Situação da água pode piorar muito até 2020

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Situação da água pode piorar muito até 2020
A escassez de recursos hídricos poderá causar um estrago ainda maior nos próximos 15 anos, de acordo com
um relatório internacional sobre águas no mundo.
Queda na vazão dos rios, crescimento da salinidade em estuários, perda de espécies de peixes e plantas
aquáticas e redução dos sedimentos nas costas devem ter crescimento em várias áreas do globo até 2020.
Esses problemas, por sua vez, trarão sérias perdas para áreas cultiváveis, insegurança alimentar e danos à
pesca, além de crescimento da desnutrição e de doenças.
A agricultura em geral está no topo das preocupações advindas de problemas com recursos hídricos dos 1.500
especialistas envolvidos no relatório final da Avaliação Global sobre Águas Internacionais (GIWA, do inglês
Global International Waters Assessment).
“Em todo o mundo, houve um crescimento da procura por produtos agrícolas e uma tendência sobre alimentos
que demandam mais água em sua produção, como carne em vez de vegetais e frutas no lugar de cereais”.
Falhas no conhecimento também geram problemas, como é o caso de muitos países em desenvolvimento que
operam informalmente com relação a seus recursos hídricos e padrões precisos de oferta e procura.
“Aquíferos representam o maior lapso de informação, o que tem se tornado um obstáculo cada vez maior para
um gerenciamento eficiente das águas, já que a dependência por águas subterrâneas aumenta”, diz o relatório
divulgado antecipadamente do Dia Mundial da Água, 22 de março.
Falhas de mercado também são destacadas como fatores importantes na contribuição para os danos tanto em
águas potáveis como em zonas costeiras.
“A maior parte das contribuições para a produção está sub-valorizada se comparada com todo seu custo social
e ambiental”, diz o relatório, citando a sub-valorização do preço da água, subsídios para pesticidas e para
pesca e incentivos a construções de infra-estrutura como represas e sistemas de desvio de cursos de água.
Os danos a águas internacionais causados pela pesca excessiva e métodos destrutivos de pesca também são
destacados.
O relatório aponta a exagerada captura de peixes incentivada por U$ 20 bilhões por ano em subsídios para
pesca, a fraca aplicação de leis de pesca e práticas destrutivas como explosões de bancos de corais para
pesca.
“O investimento de um dólar (em pescaria por explosão) pode gerar um lucro imediato de 200 para os
pescadores locais, mas deixa bancos de corais devastados que levarão 50 anos para serem recuparados”, diz
o relatório.
O relatório recomenda o pagamento de serviços ao ecossistema como uma maneira de agregar mais valor a
produtos e serviços originados de fontes naturais como bancos de corais e pântanos.
Por exemplo, argumenta-se que pântanos no México estariam menos vulneráveis se os proprietários de terra
fossem pagos para fazer o tratamento da água que vem desses, já que são filtros naturais de poluição.
As mudanças climáticas são vistas como um ponto de destaque no relatório, com preocupações específicas
sobre áreas de pesca e organismos marinhos.
O relatório estima que a variação climática é o mais importante fator de controle da quantidade de peixes para
cerca de metade dos maiores ecossistemas marinhos do mundo.
Esses incluem os recifes do leste e oeste da Groenlândia; a corrente Benguela da costa Sudoeste da África, a
corrente Canária da costa Noroeste da África e a corrente Humboldt da costa oeste da América do Sul.
Dessa maneira, as mudanças climáticas podem causar impactos considerados na pesca dessas regiões
sensíveis.
Esses estão entre as descobertas do GIWA produzido pela Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA) com fundos vindos do Funco Mundial para o Meio Ambiente (GEF) junto com governos
nacionais, especialmente de países nórdicos.
A avaliação, uma empreitada única, juntou não somente cientistas, mas especialistas das áreas sociais e
econômicas.
Eles têm avaliado tendências atuais e futuras para águas potáveis e marinhas de cerca de 66 áreas aquáticas
localizadas entre fronteiras, principalmente ligadas a países em desenvolvimento.
Seu relatório final, Desafios das águas internacionais: Avaliações regionais numa perspectiva global, é lançado
formalmente hoje, repleto de inovadoras recomendações sobre como reverter os danos e decadências.
