DESENVOLVIMENTO DE UM LUBRIFIC ANTE BIODEGRADÁVEL A PARTIR DE ÉSTERES DO BIODIESEL DA MAMONA José André Cavalcanti da Silva DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA QUÍMICA. Aprovada por: ______________________________________________ Prof. Alberto Cláudio Habert, Ph.D. ______________________________________________ Profª. Denise Maria Guimarães Freire, D.Sc. ______________________________________________ Prof. Tito Lívio Moitinho Alves, D.Sc. ______________________________________________ Drª. Maria Adelina Santos Araújo, D.Sc. ______________________________________________ Drª. Juliana Vaz Bevilaqua, D.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL SETEMBRO DE 2006 1 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. SILVA, JOSÉ ANDRÉ CAVALCANTI DA Desenvolvimento de um Lubrificante Biodegradável a partir de Ésteres do Biodiesel da Mamona [Rio de Janeiro] 2006 V, 73 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, M. Sc., Engenharia Química, 2006) Dissertação – Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE 1. Biolubrificantes 2. Transesterificação 3. Catálise Química I. COPPE/UFRJ II. Título (série) 2 Agradecimentos Agradeço a Deus a oportunidade de realização deste sonho. Toda iluminação e clareza de idéias a mim concedidas durante este período de intenso e prazeroso trabalho. Aos meus pais, Ângela e Roberto, pelo apoio, mesmo à distância, e incentivo à realização deste projeto, sobretudo no período antecedente ao mesmo. À Francine, cuja dedicação, amor, carinho e, acima de tudo, compreensão, ajudaramme de forma decisiva na conclusão deste trabalho. Sem esquecer as discussões técnicas, pois sou casado com uma engenheira química. Aos meus tios, Plácido, Leda e Zita, e a minha avó Pizinha, cuja incansável dedicação continuam me ajudando a realizar um número cada vez maior de sonhos. À Vânia e Adelina, duas grandes incentivadoras e facilitadoras deste meu sonho e sem o apoio das quais o mesmo não seria possível. Além da amizade e conselhos que me auxiliam continuamente no meu desenvolvimento. Ao meu amigo Luiz Fernando pela compreensão da minha falta de tempo para outras atividades em certos períodos e pelas “dicas” de comportamento e relacionamento tão importantes ao meu desenvolvimento profissional. À Érika e Magali, cujos ensaios e reações realizadas contribuíram muito para o sucesso deste projeto. A ajuda de vocês foi e é decisiva para o desenvolvimento deste desafio. Aos colegas da LPE, em especial à Marly, Paulo Eduardo, Batata, Margareth, Diego, Guilherme, Ulisses, Letícia, Adelci, Nei, Flávio, Daniele, Marquinhos, Anie, PC, Jorge e Danilo, pelos ensaios realizados cujos resultados foram decisivos as minhas conclusões. E pela participação direta ou indiretamente em algumas etapas deste projeto. À Jussara e Carla, pelo apoio operacional e administrativo, e pela paciência para com as minhas “super” urgências nas compras de material. À gerência de química, em especial à Sônia e Naira (RMN), Fátima e Rose (GC) e Flávio e Marcele (HPLC), pelas análises que serviram de base para as conclusões desta tese. Aos colegas Khalil e Vidal, pelo suprimento inesgotável de Biodiesel, e pelas discussões técnicas altamente enriquecedoras. À gerência de HPE pelas discussões e realizações de alguns ensaios. Aos colegas da gerência BTA, Juliana e Mônica, pelo fornecimento de lipases e de material técnico sobre as mesmas. Aos professores Habert, Denise e Tito, pelas discussões altamente construtivas, pelas sugestões na elaboração de relatórios e seminários, pelas formas de fazer correções e, acima de tudo, pela excelente orientação a mim dispensada. A Petrobras, pelo investimento e apoio na realização deste projeto de vida 3 Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M. Sc.) DESENVOLVIMENTO DE UM LUBRIFIC ANTE BIODEGRADÁVEL A PARTIR DE ÉSTERES DO BIODIESEL DA MAMONA José André Cavalcanti da Silva Setembro/2006 Orientadores: Alberto Cláudio Habert Denise Maria Guimarães Freire Programa: Engenharia Química Milhões de toneladas de lubrificantes são liberadas no meio ambiente através de vazamentos, descartes inadequados, emulsões óleo-água, gases de exaustão de componentes, etc. Alguns são resistentes à biodegradação, representando uma ameaça ao meio ambiente. Uma das soluções para modificar esta situação é a substituição dos óleos minerais por lubrificantes sintéticos biodegradáveis (Ésteres). Assim, neste trabalho, investigou-se a obtenção, por catálise química, de lubrificantes básicos sintéticos, utilizando-se como matéria-prima o biodiesel da mamona (ricinoleato de etila). Foram estudadas as influências das variáveis de processo (catalisador, temperatura, concentração de biodiesel, tempo de reação) em reatores de vidro (50mL), sob vácuo e temperatura controlada. Os produtos e a conversão do substrato das reações de transesterificação foram determinados por cromatografia gasosa acoplada a MS, cromatografia líquida (HPLC) e Ressonância Magnética Nuclear (RMN). Nas melhores condições reacionais foram encontrados rendimentos da ordem de 78% e um produto com as seguintes propriedades lubrificantes e físicoquímicas: Viscosidade a 40°C: 287,2 cSt; Viscosidade a 100°C: 26,13 cSt; Índice de Viscosidade: 119 e IAT (Índice de acidez total): 0,35 mg KOH/g. Estes resultados indicaram a viabilidade da rota proposta, com o catalisador químico a base de estanho, na obtenção de lubrificantes sintéticos biodegradáveis. 4 Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Master of Science (M. Sc.) DEVELOPMENT OF A BIODEGRADABLE LUBRICANT FROM CASTOR BIODIESEL ESTERS José André Cavalcanti da Silva September/2006 Advisors: Alberto Cláudio Habert Denise Maria Guimarães Freire Department: Chemical Engineering Millions of tons of lubricants are disposed of in the environment through leakages, exhausted gases, inadequate disposal, water-oil emulsions, etc. Some of them are resistant to biodegradation, representing an environmental threat. One solution to modify this situation is the replacement of the mineral oils by biodegradable synthetic lubricants (Esters). Thus, in this work, it was investigated the production, through chemical catalysis, of synthetic base oils using Castor Biodiesel (Ricinoleic Acid Ethyl Ester) as raw material. It was studied the influence of the process variables (catalyst, temperature, biodiesel concentration, residence time) in glass reactors (50 mL) under vacuum and controlled temperature. The products and the substratum conversion of the transesterification reactions were determined by gas chromatography connected to MS, liquid chromatography (HPLC) and Nuclear Magnetic Ressonance (NMR). From the best reaction conditions, it were obtained products with good yields (nearly 78%) and the following properties: Viscosity at 40°C: 287,2 cSt; Viscosity at 100°C: 26,13 cSt; Viscosity Index: 119; and TAN (Total Acid Number): 0,35 mgKOH/g. These results indicated the feasibility of the proposed process route, with the tin chemical catalyst, for the production of synthetic biodegradable lubricants. 5 ÍNDICE GERAL 1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 9 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................................... 11 2.1. A Mamona e seus Derivados ......................................................................... 11 2.2. Óleos Básicos................................................................................................. 13 2.2.1. Biolubrificantes ....................................................................................... 16 2.2.2. Ésteres.................................................................................................... 20 2.3. Síntese de Ésteres Biolubrificantes ............................................................... 22 2.4. Propriedades dos Biolubrificantes .................................................................. 29 2.5. Quimiluminescência........................................................................................ 31 3. OBJETIVOS........................................................................................................ 35 4. METODOLOGIA ................................................................................................. 36 4.1. Materiais ......................................................................................................... 36 4.2. Aparelhagem e Condições Reacionais .......................................................... 38 4.3. Metodologia Analítica ..................................................................................... 39 4.3.1. Viscosidade Cinemática - ASTM D 445................................................. 39 4.3.2. Índice de Viscosidade – ASTM D 2270.................................................. 39 4.3.3. Ponto de Fluidez – ASTM D 97 .............................................................. 40 4.3.4. Índice de Acidez Total (IAT) – ASTM D 664 .......................................... 41 4.3.5. Estabilidade à oxidação pela Bomba Rotatória – ASTM D 2272 .......... 42 4.3.6. Estabilidade à oxidação por Quimiluminescência ................................. 42 4.3.7. Determinação de Elementos Metálicos.................................................. 43 4.3.8. Ressonância Magnética Nuclear (RMN) ................................................ 44 4.3.9. Cromatografia Líquida de Alta Performance (HPLC) ............................ 44 4.3.10. Cromatografia Gasosa (GC) .................................................................. 45 5. RESULTADOS.................................................................................................... 47 5.1. Seleção do Catalisador .................................................................................. 47 5.2. Estudo da Influência de Variáveis .................................................................. 47 5.3. Reações com Amberlyst 15............................................................................ 49 5.4. Reações com Liocat 119................................................................................ 52 5.5. Reações com Metilato de Sódio..................................................................... 64 5.5.1. Biodiesel de Mamona (Ricinoleato de etila)........................................... 64 5.5.2. Biodiesel Metílico de Soja ...................................................................... 66 5.6. Reações com Outros Catalisadores .............................................................. 69 6. CONCLUSÕES................................................................................................... 71 7. RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ..................................... 72 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 73 9. ANEXO 1 ............................................................................................................ 76 10. ANEXO 2 ............................................................................................................ 78 6 ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1: Características Físico-Químicas Típicas do Óleo de Mamona. .................... 12 Tabela 2: Classificação API dos óleos básicos............................................................. 15 Tabela 3: Propriedades típicas da resina Amberlyst 15 em sua forma ácida (SigmaAldrich) .................................................................................................................... 36 Tabela 4: Propriedades típicas do Liocat 119 (Miracema-Nuodex) .............................. 37 Tabela 5: Propriedades típicas do Metilato de sódio (Sigma-Aldrich) .......................... 37 Tabela 6: Propriedades típicas do Ácido p-toluenosulfônico (Sigma-Aldrich) .............. 37 Tabela 7: Propriedades físico-químicas do Ricinoleato de etila.................................... 48 Tabela 8: Reações realizadas com Amberlyst 15. ........................................................ 49 Tabela 9: Propriedades físico-químicas do produto reacional com Amberlyst 15. ....... 50 Tabela 10: Propriedades Físico-químicas do produto Hatcol 2938. ............................. 52 Tabela 11: Condições utilizadas nas reações catalisadas pelo Liocat 119. ................. 53 Tabela 12: Propriedades físico-químicas com Liocat 119............................................. 54 Tabela 13: Condições utilizadas nas reações 6, 9 e 24, catalisadas pelo Liocat 119. . 55 Tabela 14: IAT das reações 6, 9 e 24, catalisadas pelo Liocat 119.............................. 56 Tabela 15: Reações realizadas com Metilato de Sódio como Catalisador................... 64 Tabela 16: Propriedades físico-químicas com Metilato de sódio .................................. 65 Tabela 17: Reação realizada com metilato de sódio como catalisador e biodiesel de soja.......................................................................................................................... 68 Tabela 18: Propriedades físico-químicas com Metilato de sódio e biodiesel de soja... 68 Tabela 19: Reações realizadas com NaOH e ácido p-toluenosulfônico. ...................... 70 Tabela 20: Propriedades físico-químicas com NaOH e ácido p-toluenosulfônico........ 70 7 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1: Estrutura molecular do Óleo de Mamona (Ricinus Communis)..................... 12 Figura 2: Estrutura da composição dos óleos minerais................................................. 14 Figura 3: Estrutura típica de um óleo vegetal e seus pontos críticos de instabilidade. 19 Figura 4: Esquema da reação de esterificação de um ácido carboxílico e um álcool. . 22 Figura 5: Mecanismo de uma reação de esterificação.................................................. 22 Figura 6: Reação de Transesterificação de um éster com um álcool........................... 23 Figura 7: Estruturas Moleculares de Ésteres de Poliol.................................................. 24 Figura 8: Reator batelada de transesterificação (Raisio Groupe) ................................. 28 Figura 9: Aparato utilizado nas reações de transesterificação...................................... 38 Figura 10: Equipamentos para medição da viscosidade cinemática. ........................... 39 Figura 11: Equipamento para medição do ponto de fluidez.......................................... 41 Figura 12: Equipamento para determinação do IAT. ..................................................... 41 Figura 13: Esquema do Equipamento Bomba Rotatória. .............................................. 42 Figura 14: Equipamento Quimiluminógrafo Modelo CL-400. ........................................ 43 Figura 15: Espectrômetro de emissão Spectroil............................................................ 43 Figura 16: Reação de transesterificação do ricinoleato de etila com TMP em presença de catalisador.......................................................................................................... 