ÉTICA, EDUCAÇÃO E CIDADANIA NO MUNDO DOS NEGÓCIOS Elinaldo Leal Santos Bel. Em Administração de Empresa/UESC Mestre em Economia/UFBA Professor e Coordenador do Curso de Administração da FASB. E-mail [email protected] João Bosco Pavão Graduado em Filosofia/PUCC Mestre em Lingüística/Sorbone Doutor em Sociolinguística/Antropologia/Sorbone Diretor e professor da FASB e-mail [email protected] RESUMO O artigo procura examinar alguns pontos básicos do comportamento ético na atualidade, tendo o fim específico de compreender a formação dos administradores mediante a interdisciplinaridade e a transversalidade da ética no ensino da administração. O texto está dividido em tópicos que buscarão apresentar uma evolução teórica e histórica do conceito ético, aborda aspectos sobre ética, educação e cidadania; ética e moralidade; ética e capitalismo além de versar sobre a temática da ética como conteúdo transversal e interdisciplinar na formação do administrador. PALAVRAS CHAVES: ética, educação, interdisciplinaridade e formação do administrador. cidadania, transversalidade, 1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS O renascimento da questão Ética na contemporaneidade parte da própria exigência real de princípios que norteiam todos os momentos de nossa vida. A deontologia permeia todas as áreas de conhecimento e nós somos pouco conscientes da sua importância quando nos apropriamos e repassamos os conhecimentos específicos de cada disciplina. A Ética da Administração, a Bioética, a Ética Comunicacional, a Internética, assim como a Ética dos Negócios são preocupações prático-pedagógicas que levam a questão Ética à baila nos dias atuais.Mas, não se pode falar em Ética na Administração se não falarmos antes em Ética no Ensino da Administração. E isto envolve professores e alunos. 1 A interdisciplinaridade e a transversalidade da ética nos levam à convicção de que ela não pode ser separada da política, da economia, do direito. E isto significaria não separá-la do processo ensino-aprendizagem, e das disciplinas que integram qualquer estrutura curricular. As qualidades como coragem, fidelidade, prudência, etc., são próprias de todas as culturas humanas. No mundo ocidental, essas qualidades são designadas sob o termo de virtude. A virtude incide sobre a qualidade das pessoas, isto quer dizer que não é só agir bem, mas querer o bem. A virtude é adquirida através da educação e ela deve promover a convivência harmoniosa entre as pessoas. Diante do que se sabe atualmente sobre conhecimento moral, acreditamos ser mais lógico propor o foco da educação moral sobre as concepções que estudantes e professores têm sobre justiça, bem-estar e direitos, bem como a aplicação desses entendimentos morais aos comportamentos da vida cotidiana. Este artigo tem a pretensão de discutir alguns pontos relevantes da questão ética na atualidade, sobretudo no que concerne a formação do Administrador, as práticas educacionais e políticas voltadas ao desenvolvimento da moral e formação do caráter. 2 - ÉTICA, EDUCAÇÃO E CIDADANIA O Homem, segundo Kant, não é senão o que a educação faz dele. Entende-se, então, que a educação deve dar ao Homem condições para que possa conviver entre iguais, tornando-os sujeitos de direitos e deveres. OS homens estabelecem, para esta convivência, um compromisso ético-político entre si, variando conforme a época. Educar é socializar as novas gerações, conservando e transformando os valores dominantes daquela sociedade, e isto significa desenvolver as potencialidades dos indivíduos. É uma ação interativa que se faz mediante informações, comunicação e diálogo entre as pessoas, pois em toda educação há um outro em discussão, e assim a ética está implicada. Diante destas premissas, que relação existe entre a educação, a ética e a cidadania? Para responder a tal questionamento, faz-se necessário uma breve retrospectiva ao mundo grego, de forma que nos proporciona um maior número de conceitos e possibilita uma maior compreensão do fenômeno. A pedagogia , antes de ter autonomia , era parte integrante da ética e da política, e elaborada unicamente em atenção aos fins propostos pelo Estado. Pela sua natureza prática/empírica , a pedagogia referia-se ao primeiro adestramento da criança para a vida privada e pública. Este adestramento, passava necessariamente pela palavra , que instaura uma relação indireta entre as pessoas, mediatizada pelo conceito que tem uma dimensão ideológica. Daí a preocupação de Sócrates com os conceitos morais relativizados pelos Sofistas, o que iria dar necessariamente numa moral relativizada pelo indivíduo como medida das coisas e das palavras. 