INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS EM CULTURAS OLERÍCOLAS WEED INTERFERENCE IN VEGETABLE CROPS Jocemar Francisco Zanatta1, Silvia Figueredo² Lisiane Camponogara Fontana² Sergio de Oliveira Procópio2 RESUMO A competição entre plantas é um processo importante tanto em comunidades naturais quanto em ambientes agrícolas. A presença de plantas daninhas em culturas olerícolas pode interferir no processo produtivo, competindo pelos recursos do meio, principalmente água, luz e nutrientes, liberando substâncias alelopáticas, atuando como hospedeiros de pragas e doenças e interferindo nas práticas de colheita. Assim, qualquer planta daninha que se estabeleça na cultura vai usar parte dos fatores de produção, podendo causar reduções de produtividade. O grau de interferência de plantas daninhas em culturas, depende de fatores ligados à própria cultura, à comunidade infestante, ao ambiente e ao período em que elas convivem. Os períodos que descrevem a interferência das plantas daninhas em culturas podem, didaticamente, serem definidos em: Período Anterior a Interferência (PAI), Período Total de Prevenção a Interferência (PTPI) e Período Crítico de Prevenção a Interferência (PCPI). Para o desenvolvimento de estratégias de manejo das invasoras torna-se importante conhecer os períodos de interferência no processo produtivo das culturas olerícolas. Palavras-chave: Competição, alelopatia, alface, tomate, cebola. ABSTRACT Competition among plants is an important process in natural communities as well as in agricultural environments. The presence of weeds in vegetable crops may interfere in the production process, since they compete for the natural resources found in the environment, such as water, light and nutrients, as they release allelopatic substances, act like hosts of plagues and diseases and interfere in harvesting practices. Thus, weeds that establish in the crop are going to make use of part of the production factors, leading to a fall in the production 1 2 Eng. Agr., Mestrando, Pós-graduação em Fitossanidade da UFPEL. E-mail: [email protected] Eng. Agr., Prof. Adjunto do Departamento de Fitossanidade da UFPel. Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 39-57. 2006 Zanatta, J.F. et al. 40 numbers. The level of weed interference in crops is dependent on factors which are related to the culture itself, to the infesting community, to the environment and to the period of infestation. The periods that describe the weed interference in cultures may, didactically, be described as: Period before Interference, Total Period of Prevention interference, and Critical Period of Interference. For the development of management strategies against the invaders, it is important to know the interference periods in the production process of the vegetable crops. Key words: Competition, allelopathy, lettuce, tomato, onion. um INTRODUÇÃO No recurso deficiência Brasil são produzidas e cultivadas, hortaliças. produtividade virtude dessa grande diversidade de espécies, o manejo das insuficiente onde existia ou criar quantidade suficiente do recurso para as plantas consumidas mais de 70 espécies de Em já podendo reduzir a sua (RADOSEVICH et al., 1996). plantas daninhas é relativamente complexo, Segundo PITELLI (1985), o grau de por apresentar problemas específicos em interferência das plantas daninhas sobre as relação aos métodos de controle dentro dos culturas, depende de fatores ligados à diferentes própria cultura (espécie cultivada, cultivar e sistemas de produção (PEREIRA, 2004). espaçamento), à comunidade infestante As plantas daninhas afetam as (composição especifica, densidade e culturas devido à competição pelos fatores distribuição), ao ambiente (clima, solo e de produção luz, água e nutrientes, como manejo da cultura) e ao período em que elas também pela liberação de compostos convivem. Os estudos sobre a interferência alelopáticos. Uma vez que o crescimento, de