48 Figura 17: % Conversão da reação catalisada por Amberlyst 15 em função da razão molar ricinoleato de etila:TMP. ............................................................................... 50 Figura 18: Funil de Separação contendo o Produto da lavagem com NaHCO3. .......... 51 Figura 19: Gráfico % Conversão x Pressão com Liocat 119......................................... 54 Figura 20: Curva Cinética da Reação 24 com Liocat 119. ............................................ 56 Figura 21: Dímero do Ricinoleato de etila (Estolide). .................................................... 58 Figura 22: Espectro de RMN da reação n°9. ................................................................. 59 Figura 23: Espectro de RMN da reação n°6. ................................................................. 59 Figura 24: Espectro de RMN da reação n°11. ............................................................... 60 Figura 25: Cromatograma do Ricinoleato de etila antes do controle reacional. ........... 61 Figura 26: Cromatograma do Ricinoleato de etila após o controle reacional. .............. 61 Figura 27: Espectro de quimiluminescência do Hatcol 2938......................................... 62 Figura 28: Espectro de quimiluminescência do produto da reação 9. .......................... 63 Figura 29: Espectro de quimiluminescência do produto da reação 28. ........................ 63 Figura 30: Estrutura Química representativa do óleo de soja. ...................................... 67 Figura 31: Espectro de RMN da reação nº 18. .............................................................. 68 8 1. INTRODUÇÃO Os primeiros óleos lubrificantes conhecidos utilizados pelos seres humanos foram os óleos de origem animal e vegetal. No século XIX, triglicerídeos naturais foram gradualmente substituídos por lubrificantes derivados do petróleo, denominados óleos minerais. Estes últimos, por sua vez, estão sendo gradualmente substituídos por óleos sintéticos (obtidos através de reações químicas) devido aos padrões de qualidade cada vez mais rigorosos, nem sempre alcançados pelos óleos minerais convencionais, e às necessidades mais restritas, impostas por considerações ambientais. O mercado mundial de lubrificantes acabados é da ordem de 38.000.000 toneladas (WHITBY, 2005). Dentro deste, o mercado norte americano contribui com cerca de 9,5 milhões de toneladas, dos quais 32% são descartados no meio ambiente e apenas 5% são formados por produtos biodegradáveis (LAL e CARRICK, 1993). Por outro lado, o mercado europeu de lubrificantes biodegradáveis é três vezes maior que o norte americano, concentrando-se principalmente na Alemanha e nos países escandinavos. A oleoquímica, no que diz respeito ao desenvolvimento de lubrificantes de origem vegetal, representa um dos principais elementos que constituem o grande desafio representado pela química dos bioprodutos. Todas as tecnologias necessárias para esmagamento das sementes, refino do óleo, fracionamento, e transformação química já estão disponíveis e conhecidas, devido ao fato de serem as mesmas utilizadas em tecnologia dos alimentos. Geralmente, o sistema industrial é organizado de tal forma que quatro unidades de processamento (esmagamento, refino, fracionamento e transformação química) são conduzidas de forma independente. Este tipo de organização permite um grande grau de flexibilidade e uma maior economia de escala. É justamente na etapa de transformação química que se localizam os maiores desafios para a produção de lubrificantes biodegradáveis. Os lubrificantes, de uma forma geral, devem apresentar certas propriedades físico-químicas dentro de determinadas especificações, como por exemplo: Viscosidade, índice de acidez, corros ividade, ponto de fluidez, etc. No caso dos biolubrificantes, geralmente representados por ésteres orgânicos, as estabilidades oxidativa, térmica e hidrolítica são essenciais, sendo a primeira uma das propriedades mais importantes no desenvolvimento de um lubrificante biodegradável. Entretanto, à medida que se sintetiza uma molécula altamente resistente à oxidação, com as duplas ligações removidas ou protegidas por impedimentos estéricos, deve-se levar em consideração que a ação dos microorganismos responsáveis pela sua biodegradação também será dificultada. Assim, o grande desafio reside no fato de se tentar encontrar 9 um meio termo, ou seja, uma molécula que tenha alta resistência à oxidação e seja biodegradável. O desenvolvimento deste trabalho tem como grande motivação a crescente valorização da biomassa como matéria-prima no Brasil. A escolha do ricinoleato de etila como reagente de partida se fez em função do já existente e desenvolvido programa de produção de biodiesel a partir do óleo de mamona. A oferta deste produto justificou o seu uso como matéria-prima. Deste modo, o objetivo deste trabalho foi estudar uma nova rota de transesterificação do ricinoleato de etila (biodiesel do óleo de mamona) com o álcool trimetilolpropano (TMP) com o objetivo de se obter um biolubrificante ainda inédito no mercado. Como objetivos específicos, podem-se destacar: a) A determinação das melhores condições operacionais para a transesterificação do ricinoleato de etila com TMP; b) Estudo de quatro diferentes catalisadores: Resina de troca iônica Amberlyst 15 (heterogêneo) e di-laurato de di-butilestanho, metilato de sódio e ácido p-toluenosulfônico (homogêneos); c) Estudo de técnicas para remoção de resíduos de catalisador do produto final; d) Estudo de processos para separação de fases e purificação do produto final. Para isto, estudou-se neste trabalho a influência de algumas variáveis no processo, tais como temperatura, pressão, tipo de catalisador, razão molar dos reagentes e tempo de reação. Finalmente, procurou-se caracterizar o biolubrificante produzido no tocante as suas principais propriedades físico-químicas. 10 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. A Mamona e seus Derivados Segundo AZEVEDO e LIMA (2001), a mamona (Ricinus communis) ou rícino é um arbusto de cujo fruto se extrai um óleo de excelentes propriedades, de largo uso industrial. Conhecido desde a Antiguidade por suas propriedades medicinais e como azeite para iluminação, deixou, no século XX, de ter na farmacopéia sua grande utilidade. Nos nossos dias, os grandes consumidores são as indústrias químicas e de lubrificantes. A mamona foi trazida para o Brasil pelos portugueses, com a finalidade de utilizar seu óleo para iluminação e lubrificação de eixos de carroças. O clima tropical, predominante em nosso país, facilitou o seu alastramento. Desta forma, hoje se pode encontrar a mamona em quase toda a extensão territorial do país, como se fosse uma planta nativa, e em culturas destinadas à produção de óleo. A mamona é uma planta especial, originária de clima tropical, com elevada capacidade de resistência à seca. Da industrialização das suas sementes se obtém, como produto principal, o óleo (47%) e, como subproduto, a torta de mamona que pode ser utilizada como fertilizante na agricultura. O óleo de mamona, também conhecido no Brasil como óleo de rícino, ou, internacionalmente, como Castor Oil, é singular na natureza, possuindo propriedades químicas e físicas únicas, como densidade, viscosidade, solubilidade em álcool e lubricidade, superiores a todos os outros óleos vegetais. O mesmo possui uma enorme versatilidade química dentro do ramo industrial, podendo ser utilizado em rotas de síntese para uma grande variedade de produtos. A partir deste óleo, pode-se obter o diesel vegetal, biodiesel, que substitui o óleo diesel derivado do petróleo no uso como combustível. Ademais, este óleo possui em sua composição o ácido ricinoléico (90%) que apresenta a peculiaridade de possuir uma hidroxila no carbono 12, além de ter uma dupla ligação estrategicamente posicionada no carbono 9 de sua cadeia de 18 carbonos, conforme ilustrado na Figura 1. 11 OH O O O O O O OH Figura 1: Estrutura molecular do Óleo de Mamona (Ricinus Communis). A Tabela 1 apresenta as principais características físico-químicas deste óleo. Tabela 1: Características Físico-Químicas Típicas do Óleo de Mamona. Propriedade Valor Índice de Iodo 84-88 Viscosidade a 100°C 20,00 cSt IV (Índice de Viscosidade) 90 Ponto de Fusão -23°C Teor de Ácido Ricinoléico 90% Teor de Ácido Linoléico 4,2% Estabilidade à oxidação pela bomba rotatória 25 Mín. Considerando-se a utilização do óleo de mamona na formulação de óleos lubrificantes, vale ressaltar que este possui um maior poder de solubilização de aditivos utilizados nas formulações dos lubrificantes acabados, quando comparado aos óleos minerais. O óleo de mamona apresenta ainda uma alta viscosidade e um baixo ponto de fluidez, entretanto o seu índice de Viscosidade (IV) é inferior ao de outros óleos vegetais. Esta propriedade reflete a variação da viscosidade de uma substância com a temperatura, sendo que quanto menor o IV, maior será esta variação. O óleo de mamona vem sendo usado para a fabricação de mais de 800 produtos, com destaque para vidros à prova de bala, lentes de contato, batons, sabões metálicos, lubrificantes especiais para motores e reatores de elevada rotação, plásticos de elevada resistência, poliuretanas, entre outros. Além disso, suas 12 características únicas conferem lubricidade, da mesma forma que o enxofre, ao diesel mineral, sendo assim um óleo especial e com mercado garantido no mundo moderno. A Índia, a China e o Brasil são, nesta ordem, os principais produtores mundiais da mamona e do seu óleo. A Alemanha e a Tailândia aparecem como os maiores importadores mundiais das sementes de mamona (94%), enquanto os EUA aparecem como os principais importadores do óleo destas sementes . No Brasil, a Bahia responde por 85% da produção de mamona, sendo este estado, juntamente com Minas Gerais, os locais onde estão instaladas as principais empresas que fazem a extração de óleo. O Brasil conta com uma capacidade instalada de 160 mil toneladas/ano de bagas de mamona. Como o consumo interno de óleo de mamona é relativamente pequeno, entre 10 e 15 mil toneladas/ano, existe um excedente exportável da ordem de 45 a 50 mil toneladas. 2.2. Óleos Básicos O termo óleo se refere a uma ampla variedade de materiais líquidos com diferentes propriedades utilizados, comumente, na moderna tecnologia. Entre estes líquidos se destacam os óleos lubrificantes. Os óleos básicos são os constituintes de maior proporção na formulação dos óleos lubrificantes e são obtidos, em geral, através do processamento do petróleo. Eles podem ser classificados, primariamente, como minerais ou sintéticos, em função da fonte ou do processo pelo qual são produzidos (LASTRES, 2003). Os primeiros óleos lubrificantes conhecidos utilizados pelos seres humanos foram os óleos de base animal e vegetal. No século XIX, os triglicerídeos naturais foram gradualmente substituídos por lubrificantes derivados do petróleo, denominados óleos minerais. Em diversas aplicações dos óleos lubrificantes, os padrões de qualidade exigidos, cada vez mais rigorosos, nem sempre podem ser alcançados com o uso dos óleos minerais convencionais. Assim sendo, rotas alternativas de produção de óleos minerais vêm sendo desenvolvidas para a obtenção de produtos com maior durabilidade e menor impacto ambiental. Os óleos vegetais são mais baratos do que os minerais, além de serem obtidos de fontes renováveis. Os óleos minerais são obtidos através da destilação e do refino do petróleo, sendo classificados como parafínicos ou naftênicos, dependendo do tipo de hidrocarboneto predominante em sua composição. Estes possuem em média 20 a 50 átomos de carbono por molécula e estas podem ser de cadeias parafínicas (alcanos lineares ou ramificados), naftênicas (cicloalcanos com cadeias laterais) ou aromáticas (principalmente alquil benzenos), conforme ilustrado na Figura 2. 13 Tipo de Óleo Tipo de cadeias de carbono Parafínicos Naftênicos Aromáticos Figura 2: Estrutura da composição dos óleos minerais. Os óleos básicos parafínicos apresentam alto ponto de fluidez e elevado índice de viscosidade. Em seu processo de produção, a etapa de desparafinação é indispensável e o produto, mesmo desparafinado, ainda precisa ser aditivado com um abaixador de ponto de fluidez para evitar o crescimento dos cristais de parafinas em baixas temperaturas e reduzir a temperatura de escoamento do produto. Já os óleos de características naftênicas apresentam teores relativamente mais altos (do que os parafínicos) de carbonos em cadeias cíclicas (naftênicas). O corte de um cru naftênico apresenta teores muito baixos de parafinas lineares e não precisa ser desparafinado. Seu ponto de fluidez pode chegar a -51 °C (óleo básico NH-10). Por outro lado apresenta valores baixos de IV, o que torna difícil a sua aplicação na formulação de óleos para motores, sendo mais utilizados nas formulações de óleos de corte, óleos para amortecedores e como óleo isolante para transformadores elétricos. Os óleos de característica aromática encontram aplicações como óleos extensores na indústria de borracha. Os óleos básic os minerais podem ser também classificados pelo tipo de processo de obtenção. O mais tradicional é a extração por solventes, chamado de processo convencional, no qual compostos indesejáveis como os aromáticos e os compostos contendo heteroátomos, como o nitrogênio e o enxofre são removidos, aumentando-se o índice de viscosidade e melhorando-se a estabilidade dos produtos. Este processo também inclui etapas de desparafinação, utilizada para enquadrar o ponto de fluidez, e de hidroacabamento para o enquadramento final do produto nas 14 especificações. O processo, chamado de não convencional, inclui etapas mais severas de hidrocraqueamento, onde as moléculas são craqueadas e saturadas obtendo-se produtos de elevada estabilidade e índice de viscosidade. Por outro lado, os óleos básicos sintéticos são produzidos através de reações químicas, onde se busca obter produtos com propriedades adequadas às funções lubrificantes. Cerca de 80% do mercado mundial de lubrificantes sintéticos é composto por: Polialfaolefinas (45%), Ésteres Orgânicos (25%) e Poliglicóis (10%) (MURPHY, 2002). Dentre os básicos sintéticos empregados o de maior uso é a polialfaolefina e, em geral, os básicos sintéticos têm como vantagens sobre os básicos minerais, maior estabilidade térmica e à oxidação, melhores propriedades a baixas temperaturas e menor volatilidade. Em contrapartida, os básicos minerais são muito mais baratos do que os sintéticos. Nas aplicações em que se necessita que o produto apresente um elevado nível de biodegradabilidade, este requisito só pode ser atingido através do uso de bases sintéticas de origem vegetal. Com relação aos óleos automotivos, o American Petroleum Institute, API, classifica os óleos básicos em cinco categorias, conforme ilustrado na Tabela 2. Tabela 2: Classificação API dos óleos básicos. 