2 Sócrates é reconhecido como o fundador da moral (moral para ele é sinônimo de ética), que não se baseava simplesmente nos costumes dos povos , mas na convicção pessoal , através do processo de consulta a seu daimon interior , para compreender a justiça das leis . Ele se preocupava com o agir. Platão vai colocar o bem como forma ideal e perfeita e que, para alcançá-lo, o Homem deveria trilhar a via do conhecimento, libertando o espírito humano dos erros e ilusões da doxa (opinião comum) e elevá-lo ao mundo da clareza e da verdade (epistéme).O homem assim formado, estaria pronto para cumprir com o mais alto dever de cidadania e usar o conhecimento para o benefício da Polis. O compromisso ético-político da educação platônica é criticado não só pelo idealismo, como também pelo elitismo (o melhor sábio é o que deve governar). Aqui se estabelece a relação saber-poder , que fundamenta a exclusão social . Vale ressaltar, entretanto, que o pensamento platônico não é discriminatório, lembrando o pensamento de Sócrates no Ménon, pelo seu método dialógico, faz com que o escravo resolva problemas de geometria até então desconhecidos por ele, enquanto seu amo não consegue fazê-lo. De qualquer forma , o direito à plena educação fica restrito aos que provavam possuir alma de ouro. Mas , para Platão , importava mais infundir na Polis um ethos bom e não dotá-la de um amontoado de leis. Na visão epicurista, no espaço educativo do jardim, a filosofia era ensinada para todos (homens , mulheres e estrangeiros), que necessitassem , e eles encontrariam no discurso filosófico a cura para os males. Isto seria adquirido na philia que é o sentimento de amor pela humanidade, colocado tanto no desejo de buscar a felicidade terrena quanto no exercício do logos, capaz de libertar as pessoas das garras da crendice. No pensamento de Aristóteles, a ética vai designar as concepções morais nas quais os homens têm fé. Para ele, o único objetivo que o Homem persegue é o bem , não importa o que ele faça. O bem supremo é a felicidade (eudaimonia). E a felicidade surge da ética coletiva e da política. A ética nasce dos hábitos que decorrem do adestramento numa relação familiar, mas as dianoéticas decorrem da inteligência e podem ser desenvolvidas por ensinamentos. Aristóteles condena os Homens que se utilizam do saber para objetivos nefastos. Ele diz que os mesmos não conhecem a razão de ser da ciência. Isto é fruto do moralismo intelectual, pensamento vigente em sua época . Para tanto, é preciso ser virtuoso e respeitar os valores morais segundo os quais cada um foi formado . É o Eudaimonismo humanista ou o Intelectualismo ético. As escolas morais são decorrentes do processo de confederalização das cidades estado gregas, ou seja, da centralização das decisões morais, políticas , econômicas e sócio-culturais, centralizadas num processo de racionalização das cidades-estado. O resultado desta confederalização foi um desvirtuamento e o não pertencimento a uma comunidade específica e definida, como num processo de globalização. 3 A Ética grega permeava, então, todos os campos de atuação e o Estado (a Polis) significava mais do que uma simples administração mecânica, ele era toda a finalidade que levava a felicidade aos indivíduos e os motivava a boas ações. Mas, esta administração estava fundamentada no moralismo intelectual, o que levava obrigatoriamente a uma gestão voltada para o conhecimento no sentido amplo e isto quer dizer ético . 