Interferência de Plantas Daninhas em Culturas Olerícolas

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INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS EM CULTURAS
OLERÍCOLAS
WEED INTERFERENCE IN VEGETABLE CROPS
Jocemar Francisco Zanatta1, Silvia Figueredo² Lisiane Camponogara Fontana² Sergio
de Oliveira Procópio2
RESUMO
A competição entre plantas é um processo importante tanto em comunidades naturais
quanto em ambientes agrícolas. A presença de plantas daninhas em culturas olerícolas pode
interferir no processo produtivo, competindo pelos recursos do meio, principalmente água, luz
e nutrientes, liberando substâncias alelopáticas, atuando como hospedeiros de pragas e
doenças e interferindo nas práticas de colheita. Assim, qualquer planta daninha que se
estabeleça na cultura vai usar parte dos fatores de produção, podendo causar reduções de
produtividade. O grau de interferência de plantas daninhas em culturas, depende de fatores
ligados à própria cultura, à comunidade infestante, ao ambiente e ao período em que elas
convivem. Os períodos que descrevem a interferência das plantas daninhas em culturas
podem, didaticamente, serem definidos em: Período Anterior a Interferência (PAI), Período
Total de Prevenção a Interferência (PTPI) e Período Crítico de Prevenção a Interferência
(PCPI). Para o desenvolvimento de estratégias de manejo das invasoras torna-se importante
conhecer os períodos de interferência no processo produtivo das culturas olerícolas.
Palavras-chave: Competição, alelopatia, alface, tomate, cebola.
ABSTRACT
Competition among plants is an important process in natural communities as well as in
agricultural environments. The presence of weeds in vegetable crops may interfere in the
production process, since they compete for the natural resources found in the environment,
such as water, light and nutrients, as they release allelopatic substances, act like hosts of
plagues and diseases and interfere in harvesting practices. Thus, weeds that establish in the
crop are going to make use of part of the production factors, leading to a fall in the production
1
2
Eng. Agr., Mestrando, Pós-graduação em Fitossanidade da UFPEL. E-mail: [email protected]
Eng. Agr., Prof. Adjunto do Departamento de Fitossanidade da UFPel.
Revista da FZVA.
Uruguaiana, v.13, n.2, p. 39-57. 2006
Zanatta, J.F. et al.
40
numbers. The level of weed interference in crops is dependent on factors which are related to
the culture itself, to the infesting community, to the environment and to the period of
infestation. The periods that describe the weed interference in cultures may, didactically, be
described as: Period before Interference, Total Period of Prevention interference, and Critical
Period of Interference. For the development of management strategies against the invaders, it
is important to know the interference periods in the production process of the vegetable crops.
Key words: Competition, allelopathy, lettuce, tomato, onion.
um
INTRODUÇÃO
No
recurso
deficiência
Brasil
são
produzidas
e
cultivadas,
hortaliças.
produtividade
virtude
dessa
grande
diversidade de espécies, o manejo das
insuficiente
onde
existia
ou
criar
quantidade
suficiente do recurso para as plantas
consumidas mais de 70 espécies de
Em
já
podendo
reduzir
a
sua
(RADOSEVICH
et
al.,
1996).
plantas daninhas é relativamente complexo,
Segundo PITELLI (1985), o grau de
por apresentar problemas específicos em
interferência das plantas daninhas sobre as
relação aos métodos de controle dentro dos
culturas, depende de fatores ligados à
diferentes
própria cultura (espécie cultivada, cultivar e
sistemas
de
produção
(PEREIRA, 2004).
espaçamento), à comunidade infestante
As plantas daninhas afetam as
(composição
especifica,
densidade
e
culturas devido à competição pelos fatores
distribuição), ao ambiente (clima, solo e
de produção luz, água e nutrientes, como
manejo da cultura) e ao período em que elas
também pela liberação de compostos
convivem. Os estudos sobre a interferência
alelopáticos. Uma vez que o crescimento,
de plantas daninhas em culturas olerícolas
tanto das culturas quanto das plantas
visam determinar os períodos ou épocas
daninhas, depende da habilidade destas
que são críticas na interação entre essas
espécies em extrair os recursos existentes
culturas e a comunidade infestante. Tais
no ambiente em que vivem e, na maioria
períodos são definidos por PITELLI &
das vezes o suprimento desses recursos é
DURIGAN (1984) como Período Anterior a
limitado. A limitação de recursos para as
Interferência (PAI), Período Total de
plantas cultivadas pode ser causada pela sua
Prevenção a Interferência (PTPI) e Período
indisponibilidade,
suprimento
Crítico de Prevenção à Interferência (PCPI).
deficiente ou pela presença de plantas
O conhecimento de tais períodos é de
daninhas. Estas por sua vez, podem exaurir
extrema
pelo
importância
para
o
Revista da FZVA.
