CONAMET/SAM-SIMPOSIO MATERIA 2002 PPY – POLÍMERO SEMICONDUTOR SINTETIZADO FOTOQUIMICAMENTE E DOPADO COM ÁCIDOS AROMÁTICOS João Sinézio de Carvalho Campos 1 e José Furquim Neto 2 Departamento de Tecnologia de Polímeros, Faculdade de Engenharia Química, UNICAMP. Caixa Postal 6066, CEP 13081-970, Campinas, S.P. - Brasil 1 [email protected] , 2 [email protected] RESUMO Os polímeros condutores tem chamado a atenção dos pesquisadores desde a década de 70, mostrando serem promissores em aplicações diversas, quer na substituição dos materiais condutores elétricos convencionais, quer em sensores, baterias recarregáveis, janelas inteligentes, dentre outras. Especialmente após os trabalhos dos pesquisadores Alan MacDiarmid, Alan Heeger, and Hideki Shirakawa, os quais recentemente (ano 2001) receberam o prêmio Nobel de Química, tais materiais despertaram ainda mais o interesse da comunidade científica, sendo isto confirmado pelo aumento dos trabalhos publicados. É bem conhecido que os polímeros condutores podem ser sintetizados através das técnicas químicas, eletroquímica e mais recentemente a fotoquímica. Apesar da apreciável quantidade de trabalhos, pouco ainda se conhece a respeito dos mecanismos envolvidos no processo de condutividade elétrica destes materiais poliméricos. Neste sentido, o presente trabalho visa apresentar modelos tradicionais de condutividade elétrica e destacar resultados encontrados para a condutividade do polímero polipirrol (PPy) sintetizado por processo fotoquímico, partindo-se do monômero pirrol em solução 0,6 M, contendo o fotoiniciador (Irgacure 261) e posteriormente dopado com: ácido p-tolueno sulfônico (APTS), ácido dodecil benzeno suofônico (ADBS) e ácido naftaleno sulfônico (ANS). Os resultados das medidas de condutividade, dos polímeros contendo dopantes aromáticos, mostram aumento do transporte elétrico e que os valores estão na faixa dos semicondutores. As medidas de condutivida de elétrica foram efetuadas com a técnica de placas paralelas em condições de temperatura e pressão ambientes. Palavras-chave: Polipirrol, Síntese Fotoquímica, Dopantes Aromáticos, TGA. 1. INTRODUÇÃO Nos últimos 20 anos tem-se observado o aumento no interesse por polímeros condutores tais como Poliacetileno, Polipirrol (PPy), Politiofeno e Polianilinas e seus derivados pela sua particularidade em aplicações [1], como, por exemplo, em janelas inteligentes, capacitores, baterias, sensores e outros. Mas sua aplicação tecnológica ainda apresenta certas limitações, tais como, instabilidade ambiental, baixa processabilidade (insolúvel e infusível) e propriedades físicas pobres. Diferentes técnicas têm sido usadas na obtenção do PPy, sendo a síntese química [2-3] e a eletroquímica [4] as mais utilizadas e recentemente, a fotoquímica [5], a qual tem despertado grande interesse por apresentar facilidade de síntese, rapidez e diminuição de resíduos liberados no ambiente. Na síntese fotoquímica utiliza-se luz UV para polimerizar o monômero Pirrol (Py) na presença de fotoiniciador, por exemplo, sal de ferro-areno como fotoiniciador [5-7] e a reação se dá por um mecanismo não-radicalar, envolvendo a redução do Fe+3 a Fe+2 e, portanto ocorre oxidação do monômero Py na presença de ar. O PPy é um dos polímeros mais estudados, mas ainda apresenta baixas propriedades mecânicas. Com o objetivo de solucionar estas deficiências, descreve-se vários métodos na literatura, dentre eles destaca-se a preparação de compósitos combinando matrizes poliméricas condutoras com isolantes de boas propriedades mecânicas [8-10]. Para melhorar as propriedades elétricas e sua estabilidade no tempo, têm-se usado a adição de dopantes aromáticos[11], sendo os mais utilizados o ácido p-toluenosulfônico (APTS), dodecil benzenosulfônico (ADBS) e o naftalenosulfônico (ANS). Acredita-se que ocorre aumento da condutividade devido a intercalação do dopante entre as moléculas do polímero, facilitando o transporte de cargas entre as cadeias (condução por pulos). O objetivo deste trabalho é dar continuidade aos estudos do PPy sintetizado fotoquimicamente em nosso laboratório de Física de Polímeros, a fim de compreender a técnica da síntese fotoquímica e sua contribuição para as propriedades finais do polímero. 