3 - ENTRE A MORAL E ÉTICA A ética não se confunde com a moral, porque a moral é a regulação de valores e comportamentos considerados legítimos por uma determinada sociedade, um povo, uma religião, uma certa cultura. Moral é o conjunto de prescrições a respeito do comportamento lícito ou ilícito e aceitas, em determinada época, por um determinado agrupamento humano. O desrespeito de algumas dessas regras, pode originar uma tácita ou manifesta atitude de reprovação. Apesar de cada indivíduo ter uma reação instintiva contra regras e contra a obediência a qualquer autoridade , até hoje nenhuma comunidade pode existir sem as normas constrangedoras da moral. Os códigos morais nascem e se fundamentam numa espécie de contrato tácito existente entre os membros de uma sociedade. As normas morais se cumprem através da convicção íntima dos indivíduos, logo, exigem uma maior aproximação a tais normas. Daí se poder falar de interioridade da vida moral. E isto se faz através do processo de educação. Uma educação pode ser eficiente enquanto processo formativo (do ponto de vista da moral vigente) e eticamente má como a educação nazista. Assim, começa a distinção, não do ponto de vista etimológico, entre ética e moral, pois ambas provém da palavra costume, indicando as diretrizes de conduta a serem seguidas. Mas, há traços bem distintos entre as duas: a primeira, se refere aos valores fundantes do comportamento humano, à ciência, enquanto a outra, se refere à prática ou a relação subjetiva perante esses valores. O cumprimento das normas morais não é garantido por um dispositivo exterior coercitivo que possa prescindir da vontade. A moral, cumpre então uma função social vital e se manifesta desde que o Homem existe como ser social e anterior a outra espécie de organização social. Ela não exige coação estatal como o direito ( só há um Estado ) ao passo que podem existir várias morais opostas . A passagem para uma organização social superior acarreta a substituição de certo comportamento jurídico por outro moral. Quando o indivíduo regula as suas relações com os demais não sob a ameaça de uma pena ou pela coação externa , mas pela íntima convicção de que deve agir assim (por educação , conhecimento) pode-se afirmar que nos encontramos diante de uma forma de comportamento moral mais elevada. Em conseqüência, podemos levantar como hipótese e parafraseando Platão 4 que , quanto mais um povo precisa de leis é porque ele tem menos moral, e vice – versa. Por moral , entende-se tudo o que se faz por dever (Kant) nós nos submetemos às normas que vivemos como a um mandamento, e por ética tudo o que se faz por desejo ou por amor (Spinoza ), em outras palavras espontaneamente. A moral ordena e a ética aconselha. A moral está na ética, a ética é ao mesmo tempo a origem e a verdade da moral, já que toda ação deve ser desejada para ser consumada, e nenhum valor vale senão proporcional ao amor que temos por ele.. Agir moralmente é agir como se amassemos. Só precisamos de moral porque não sabemos amar. O amor não é comandado nem necessita de leis. A moral é uma maneira de permanecermos fiel ao amor quando ele não está presente. “ Ame ou faça o que deve fazer “. Uma ação só é boa, quando o amor está presente , se for fiel ao amor, ou quando ele está ausente , através da moral. Toda lei moral consiste neste único mandamento : “amar ao próximo”. Quem ama será cheio de doçura, de misericórdia e de compaixão, e também será justo e prudente, se souber servir-se de sua razão. Mas não se podendo controlar o amor, permanece necessária a moral, que comanda o que o amor recomenda (justiça , doçura , generosidade). Aja como se você amasse e faça o que deve fazer , esta é a máxima da moral quando o amor está ausente. Para conhecer os homens na sua essência, é preciso vê-los agir. Esta afirmação nos conduz ao preceito da ética como uma característica inerente a toda ação humana e, por esta razão, é um elemento vital na produção da realidade social. O homem é um ser que só realiza a sua existência no convívio com outros homens, de modo que, todo a sua ação e reação afetam as outras pessoas. Assim, podemos definir a ética como uma forma de pensamento com conseqüência eminentemente prática. 