Concurso público de concepção para a elaboração do projecto do Parque Urbano Cruz do Montalvão_Castelo Branco 1 conceito memórias e pré-existências O Parque da Cruz de Montalvão consubstancia-se numa urbanidade, cuja imagem e ambiência se ancora nas raízes Foram estas as referências e memórias considerados no projeto: a Castra Leuca e o Castelo, a serra da Gardunha e a rurais que constituem a identidade da população albicastrense. A sua função enquanto espaço de ócio e sociabilização da Estrela e o património existente na área do parque (cultural – muros de pedra solta e elementos de caráter militar; e fundamenta-se numa filosofia de profundo respeito pelos valores naturais (salvaguarda de fluxos, processos e sistemas natural - as diferentes espécies arbóreas existentes). ecológicos) e pelos valores culturais (enfatização e potenciação de costumes e tradições) que constituem a alma deste povo, fundindo-o com a sua paisagem, tornando-os entidade indissolúvel, um só, (povo e paisagem). o parque na paisagem / evolução urbana anos 50 anos 70 actualidade esc. 1/10 000 topomorfologia Simultâneo ao desejo de conceber um projeto que ofereça as soluções mais coerentes, inovadoras e integradoras da comunidade que o recebe, projetámos com a memória ecológica, cultural e social do sítio de intervenção promovendo, também, a sensibilização ecológica da população. Mentalmente, ao caraterizar, interpretar e sistematizar o sítio, revelaram-se as linhas estruturantes e fundamentais que determinaram aquela paisagem, de acordo com o seu genius loci. A criação de um espaço de paisagem multifuncional, de forma ecológica, social e economicamente exequível, onde a presença da natureza acolhe a prática das atividades da urbe - culturais, desportivas, artísticas, espirituais - determina que a narrativa do desenho proposto, simples e sóbrio, ponha em evidência a topomorfologia que materializa o parque, através da formalização de linhas, superfícies e pontos que evidenciam festos e talvegues, consolidando e articulando este espaço com a sua envolvente, agregando-os e tornando-os uma unidade coesa. articulação com bairros Porque a sociabilidade é um pilar da sustentabilidade, é nosso objetivo fomentar uma relação de proximidade com os bairros densamente urbanizados que envolvem este espaço aberto. O prolongamento da avenida Professor Doutor Egas Moniz, numa continuidade viária a poente, a ampliação das áreas de estacionamento, o alargamento franco dos passeios periféricos sem comprometer a segurança relativamente à hierarquia da rede viária que o delimita, a entrada e expansão da ciclovia através do parque para norte da cidade, pela Qta Dr. Beirão promovem a relação de proximidade e integração do parque na cidade. Concurso público de concepção para a elaboração do projecto do 2 Parque Urbano Cruz do Montalvão_Castelo Branco 14 13 15 19 10 19 11 13 18 12 18 10 2/6/17 1 3 11 4 2/17 11 13 15 14 14 7 17 1 5 1 espelho de água 2 relvado multiusos 3 anfiteatro 4 terreiro multiusos 5 miradouro 6 áreas de jogo informais 7 edifício 8 represas 9 hortas/pomar/vinha 10 muretes-banco 11 arte urbana 8 9 8 8 12 circulação secundária 13 ciclovia 14 circulação automóvel 15 passeio periférico desenho de projecto coberto arbóreo proposto Arte, técnica e ciência desenham e poem em evidência uma paisagem que se insinua e se oferece no espaço 16 reconstituição da galeria ripícola lê, escreve e assegura a continuidade ecossistémica da paisagem, promove o contato com a natureza, o ócio, 17 relvado (plano regado e cortado) a produção e a proteção; isto é, desenha-se a multifuncionalidade inerente à paisagem e à sustentabilidade 18 arrelvado anual (com e sem corte) contribuindo, de uma forma muito positiva, para o estado emocional e físico da população. Silêncio, tranquilidade, 19 revestimento herbáceo-arbustivo de enquadramento na periferia e nos espaços contidos frescura, luz, sombra, diversidade ecológica e liberdade complementam, aqui, o espaço da cidade. plano geral da proposta 19 16 5 urbano, numa relação de promiscuidade com a urbanidade que se faz sentir. Materializam uma narrativa que esc. 1/1 000 Concurso público de concepção para a elaboração do projecto do 3 Parque Urbano Cruz do Montalvão_Castelo Branco < 365m altitude espelho de água circulação principal vs. de emergência 365 - 370m relvado multiusos circulação secundária 370 - 375m 375 - 380m anfiteatro terreiro multiusos miradouro 380 - 385m áreas de jogo informais > 385m edifício acessos / entradas circulação usos e funções hipsometria visualização das zonas de estadia nos limites do parque acessos principais ciclovia conexões informais circulação automóvel relação de proximidade passeio periférico passeio periférico represas hortas/pomar/vinha muretes-banco s/ esc. muros vegetação _coberto herbáceo-arbustivo arte urbana vegetação _coberto arbóreo hortas e bacias No vale a sul a continuidade cultural é definida numa relação estreita e vernacular do homem com a terra, evidenciando a função produtiva e fomentando a biodiversidade a ela associada. Redesenha-se, numa versão mais urbana, o mosaico compartimentado. As bacias de retenção que se desdobram encaixadas no vale permitem regar a horta, a vinha, o olival e o pomar na encosta onde se misturam as parcelas. Uma galeria ripícola, bem conformada, acompanha a linha de água, tal como sucede na paisagem, garantindo a continuidade dos fluxos de matéria e energia para jusante, em direção à lagoa e ao parque da cidade circuito de manutenção A norte desta área surge um circuito de manutenção. Meandrizado, entra e sai do parque, ampliando a oferta aos atletas albicastrenses que nos últimos anos têm colocado o nome de Castelo Branco como referência do running nacional. A polivalência deste