1 CATEGORIA SATURADOS ( ) GRUPO I < 90 GRUPO II GRUPO III 2 3 ENXOFRE, %P ( ) ÍND. VISCOSIDADE ( ) e / ou > 0,03 80 - 120 > 90 e < 0,03 80 - 120 > 90 e < 0,03 > 120 GRUPO IV POLI-ALFAOLEFINAS (PAO) GRUPO V OUTROS ÓLEOS BÁSICOS NÃO INCLUÍDOS NOS GRUPOS I, II, III e IV (1) ASTM D 2007 2 ( ) ASTM D 2622 ou ASTM D 4294 ou ASTM D 4927 ou ASTM D 3120 3 ( ) ASTM D 2270 O desempenho dos lubrificantes é avaliado por sua habilidade de reduzir o atrito, resistir à oxidação, minimizar a formação de depósitos, e de impedir a corrosão e o desgaste. A maioria dos problemas associados aos lubrificantes está relacionada à degradação do óleo e a sua contaminação com os subprodutos da combustão no cárter (automotivos). Desse modo, as causas principais do mau funcionamento do motor devido à qualidade do lubrificante se traduzem em formação de depósito, aumento de viscosidade, consumo elevado, aprisionamento de peças, corrosão e desgaste. 15 A formação de depósitos ocorre quando o poder detergente/dispersante do óleo lubrificante não é suficiente para manter os contaminantes em suspensão. Já o espessamento do óleo é, em geral, resultante da oxidação do lubrificante e do acúmulo dos materiais insolúveis. A viscosidade aumenta devido à polimerização de compostos oxigenados e à manutenção em suspensão de produtos insolúveis, derivados de queima irregular de combustíveis O teor de enxofre presente no óleo diesel pode causar corrosão e desgaste corrosivo de cilindros e anéis, em função do ataque de ácidos do enxofre ou de ácidos orgânicos às superfícies ferrosas. Este tipo do desgaste é controlado pela utilização de lubrificantes com uma boa reserva alcalina. Para minimizar tais inconvenientes, os óleos lubrificantes são obtidos através da mistura de óleos básicos e aditivos com funções antioxidante, antidesgaste, detergente/dispersante, dentre outras. Deste modo, projetar um lubrificante para executar estas funções é uma tarefa complexa, envolvendo uma avaliação cuidadosa das propriedades do óleo básico e dos aditivos que serão empregados. 2.2.1. Biolubrificantes O mercado mundial de lubrificantes acabados é da ordem de 38.000.000 toneladas/ano (WHITBY, 2005). Sendo que o mercado norte americano contribui com cerca de 9,5 milhões de toneladas, dos quais 32% são descartados no meio ambiente (LAL e CARRICK, 1993). Por outro lado, o mercado europeu de lubrificantes biodegradáveis é de 172.000 toneladas/ano, concentrando-se na Alemanha e nos países escandinavos (WHITBY, 2006). Na Alemanha, dos 1,3 milhões de toneladas de lubrificantes que compõem o seu mercado, 53% são coletados como óleo usado, o que equivale a 100% de coleta de todo o óleo usado nas mais diversas aplicações. Estes são reciclados ou utilizados como fonte de energia térmica. O restante é perdido para o meio ambiente como o resultado de vazamentos, aplicações com perda total ou de sistemas específicos. Apenas 5% de todos os lubrificantes que compõem o mercado alemão são biodegradáveis (WAGNER et al, 2001). Para se ter um aumento neste mercado, a aceitação e a confiança nos lubrificantes rapidamente biodegradáveis devem ser aumentadas e o seu preço deve ser reduzido. Aproximadamente 13% (Europa) e 32% (EUA) de todos os lubrificantes comercializados retornam ao meio ambiente modificados em propriedades e aparência (BARTZ, 1998). Estes são usados em contatos de fricção com perda total, aproximadamente 40.000 t./ano na Alemanha, assim como em sistemas de circulação, 16 os quais não são coletados nem dispostos. Além disso, os lubrificantes oriundos de vazamentos e as quantidades remanescentes em filtros e recipientes devem também ser levados em consideração. Desta forma, o meio ambiente, na Alemanha, está exposto a cerca de 150.000 toneladas/ano, baseado nos 13% anteriormente citados. Um cálculo baseado no consumo atual de lubrificantes na Alemanha e nas taxas de descarte para os diferentes tipos de lubrificantes resulta em cerca de 250.000 toneladas/ano. Incluindo a quantidade não definida (vazamentos, etc.), a quantidade de lubrificantes descartadas no meio ambiente na Alemanha pode chegar a 300.000 toneladas/ano. Levando-se em conta a fatia do mercado global de consumo de lubrificantes representada pela Alemanha, assim como o fato de que em várias partes do mundo as taxas de coleta e reciclagem de lubrificantes usados são menores do que na Europa, a quantidade total de lubrificantes retornando ao meio ambiente é da ordem 12 milhões de toneladas/ano. Apenas 10-50% dos lubrificantes utilizados no mercado mundial são reciclados (KOLWZAN e GRYGLEWICZ, 2003). O restante, que representa milhões de toneladas, é irreversivelmente liberado no meio ambiente através de vazamentos, emulsões óleo-água, gás de exaustão de componentes, etc. Alguns destes são carcinogênicos e resistentes à biodegradação, representando uma séria ameaça ao meio ambiente. Uma das soluções para modificar esta situação é a substituição dos óleos minerais por lubrificantes sintéticos biodegradáveis Nas últimas décadas se tem observado uma tendência mundial de crescente preocupação com o impacto ao meio ambiente resultante do uso de derivados de petróleo. Embora apenas cerca de 1% de todo o petróleo consumido seja usado na formulação de lubrificantes, grande parte desses produtos é jogada no meio ambiente sem nenhum tratamento e essa preocupação tem motivado o desenvolvimento de lubrificantes biodegradáveis. Dominar essa tecnologia é de grande importância para o País, especialmente para a conquista de mercados externos, cada vez mais exigindo produtos compatíveis com o meio ambiente. O potencial poluidor do óleo mineral é extremamente preocupante. Apenas 1 litro de óleo mineral é capaz de tornar impróprio para o consumo 1 milhão de litros de água (RAVASIO et al, 2002). No caso dos motores 2 tempos (principal aplicação, atualmente, dos biolubrificantes), o mecanismo de lubrificação resulta na liberação de óleo não queimado, junto com gás de exaustão, criando a possibilidade de poluição ambiental. Em particular, quando motores náuticos são utilizados em rios, lagos ou oceanos, o óleo não queimado no gás de exaustão é liberado na água, podendo causar poluição da mesma. Tratores, máquinas agrícolas, moto-serras e outros 17 equipamentos florestais também podem poluir florestas e rios devido ao óleo parcialmente queimado, o qual é liberado. Medidas para redução do impacto sobre o meio ambiente, o que significa eliminar ou ao menos reduzir os problemas causados pelo contato de lubrificantes com o meio ambiente, em geral, são iniciadas ou favorecidas pelas seguintes forças motrizes: Fatos ambientais, consciência pública, diretrizes e regulamentações governamentais, globalização dos mercados e incentivos econômicos. Um biolubrificante significa um lubrificante que é biodegradável. Por sua vez, uma substância ser biodegradável significa que a mesma tem a capacidade comprovada de ser decomposta, em um intervalo de até 1 ano, através de processos biológicos naturais em terra carbonácea, água ou dióxido de carbono (WHITBY, 2005). Em termos gerais, biodegradabilidade significa a tendência de um lubrificante ser metabolizado por microrganismos em até 1 ano. Quando ela é completa, significa que o lubrificante retornou essencialmente à natureza, e quando é dita parcial, indica que um ou mais componentes do lubrificante não é degradável. Alguns dos lubrificantes rapidamente biodegradáveis são baseados em óleos vegetais puros, não modificados (WAGNER et al, 2001) que apresentam uma biodegradabilidade em torno de 99% (CEC L-33-A-93) (BIROVÁ et al, 2002). Na Europa, predominam os óleos de girassol e de canola que são ésteres de glicerina e ácidos graxos de cadeia longa (triglicerídeos). Os componentes ácidos graxos são específicos de cada planta, sendo por isso variáveis. Os ácidos graxos encontrados nos óleos vegetais naturais diferem em tamanho de cadeia e em número de duplas ligações. Além disso, grupos funcionais podem estar presentes. Triglicerídeos naturais são muito rapidamente biodegradáveis e bastante eficientes como lubrificantes. Entretanto, as suas estabilidades térmica, hidrolítica e oxidativa são limitadas. Assim, óleos vegetais puros somente são utilizados em aplicações com baixa exigência térmica, tais como desmoldagem e óleos de moto-serras. A razão das instabilidades térmica e oxidativa dos óleos vegetais são as duplas ligações na parte do ácido graxo e o grupo ß-CH no componente alcoólico (Figura 3). Duplas ligações são especialmente reativas e reagem imediatamente com o oxigênio do ar, enquanto o átomo de hidrogênio ß é facilmente eliminado da estrutura da molécula. Isto leva à quebra do éster em olefinas e ácidos. Um ponto fraco adicional dos ésteres naturais é a sua tendência de sofrer hidrólise em presença de água. Uma melhoria das estabilidades térmica, oxidativa e hidrolítica dos óleos vegetais pode ser atingida por modificações químicas. As mais importantes modificações dizem respeito ao grupo carboxílico dos ácidos graxos, respondendo por aproximadamente 90% das reações 18 oleoquímicas, enquanto reações da cadeia de ácido graxo respondem por menos de 10%. O a Pontos Críticos O O b O g O O Figura 3: Estrutura típica de um óleo vegetal e seus pontos críticos de instabilidade. Os ésteres, substâncias similares em termos de estrutura química aos triglicerídeos naturais, são excelentes substitutos para óleos minerais, os quais possuem apenas 20% de biodegradabilidade (CEC-L-33-A-93). Os ésteres orgânicos vêm despertando um crescente interesse na indústria de básicos lubrificantes e suas vantagens quando comparados aos básicos minerais são (LAL e CARRICK, 1993): • Baixa toxicidade; • Maior biodegradabilidade; • Obtidos de fontes renováveis; • Alto ponto de fulgor; • Baixa volatilidade; • Alto poder de solvência para aditivos; • Maior valor agregado: Um lubrificante formulado com éster sintético custa de 8 a 15 vezes o valor de um lubrificante formulado com básicos minerais; • Boa lubricidade (em função da polaridade da sua molécula); • Alto índice de viscosidade (IV), devido às duplas ligações e à linearidade da molécula; • Propriedades anti-corrosivas. No entanto, as principais desvantagens de muitos destes compostos são: 19 • Instabilidade à oxidação; • Instabilidade hidrolítica; • Propriedades a baixas temperaturas. Estas desvantagens podem ser superadas com o uso de aditivos, mas a biodegradabilidade, a toxicidade e o preço poderão ser comprometidos. Desta forma, a síntese química destes compostos se mostra como a melhor alternativa para que estas desvantagens sejam eliminadas. Os aditivos tradicionalmente empregados como agentes antioxidante, antidesgaste, anticorrosivo, etc., são pouco biodegradáveis. No entanto, os fabricantes de tais aditivos já disponibilizam produtos com elevado grau de biodegradabilidade. Nas aplicações dos óleos biodegradáveis, além da seleção de matérias primas, é necessário o estabelecimento de requisitos de qualidade, testes para avaliação de desempenho e critérios de aprovação. Na indústria de básicos sintéticos (precursores dos lubrificantes), grande parte da energia é consumida nas etapas de reação, separação, concentração e purificação de seus produtos. Por esta razão, um considerável esforço tem sido dedicado na melhoria dos processos de reação e separação existentes e no desenvolvimento de novas tecnologias, menos demandantes em energia, como por exemplo, a utilização de lipases como catalisadores e os processos de separação com membranas. 2.2.2. Ésteres Os ésteres orgânicos encontram uma grande variedade de aplicações na indústria de lubrificantes, tendo em vista a crescente preocupação com aspectos de saúde ocupacional e meio ambiente, além de benefícios como melhores desempenhos dos produtos: Serras elétricas, fluidos de perfuração, equipamentos de indústrias alimentícias, fluidos hidráulicos, motores de barcos, tratores, equipamentos agrícolas, motores 2 tempos, fluidos de corte, óleos de refrigeração, etc (ERHAN e ASADAUSKAS, 2000). Os ésteres são utilizados como lubrificantes desde o início do século XIX, na forma de ésteres naturais contidos em banha de porco e óleo de baleia (WHITBY, 1998). Durante a 2ª Guerra Mundial, um grande número de fluidos sintéticos foi desenvolvido, destacando-se entre estes, os ésteres de álcoois e ácidos de cadeia longa, os quais ofereciam excelentes propriedades lubrificantes a baixas temperaturas. 20 Atualmente, os ésteres representam apenas 0,8% do mercado de lubrificantes no mundo. No entanto, enquanto o consumo global de lubrificantes vem se mantendo estagnado, o de óleos sintéticos vem crescendo cerca de 10% ao ano. O crescente consumo de ésteres se justifica por razões de desempenho destes produtos e também por mudanças nas legislações ambientais de vários países da comunidade européia, sobretudo na Alemanha. Os ésteres têm um baixo impacto sobre o meio ambiente e a sua metabolização passa pelas etapas da hidrólise dos ésteres, beta-oxidação de hidrocarbonetos de cadeia longa e ataque de oxigenases em núcleos aromáticos. As principais características que reduzem ou dificultam a metabolização microbiana ou degradabilidade são: • A posição e o grau de ramificação (os quais reduzem a beta-oxidação); • O grau de saturação da molécula; • O aumento no peso molecular do éster. O efeito direto do grupamento éster nas propriedades físicas de um lubrificante é a diminuição de sua volatilidade e o aumento do seu ponto de fulgor. Isto ocorre devido ao forte momento dipolo (forças de London) que mantém as moléculas do éster unidas. A presença do grupamento éster também afeta outras propriedades, tais como: estabilidades térmica e hidrolítica, solvência, lubricidade e biodegradabilidade. Além disso, os ésteres, principalmente de poliálcoois, como Trimetilolpropano (TMP), formam uma camada unimolecular na superfície do metal, protegendo-o contra o desgaste. Esta camada se forma em função dos átomos de oxigênio presentes nas moléculas destes ésteres. As propriedades físico-químicas mais importantes dos ésteres são viscosidade, índice de viscosidade (IV), ponto de fluidez, lubricidade, estabilidades térmica e hidrolítica e solvência. Os principais tipos de ésteres utilizados como biolubrificantes são: Diésteres, ftalatos, trimetilatos, C36 dimeratos e ésteres de poliol. Os ésteres de poliol são formados a partir de polióis com um átomo de carbono quaternário (neopentilalcóois), como, por exemplo, trimetilolpropano, neopentilglicol e pentaeritritol. Esta classe de produtos oferece extraordinária estabilidade devido à ausência de um hidrogênio secundário na posição ß e à presença de um átomo central de carbono quaternário (WAGNER et al, 2001). As principais aplicações dos ésteres são: óleo de motor, óleo de motor 2 tempos, óleo de compressor, óleos de refrigeração, lubrificantes para aviação e fluidos hidráulicos. 