4 - A ÉTICA DO ESTADO QUE ADMINISTRA 5 Deixar de falar de uma administração formal na Grécia seria desprezar toda uma construção de um Estado racional, fundado no saber, no rei-filósofo ou filósofo-rei. Seria não levar em conta toda reflexão dos filósofos sobre a confederalização das cidades – estado da Grécia e de todas as propostas de Platão e Aristóteles sobre a Ética voltada para o estado. Seria deixar de falar sobre as escolas morais do epicurismo e do estoicismo. O Direito Romano abre espaço para a chamada administração como uma entidade abstrata. A personalidade jurídica atribuída à gestão nos patrimônio das abadias, seguindo as corporações de ofício e a personalidade dos membros que eram marcados pelo ethos da eficiência e do utilitarismo nas colônias, enquanto na Inglaterra era marcado pela legalidade. Assim, percebe-se de forma clara que de um lado temos o Direito comum (common law) de natureza privada e de outro se vê a organização como dotada de um direito público, com tendência autoritária. Com o cristianismo, as morais serão fundadas na ética religiosa, onde a salvação advém aos homens pelas obras ou pela graça de Deus. Na primeira hipótese, a salvação depende dos homens e de suas boas ações, sem intervenção do divino, onde a moral aparece como uma condição necessária e suficiente à ética, é ela que nos leva a Deus. Desta forma, mesmo o ateu que se conduz bem na vida tem a chance de ser salvo. Na Segunda hipótese, a salvação vem toda de Deus, somente pela fé, pelo dom, sendo assim, nossas ações são a conseqüência de uma conversão. É a ética que funda a moral e não o inverso. Temos historicamente, caracterizações da moral : a- Deus como origem ou fonte da moral; b- A natureza como fonte da moral (origem nos instintos ); c- O Homem como origem e fonte da moral (Homem dotado de essência eterna e imutável) Seguindo a história do pensamento ocidental, temos no século XV, a Reforma Protestante inaugura uma moral menos contestatária do sucesso, do lucro, pois eles chegam até mesmo a serem sinais de eleição divina . E como fundamenta Max Weber, daí nasce o espírito capitalista. Weber ressalta ainda mais a importância da separação entre Ética e Política, Direito e Estado, etc. pois são Ciências que não podem ser misturadas e devem ser vistas , estudadas e trabalhadas separadamente. A modernidade , inaugurada por Réne Descartes , elimina a subjetividade , incluindo nela a matemática, não dando lugar para a liberdade e desprezando os particularismos morais. Kant é o grande nome da questão ética na modernidade. Ele busca uma ética de validade universal que se apoia apenas na igualdade fundamental entre os Homens. Sua filosofia é transcendental e procura buscar no Homem as condições de possibilidade do conhecimento verdadeiro e do agir livre. Aí aparece o 6 dever, ou a obrigação moral, necessidade diferente da natural, ou matemática, pois se necessita da liberdade. O dever obriga moralmente a consciência moral livre e a vontade de agir sempre conforme o dever. “ Aja de tal sorte que a máxima que preside a sua conduta possa ser aceita como lei universal “.Kant quer chegar a uma moral igual para todos, racional, única e possível para todo ser racional. Esta moral não se interessa pelos aspectos exteriores, empíricos e históricos – costumes, leis, convenções, inclinações pessoais. Se a moral é a racionalidade do sujeito, este deve agir de acordo com o dever porque é dever. Este é o único motivo válido da ação moral. A característica do liberalismo é ser livre, mesmo que submetido à lei. Este pensamento de Locke , retrata bem os cânones Iluministas de liberdade: ser livre não é estar submetido às paixões, mas estar sujeito a normas justas que são aceitas pela pessoa. Kant completa o pensamento de Locke dizendo que o dever e não a inclinação caracteriza um ato moral. A inclinação ou tendência vem com o instinto e não com a razão. A ação do homem é baseada em princípios , a ação da natureza é baseada em leis. O imperativo Kantiano é ligado à moral e o categórico não significa peremptório ou em termos absolutos , mas significa da categoria , da espécie racional. Ela não serve a um fim, pois seria imperativo hipotético. 