percurso, o contato permanente com os eixos funcionais da estrutura principal de circulação e a articulação informal que estabelece com a periferia permite o atravessamento transversal de todo o parque. No início/ final do circuito prevê-se a instalação de equipamento desportivo (aparelhos) que proporcionam a prática de alguns exercícios. bacia e anfiteatro a norte Na área a norte, de ambiência mais urbana, o desenho de projeto artificializa esteticamente os elementos do sistema morfológico que lhe dão forma. No coração deste subespaço surge uma bacia mais aberta e espraiada sobre a paisagem, um círculo de água que encerra a concha e a enriquece com a biodiversidade e ambiência que proporciona. Marcandose como uma ‘singularidade’ acontece, no talude a sul desta arena, a partir do festo, um anfiteatro virado sobre o castelo, mas também sobre parte da cidade, a noroeste, e sobre o recorte da Gardunha e da Estrela, no horizonte. ciclovia A ciclovia proposta atravessa o parque pelo eixo diagonal ao invés de o percorrer perifericamente. Este facto garante um atravessamento mais funcional, seguro, e rápido e próximo de pontos singulares do parque, nomeadamente o anfiteatro, o recinto/terreiro de eventos e a praça a poente do estacionamento, ao mesmo tempo assegurando a acessibilidade ao estabelecimento de ensino no lado norte. Junto às entradas na ciclovia, assim como junto ao estabelecimento de ensino contempla-se a colocação de parqueamento para velocípedes. coberto arbóreo existente relvado (plano regado e cortado) eucaliptos, oliveiras, sobreiros, pinheiros que ocorrem em arrelvado anual (com e sem corte) maciços, alinhamentos e elementos pontuais coberto arbóreo proposto: maciços formados por espécies autóctones alinhamentos de espécies autóctones (Morus alba) alinhamentos de espécies ornamentais (Liquidambar styraciflua) reconstituição da galeria ripícola espécies de produção (pomar, horta e vinha) revestimento herbáceo-arbustivo de enquadramento na periferia e nos espaços contidos horta (produção) Concurso público de concepção para a elaboração do projecto do Parque Urbano Cruz do Montalvão_Castelo Branco 4 percursos As principais entradas no parque ocorrem ao longo da Avenida do Empresário e nos vértices da área do lado norte. O sistema de percursos assenta num desenho funcional e eficaz. Suporta-se em pré-existências e na morfologia determinando fluxos e acessos que permitem chegar, de forma imediata, às diferentes espacialidades que o parque oferece. É também ao longo destes eixos, estendidos para sul, que as infraestruturas se instalam e que se formalizam as principais entradas no vale. matéria As materialidades propostas, quer vivas quer inertes são reflexo do que a paisagem nos fornece como matéria-prima: muros de alvenaria de pedra seca, cortiça, prados floridos e o sentimento de uma paisagem bucólica entram pelo novo parque da cidade. vegetação A vegetação proposta assenta nas pré-existências e nas caraterísticas fitossociológicas da zona. A morfologia do parque é enfatizada e evidenciada através da vegetação, predominantemente autóctone: cheios e vazios constroem-se com os diferentes estratos; definem-se áreas de sombra e luz; evidenciam-se festos e os talvegues. A frescura e a variação cromática ao longo do ano fazem-se sentir, numa renovação constante e cíclica criando um Locus amoenus que acolhe a população. séries de vegetação, vegetação como elemento na cultura vernácula A presença da amoreira e da romãzeira têm um fundamento cultural e ressaltam dos bordados de Castelo Branco, tal como as espécies produtoras de pequenos frutos onde podemos incluir outras espécies incluídas na série de vegetação dominante. O pinheiro e o sobreiro incluem-se na vegetação presente na série fitossociológica dominante e, são para o parque, as árvores ‘da vida’, uma vez mais numa alusão aos bordados de Castelo Branco, onde a presença da árvore da vida é uma constante. edifício - hífen Resiliente e subtil, para além da ligação formal e física que a tecnologia nos permite concretizar, o desenho transforma uma clivagem numa ligação que se formaliza num edifício/passagem e hifeniza os sistemas com que a paisagem se constrói. Este edifício/hífen congrega os equipamentos de apoio, instalações sanitárias, cafetaria e arrumos. O edifício unifica, conceptual e simbolicamente, o ponto de domínio visual sobre as duas subunidades morfológicas. É neste festo que, topograficamente, as duas pequenas bacias onde o parque acontece se tocam, tornando-se este ponto o elemento estruturante de todo o desenho. Materializa o conceito de um edifício que brota do interior da terra e germina, cresce e se expande de uma forma autónoma, sólida, mas concordante com o espaço de paisagem que o acolhe. É um elemento de força, mas quase anónimo. Parcialmente enterrado, discreto sob a vegetação, em respeito profundo com a topomorfologia e com as espécies a preservar, mantendo um diálogo com estas. Os espaços sociais, nomeadamente a cafetaria e área de pátio e esplanada, relacionam-se diretamente com o espaço aberto e com os seus sistemas constituintes. A opção, forte e marcante, pela utilização de uma “pele” em cortiça, quer para o edifício principal quer para os módulos que se propõem, deve-se: à pertinência do material neste contexto; à vontade de integrar o edifício na paisagem do parque; à resolução, de uma forma prática, da vontade do edifício “desaparecer” e à resposta à sustentabilidade assumida como princípio de projeto. A “pele” em cortiça confere, ao edifício, solidez, aparência, integração e a qualificação energética necessária. visualização do vale sul do parque, na zona das charcas e hortas corte ao longo do anfiteatro inscrito na bacia central do parque esc. 1/200