Uruguaiana, v.13, n.2, p. 39-57. 2006
41
Interferência de Plantas...
desenvolvimento de estratégias de manejo
dias após a sua emergência. BOND &
das invasoras, indicando o intervalo de
BURSTON (1996) realizaram experimentos
tempo quando o controle químico ou não-
para determinar o PCPI, utilizando a
químico poderá ser mais efetivo na
cultivar de cebola White Lisbon numa
prevenção de danos às plantas cultivadas
densidade de 300 plantas.m-2. As espécies
(SWANTON & WEISE, 1991).
de plantas daninhas predominantes nos
experimentos
INTERFERÊNCIA DE PLANTAS
foram
Stellaria
media,
Sonchus asper, Chenopodium album, Poa
DANINHAS NA CULTURA DA
annua e Matricaria sp. A densidade média
CEBOLA
das plantas daninhas nos experimentos
A cultura da cebola é considerada
variou de 20 a 160 plantas.m-2. Segundo
altamente suscetível à interferência imposta
esses autores, no tratamento onde as plantas
pelas plantas daninhas, em virtude de seu
daninhas permaneceram até a colheita,
lento crescimento inicial e da disposição
ocorreu uma redução em 96% da biomassa
ereta e forma cilíndrica de suas folhas, o
fresca das plantas de cebola quando
que proporciona baixa capacidade de
comparado com o tratamento controle (livre
sombreamento (SOARES et al., 2003).
de plantas daninhas). O PCPI determinado
Como conseqüência da interferência das
pelos autores variou de 21 a 56 dias após a
plantas daninhas a produtividade da cebola
emergência da cultura.
decresce drasticamente, podendo atingir até
SOARES et al. (2003) estudaram os
100% de perdas de bulbos comercializáveis
efeitos de períodos de convivência de uma
(BOND & BURSTON, 1996). Alguns
comunidade de plantas daninhas sobre a
valores de redução na produção comercial
produtividade de quatro cultivares de
encontrados na literatura variam de 36 a
cebola (Mercedes, Granex 33, Superex e
96% (DEUBER & FOSTER, 1975; LEAL,
Serrana), em sistema de transplantio de
1984; SOARES et al., 2003).
mudas numa densidade de 42 plantas.m-2.
HEWSON & ROBERTS (1971),
determinando
o
Período
Crítico
As plantas daninhas predominantes até o
de
final dos períodos de convivência foram
Prevenção à Interferência (PCPI) de plantas
Coronopus dydimus, Amaranthus hybridus
daninhas na cultura da cebola, verificaram
e Cyperus rotundus. O número de plantas
que as perdas no rendimento poderiam ser
da comunidade infestante na cultura da
evitadas se a cultura fosse mantida livre de
cebola em diferentes períodos após o
plantas daninhas por um período de 14 a 42
transplantio variou de 100 a 400 plantas.mRevista da FZVA.
Uruguaiana, v.13, n.2, p. 39-57. 2006
Zanatta, J.F. et al.
2
. Estas variações podem ser explicadas
pela
desuniformidade
germinação
das
do
rendimento da cultura da cebola, mas
de
também grande diminuição no tamanho dos
populações.
bulbos, reduzindo o valor comercial do
fluxo
diferentes
42
Conforme SOARES et al. (2003), a
produto
convivência das plantas daninhas durante os
WILLIAMS et al., 2005). Em densidades
primeiros 98 dias reduziu a produtividade
maiores que 4 plantas.m-2 a redução no
da cebola em 95% e o peso médio de
rendimento
bulbos em 91%. O Período Anterior a
(WILLIAMS et al., 2004).
