Abílio Leal de Mattos e Silva - Escola Secundária Rainha Dona

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Abílio Leal de Mattos e Silva
Obidense de coração e devoção, nasceu no Sardoal a 1de Abril de 1908, tendo nesta vila vivido na Casa Grande (Casa dos Almeidas). Vem
para Óbidos muito novo acompanhando o pai, funcionário da Repartição de Finanças.
Concluídos os estudos liceais em Coimbra, frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa nos anos lectivos de 1927 e 1928,
tendo abandonado os estudos para ingressar no funcionalismo público.
Colocado na Nazaré de 1931 a 1936, é nesse período que a sua actividade de pintor se manifesta de forma mais assídua
– e ao facto não será estranho o estimulante convívio com pintores portugueses e estrangeiros (entre estes, o RomenoAmericano John Barber, o Americano Barry Green e o Inglês Hagedorn) que com ele partilhavam a forte sedução
ambiental da vila. Saavedra Machado, antigo director do Museu da Nazaré (instituição a que Abílio doou parte da sua
obra), escreveu sobre a paixão do artista pela Nazaré, que retratou em pinturas e desenhos inigualáveis. «Quem demore
o seu olhar sobre os óleos, os guaches e os desenhos de Abílio, vê o concreto da paisagem, do casario, dos barcos, dos
pescadores em terra e no mar, os seus dramas, as gentes nazarenas pousadas no velho burgo do litoral […]. Seguro
de uma técnica que porta com brilha, Abílio foi um artista de raiz com algo de lirismo, que dá à sua obra grande
originalidade, deixando transparecer a maneira como a Nazaré teve neste artista um eterno enamorado […]».
Nazaré terá sido o começo, Óbidos, a continuação. Com efeito, a actividade de Abílio prolonga-se durante as férias, no velho burgo, cuja
paisagem desenha e pinta durante muitos anos.
Mesmo depois de se ter fixado em Lisboa, em 1961, Óbidos e Nazaré continuaram ser a sua fonte principal de inspiração; de Óbidos, tema
incansavelmente repetido até aos últimos dias, deixou uma vasta e significativa produção.
Da participação de Abílio Mattos Silva em exposições, são escassos e por vezes contraditórios os elementos disponíveis. Pela mão de Jorge
Barradas são expostas algumas pinturas suas no 1º Salão dos Independentes em 1930 e a partir de então todos os salões de Arte Moderna
incluíram alguns quadros seus, como foi o caso da exposição de Arte Moderna, na Casa Quintão no Chiado, em 1935, onde se faz
representar com cinco trabalhos. Outras exposições se sucederiam, nomeadamente o Salão “Momento”, no Grémio Alentejano (1935) e
desde 1933 esteve presente em todas as exposições do S.N.I. (Secretariado Nacional de Informação, Turismo e Cultura Popular, geralmente
conhecido pelo seu nome simplificado para Secretariado Nacional de Informação, durante o regime do Estado Novo, em Portugal).
A actividade de pintor viria a tornar-se mais espaçada à medida que ia sendo cada vez mais solicitado para outras áreas de criação artística.
Colaborador da revista “Presença” (no tempo em que esta era dirigida por José Régio) foi, como grafista e ilustrador, autor de numerosos
trabalhos para revistas e publicações oficiais.
Tem o seu primeiro contacto com o teatro em 1936, na peça “Tá-Mar” no Teatro D. Maria II. Com a peça “Tá-Mar”, de Alfredo Cortez,
inicia, em 1936, uma longa e notável carreira de cenógrafo e figurinista, traduzida em numerosas realizações no domínio do teatro, da
ópera e do bailado.
De 1941 a 1951 foi Assistente da FNAT (Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho), antecessora do INATEL, executando
vários trabalhos para a Direcção Geral dos Serviços Agrícolas, Comissão Reguladora do Comércio dos Carvões, C.T.T,
Comissões de Iniciativa de Turismo da Nazaré e Óbidos.
Detentor de vários prémios, assumiu a direcção gráfica de várias publicações de departamentos de Estado.
Como funcionário do Ministério da Economia associa à actividade de ilustrador a de designer, tendo nessa qualidade sido condecorado pela
acção desenvolvida em exposições realizadas no estrangeiro. É cumulativamente, director de cena do Teatro S. Carlos, onde leva a efeito
algumas das suas mais importantes realizações cénicas.