2. PARTE EXPERIMENTAL 2.1 Materiais Monômero Pirrol (Aldrich, 98%), destilado sob vácuo e acondicionado em baixas temperaturas, evitando assim pré-polimerização . Fotoiniciador catiônico, sal de ferro-areno (n5-2,4ciclopentadieno-1-il)[(1,2,3,4,5,6,n)-(1-metiletil)benzeno]-ferro (1+)-hexafluorfosfonato(1-) de nome comercial Irgacure 261 (Ciba-Geigy, 99,5%) e fonte de raios ultravioleta com potência controlada. Dopantes aromáticos: ácido p-toluenosulfônico APTS (Aldrich 98,5%), ácido naftalenosulfônico ANS (Sigma 90%) e ácido dodecil benzenosulfônico ADBS (Sigma 80%). Metanol (Merk, p.a.) para lavagem do polímero PPy a fim de retirar excesso de fotoiniciador e monômero residual. 2.2 Síntese Fotoquímica Soluções de monômero Pirrol e fotoiniciador, com concentração de 0,6 M [6] e soluções com dopantes, seguindo a relação molar de [dop]/[Py] = 0,3 [11]. Para otimizar a homogeneidade das soluções utilizou-se aparelho de agitação com ondas de ultra-som por cerca de 10 minutos. A polimerização foi efetuada em condições ambientais, expondo-se as soluções aos raios ultravioleta, gerados por uma lâmpada de mercúrio (marca Philips – Hok, potência 1000W e de baixa pressão), por 15 minutos. Após a síntese, o material foi lavado com solvente metanol, filtrado e secado em estufa a 70 oC por 24 horas, obtendose um pó de cor escura. 2.3 Medidas de Condutividade Elétrica Amostras foram feitas após prensar o PPy-pó, em pastilhas circulares, com pressão de 7 ton/cm2 durante 1 minuto. polímero obtido na forma de pó foi prensado sob forma de pastilha circular sobre moldes submetidos à. A condutividade elétrica do PPy (na forma de pastilhas) foi obtida através de medidas de corrente elétrica, sob a aplicação de baixos campos elétricos, utilizando-se a técnica de placas paralelas [11-12], composta basicamente de um eletrômetro (Keithley 610C) e fontes de tensão. A temperatura de perda de massa do processo principal de degradação foi estabelecida pelo método da primeira derivada [13]. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Condutividade Elétrica A Tabela I mostra a condutividade do PPy puro e com diferentes dopantes, medidas realizadas com a técnica de placas paralelas. Observa-se que a condutividade elétrica do PPy puro é da ordem de 10-12 S/cm e que a adição de dopantes na síntese aumenta a condutividade, sendo este aumento maior para o PPy dopado com ADBS e APTS do que para ANS. O mesmo resultado foi observado por Campomanes [11] que utilizou os três dopantes para sintetizar compósitos PPy/PVA via síntese fotoquímica. Comparando os valores obtidos, observa-se que o menor valor resultou para o dopante ANS, isto pode estar associado ao fato do ANS possuir dois grupos alifáticos, resultando num maior impedimento estérico e consequentemente menor condutividade elétrica. Tabela I – Condutividade elétrica para PPy puro e com dopantes. Material Condutividade (Scm-1) PPy puro 9,0 x 10-12 PPy + ADBS 6,5 x 10-10 PPy + ANS 9,0 x 10-11 PPy + APTS 1,3 x 10-10 3.2 Estabilidade da Condutividade Elétrica Resultados (fig.1) mostram que a condutividade elétrica em função do tempo das amostras de PPy e PPy com dopantes são semelhantes, ou seja, a condutividade elétrica do material puro diminui mais rapidamente do que com dopantes. Apesar de ainda estar em estudos, a dopagem com ADBS apresenta ser mais estável. 