Interferência
(PAI)
determinado
pelos
(WILLIAMS
pode
Outros
et
chegar
estudos
al.,
2004;
a
100%
verificando
a
autores foi de 42 dias, não havendo
interferência de plantas daninhas anuais em
diferença estatística entre as cultivares de
início de desenvolvimento, como C. album
cebola.
e Amaranthus retroflexus, mostram que o
Na região oeste dos Estados Unidos,
PCPI se inicia quando a planta de cebola
a cebola e a batata são importantes culturas
está entre os estádios de duas a quatro
do ponto de vista econômico, sendo
folhas (DUNAN et al., 1996; HEWSON &
geralmente utilizadas em sucessão. Desta
ROBERTS, 1971). DUNAN et al. (1996)
maneira, as plantas voluntárias de batata,
sugerem ainda que as plantas daninhas
provenientes de tubérculos que restaram e
precisam ser controladas antes que a cebola
sobreviveram
atinja o estádio de duas folhas para evitar
infestantes
no
campo,
quando
a
tornam-se
cultura
em
redução no rendimento.
desenvolvimento é a cebola (WILLIAMS et
al., 2004). Um número pequeno de plantas
voluntárias de batata pode ter um grande
impacto no rendimento da cebola. Uma
INTERFERÊNCIA DE PLANTAS
DANINHAS NA CULTURA DA
ALFACE
densidade de 2 plantas.m-2 de batata pode
A alface (Lactuca sativa L.) é uma
ocasionar perdas de rendimento maiores
das hortaliças folhosas mais consumidas no
que 5% na cultura da cebola, quando esta se
Brasil, sendo no Estado de São Paulo onde
encontra
folhas
se concentra a maior produção de alface,
(WILLIAMS et al., 2005). Com períodos
(ANDRADE JÚNIOR et al., 1992). Para se
maiores de convivência as perdas podem
obter um alto rendimento e qualidade da
passar
&
alface, é necessário um manejo intensivo de
SEYMOUR, 2002; WILLIAMS et al.,
diversos fatores, incluindo o controle de
2005).
plantas
no
de
Não
estádio
85%
há
de
duas
(BOYDSTON
somente
perdas
no
daninhas
(SHREFLER
et
al.,
Revista da FZVA.
Uruguaiana, v.13, n.2, p. 39-57. 2006
43
Interferência de Plantas...
SHREFLER
1994a). As plantas daninhas causam perdas
et
al.
(1994a)
na produção e diminuem a qualidade na
conduziram experimentos para determinar a
cultura da alface (ROBERT et al., 1977).
influência da fertilização com fósforo e
Além disso, afetam a firmeza de suas folhas
métodos de aplicação (aplicação na linha de
e, também, o conteúdo de nitrato e caroteno
plantio x aplicação em área total), da
(GIANNOPOLITIS et al., 1989).
densidade de Amaranthus spinosus e da
Em estudos realizados em casa de
duração da interferência sobre o rendimento
vegetação por SANTOS et al. (1998),
de alface. Os autores relataram que após
visando determinar o efeito de doses de
cinco semanas de interferência de A.
fósforo e da densidade de populações sobre
spinosus na cultura da alface, tanto a
a
e
biomassa da parte aérea da alface quanto à
Portulaca oleracea com plantas de alface,
da planta daninha foi reduzida. Duas
foi verificado que o fornecimento de altas
plantas.m-2 de A. spinosus reduziram a
doses de fósforo aumentou a habilidade
biomassa da parte aérea da alface em 9 e
competitiva da alface sobre A. hybridus.
23% a mais do que com 0,5 plantas.m-2 de
Entretanto, ocorreu um alto consumo de
A. spinosus após cinco e sete semanas de
fósforo por essa planta daninha, reduzindo a
interferência, respectivamente. Após sete
quantidade do nutriente disponível para às
semanas de interferência, a biomassa da
plantas de alface. P. oleracea apresentou
parte aérea da alface reduziu em 20%,
maior resposta a altas doses de fósforo,
quando foi aplicado fósforo em área total,
aumentando sua habilidade competitiva
8% quando aplicado na linha de plantio e
frente às plantas de alface. De acordo com
24% quando não foi aplicado, em relação
SANTOS et al. (1998), a competição por
ao tratamento controle (livre de plantas
fósforo parece ser o principal mecanismo de
daninhas). Segundo SHREFLER et al.
interferência de P. oleracea sobre essa
(1994b), a aplicação de fósforo na linha de
olerícola em solos com baixo teor desse
plantio reduz o impacto negativo de A.
nutriente. O estabelecimento de estratégias
spinosus sobre a alface quando comparado
na fertilização da cultura, como por
com a aplicação em área total. Para
exemplo, a aplicação de fósforo na linha de
SANTOS et al. (2004), o aumento da
plantio, pode reduzir o efeito negativo de A.
habilidade competitiva da alface em relação
hybridus e P. oleracea sobre a alface
à planta daninha é devido, principalmente,
(SANTOS et al., 1998).
ao aumento da concentração do nutriente
competitividade
de
A.
hybridus
em
torno
do
seu
sistema
radicular.