Será neste imenso labor que teremos de descortinar algumas das razoes que o levaram a um progressivo afastamento das exposições de
pintura. Não deixou, no entanto, de pintar – desligado, embora, dos circuitos públicos normais.
Não deixou, no entanto, de pintar – desligado, embora, dos circuitos públicos normais. Dessa actividade solitária nos deu conta numa
retrospectiva levada a efeito em Óbidos, em 1984, um ano antes da sua morte.
Embora sonhasse com uma exposição retrospectiva sobre Óbidos, a sua terra adoptiva, só em 1984 – um ano antes da sua morte, ela se
concretizou, tendo granjeado grande aceitação na crítica de toda a imprensa.
O Museu Abílio
Abílio de Mattos e Silva dá o nome ao Museu Abílio onde um variado espólio, resultante da doação por parte da
esposa, Maria José Salavisa, nos mostra o labor criativo e produtivo do artista sardoalense, ligado à Vila de Óbidos em
diferentes etapas da sua vida.
O Museu Abílio é um espaço de homenagem à obra e pensamento de Abílio de Mattos e Silva.
Pretende ser motivador de pesquisa, investigação e divulgação das artes cénicas, fora do contexto da
representação, onde a arte é sempre protagonista.
Trabalho vasto, distribuído por diferentes artes como Pintura, Desenho, Ilustração, Obras Gráficas,
Cenografia e Figurinos, é apresentado no espaço do Museu de forma organizada e coerente.
Algumas das obras apresentadas são parte integrante da história da cultura portuguesa, em
associação com artes como o Teatro, a Dança e a Ópera, a que não falta a ligação de trabalho a
autores de outros sectores criativos.
Explanada por três pisos do Museu, esta mostra é enriquecida com apresentações e comentários escritos por figuras
marcantes da arte e cultura portuguesas em diferentes momentos da vida criativa do artista; estes textos pontuam o
espaço físico do museu, acompanhando a obra e valorizando a sua apresentação, pela oportunidade que dão ao visitante
de melhor ficar a conhecer o autor e a sua obra.
Criador em diferentes áreas das artes plásticas, proporciona, através das diferentes obras que são apresentadas, um
explanar pela arte portuguesa ao longo de várias décadas e em que a sua produção ligada ao teatro é, talvez, uma das
mais valiosas da produzida em Portugal no decorrer do século XX.
Abílio, o Desenhador Teatral
Abílio de Mattos e Silva começou a sua carreira de desenhador teatral em 1936, quando Alfredo
Cortez, talvez o maior dramaturgo português do século XX, o indicou a Amélia Rey Colaço para
desenhar os dois cenários e figurinos da sua peça “Tá Mar”, obra situada entre a gente da Nazaré mas
cujo conteúdo transcende a mera imagem regionalista. Assim foi a peça levada à cena, pela Companhia
Rey Colaço Robles Monteiro, com enorme êxito no Teatro Nacional, então Almeida Garrett.
Em 1963, desenhou, para o Teatro Nacional de S. Carlos, “Tá Mar”, a ópera de Ruy Coelho baseada na
obra de Cortez.
Abílio e o Bailado
Em 1946, Margarida de Abreu, professora de Bailado no Conservatório Nacional, e com
numerosos alunos particulares, procurou reformar a dança em Portugal, fundando o Círculo de
Iniciação Coreográfica (CIC), publicando o seu Manifesto e promovendo um espectáculo com os
seus alunos em que se destacavam as suas coreografias para “O Pássaro de Fogo”, de Igor
Stravinsky, com o cenário de Abílio de Mattos e Silva e figurinos de Tomás Costa, e “Arraial na
Ribeira”, com música de Ruy Coelho e Figurinos de Abílio de Mattos e Silva. E tão tão bem
compreendeu aquilo que era necessário para tão exigente género de espectáculo, que passou a ser
considerado, incontestavelmente, o grande desenhador de bailado em Portugal.
Quando Margarida de Abreu, no ano seguinte, 1947, apresentou “Quadros de Uma Exposição”, de Mussorgsky, o
trabalho de Abílio de Mattos e Silva foi notável, como o atestam as maquetas que sobreviveram, num desenho
enviesado a lembrar os melhores preceitos do surrealismo.
Margarida de Abreu criou mais de vinte bailados, quase sempre em colaboração com as cores e formas de Abílio de
Mattos e Silva.
Pesquisa realizada por Luísa Teresa
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