litoral das
regiões tropicais e subtropicais, as plantas
apresentam as mesmas características,
mas pertencem a outras espécies e até a
famílias que não vegetam na Europa (a não
ser introduzidas), como, por exemplo, as
SAzorella compacta, Reserva Nacional
de Salinas y Aguada Blanca, no Peru
SMangal na maré baixa - Parque Nacional las Baulas, Costa Rica
Proteáceas e as Aizoáceas na África do Sul e
na Austrália. Também aí ocorrem leguminosas
nitrificantes, como, por exemplo, acácias
(todas as espécies da acácias que ocorrem
em Portugal foram introduzidas, pois não há
acácias nativas europeias).
Nas falésias das regiões árticas e antárticas,
as plantas apresentam igualmente hábito em
coxim, mas são herbáceas como, por exemplo,
nas falésias das ilhas Kerguelen, situadas no
Oceano Índico, a Sul de Madagáscar (48º-50ºS
e 68º-71ºE), entre a África do Sul e a Austrália,
em que as plantas são idênticas às que vimos
nos Andes, como a Azorella selago (o que
aliás testemunha que a ilha esteve ligada ao
Continente Sul-americano), entre as quais se
estabelecem outras plantas, como a famosa
crucífera Pringlea antiscorbutica. Realmente
o género Azorella ocorre no Continente Sul
Americano (ex.: Azorella andina e Azorella
compacta), ilhas dos mares do Sul (ex.: Azorella
caespitosa das ilhas Malvinas) e Azorella
macquariensis das ilhas Macquarie, entre a
Tasmânia e Nova Zelândia).
TSapal do estuário do rio Sado, Tróia (zona do parchal)
Sapais e mangais
Sapais e mangais são ecossistemas
implantados em plataformas abrigadas das
costas marítimas, particularmente na orla
de sedimentos areno-lodosos de estuários,
lagunas e até baías protegidas do impacto das
ondas, por “ilhas-barreiras”. Os mangais são
ecossistemas predominantemente arbóreos
das regiões tropicais e subtropicais, enquanto
os sapais são predominantemente herbáceos e
subarbustivos das regiões temperadas.
Qualquer destes ecossistemas é de elevada
biodiversidade sendo extremamente relevante
a sua conservação por funcionarem não
só como “maternidades” piscícolas (muitas
espécies marinhas desovam neles), como
também como “creches” (muitas espécies
marinhas crescem neles até ao estado adulto).
Por outro lado há um elevadíssimo número
de seres vivos aquáticos (inúmeros quase
invisíveis à vista desarmada) que ali vivem,
constituindo a base de cadeias alimentares
de muitos animais (moluscos, peixes, aves e
até mamíferos, o homem incluído). Destruir
sapais e mangais é, no mínimo, acabar com
muitas espécies de peixes que fazem parte
da alimentação diária da Humanidade. Nestes
ecossistemas há muitos endemismos, alguns
muito característicos, como os caranguejosviolinos (Uca, com cerca de 100 espécies) dos
sapais e mangais, em que o macho tem uma
das pinças do 1.º par, muito maior e, muitas
vezes, vermelha, com que atrai as fêmeas [no
Algarve são utilizadas como marisco (designamnas por “bocas”); arrancam-nas e devolvem o
caranguejo ao sapal, onde ele regenera nova
pinça] e, nos mangais, os peixes-cabeçudos
(Periophthalmus, com cerca de 15 espécies),
anfíbios (respiração cutânea) e barbatanas
muito largas que lhes permitem andar no lodo,
saltar e subir (pelos rizóforos) às árvores.
Sapais
Como referimos, os sapais são
predominantemente herbáceos e subarbustivos
das regiões temperadas (latitudes entre o
Círculo Polar Ártico e o Trópico de Câncer
no Hemisfério Norte e entre o Círculo Polar
Antártico e o Trópico de Capricórnio no
Hemisfério Sul).
Tal como no litoral arenoso, estes ecossistemas
também apresentam comunidades vegetais
diferenciadas do mar para o interior e do Norte
para o Sul do continente português. Como
a orla dos sapais não é batida pelas ondas,
completamente imersas na água salgada
vegetam espermatófitas (monocotiledóneas)
como o sirgo ou limo-mestre (Ruppia maritima
e Ruppia cirrhosa) e o limo-de-fita (Zostera
marina, particularmente na costa ocidental e
Zostera noltii, na costa sul).