plantas daninhas em culturas olerícolas tanto das culturas quanto das plantas visam determinar os períodos ou épocas daninhas, depende da habilidade destas que são críticas na interação entre essas espécies em extrair os recursos existentes culturas e a comunidade infestante. Tais no ambiente em que vivem e, na maioria períodos são definidos por PITELLI & das vezes o suprimento desses recursos é DURIGAN (1984) como Período Anterior a limitado. A limitação de recursos para as Interferência (PAI), Período Total de plantas cultivadas pode ser causada pela sua Prevenção a Interferência (PTPI) e Período indisponibilidade, suprimento Crítico de Prevenção à Interferência (PCPI). deficiente ou pela presença de plantas O conhecimento de tais períodos é de daninhas. Estas por sua vez, podem exaurir extrema pelo importância para o Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 39-57. 2006 41 Interferência de Plantas... desenvolvimento de estratégias de manejo dias após a sua emergência. BOND & das invasoras, indicando o intervalo de BURSTON (1996) realizaram experimentos tempo quando o controle químico ou não- para determinar o PCPI, utilizando a químico poderá ser mais efetivo na cultivar de cebola White Lisbon numa prevenção de danos às plantas cultivadas densidade de 300 plantas.m-2. As espécies (SWANTON & WEISE, 1991). de plantas daninhas predominantes nos experimentos INTERFERÊNCIA DE PLANTAS foram Stellaria media, Sonchus asper, Chenopodium album, Poa DANINHAS NA CULTURA DA annua e Matricaria sp. A densidade média CEBOLA das plantas daninhas nos experimentos A cultura da cebola é considerada variou de 20 a 160 plantas.m-2. Segundo altamente suscetível à interferência imposta esses autores, no tratamento onde as plantas pelas plantas daninhas, em virtude de seu daninhas permaneceram até a colheita, lento crescimento inicial e da disposição ocorreu uma redução em 96% da biomassa ereta e forma cilíndrica de suas folhas, o fresca das plantas de cebola quando que proporciona baixa capacidade de comparado com o tratamento controle (livre sombreamento (SOARES et al., 2003). de plantas daninhas). O PCPI determinado Como conseqüência da interferência das pelos autores variou de 21 a 56 dias após a plantas daninhas a produtividade da cebola emergência da cultura. decresce drasticamente, podendo atingir até SOARES et al. (2003) estudaram os 100% de perdas de bulbos comercializáveis efeitos de períodos de convivência de uma (BOND & BURSTON, 1996). Alguns comunidade de plantas daninhas sobre a valores de redução na produção comercial produtividade de quatro cultivares de encontrados na literatura variam de 36 a cebola (Mercedes, Granex 33, Superex e 96% (DEUBER & FOSTER, 1975; LEAL, Serrana), em sistema de transplantio de 1984; SOARES et al., 2003). mudas numa densidade de 42 plantas.m-2. HEWSON & ROBERTS (1971), determinando o Período Crítico As plantas daninhas predominantes até o de final dos períodos de convivência foram Prevenção à Interferência (PCPI) de plantas Coronopus dydimus, Amaranthus hybridus daninhas na cultura da cebola, verificaram e Cyperus rotundus. O número de plantas que as perdas no rendimento poderiam ser da comunidade infestante na cultura da evitadas se a cultura fosse mantida livre de cebola em diferentes períodos após o plantas daninhas por um período de 14 a 42 transplantio variou de 100 a 400 plantas.mRevista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 39-57. 