21 2.3. Síntese de Ésteres Biolubrificantes Segundo SOLOMONS (1983), os ácidos carboxílicos reagem com os álcoois formando ésteres, através de uma reação de condensação conhecida como esterificação (Figura 4). Esta reação é catalisada por ácidos e o equilíbrio é alcançado em poucas horas, quando um álcool e um ácido são aquecidos sob refluxo com uma pequena quantidade de ácido sulfúrico concentrado ou com cloreto de hidrogênio. Uma vez que a constante do equilíbrio controla a quantidade do éster formado, o uso de um excesso, seja do ácido carboxílico ou do álcool, aumenta o rendimento em éster. O componente a ser escolhido para uso em excesso dependerá da sua disponibilidade e do custo. O rendimento de uma reação de esterificação também pode ser aumentado através da remoção de um dos produtos da mistura reacional, a água, na medida em que ela é formada. O O + R C + OH R' H OH R C + OR' H2O Figura 4: Esquema da reação de e sterificação de um ácido carboxílico e um álcool. O mecanismo típico de reações de esterificação é o de substituição nucleofílica em carbono acila, conforme ilustrado na Figura 5. H O R O + H+ C O H R C - H+ O H + R' OH - R' OH H O R C OH H O R' H O H R C O O R' H O R + H+ C - H+ O R' O R + H2O C O R' - H2O H Figura 5: Mecanismo de uma reação de esterificação 22 Quando se acompanha a reação no sentido horário, tem-se o caminho para a esterificação de um ácido carboxílico, catalisada por ácido. Se, entretanto, focalizamse as etapas inversas, observa-se o mecanismo da hidrólise de um éster, catalisada por ácido. O resultado obtido depende das condições escolhidas para a reação. Quando se deseja esterificar um ácido, usa-se um excesso do álcool e, se possível, promove-se a remoção da água, na medida em que ela é formada. Se, entretanto, o objetivo é a hidrólise, usa-se um grande excesso de água no meio reacional. Os fatores estéricos afetam fortemente as velocidades de reação das hidrólises de ésteres catalisadas por ácidos. A presença de grupos volumosos perto do centro de reação, seja no componente alcoólico ou no componente ácido, retarda acentuadamente a reação. Os ésteres também podem ser sintetizados por reações de transesterificação (Figura 6). Neste processo, o equilíbrio é deslocado para a direita, permitindo que o álcool, de baixo ponto de ebulição, seja destilado da mistura reagente. O mecanismo da transesterificação é semelhante ao da esterificação catalisada por ácido (ou de uma hidrólise de um éster catalisada por ácido). O R O H+ C O R' + R'' OH R + C O R' OH R'' Figura 6: Reação de Transesterificação de um éster com um álcool. O ricinoleato de etila, obtido a partir de uma reação de transesterificação do óleo de mamona com etanol, é o principal constituinte do biodiesel. A transesterificação deste composto com álcoois superiores (Figura 7): Trimetilolpropano, Pentaeritritol ou Neo-pentilglicol, possibilita a obtenção de ésteres de poliol, importantes precursores de óleos básicos sintéticos. 23 O O O O O C17H33O CH2 O O O O OC 17H 33 C17 H33 O O C17 H33 O CH2 O O C17 H33 O C 17 H33 O C17 H33 O O O Éster do Trimetilolpropano Éster do Pentaeritritol O O H3C C17H33O CH3 O C17 H33O O Éster do Neo Pentilglicol Figura 7: Estruturas Moleculares de Ésteres de Poliol. Quanto maior o grau de ramificação da molécula deste produto, melhor a fluidez à baixa temperatura, maior a estabilidade hidrolítica e menor o IV. O oposto se verifica em relação à linearidade. No caso de duplas ligações, quanto maior a saturação, melhor a estabilidade à oxidação e pior a fluidez (WAGNER et al, 2001). Básicos sintéticos obtidos a partir destes mesmos álcoois superiores, mas com outros óleos vegetais, podem ser facilmente encontrados no mercado, com excelente desempenho, como, por exemplo, o produto da empresa norte americana Hatco denominado Hatcol 2938. Para se aumentar o rendimento das reações de transesterificação, deve-se promover o deslocamento do equilíbrio da reação para o sentido dos produtos. Isto pode ser conseguido submetendo-se a mistura reacional a um forte vácuo, que será responsável pela remoção do álcool à medida que este se forma, deslocando o equilíbrio da reação em direção à formação de produtos. Catalisadores químicos ou enzimáticos podem ser utilizados na síntese de ésteres biolubrificantes. A catálise química ocorre em elevadas temperaturas (> 150°C), empregando-se catalisadores químicos do tipo homogêneo ou heterogêneo de natureza ácida ou básica (ABREU et al, 2004). Os catalisadores homogêneos típicos de caráter ácido empregados são ácido p-toluenosulfônico, ácido fosfórico e ácido sulfúrico, enquanto os de caráter básico são soda cáustica, etóxido de sódio e 24 metóxido de sódio. Os catalisadores heterogêneos mais utilizados são oxalato de estanho ou resinas catiônicas trocadoras. BONDIOLI et al (2003) realizou a reação de esterificação entre ácido caprílico e TMP, utilizando um catalisador a base de estanho (SnO) a 150°C. A conversão obtida, em 5 horas de reação, foi de 99%, sendo necessária a remoção contínua da água produzida. BONDIOLI (2004) relatou o uso de resinas de troca iônica fortemente ácidas como catalisadores em reações de esterificação e de transesterificação. No caso das reações de esterificação, a presença de água tem um papel fundamental no desempenho do catalisador. Se por um lado se deve remover a água produzida com o objetivo de se aumentar o rendimento da reação, por outro lado, a água tem um efeito positivo na promoção da dissociação dos fortes grupos ácidos da resina. Deste modo, uma resina completamente seca não apresenta nenhuma atividade catalítica, devido à impossibilidade de dissociação dos grupos sulfônicos. Um outro fator limitante é a difusão dos reagentes no interior da resina. Materiais graxos têm uma viscosidade alta, sendo isto um fator limitante para a catálise com resinas de troca iônica. No caso de ser necessária uma elevada eficiência catalítica, resinas de troca iônica que possuam um grau limitado de “crosslinking” devem ser escolhidas. Resinas em pó são mais ativas na promoção de reações de esterificação do que em esferas. Para a síntese de ésteres, deve-se utilizar apenas resinas de troca iônica ácido-sulfônicas. Resinas de troca iônica fortemente básicas também são atrativas para reações de transesterificação, no entanto, as mesmas têm uma estabilidade muito limitada quando aquecidas a temperaturas superiores a 40°C, e são neutralizadas por pequenas concentrações de ácidos graxos. Um outro fator negativo é a formação de glicerina durante a reação de transesterificação, o qual pode impermeabilizar a resina. Apesar destes efeitos negativos, resinas de troca iônica, quando utilizadas como catalisadores heterogêneos, apresentam as seguintes vantagens operacionais: • São ácidos ou bases sólidos e, no caso de um processo em batelada, podem ser facilmente separadas do sistema no final da reação; • Pode-se preparar o leito catalítico por empacotamento e, desta forma, ter-se um processo contínuo com maiores produtividade e eficiência catalítica; 25 • As resinas de troca iônica podem ser regeneradas, o que torna os custos do processo menores, quando comparados ao uso de catalisadores ácidos ou alcalinos; • Devido a sua ação de peneira molecular, há uma maior seletividade no processo com resinas; • Resinas de troca iônica são menos corrosivas do que os ácidos e bases geralmente empregados. A síntese de ésteres biolubrificantes pode ser realizada com eficiência utilizando tanto catalisadores de natureza química como biológica (lipases). Entretanto, parâmetros de escolha do catalisador devem estar baseados no conhecimento das limitações de cada um deles. Deste modo, apesar da via química apresentar como principal vantagem o custo bastante inferior quando comparada à via enzimática, devido à maior disponibilidade do catalisador em grandes quantidades e com custo reduzido, a mesma apresenta uma série de desvantagens, como por exemplo: • Baixa seletividade do catalisador, propiciando uma série de reações paralelas indesejáveis; • Corrosão, sobretudo quando se usa como catalisadores o ácido sulfúrico e o hidróxido de sódio; • Conversão no produto de interesse relativamente baixa (em média 40%), principalmente com os catalisadores complexos metálicos; • Formação de espuma (Catalisadores básicos); • Praticamente nenhuma atividade catalítica perante álcoois superiores de cadeia longa (H2SO4 e NaOH); • Condições mais severas de operação e maior consumo energético, em função da necessidade de temperaturas elevadas. Em relação à catálise enzimática, esta ocorre em temperaturas mais brandas (60°C), utilizando as lipases, triacil éster hidrolases (glicerol éster hidrolases, E.C. 3.1.1.3) para este fim. As lipases normalmente catalisam a hidrólise de ésteres de glicerol em interfaces lipídeo/água (DOSSAT et al, 2002). Entretanto, em sistemas aquo restritos, por exemplo, solventes, as lipases também catalisam a síntese destes ésteres. Desta forma, elas vêm sendo empregadas na modificação de gorduras e óleos, em sistemas aquo restritos com ou sem a presença de solventes orgânicos. 26 Lipases obtidas de diversos microrganismos vêm sendo estudadas nas reações de transesterificação de óleos vegetais, entre eles: Candida rugosa, Chromobacterium viscosum, Rhizomucor miehei, Pseudomonas fluorescens e Candida Antarctica. Dentre estas, as mais utilizadas são a Rhizomucor miehei (Imobilizada em resina aniônica macroporosa – Lipozyme) e a Candida rugosa, utilizada em pó. Em trabalhos realizados com óleo de girassol, a utilização da lipase de Candida rugosa apresentou um maior rendimento na reação de transesterificação, além de ter um custo inferior ao da lipase de Rhizomucor miehei (CASTRO et al, 2004). As reações de transesterificação por via enzimática podem ocorrer com ou sem a presença de solventes orgânicos. Outra variável interessante nestes tipos de reações é a quantidade de álcool adicionada. Um excesso de álcool desloca o equilíbrio da reação favorecendo a produção do éster. Entretanto, dados da literatura mostram que um excesso muito grande (superior a 1:6, éster:álcool) ocasiona uma inibição na atividade enzimática. Outra característica interessante destas reações é verificada quando se realiza transesterificações diretamente dos óleos vegetais. Estas reações têm como subproduto a glicerina, a qual, segundo alguns autores, pode se adsorver na superfície da enzima, inativando-a (Dossat et al, 2002). Todos os estudos envolvendo estas lipases se baseiam nos óleos de girassol, soja e canola, enquanto que a literatura envolvendo o óleo de mamona é muito mais escassa. Por outro lado, a via enzimática apresenta algumas vantagens, como por exemplo: • Alta seletividade das enzimas; • Rendimentos elevados na conversão dos ésteres; • Condições mais brandas de reação, evitando a degradação dos reagentes e produtos; • Menor consumo energético, em função das temperaturas reduzidas; • Biodegradabilidade do catalisador; • Facilidade de recuperação do catalisador enzimático (DOSSAT et al, 2002). Como desvantagem desta via, cita-se o elevado custo do processo em escala industrial, em função do custo elevado das enzimas. No entanto, o desenvolvimento 27 de biocatalisadores mais robustos através de técnicas de biologia molecular ou imobilização de enzimas pode tornar este processo industrialmente competitivo dentro de alguns anos. As reações de síntese de ésteres biolubrificantes podem ser conduzidas tanto em reatores em batelada, quanto em reatores contínuos (leito fixo ou leito fluidizado). Entretanto, por razões de simplicidade de processo, a batelada ainda é a escolha majoritária. Um exemplo ilustrativo de um reator de transesterificação em batelada da Raisio Groupe se encontra ilustrado na figura 8. Figura 8: Reator batelada de transesterificação (Raisio Groupe ) LÄMSA (1995) estudou e desenvolveu novos métodos e processos para a produção de ésteres de óleos vegetais, matérias-primas para a fabricação de lubrificantes biodegradáveis, utilizando tanto catalisadores químicos quanto enzimáticos . Inicialmente foi sintetizado o 2-etil-1-hexiléster de óleo de canola, a partir do 2-etil-1-hexanol e do óleo de canola, variando-se o catalisador (hidróxido de sódio, hidróxido de potássio, metóxido de sódio, etóxido de sódio e ácido sulfúrico), a razão molar óleo:álcool (1:3 a 1:6), a temperatura (80 a 120°C) e a pressão (2,0 a 10,6 MPa). As condições ótimas estabelecidas foram: Razão molar (1:5), 0,5% de catalisador alcalino (metóxido de sódio), temperatura de 80 a 105°C e 2,7MPa de pressão. A conversão do óleo de canola obtida foi de 97,6% em 5 horas de reação. 28 Neste trabalho não foram empregadas técnicas quimiométricas, mas sim uma análise individual do comportamento de cada variável. A síntese descrita acima também foi estudada utilizando-se a lipase de Candida rugosa como catalisador, obtendo-se conversões de 87% em 5 horas de reação. As melhores condições reacionais foram: razão molar óleo:álcool (1:2,8), concentração de lipase (3,4%), água adicionada (1,0%) e temperatura de 37°C. LÄMSA (1995) também sintetizou um éster metílico de óleo de canola (biodiesel), reagindo óleo de canola com metanol (em excesso) a 60°C, utilizando 0,5% de catalisador alcalino. Após 4 horas de reação, a conversão foi de 97%, havendo a separação da glicerina formada e a destilação do excesso de álcool. O mesmo autor ainda promoveu a reação entre o éster metílico do óleo de canola com o trimetilolpropano (TMP). Esta reação de transesterificação seguiu a mesma estratégia de análise individual do comportamento de cada variável envolvida no processo. Inicialmente se estudou o tipo e a quantidade de catalisador empregado, sendo o metilato de sódio (0,7%) o que apresentou melhor conversão. Em seguida se avaliou a razão molar éster:TMP, sendo estabelecido o valor de 3,2:1 (pequeno excesso do éster). Por fim, estudou-se a temperatura e a pressão, as quais têm um forte efeito na conversão. Foram estabelecidos os valores de 85-110ºC e 3,3 MPa para uma conversão de 98,9%, obtida em 2,5 horas de reação. Por fim, o autor promoveu a síntese do éster metílico de canola através de catálise enzimática. Os rendimentos com o uso de lipases foram elevados, porém o tempo de reação foi extremamente alto (em média 46 horas). 