O parchal, a zona baixa do sapal, onde a
vegetação chega a ser coberta pelas águas
da maré-alta, é praticamente colonizado por
uma gramínea, a morraça (Spartina maritima),
frequentemente acompanhada por algas. Por
vezes, é quase substituída por outra gramínea,
a Puccinellia maritima e, nas margens do
estuário do Guadiana, pela Spartina densiflora.
A partir do parchal segue-se uma zonação
de sucessões vegetais, com predomínio de
quenopodiáceas halófitas, herbáceas (ex.: a erva
anual, Salicornia ramosissima), subarbustivas
e arbustivas. Junto da morraça instalam-se
as gramatas (Sarcocornia perennis em todo o
litoral, com duas subespécies: a subsp. perennis
nas zonas banhadas pela maré-alta e a subsp.
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 79
80 CRÓNICA
alpini nos locais não atingidos pela água do
mar; e a Sarcocornia fruticosa a sul do Tejo),
frequentemente acompanhadas pela gramatabranca (Halimione portulacoides), pelo valverdeda-praia (Suaeda albescens), em todo o litoral
e, no litoral sul a partir do estuário do Tejo, pela
barrilha ou valverde-dos-sapais (Suaeda vera)
e pelo Arthrocnemum macrostachyum. Entre
estas quenopodiáceas halófitas, vegetam,
muitas vezes, herbáceas de outras famílias,
como, por exemplo, o malmequer-das-praias
(Aster tripolium), o mata-jornaleiros (Aster
squamatus), a madorneira-bastarda (Inula
crithmoides) e os sapinhos (Spergularia marina e
Spergularia media).
No Norte, no sapal médio e alto, já não
alcançado pelas marés, devido à diminuição
da salinidade, resultante da maior pluviosidade
nessa região, verifica-se uma rápida
substituição da vegetação halófita pelos
juncos (Juncus acutus e Juncus maritimus),
enquanto que no Centro e Sul, os juncos só
ocorrem nas orlas mais afastadas do alto sapal.
Frequentemente, os juncos são acompanhados
por gramíneas adaptadas à salinidade, como
a Festuca rubra subsp. littoralis e Agrostis
stolonifera e ciperáceas, como Scirpus
holoschoenus e Schoenus nigricans. Nestas
zonas dos sapais do litoral ocidental do
Centro e Sul e no Algarve ainda predominam
quenopodiáceas que, embora halófitas, estão
adaptadas a solos com menor salinidade, como
a salgadeira (Atriplex halimus), e a barrilheira
(Salsola vermiculata) e plumbagináceas
arbustivas (Limoniastrum monopetalum) e
herbáceas (Limonium daveaui e Limonium
plurisquamatum, endémicos da Estremadura
e Limonium algarviense, endémico do Algarve
e Sul de Espanha). Como as quenopodiáceas
são produtoras de biomassa de elevado
rendimento (plantas C4), nos sapais do Sul
(do Tejo ao Algarve) aparece parasitando-as
a Cistanche phelypaea, de vistosas flores
amarelas.
Nos sapais das rias, a seguir à área dos juncos,
onde a água salgada e a doce se misturam,
predominam as ciperáceas, como o triângulo
(Bolboschoenus maritimus), frequentemente
acompanhado pelo bunho (Scirpus lacustris).
Com o aumento da proporção de água doce,
vão aparecendo as higrófitas características
dos pauis, como o já referido bunho, o caniço
(Phragmites australis) e as tabuas (Typha
domingensis, Typha angustifolia e Typha
latifolia).
Noutras regiões ocorrem outras espécies de
Spartina, de gramíneas, de quenopodiáceas
e de outras famílias, como, por exemplo, a
Spartina alterniflora que é nativa dos sapais
80 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
SPeixe-trepador Periophthlmus barbarus do mangal de
Malanza, São Tomé
SCaranguejo Uca tangeri - sapal de Pedras d’el Rei, Algarve
SPneumatóforos de Sonneratia alba, Pemba, Moçambique
das costas atlânticas do continente americano
(desde o Canadá ao Norte da Argentina).
adaptações não só para a oxigenação das
raízes (rizóforos que elevam a planta acima do
nível médio intermareal e pneumatóforos que
expõem as raízes ao ar durante a baixa-mar),
como para aproveitarem a água “expelindo”
o sal através da superfície foliar. Aliás, esta
característica também está presente nas
plantas dos sapais, por isso alguns povos
(holandeses, por exemplo) utilizam-nas na
alimentação, particularmente em saladas.