2006 Zanatta, J.F. et al. 2 . Estas variações podem ser explicadas pela desuniformidade germinação das do rendimento da cultura da cebola, mas de também grande diminuição no tamanho dos populações. bulbos, reduzindo o valor comercial do fluxo diferentes 42 Conforme SOARES et al. (2003), a produto convivência das plantas daninhas durante os WILLIAMS et al., 2005). Em densidades primeiros 98 dias reduziu a produtividade maiores que 4 plantas.m-2 a redução no da cebola em 95% e o peso médio de rendimento bulbos em 91%. O Período Anterior a (WILLIAMS et al., 2004). Interferência (PAI) determinado pelos (WILLIAMS pode Outros et chegar estudos al., 2004; a 100% verificando a autores foi de 42 dias, não havendo interferência de plantas daninhas anuais em diferença estatística entre as cultivares de início de desenvolvimento, como C. album cebola. e Amaranthus retroflexus, mostram que o Na região oeste dos Estados Unidos, PCPI se inicia quando a planta de cebola a cebola e a batata são importantes culturas está entre os estádios de duas a quatro do ponto de vista econômico, sendo folhas (DUNAN et al., 1996; HEWSON & geralmente utilizadas em sucessão. Desta ROBERTS, 1971). DUNAN et al. (1996) maneira, as plantas voluntárias de batata, sugerem ainda que as plantas daninhas provenientes de tubérculos que restaram e precisam ser controladas antes que a cebola sobreviveram atinja o estádio de duas folhas para evitar infestantes no campo, quando a tornam-se cultura em redução no rendimento. desenvolvimento é a cebola (WILLIAMS et al., 2004). Um número pequeno de plantas voluntárias de batata pode ter um grande impacto no rendimento da cebola. Uma INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DA ALFACE densidade de 2 plantas.m-2 de batata pode A alface (Lactuca sativa L.) é uma ocasionar perdas de rendimento maiores das hortaliças folhosas mais consumidas no que 5% na cultura da cebola, quando esta se Brasil, sendo no Estado de São Paulo onde encontra folhas se concentra a maior produção de alface, (WILLIAMS et al., 2005). Com períodos (ANDRADE JÚNIOR et al., 1992). Para se maiores de convivência as perdas podem obter um alto rendimento e qualidade da passar & alface, é necessário um manejo intensivo de SEYMOUR, 2002; WILLIAMS et al., diversos fatores, incluindo o controle de 2005). plantas no de Não estádio 85% há de duas (BOYDSTON somente perdas no daninhas (SHREFLER et al., Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 39-57. 2006 43 Interferência de Plantas... SHREFLER 1994a). As plantas daninhas causam perdas et al. (1994a) na produção e diminuem a qualidade na conduziram experimentos para determinar a cultura da alface (ROBERT et al., 1977). influência da fertilização com fósforo e Além disso, afetam a firmeza de suas folhas métodos de aplicação (aplicação na linha de e, também, o conteúdo de nitrato e caroteno plantio x aplicação em área total), da (GIANNOPOLITIS et al., 1989). densidade de Amaranthus spinosus e da Em estudos realizados em casa de duração da interferência sobre o rendimento vegetação por SANTOS et al. (1998), de alface. Os autores relataram que após visando determinar o efeito de doses de cinco semanas de interferência de A. fósforo e da densidade de populações sobre spinosus na cultura da alface, tanto a a e biomassa da parte aérea da alface quanto à Portulaca oleracea com plantas de alface, da planta daninha foi reduzida. Duas foi verificado que o fornecimento de altas plantas.m-2 de A. spinosus reduziram a doses de fósforo aumentou a habilidade biomassa da parte aérea da alface em 9 e competitiva da alface sobre A. hybridus. 23% a mais do que com 0,5 plantas.m-2 de Entretanto, ocorreu um alto consumo de A. spinosus após cinco e sete semanas de fósforo por essa planta daninha, reduzindo a interferência, respectivamente. Após sete quantidade do nutriente disponível para às semanas de interferência, a biomassa da plantas de alface. P. oleracea apresentou parte aérea da alface reduziu em 20%, maior resposta a altas doses de fósforo, quando foi aplicado fósforo em área total, aumentando sua habilidade competitiva 8% quando aplicado na linha de plantio e frente às plantas de alface. De acordo com 24% quando não foi aplicado, em relação SANTOS et al. (1998), a competição por ao tratamento controle (livre de plantas fósforo parece ser o principal mecanismo de daninhas). Segundo SHREFLER et al. interferência de P. oleracea sobre essa (1994b), a aplicação de fósforo na linha de olerícola em solos com baixo teor desse plantio reduz o impacto negativo de A. nutriente. O estabelecimento de estratégias spinosus sobre a alface quando comparado na fertilização da cultura, como por com a aplicação em área total. Para exemplo, a aplicação de fósforo na linha de SANTOS et al. (2004), o aumento da plantio, pode reduzir o efeito negativo de A. habilidade competitiva da alface em relação hybridus e P. oleracea sobre a alface à planta daninha é devido, principalmente, (SANTOS et al., 1998). ao aumento da concentração do nutriente competitividade de A. hybridus em torno do seu sistema radicular. Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 39-57. 2006 Zanatta, J.F. et al. 44 SANTOS et al. (2004) verificaram que do início do crescimento. SHREFLER et al. quando o fósforo foi aplicado em área total, (1991) reportam que a presença de 120 as perdas no rendimento da alface foram de plantas.m-2 de Amaranthus lividus, por 19 39%, 50%, 59% e 65% para 2, 4, 8 e 16 dias a contar da data de semeadura, não plantas por metro linear de C. album, afetou o rendimento da alface. No entanto, respectivamente. Contudo, quando as doses a demora na remoção das plantas daninhas de fósforo foram reduzidas em 50% e por um período adicional de 15 dias aplicadas na linha de plantio as perdas no resultou rendimento da alface foram de 23%, 30%, rendimento 35% e 38% para as mesmas densidades da semelhantes foram obtidos pelos mesmos planta daninha. autores com 15 plantas.m-2 e Portulaca numa completa da cultura. perda de Resultados ROBERTS et al. (1977) verificaram oleracea. DUSKY & SHREFLER (1992), que misturas de populações de plantas registram que a presença de 0,4 plantas.m-2 daninhas gramíneas e dicotiledôneas na de Amaranthus spinosus no período de três densidade de 65 plantas.m-2 causaram perda a cinco semanas após a emergência de total no rendimento da alface. Todavia, não plantas de alface interfere negativamente na foram observadas perdas de rendimento cultura, reduzindo significativamente seu quando a cultura foi mantida livre de rendimento. plantas daninhas por três semanas a partir transplantio da cultura e o PTPI estimado INTERFERÊNCIA DE PLANTAS em 76 dias após o transplantio das mudas. DANINHAS NA CULTURA DO Assim, o PCPI de plantas daninhas para a TOMATE Em cultura do tomate plantado por mudas experimento por situou-se entre 33 e 76 dias após o visando transplantio. Os valores encontrados para o determinar o PCPI das plantas daninhas na PCPI dependem das características de cada cultura do tomate para processamento agroecossistema, como espécies ocorrentes, (industrial), foram detectadas 26 espécies densidades, infestantes na fertilidade freqüentes Bidens NASCENTE et al. área, realizado (2004), sendo pilosa, as mais do condições climáticas, solo, outras. entre A Brachiaria comunidade infestante que se instala após plantaginea, Nicandra physaloides e Oxalis este período não tem mais condições de latifolia. Segundo esses autores, o PAI interferir determinado foi de 33 dias após o produtividade da cultura, entretanto, pode significativamente na Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 39-57. 2006 45 Interferência de Plantas... crescer e amadurecer, aumentando o banco perdas, que de sementes no solo, bem como também respectivamente. Com servir de hospedeira de insetos-pragas e foram base de nas 18 e afirmações 9%, de HERNANDEZ et al. (2002), a planta patógenos. CAMPEGLIA (1991) encontrou daninha maria-pretinha (Solanum para o tomate implantado através de americanum) mostrou ser uma competidora semeadura direta PCPI de 0 a 60 dias. mais agressiva que o tomate. As duas WEAVER (1984) e WEAVER & TAN espécies se mostraram competidoras pelos (1987), sistema, mesmos fatores de crescimento, o que determinaram PCPI de 35 a 63 dias. No refletiu na redução da área foliar das plantas tomate para processamento com plantio por