2.4. Propriedades dos Biolubrificantes As principais propriedades de um óleo lubrificante, que são requisitos básic os para o bom desempenho do mesmo, serão descritas a seguir: a) Viscosidade: A viscosidade dos óleos lubrificantes é a propriedade mais importante desses fluidos, pois está relacionada diretamente à formação da película que irá proteger as superfícies metálicas dos diversos ataques. Em essência, a viscosidade de um fluido é a sua resistência ao escoamento, a qual é função da força necessária para haver deslizamento entre suas camadas internas de moléculas. Para os biolubrificantes não há um valor pré-definido, entretanto, por razões de mercado, a faixa de 8 a 15 cSt a 100°C é a que encontra um maior número de aplicações; 29 b) Índice de Viscosidade: Índice de viscosidade é um número adimensional arbitrário utilizado para caracterizar a variação da viscosidade cinemática de um produto derivado do petróleo com a temperatura. Um elevado índice de viscosidade significa uma pequena diminuição da viscosidade de um produto com o aumento da temperatura. Normalmente, o valor do índice de viscosidade é determinado através de cálculos (descritos no método ASTM D2270) que levam em consideração as viscosidades do produto a 40°C e a 100°C. Óleos com valores de IV superiores a 130 encontram uma grande diversidade de aplicações; c) Ponto de fluidez: Este ensaio foi por muito tempo o único utilizado para avaliar o comportamento dos óleos lubrificantes quando submetidos a baixas temperaturas. Após aquecimento preliminar, a amostra é resfriada a uma velocidade especificada e observada em intervalos de 3ºC para avaliar as características do escoamento. A menor temperatura na qual se observa movimento no óleo é reportada como o Ponto de Fluidez. Quanto mais baixo, melhor o óleo básico, sendo valores inferiores a –36°C de grande utilidade. Alguns abaixadores de ponto de fluidez podem ser utilizados na formulação de biolubrificantes, no entanto estes são menos eficientes do que quando utilizados em conjunto com óleos minerais; d) Corrosividade: Os biolubrificantes, assim como os lubrificantes minerais não devem ser corrosivos. Por isso, devem apresentar resultado de 1B (máximo) no teste ASTM D130, o qual consiste em se observar a corrosão de uma placa de cobre após a mesma ser retirada de uma estufa onde permaneceu por 3 horas imersa na amostra de lubrificante, com temperatura controlada de 150°C. Os valores desde 1A até 1B, etc., são atribuídos com base em uma comparação com padrões pré-existentes; e) Índice de Acidez (IAT): Este ensaio tem como objetivo medir a acidez do óleo lubrificante, em geral, decorrente dos processos de oxidação, da queima dos combustíveis e de alguns aditivos. Neste ensaio uma amostra com massa conhecida é previamente misturada com solvente de titulação e titulada em KOH em meio alcoólico. Determina-se a massa de KOH por massa de amostra para a titulação. São desejáveis valores inferiores a 0,5 mgKOH/g, uma vez 30 que valores mais elevados de IAT contribuem para aumentar os efeitos de corrosão; f) Biodegradabilidade: Muitos óleos vegetais e ésteres sintéticos são inerentemente biodegradáveis. Isto significa que eles são não persistentes e sofrem modificações físicas e químicas como resultado da sua reação com biota, a qual conduz à remoção de características ambientalmente desfavoráveis. As características negativas incluem imiscibilidade com água, eco toxicidade, bioacumulação em organismos vivos e ação biocida contra tais organismos. Para certas aplicações, os lubrificantes devem ser prontamente biodegradáveis. Os testes CEC L-33-T-82 e STURM modificado são dois dos mais amplamente utilizados para medir biodegradabilidade em lubrificantes. O biolubrificante para ser considerado biodegradável deve apresentar um resultado superior a 67% no teste CEC; g) Estabilidade à oxidação: A maioria dos óleos vegetais são insaturados e tendem a ser menos estáveis à oxidação do que os óleos minerais. Pequenas quantidades de antioxidantes (0,1 – 0,2%) são efetivas em formulações com óleos minerais. Óleos vegetais, entretanto, podem necessitar uma grande quantidade de antioxidantes (1 – 5%) para prevenir a sua deterioração oxidativa. O ensaio mais utilizado para se medir esta estabilidade à oxidação em óleos lubrificantes é a bomba rotatória (RPVOT – ASTM D2272), o qual será descrito com mais detalhes no capítulo “Metodologia”. Um bom biolubrificante deve apresentar valores de tempo de oxidação superiores a 180 minutos. Um outro ensaio útil para análise da estabilidade à oxidação de lubrificantes é a quimiluminescência, que será descrita com mais detalhes a seguir. 2.5. Quimiluminescência Segundo ARAÚJO e CRAVO (1999), a quimiluminescência (QL) é a emissão de luz produzida durante certas reações químicas. Embora a quimiluminescência seja observada em reações exotérmicas, que envolvem grande variação de energia livre, este não é um efeito térmico, mas o resultado da formação de moléculas eletronicamente excitadas, que emitem fótons de luz quando decaem ao seu estado fundamental. 31 As reações de oxidação de hidrocarbonetos produzem baixos níveis de luminescência, mas com o uso de detectores sensíveis, como por exemplo, as células fotomultiplicadoras, pode-se alcançar sinais adequados de intensidade. Segundo SPLINERS e HEDENBURG (1985), a quimiluminescência (QL) é emitida nas primeiras etapas de oxidação de hidrocarbonetos, quando radicais peróxido ou radicais formados durante a decomposição de hidroperóxidos se recombinam. Usando-se um esquema básico das reações de auto-oxidação, as seguintes etapas podem ser consideradas para análise do mecanismo de emissão luminosa: • Sob condições de alta temperatura, formam -se radicais livres derivados de hidrocarbonetos. RH ? R· • (1) Em seguida, sob atmosfera de oxigênio, a oxidação tem início, gerando prontamente radicais peróxido. R· + O2 ? RO2· • (2) Esta reação pode ser seguida pela formação de hidroperóxidos e de novos radicais livres. RO2· + RH ? ROOH + R· • (3) A reação em cadeia pode ser terminada por recombinações de dois radicais hidrocarboneto ou radical hidrocarboneto – radical peróxido. Entretanto, a reação R· + R· ? RR (4) RO2· + R· ? RO2R (5) com maior tendência de ocorrer é a recombinação/desproporcionação de radicais peróxido. RO2· + RO 2· ? Produtos (6) Esta interação entre radicais alquil-peróxi é considerada como a principal razão para se observar QL durante a auto-oxidação de compostos orgânicos em fase líquida. 32 A reação 6 praticamente não requer energia de ativação e é altamente exotérmica (4580 kcal/mol), o suficiente para gerar emissão de luz na região visível do espectro. Na presença de excesso de oxigênio, as reações 4 e 5 não devem ser significativas. A reação 3 ocorre com menor intensidade por requerer alguma energia de ativação. A cinética depende então das reações 1, 3 e 6. Segundo ARAÚJO e CRAVO (1999), diversos autores acreditam que a etapa 6 ocorra através da formação de uma cetona excitada, que se relaxa para o estado de baixa energia (ground), emitindo um fóton (reações 7 e 8). RO 2. + RO2. R'CR"* + ROH + O2 (7) O R'CR"* O R'CR" + hν (8) O ZLAKTEVICH (1987) considera também que a emissão pode ser proveniente de um rearranjo de moléculas de hidroperóxido (reação 9). R-CH2-OOH R'CR"* + H2 O + O2 (9) O Somente um fóton é emitido para cada 108 a 1010 terminações, uma vez que a maior parte dos relaxamentos ocorre por outros caminhos (liberação de calor, cruzamento entre sistemas, emissão luminosa). A eficiência pode ser melhorada pela adição de ”aceptores” de energia, que são substâncias que possuem eficiência quântica maior para emissão de luz. A intensidade de quimiluminescência, medida em fótons por unidade de tempo, é proporcional ao quadrado da concentração de radical peróxido [RO2·]. IVANOV e KALITCHIN (1992) afirmam que, durante a oxidação de uma fração de óleo, a temperaturas elevadas, outros emissores também podem ser formados. A presença de compostos de enxofre do óleo e também dos aditivos (ditiofosfato de zinco e sulfonatos) abre a possibilidade de outros estados excitados serem formados. As seguintes reações geradoras de emissores podem ocorrer: 33 • Sulfurados + hidroperóxido de cumeno ? emissão observada. Possíveis emissores: Formaldeído ou dióxido de enxofre excitado; • Ozônio + mercaptanas ? emissão observada. Possível emissor: Dióxido de enxofre; • Policíclicos aromáticos ? endoperóxidos ? geração de oxigênio “singlet” por calor, e este vai a “triplet”. Emite luz; • Nitrogênio em estruturas cíclicas (indóis): Oxidação de indóis por hidroperóxidos, seguido do mesmo caminho anterior. IVANOV e KALITCHIN (1992) afirmam ainda que a quimiluminescência em temperaturas elevadas, especialmente a chamada “burst”, deve ser considerada como um resultado da auto-oxidação e respectiva recombinação de RO2·, sendo também influenciada pela presença de compostos heterocíclicos sulfurados, oxigenados e nitrogenados e por reações destes com hidroperóxidos. Segundo WEEKS et al (1988), os critérios para projeto de uma aparelhagem de QL para testes de estabilidade à oxidação de lubrificantes e combustíveis mais importantes são: • Capacidade de trabalho a altas temperaturas – Sensibilidade de detecção e controle de temperatura; • Capacidade de trabalho com filmes finos de amostras; • Controle preciso da atmosfera de reação – Introdução da amostra, introdução, vazão e dinâmica do fluxo de gases; • Versatilidade para condições de testes. 34 3. OBJETIVOS No desenvolvimento deste trabalho, buscou-se a otimização da reação de transesterificação do ricinoleato de etila com TMP, utilizando como catalisadores a resina de troca iônica Amberlyst 15, o di-laurato de di-butilestanho, o metilato de sódio e o ácido p-toluenosulfônico. As variáveis mais importantes foram estudadas individualmente, com base nos estudos levantados na pesquisa bibliográfica. Como objetivos específicos, podem-se destacar: a) A determinação das melhores condições operacionais para a transesterificação do ricinoleato de etila com TMP; b) Estudo de quatro diferentes catalisadores: Resina de troca iônica Amberlyst 15 (heterogêneo) e di-laurato de di-butilestanho, metilato de sódio e ácido p-toluenosulfônico (homogêneos); c) Estudo de técnicas para remoção de resíduos de catalisador do produto final; d) Estudo de processos para separação de fases e purificação do produto final. 35 4. METODOLOGIA Os ensaios foram realizados nos laboratórios da gerência de lubrificantes e produtos especiais (LPE) do Cenpes, Petrobras. 4.1. Materiais Os reagentes utilizados foram o ricinoleato de etila com 88% de pureza, gentilmente cedido pela gerência de Hidrorrefino e Processos Especiais (HPE) do Cenpes – Petrobras, e o álcool trimetilolpropano (TMP) (Sigma-Aldrich) com 98% de pureza. Como catalisadores, utilizou-se: A resina de troca iônica Amberlyst 15 (SigmaAldrich), o di-laurato de di-butilestanho (Liocat 119), gentilmente cedido pela empresa Miracema-Nuodex, o ácido p-toluenosulfônico (Sigma-Aldrich), com pureza de 98,5%, e o Metilato de sódio, gentilmente cedido pela gerência de Hidrorrefino e Processos Especiais (HPE) do Cenpes – Petrobras. As características físico-químicas dos catalisadores, fornecidas pelos fabricantes, estão nas Tabelas 3, 4, 5 e 6. Tabela 3: Propriedades típicas da resina Amberlyst 15 em sua forma ácida (Sigma-Aldrich) Propriedades Funcionalidade Valores Àcido Sulfônico (Fortemente ácida) Temperatura Máxima de Operação, °C 120 Teor de Umidade, % <3 Área Superficial, m 2/g 45 Porosidade, % 32 Capacidade de Troca Iônica, meq/mL;meq/g Teor de Finos (< 0,300 mm), % Diâmetro Médio de Poro, ? 1,8;4,7 1,0 máx. 250 36 Tabela 4: Propriedades típicas do Liocat 119 (Miracema-Nuodex) Propriedades Valores Fórmula Teor de Estanho, % 13 - 15 Viscosidade Gardner a 25°C B máx. Cor Gardner 4 máx. Peso Específico a 25°C 0,98 – 1,05 Umidade (Karl Fischer), % 0,8 máx. Cinzas, % 12,5 mín. Aspecto Líquido transparente amarelo Tabela 5: Propriedades típicas do Metilato de sódio (Sigma-Aldrich) Propriedades Fórmula Valores NaOCH3 Densidade de Vapor (vs Ar) 1,1 Pressão de Vapor a 20ºC, mm de Hg 50 Pureza, % 95 Forma Pó Temperatura de Auto-ignição, ºF 851 Tabela 6: Propriedades típicas do Ácido p-toluenosulfônico (Sigma-Aldrich) Propriedades Valores Fórmula Densidade de Vapor (vs Ar) 5,9 Pureza, % 98 Forma Pó Ponto de Fusão, °C 103-106 37 4.2. Aparelhagem e Condições Reacionais A maior parte das reações foi realizada em um reator de vidro (balão de 3 bocas) de 50 mL de capacidade. O balão foi imerso em um banho de silicone sobre uma placa de aquecimento e agitação magnética da marca Fisatom, conforme ilustrado na Figura 9. As saídas do balão foram conectadas a um condensador de refluxo e a rolhas de vidro, a fim de evitar perdas por evaporação. A temperatura do meio reacional foi monitorada com um termômetro imerso no banho de silicone. Com o objetivo de remover o etanol produzido na reação, todo o sistema foi colocado sob vácuo de 0,01 bar, proporcionado pela bomba de diafragma MZ 2C da Vacuubrand (Figura 9). Algumas reações foram realizadas à pressão atmosférica. O etanol formado foi recolhido com um auxílio de um trap com gelo seco. Figura 9: Aparato utilizado nas reações de transesterificação. O ricinoleato de etila (60-64 mmol, 19,56-20,86g) e o TMP (20-30 mmol, 2,684,02g) eram adicionados ao balão. Aguardava-se, então, que a temperatura do sistema atingisse o valor desejado, da reação, para então se adicionar o catalisador (0,5% p.p.). A partir deste momento, a agitação era iniciada e a bomba de vácuo ligada (quando necessário). O tempo total de reação era de 7 horas e a cada hora era retirada uma alíquota de cerca de 0,5 mL para análises químicas. Após a reação, a mistura era resfriada e lavada (neutralizada) com água ácida ou alcalina, dependendo do catalisador, seca com sulfato de sódio anidro e centrifugada. A conversão do reagente (ricinoleato de etila) em produtos foi calculada com base no desaparecimento do mesmo, acompanhado através de cromatografia líquida (HPLC) e ressonância magnética nuclear (RMN). 38 Procedeu-se, ainda, a hidrogenação de alguns produtos. Para tal, utilizou-se 59g do produto dissolvido em 100 mL de acetato de etila, para evitar solidificação do mesmo. Em seguida, adicionou-se a mistura em um reator Parr, juntamente com 200 mg de paládio. Submeteu-se então o reator a uma pressão de 50 psi (aproximadamente 3,5 kgf/cm2). 4.3. Metodologia Analítica 4.3.1. Viscosidade Cinemática - ASTM D 445 Para a realização do ensaio de viscosidade, coloca-se um volume fixo de amostra em um tubo viscosimétrico calibrado, e este em um banho com temperatura especificada e rigorosamente controlada, conforme ilustrado na Figura 10. Em seguida, determina-se o tempo para que o volume da amostra escoe sob gravidade através do capilar do viscosímetro. A viscosidade cinemática é obtida pelo produto do tempo de escoamento medido pela constante de calibração do viscosímetro. Figura 10: Equipamentos para medição da viscosidade cinemática. 