Uma outra característica de algumas árvores
dos mangais é a viviparidade, pois os frutos
começam a germinar ainda na árvore e, quando
se desprendem, levam já uma relativamente
longa raiz que perfura o lodo a direito, pois leva
no topo oposto uma coroa de sépalas que
funcionam como as penas de uma flecha (ex.:
espécies de Rhizophora, Ceriops, Bruguiera e
Pelliciera).
Apesar do género Rhizophora estar presente
em todos os mangais, as espécies variam
consoante o oceano que banha as costas.
Assim, nas costas atlânticas do continente
Americano e do continente Africano, ocorre
Rhizophora harrisonii, Rhizophora mangle e
Rhizophora racemosa; nas costas índicas
africanas e asiáticas, a Rhizophora mucronata,
nas costas pacíficas americanas e asiáticas,
a Rhizophora mangle e a Rhyzophora stylosa
Mangais
Como referimos, os mangais são ecossistemas
predominantemente arbóreos das regiões
tropicais e subtropicais, principalmente entre
as latitudes 25ºN (atingem os 30ºN no Sul
do continente Norte-americano e Antilhas)
e 25ºS (40ºS na Austrália e Nova Zelândia),
dependendo fundamentalmente da salinidade
e temperatura das correntes oceânicas.
Assim, por exemplo, os africanos atingem
a costa sudeste da África do Sul e na costa
ocidental não chegam ao litoral da África do
Sul, ocorrendo apenas até à costa central de
Angola, devido à corrente fria de Benguela,
que abrange o Sul da costa africana ocidental;
os americanos da costa pacífica não chegam
mais a Sul que o extremo Nordeste do Peru,
por causa da corrente fria de Humboldt. Os
mangais ocorrem no litoral de cerca de 120
países e, embora pareçam ecossistemas
homogéneos, compõem-nos cerca de 80
espécies de árvores (algumas até 80 m de
altura) e arbustos, com as rizoforáceas (géneros
Rhizophora, Bruguiera e Ceriops) presentes em
todos eles. As árvores dos mangais possuem
SViviparidade, fruto a germinar na árvore: Rhizophora
mucronata
TCistanche phelypaea
SCistanche phelypaea, parasita de quenopodiáceas,
estuário do Tejo
TMangal, maré-alta, Tanganangue, Moçambique
desde as costas da Índia até às da Australásia.
Com alguns dos outros géneros (Avicennia e
Lumnitzera, por exemplo) acontece o mesmo
(Avicennia germinans nas costas atlânticas
e Avicennia marina nas costas do Índico:
Lumnitzera racemosa, nas costas do Índico e
Lumnitzera littorea do Sul da Ásia à Austrália) e
alguns géneros não estão presentes em todos
os mangais, como, por exemplo, os géneros
Pelliicera (com uma única espécie Pelliciera
rhizophorae na costa pacífica americana),
Xylocarpus (Xylocarpus granatum nas costas
africanas e asiáticas do Índico, Xylocarpus
rumphii desde as costa africanas até às ilhas
Tonga e Xylocarpus moluccensis das Molucas),
Ceriops (Ceriops tagal das costas do Índico
e asiáticas do Pacífico e Ceriops decandra
com uma área mais restrita, desde a costa
oriental da Índia até à Malásia) e Conocarpus
(Conocarpus erectus das costas atlânticas e
pacíficas e Conocarpus lancifolius das costas
do Índico). Nos mangais também ocorrem
fetos (Acrostichun aureum) e plantas herbáceas
(exemplo, Acanthus ilicifolius, desde as costas
indianas às da Austrália e ilhas do Pacífico e
Acanthus ebracteatus, do Sudeste asiático à
Austrália).
(Continua no próximo número)
Parques e Vida Selvagem verão 2013• 81
82 COLETIVISMO
Abetarda
Embaixadora
de uma agricultura
sustentável
A abetarda é uma das mais belas aves
de Portugal. São muitos os birdwatchers
que visitam o nosso país apenas para ver
esta ave, que impressiona pelo porte, pela
dança dos machos e pelas plumagens
coloridas e vistosas. No ano em que
se discute a política agrícola comum, a
abetarda junta-se à SPEA no apelo por
uma agricultura mais sustentável.
A abetarda Otis tarda é uma ave de
grande porte. O macho, com os seus 16
quilos de peso, é a maior ave voadora da
Europa. As abetardas nidificam no solo
e os pintos nascem já com capacidade
de seguir os progenitores. São gregárias
todo o ano e, durante o acasalamento,
os machos juntam-se nas planícies
alentejanas, exibindo uma plumagem
branca, extremamente visível, que usam
para atrair as fêmeas.