Revista da FZVA.
Uruguaiana, v.13, n.2, p. 39-57. 2006
Zanatta, J.F. et al.
44
SANTOS et al. (2004) verificaram que
do início do crescimento. SHREFLER et al.
quando o fósforo foi aplicado em área total,
(1991) reportam que a presença de 120
as perdas no rendimento da alface foram de
plantas.m-2 de Amaranthus lividus, por 19
39%, 50%, 59% e 65% para 2, 4, 8 e 16
dias a contar da data de semeadura, não
plantas por metro linear de C. album,
afetou o rendimento da alface. No entanto,
respectivamente. Contudo, quando as doses
a demora na remoção das plantas daninhas
de fósforo foram reduzidas em 50% e
por um período adicional de 15 dias
aplicadas na linha de plantio as perdas no
resultou
rendimento da alface foram de 23%, 30%,
rendimento
35% e 38% para as mesmas densidades da
semelhantes foram obtidos pelos mesmos
planta daninha.
autores com 15 plantas.m-2 e Portulaca
numa
completa
da
cultura.
perda
de
Resultados
ROBERTS et al. (1977) verificaram
oleracea. DUSKY & SHREFLER (1992),
que misturas de populações de plantas
registram que a presença de 0,4 plantas.m-2
daninhas gramíneas e dicotiledôneas na
de Amaranthus spinosus no período de três
densidade de 65 plantas.m-2 causaram perda
a cinco semanas após a emergência de
total no rendimento da alface. Todavia, não
plantas de alface interfere negativamente na
foram observadas perdas de rendimento
cultura, reduzindo significativamente seu
quando a cultura foi mantida livre de
rendimento.
plantas daninhas por três semanas a partir
transplantio da cultura e o PTPI estimado
INTERFERÊNCIA DE PLANTAS
em 76 dias após o transplantio das mudas.
DANINHAS NA CULTURA DO
Assim, o PCPI de plantas daninhas para a
TOMATE
Em
cultura do tomate plantado por mudas
experimento
por
situou-se entre 33 e 76 dias após o
visando
transplantio. Os valores encontrados para o
determinar o PCPI das plantas daninhas na
PCPI dependem das características de cada
cultura do tomate para processamento
agroecossistema, como espécies ocorrentes,
(industrial), foram detectadas 26 espécies
densidades,
infestantes
na
fertilidade
freqüentes
Bidens
NASCENTE
et
al.
área,
realizado
(2004),
sendo
pilosa,
as
mais
do
condições
climáticas,
solo,
outras.
entre
A
Brachiaria
comunidade infestante que se instala após
plantaginea, Nicandra physaloides e Oxalis
este período não tem mais condições de
latifolia. Segundo esses autores, o PAI
interferir
determinado foi de 33 dias após o
produtividade da cultura, entretanto, pode
significativamente
na
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Interferência de Plantas...
crescer e amadurecer, aumentando o banco
perdas,
que
de sementes no solo, bem como também
respectivamente.
Com
servir de hospedeira de insetos-pragas e
foram
base
de
nas
18
e
afirmações
9%,
de
HERNANDEZ et al. (2002), a planta
patógenos.
CAMPEGLIA
(1991)
encontrou
daninha
maria-pretinha
(Solanum
para o tomate implantado através de
americanum) mostrou ser uma competidora
semeadura direta PCPI de 0 a 60 dias.
mais agressiva que o tomate. As duas
WEAVER (1984) e WEAVER & TAN
espécies se mostraram competidoras pelos
(1987),
sistema,
mesmos fatores de crescimento, o que
determinaram PCPI de 35 a 63 dias. No
refletiu na redução da área foliar das plantas
tomate para processamento com plantio por
de tomate. O PCPI de maria-pretinha sobre
mudas o PCPI ficou entre 24 a 36 dias
o tomateiro ocorreu entre 27 e 46 dias após
(FRIESEN,
a emergência da cultura.
para
o
1979);
mesmo
28
a
42
dias
(SAJJAPONGSE et al., 1983); 28 a 35 dias
De acordo com NORRIS et al.
