universidade presbiteriana mackenzie escola superior de teologia o

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA
WAGNER LUIZ L. CALDERANO
O MESSIAS: UMA ANÁLISE HISTÓRICO-TEOLÓGICA DE
JESUS DE NAZARÉ
São Paulo
2010
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus,
causa primária de minha motivação, motivo de ter conseguido chegar até aqui e
poder grato dizer: “até aqui o Senhor me ajudou”;
Agradeço a minha amada esposa Simone,
pelo seu companheirismo constante, por estar sempre ao meu lado me apoiando,
compreendendo-me quando ausente estive fazendo teologia, por me inspirar com
seu jeito, sua beleza e inteligência;
Agradeço aos meus pais Sebastião e Rita,
porque se hoje cheguei até aqui devo muito a vocês que ensinaram o menino o
caminho que se deve andar, sempre me incentivaram a estudar e nunca deixaram
de sustentar minha vida em oração;
Agradeço aos meus professores,
pela paciência e dedicação em ensinar, vocês são fontes de conhecimento, em
especial Prof. Dr. José Roberto por sua amizade e por orientar-me nesta
pesquisa;
Agradeço a minha Igreja,
por ter me incentivado nessa caminhada teológica, em especial meu amigo e
pastor Fernando Rocha por acreditar em mim;
Agradeço ao meu querido irmão e amigo Weslei,
companheiro constante nessa caminhada e amigo de todas as horas, foi difícil
mas chegamos lá;
Agradeço a todos os meus amigos e familiares,
que direta ou indiretamente me ajudaram e me apoiaram durante esta caminhada
acadêmica.
Resumo
A presente pesquisa tem por objetivo analisar o título de Messias (Cristo)
atribuído a pessoa de Jesus de Nazaré. Este (Jesus) que é filho de seu povo e de
seu tempo, ou seja, Israel. Por isso, a pesquisa retorna a períodos importantes da
história de Israel apontando para as expectativas messiânicas que com o passar
do tempo foram sendo geradas na mente do povo.
Assim, no primeiro capítulo, o trabalho volta na história de Israel, desde o
êxodo do Egito até o cativeiro helenístico. No segundo capítulo, dando
continuidade ao período de cativeiros vivido por Israel, é apresentado a brutal
dominação romana da Palestina, os grupos religiosos que emergiram nesse
momento turbulento da história do povo judeu e suas expectativas de um Messias
que viria libertá-los do domínio estrangeiro. E por último, no terceiro capítulo, será
analisada a questão da messianidade de Jesus de Nazaré, chamado o Cristo,
Filho de Deus, e os títulos messiânicos atribuídos a ele, tais como: Filho do
Homem, Filho de Deus, Filho de Davi e Kyrios. Por fim, também a questão de sua
autoconsciência messiânica será apresentada.
Palavras chave: Messias, Jesus de Nazaré, Cristo, Israel, povo.
Abstract
The present study has the aim to analyze the title of Messiah (Christ) that
had been given to the person of Jesus of Nazareth. This (Jesus) who is son of his
people and his time, in others words, son of Israel. So this study returns to main
periods of the history of Israel pointing to the messianic expectations that where
being generated in the people mind through the time.
Thus, in the first chapter, the research goes back in the history of Israel,
since the exodus from Egypt until the Hellenistic captivity. The second chapter,
continuing the Israel captivity periods, presents the brutal Roman domination over
Palestine and the religious groups that emerged during this turbulent moment of
the history of the Jewish people and their expectations in a Messiah that would set
them free from the foreign domination. And at last, in the third chapter, the
messiahship of Jesus of Nazareth (known as the Christ, the son of God) is
analyzed as the messianic titles that had been given to him such as: Son of Man,
Son of God, Son of David and Kyrios. Finally, the self awareness Jesus is also
presented.
Key-words: Messiah, Jesus of Nazareth, Christ, Israel, people.
Sumário
INTRODUÇÃO ......................................................................................................11
CAPÍTULO 1 – FUNDO HISTÓRICO
AS ORIGENS DE ISRAEL: POVO ALIANÇADO COM
DEUS................................................................................................12
1.1 – Surge a monarquia em Israel.................................................13
1.2 – Breve histórico de dominações estrangeiras:
do cativeiro assírio ao helenístico...........................................17
CAPÍTULO 2 – A SOCIEDADE NO TEMPO DE JESUS DE NAZARÉ E AS
EXPECTATIVAS MESSIANICAS..........................................................................20
2.1 – Império Romano.....................................................................20
2.2 – Partidos religiosos.................................................................22
2.2.1- Os saduceus..........................................................................22
2.2.2- Os fariseus............................................................................23
2.2.3- Os essênios...........................................................................24
2.2.4- Os zelotas..............................................................................24
CAPÍTULO 3 – JESUS DE NAZARÉ: O MESSIAS..............................................26
3.1 – Títulos messiânicos...............................................................30
3.1.1- Filho do Homem....................................................................31
3.1.2- Filho de Deus........................................................................32
3.1.3- Filho de Davi..........................................................................33
3.1.4- Kyrios.....................................................................................33
3.2 – A autoconsciência messiânica de
Jesus de Nazaré..............................................................................34
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................37
BIBLIOGRAFIA .....................................................................................................39
Introdução
A expressão Messias no cristianismo é herança histórica do povo judeu.
Por isso, retornaremos na história de Israel para compreendermos melhor em que
momento histórico foram sendo desenvolvidas as expectativas messiânicas que
alimentavam a mente do povo judeu nos dias de Jesus de Nazaré. Nessa incursão
na história de Israel, procuraremos apresentar os períodos de maior relevância na
construção dessas expectativas messiânicas judaicas. Desde o período em que
Israel era uma nação de tribos, passando pelos diversos períodos de cativeiros,
até o período de dominação romana, onde então surge Jesus de Nazaré.
A partir do momento que o pano de fundo histórico for desenhado, e as
concepções messiânicas forem ficando mais claras, apresentaremos um estudo
de cunho teológico-evangelical, com o objetivo de mostrar que Jesus de Nazaré,
de fato, foi e é o Messias esperado, e que o seu messianismo era totalmente
diferente das esperanças messiânicas correntes em seus dias. O que podemos
antecipar é que seu messianismo se caracteriza por toda sua ação, ou seja, sua
vida, ministério, morte e ressurreição.
É nesse ínterim que se pode perguntar: “de Nazaré vem alguma coisa boa”
(Jo 1,46)? E responder, sim: Jesus de Nazaré! Sendo assim, nas páginas a
seguir, o que se pretende é apresentar um breve estudo sobre o Messias: Jesus
de Nazaré.
Capítulo 1 – Fundo Histórico
As origens de Israel: povo aliançado com Deus
Quando se propõe a falar dos acontecimentos do primeiro século da era
cristã e da pessoa de Jesus de Nazaré em especial, não há como desvinculá-lo da
história da qual emergiu. Por esse motivo é que devemos analisar as origens do
povo de Israel. Povo da qual nascem às esperanças messiânicas judaicas das
quais muitas serão refletidas, posteriormente, na pessoa de Jesus de Nazaré e no
cristianismo subseqüente, e até os dias de hoje.