de tomate. O PCPI de maria-pretinha sobre mudas o PCPI ficou entre 24 a 36 dias o tomateiro ocorreu entre 27 e 46 dias após (FRIESEN, a emergência da cultura. para o 1979); mesmo 28 a 42 dias (SAJJAPONGSE et al., 1983); 28 a 35 dias De acordo com NORRIS et al. (WEAVER & TAN, 1983); 28 a 35 dias (2001), mantendo-se uma densidade de (WEAVER, 1984); 28 a 35 dias (QASEM, plantio de 10 plantas de tomate por metro 1992); 20 a 60 dias (CAMPEGLIA, 1991) e linear, 26 a 46 dias (HERNANDEZ, 2004). produtividade de 20 a 50% no primeiro ano MORALES-PAYAN et al. (2003) observou-se redução na e 11 a 75% no segundo ano, quando a realizaram experimentos para observar a cultura interferência acima e abaixo do solo de C. densidade de capim-arroz (Echinochloa rotundus e Cyperus esculentus na cultura crus-galli L. (Beauv.)). A densidade de do tomate. Verificaram que quando C. plantio do tomate e do capim-arroz e a esculentus conviveu durante todo ciclo da distribuição do capim-arroz tiveram efeito cultura, o acúmulo na massa seca da parte significativo na produção de frutos do aérea das plantas de tomate foi reduzido em tomate. A frutificação do tomate decresceu 34%, e quando em convivência com C. quando rotundus, o prejuízo no acúmulo da massa aumentou. seca da parte aérea ficou em 28%, causando conviveu a com densidade Conforme uma do mesma capim-arroz NGOUAJIO et al. menos prejuízos ao tomate. Em relação a (2001), existem diferenças significativas na massa seca das raízes das plantas de tomate, capacidade C. rotundus e C. esculentus causaram cultivares de uma mesma espécie cultivada, competitiva de diferentes ou seja, existem cultivares mais tolerantes a Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 39-57. 2006 Zanatta, J.F. et al. 46 competição do que outras. Esses autores massa seca aos 40 dias após o transplante analisaram quatro cultivares de tomate em (DAT) e a produção de frutos em ambas competição theophrasti, culturas, aos 90 DAT. Esses autores observando que o efeito prejudicial da observaram que a quantidade de massa seca planta daninha A. theophrasti variou entre e o florescimento do tomate e da pimenta as cultivares de tomate. Quando a cultura foram afetados pela interferência de C. cresceu com cinco plantas por linear de A. rotundus, sendo que quanto maior a theophrasti, a produção comercial do densidade de tubérculos utilizada, maior foi tomate foi reduzida em 8% no ano de 1998, à interferência. O tomate foi o mais afetado em 60% no ano de 1999 para a cultivar na produção de massa seca em relação à H8892 e 58% em 1998, e 80% em 1999 pimenta, para a cultivar H9661, comparado com as característica foi avaliada ao final da testemunhas (livres de competição). A colheita, convivência do tomate com a planta significativas entre as densidades de C. daninha diminuiu seu crescimento e sua rotundus. Com o incremento na densidade área foliar. A cultivar mais tolerante foi de tubérculos de C. rotundus, a produção de H8892, frutos diminuiu em ambas as culturas. com devido Abutilon suas características entretanto, não quando houve produção diferenças morfofisiológicas. A arquitetura e outras Menor características morfológicas da planta que densidades conferem vantagem na competitividade têm ocorrendo um decréscimo de 44% para o sido extensivamente estudadas no tomate tomate e 32% para a pimenta. de foi essa constatada com tubérculos.m-2, 200 (WEAVER & TAN, 1987; PEREZ & MASIUNAS, 1990; QASEM, 1992; MCGIFFEN & HESKETH, 1992, MCGIFFEN et al., 1994 e 1995; PONCE et INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS EM OUTRAS OLERÍCOLAS SEEM et al. (2003), estudando a al., 1996). interferência das de vegetação, MORALES-PAYAN et al. retroflexus, Senna (1997) semearam esculentus tomate e Em experimento realizado em casa concomitantemente na plantas daninhas obtusifolia cultura da e A. C. batata-doce, diferentes observaram que, o PCPI variou de 2 a 6 densidades de tubérculos de Cyperus semanas após o transplantio das mudas de rotundus (0, 25, 50, 100, 150 e 200 batata-doce. pimenta, com tubérculos.m-2), avaliando a produção de Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 39-57. 