A teoria de tudo: a importância do tratamento

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Psicologia.pt
ISSN 1646-6977
Documento publicado em 21.05.2017
A TEORIA DE TUDO: A IMPORTÂNCIA DO
TRATAMENTO MULTIDISCIPLINAR PARA PACIENTES
COM DIAGNÓSTICO DE
ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA
2017
Leonardo C. Guimarães
Estudante de Graduação em Psicologia pelo Centro Universitário Cenecista de Osório (UNICNEC) e
Pesquisador de Iniciação Científica pela mesma instituição (Brasil)
[email protected]
Carolina dos Santos Ósio
Estudante de Graduação em Fisioterapia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) (Brasil)
[email protected]
Eliane Heckler
Farmacêutica. Mestre em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). Professora Adjunta da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) (Brasil)
[email protected]
RESUMO
Este estudo consiste em uma análise crítica acerca da importância do tratamento
multidisciplinar para pacientes com diagnóstico de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), a partir do
caso de Stephen Hawking, retratado no filme “A Teoria de Tudo”. São apresentadas brevemente
algumas características acerca da fisiopatologia da ELA, bem como as implicações que tal desordem
ocasiona na vida do indivíduo e de seus familiares. Todavia, o enfoque principal desta breve revisão
bibliográfica consiste em enfatizar a importância do trabalho em equipe multidisciplinar para o
tratamento de desordens que se mostram como um desafio clínico, como a ELA.
Palavras-chave: Esclerose lateral amiotrófica, tratamento multidisciplinar, doença
neurodegenerativa.
Copyright © 2017.
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INTRODUÇÃO
O filme “A Teoria de Tudo” (The Theory of Everything) foi lançado em janeiro de 2015,
produzido no ano de 2014 pelo diretor James Marsh, tendo como princípio a Biografia de Stephen
Hawking. No filme, a vida do Físico foi representada pelo ator Eddie Redmayne, interpretação que
lhe rendeu Oscar de melhor ator no ano de 2015.
Stephen Hawking é um Físico brilhante, que direciona sua atenção para questões envolvendo
a passagem do tempo e os chamados buracos-negros. Há muito, o renomado Físico britânico supera
as expectativas previstas pelos médicos, pois quando recebeu o diagnóstico de Esclerose Lateral
Amiotrófica (ELA), aos 21 anos, tinha expectativa de viver no máximo mais três anos, e já convive
com o diagnóstico da doença há 52 anos.
Nesta breve revisão, apresentamos as principais características clínicas da ELA, baseando-se
no caso de Stephen Hawking ilustrado pelo filme A Teoria de Tudo. Igualmente, enfatizamos a
importância decisiva de abordar desordens complexas a partir do trabalho multidisciplinar.
FISIOPATOLOGIA DA ELA
A ELA é uma doença neurodegenerativa que provoca morte dos neurônios motores
originados da porção anterior ou ventral da medula espinhal. Tal condição compromete
gradativamente a capacidade do indivíduo de executar movimentos planejados, atingindo também
músculos responsáveis pela fala, alimentação e respiração (Jensen et al., 2016). Em estágios mais
avançados da doença, declínios na execução da memória de trabalho também são observados
(Vellage et al., 2016).
A literatura apresenta marcadores moleculares como candidatos à patogenia do transtorno,
indicando que mecanismos indiretos de hereditariedade possam estar envolvidos (Toivonen et al.,
2014; Diekstra et al., 2012). Igualmente, há indícios de que a intensa atividade física aumente o
risco de desenvolvimento, possivelmente por mecanismos pró-oxidantes (Pasquinelli et al., 2016).
Ainda assim, sua etiologia permanece desconhecida.
No filme, evidencia-se a necessidade de uma equipe multidisciplinar para realizar desde o
diagnóstico precoce até o tratamento do paciente com diagnóstico de ELA, bem como profissionais
capacitados a reduzir o sofrimento dos cuidadores do paciente. No que diz respeito ao diagnóstico,
marcadores no líquido cerebrospinal (Junttila et al., 2016) e práticas atuais de neuroimagem
(Kumar et al., 2016; Vora et al., 2016) permitem o diagnóstico precoce e diferencial de ELA. Em
uma revisão sistemática publicada recentemente, pesquisadores brasileiros apontaram alguns
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progressos no tratamento por meio de estudos com células-tronco (Moura et al., 2016), mas o
tratamento farmacológico conhecido até então é apenas sintomático. Contudo, o tratamento se
mostra mais eficaz com o auxílio de práticas de fisioterapia.
A IMPORTÂNCIA DO PROFISSIONAL DE FISIOTERAPIA
O Fisioterapeuta é o profissional que atua na prevenção de lesões e na reabilitação do sistema
locomotor, visando o bem-estar e melhor condição de vida dos pacientesem diferentes graus. Em
primeiro plano se tem o objetivo de manter o paciente com independência de mobilidade, e suas
atividades diárias, por fim visa minimizar deficiências através de adaptações; educar o paciente e
os familiares; prescrever exercícios apropriados; prevenir as complicações relacionadas à
imobilidade e eliminar ou prevenir a dor. Todos estes objetivos, em conjunto, contribuem para uma
melhor qualidade de vida (Pozza et al., 2006).
O diagnóstico precoce e atividades fisioterapêuticas tão logo o paciente tenha sido
diagnosticado possibilitam evolução mais lenta do comprometimento neuromuscular e maior
qualidade de vida ao paciente com ELA (Dal Bello-Haas, 1998). Embora haja comprometimento
progressivo da função motora, o principal objetivo é fazer com que o paciente mantenha a
flexibilidade articular, o movimento e força muscular o mais preservado possível (Faccbinetti,
Orsini e Lima, 2009). Uma das maiores vicissitudes dessa patologia são os distúrbios respiratórios,
que são tratados com técnicas específicas de fisioterapia respiratória, visando adiar a traqueostomia
(Ryu et al., 2017).
CONTRIBUIÇÕES DO PROFISSIONAL DE PSICOLOGIA
A preservação da saúde mental é um importante fator para o manejo clínico de qualquer
desordem (Pereira et al., 2017). No caso de Stephen Hawking, a permanência de motivação para
trabalhar e continuar publicando suas obras em seu campo de atuação parece um importante
elemento terapêutico. Alguns pacientes diagnosticados com alguma desordem crônica
desenvolvem quadros depressivos e privam-se gradativamente de susas atividades prazerosas
(Arechabala et al., 2011). Hawking, por outro lado, apresenta grande resiliência e determinação
em continuar seguindo sua vida de alguma forma.
A família de um paciente com transtornos crônicos também influencia fortemente seu
prognóstico. Neste sentido, cabe ao Psicólogo atuar também visando fortalecer laços familiares e
possibilitar o devido suporte para que os familiares possam ajudar no tratamento.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Torna-se cada vez mais evidente o quão indispensável se mostra o trabalho realizado por uma
equipe multidisciplinar no tratamento de diferentes doenças. No campo da Astrofísica, talvez
Stephen Hawking ou seus seguidores possam encontrar a idealizada Teoria de Tudo, onde uma
única equação contemple as principais dúvidas acerca das origens do Universo. Tratando-se das
Ciências voltadas à Saúde, não parece pertinente idealizar uma prática singular que dê conta de
todas as demandas existentes, mas do trabalho interdisciplinar colaborativo, atualizado
constantemente por meio de dados empíricos obtidos através de estudos clínicos e pré-clínicos,
emergem forças que nos fazem perceber que, independente das origens do Universo, a vida humana
precisa ser vivida coletivamente.
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