Segundo Jorge Pixley, a data para o “começo da história de Israel é 1220
a.C., a data estimada para o êxodo” (2004, p.13). A “saída” ou o êxodo de Israel
da escravidão do Egito é um evento singular em toda sua história que marca
também a sua origem. Fato é que este evento é relembrado todos os anos na
celebração da Páscoa e traz a memória o Deus “que os tirou da terra do Egito, da
casa da servidão” (Êx 20,2). Porém, para que a história dos patriarcas préisraelíticos não seja esquecida, Pixley nos diz o seguinte:
Quando as tribos israelíticas em Canaã aceitaram como
própria a história da libertação da escravidão (o êxodo), não
rechaçaram sua própria pré-história. As tradições patriarcais
de Abraão, Isaac e Jacó conservam a memória dos líderes,
anterior à formação da aliança tribal, que deu origem a Israel
(apud Pixley-2004, p.21).
Sendo assim, podemos afirmar que Israel contava sua história a partir do
êxodo (Os 11,1; Jz 19,30; 1Rs 6,1; Jr 7,25) e não a partir dos patriarcas, por mais
que eles tenham papel importantíssimo no que diz respeito a unidade das tribos
devido a genealogia Abraão, Isaque e Jacó.
No entanto, é de fato com Moisés e Josué que Israel ganha vida como um
povo livre e independente, sem dominação estrangeira sobre si. Nesse estado de
liberdade, fugidos do cativeiro egípcio esse povo faz aliança com Deus para se
manterem livres. Essa aliança exigia completa lealdade a Deus: “não terás outros
deuses diante de mim” (Êx 20,3). Por isso, Deus era verdadeiramente seu rei, não
havia nenhuma instituição humana de realeza estabelecida em Israel.
O Israel tribal também não tinha um culto estabelecido em um templo, ou
seja, o Deus transcendente de Israel não tinha um espaço particular, mas
acompanhava seu povo. Nesse contexto de aliança o regime social, político e
religioso era mantido, ou melhor, coordenado pelo próprio Deus. Assim, sobre as
circunstâncias do Israel tribal, nos diz Richard A. Horsley e John S. Hanson, que
tornou-se “um ponto de referência para as gerações subseqüentes, um ideal
utópico com que comparavam a sujeição posterior a reis e impérios estrangeiros e
a julgavam contrária a vontade de Deus” (1995, p.24). Nesse sentido os relatos
bíblicos corroboram com essa idéia, ou seja, de que o Deus de Israel manteve o
interesse de conservar seu povo livre de escravidão estrangeira, porém a história
de Israel toma outros rumos.
1.1 - Surge a monarquia em Israel
Com a idade do ferro, aproximadamente 1200-1000 a.C., depois de 200
anos de lutas com os povos que habitavam as regiões montanhosas de Canaã (Jz
5), começa nascer o desejo de uma monarquia em Israel. Nesse sentido é que
Gerson Leite de Moraes explica:
talvez por causa disso seja compreensível que houvesse por
parte de vários grupos israelitas a tentativa de construir um
Estado em Israel, ou seja, centralizar o poder através de uma
monarquia terrestre, que poderia formar um exército
permanente para enfrentar os inimigos. Esse tipo de
pensamento começa a ganhar mais força nas tribos de Israel
[...] quando os chamados “Povos do Mar”, também
conhecidos como “Filisteus” conseguem hegemonia na
região, tornando-se, então, os herdeiros do domínio egípciocananeu. (2004, p.9)
Com nova tecnologia militar, os guerreiros filisteus podiam operar
tranquilamente nas regiões montanhosas de Canaã e assim subjugar os povos
circunvizinhos.
Em 1Sm 13,19 temos um relato bíblico interessante sobre
esta situação: “Ora em toda a terra de Israel nem um ferreiro se achava, porque
os filisteus tinham dito: Para que os hebreus não façam espada nem lança”. Essa
pressão externa causada pelos filisteus em parte nos explica o surgimento da
monarquia em Israel.
Uma primeira tentativa de instalar a monarquia em Israel ocorre com
Abimeleque de Siquém (Jz 9), porém sua realeza dura muito pouco. Com sua
morte os homens das tribos de Israel divididos em a favor ou contra a monarquia
retornaram para suas casas e um outro juiz volta a governar Israel. No entanto, a
monarquia chega a Israel. E é com Saul, da tribo de Benjamim. Saul soube se
aproveitar da atual situação de Israel frente às pressões internas (grupos que
desejavam a monarquia) e externas (filisteus). Assim comanda um exército de
voluntários das tribos de Israel em luta contra os amonitas (1Sm 11). No sucesso
dessa luta armada, houve uma forte mobilização para convertê-lo em rei sobre
Israel. Que segundo o texto de 1Sm 11 os líderes do povo ungiram Saul como rei
no antigo santuário de Gilgal, o que culminou no início da monarquia em Israel.
Contudo, seu reinado dura pouco tempo. Sobre os motivos de seu fracasso
como rei, Moraes resume:
Do ponto de vista teológico, temos a informação de que o
reinado de Saul foi reprovado por Deus devido a sua
desobediência (1Sm 15). Do ponto de vista sociológico e
político, a grande dificuldade do reinado de Saul foi que ele
parece não ter conseguido estabelecer uma dinastia ou
corte, um aparelho burocrático (Estado). Seu fracasso deuse certamente porque ele tomou como base para seu
reinado a sociedade israelita sem classes. (apud Morais2004, p.12)
Com isso, sua reprovação divina e inexperiência política, surge Davi, da
tribo de Judá, no cenário de Israel. Este que já antes da morte de Saul lhe causa
ciúmes por seus feitos militares (1Sm 18, 6-16). Com a morte de Saul é então
Davi que consegue solucionar o problema da monarquia em Israel. Chamado a
cidade de Hebrom, Davi é coroado rei de Judá (2Sm 2, 1-7) e depois de lutar com
os herdeiros de Saul e vencer é também proclamado pelos anciãos do povo rei de
todo Israel (2Sm 5, 1-5).
Ungido rei de Israel, com prestígio militar e um sistema burocrático
diferente (um simples exemplo são os impostos que eram cobrados dos povos
conquistados para sustento do exército), Davi dá início de fato a um Estado, a
uma monarquia em Israel.
Davi era um rei temente e adorador de Iahweh, Deus de Israel, e com isso
foi muito habilidoso para não se opor a Deus, mas sim juntos reinarem sobre o
povo. Em todo texto bíblico Davi é lembrado como sendo um bom rei, isso
provavelmente por seus êxitos nas guerras e pelo cuidado que teve em seu
reinado em não passar por cima das tradições das tribos de Israel.
Contudo, Davi introduz algumas novidades que mudaram o culto em Israel.
Primeiro, estabelece Jerusalém, que ficou conhecida como Cidade de Davi, como
capital de seu reino. E segundo, trouxe a arca da Aliança, onde ficavam as tábuas
da lei dadas a Moisés para sua nova capital (2Sm 6). A partir de agora as tribos de
Israel e o culto a Iahweh passam a serem administrados da capital Jerusalém, a
cidade de Davi.
Os feitos de Davi levam Israel a uma estabilidade econômica e a um lugar
de destaque na região de Canaã. Talvez por esses motivos é que surgem as
expectativas messiânicas davídicas, onde um futuro rei deveria estabelecer um
reino igual ou superior ao de Davi, ou seja, o novo Messias teria que por Israel em
destaque entre as nações novamente.