4.3.2. Índice de Viscosidade – ASTM D 2270 O Índice de viscosidade (IV) é um número arbitrário adimensional utilizado para caracterizar a variação da viscosidade cinemática de um produto derivado do petróleo com a temperatura. Um elevado índice de viscosidade significa uma pequena diminuição da viscosidade de um produto com o aumento da temperatura. Normalmente, o valor do índice de viscosidade é determinado através de cálculos que 39 levam em consideração as viscosidades do produto a 40°C e a 100°C. Estes cálculos estão descritos na norma ASTM D2270. Em resumo, existem dois procedimentos A, para valores de IV até e inclusive 100, e B, para valores maiores que 100. Ambos os procedimentos se baseiam na medição prévia das viscosidades a 40°C e a 100°C da amostra. Pelo procedimento A, calcula-se o IV pela fórmula: IV = [(L-U)/(L-H)] x 100 (1) Onde L e H são parâmetros que podem ser extraídos de uma tabela, dependendo do valor da viscosidade a 100ºC da amostra, ou podem ser calculados, e U é a viscosidade cinemática a 40°C da amostra. Pelo procedimento B, calcula-se o IV pela fórmula: IV = [((antilog N)-1)/0,00715] + 100 (2) N = (log H – log U)/log Y (3) Onde L e H são parâmetros que podem ser extraídos de uma tabela, dependendo do valor da viscosidade a 100ºC da amostra, ou podem ser calculados, e U é a viscosidade cinemática a 40°C da amostra. Neste trabalho, foi utilizado o programa “CALTUDO”, desenvolvido em VisualBasic, o qual fornece o IV de um lubrificante a partir das suas viscosidades a 40 e 100°C. 4.3.3. Ponto de Fluidez – ASTM D 97 Este ensaio foi por muito tempo o único utilizado para avaliar o comportamento dos óleos lubrificantes quando submetidos a baixas temperaturas. Após aquecimento preliminar, a amostra é resfriada a uma velocidade especificada e observada em intervalos de 3ºC para avaliar as características do escoamento (Figura 11). A menor temperatura na qual se observa movimento no óleo é reportada como o Ponto de Fluidez. 40 Figura 11: Equipamento para medição do ponto de fluidez. 4.3.4. Índice de Acidez Total (IAT) – ASTM D 664 Este ensaio tem como objetivo medir a acidez do óleo lubrificante decorrente dos processos de oxidação, da queima dos combustíveis e de alguns aditivos. Neste ensaio uma amostra com massa conhecida é previamente misturada com solvente de titulação e titulada em KOH em meio alcoólico (Figura 12). Determina-se a massa de KOH por massa de amostra para a titulação. O resultado é bastante utilizado para indicar o estado dos óleos lubrificantes usados e para definir os períodos de troca de óleo. Figura 12: Equipamento para determinação do IAT. 41 4.3.5. Estabilidade à oxidação pela Bomba Rotatória (RPVOT) – ASTM D 2272 Neste ensaio, um recipiente de aço, contendo a amostra de óleo e um catalisador metálico padronizado (Cobre), é pressurizado com oxigênio (90 psi). Em seguida, o recipiente é mantido em um banho de silicone a 150°C. O tempo necessário para o consumo de oxigênio equivalente a uma redução na pressão de 25 psi é medido. Quanto maior este tempo, mais resistente à oxidação é o óleo (Figura 13). Figura 13: Esquema do Equipamento Bomba Rotatória. 4.3.6. Estabilidade à oxidação por Quimiluminescência O método desenvolvido para os biolubrificantes consiste em se injetar no equipamento (CL-400) (Figura 14) uma amostra (10 µL) do éster puro, sem aditivos, a uma temperatura de 160°C. Em seguida, calcula-se o tempo de indução da amostra, tempo necessário à ocorrência do pico de intensidade máxima. O ensaio é realizado em atmosfera de oxigênio e tem como maior vantagem um baixo consumo de amostra. 42 Figura 14: Equipamento Quimiluminógrafo Modelo CL-400. 4.3.7. Determinação de Elementos Metá licos Este ensaio é realizado no equipamento Spectroil (Figura 15), o qual consiste em um espectrômetro de emissão equipado com eletrodos. O eletrodo cilíndrico é um componente utilizado para formar o gap analítico. Através deste gap (distância) a amostra de óleo será analisada. Uma descarga de corrente alternada ocorrerá entre o eletrodo cilíndrico e o eletrodo disco provocando a vaporização da amostra de óleo e a emissão de luz pelos componentes metálicos presentes na mesma. Este é o princípio da técnica de emissão por arco elétrico. Este ensaio é importante para a determinação de teores de elementos metálicos, oriundos dos catalisadores, presentes nas amostras de biolubrificantes. Tais teores são indesejados em função da biodegradabilidade e do teor de cinzas deste produtos. Figura 15: Espectrômetro de emissão Spectroil. 43 4.3.8. Ressonância Magnética Nuclear (RMN) As análises por RMN de 13 C foram realizadas no equipamento Varian INOVA – 300 (7,1 T de campo magnético), na concentração de aproximadamente 40% em CDCl3 em tubos de 5 mm o.d. As condições experimentais quantitativas utilizadas estão descritas a seguir: 13 C Freqüência: 75,4 MHz Janela Espectral: 16,5 kHz Tempo de Aquisição: 1,8 s Pulso: 14,5 µs (90°) Intervalo entre Pulsos: 10,0 s Núcleo Desacoplado: 1H Modo do Desacoplador: “Gated” Número de Transientes: >4000 Para o cálculo do percentual de conversão de ricinoleato de etila via RMN, foi considerado um peso molecular médio do monoglicerídeo, do diglicerídeo e do triglicerídeo, respectivamente à reação de 1, 2 ou 3 moles de ricinoleato de etila com TMP. Este cálculo só foi possível assumindo-se a ausência de TMP livre, resultado confirmado por HPLC, e também uma pequena formação do triglicerídeo. A intensidade dos picos em um espectro de RMN é proporcional ao n° de carbonos presentes na amostra. Através do cálculo das áreas destes picos, pode-se calcular a distribuição percentual molar dos compostos presentes na mistura reacional. De posse de seus pesos moleculares, calcula-se a composição mássica. 4.3.9. Cromatografia Líquida de Alta Performance (HPLC) As análises de cromatografia líquida foram realizadas no equipamento Waters 2695, com as seguintes condições: Bomba e Injetor: Waters 2695 – Alliance Separations Module Detetor: Evaporation Light Scattering Detector – ELSD 2000ES – Alltech Condições de detector: Temperatura de tubo: 30°C Fluxo de N2: 1,5 L/min Ganho: 1 Sistema de aquisição de dados: Empower Software Waters 44 Coluna: Spheri-5 Cyano 5µm 250 x 4.6mm Fase móvel: A- Hexano B- 99,6 % THF + 0,4% Ácido Acético Time (min) Fluxo (ml/min) %A %B 0–5 1,0 90 10 5 – 18 1,0 40 60 18 – 20 1,0 90 10 20 – 30 1,0 90 10 Calibração: Padrões de Poliestireno. As amostras foram diluídas em 90% Hexano / 10% THF e filtradas por membrana de 0,45 µm. Volume de injeção: 20,0 µL Tempo de corrida: 30 min. Nestas condições, o tempo de retenção do ricinoleato de etila é de 30 minutos. O cálculo do percentual de conversão do ricinoleato de etila foi realizado com base nos cromatogramas obtidos no citado equipamento. Após a integração dos picos, foram calculadas as áreas correspondentes a cada pico (componente). Foi atribuído o valor de 100% para a soma das áreas, e à área correspondente ao ricinoleato foi atribuído o seu percentual. %X= Ar x 100 At Onde: Ar = Área do pico referente ao ricinoleato de etila; At = Área total de todos os picos referentes a todos os compostos presentes no produto final. Desta forma, acompanhando a redução da área do ricinoleato nas alíquotas retiradas de hora em hora da reação, foi possível calcular a sua conversão. Não foi utilizada uma curva de calibração em função da não existência de um padrão do produto obtido no mercado. 4.3.10. Cromatografia Gasosa (GC) As análises de cromatografia gasosa foram realizadas no equipamento Agilent 6890, nas seguintes condições: Injetor: on-column Detector: FID Coluna: HP-5HT 30m x 0,25mm x 0,1µm 45 Temperatura do injetor: track oven (acompanha a temperatura do forno) Condições do forno: Temperatura inicial: 50ºC (1 min) Rampa 1: 15ºC/min – 180ºC (0 min) Rampa 2: 7 ºC/min – 230ºC (0 min) Rampa 3: 20ºC/min – 380ºC (10min) Temperatura do detector: 380ºC Fluxo: 3mL/min Nestas condições, o tempo de retenção do ricinoleato de etila é de 11 minutos. 46 5. RESULTADOS 5.1. Seleção do Catalisador Foram testados quatro catalisadores, um de natureza heterogênea, a resina de troca iônica Amberlyst 15, e três de natureza homogênea, o di-laurato de dibutilestanho, o metilato de sódio e o ácido p-toluenosulfônico. A resina de troca iônica Amberlyst 15 foi escolhida neste trabalho porque apresenta uma estrutura macroporosa aliada a uma acidez, o que garantiu uma atividade catalítica elevada em reações de esterificação de ácido oléico em trabalhos anteriores (FIGUEIREDO, 2004). Esta resina foi designada para aplicações não aquosas, uma vez que suas elevadas porosidade e área superficial expõem mais grupos iônicos em um sistema não aquoso do que uma resina tipo gel. O catalisador di-laurato de di-butilestanho foi utilizado neste trabalho com base no emprego de catalisadores a base de estanho verificado em trabalhos anteriores (BONDIOLI, 2003 e 2004). Este catalisador, cujo nome comercial é Liocat 119, foi gentilmente cedido pela empresa Miracema-Nuodex, sediada em Campinas, SP. Os catalisadores metilato de sódio e ácido p-toluenosulfônico também foram utilizados com base em trabalhos anteriores (LÄMSA, 1995). 5.2. Estudo da Influência de Variáveis Foram realizadas ao todo 31 reações, entre as quais oito foram exploratórias, com o objetivo de se investigar quais variáveis de processo apresentavam maior influência sobre o rendimento da reação e sobre as propriedades do produto. A figura 16 ilustra a reação de transesterificação do ricinoleato de etila com o TMP, em presença de catalisador, realizada neste trabalho. 47 O 3 OH + OEt OH OH OH Ricinoleato de etila Trimetilolpropano Catalisador O O 3 C2 H5OH + Etanol O C17H33 O C H2 O O C 17H 3 3O C 1 7H 33 O O Biolubrificante (Triacilpropano) Figura 16: Reação de transesterificação do ricinoleato de etila com TMP em presença de catalisador. As seguintes variáveis foram estudadas para os diferentes catalisadores: • Temperatura: 85°C, 120°C, 170°C e 230°C; • Pressão: Atmosférica e vácuo de 0,01 bar; • Tempo de reação: 5 e 7 horas; • Razão molar (ricinoleato de etila:TMP): 10,5:1; 9,6:1; 4,5:1; 3,5:1; 3:1 (estequiométrica) e 3:1,5. Realizou-se um controle operacional (ensaio em branco) a 170°C e durante 7 horas, com o objetivo de se verificar o grau de conversão obtido na ausência do catalisador. O resultado foi a não formação de produtos, evidenciando a não ocorrência de reação. As propriedades físico-químicas do ricinoleato de etila estão na Tabela 7. Tabela 7: Propriedades físico-químicas do Ricinoleato de etila. Produto Ricinoleato de etila Viscosidade Viscosidade 40°C (cSt) 100°C (cSt) 14,00 3,110 IV 69 Fluidez IAT RPVOT Sn (ºC) (mgKOH/g) (Min.) (ppm) -30 0,53 52:00 <0,1 48 5.3. Reações com Amberlyst 15 Com esta resina como catalisador heterogêneo foram realizadas 9 reações, na temperatura de 120°C e com 0,01 bar de pressão, conforme descrito na Tabela 8. A temperatura escolhida foi de 120°C em razão de esta ser o limite operacional da Amberlyst 15. Foi ainda realizado um controle operacional (reação branco) apenas com ricinoleato de etila e Amberlyst para se verificar a acidez do produto. O mesmo apresentou um IAT de 14,0 mgKOH/g, proveniente da natureza ácida do catalisador. Com uma etapa de lavagem eficiente, reduz-se esta acidez, como será mencionado posteriormente. Tabela 8: Reações realizadas com Amberlyst 15. Reação Nº Razão Molar (Ricinoleato :TMP) Tempo (horas) Conversão (%) 1 10,5:1 4 * 2 10,5:1 4 * 4 10,5:1 7 67 5 9:1 5 63 10 4,5:1 5 70 22 3,2:1 7 - 23 3,2:1 5 - 29 3:1,5 5 - 30 3:1 5 48 - Ensaios não realizados por quantidade insuficiente de amostra. * Produto sólido. Os resultados destas reações em termos de propriedades físico-químicas estão apresentados na Tabela 9. 49 Tabela 9: Propriedades físico-químicas do produto reacional com Amberlyst 15. Reação Viscosidade Viscosidade Nº 40°C (cSt) 100°C (cSt) 1 * * 2 * 4 IV Fluidez CL-400 IAT RPVOT Sn (ºC) (Min.) (mgKOH/g) (Min.) (ppm) * * * * * * * * * * * * * 13,80 3,684 164 - - - - < 0,1 5 113,3 11,30 83 - - - - < 0,1 10 20,94 4,467 127 -27 0 0,60 - < 0,1 22 26,68 4,115 0 - - - - < 0,1 23 360,1 44,34 181 -39 - - - < 0,1 29 40,30 5,595 63 -24 - - - < 0,1 30 19,81 4,702 125 -27 - - - < 0,1 - Ensaios não realizados por quantidade insuficiente de amostra. * Produto sólido. Durante a realização dos experimentos, foram retiradas alíquotas de hora em hora para se verificar o tempo ótimo da reação (tempo de máxima conversão). Pelos poucos resultados de conversão, pode-se concluir que o tempo de 7 horas foi o que apresentou maior rendimento para razões molares similares. A reação 10 apresentou uma conversão maior, embora com 5 horas, em função do excesso menor de ricinoleato de etila utilizado, conforme ilustrado pela figura 17. Conversão x Razão Molar Biodiesel:TMP 80 70 60 Conversão (%) 50 40 Reação 30 Reação 10 Reação 5 Reação 4 3:1 4,5:1 9:1 10,5:1 30 20 10 0 Razão Molar Biodiesel:TMP Figura 17: % Conversão da reação catalisada por Amberlyst 15 em função da razão molar ricinoleato de etila:TMP. 50 Pode-se concluir pelos resultados acima que há a necessidade de um excesso de um dos reagentes, ricinoleato de etila ou TMP, para se atingir um maior rendimento no processo. Optou-se pelo excesso de ricinoleato de etila em função do custo deste insumo ser menor que o do TMP. Assim mesmo, na reação 29 foi utilizado um pequeno excesso de TMP, o que não resultou em uma melhora de qualidade no produto final. Nas reações 1 e 2, na etapa de lavagem e neutralização com NaOH, houve uma reação de saponificação, solidificando o produto formado. Em função disto não foi possível realizar as análises do mesmo. LÄMSA (1995) estudou a etapa de lavagem e neutralização do produto da reação e concluiu que a mesma deve ser realizada com água morna (60°C) e solução diluída de HCl ou NaOH, dependendo da natureza do catalisador utilizado. Entretanto, neste trabalho, a lavagem com água morna resultou na formação de uma emulsão extremamente difícil de ser rompida, enquanto a neutralização com NaOH levou à saponificação do produto. Desta forma, foi testada uma etapa única de lavagem e neutralização com solução saturada de NaHCO3 10% (Figura 18). Figura 18: Funil de Separação contendo o Produto da lavagem com NaHCO3. Os resultados obtidos permitiram a caracterização do produto formado nas reações subseqüentes, devido à formação de emulsões mais fáceis de serem rompidas e à ausência de reações de saponificação. Este fato pode ser explicado através do fenômeno que ocorre quando se adiciona à água uma solução aquosa de eletrólito. Neste caso, a tensão superficial aumenta com a concentração do soluto, 51 indicando que se torna mais difícil o aumento da área superficial, ou seja, que ocorra a migração de moléculas do seio da solução para a superfície. Nesta situação, o comportamento da tensão superficial reflete as interações entre as moléculas da fase condensada, assim como entre estas e a fase adjacente. No caso de eletrólitos, o aumento da tensão superficial pode ser compreendido considerando-se que a solvatação dos íons do eletrólito por moléculas de água envolve forças moleculares ainda mais intensas que as envolvidas na formação de pontes de hidrogênio, havendo necessidade de se realizar um maior trabalho para a migração de moléculas de água para a região interfacial (SALIM et al, 2000). Desta forma, com o aumento da tensão interfacial entre as fases aquosa e orgânica (biolubrificante), a emulsão que se forma é rapidamente separada por decantação e centrifugação, constituindo uma etapa de lavagem mais efetiva. O produto da reação 10 apresentou valores de viscosidade próximos ao produto comercial Hatcol 2938 (Tabela 10), o qual se constitui em um éster de TMP que não é derivado do óleo de mamona. Tabela 10: Propriedades Físico-químicas do produto Hatcol 2938. Hatcol 2938 Reação 10 Viscosidade Viscosidade 40°C (cSt) 100°C (cSt) 19,52 4,376 20,94 4,467 IV Fluidez IAT RPVOT CL-400 Sn (°C) (mgKOH/g) (min.) (min.) (ppm) 137 -60 0,40 360 90 < 0,1 127 -27 0,60 - 0 <0,1 - Ensaio não realizado por quantidade insuficiente de amostra. O produto da reação 10 apresentou uma estabilidade à oxidação baixa, conforme pode ser verificado no ensaio de quimiluminescência (CL-400), cujo valor foi inferior a 0,1 minutos, comparado aos 90 minutos obtidos pelo produto Hatcol 2938. 