Klaus Toepfer, Diretor-Executivo do PNUMA, disse: “Há muitas mensagens importantes surgindo desse estudo
pioneiro. Uma delas bastante sólida é a econômica – que nossa falha coletiva em avaliar produtos e serviços
fornecidos por águas internacionais, e estimar restritamente os benefícios para poucos ao invés de para
muitos, está empobrecendo a nós todos”.
“Eu acredito sinceramente que superar a pobreza e atingir as Metas do Milênio acordadas internacionalmente
requer que nós olhemos com mais atenção para a maneira como administramos nosso mundo natural. Isso
exige que nós valorizemos melhor o capital natural desde florestas e savanas até nossa água potável e
habitats costeiros”, acrescentou.
“O professor Hempel, nosso embaixador da GIWA, teve importância central na preparação do relatório final.
Somos agradecidos a ele por sua sabedoria, experiência e conhecimento em relação ao direcionamento do
capítulo desse trabalho que terá influência sobre o futuro”, acrescentou.
GIWA tem focado cinco áreas prioritárias incluindo escassez de água doce, poluição e sobrepesca.
O relatório conclui que há motivos para sérias preocupações em todas as áreas, e que se espera que os
problemas se tornem mais graves até 2020.
Entre as conclusões positivas, pode-se citar a expectativa de que o problema da sobrepesca seja melhorado
“em mais de 20 por cento dentre as regiões e sub-sistemas de GIWA” nas próximas duas décadas, como
resultado da gestão de práticas mais sustentáveis.
Escassez de Água Doce
Os especialistas de GIWA prevêem que os impactos ambientais de escassez de água tendam a crescer ou
permanecer nos mesmos níveis nos próximos 15 anos.
Somente cerca de seis das áreas estudadas, incluindo a Bacia de Murray Darling na Austrália, a região do rio
Mekong e a região ártica da Rússia, têm expectativa de terem impactos reduzidos.
O relatório observa que a crescente demanda da agricultura irrigada atualmente contribui com 70 por cento de
retrações de água doce, sendo que apenas 30 por cento retorna para o meio ambiente.
Tal situação se compara à indústria e aos domicílios, os quais retornam 90 por cento da água utilizada.
Quase um terço dos times regionais de GIWA apontou modificações nos cursos de águas como uma
consequência grave da escassez.
Modificações incluem a construção de represas, desvio de rios, transferência de águas, e outras estruturas
designadas para o abastecimento de água e energia.
Tais trabalhos de construção podem obstruir rotas de migração e reduzir áreas de reprodução. O relatório cita
que impactos de represas do Rio Volga, que reduziram as áreas de reprodução do habitat do esturjão
caspiano.
Eles também podem ser altamente ineficientes. Mais de 90 por cento da água no Canal Nacional Oriental da
Namíbia é perdida com evaporações.
A perda e mudanças de cursos de água resultantes de trabalhos de construção também podem gerar efeitos
secundários.
O relatório cita ainda as perdas nos ecossistemas no Aral e no Mar Morto e os impactos na Bacia do Rio Volta
e no Lago Chad.
O estuário Rio Berg na África do Sul sofreu altos níveis de salinização, o que está afetando aves, cardumes e
invertebrados, como resultado de retrações de água na parte de superior dos rios.
Problemas similares foram vivenciados no sistema do Rio Ganges-Brahmapura, onde mais de 30 represas,
barragens e desvios de partes superiores de rios reduziram em mais de 60 por cento vazões em estações
secas de Bangladesh.
A construção da represa Akosombo no Rio Volta, no Gana aumentou a proporção de crianças infectadas por
doenças parasitas esquistossomas de 5 para 90 por cento.
Poluição
Poluição transfronteirição posiciona-se como o tema central em um quarto de todas as águas internacionais
estudadas, além de um outro terço ter sido classificado como a segunda maior preocupação.
Por volta de 2020, os impactos ambientais da poluição “tendem a se tornar mais graves em mais de três
quartos das regiões e sub-regiões de GIWA, o que seria a perspectiva mais negativa para qualquer uma das
preocupações”, diz o relatório.
Sólidos suspensos, oriundos essencialmente como resultado do desmatamento e agricultura, afeta gravemente
os recifes de corais, algas e habitats fluviais em aproximadamente um quinto das áreas estudadas.
Estas incluem o Mar do Caribe, a Corrente do Brasil, lagos do Vale Rift da África Oriental e todas as regiões do
Sudeste Asiático.