5 - A ÉTICA DO ADMINISTRADOR NUMA SOCIEDADE CAPITALISTA A ética tem sido o principal regulador do desenvolvimento histórico-cultural da humanidade; sem ela, esta provavelmente já estaria em auto-destruição. Porém, em diferentes contextos históricos da humanidade é possível encontrar um conceito ético para as ações humanas.O sentido genérico de ética torna-se cada vez mais universalista e na modernidade ela se aponta para a axiologia ou a teoria dos valores. Foi a partir da ciência econômica com Adam Smith que a noção de valor tornou-se mais generalizada. A mais-valia de Marx não foge a esta regra, e este conceito modificou toda nossa relação com os valores como o trabalho, a produção.Se o Iluminismo dava valor à pessoa humana e todas as declarações do direito são baseadas nessa pessoa , um dos frutos do Iluminismo foi a Revolução Industrial, e esta não dava valor à pessoa, mas à produção. A Administração está ligada à produção e aos valores reproduzidos por ela, e isto transforma o termo valor em algo que deve ser não como preferência dos indivíduos ou grupos sociais, mas como imposição daqueles que controlam os meios de produção. Assim, os valores que presidem o comportamento humano em todas as suas situações de existência – na política, no direito, na moral – formas subordinadas de agir estão sujeitas ao “mercado“.Os valores são, portanto, expressões de idéias dominantes de prazer, utilidade e resultados. Adm Smith, buscando compreender a sociedade através do sentimentos humanos, fundamenta-se na máxima cristã ama ao próximo como a ti mesmo, porém, utilizando 7 o inverso do pensamento ama a ti mesmo como tu amas ao teu próximo para explicar a ordem social liberal. Para ele, o homem ao procurar o seu próprio interesse, promove o interesse da sociedade mais do que realmente procurasse promovê-lo. Assim, estaria fundamentado os preceitos da Ética capitalista, cuja idéia do bem-estar da coletividade é melhor obtida se apelarmos não ao altruísmo das pessoas, mas sim, na defesa dos interesses individuais. Para Smith, o trabalho é a fonte de toda riqueza, seja ela, individual ou coletiva. Logo, a riqueza de uma nação, depende essencialmente da produtividade baseada na divisão do trabalho. Max Weber, em sua “ Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” legitima-se o trabalho como tábua de salvação divina da ética da sociedade capitalista. A ociosidade passa a ser sinônimo de negação de Deus e a verdadeira fé centra-se no trabalho incessante e produtivo. Percebe-se uma inversão de valores: no lugar da ética, entrou a economia ocupando todos os postos e funções, não só ético, mas, político, religioso, artístico e filosófico. Posto isso, a eficácia do sistema econômico de mercado passa a ser o critério supremo para todos os juízos morais e a ética capitalista limita-se a questões meramente técnicas. Na atual sociedade contemporânea, os princípios normalizadores e orientadores do comportamento humano estão em crise. O sistema sócio-econômico em que vivemos alijou valores fundamentais ao convivo social: o bom cedeu lugar ao útil, o correto ao funcional, o futuro ao imediatismo e o social ao individualismo exacerbado. Diante de tais fatos que papel exerce o profissional de Administração na atual sociedade capitalista? O que faz de um Administrador um bom profissional? É preciso, retomara os princípios da Administração Científica, para responder a tais questionamentos. Fayol atribui ao Administrador as funções de prever, organizar, coordenar e controlar as atividades organizacionais. Porém, deve-se questionar ainda, qual a função de uma organização empresarial no sistema capitalista para termos nítido o papel do Administrador na sociedade da ética capitalista. Numa conceituação clássica, pode-se atribuir a firma como sendo um locus de acumulação de capital, dotada de autonomia decisória para formulação e implementação de estratégias de longo prazo, tendo como objetivo a capacidade de extrair o maior retorno possível de seus ativos. Logo, por analogia, o papel do Administrador é dar movimento ao sistema econômico de mercado, tornando suas organizações dinâmicas e competitivas. O