1 PPy PPy + PTSA 0,8 PPy + NSA PPy + DBSA 0,6 0,4 0,2 0 2.4 Análises Termogravimétricas 0 2 4 6 t Termogramas foram obtidos por intermédio do equipamento Perkin-Elmer (modelo HT-7) onde as amostras foram aquecidas de 25 a 600 oC, sob taxa de aquecimento de 10 oC/min. 1/2 8 10 12 14 1/2 (h ) Figura 1.Condutividade (σ/σo) em função da raiz quadrada do tempo [14] para PPy puro e com dopantes. 3.3 Análise Termogravimétrica REFERÊNCIAS Na tabela II apresentam-se os resultados termogravimétricos de amostras de PPy puro, PPy com dopantes e também dos dopantes. Observa-se que a temperatura de degradação se inicia acima de 200 0 C, independente se o material é puro ou dopado; e a partir da qual ocorre perda gradual de massa. Nota-se que com o uso de dopantes, a estabilidade é consideravelmente aumentada, fato este que esta associ ada com a alta estabilidade dos dopantes em comparação com o material puro. Como observado amostra com APTS mostrou ser mais estável onde a temperatura de perda de massa durante a degradação foi de 245 oC, como com menor porcentagem de resíduos a 600 oC (34%) e a amostra com ADBS apresentou maior porcentagem de resíduos a 600 oC (64%), fatos estes também observados por por CAMPOMANES [10]. [1] Heeger, A. J., “Science and Application of Conducting Polymers”, Ada Hilger, N. York, 1990 [2] Planche, M. F. et al, Journal of Applied Polymer Science, 52 (1994) 1867-1877 [3] Duchet, J. et al, Synthetic Metals , 98 (1998) 113-122 [4] Diaz, A. F., Kanazawa, K. K. and Gardini, G.P.; J. Chem. Soc.-Chem. Commum., 14 (1979) 291-319 [5] Rabek J. F. et al, Polymer, 33 (1992) 4838-4844 [6] Campomanes S., R. M., Dissertação de Mestrado. Campinas, UNICAMP, 1995 [7] R. M. Campomanes; Sinézio, JCC and Bittencourt, E.; Synthetic Metals, 102 (1999) 1230-1231 [8] Sellin, N., Dissertação de Mestrado. Campinas, UNICAMP, 1998 [9] Martins, C. R.; Dissertação de Mestrado. Campinas, UNICAMP, 1998 [10] Urbano, M. P., Bittencourt, E. e Gandolphi, R., Anais: 5o CBPOL. Águas de Lindóia-SP, Brasil, (1999) 1823-1824 CD-ROM [11] Campomanes ., R. M., Tese de Doutorado. Campinas, UNICAMP, 1999 [12] Furquim Neto, J., Sinézio, JCC., Anais: 5o CBPOL. Águas de Lindóia-SP, Brasil, (1999) 1281-1283 CD-ROM [13] Freitas, P. S., De Paoli, M.A., Anais: 5o CBPOL. Águas de Lindóia-SP, Brasil, (1999) 978-979 CD-ROM [14] Lee, H. S., Hong, J., Synthetic Metals, 113 (2000) 115-119 Tabela II –Temperatura de perda de massa (degradação) e porcentagem de resíduo a 600oC para PPy puro, PPy com dopantes. Material PPy puro PPy + ADBS PPy + ANS PPy + APTS ADBS ANS APTS Temp. Degrad. (o C)* 218 220 234 245 449 429 248 Resíduo (%) 50 64 32 34 46 55 10 * Método da primeira derivada 4. CONCLUSÕES Levando-se em consideração que a síntese fotoquímica é recente, sua utilização na obtenção de polímeros condutores é promissora, por ser rápida e de baixa produção de resíduos; os resultados mostram que: (i) a adição de dopantes aromáticos, em solução melhorou a condutividade elétrica do PPy, onde os melhores resultados foram obtidos com o ADBS e APTS (duas ordens de grandeza); (ii) melhora estabilidade térmica, sendo o melhor resultado obtido com o dopante APTS . Cabe ressaltar que apesar dos valores de condutividade sejam ainda muito inferiores àqueles obtidos por via química e eletroquímica, acredita-se que com o aprimoramento desta técnica, tais valores serão mais competitivos. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao CNPq pelo auxílio financeiro concedido para realização deste trabalho.