Eutroficação – deficiências de oxigênio provocadas pela emissão de resíduos de fertilizantes agrícolas,
vazamento/despejo de esgoto e poluição do ar – está presente em lagos, rios e mares semi-abertos na Europa,
Ásia Central e África Sub-saariana. É crescente no nordeste asiático e no Golfo do México.
O despejo de dejetos sólidos é uma questão que requer elevada prioridade em muitos rios e áreas costeiras da
África Sub-saariana, nos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento de todo o mundo, em partes dos
mares indonésios e em trechos do Rio Grande, no Golfo do México.
A poluição química representa um grave problema, devido à intensificação de manchas vermelhas na América
Central, África Ocidental, Sul e Sudeste Asiático, assim como no Rio Jordão, Mar Aral e Círculo Polar Ártico.
O impacto de derramamento de óleo foi avaliado como crítico no Mar do Caribe, na Bacia Nigeriana e na
Corrente de Benquela, no sudeste africano.
Pesca destrutiva / Sobre pesca e outras ameaças
Pesca destrutiva e outras ameaças aos ecossistemas aquáticos são classificadas como prioridade máxima em
mais de um quinto das áreas estudadas por GIWA, encontrando-se 60 por cento dos grupos super explorados
em estado crítico.
Três quartos das regiões dizem que práticas destrutivas de pesca estão ameaçando habitats e comunidades
sustentadas pelo consumo de peixes.
A pesca destrutiva inclui pesca de arrasto, pesca por meio de explosões ou com armas de fogo, com uso de
venenos, tais como o cianido, pesca de muro-ami e outras práticas locais.
A pesca à tiro na Indonésia custará ao país pelo menos 3 bilhões de dólares durante os próximos vinte anos. A
pesca sustentável com uso de anzol e linhas geraria benefícios líquidos de 320 milhões de dólares durante o
mesmo período.
Muitas operações de cultivo de peixes são insustentáveis. A proliferação de enfermidades em fazendas de
cultivo de camarão na Corrente de Humboldt, na costa ocidental da América do Sul, tem um custo de 600
milhões de dólares por ano, sem considerar os danos econômicos às reservas selvagens.
A recente implementação de novas políticas e ações administrativas que prometem melhorar a situação
confere ao relatório um tom otimista.
A administração comunitária da indústria pesqueira, a certificação de peixes e a ampliação dos parques
marinhos também prometem melhorias.
Por exemplo, capturas próximas ao Parque Marinho de Bamburi, no Quênia, aumentaram mais de duas vezes
desde a sua fundação.
Transformações de habitat
Mudanças Climáticas, alterações dos cursos dos rios, desenvolvimentos costeiros, poluição e outros fatores
estão contribuindo para as transformações em ecossistemas de água doce e costeiros.
Na região da Corrente da Guinea, o crescimento da cidade de Accra, em Gana, levou ao desmatamento de
mais da metade dos manguezais e de significantes áreas pantanosas.
Nas Filipinas, de 60 a 80 por cento dos manguezais foram destruídos em função dos desenvolvimentos
portuários.
Projetos de recuperação de terras nas Ilhas do Pacífico resultaram na perda ou degradação severa de mais da
metade das regiões de mangues.
Na Bacia do Rio Volta, a degradação de manguezais modificou a composição das espécies de peixes em 70
por cento desde 1969. Isso levou ao colapso da indústria de camarão e cavalas e a uma crise da indústria de
moluscos de água doce.
Notas
GIWA foi um programa implementado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUMA) e financiado pelo Fundo
Global para o Meio Ambiente (GEF), cuja principal agência implementadora era a Universidade de Kalmar, Suécia, sede do Escritório de
Coordenação do GIWA.
Todos os relatórios de GIWA estão disponíveis em formato impresso e eletrônico, em www.unep.org/dewa ou www.giwa.net/publications.
Para mais informações, por favor entrar em contato com Nick Nuttal, porta-voz do PNUMA, escritório do Diretor Executivo, pelo telefone
+254 20 62 3084; Celular: 254 733 632 755, E-mail: [email protected]
Se não houver resposta em tempo hábil, por favor entrar em contato com Elisabeth Waechter, oficial associada de Informação, pelo
telefone 254 20 623088, celular: 254 720 173968, E-mail: [email protected].
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