(WEAVER & TAN, 1983); 28 a 35 dias
(2001), mantendo-se uma densidade de
(WEAVER, 1984); 28 a 35 dias (QASEM,
plantio de 10 plantas de tomate por metro
1992); 20 a 60 dias (CAMPEGLIA, 1991) e
linear,
26 a 46 dias (HERNANDEZ, 2004).
produtividade de 20 a 50% no primeiro ano
MORALES-PAYAN et al. (2003)
observou-se
redução
na
e 11 a 75% no segundo ano, quando a
realizaram experimentos para observar a
cultura
interferência acima e abaixo do solo de C.
densidade de capim-arroz (Echinochloa
rotundus e Cyperus esculentus na cultura
crus-galli L. (Beauv.)). A densidade de
do tomate. Verificaram que quando C.
plantio do tomate e do capim-arroz e a
esculentus conviveu durante todo ciclo da
distribuição do capim-arroz tiveram efeito
cultura, o acúmulo na massa seca da parte
significativo na produção de frutos do
aérea das plantas de tomate foi reduzido em
tomate. A frutificação do tomate decresceu
34%, e quando em convivência com C.
quando
rotundus, o prejuízo no acúmulo da massa
aumentou.
seca da parte aérea ficou em 28%, causando
conviveu
a
com
densidade
Conforme
uma
do
mesma
capim-arroz
NGOUAJIO
et
al.
menos prejuízos ao tomate. Em relação a
(2001), existem diferenças significativas na
massa seca das raízes das plantas de tomate,
capacidade
C. rotundus e C. esculentus causaram
cultivares de uma mesma espécie cultivada,
competitiva
de
diferentes
ou seja, existem cultivares mais tolerantes a
Revista da FZVA.
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Zanatta, J.F. et al.
46
competição do que outras. Esses autores
massa seca aos 40 dias após o transplante
analisaram quatro cultivares de tomate em
(DAT) e a produção de frutos em ambas
competição
theophrasti,
culturas, aos 90 DAT. Esses autores
observando que o efeito prejudicial da
observaram que a quantidade de massa seca
planta daninha A. theophrasti variou entre
e o florescimento do tomate e da pimenta
as cultivares de tomate. Quando a cultura
foram afetados pela interferência de C.
cresceu com cinco plantas por linear de A.
rotundus, sendo que quanto maior a
theophrasti, a produção comercial do
densidade de tubérculos utilizada, maior foi
tomate foi reduzida em 8% no ano de 1998,
à interferência. O tomate foi o mais afetado
em 60% no ano de 1999 para a cultivar
na produção de massa seca em relação à
H8892 e 58% em 1998, e 80% em 1999
pimenta,
para a cultivar H9661, comparado com as
característica foi avaliada ao final da
testemunhas (livres de competição). A
colheita,
convivência do tomate com a planta
significativas entre as densidades de C.
daninha diminuiu seu crescimento e sua
rotundus. Com o incremento na densidade
área foliar. A cultivar mais tolerante foi
de tubérculos de C. rotundus, a produção de
H8892,
frutos diminuiu em ambas as culturas.
com
devido
Abutilon
suas
características
entretanto,
não
quando
houve
produção
diferenças
morfofisiológicas. A arquitetura e outras
Menor
características morfológicas da planta que
densidades
conferem vantagem na competitividade têm
ocorrendo um decréscimo de 44% para o
sido extensivamente estudadas no tomate
tomate e 32% para a pimenta.
de
foi
essa
constatada
com
tubérculos.m-2,
200
(WEAVER & TAN, 1987; PEREZ &
MASIUNAS,
1990;
QASEM,
1992;
MCGIFFEN
&
HESKETH,
1992,
MCGIFFEN et al., 1994 e 1995; PONCE et
INTERFERÊNCIA DE PLANTAS
DANINHAS EM OUTRAS
OLERÍCOLAS
SEEM et al. (2003), estudando a
al., 1996).
interferência
das
de vegetação, MORALES-PAYAN et al.
retroflexus,
Senna
(1997)
semearam
esculentus
tomate
e
Em experimento realizado em casa
concomitantemente
na
plantas
daninhas
obtusifolia
cultura
da
e
A.
C.
batata-doce,
diferentes
observaram que, o PCPI variou de 2 a 6
densidades de tubérculos de Cyperus
semanas após o transplantio das mudas de
rotundus (0, 25, 50, 100, 150 e 200
batata-doce.
pimenta,
com
tubérculos.m-2), avaliando a produção de
Revista da FZVA.
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Interferência de Plantas...
Em brócolis (Brassica oleracea var.
italica),
CARRANZA
et
al.
