Trabalho Completo - Anais do Seminário de Pesquisa

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AS RELAÇÕES DA TEORIA DE DARWIN
E O EVOLUCIONISMO SOCIAL
Guilherme Alvarenga Fernandez 1
Resumo2
A teoria evolucionista de Charles Darwin é um dos grandes paradigmas da biologia. Em
contrapartida, alguns teóricos das ciências humanas, como Kenneth Bock (1980) ,
sugerem que a idéia de evolução histórica já vinha sendo constituída na cultura
européia muito antes de Darwin formular a teoria da evolução das espécies. Bock
acredita que Darwin já teria sido influenciado por essa linha de pensamento então em
constituição. Dessa maneira, supõe-se que haja uma contradição entre as evidências
empíricas da teoria de Darwin e o pensamento de Bock. Com base nesse pressuposto,
meu objetivo será levantar, a partir da leitura de A Origem das Espécies (2011[1859]),
traços que permitam estabelecer ou não a relação entre a teoria evolucionista de
Darwin e a idéia defendida por Kenneth Bock.
Palavras-chave: Evolucionismo social, Darwinismo, visão de mundo.
1. Orientações Gerais.
Quando Charles Darwin publicou sua obra, “A Origem das Espécies”, em 1859,
que explicitava o que seria a teoria da evolução biológica pela seleção natural, e a qual
dá suporte para constituição teórica da biologia até nossos dias, ele já estava envolto a
toda uma reflexão que vinha sendo empregada a respeito da idéia de “evolução”. Tal
discussão perpassava as diversas disciplinas do conhecimento, que iam desde a
geologia até os estudos das sociedades humanas, e com isso, o próprio conceito
apresentava variações. À época, fosse dentro do mundo natural ou do social, já era
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Graduando no curso de Ciências Sociais pela Universidade Federal de Goiás. E-mail de contato:
[email protected].
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Trabalho desenvolvido sob orientação do Prof. Francisco Chagas Evangelista Rabelo.
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quase inevitável perceber que existia uma relação de mudança que compunha todas
as coisas, ou melhor, já era quase inevitável formular uma teoria que definisse o
entendimento que se vinha produzindo sobre tais mudanças.
Assim sendo, diversas foram as explicações formuladas para entendê-las, e
pode-se dizer que elas, em parte, caminharam aliadas ao desenvolvimento científico e
suas perspectivas de melhora no desenvolvimento humano. A influência do iluminismo
e seu legado racionalizante, assim como as conseqüências pós-revolução industrial,
também influenciaram nesse processo. Na sociologia, por exemplo, a idéia de evolução
foi tomada mais definidamente por Auguste Comte, ao passo que na geologia, Charles
Lyell foi um de seus pioneiros. Com tantas teorias sendo formuladas, é certo que
Darwin não estava alheio a essa forma de pensamento e, para alguns, é provável que
sua teoria não tivesse sido desenvolvida sem que tal contexto intelectual existisse.
Posteriormente, com o advento de teorias epistemológicas sobre a própria
ciência, essa maneira que se estruturou de pensar as mudanças viria a encontrar as
mais sérias negações e reformulações. Uma forte reflexão vislumbrava mais o sentido
ideológico presente nas diversas teorias do conhecimento humano, e com um estudo
mais crítico da história, os contextos em que tais mentalidades eram concebidas foram
tomados de forma mais relativizada. Com Charles Darwin, isso não foi diferente.
Estudando as teorias do progresso, as quais se enquadravam dentro da idéia de
evolução, Kenneth Bock, em Teorias do Progresso, Desenvolvimento e Evolução (1980)
fez uma relação da teoria de Darwin com as teorias de evolução das ciências em geral,
tentando traçar um paralelo na formação das duas correntes. Segundo Bock, a
formação de Darwin teve influência sobre sua teoria, pois ele, que tinha origem de
uma classe privilegiada na Inglaterra, nunca precisou trabalhar e nem dependia de seu
métier para sobreviver. Dessa forma, como se não bastasse estar ciente das reflexões
históricas acerca da evolução, Bock afirma que é provável que Darwin possa ter tido
sua inspiração dentro do contexto de vivência de seu mundo, somando-se a essas
idéias que vinham sendo pensadas. Com essa interpretação, está implicada a
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possibilidade de que a seleção natural de Darwin tenha se constituído junto ao ideário
de “laissez-faire” burguês. Bock vai além e, como exemplo, especifica as tentativas que
o darwinismo fez de tentar vincular o evolucionismo biológico com a sociedade.