2006 47 Interferência de Plantas... Em brócolis (Brassica oleracea var. italica), CARRANZA et al. (1997) constataram que a presença das plantas comunidade infestante beterraba, provocou na cultura reduções da no rendimento de 27 a 95%. daninhas Galinsoga sp., Commelina sp., Na cultura da melancia (Citrullus Oxalis sp., e Sonchus oleraceus interferiram lanatus), TERRY et al. (1997) observaram na cultura dos 3 aos 17 dias após o que a presença de 6 plantas.m-2 de transplante. GONZÁLEZ et al. (2003) Amaranthus observaram que na presença das plantas rendimento em 100%. O PCPI na cultura da daninhas melancia foi de 3 a 21 dias após a Brassica campestris, Rumex hybridus emergência. oleracea, Commelina erecta e Oxalis sp. o demonstraram que 2 plantas.m-2 de Cyperus PCPI foi de 3 a 18 dias após o transplantio esculentus reduziram o rendimento da das plantas de brocólis. melancia em 10%, enquanto 40 plantas.m-2 Avena fatua e Fagopyrum et al. o crispus, Galinsoga urticaefolia, Portulaca A competição das plantas daninhas BUKER reduziram (2003) reduziram o rendimento em 80%. MONKS tataricum & SCHULTHEIS (1998) detectaram que na durante o ciclo da cultura da ervilha (Pisum cultura da melancia triplóide transplantada, sativum) provocou perdas entre 40 e 70% 250 plantas.m-2 de Digitaria sanguinalis no rendimento (HARKER et al., 2001). O reduziram o rendimento em 90%. O PCPI início do PCPI da cultura da ervilha, determinado pelos autores foi de 0 a 42 dias determinado por HARKER et al. (2001), após o transplante. situa-se entre 7 a 14 dias após a emergência da cultura. Segundo CROSTER Na cultura do rabanete (Raphanus & sativus) a interferência imposta pelas MASIUNAS (1998), para se obter os plantas daninhas Sorghum bicolor, Panicum maiores rendimentos na cultura da ervilha, miliaceum e Erichloa villosa inicia-se as espécies daninhas devem ser controladas imediatamente após a semeadura e se durante as duas primeiras semanas de estende crescimento. LIEBMAN, 2003). por 21 dias (GIBSON & Na cultura da beterraba (Beta A mandioquinha-salsa (Arracacia vulgaris) cv. Early Wonder implantada xanthorrhiza), apresenta lento crescimento, através de semeadura direta, BRITO (1994) ciclo longo e pequena capacidade de determinou que PCPI das plantas daninhas sombreamento, após o plantio da cultura, foi de 40 a 55 proporcionam dias. Segundo o autor, a presença da capacidade competitiva por luz com as características a esta cultura que baixa Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 39-57. 2006 Zanatta, J.F. et al. 48 plantas daninhas. FREITAS et al (2004), observaram que a cultivar de cenoura estudando os períodos de interferência de Kuroda plantas daninhas nessa cultura, observaram competitiva contra plantas daninhas da que rotundus, espécie Cyperus rotundus que a cultivar Brachiaria Nantes e atribuem isso à maior formação de a ocorrência Siegesbeckia de C. orientalis, plantaginea, Ageratum conyzoides, Sonchus oleraceus e Oxalis corniculata, reduziu em apresentou maior capacidade folhas verificada na cultivar Kuroda. O pepino (Cucumis sativus) 98% a produtividade de raízes comerciais competindo com uma população de plantas quando a cultura conviveu com as plantas daninhas constituída por Chenopodium daninhas por todo o ciclo. O PCPI album, Ambrosia artemisiifolia e Cenchrus determinado pelos autores nesta cultura foi longispinus necessita de um período livre de 58 a 120 dias, período em que as de interferência compreendido entre 12 e 36 medidas de controle são necessárias para dias após a semeadura (FRIESEN, 1978). A planta daninha Elytrigia repens evitar perdas de rendimento. Estudos conduzidos por SWEET et interfere na cultura da abóbora italiana al (1974) na cultura da batata (Solanum (Cucurbita pepo) entre 28 e 42 dias após a tuberosum) semeadura (MALLET & ASHLEY, 1988). evidenciaram capacidades diferentes de competição entre as cultivares NERSON a espécies de competição esculentus. As plantas da cultivar Hudson Amaranthus e a cultura do melão (Cucumis apresentaram de melo var. reticulatus) observou que esta produção e suprimiram o crescimento da deve permanecer após a semeadura, livre de planta daninha com maior eficiência. Foi interferência entre 28 e 42 dias para não constatado, de ocorrer redução no rendimento e qualidade sombreamento é um dos fatores mais do produto. Segundo TERRY & STALL importantes este (1992), o PCPI tem início aos 21 dias após comportamento e que esta capacidade foi a semeadura quando a cultura do melão está determinada, principalmente, pelo tipo de em convivência com A. hybridus. Ainda ramificação das plantas que permitia uma estudando a interferência de A. hybridus, maior capacidade de interceptação da luz TERRY et al. (1997), determinaram que o solar. PCPI está compreendido entre 7 e 27 dias que que a reduções capacidade refletiram Na cultura da cenoura (Daucus carota), WILLIAM & WARREN (1975) duas estudando de batata Green Mountain e Hudson com C. menores entre (1989), após a emergência do melão, aceitando uma perda de 10% no rendimento. Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 39-57. 2006 49 Interferência de Plantas... INTERFERÊNCIA ALELOPÁTICA DE dessa cultura. Exsudatos radiculares de S. PLANTAS DANINHAS EM syriaca afetou severamente o crescimento CULTURAS OLERÍCOLAS de Algumas plantas complementam sua agressividade pela liberação de substâncias tóxicas ou substâncias inibidoras de crescimento chamadas de aleloquímicos. Essa liberação pode se dar, principalmente, por meio de exsudações pelas raízes e/ou pela lixiviação aleloquímicos retidos na matéria orgânica. Em geral, essas substâncias são absorvidas por outras espécies, modificando seu crescimento, reduzindo ou eliminando sua habilidade de competição, podendo ocasionar reduções nas produtividades das culturas (PEREIRA, plântulas de tomate, embora a germinação não tenha sido afetada. A germinação, o comprimento radicular e a biomassa seca da parte aérea e radicular de cenoura, abóbora e, somente a biomassa seca de repolho foram reduzidas significativamente pelos compostos voláteis de ambas as espécies de plantas daninhas C. draba e S. syriaca. A cobertura morta formada por ambas plantas daninhas afetou a emergência de plântulas de cenoura e tomate e o crescimento de plântulas de cenoura. Resíduos de S. syriaca reduziu significativamente o comprimento da parte aérea e biomassa seca de pepino e abóbora. 2004). QASEM (2001) realizou estudos verificando o potencial alelopático das plantas daninhas Cardaria draba e Salvia syriaca sobre o repolho (Brassica oleracea var. Capitata cv. Pronzwik), cenoura (Daucus carota cv. Natus), pepino (Cucumis sativus cv. Beithalpha), abóbora (Cucurbita pepo cv. Byrouti), cebola (Allium cepa cv. Texas Early Grana), pimentão Common) (Capsicum e annum tomate cv. Red (Lycopersicon esculentum cv. Special Back). Os exsudatos radiculares de ambas as espécies daninhas não afetaram a germinação da cultura do repolho, entretanto, reduziram significativamente o comprimento radicular A pulverização de lixiviados de folhas de ambas as plantas daninhas no estádio cotiledonar da cultura, afetou o desenvolvimento de plântulas de pepino, repolho, abóbora e tomate. O autor ainda verificou alta fitotoxicidade na cultura do tomate, resultante dos lixiviados das folhas das plantas daninhas. C. draba foi mais inibitória para repolho, abóbora e tomate do que S. syriaca. Segundo QASEM (2001), a decomposição dos resíduos de C. draba reduziu a biomassa seca das raízes de pepino e tomate e afetou o crescimento de plântulas de abóbora. QASEM (1995) relatou que exsudatos radiculares de A. retroflexus e Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 39-57. 