(1997)
constataram que a presença das plantas
comunidade
infestante
beterraba,
provocou
na
cultura
reduções
da
no
rendimento de 27 a 95%.
daninhas Galinsoga sp., Commelina sp.,
Na cultura da melancia (Citrullus
Oxalis sp., e Sonchus oleraceus interferiram
lanatus), TERRY et al. (1997) observaram
na cultura dos 3 aos 17 dias após o
que a presença de 6 plantas.m-2 de
transplante. GONZÁLEZ et al. (2003)
Amaranthus
observaram que na presença das plantas
rendimento em 100%. O PCPI na cultura da
daninhas
melancia foi de 3 a 21 dias após a
Brassica
campestris,
Rumex
hybridus
emergência.
oleracea, Commelina erecta e Oxalis sp. o
demonstraram que 2 plantas.m-2 de Cyperus
PCPI foi de 3 a 18 dias após o transplantio
esculentus reduziram o rendimento da
das plantas de brocólis.
melancia em 10%, enquanto 40 plantas.m-2
Avena
fatua
e
Fagopyrum
et
al.
o
crispus, Galinsoga urticaefolia, Portulaca
A competição das plantas daninhas
BUKER
reduziram
(2003)
reduziram o rendimento em 80%. MONKS
tataricum
& SCHULTHEIS (1998) detectaram que na
durante o ciclo da cultura da ervilha (Pisum
cultura da melancia triplóide transplantada,
sativum) provocou perdas entre 40 e 70%
250 plantas.m-2 de Digitaria sanguinalis
no rendimento (HARKER et al., 2001). O
reduziram o rendimento em 90%. O PCPI
início do PCPI da cultura da ervilha,
determinado pelos autores foi de 0 a 42 dias
determinado por HARKER et al. (2001),
após o transplante.
situa-se entre 7 a 14 dias após a emergência
da
cultura.
Segundo
CROSTER
Na cultura do rabanete (Raphanus
&
sativus) a interferência imposta pelas
MASIUNAS (1998), para se obter os
plantas daninhas Sorghum bicolor, Panicum
maiores rendimentos na cultura da ervilha,
miliaceum e Erichloa villosa inicia-se
as espécies daninhas devem ser controladas
imediatamente após a semeadura e se
durante as duas primeiras semanas de
estende
crescimento.
LIEBMAN, 2003).
por
21
dias
(GIBSON
&
Na cultura da beterraba (Beta
A mandioquinha-salsa (Arracacia
vulgaris) cv. Early Wonder implantada
xanthorrhiza), apresenta lento crescimento,
através de semeadura direta, BRITO (1994)
ciclo longo e pequena capacidade de
determinou que PCPI das plantas daninhas
sombreamento,
após o plantio da cultura, foi de 40 a 55
proporcionam
dias. Segundo o autor, a presença da
capacidade competitiva por luz com as
características
a
esta
cultura
que
baixa
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Zanatta, J.F. et al.
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plantas daninhas. FREITAS et al (2004),
observaram que a cultivar de cenoura
estudando os períodos de interferência de
Kuroda
plantas daninhas nessa cultura, observaram
competitiva contra plantas daninhas da
que
rotundus,
espécie Cyperus rotundus que a cultivar
Brachiaria
Nantes e atribuem isso à maior formação de
a
ocorrência
Siegesbeckia
de
C.
orientalis,
plantaginea, Ageratum conyzoides, Sonchus
oleraceus e Oxalis corniculata, reduziu em
apresentou
maior
capacidade
folhas verificada na cultivar Kuroda.
O
pepino
(Cucumis
sativus)
98% a produtividade de raízes comerciais
competindo com uma população de plantas
quando a cultura conviveu com as plantas
daninhas constituída por Chenopodium
daninhas por todo o ciclo. O PCPI
album, Ambrosia artemisiifolia e Cenchrus
determinado pelos autores nesta cultura foi
longispinus necessita de um período livre
de 58 a 120 dias, período em que as
de interferência compreendido entre 12 e 36
medidas de controle são necessárias para
dias após a semeadura (FRIESEN, 1978).
A planta daninha Elytrigia repens
evitar perdas de rendimento.