trabalho gerencial é coordenar esforços e conduzir pessoas para objetivos estabelecidos. Pressupõe-se que um Administrador seja alguém que dirige as atividades de outras pessoas e assume a responsabilidade de atingir objetivos por meio de outras pessoas. Para tanto, as empresas devem escolher seus administradores levando em conta suas habilidades básicas: a técnica, a humana e a conceitual. Desta forma, subtende-se que um bom profissional em Administração seja capaz de possuir aptidões técnicas de compreensão e proficiência num determinado tipo de atividade, especialmente em atividades que envolvam métodos, processos e procedimentos; seja capaz de compreender os sentimentos das pessoas, integrando-as em um grupo para realizar esforços em conjunto; capaz de possuir uma visão sistêmica da organização, de modo, 8 a perceber como as diversas funções numa organização dependem uma da outra e de que maneira as mudanças em qualquer uma das partes afeta as demais. Seriam somente esses os atributos para fazer de um administrador um excelente profissional? Estaríamos fugindo à realidade se afirmássemos que tais aptidões não seriam necessárias e que a inter-relação entre elas não existiria. Porém, reafirmamos aqui a necessidade de uma formação humanista, que busque no homem o objetivo das coisas e tenha nele o modelo do mundo. Para isso, retomamos Sócrates, filosofo da antigüidade, para fundamentar o nosso pensamento. Sócrates, fixou a sua pensamento sobre a base da razão e imortalizou-se ao proferir a famosa frase “ Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo”. Ele argumentava que invés de questionar o mundo, deveríamos primeiramente questionar a nós mesmos e só assim, seremos capazes de compreender o homem na sua essência, porque é na essência dos atos que conhecemos a virtude humana. Falamos isso, para não fragmentarmos o conceito de ética como algo diferente para cada profissão. Há quem diz que é preciso a necessidade da criação de uma conduta ética para os administradores, contadores, publicitários, médicos ou engenheiros, no entanto, reafirmamos a necessidade de uma conduta ética para o homem na sua plenitude, pois todas as decisões éticas são guiadas por princípios de conduta como responsabilidade, honestidade, lealdade, integridade, justiça, prudência e competência. Tais princípios fazem da ética um sistema de regras que governa a ordenação de valores universais. 5- A INTERDISCIPLINARIDADE E A TRASNVESALIDADE DA ÉTICA NO MUNDO DOS NEGÓCIOS Não podemos considerar a ética separada do modo de produção em vigor, uma vez que este demanda relações aparentemente antagônicas entre o capital e o trabalho. Precisamos pensar a ética a partir de uma totalidade que engloba a interdisciplinaridade e transversalidade entre o conhecimento filosófico, científico e reliogoso. Com isso, busca-se conseguir uma visão mais ampla e adequada da realidade, que tanta vezes aparece fragmentada. Desta forma, a interdisciplinalidade, busca unir os possíveis pontos de convergência, entre os vários níveis de saberes ( filosófico, religioso, científico), bem como, entre as diversas ciências ( exatas, humanas, biológicas) ou ainda entre as varias disciplinas ( marketing, produção, finanças, recursos humanos), propiciando uma relação dos sociais. Estes últimos, são normalmente complexos e irredutíveis ao conhecimento obtido quando são estudados por meio de uma única disciplina. A ética é uma ciência que nos permite uma abordagem particulamente ampla e diversificada, pois como já apresentamos, é uma reflexão crítica sobre a moralidade, portanto, trata-se de ações que estão sendo intensamente vividas pela sociedade, pela comunidade, pelas famílias, pelas universidades, pelas empresas, pelos educadores, em seu cotidiano. Isto dá à ética, a eminência de um tema essencialmente transversal e deve ser estudada em uma concepção holística, interdisciplinar e sistêmica, pois, 9 seus objetivos e conteúdos devem estar inseridos em diferentes momentos de cada uma das disciplinas que compõem a grade curricular de determinado curso. Em se tratando do curso de Administração, o profissional