Com a morte de Davi seu filho Salomão assume o reino de Israel. Porém,
este não tem a mesma habilidade administrativa que seu pai e isso vai causar
grandes problemas a Israel. Salomão investe esforços na construção de um
templo para Iahweh, Deus de Israel em Jerusalém. Nessa empreitada Salomão
abusa da cobrança de impostos, pois além dos tributos materiais ele introduz o
tributo em trabalhos forçados, a corvéia (1Rs 5). Terminada a obra do templo,
Salomão dá continuidade a essa política construindo novos empreendimentos
(1Rs 9,15-24).
Essa administração de Salomão trouxe prejuízos no relacionamento entre
ele (o rei) e o povo, pois fugia da proposta de viverem de maneira livre e
independente. Por esse motivo é que as tribos de Israel se rebelam contra ele.
Primeiro, Jeroboão da tribo de Efraim, se revolta contra Salomão, porém não
obtêm êxito inicial e se refugia no Egito (1Rs 11,26-40). No entanto, com a notícia
da morte de Salomão, Jeroboão retorna e sob a sua liderança dez tribos se
rebelam e dividem o reino de Israel. Sendo, o reino de Israel, no Norte, governado
por Jeroboão e o pequeno reino de Judá, no Sul, que dá continuidade a dinastia
davídica (1Rs 12).
Porém, com a construção do templo a dinastia davídica monopolizou a
religiosidade de todo o Israel em seu favor, pois a aliança davídica endossava a
vontade de Deus em perpetuar o trono de Davi (2Sm 7; Sl 89). Conforme Moraes:
Essa teologia da aliança davídica foi fundamental para
“engravidar” a mente do povo que foi para o exílio [...]
justamente porque optou pela monarquia humana em
detrimento do reinado de Iahweh. A aliança davídica
prometia que Israel não seria para sempre subjugado e um
dia viria um novo “rei guerreiro”, o prometido desde os
primórdios, ou seja, o Messias, que restauraria a hegemonia
israelita perante os olhos do mundo. (apud Moraes-2004,
p.15)
Por esse motivo, de expectativas messiânicas nascidas no período
monárquico, analisaremos a seguir como foi o período de dominações
estrangeiras pelas quais passou Israel, pois mais a frente analisaremos quais as
esperanças que foram sendo geradas no meio do povo exilado.
1.2 - Breve histórico de dominações estrangeiras: do cativeiro assírio ao
helenístico
Divididos em reino do Norte e do Sul (o que enfraqueceu Israel num todo),
o “povo da aliança” passa a ser dominado e subjugado por diversos impérios
seqüencialmente. Primeiro, (Pixley, 2004, p.62-73) o reino do Norte com sua
capital Samaria sitiada, cai em poder dos assírios em 722 a.C. e Judá, do reino do
Sul, desde 734 a.C. já estava submisso como reino vassalo. Nesse período de
cativeiro Assírio alguns profetas importantes para a história de Israel
desempenharam seus ministérios, gerando esperanças messiânicas para os
cativos, tais como: Oséias, Amós e Miquéias.
Em seguida com o reino enfraquecido, Judá é conquistada pelos
babilônicos em 605 a.C. A Babilônia torna-se então a nova potência hegemônica
na Palestina. Porém, somente em 587 a.C. com Nabucodonosor, Jerusalém é
sitiada, seus muros e seu templo são destruídos e a cidade incendiada. Com isso,
os babilônicos aplicam uma política de deportação, onde a família real e muitos
dos habitantes de Jerusalém são levados cativos a Babilônia. Nesse período de
submissão babilônica alguns dos profetas que atuaram foram: Jeremias, Ezequiel
e o Dêutero-Isaías (40-55).1
Pouco tempo depois, sob o comando de Ciro, os persas em 539 a.C.
derrotam
os
babilônicos.
Domínio
que
pelos
próximos
200
anos,
aproximadamente, a Pérsia estabeleceria sobre o Oriente Médio. Werner H.
Schmidt, aponta algumas mudanças estabelecidas pelos persas:
Os primeiros reis persas respeitavam as tradições dos povos
subjugados e incentivavam os cultos autóctones. Condiz
bem com esta atitude que já depois de um ano (538) Ciro
teria ordenado que o templo de Jerusalém fosse reconstruído
e que os utensílios do templo, levados para Babilônia,
fossem devolvidos. O edito foi conservado em Ed.6, 3-5 em
aramaico [...] A reconstrução do templo ocorreu apenas de
520 a 515 a.C., por insistência dos profetas Ageu e Zacarias
[...] No tempo de Ciro destacou-se Sesbazar, que foi
encarregado de entregar os utensílios do templo e também
colocou a pedra fundamental do santuário (Ed. 5,14ss). Era
1
A respeito das divisões do livro de Isaías sugerimos a leitura do livro de Werner H. Schmidt
(1994), Introdução ao Antigo Testamento.
funcionário persa assim como Zorobabel que atuou um
pouco mais tarde e nele se depositaram mais uma vez
esperanças messiânicas (Ag. 2,23; Zc. 6,9), que, no entanto,
não se cumpriram. (1994, p.33-34)
Com essa política conciliadora dos persas, por volta de 450 a.C., Esdras e
Neemias, chegam à Palestina, um após o outro, para por em ordem a situação.
Eduard Lohse explica:
Neemias se preocupou com a construção de uma muralha
ao redor da cidade de Jerusalém. Pediu aos judeus o
juramento de que não se casariam com membros dos povos
vizinhos estrangeiros. Esdras ensinou aos habitantes de
Jerusalém a lei, promulgando-a em nome do rei. A partir daí,
o culto da comunidade judaica ficou sob proteção do governo
persa. Assim, ela pôde desenvolver sua vida, segundo as
prescrições da lei, sem obstáculos. (2000, p.13)
Depois desse período de hegemonia persa, inaugura-se a era helenística
com a vitória de Alexandre Magno sobre o rei persa Dario III, na batalha de Isso
(333 a.C.). Segundo Horsley e Hanson “a dominação dos babilônicos e dos persas
empalidece em comparação com a opressão que veio em conseqüência da
conquista de Alexandre Magno e seus sucessores macedônios” (1995, p.28).
Visto que, a força de combate do exército grego era muito grande, os judeus, logo
reconhecem a superioridade militar e se submetem pacificamente ao poderio
grego, por esse motivo, os judeus puderam continuar, como no domínio persa,
seu culto livremente.
Junto com a dominação grega, veio também seu modo de viver, ou seja, a
Palestina agora se abre a influência grega, sua língua, cultura e herança religiosa.
A influência grega foi tão grande que construíram teatros, ginásios, impuseram
sua língua como à língua comum do povo, e assim, os judeus logo se adaptaram
as novas circunstâncias e se orientavam por elas.