Estudos conduzidos por SWEET et
interfere na cultura da abóbora italiana
al (1974) na cultura da batata (Solanum
(Cucurbita pepo) entre 28 e 42 dias após a
tuberosum)
semeadura (MALLET & ASHLEY, 1988).
evidenciaram
capacidades
diferentes de competição entre as cultivares
NERSON
a
espécies
de
competição
esculentus. As plantas da cultivar Hudson
Amaranthus e a cultura do melão (Cucumis
apresentaram
de
melo var. reticulatus) observou que esta
produção e suprimiram o crescimento da
deve permanecer após a semeadura, livre de
planta daninha com maior eficiência. Foi
interferência entre 28 e 42 dias para não
constatado,
de
ocorrer redução no rendimento e qualidade
sombreamento é um dos fatores mais
do produto. Segundo TERRY & STALL
importantes
este
(1992), o PCPI tem início aos 21 dias após
comportamento e que esta capacidade foi
a semeadura quando a cultura do melão está
determinada, principalmente, pelo tipo de
em convivência com A. hybridus. Ainda
ramificação das plantas que permitia uma
estudando a interferência de A. hybridus,
maior capacidade de interceptação da luz
TERRY et al. (1997), determinaram que o
solar.
PCPI está compreendido entre 7 e 27 dias
que
que
a
reduções
capacidade
refletiram
Na cultura da cenoura (Daucus
carota), WILLIAM & WARREN (1975)
duas
estudando
de batata Green Mountain e Hudson com C.
menores
entre
(1989),
após a emergência do melão, aceitando uma
perda de 10% no rendimento.
Revista da FZVA.
Uruguaiana, v.13, n.2, p. 39-57. 2006
49
Interferência de Plantas...
INTERFERÊNCIA ALELOPÁTICA DE
dessa cultura. Exsudatos radiculares de S.
PLANTAS DANINHAS EM
syriaca afetou severamente o crescimento
CULTURAS OLERÍCOLAS
de
Algumas plantas complementam sua
agressividade pela liberação de substâncias
tóxicas
ou
substâncias
inibidoras
de
crescimento chamadas de aleloquímicos.
Essa liberação pode se dar, principalmente,
por meio de exsudações pelas raízes e/ou
pela lixiviação aleloquímicos retidos na
matéria
orgânica.
Em
geral,
essas
substâncias são absorvidas por outras
espécies, modificando seu crescimento,
reduzindo ou eliminando sua habilidade de
competição, podendo ocasionar reduções
nas produtividades das culturas (PEREIRA,
plântulas
de
tomate,
embora
a
germinação não tenha sido afetada. A
germinação, o comprimento radicular e a
biomassa seca da parte aérea e radicular de
cenoura, abóbora e, somente a biomassa
seca
de
repolho
foram
reduzidas
significativamente pelos compostos voláteis
de ambas as espécies de plantas daninhas C.
draba e S. syriaca. A cobertura morta
formada por ambas plantas daninhas afetou
a emergência de plântulas de cenoura e
tomate e o crescimento de plântulas de
cenoura. Resíduos de S. syriaca reduziu
significativamente o comprimento da parte
aérea e biomassa seca de pepino e abóbora.
2004).
QASEM (2001) realizou estudos
verificando o potencial alelopático das
plantas daninhas Cardaria draba e Salvia
syriaca sobre o repolho (Brassica oleracea
var. Capitata cv. Pronzwik), cenoura
(Daucus
carota
cv.
Natus),
pepino
(Cucumis sativus cv. Beithalpha), abóbora
(Cucurbita pepo cv. Byrouti), cebola
(Allium cepa cv. Texas Early Grana),
pimentão
Common)
(Capsicum
e
annum
tomate
cv.
Red
(Lycopersicon
esculentum cv. Special Back). Os exsudatos
radiculares de ambas as espécies daninhas
não afetaram a germinação da cultura do
repolho,
entretanto,
reduziram
significativamente o comprimento radicular
A pulverização de lixiviados de folhas de
ambas as plantas daninhas no estádio
cotiledonar
da
cultura,
afetou
o
desenvolvimento de plântulas de pepino,
repolho, abóbora e tomate. O autor ainda
verificou alta fitotoxicidade na cultura do
tomate, resultante dos lixiviados das folhas
das plantas daninhas. C. draba foi mais
inibitória para repolho, abóbora e tomate do
que S. syriaca. Segundo QASEM (2001), a
decomposição dos resíduos de C. draba
reduziu a biomassa seca das raízes de
pepino e tomate e afetou o crescimento de
plântulas de abóbora.
QASEM
(1995)
relatou
que
exsudatos radiculares de A. retroflexus e
Revista da FZVA.
Uruguaiana, v.13, n.2, p. 39-57. 2006
Zanatta, J.F. et al.
50
o
(SOUZA, 1996). Conforme SOUZA &
crescimento de plântulas de abóbora.