2006 Zanatta, J.F. et al. 50 o (SOUZA, 1996). Conforme SOUZA & crescimento de plântulas de abóbora. FURTADO (2002), tanto os sintomas SOUZA & FURTADO (2002) constataram visuais (amarelecimento das folhas) como o que o centeio (Secale cereale L.) semeado vigor das plantas de alface apresentaram nas densidades de 50 e 100 kg.ha-1 inibiu o uma resposta de forma proporcional às crescimento de plantas de alface. Segundo densidades de semeadura do centeio (50 e os autores, esses efeitos assemelham-se aos 100 kg.ha-1) e às concentrações de atrazine efeitos quando as plantas são tratadas com o (3,7 e 7,3 mM) e BOA (6 e 12 mM) aleloquímico benzoxazolinona (BOA) e o aplicados, ou seja, à medida que se herbicida atrazine. O centeio, como muitos aumentou a densidade de semeadura do outros cereais de inverno, exsuda vários centeio ou concentração do herbicida ou compostos pelas raízes ou libera pela BOA, os sintomas aumentaram e o vigor decomposição de sua palha. Por sua vez, das plantas diminuiu. Chenopodium cada murale espécie afetaram normalmente apresenta Um resumo dos valores do Período algum(ns) composto(s) provenientes do Anterior a Interferência (PAI), Período metabolismo Total de Prevenção a Interferência (PTPI) e secundário em maior concentração e, no caso do centeio, a Período benzoxazolinona (BOA) destaca-se e exerce Interferência (PCPI) em diversas espécies varias funções na natureza como a inibição de hortaliças disponíveis na literatura é sobre apresentado na Tabela I. plantas daninhas ou cultivadas Crítico de Prevenção a TABELA I. Período Anterior a Interferência (PAI), Período Total de Prevenção a Interferência (PTPI) e Período Crítico de Prevenção a Interferência (PCPI) em diversas espécies de hortaliças. Cultura PAI PTPI PCPI 21 - - 19 34 19-34 SHREFLER et al. (1991) 21 35 21-35 Dusky et al. (1992) Abóbora italiana 28 42 28-42 Mallet & Ashley. (1988) Batata doce 14 42 14-42 Seem et al. (2003) Beterraba 40 55 40-55 Brito (1994) Brócolis 3 17 3-17 Caranza et al. (1997) 3 18 3-18 Gonzáles et al. (2003) 14 42 14-42 Hewson & Roberts (1971) 21 56 21-56 Bond & Burston (1996) Alface Cebola Autor(es) Roberts et al. (1977) Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 39-57. 2006 51 Interferência de Plantas... 42 - - - 7-14 - - Harker et al. (2001) Mandioquinha-salsa 58 120 58-120 Freitas et al. (2004) Melancia 3 21 7-21 Terry et al. (1997) 0 42 0-42 Monks & Schultheir (1998) 28 42 28-42 Nerson (1989) 21 - - 7 27 7-27 Terry et al. (1997) Pepino 12 36 12-36 Friesen (1978) Tomate Semeio direto 0 60 0-60 Campeglia (1991) 35 63 35-63 Weaver (1984); Weaver & Tan (1987) 20 60 20-60 Campeglia (1991) 24 36 24-36 Friesen (1979) 26 46 26-46 Hernandez (2004) 27 46 27-46 Hernandez (2002) 33 76 33-76 Nascente et al. (2004) 28 35 28-35 Qasem (1992); Weaver (1984); Weaver & Tan Ervilha Melão - Soares et al. (2003) 2-4 folhas Hewson & Roberts, (1971); Dunan et al. (1996) Terry & Stall (1992) Tomate Transplantio de mudas (1983) Rabanete 28 42 28-42 Sajjapongse et al. (1983) 0 21 0-21 Gibson & Liebman (2003) necessidade da realização de mais estudos, CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta compilação de pois os trabalhos desenvolvidos até o resultados momento estão restritos a algumas permitiu agrupar informações importantes espécies, havendo carência de informações sobre os períodos que são críticos na para outras hortaliças cultivadas. interação entre culturas olerícolas e a comunidade infestante, auxiliando na REFERÊNCIAS determinação de estratégias de manejo das ANDRADE JÚNIOR, A.S.; DUARTE, plantas daninhas e indicando o intervalo de R.L.R.; RIBEIRO, V.Q. Resposta de tempo quando o controle poderá ser mais cultivares de alface a diferentes níveis de efetivo na prevenção de danos às plantas irrigação. Horticultura Brasileira, v.10, cultivadas. p.95-97, 1992. Verifica-se, no entanto a Revista da FZVA. 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