O problema de tais afirmações é que, em parte, elas põem em questão o
levantamento empírico que Darwin fez em suas pesquisas, para além de limitarem o
seu poder de consciência reflexiva sobre o mundo. Quando se vincula ideologia dentro
de uma teoria, minimiza-se sua capacidade racional e, com isso, sua viabilidade é posta
em dúvida. Não é de se ignorar que Darwin está pensando o meio natural, e muito
menos de que ele esteja observando eventos reais, manifestações, as quais são
passíveis de certa observação criteriosa e, por isso, é preciso pensar com cautela até
que ponto sua capacidade de discernir a realidade tem influência dentro de seu
objeto, ou mais posteriormente, na formação de sua teoria.
Não que não haja certo nível de “indução pelo erro” dentro da formulação de
uma teoria. Tanto que, no caso de Darwin, outras edições de “A Origem das Espécies”
foram publicadas, até com possíveis revisões. Isso sem contar que o próprio Darwin
viria a lamentar o termo “evolução” depois de verificar as maneiras com que este
conceito estava sendo empregado. De qualquer forma, isso está mais relacionado em
como o público recebeu tal teoria, considerando que quando se trata de conceitos, às
vezes, sua interpretação pode variar. Com o evolucionismo isso era bem visível.
O termo “evolução” podia variar mesmo dentro de uma mesma disciplina e,
algumas vezes, era acompanhado por ideais de valor, era o caso das teorias do
progresso nas ciências humanas, as quais pregavam que existia dentro das sociedades
uma predisposição para que melhorassem, ou se desenvolvessem. No século XIX, era
esse o discurso que predominava, embora, com o passar do tempo, tais perspectivas
sofreram um grande processo de amadurecimento. Mais contemporaneamente,
temos Norbert Elias (1897 – 1990), que, por exemplo, de forma bem sucinta, pensa um
evolucionismo social mais “pluralístico”, onde desconstrói a idéia de valor inserida no
conceito de evolução, além de pensá-la de uma forma mais desvinculada da noção de
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causa e efeito. Assim, seria um evolucionismo, onde a seqüência de evolução não
implica em um resultado direto, ou numa lei que deva ser regida por um “motor
evolucionário”. Agora, para o caso da biologia, uma das coisas necessárias para se
refletir, é se existe uma relação maior entre o evolucionismo de Darwin, e essa forma
de evolucionismo social do século XIX.
Com todos esses argumentos, o objetivo presente nesta comunicação seria
visualizar a relação que uma ideologia pode constituir sobre uma teoria de porte
empírico, e, mais especificamente, como poderia dar-se, de fato, a relação entre
ideologia com a seleção natural, o motor do evolucionismo biológico. Para tanto, devese estabelecer como base para tal comparação, uma visualização coerente dos
diversos tipos de evolucionismo e suas premissas possíveis e, além disso, fazer busca
das diversas críticas desse meio de pensamento, e, por um outro lado, independente
desse arcabouço conceitual, ver como se desenvolveu o raciocínio de Darwin ao
analisar seu objeto em “A origem das Espécies”.
2. Referências
BOCK, Keneth. Teorias do progresso, desenvolvimento e evolução. In: BOTTOMORE,
NISBET, Robert. História da análise sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1980. p. 65-117.
ELIAS, Norbert. Introdução à Sociologia. Munique: Ed. Edições 70, 1970.
PINKER, Steven. Tábula Rasa. São Paulo: Ed. Companhia das Letras, 2004.
GROUEFF, Stephane. O Enigma da Terra. Rio de Janeiro: Primor, 1976.
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