5.4. Reações com Liocat 119 Com este catalisador homogêneo a base de estanho (Di-laurato de di- butilestanho) foram realizadas 12 reações, conforme descritas na Tabela 11. 52 Tabela 11: Condições utilizadas nas reações catalisadas pelo Liocat 119. Reação Nº Razão Molar Temperatura (Ricinoleato:TMP) (°C) 6 10,5:1 170 7 10,5:1 8 Pressão Tempo Conversão (horas) (%) 0,01 bar 5 70 260 0,01 bar 2 ** 10,5:1 170 atmosférica 7 58 9 4,5:1 170 0,01 bar 7 77 11 * 170 0,01 bar 5 - 13 4,5:1 170 0,01 bar 5 - 14 4,5:1 230 atmosférica 7 - 24 3,2:1 170 0,01 bar 5 75 25 3,2:1 230 atmosférica 5 ** 26 3,2:1 170 atmosférica 7 61 27 3:1,5 230 atmosférica 7 - 28 3:1,5 170 0,01 bar 7 - - Ensaios não realizados por quantidade insuficiente de amostra. * A reação n°11 foi um controle operacional (ensaio em branco) entre Ricinoleato de etila e Liocat 119 apenas. ** Os produtos das reações nº7 e n°25 sofreram uma polimerização, em função da elevada temperatura, ficando no estado sólido. Os resultados destas reações em termos de propriedades físico-químicas e conversão estão apresentados na Tabela 12. Percebe-se uma grande dispersão nos valores de viscosidade dos produtos das reações. Isto ocorre em função das reações de mono, di e tri-substituição na molécula do TMP. Quanto maior a proporção de trisubstituição, maior a viscosidade e menor o ponto de fluidez, em função do número maior de ramificações na molécula do biolubrificante (triacilpropano). 53 Tabela 12: Propriedades físico-químicas com Liocat 119 Reação Viscosidade Viscosidade Nº 40°C (cSt) 100°C (cSt) 6 57,26 8,617 7 ** 8 IV Fluidez CL-400 IAT RPVOT Sn (ºC) (Min.) (mgKOH/g) (Min.) (ppm) 125 -30 - 2,31 - - ** ** ** ** ** ** ** 25,21 4,547 88 - - 2,29 - - 9 287,2 26,13 119 -39 42 0,35 43 700 11 50,05 8,620 150 - 0 0,80 - 675 13 45,08 6,579 96 -27 - 0,76 43 673 14 163,2 17,54 117 -39 5 - - 476 24 209,0 19,24 104 -39 0 0,39 - 652 25 ** ** ** ** ** ** ** ** 26 36,20 5,000 34 -27 - - - - 27 234,8 22,18 115 -39 - - - - 28 76,22 7,793 50 -27 18 - - - - Ensaios não realizados por quantidade insuficiente de amostra ** Os produtos das reações nº7 e n°25 sofreram uma polimerização, em função da elevada temperatura, ficando no estado sólido. Apesar da recomendação do fabricante (Miracema-Nuodex) da temperatura ótima de utilização do Liocat 119 ser de 230°C, verificou-se que, a esta temperatura, ocorre a formação de um produto sólido (reações 7 e 25). A figura 19 apresenta o efeito da utilização de vácuo na conversão, para duas razões molares distintas 10,5:1 e 3,2:1. Conversão x Pressão 90 80 70 Conversão (%) 60 50 40 Reação 6 10,5:1 Reação 8 10,5:1 0,01 bar Atm. Reação 24 3,2:1 Reação 26 3,2:1 0,01 bar Atm. 30 20 10 0 Pressão Figura 19: Gráfico % Conversão x Pressão com Liocat 119. 54 Pode-se concluir que a utilização do vácuo na reação foi benéfica para as reações realizadas com diferentes razões molares. Os rendimentos e a qualidade do produto obtido, em termos de viscosidade, índice de viscosidade e ponto de fluidez, foram melhores quando da utilização de vácuo (0,01 bar). A tabela 13 apresenta o efeito da razão molar dos reagentes em termos do excesso de ricinoleato de etila na conversão da reação. Tabela 13: Condições utilizadas nas reações 6, 9 e 24, catalisadas pelo Liocat 119. Reação Nº Razão Molar Temperatura (Ricinoleato:TMP) (°C) 6 10,5:1 170 9 4,5:1 24 3,2:1 Pressão Tempo Conversão (horas) (%) 0,01 bar 5 70 170 0,01 bar 7 77 170 0,01 bar 5 75 Pode-se observar que a utilização de excesso de ricinoleato no meio reacional acima de 4,5:1 não causou um efeito positivo no aumento da conversão, provavelmente em função de reações paralelas entre moléculas de ricinoleato ou de inibição da reação de transesterificação, provocada pelo excesso do mesmo. O tempo ótimo de reação foi determinado através da análise por HPLC das alíquotas que eram retiradas de hora em hora do meio reacional. Como pode ser visto nos cromatogramas da reação 24 (Anexo 1) e na figura 20, havia um aumento de conversão (calculada pela área de cada pico) a cada hora, até um valor aproximadamente constante a partir da 5ª hora. Desta forma, estabeleceu-se 5 horas como o tempo ótimo para estas reações. 55 Conversão x Tempo Reação 24 100 90 80 Conversão (%) 70 60 50 40 30 20 10 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Tempo (h) Figura 20: Curva Cinética da Reação 24 com Liocat 119. A tabela 14 apresenta o IAT para as reações que apresentaram o maior percentual de conversão para diferentes razões molares ricinoleato de etila:TMP. Tabela 14: IAT das reações 6, 9 e 24, catalisadas pelo Liocat 119. Reação Nº Razão Molar (Ricinoleato:TMP) Conversão (%) IAT (mgKOH/g) 6 10,5:1 70 2,31 9 4,5:1 77 0,35 24 3,2:1 75 0,39 Pode-se observar na tabela anterior que o produto da reação n°6 apresentou um valor de IAT elevado (2,31 mgKOH/g). Esta acidez é decorrente do catalisador Liocat 119. Na etapa de lavagem com NaHCO3 ocorre a remoção desta acidez, no entanto, nesta reação, devido ao grande excesso de ricinoleato de etila, houve a formação de uma emulsão difícil de ser rompida, o que tornou a lavagem menos efetiva. Esta dificuldade de separação das fases, ou rompimento da emulsão, é tanto maior quanto maior for o excesso de ricinoleato de etila utilizado, pois depende do teor de ácidos graxos livres presentes. Já nas reações 9 e 24, houve uma diminuição no valor de IAT. Isto ocorreu, muito provavelmente, devido ao fato de a menor quantidade de ricinoleato de etila diminuir a presença de ricinoleato de etila residual misturado junto ao produto da reação, o qual forma uma emulsão difícil de ser rompida quando 56 da extração com solução de NaHCO3. Pelo contrário, a ausência desse ricinoleato de etila residual contribui para a formação de uma emulsão fácil de ser separada, o que torna a lavagem com NaHCO3 mais eficiente. Assim, obtém-se uma redução no valor do IAT do produto final. Além disso, a maior quantidade de TMP evita a presença dos ácidos carboxílicos livres originalmente presentes no ricinoleato de etila. Um aspecto comum a todas as reações que utilizam o Liocat 119 como catalisador é o teor de estanho elevado (em média aproximadamente 650 ppm). Esse valor elevado pode ser devido à presença de estanho no catalisador, o qual não foi efetivamente removido na etapa de extração e lavagem, podendo comprometer a biodegradabilidade do lubrificante final, o teor de cinzas, além de atuar como catalisador na oxidação do mesmo. Algumas técnicas para remoção de Sn estão sendo estudadas, entre as quais lavagens com soluções de fluoreto de sódio e água oxigenada (BONDIOLI et al, 2003). Esses autores afirmam que o teor de estanho, proveniente do catalisador SnO, o qual se encontra solúvel, na forma de sabões de estanho e ácidos graxos, após o tratamento com estas soluções deve atingir valores da ordem de 3 ppm. No entanto, os resultados obtidos com esta estratégia não foram tão efetivos, pois com uma solução de água oxigenada 10%, reduziu-se o teor de estanho da reação 9 de 700 para 495 ppm. Aplicando–se uma solução de fluoreto de sódio, este teor atingiu o valor de 392 ppm. As reações 9 e 24 foram as que apresentaram maiores taxas de conversão do ricinoleato de etila (77% e 75%). O produto da reação n°9, em termos de fluidez, atingiu um valor aceitável e bem mais baixo do que o dos óleos minerais puros (não aditivados). Já no ensaio de estabilidade à oxidação (RPVOT), o valor atingido (43 minutos) ainda se encontra muito aquém dos ésteres sintéticos comercialmente disponíveis (aproximadamente 300 minutos). Esse resultado pode ser atribuído à presença de Sn oriundo do catalisador no produto final. Esta hipótese foi confirmada ao se realizar o ensaio RPVOT com uma amostra de referência (Hatcol 2938) contaminada com 700 ppm de Sn. O tempo de oxidação da amostra de referência foi reduzido de 360 minutos para apenas 57 minutos. Em termos de conversão, a reação n°6 apresentou um rendimento molar de 70%, sendo 17,7% em termos de mono, di e triglicerídeos (éster biolubrificante). No entanto, a reação entre duas moléculas de ricinoleato de etila levou à formação de um dímero do ricinoleato de etila, conforme mostra a Figura 21, com rendimento molar de 52,2%. A presença deste dímero pode contribuir para as propriedades lubrificantes da mistura como um todo. 57 O OEt O OH O Figura 21: Dímero do Ricinoleato de etila (Estolide). Na reação n°9 se observou uma conversão total de 77%, com um rendimento molar de 27,4% em termos de mono, di e triglicerídeos (biolubrificante), de 49,6% do dímero e uma redução na presença de ricinoleato de etila não reagido para 23%. Esta reação foi mais eficiente em termos de formação do biolubrificante, propiciando uma menor formação do dímero. Esta reação foi repetida a 230°C (reação n°14), temperatura ótima recomendada pelo fabricante do catalisador. O produto obtido não diferiu muito do produzido a 170°C, com este último propiciando uma maior economia de energia. O produto desta reação foi destilado a vácuo, no entanto houve uma decomposição das frações obtidas, o que inviabilizou uma caracterização via RMN. Nas figuras 22 e 23 estão representados, respectivamente, os espec tros de RMN das reações n°9 (Razão molar ricinoleato:TMP = 4,5:1) e n°6 (Razão molar ricinoleato:TMP = 10,5:1). Esta análise foi realizada com o intuito de caracterizar quimicamente os produtos obtidos. 58 Figura 22: Espectro de RMN da reação n°9. Figura 23: Espectro de RMN da reação n°6. 59 Com base na análise deste espectro (Figura 23), combinada aos espectros de RMN de 1 3C simulados (de estruturas de monoglicerídeos, diglicerídeos e triglicerídeos esperadas para a reação proposta), pode-se inferir que a mistura reacional é composta por: • Carbonilas características de ricinoleato de etila a 174 ppm; • Carbonilas características de glicerídeos (produto da reação do ricinoleato de etila com TMP) a 171 ppm; • Pico a 74 ppm (característico de C-O quando há esterificação na hidroxila do C-12 da cadeia do ricinoleato de etila), provável produto da reação entre duas moléculas de ricinoleato de etila. Realizou-se ainda um controle reacional (ensaio em branco) a 170°C contendo apenas ricinoleato de etila e catalisador a base de estanho (reação n°11) para se investigar se haveria a formação do dímero ou algum outro tipo de reação entre as moléculas de ricinoleato de etila (Figura 24). Obteve-se um produto levemente mais viscoso, com IAT de 0,80 mg KOH/g. No entanto, não foi observada a formação do dímero. Figura 24: Espectro de RMN da reação n°11. 60 Realizou-se também um controle reacional (ensaio em branco) só com ricinoleato de etila puro, a 170ºC, sem TMP nem catalisador, para se investigar a possível decomposição do mesmo em função das elevadas temperaturas. Após análise por cromatografia gasosa (Figuras 25 e 26), verificou-se que não houve alteração no ricinoleato de etila avaliado (os cromatogramas foram idênticos). Figura 25: Cromatograma do Ricinoleato de etila antes do controle reacional. Figura 26: Cromatograma do Ricinoleato de etila após o controle reacional. 61 Desta forma, chegou-se à conclusão de que o dímero estolide do ricinoleato de etila se formou nas reações catalisadas pelo Liocat 119, e que a presença do mesmo não era prejudicial às propriedades lubrificantes do produto final como um todo. Em função da pequena quantidade de produto gerada em cada reação (aproximadamente 20g), não foi possível realizar os ensaios de estabilidade à oxidação pelo método da bomba rotatória para todos os produtos das reações. No entanto, a partir do desenvolvimento de uma metodologia para análise de ésteres por quimiluminescência, foi possível obter algumas estimativas da estabilidade à oxidação de alguns produtos. Os espectros de visualização para cálculo do tempo de indução dos produtos Hatcol 2938 e reações n°9 e 28 se encontram nas Figuras 27, 28 e 29, respectivamente. O tempo de indução é calculado subtraindo-se o tempo do primeiro pico de intensidade máxima do tempo inicial. Nas figuras, o tempo referente a este 1° pico se encontra destacado. Espectro de Quimiluminescência Hatcol 2938 180 2500 170 160 150 2000 Temperatura 120 Intensidade 110 1500 100 90 80 1000 70 Intensidade (mV) 130 60 50 40 500 30 20 10 00:24 23:32 22:41 21:49 20:58 20:06 19:15 18:23 17:32 16:40 15:49 14:57 14:06 13:14 12:23 11:31 10:40 09:48 08:57 08:05 07:14 06:22 05:31 04:39 03:48 02:56 02:05 01:13 0 00:22 0 00:00 Temperatura (°C) 140 Tempo decorrido (h) Figura 27: Espectro de quimiluminescência do Hatcol 2938. 62 Espectro de Quimiluminescência da Reação N° 9 180 20000 170 160 150 140 15000 130 110 100 90 10000 80 70 Intensidade (mV) Temperatura (°C) 120 Temperatura Intensidade 60 50 5000 40 30 20 10 17:46 17:14 16:42 16:10 15:38 15:06 14:34 14:02 13:30 12:58 12:26 11:54 11:22 10:50 10:18 09:46 09:14 08:42 08:10 07:38 07:06 06:34 06:02 05:30 04:58 04:26 03:54 03:22 02:50 02:18 01:46 01:14 00:42 00:17 0 00:00 0 Tempo decorrido (h) Figura 28: Espectro de quimiluminescência do produto da reação 9. Espectro de Quimiluminescência da Reação N°28 180 20000 170 160 150 140 15000 130 110 100 90 10000 80 70 Intensidade (mV) Temperatura (°C) 120 Temperatura Intensidade 60 50 5000 40 30 20 10 04:25 04:18 04:11 04:04 03:57 03:50 03:43 03:36 03:29 03:22 03:15 03:08 03:01 02:54 02:47 02:40 02:26 02:33 02:12 02:19 02:05 01:58 01:51 01:44 01:37 01:30 01:23 01:16 01:09 01:02 00:55 00:48 00:41 00:34 00:27 00:20 00:18 00:13 00:07 0 00:00 0 Tempo decorrido (h) Figura 29: Espectro de quimiluminescência do produto da reação 28. Os valores obtidos nos gráficos das figuras 28 e 29, cerca de 45 e 18 minutos de tempo de indução, respectivamente, evidenciam a baixa resistência à oxidação dos produtos analisados pelo método do CL-400. Já o produto Hatcol 2938, apresentou um 63 tempo de indução de aproximadamente 200 minutos, com uma maior resistência à oxidação. Com o objetivo de melhorar a estabilidade à oxidação do produto, procedeu-se a hidrogenação da reação 24. Para tal, utilizou-se 59g do produto dissolvido em 100 mL de acetato de etila, para evitar solidificação do mesmo. Em seguida, adicionou-se a mistura em um reator Parr, juntamente com 200 mg de paládio. Submeteu-se então o reator a uma pressão de 50 psi (aproximadamente 3,5 kgf/cm 2). Após a hidrogenação, o produto não sofreu alterações quanto a sua estabilidade à oxidação. Entretanto, estes resultados não forma conclusivos, uma vez que a pressão aplicada ao sistema não foi suficiente. 