Contudo, com a morte prematura de Alexandre Magno em 323 a.C. o
poderoso império grego começa a desmoronar. Schmidt resume em poucas
palavras como foram os anos seguintes a morte de Alexandre:
a Palestina foi submetida por um século ao domínio do reino
(egípcio) dos ptolomeus (301-198), para depois ser integrada
ao reino dos selêucidas (198-64 a.C.). Um fato marcante foi,
após a ascensão ao trono do selêucida Antíoco IV Epífanes,
a rebelião dos macabeus em repúdio a cultos estranhos. No
ano de 63 a.C. a Palestina caiu sob o domínio romano. (apud
Schmidt-1994, p.34)
Todos esses acontecimentos: a libertação do Egito pelas mãos de Moisés,
o estabelecimento da monarquia de fato, com Davi, passando pelos cativeiros
assírio, babilônico, o retorno a terra por meio dos persas, o domínio do forte
exército grego de Alexandre até o domínio romano, fizeram com que uma teologia
messiânica fosse desenvolvida, assim gerando esperanças de um novo rei que
trouxesse novamente a autonomia política a Israel. E é justamente agora, no
cenário palestinense, sob domínio romano que surge o “Carpinteiro de Nazaré”2.
Em meio a uma sociedade onde o ambiente era de intensa turbulência. Por isso,
analisaremos mais detalhadamente no próximo capítulo esse período.
Capítulo 2 - A sociedade no tempo de Jesus de Nazaré e
as expectativas messiânicas
Num estudo sobre Jesus de Nazaré é impossível não passarmos pela
Palestina do primeiro século, pois é nesse momento da história que se dá início a
seu ministério público. Por isso, a partir de agora se faz necessário apresentarmos
a situação política, econômica e social da Palestina sob dominação romana que
2
Segundo G. Vermès a profissão de Jesus de Nazaré permanece incerta, porém a tradição cristã
o chama de carpinteiro baseada no fato de seu pai ter sido um e também devido aos relatos das
pessoas de Nazaré registradas nos evangelhos: “o carpinteiro” (Mc 6, 3), ou o “filho do carpinteiro”
(Mt 13, 55).
nas palavras de Moraes “era uma verdadeira “panela de pressão” prestes a
estourar” (2004, p.17).
2.1- Império Romano
A dominação romana (Horsley e Hanson, 1995, p.43) sobre a Palestina se
deu por volta de 63 a.C. pelas mãos de Pompeu. Após a violenta conquista de
Pompeu, seguiu-se um longo período de lutas entre facções asmonéias e
exércitos romanos rivais em busca do controle da área. Os efeitos dessa guerra
civil na Palestina foram a devastação do país, cobrança de altos impostos e
agitação social. A brutalidade com que os romanos tratavam os habitantes da
Palestina os induzia à submissão. Contudo, esse tipo de comportamento brutal e
exploratório por parte dos romanos levava alguns grupos religiosos da Palestina a
desejarem a libertação dessa política opressora.
Em 40 a.C., em meio ao caos político da guerra civil romana surge Herodes
I, o Grande. Este conseguiu ser reconhecido “por decisão oficial do Senado
romano como rei da Palestina” (Lohse, 2000, p.32), isso devido sua habilidade em
manobras políticas. Quando Jesus nasceu ele que reinava na Palestina (Mt 2,1;
Lc 1,5). Depois de submeter o povo judeu com a ajuda das legiões romanas,
Herodes que era um admirador da cultura grega, empreendeu grandes
construções gregas, tais como: termas, teatros, ginásios e templos, que segundo
Lohse, “desagradou muitos judeus, todavia, tentou também cativá-los, ampliando
e reformando o Templo. Este recebeu de novo a mesma forma arquitetônica do
tempo do rei Salomão” (2000, p.34).
Juan Mateos e Fernando Camacho nos informam que:
com a morte de Herodes (ano 4 a.C), o reino foi dividido
entre seus três filhos, com o consentimento do imperador
Augusto, que, no entanto, deixando de dar atenção ao
testamento de Herodes, não outorgou o título de rei a
nenhum dos três. (2003, p.9)
Lohse complementa essa informação dizendo que
Augusto procedeu, praticamente, conforme o testamento de
Herodes. Antipas e Felipe foram nomeados tetrarcas, ou
seja, pequenos príncipes. Arquelau não recebeu título de rei,
mas somente um inferior, o de etnarca. Para o povo, essas
diferenças de títulos nada significavam. Considerou os
governantes como reis. Por isso, o Novo Testamento chama
de reis Arquelau (Mt 2,22) e também Herodes Antipas em
Mc 6,14 e Mt 14,9. (apud Lohse-2000, p.36)
Arquelau era o mais odiado pelos judeus, o que levou o imperador Augusto
no ano 6 d.C. destituí-lo do poder e exilá-lo na Gália. Seu domínio ficou nas mãos
do governador (procurador) romano. Mateos e Camacho nos informam da
importância do governador romano:
O governador romano não passava de supervisor, ao passo
que o aristocrático Sinédrio agia como autêntico governo. O
titular do sumo sacerdócio, que era ao mesmo tempo
presidente do Sinédrio, era qualificado de “chefe de Estado”.
É verdade que os sumos sacerdotes eram nomeados e
depostos ao sabor da vontade do governador romano. (apud
Mateos e Camacho-2003, p.13)
No tempo de Jesus, Pôncio Pilatos é quem exercia o cargo de procurador
da Judéia (26-36 d.C) e foi ele que segundo os evangelhos condenou Jesus à
morte
(Mt 27,1-25; Mc 15,1-15; Lc 23,1-26; Jo 18,28 ss.; 19,1-22). Em meio a
esse regime de dupla autoridade, ou seja, de um lado o romano e de outro o
judaico, os conflitos foram contínuos. Com isso, surgem alguns partidos religiosos,
uns a favor e outros contra esse regime político opressor. Vejamos a seguir alguns
pontos relevantes desses partidos religiosos.
2.2 - Partidos religiosos
Na época de Jesus de Nazaré, nos informa Leonhard Goppelt que “Israel
estava dividido em partidos religiosos claramente distintos. Partindo do cunho
teocrático da coletividade judaica, esses grupos tinham também o caráter de
partidos políticos” (2003, p.65). Por esse motivo, analisaremos quatro dos partidos
religiosos de maior relevância no tempo de Jesus: saduceus, fariseus, essênios e
zelotas.
2.2.1. Os saduceus
São conhecidos por esse nome por causa do sumo sacerdote do tempo do
rei Salomão, Sadoc, (1Rs 2,35) de quem as grandes famílias sacerdotais
descendiam. Eram, então, o partido da aristocracia judaica, cujos membros,
ocupavam altos cargos sacerdotais e, com isso, detinham além do poder religioso
o poder político da nação. Mateos e Camacho nos informam o seguinte:
Eram muito conservadores no campo religioso e igualmente
no campo político, porém abertos à influência da cultura
grega
helenista.
Adaptavam-se
ao
domínio
romano;
chegaram a uma composição, uma espécie de acordo não
escrito: eles procuravam manter a ordem, ocupando os
postos dirigentes, para que assim os romanos os deixassem
tranqüilos. Aceitavam a injustiça da dominação estrangeira
contanto que não comprometesse sua posição nem pusesse
em perigo o seu poder. (apud Mateos e Camacho-2003,
p.35)
Em relação às doutrinas, sabemos que os saduceus, rejeitavam a doutrina
farisaica da ressurreição dos mortos e também negavam a existência de anjos e
espíritos. A vida dos saduceus era focada no que é terreno, por isso, tiravam o
maior proveito de sua situação de poder.
