AMBIENTE ECONÔMICO GLOBAL MÓDULO 9 Índice 1. Globalização: Os Movimentos e Processos .................... 3 1.1 Mundialização, regulação e depressão longa .................... 3 2 Ambiente Econômico Global - Módulo 9 1. GLOBALIZAÇÃO: OS MOVIMENTOS E PROCESSOS 1.1 MUNDIALIZAÇÃO, REGULAÇÃO E DEPRESSÃO LONGA Em outubro de 2008, o mundo foi atingido com a notícia de que uma nova crise econômica assolaria o planeta, com consequências tão trágicas quanto as da quebra da bolsa americana em 1929. Segundo Judensnaider (2009), Delfin Netto, em palestra proferida na Universidade Paulista naquela ocasião, “opinou que estaríamos vivendo mais uma das tantas crises da história do capitalismo. ‘O mundo não vai acabar’, nas suas palavras. Do ponto de vista da economia de mercado, (...) [isto é] absolutamente correto”. Analisemos a história econômica mundial: desde o século XVIII, o mundo vem caminhando lentamente no sentido de se organizar sob estruturas básicas que são conhecidas como sendo de economias de mercado. De forma simplificada, e considerando o período dos Setecentos até o século XXI, poderíamos identificar três grandes momentos de inflexão do Capital, a saber, a primeira grande depressão do final do século XIX, a grande depressão dos anos 30 e as crises do final da década de 70. Em cada uma delas, o sistema de mercado deu um jeito de resolver a situação: inicialmente, “avançou” em direção a novos mercados por meio de estratégias imperialistas, e que isso tenha acabado em guerra é assunto com o qual economistas do mainstream não costumam se preocupar. Na de 30, entre as duas grandes guerras mundiais, o Capital, reconhecendo a inabilidade das suas mãos invisíveis, atribuiu ao Estado o papel de tirar a economia de mercado do imenso buraco em que havia se metido. Depois, cansado da imobilidade à qual estava sujeito por força da mão visível do Estado, arquitetou o Grande Discurso da Globalização, sedimentando, ao longo do caminho, os caminhos para a liberdade do capital através de incursões militares em países estrangeiros e a institucionalização de organismos financeiros internacionais (Judensnaider, 2009). O capitalismo é um sistema que funciona por meio de falhas, e essa é uma de suas características mais estudadas ao longo de toda a história do pensamento econômico. Ele funciona de forma cíclica, e podem ser notados, se analisados seus movimentos, períodos de expansão seguidos de momentos de depressão. Na verdade, o sistema necessita falhar, porque é essa a oportunidade que cria um ambiente propício às inovações tecnológicas. Figura: Ciclos econômicos e inovação tecnológica 3 Ambiente Econômico Global - Módulo 9 Fonte: http://w3.ufsm.br/mundogeo/geopolitica/more/tecnologia_arquivos/image01 1.jpg Esses movimentos cíclicos funcionam da seguinte forma: a) Inicialmente, considerados certos níveis de investimentos e inovações tecnológicas, a economia tende a crescer; b) O crescimento, no longo prazo, apresenta taxas decrescentes; quer dizer, a economia continua a crescer, porém, a taxas decrescentes; c) A queda nas taxas de lucros provoca depressões; d) Para escapar das depressões, o capital sai em busca de outras inovações tecnológicas e, novamente, volta a crescer. A partir dos estudos do russo Kondratieff, podemos descrever os ciclos do capitalismo da seguinte forma: a) 1o ciclo: expansão, de 1790 a 1815; depressão, de 1815 a b) 2o ciclo: expansão, de 1842 a 1870; depressão, de 1870 a c) 3o ciclo: expansão, de 1895 a 1920; depressão, de 1920 a d) 4o ciclo: expansão, de 1945 a 1970; depressão, de 1970 a 1842; 1895; 1945; 1985; e) 5o ciclo: expansão, de 1985 a 2005, na opinião de alguns economistas. Segundo Chesnais (1996, p. 301), A economia mundial passou por vários sobressaltos ou choques monetários e financeiros, cuja configuração foi complexa e variada e cuja frequência parece ter-se acelerado. São os ‘acidentes financeiros 4 Ambiente Econômico Global - Módulo 9 disparatados e recorrentes’, nascidos da globalização financeira (...) [e que] não podem ser considerados como uma simples somatória de fatos isolados. Exigem ser abordados como um todo, partindo da hipótese de que “formam um sistema. Os dados mostram que a economia mundial, ao menos se levarmos em consideração um período de tempo a partir dos anos noventa, está vivendo um período de longa depressão: isso pode ser observado pelas estatísticas de queda no número de novos empregos criados, queda de salários, aumento dos déficits públicos, aumento da pobreza. A globalização (e sua esfera financeira) colabora para a manutenção do estágio depressivo da economia: ela se alimenta dos setores produtivos, faz uso do capital financeiro para criar riquezas per si, cria “bolhas” especulativas, estoura e afeta empresas e setores da economia real. É o ciclo vicioso do capital, que se manifesta através dos ciclos alternados de expansão e retração. Na figura 2, podemos ver os encadeamentos da mundialização, de forma esquemática: Figura: Os mundialização encadeamentos cumulativos ”viciosos” da Fonte: CHESNAIS, François. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996, p. 30. O atual cenário da economia mundial nos leva a alimentar algumas esperanças: é provável que, finalmente, os grupos dominantes percebam a necessidade de um maior controle da movimentação do capital especulativo e a importância de criar mecanismos de proteção social aos países em desenvolvimento e aos grupos sociais mais marginalizados. Se isso não for feito, caminharemos de crise em crise, concentrando cada vez mais riqueza e gerando mais desigualdade. 5 Ambiente Econômico Global - Módulo 9