É herbívora, consumindo folhas tenras,
rebentos, flores e também sementes. Os
pintos alimentam-se, numa fase inicial,
de insetos e outros invertebrados, e
com o crescimento passam para uma
dieta vegetal. Vivem em meios agrícolas
abertos, normalmente em mosaicos
de cereal de sequeiro, leguminosas,
restolhos, pastagens e pousios. Em
Portugal, ocorre quase exclusivamente
na planície alentejana, onde pode ser
observada em Castro Verde, Cuba, Capo
Maior, Vila Fernando e Mourão.
As ameaças
No espaço da União Europeia, as maiores
populações de abetarda encontramse em Espanha e em Portugal. Aqui, a
abetarda é classificada como espécie
“Em Perigo”. As principais ameaças
estão relacionadas com a alteração do
uso do solo e com a mortalidade por
causas não naturais. A intensificação
agrícola é particularmente grave devido
à substituição dos cultivos de sequeiro
por regadio e culturas permanentes. A
mortalidade causada por colisão com
cabos de transporte de eletricidade é
localmente muito negativa. É fundamental
que os troços mais negros da rede
elétrica nacional sejam sinalizados e que
82 • Parques e Vida Selvagem verão 2013
Ave do Ano
2013
a instalação de novas linhas seja bem
planeada.
A Política Agrícola Comum
A Política Agrícola Comum (PAC) é
determinante para a conservação da
abetarda e das outras espécies ameaçadas
dos sistemas agrícolas extensivos.
Necessitamos de uma PAC que promova
o desenvolvimento rural e que tenha
instrumentos para os agricultores que
queiram fazer uma agricultura com a
conservação da natureza e a proteção do
ambiente. Há mais de 50 anos que práticas
agrícolas nocivas poluem o nosso solo,
água e ar, e são subsidiadas e incentivadas
pela União Europeia, enquanto a agricultura
sustentável é esquecida.
Acreditamos que é hora de mudar a PAC,
de modo a apoiar as práticas agrícolas que
respeitem a natureza, produzam alimentos
saudáveis e de modo sustentável, para
as gerações futuras. Os eurodeputados
e o Governo português, neste ano, têm
o poder de votar uma PAC que não
desperdice o dinheiro dos contribuintes
e apoie a produção de alimentos através
de práticas agrícolas que salvaguardem
o solo e água e da existência de medidas
agroambientais eficazes. Acreditamos
que isso vai beneficiar os agricultores, a
sociedade atual e as gerações futuras.
Sociedade Portuguesa
para o Estudo das Aves
Avenida da Liberdade, n.º 105 - 2.º - esq.
1250 - 140 Lisboa
Tel.: 21 322 0430 / Fax: 21 322 04 39
[email protected] • www.spea.pt
Dia Mundial
do Vigilante
da Natureza
Celebrou-se no passado dia 31 de julho o
Dia Mundial do Vigilante da Natureza.
Nesta data realizaram-se atividades de
educação ambiental no percurso pedestre
do Pisão de Cima no Parque Natural de
Sintra-Cascais.
A ação teve em vista prestar uma
homenagem aos Vigilantes da Natureza de
todo o mundo e nela participaram crianças
com idades compreendidas entre os seis e
os 13 anos, segundo informação da APGVN.
O ICNF já recebeu uma proposta para que,
numa futura revisão do Regime Jurídico
da Conservação da Natureza, se preveja
a possibilidade de haver vigilantes da
natureza nas Reservas Naturais Locais,
nomeadamente no estuário do Douro.
É oportuno dar nota da relevância deste
serviço quando, noutro país europeu, o
duque de Cambridge envia uma mensagem
deste teor no dia em pauta: “Sinto-me
honrado em assinalar hoje nestas linhas o
valoroso trabalho dos Vigilantes da Natureza
em todo o mundo, com risco da sua
própria vida. Estou ciente da importância
deste serviço que consiste em proteger
as paisagens e as espécies de atividades
danosas como o abate ilegal de árvores ou a
caça furtiva, a localização de incêndios ou a
deteção precoce de doenças, bem como o
incentivo prestado à visita de turistas a locais
espantosos da Terra. Sem os Vigilantes da
Natureza o mundo seria muito diferente.
(...) Quero que saibam que neste dia o meu
pensamento está convosco - tendes a minha
total admiração. Feliz Dia Mundial!”
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e muita, muita Natureza!
a apenas 15 minutos
do centro de Vila Nova de Gaia
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