2.2.2. Os fariseus
O nome fariseus deriva da palavra hebraica perûsim que traduzida
literalmente, significa: os separados. Constituíam o partido religioso formado em
sua grande maioria por leigos devotos que dirigidos por letrados buscavam levar
as práticas religiosas ao extremo. Acreditavam que o cumprimento da Lei ou Torá
era o requisito mais importante da vida, por isso, supunham que ao homem só
restava estudá-la e pô-la em prática em todos os aspectos da vida.
Os pontos principais da doutrina farisaica (Mateos e Camacho, 2003, p.36)
eram: a imortalidade da alma, a ressurreição dos mortos (onde os justos
ressuscitarão para a vida eterna na glória do reino messiânico e os pecadores
para o castigo eterno) e a existência de anjos e espíritos. Tinham, também, a
demasiada preocupação em pagar o dízimo e se manterem “puros”, ou seja,
resumindo, sem terem contato com pessoas que não observasse a Lei como eles
(isso esclarece os diversos conflitos que os evangelhos relatam entre Jesus e os
fariseus).
Em relação às expectativas messiânicas dos fariseus, Lohse nos informa o
seguinte:
Os fariseus desenvolveram a expectativa da ressurreição
dos mortos em uma doutrina coerentemente formulada,
diferenciando-se dos saduceus (At 23,8), e cultivaram uma
forte esperança messiânica. Se o povo se preparar em
pureza e santidade para a vinda do Messias, este, então,
aparecerá como filho de Davi, a fim de reunir as tribos
dispersas de Israel e erigir de novo o reino. (apud Lohse2000, p.73-74)
Assim, os fariseus esperavam que a libertação de Israel das mãos
opressoras, aconteceria por intermédio da intervenção de Deus, contudo, para
que esse momento chegasse mais rápido seria necessário a prática rigorosa da
Lei.
2.2.3. Os essênios
Os essênios eram um partido religioso judaico independente, ou seja,
viviam em comunidades afastadas. Foi um partido que rompeu com o sistema
político e religioso de seu tempo. Eram mais extremistas que os fariseus, pois
estes ainda respeitavam as instituições, já os essênios entendiam que o culto e o
templo estavam corrompidos por terem um sacerdócio indigno. Esperavam que o
próprio Deus o restaurasse.
Seu radicalismo levou-os a considerarem-se o povo exclusivo de Deus, por
isso estudavam as Escrituras em suas comunidades aguardando o juízo divino
que os salvariam e condenaria todos que não fizessem parte de seu grupo.
2.2.4. Os zelotas
No segundo volume da obra lucana3 encontramos, provavelmente, o
fundador do partido dos zelotas: “Judas, o galileu, que nos dias do recenseamento
atraiu o povo atrás de si” (At 5,37). Os zelotas eram um partido ativista e em sua
maioria composto pelas classes oprimidas, porém, diferentes dos fariseus e
essênios, aguardavam o reinado de Deus não de braços cruzados, mas partiram
para a luta armada em busca da libertação de Israel do domínio romano. Lohse
aponta algumas das motivações dos zelotas que os levavam a essas ações
revolucionárias:
Quem reconheceu o imperador como seu senhor e lhe pagou
impostos, infringiu, na perspectiva dos zelotas, o primeiro
mandamento, que prescreve honrar somente a Deus. Os
zelotas se recusavam a se submeter ao domínio do
imperador romano e a chamá-lo de Kyrios (senhor). Não
estavam dispostos a aguardar com paciência a futura
transformação messiânica, como os fariseus, mas queriam
determinar o curso da história pelo próprio agir. (apud Lohse2000, p.75-76)
Em resumo, como nos diz Mateos e Camacho:
Deixando de lado os saduceus, que não desejavam
mudança alguma, havia duas posições em face da chegada
3
Encontramos essa divisão da obra do evangelista Lucas em: História da Literatura Cristã
Primitiva - uma introdução ao Novo Testamento aos Apócrifos e aos Pais Apostólicos de Philipp
Vielhauer.
do reinado de Deus: a primeira, própria dos fariseus e dos
essênios, atribuía a mudança exclusivamente à intervenção
divina; a segunda, própria dos zelotas, queria efetuar a
mudança, contando com a ajuda de Deus, mediante a força
das armas. (apud Mateos e Camacho-2003, p.46)
Não é tarefa fácil sintetizar as diversas maneiras como esses grupos
concebiam a libertação de Israel e as expectativas messiânicas que os moviam,
porém, basicamente, o que se propôs foi apresentar o contexto e o ambiente,
enxertado de ideologias, em que Jesus de Nazaré começa seu ministério.
Portanto, como se pode observar da sociedade do tempo de Jesus sob
domínio romano é que a grande esperança de Israel era o reinado de Deus, que
havia de mudar o curso da história, libertando o povo de todas as injustiças e
opressões sofridas, e assim, dar início a época de justiça, paz e prosperidade
anunciada pelos profetas do Antigo Testamento, principalmente depois das
difíceis experiências de dominações estrangeiras.
Capítulo 3 - Jesus de Nazaré: o Messias
Rino Fisichella nos diz que “o messianismo não é especifico de Israel,
porém é um fenômeno peculiar em Israel, porque foi vivido e compreendido como
um fenômeno político e religioso de maneira particular” (Fisichella. In: Pacomio, L.
& Mancuso, V. (Org.); 2003 p.482), ou seja, em Israel, ele indica uma esperança
de ver a intervenção salvífica de Iahweh, sendo possível observar em sua história
uma leitura messiânica em diferentes épocas, porém mantendo sempre viva essa
esperança de salvação. E isso, é muito significativo para os escritos do Novo
Testamento.
Em consonância com a idéia acima, Jurgen Moltmann, nos diz que: “não
existe a cristologia incondicional. A condição histórica da cristologia é a promessa
do Messias do Antigo Testamento e a esperança judaica fundamentada na Bíblia
Hebraica” (2009, p.21). Complementando essa idéia I. Howard Marshall nos diz o
seguinte:
Continua a existir uma grande divergência entre estudiosos
que defendem que os Evangelhos sinóticos oferecem um
panorama bastante confiável sobre a forma como Jesus agia
e falava, e os que sustentam serem duvidosas as narrativas
dos
Evangelhos
significativamente
e
que
o
Jesus
histórico
era
diferente
da
forma
retratada
nos
Evangelhos. Logo, devo agir de acordo com a primeira
posição, tomando a direção oposta a que foi adotada por
Bultmann, e assim discutir a teologia de Jesus da maneira
como nos é apresentada pelos evangelistas, com base no
sólido pressuposto de que as apresentações de Jesus, que
encontramos nos Evangelhos sinóticos, estão próximas o
suficiente da realidade histórica, de forma a nos permitir
utilizá-las para compreender sua mensagem e sua missão.
(2007, p.39)4
Sendo assim, visto que até o exato momento a pesquisa preocupou-se em
apresentar o pano de fundo histórico da qual emergiu as expectativas messiânicas
judaicas, e também, o contexto e o ambiente turbulento que foi o da Palestina do
primeiro século em que Jesus de Nazaré nasceu, cresceu, desenvolveu seu
ministério terreno, foi crucificado e ressuscitou. A partir de agora pretende-se
analisar de fato, o movimento de Jesus de Nazaré5, focando em especial o
título/nome de Messias, o Cristo, Ungido de Deus, partindo dos pressupostos
acima citados.