formado deve ter a capacidade de compreender o meio social, político, econômico e cultural no qual está inserido. Na representação gráfica a seguir, podemos observar como é possível ocorrer a interdisciplinaridade e a transversalidade do ensino da administração através da aplicabilidade da ética na formação do Administrador. A ética como um tema transversal não pode ser abordada em uma única disciplina; ela deve ser discutida em diversas áreas de forma interdisciplinar e nas principais cadeiras que compõem o currículo. Assim, é possível discutir a postura ética do administrador em suas funções gerenciais, de forma que possa correlacionar conteúdos das disciplinas Gestão Financeira, Gestão Mercadológica, Gestão de Pessaos e Gestão da Produção com questões que exigem uma postura ética. A formação humanista do administrador fica assim referendada como condição necessária para libertação do homem e, consequentemente, do avanço social, através de pessoas éticas, solidárias e comprometidas com seu contexto social. ACIONISTA COCONCO GESTÃO DA PRODUÇÃO OR ECED FORN ES GOVERNO GESTÃO DA PRODUÇÃ O GESTÃO FINANCEI RA GESTÃO MERCADOLÓG ICA ÉTICA SINDICATO S CLIENTE S GESTÃO DE PESSOAS COMUNIDA DE CONCORREN TES Figura 01: A Interdisciplinalidade e a Transversalidade da Ética Percebe-se a necessidade de uma postura ética por parte das empresas em relação ao ambiente em que estão inserida. Tal postura deve ser praticada pela organização tendo em vista os stakeholders – grupos internos ou externos à organização que possuem algum interesse nela, como: funcionários, clientes, concorrentes, governo, acionistas, sindicatos, fornecedores, comunidade, entre outros - Nesta ótica, as organizações devem posicionar frente à sociedade, com condutas que ressaltam a preocupação com 10 o bem-estar coletivo, buscando desenvolver uma stakeholders. . relação equilibrada entre seus 6- CONSIDERAÇÕS FINAIS O posicionamento Ético diante do mundo dos negócios depende da educação moral iniciada na infância e da passagem por uma formação humanística através de todo processo formal de Educação. Tornar todo professor-educador compromissado com a implantação de uma moral para o mundo do conhecimento no sentido amplo, significa dar-lhe competências e habilidades para que possa refletir a sua disciplina no contexto da ética desejada para uma sociedade melhor. Assim, voltar a preocupação sobre o conhecimento da Ética, os seus conceitos e sua reflexão sobre os comportamentos morais justos (universais) é dar a possibilidade para que o mundo dos negócios e o mundo da administração sejam mais humanizados. Separar a Ética do modo de produção é não levar em conta que aquele que produz, age sobre o mundo e sobre os outros, e isto leva inevitavelmente à questão moral. A interdisciplinaridade do ensino da administração é uma das condições para formar o “bom” administrador. O “bom” administrador é aquele que desenvolve, ao mesmo tempo a virtude da bondade e a virtude do conhecimento científico, agindo corretamente em todos os sentidos, seja no aspecto moral seja no técnico. A relação homem/homem e homem/natureza é vista como problema central da questão ética. Uma nova ética deve estar, obrigatoriamente, ligada à ética da natureza em sua totalidade. Mas, de nada servirá se não formarmos as nossas crianças e nossos jovens com competências para serem livres dentro de uma espírito humanístico, no qual os avanços sociais só poderão ser conseguidos através de pessoas éticas, solidárias e comprometidas com a humanização do mundo. E isto deve ser trabalhado em sala de aula. 7- REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA ABRAÃO, B. S. (org). História da Filosofia . São Paulo: Nova Cultura. 1990. DRUCKER, Pete. (1986) O Novo Papel do Administrador. São Paulo. Nova Cultura. JANTSCH, A. P. & BIANCHETTI. ( 1995). Interdisciplinalida Para Além da Filosofia do Sujeito. Petropolis: Vozes. SANTOS, Elinaldo Leal (2002). O Mercado, a firma e o comportamento estratégico da firma no mercado. Revista Idéia nº 1 – janeiro/julho. SROUR, Robert Henry (1998). Poder, Cultura e Ética nas Organizações. Rio de Janeiro: Campos. 11