FURTADO (2002), tanto os sintomas
SOUZA & FURTADO (2002) constataram
visuais (amarelecimento das folhas) como o
que o centeio (Secale cereale L.) semeado
vigor das plantas de alface apresentaram
nas densidades de 50 e 100 kg.ha-1 inibiu o
uma resposta de forma proporcional às
crescimento de plantas de alface. Segundo
densidades de semeadura do centeio (50 e
os autores, esses efeitos assemelham-se aos
100 kg.ha-1) e às concentrações de atrazine
efeitos quando as plantas são tratadas com o
(3,7 e 7,3 mM) e BOA (6 e 12 mM)
aleloquímico benzoxazolinona (BOA) e o
aplicados, ou seja, à medida que se
herbicida atrazine. O centeio, como muitos
aumentou a densidade de semeadura do
outros cereais de inverno, exsuda vários
centeio ou concentração do herbicida ou
compostos pelas raízes ou libera pela
BOA, os sintomas aumentaram e o vigor
decomposição de sua palha. Por sua vez,
das plantas diminuiu.
Chenopodium
cada
murale
espécie
afetaram
normalmente
apresenta
Um resumo dos valores do Período
algum(ns) composto(s) provenientes do
Anterior a Interferência (PAI), Período
metabolismo
Total de Prevenção a Interferência (PTPI) e
secundário
em
maior
concentração e, no caso do centeio, a
Período
benzoxazolinona (BOA) destaca-se e exerce
Interferência (PCPI) em diversas espécies
varias funções na natureza como a inibição
de hortaliças disponíveis na literatura é
sobre
apresentado na Tabela I.
plantas
daninhas
ou
cultivadas
Crítico
de
Prevenção
a
TABELA I. Período Anterior a Interferência (PAI), Período Total de Prevenção a
Interferência (PTPI) e Período Crítico de Prevenção a Interferência (PCPI) em
diversas espécies de hortaliças.
Cultura
PAI
PTPI
PCPI
21
-
-
19
34
19-34
SHREFLER et al. (1991)
21
35
21-35
Dusky et al. (1992)
Abóbora italiana
28
42
28-42
Mallet & Ashley. (1988)
Batata doce
14
42
14-42
Seem et al. (2003)
Beterraba
40
55
40-55
Brito (1994)
Brócolis
3
17
3-17
Caranza et al. (1997)
3
18
3-18
Gonzáles et al. (2003)
14
42
14-42
Hewson & Roberts (1971)
21
56
21-56
Bond & Burston (1996)
Alface
Cebola
Autor(es)
Roberts et al. (1977)
Revista da FZVA.
Uruguaiana, v.13, n.2, p. 39-57. 2006
51
Interferência de Plantas...
42
-
-
-
7-14
-
-
Harker et al. (2001)
Mandioquinha-salsa
58
120
58-120
Freitas et al. (2004)
Melancia
3
21
7-21
Terry et al. (1997)
0
42
0-42
Monks & Schultheir (1998)
28
42
28-42
Nerson (1989)
21
-
-
7
27
7-27
Terry et al. (1997)
Pepino
12
36
12-36
Friesen (1978)
Tomate Semeio direto
0
60
0-60
Campeglia (1991)
35
63
35-63
Weaver (1984); Weaver & Tan (1987)
20
60
20-60
Campeglia (1991)
24
36
24-36
Friesen (1979)
26
46
26-46
Hernandez (2004)
27
46
27-46
Hernandez (2002)
33
76
33-76
Nascente et al. (2004)
28
35
28-35
Qasem (1992); Weaver (1984); Weaver & Tan
Ervilha
Melão
-
Soares et al. (2003)
2-4 folhas Hewson & Roberts, (1971); Dunan et al. (1996)
Terry & Stall (1992)
Tomate Transplantio
de mudas
(1983)
Rabanete
28
42
28-42
Sajjapongse et al. (1983)
0
21
0-21
Gibson & Liebman (2003)
necessidade da realização de mais estudos,
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta
compilação
de
pois os trabalhos desenvolvidos até o
resultados
momento
estão
restritos
a
algumas
permitiu agrupar informações importantes
espécies, havendo carência de informações
sobre os períodos que são críticos na
para outras hortaliças cultivadas.
interação entre culturas olerícolas e a
comunidade
infestante,
auxiliando
na
REFERÊNCIAS
determinação de estratégias de manejo das
ANDRADE JÚNIOR, A.S.; DUARTE,
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Verifica-se,
no
entanto
a
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