4
Temos ciência da discussão do Jesus histórico e o Cristo da fé (querigma), porém como o
escopo de nossa pesquisa não é pormenorizar essa discussão e cremos ser possível encontrar o
Jesus histórico por meio dos Evangelhos, sugerimos para maiores detalhes sobre o assunto a
leitura de Teologia do Novo Testamento de Joachim Jeremias (1977).
5
Segundo Gerd Theissen, em Sociologia do Movimento de Jesus, o movimento de Jesus de
Nazaré é um fenômeno de renovação intrajudaico despertado por Jesus, onde segundo Theissen
o cristianismo primitivo dividi-se em duas frentes, o helenístico e o palestinense, sendo este último
o que caracterizou o movimento de Jesus.
Para tal, intento, iniciaremos apresentando uma breve explicação sobre o
significado
do
verbo
hebraico
(ou
aramaico)
‫( מׁשח‬mashiah), e seu
correspondente, em grego Χριστός (Christos). Sucintamente, ambos, significam:
untar, pintar, ungir, ungido ou ser ungido. Como já vimos acima (no início do
surgimento da monarquia em Israel com Saul, Davi e seus sucessores), a tradição
judaica conhece a unção de reis que foram instituídos legítimos “ungidos de
Iahweh” (1Sm 9,16; 16,12-13; 2Sm 23,1) e também a unção do sumo sacerdote
(Lv 4,3-5) e, mais raramente, de profetas
(1Rs 19,16; Is, 61,1; Sl 105,15).
Com isso, nota-se a importância do Messias, o Ungido, para Israel, e
conseqüentemente, para os escritos do Novo Testamento.
Heinz-Josef Fabry e Klaus Scholtissek nos dão algumas informações
interessantes em relação à ocorrência da palavra Christos no Novo Testamento:
No Novo Testamento, há 529 ocorrências de christos, e duas
vezes aparece à transcrição grega messias (Jo 1,41; 4,25).
Esse título é, por conseguinte, a designação cristológica
mais comum no Novo Testamento; ele se acha em todos os
escritos neotestamentários (com exceção dos 25 versículos
de 3João), 270 apenas em Paulo. (2008, p.78)
Oscar Cullmann corrobora com a idéia acima de que a designação
cristológica mais comum do Novo Testamento seja a de Messias ou Cristo, pois
cita em sua cristologia:
Para nos convencermos da importância que davam a este
título, basta lembrar que, desde a época do Novo
Testamento até nossos dias, “Messias” chegou a ser para os
cristãos o título cristológico por excelência [...] Desde muito
cedo, os cristãos adquiriram o hábito de associar o título de
“Cristo” ao nome de Jesus. Jesus Cristo, pois, significa
Jesus-Messias. Já nos mais antigos escritos cristãos que nos
chegaram, as Epístolas de Paulo, o termo “Cristo” mostra a
tendência a converter-se em nome próprio (embora Paulo,
invertendo as vezes a ordem usual, escreve “o Cristo Jesus”,
evidenciando, assim, que não esquece a verdadeira
significação deste título). Na época apostólica, o verdadeiro
sentido do título Messias é, pois, conhecido. Deveríamos
sempre nos lembrar, ao ler o Novo Testamento, que no
espírito
de
seus
autores,
“Jesus
Cristo”
significa
corretamente “Jesus o Messias”. (2008, p.150)
Sendo assim, na mesma linha de Cullmann, George Eldon Ladd, confirma a
importância do título e seu uso singular na teologia paulina:
O título e conceito de Messias (Christos = Mashiah = ungido)
é o mais importante de todos os conceitos cristológicos,
historicamente falando, se não teologicamente, porque
tornou-se no modo central de designar a compreensão cristã
da pessoa de Jesus. Isto é provado pelo fato de Christos,
que é propriamente um título designativo de “ungido”, logo
tornou-se um nome próprio. Jesus tornou-se conhecido não
só como Jesus, o Cristo ou Messias (At. 3,20), mas como
Jesus Cristo ou Cristo Jesus. Só ocasionalmente Paulo fala
de Jesus; ele quase sempre usa o nome composto; e ele fala
com mais freqüência de Cristo do que de Jesus. (2001,
p.127)
Não restam dúvidas da singular importância que carrega o título
messiânico “Cristo”, para a igreja primitiva e o cristianismo, que por intermédio do
apóstolo Paulo ganha também o status de nome próprio, ou seja, Jesus Cristo é o
Messias. Tanto é verdade que esse título/nome passa a dar nome à nova fé, pelo
fato de que os discípulos de Jesus de Nazaré foram, primeiramente, chamados de
“cristãos” em Antioquia (At 11, 26).
Contudo, surge uma questão que procuraremos responder de forma
pontual e objetiva: por que Jesus de Nazaré manifestava uma singular reserva
quanto ao uso do título Messias cada vez que se fazia para designar sua pessoa e
sua obra (Mc 1,43ss; 5,43; 8,27-30; Lc 22,63-71)?
Fabry e Scholtissek nos informam o seguinte, “que o próprio Jesus, em
vida, se confrontou com expectativas salvíficas messiânicas de diferentes
colorações” (apud-Fabry e Scholtissek-2008, p.85), ou seja, no contexto em que
Jesus de Nazaré viveu havia diversas expectativas messiânicas na mente do
povo, sendo a de um messias nacionalista-político da linhagem de Davi a idéia
predominante. Se o propósito de Jesus fosse oferecer ao povo de Israel tal reino
davídico, político e terreno, eles o teriam aceitado de imediato e lutado por ele até
a morte, pois o que o povo desejava era um rei para libertá-los de Roma e não um
salvador para redimi-los dos pecados.
Seguindo essa mesma linha de pensamento Ladd diz:
“messias” sugeria às mentes dos judeus um filho real de
Davi, que seria ungido por Deus para trazer a Israel o
livramento político do jugo dos pagãos e para estabelecer o
reino terreno, e fica evidente de imediato que seria
necessário a Jesus utilizar o termo somente com grande
reserva. Tivesse Jesus publicamente proclamado ser o
Messias, aquela proclamação seria recebida pelo povo como
uma chamada para que se ajuntasse para a rebelião contra
Roma. (apud Ladd-2001, p.131)
Nesse sentido James D. G. Dunn afirma que “tal papel Jesus rejeitou [...]
para Jesus, então, a confissão de si próprio como o Messias significava um malentendido de sua missão. Conseqüentemente ele desencorajava tal confissão”
(2009, p.114). É óbvio que nesse sentido Jesus não quer que difundam uma
opinião errada sobre ele, pois isso poderia suscitar um entusiasmo messiânico
falso.
Resumindo, o messianismo que Jesus de Nazaré exerceu foi de um caráter
bem diferente do que esperava a mentalidade popular. Ele era o Messias, mas
não o político, conquistador e guerreiro que a mente de seus contemporâneos
ansiavam e esperavam. O messianismo de Jesus se caracteriza por toda sua
ação, isto é, a missão toda de Jesus de Nazaré, desde sua morte e ressurreição,
não simplesmente pelo cumprimento (seja de qual tipo for) de expectativas
messiânicas, por mais que tenham sido depositadas em sua pessoa. Seu
ministério terreno, sua morte na cruz e sua ressurreição dentre os mortos são
decisivos para a avaliação de sua messianidade. Somente assim, juntando esses
fatores, é que podemos criar a imagem adequada de Jesus Cristo, ou seja, o
Jesus terreno não pode ser compreendido sem o Cristo ressuscitado, e é este, e
não outro o Messias, Jesus de Nazaré, que atuou entre nós.
Contudo, os escritos neotestamentários pressupõem a fé em Jesus de
Nazaré, o Cristo, e relatam sua vida a luz da fé cristã. Sendo assim, o Novo
Testamento aplica além de “Cristo” outros títulos messiânicos a pessoa de Jesus,
o que veremos a seguir.
3.1 - Títulos messiânicos
Filho do Homem, Filho de Deus, Filho de Davi e “Kyrios” são os títulos mais
usados pelos escritores do Novo Testamento, sendo que esses títulos não se
chocam entre si, mas se interpretam mutuamente, resplandecendo ainda mais o
testemunho daquele a qual se referem. Por se tratarem de temas muito extensos
e discutidos, procuraremos, então, analisar brevemente cada um desses títulos
atribuídos a Jesus de Nazaré.
3.1.1. Filho do Homem
Esse título messiânico tem sua origem no Antigo Testamento, mais
especificamente, nos livros dos profetas Ezequiel e Daniel 7. Ladd nos diz que “a
expressão ocorre no livro de Ezequiel (cerca de noventa vezes) como o nome
particular pelo qual Deus se dirige ao profeta” (apud Ladd-2001, p.139). Onde em
Ezequiel tem o significado literal do termo, ou seja, filho do homem é
simplesmente homem, pertencente ao seu gênero humano. Em Daniel já há um
contraste com essa idéia, pois o filho do homem agora é aquele que aparecerá no
fim dos tempos para julgar o mundo, ou seja, “é uma figura escatológica
messiânica celestial que trás o reino aos santos afligidos sobre a terra” (apud
Ladd-2001, p.140).
Segundo consenso de vários estudiosos (Cullmann, Ladd, Moltmann,
Fisichella, G. Vermès, e outros), esse foi o título favorito que Jesus usou para
fazer referência a si próprio (Mt 8,20; 11,19; Mc 2,10; 2,28). Fisichella diz que essa
expressão
aparece nos evangelhos 82 vezes, sempre e somente nos
lábios de Jesus [...] todos os textos relativos a essa
expressão podem ser reduzidos a três categorias: a) o
ministério terreno do filho do homem; b) sua paixão, morte e
ressurreição; c) sua glória escatológica e o respectivo retorno
no final dos tempos. (apud Fisichella In: Pacomio, L. &
Mancuso, V. (Org.); 2003, p.302).
Se enquadrando nesse viés, Ladd complementa:
Jesus será o Filho do Homem celestial e glorioso, vindo com
as nuvens, para julgar os homens e para inaugurar o Reino
glorioso. Entretanto, em antecipação desta manifestação
apocalíptica como o Filho do Homem, Jesus é o Filho do
Homem enviado incógnito entre os homens, cujo ministério
não é reinar em glória, mas sofrer e morrer em humilhação
pelos homens. O Filho do Homem futuro, celestial, já está
presente entre os homens, mas de uma forma que eles
dificilmente esperariam. (apud Ladd-2001, p.149)
Sendo assim, Filho do Homem no Novo Testamento refere-se diretamente
a pessoa de Jesus de Nazaré que com esse título quis identificar a si mesmo e a
sua missão, e assim, interpretar seu oficio messiânico a seu próprio modo.
3.1.2. Filho de Deus
Encontramos esse título em diversas passagens do Antigo Testamento (Êx
4,22; 2Sm 7,14; Sl 2,7; 89; Ml 2,10; e outros). Cullmann (2008, p.356) nos informa
que esse título era empregado de três maneiras diferentes: primeiro, o povo de
Israel inteiro é chamado “filho de Deus”; em segundo lugar, o rei porta este título;
e finalmente, certos comissionados especiais de Deus, tais como os anjos. Ele
acrescenta também a noção deste título no Oriente e no helenismo onde
nas antigas religiões orientais principalmente os reis eram
considerados como gerados por deuses. Esta crença estava
particularmente
espalhada
no
Egito,
onde
os faraós
passavam por ser filhos do deus sol Rá. Ela é atestada
também, porém, com menor clareza, na Babilônia e na
Assíria. Para a época do Novo Testamento, pode-se pensar
também nos imperadores romanos e no título de divi filius
que lhes era conferido. (apud Cullmann-2008, p.355)
Com essa herança histórica o título é usado no Novo Testamento para
exprimir a relação de Jesus com Deus, ou seja, revelar a relação absolutamente
única que há entre eles: exatamente a de filiação. John Stott diz que “a afirmação
de que Jesus é o Filho de Deus foi mais que messiânica e descreve seu
relacionamento único e eterno com Deus (Mt 11,27; Jo 5,17; 10,30; 14,10-11)”
(2007, p.32). Dizer então, que Jesus é Filho de Deus, somente exprime a
realidade da relação de Jesus de Nazaré com Deus.
3.1.3. Filho de Davi
É evidente que os Evangelhos e o Novo Testamento, em geral,
reconhecem a tradição do título Filho de Davi (Mt 1; 9,27; 12,23; Lc 3; Rm 1,3),
pois como já vimos acima, a herança veterotestamentária já havia alimentado as
mentes do povo de Israel na esperança de um rei guerreiro “da casa de Davi”
(2Sm 7). Por isso a cautela de Jesus em relação ao uso do título (Mc 12,35-37)
para que o povo não tivesse uma interpretação inadequada do Messias.
Horsley e Hanson nos informam que “a questão da imagem de um rei
davídico simbolizava substancialmente aquilo que este agente de Deus faria:
libertar e restaurar a sorte de Israel, como o fizera o Davi original” (1995, p.92).
Contudo, Ladd complementa afirmando que “Jesus é de fato o Filho de Davi; mas
somente isto não é suficiente” (apud Ladd-2001, p.135), ou seja, Jesus é da
descendência de Davi, porém sua messianidade não se resume somente ao uso
desse título messiânico e sua libertação vai além da libertação e restauração
política.
3.1.4. Kyrios
O título messiânico Kyrios é de origem grega: κύριος, e significa “Senhor”.
Giovanni Iammarrone nos informa que:
os judeus dos dois últimos séculos começaram a se dirigir a
Deus empregando o termo absoluto Kyrios ao lado do
hebraico Adon. Este termo foi utilizado na Septuaginta para
indicar Iahweh. Tal uso pode explicar a adoção do termo no
Novo Testamento. Nos escritos do Novo Testamento, Kyrios
aparece 719 vezes, com diversos significados. (Iammarrone.
In: Pacomio, L. & Mancuso, V. (Org.); 2003, p.689)
Contudo, quem mais foi chamado de Kyrios foi Jesus Cristo. Às vezes
como forma de tratamento (como no exemplo de Marta e Maria em Lc 10,40), e às
vezes como título que expressa sua messianidade e proclama sua glória e
soberania sobre a história humana (At 1,6; 2,33-36; Rm 10,9; Fp 2,9-11). Sendo
assim, Kyrios no Novo Testamento refere-se a Jesus de Nazaré, porém
ressuscitado e exaltado.
3.2 - A autoconsciência messiânica de Jesus de Nazaré
Vimos até este ponto da pesquisa que os Evangelhos e os demais escritos
do Novo Testamento apresentam Jesus de Nazaré como o Messias e, além disso,
vão interpretando a sua vida e lhe atribuindo títulos messiânicos que expressam a
fé da comunidade primitiva e nos servem até os dias hodiernos. Leonardo Boff diz
que “os títulos que a fé atribuiu exprimem exatamente quem era Jesus desde seu
nascimento até sua cruz: o esperado das nações, o salvador do mundo, o Filho de
Deus, Deus mesmo feito condição humana” (1986, p.40). Contudo, outra pergunta
se apresenta: Jesus de Nazaré declarou-se Messias e teve nesse sentido uma
autoconsciência messiânica?
Boff (1986, p.41) nos apresenta alguns indícios que apontam que Jesus de
Nazaré tinha consciência de seu messiado, ou seja, para ele Cristo não começa
seu ministério pregando a si próprio, mas o Reino de Deus,6 o que pressupõe que
Jesus se entende como o Messias, porque prega, presencializa e já esta
inaugurando o Reino de Deus. Outra característica importante apontada por Boff é
a relação de Jesus com Deus, isto é, sua filiação. Para ele “quem chama a Deus
de Abba-Pai (Mc 14,36), sente-se e é seu Filho” (1986, p.107). Nesse sentido Boff
complementa:
Cremos que sua experiência profunda do Pai e da
correspondente
filiação
constituíam
o
fundamento
da
consciência de Jesus de ser o Enviado e o Inaugurador do
Reino de Deus. Jesus não veio pregar o Messias, o Cristo, o
Filho de Deus, mas para viver, com palavras e atos, o Filho
de Deus, o Cristo, e o Messias. Não porque a comunidade
chama a Jesus de Filho de Deus e Cristo, Ele é feito Cristo e
Filho de Deus. Mas porque de fato o foi, pode a comunidade
6
Como não é nosso objetivo desenvolver o tema Reino de Deus, sugerimos a leitura da obra de
Leonardo Boff: Jesus Cristo Libertador (1986) e também: Reino de Deus e Esperança Apocalíptica
de Gottfried Brakemeier (1984).
com razão chamá-lo de Filho de Deus e Cristo. (apud Boff1986, p.107-108)
Para Boff não há dúvidas que Jesus tinha consciência de ser ele o Messias,
o Cristo e o Filho de Deus. Fabry e Scholtissek concordam com Boff nesse sentido
e complementam dizendo que:
O anúncio de Jesus em palavras e atos tem por base uma
pretensão de autoridade provocantemente alta, que está em
conexão direta com o reinado de Deus anunciado. A
autoridade da missão de Jesus tem sua peculiaridade, ou
seja, não tem uma derivação histórica. Por isso, Jesus tem
consciência de seu envio por Deus, de sua tarefa e da
autorização de Deus, de sua autoridade que se funda em
Deus. Se Jesus não se reconheceu expressis verbis como o
Messias, uma autocompreensão messiânica no sentido mais
amplo não lhe pode ser negada. Jesus se sabia determinado
a conduzir Israel para o reinado de Deus. A ligação entre a
soberania régia manifesta de Deus e uma figura mediadora,
que está em proximidade especial com ele, já caracteriza a
expectativa do ungido no judaísmo primitivo, a qual por isso
também se prestou, nesse aspecto, para a interpretação da
pessoa de Jesus. (apud Fabry e Scholtissek-2008, p.84-85)
Para encerrarmos o assunto, pois está claro que muitos autores concordam
que Jesus de Nazaré de fato tinha uma consciência messiânica, e cremos,
baseado nas palavras dos evangelistas em Mt 16,20; Lc 2,39-52 e outros, faremos
uso das palavras de Iammarrone que nos diz:
que as narrativas evangélicas, embora tendo surgido no
contexto da confissão de fé pós-pascal em Jesus como
Senhor,
não
aumentam
indevidamente
seu
autoconhecimento histórico, e muito menos o falsificam, pois
são expressões de uma compreensão mais profunda por
parte da comunidade cristã daquilo que ele historicamente
ouviu e pensou a respeito de si e de sua missão salvífica.
Jesus teve sempre consciência de sua identidade pessoal
única, do mesmo modo, ele teve sempre consciência de sua
missão salvífica e os Evangelhos nos testemunham que ele
esteve aberto aos modos e às formas como ela vinha se
realizando concretamente, segundo a vontade do Pai que a
ele se revelava nos fatos humanos cotidianos e a qual ele se
sentia
sempre
sujeito,
“obediente” (Mc 14,36) (apud
Iammarrone. In: Pacomio, L. & Mancuso, V. (Org.); 2003,
p.135)
Sendo assim, não restam dúvidas que por mais que Jesus de Nazaré não
se tenha reconhecido expressis verbis como o Messias, fica clara sua
autoconsciência de sua missão, pois não se anuncia a si mesmo, mas anuncia o
Reino de Deus. E mais, relaciona-se com Deus chamando-o de Pai, consciente
que é seu Filho e entende que a autoridade de sua missão salvífica está
fundamentada em Deus.
É nesse sentido que os Evangelhos e todo o Novo Testamento testificam
da pessoa de Jesus de Nazaré e “foram escritos para que creiamos que Jesus é o
Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhamos vida em seu nome” (Jo
20,31).
Considerações finais
É óbvio que na presente pesquisa sobre o Messias, Jesus de Nazaré,
muitos pormenores de sua vida, ministério público, morte e ressurreição não foram
abordados ou simplesmente passaram despercebidos pelo crivo do autor. Até
porque como nos diz o evangelista João: “Jesus fez muitas coisas e se todas elas
fossem relatadas uma por uma, creio que nem no mundo inteiro caberiam os livros
que seriam escritos”
(Jo 21,25). Contudo, o que se propôs foi uma análise
de cunho cristã-evangelica, com o simples objetivo de realçar a pessoa de Jesus
Cristo, o nazareno, como o Messias.
Por isso, a preocupação de uma análise histórica, retornando ao êxodo do
Egito, passando pelos diversos períodos de dominações estrangeiras, até a
dominação romana. Assim, em meio ao desenrolar da história as expectativas de
libertação messiânicas foram sendo geradas. Isso foi apresentado de modo que
apontasse sempre para o momento de Jesus de Nazaré na história de Israel.
Também uma análise teológica foi apresentada, onde apontasse para a
relevância da pessoa de Jesus, o Cristo, nos primórdios da Igreja e em todo o
decorrer da história do cristianismo até os dias de hoje. Por isso, sintetizamos
alguns títulos messiânicos que, corretamente, foram sendo interpretados e
atribuídos a Jesus de Nazaré na pregação do evangelho e no caminhar da Igreja.
Isso, sem nos esquecermos de analisar as dificuldades que o próprio Jesus teve
que enfrentar em seu tempo, por causa das errôneas interpretações e
expectativas messiânicas correntes que estavam impregnadas nas mentes de
seus contemporâneos.
E por fim, uma breve análise de sua autoconsciência messiânica foi
também apresentada, onde se apurou que sim, o simples Carpinteiro de Nazaré
era consciente de sua missão salvífica autorizada por Deus.
Assim, se encerra a presente pesquisa, acreditando que a mesma possa
ser o arcabouço de um futuro trabalho mais detalhado da vida daquele que foi e
que é o maior homem de toda a história: Jesus de Nazaré, o Messias.
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