5.5. Reações com Metilato de Sódio A grande vantagem do metilato de sódio como catalisador é a de que ele se incorpora no produto, sendo seu excesso removido facilmente com solução de HCl 1:1. Além disso, pelo fato de não conter metais pesados, como estanho, em sua composição, não acarreta problemas como teor de cinzas elevado e instabilidade térmica, hidrolítica e oxidativa no produto final. Com este catalisador foram avaliados dois tipos de biodiesel: Mamona e soja. 5.5.1. Biodiesel de Mamona (Ricinoleato de etila) O catalisador homogêneo metilato de sódio foi utilizado nas 6 reações descritas na Tabela 15. Tabela 15: Reações realizadas com Metilato de Sódio como Catalisador. Reação Nº Razão Molar (Ricinoleato de Temperatura (°C) Pressão etila:TMP) Tempo (horas) 15 9,6:1 120 0,01 bar 7 16 9,6:1 85 0,01 bar 7 17 4,5:1 120 0,01 bar 7 19 3,2:1 120 0,01 bar 7 20 3,2:1 85 0,01 bar 7 21 3:1,5 120 0,01 bar 7 64 Os resultados destas reações em termos de propriedades físico-químicas e conversão estão apresentados na Tabela 16. Tabela 16: Propriedades físico-químicas com Metilato de sódio Reação Viscosidade Viscosidade IV Fluidez CL-400 IAT RPVOT Sn Nº 40°C (cSt) 100°C (cSt) (ºC) (Min.) (mgKOH/g) (Min.) (ppm) 15 * * * * * * * * 16 21,16 3,889 54 -24 - - - < 0,1 17 47,61 6,208 66 -24 - - - < 0,1 19 120,0 11,46 78 -33 - - - < 0,1 20 53,92 7,261 92 -24 - - - < 0,1 21 212,6 14,88 55 -36 - - - < 0,1 - Ensaios não realizados por quantidade insuficiente de amostra * O produto da reação nº15 se apresentou sólido. Como pode ser observado nos resultados da tabela anterior, os produtos obtidos não apresentaram uma qualidade satisfatória no que diz respeito ao IV. O produto da reação n°15 se tornou sólido, provavelmente devido a uma reação de saponificação. O mesmo se observou em todas as outras cinco reações. No entanto, nestas últimas, durante a etapa de lavagem com solução de HCl 1:1, houve a dissolução do produto sólido. Esta solidificação contraria a literatura (LÄMSA, 1995), a qual afirma que as reações de transesterificação com metilato de sódio apresentam elevadas taxas de conversão e raras reações paralelas. A competição entre reações de transesterificação e de saponificação é geralmente influenciada pela natureza do catalisador e por duas condições experimentais: A temperatura e a presença de umidade (BONDIOLI, 2004). É geralmente aceito que quanto maior a temperatura da reação, maior será o impacto da saponificação. Na prática, cada reação de transesterificação é um compromisso entre a taxa de reação e as perdas causadas pelos efeitos da saponificação. O monitoramento da água em reagentes de partida é uma prática industrial comum, mas algumas vezes não é suficiente. A avaliação do impacto da água deve ser realizada em trabalhos futuros levando em conta não apenas a umidade do álcool e do éster, mas também a umidade do ar. Há alguns fatos menos conhecidos no que diz respeito a alcoolatos de sódio e potássio. Estes catalisadores são amplamente utilizados, apesar do seu elevado preço, devido a sua elevada atividade catalítica em reações de transesterificação e sua baixa tendência para reação de saponificação. Metilato de sódio, o catalisador 65 mais utilizado, é comercializado como um pó branco, ou devido a sua elevada higroscopicidade, como uma solução 30% m/m em metanol. O metilato de sódio reage com a água de acordo com a reação: CH3ONa + H2O ? CH3OH + NaOH De acordo com esta reação, a concentração total de base forte expressa como mol/kg não muda, mas um catalisador com baixa atividade de saponificação é convertido em um reagente com alta atividade de saponificação. A situação é complicada pela impossibilidade do monitoramento do teor de água por meio da titulação de Karl Fischer, pois a água não está presente na amostra, mas se encontra aderida ao NaOH. Uma solução interessante e prática para este problema é representada pela adição de ácido orgânico anidro sólido (como ácido oxálico, ácido salicílico e ftalato de potássio e hidrogênio) em excesso em relação aos equivalentes alcalinos. O ácido orgânico reage com o metilato produzindo metanol e com NaOH produzindo água, a qual pode ser facilmente avaliada por meio da titulação de Karl Fischer. Desta forma, analisando os resultados obtidos nas reações com metilato de sódio, procedeu-se uma investigação sobre as razões das reações de saponificação observadas. A análise do ricinoleato de etila utilizado não apontou a presença de umidade, assim como no TMP que era grau analítico (P.A.). Desta maneira concluiuse que a umidade presente pode ser decorrente do próprio catalisador (metilato de sódio), presente no mesmo ou absorvida durante a sua manipulação. Uma medida a ser tomada em trabalhos futuros é se pré-tratar o ricinoleato de etila com sulfato de sódio anidro e se tomar o máximo cuidado no armazenamento e na manipulação do metilato, para se evitar a absorção de umidade pelo mesmo. Além da hipótese da presença de água, uma outra hipótese para a reação de saponificação decorre da presença de ácidos graxos livres mis turados ao ricinoleato de etila. Estes ácidos graxos livres podem reagir com o NaOH liberado pelo catalisador, ocasionando a saponificação. 5.5.2. Biodiesel Metílico de Soja Procurando-se compreender melhor a formação do dímero estolide quando da reação com o catalisador Liocat 119, resolveu-se utilizar como reagente de partida, ao invés do ricinoleato de etila, o biodiesel metílico de soja. Para tal, procedeu-se a reação nº18. Diferentemente da mamona, o óleo de soja tem em sua composição 66 como ácidos graxos majoritários os ácidos linoléico e oléico, conforme apresentado na figura 30. O HO O O O O Figura 30: Estrutura Química representativa do óleo de soja. Com se pode observar na figura anterior, não há no óleo de soja a presença de hidroxilas (OH) livres, como no óleo de mamona. Consequentemente em seu biodiesel também não há hidroxilas. Desta forma, o dímero observado nas reações com ricinoleato de etila não se forma com o biodiesel de soja, pois não há hidroxilas que possibilitem a ligação entre duas moléculas deste biodiesel. De fato, isto foi comprovado por meio de RMN (Figura 31) após a realização da reação 18. Neste espectro não se observa pico a 74 ppm (característico de C-O quando há esterificação na hidroxila do C-12 da cadeia do ricinoleato de etila), evidenciando a não formação de produto da reação entre duas moléculas de biodiesel. 67 Figura 31: Espectro de RMN da reação nº 18. As condições reacionais empregadas no experimento 18 estão descritas na Tabela 17. Tabela 17: Reação realizada com metilato de sódio como catalisador e biodiesel de soja. Reação Razão Molar Nº (Biodiesel:TMP) 18 3,2:1 Catalisador Temperatura Pressão Tempo (°C) Metilato de Sódio (horas) 120 0,01 bar 7 Os resultados destas reações em termos de propriedades físico-químicas e conversão estão apresentados na Tabela 18. Tabela 18: Propriedades físico-químicas com Metilato de sódio e biodiesel de soja Rea- Viscosidade Viscosidade ção 40°C (cSt) 100°C (cSt) 21,05 5,669 IV Conver- Fluidez CL-400 IAT RPVOT Sn são (%) (ºC) (Min.) (mgKOH/g) (Min.) (ppm) 77 - - - - <0,1 Nº 18 235 - Ensaios não realizados por quantidade insuficiente de amostra 68 Analisando-se os cromatogramas de HPLC (Anexo 2) das alíquotas retiradas a cada hora desta reação, pode-se constatar que a conversão aumenta até a 1ª hora de reação, permanecendo constante nas 7 outras horas subseqüentes. A utilização do biodiesel metílico de soja neste experimento se deveu à não obtenção de um biodiesel de soja etílico. O metílico tem a vantagem de propiciar uma taxa de conversão mais elevada em função da maior volatilidade do metanol formado. No entanto, tem a desvantagem de produzir um composto tóxico, além do que a sua obtenção é mais difícil, pois utiliza metanol. Neste trabalho se procurou utilizar biodiesel etílico devido à maior disponibilidade de etanol no Brasil e a sua não toxicidade. O produto desta reação (18) também apresentou excelentes valores de viscosidade e IV e não apresentou problemas de saponificação. A ausência de saponificação levou a se levantar mais uma hipótese: A hidroxila livre do ricinoleato de etila pode estar reagindo com o metilato de sódio, favorecendo a reação de saponificação, o que não ocorre no biodiesel de soja devido à ausência de hidroxilas livres. Assim como na reação n°24, também se realizou a hidrogenação do produto da reação n°18, em um reator Parr, com o objetivo de se aumentar a estabilidade à oxidação. Dissolveu-se o produto em acetato de etila para evitar solidificação e adicionou-se 200 mg de paládio como catalisador. Aplicou-se uma pressão de 50 psi. O produto sofreu uma solidificação quase imediata. 5.6. Reações com Outros Catalisadores Com base em dados da literatura, realizou-se duas reações adicionais com os seguintes catalisadores: NaOH e ácido p-toluenosulfônico. O NaOH é o catalisador mais barato e com maior disponibilidade, e está descrito na literatura para reações de esterificação e de transesterificação. Já o ácido p-toluenosulfônico apresentou bons resultados em alguns trabalhos (LÄMSA, 1995). Com estes catalisadores homogêneos foram realizadas 2 reações, descritas na Tabela 19. 69 Tabela 19: Reações realizadas com NaOH e ácido p-toluenosulfônico. Reação Razão Molar Nº (Ricinoleato de Catalisador Temperatura Pressão Tempo (°C) (horas) etila:TMP) 3 10,5:1 NaOH 160 0,01 bar 7 30 3,2:1 Ácido p-toluenosulfônico 120 0,01 bar 7 Os resultados destas reações em termos de propriedades físico-químicas e de conversão estão apresentados na Tabela 20. Tabela 20: Propriedades físico-químicas com NaOH e ácido p-toluenosulfônico Reação Viscosidade Viscosidade Nº 40°C (cSt) 100°C (cSt) 3 * * 30 29,97 4,740 IV Conver- Fluidez CL-400 IAT RPVOT Sn são (%) (ºC) (Min.) (mgKOH/g) (Min.) (ppm) * * * * * * * 100 52 -24 ** 0,23 - < 0,1 - Ensaios não realizados por quantidade insuficiente de amostra * O produto da reação nº3 se apresentou sólido. ** Equipamento com problema. Como nas reações com metilato de sódio, a reação n°3 também apresentou um produto sólido, decorrente de uma reação de saponificação. Já a reação n°30 se mostrou bastante promissora, com valores baixos de IAT e estanho. No entanto a conversão obtida foi relativamente baixa (52%), assim como o valor do IV. Estas propriedades podem ser otimizadas alterando-se tempo, temperatura e razão molar dos reagentes em reações posteriores. 70 6. CONCLUSÕES O presente trabalho consistiu na realização de uma série de reações de transesterificação entre ricinoleato de etila e trimetilolpropano (TMP), empregando-se quatro catalisadores: A resina Amberlyst 15 (heterogêneo), di-laurato de dibutilestanho, metilato de sódio e ácido p-toluenosulfônico (homogêneos). Os resultados obtidos com estas reações apontam para a viabilidade da obtenção do biolubrificante pela rota proposta, a qual consiste em uma metodologia inédita na literatura. A adoção de excesso de ricinoleato de etila ou de TMP contribui para o aumento do rendimento da reação de obtenção do biolubrificante, devendo a escolha, se baseada em aspectos econômicos, rec air sobre o excesso de ricinoleato de etila. A catálise química se mostrou não seletiva para as reações com ricinoleato de etila, devido à formação do dímero estolide através da hidroxila da molécula. Os catalisadores Liocat 119, Amberlyst e ácido p-toluenosulfônico se mostraram mais eficientes, obtendo-se produtos com melhores propriedades lubrificantes, e evitando a reação de saponificação, a qual foi observada nas reações com o catalisador metilato de sódio. O biodiesel de soja é mais compatível com o catalisador metilato de sódio, em função de não ter OH disponível em sua molécula. O estanho, presente no catalisador Liocat 119, deixa resíduos no produto final, contribuindo com o processo de oxidação do mesmo. A técnica de quimiluminescência para avaliação da estabilidade à oxidação dos ésteres se mostrou útil no desenvolvimento deste trabalho, com a vantagem de utilizar uma menor quantidade de amostra quando comparada à bomba rotatória. A obtenção do triacilpropano (biolubrificante) pela via química proposta, caracteriza-se por ser economicamente viável e tecnicamente simples de ser realizada. A reação 24, com o catalisador Liocat 119, gerou um produto que pode ser classificado como um biolubrificante em função das suas propriedades físico-químicas, restando ajustes no tocante à estabilidade à oxidação. Este é um processo que, com mais alguns ajustes em termos de variáveis, pode representar uma fonte confiável e econômica de obtenção de lubrificantes a partir de matérias primas renováveis. 71 7. RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS Como sugestões para trabalhos futuros, podem se destacar: 1. O catalisador a ser utilizado deve ser estudado detalhadamente, com o objetivo de se evitar reações paralelas indesejadas, como, por exemplo, a saponificação e a formação de dímeros. Existe uma extensa gama dos mesmos descritos na literatura para uso em reações similares, com outros óleos vegetais; 2. Estudo de técnicas para remoção dos resíduos de metais pesados (ex.: estanho) oriundos dos catalisadores presentes nos biolubrificantes; 3. Estudo da utilização de outros álcoois, como pentaeritritol e neopentilglicol, com o objetivo de se obter biolubrificantes com graus de viscosidade diferentes; 4. Estudo de aditivos antioxidantes biodegradáveis; 5. Elaboração de um estudo quimiométrico, através de planejamentos fatoriais, para, com base no apresentado nesta dissertação, estudar o efeito de cada variável, bem como suas interações, envolvida no processo. 6. Desenvolvimento e utilização de membranas de pervaporação para remoção do álcool formado nas reações de transesterificação, ao invés da tradicional aplicação de vácuo; 7. Utilização de catalisadores enzimáticos (lipases) para realização de reações de transesterificação entre Ricinoleato de etila e TMP; 8. Realização de testes de biodegradabilidade com os produtos obtidos. 72 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, F. R., LIMA, D. G., HAMÚ, E. H. et al., 2004, “Utilization of Metal Complexes as Catalysts in the Transesterification of Brazilian Vegetable Oils with Different Alcohols”, Journal of Molecular Catalysis A: Chemical, v. 209, pp. 29-33. ARAÚJO, M. A. S., CRAVO, M. C. C., 1999, Implantação do Quimiluminógrafo CL-400 no SELUB para Avaliação da Estabilidade à Oxidação de Óleos Lubrificantes, Petrobras/Cenpes/LPE. AZEVEDO, D. M. P., LIMA, E. F., 2001, O Agronegócio da Mamona no Brasil, 21ª ed., Brasília, Embrapa. BARTZ, W. J., 1998 “Lubricant and the Environment”, Tribology International, v. 31, pp. 35-47. BIROVÁ, A., PAVLOVICOVÁ, A., CVENGROS, J., 2002, “Lubricating Oils Base from Chemically Modified Vegetable Oils”, Journal of Synthetic Lubrication, v.18, n. 18-4, pp. 292-299. BONDIOLI, P., DELLA BELLA, L., MANGLAVITI, A., 2003, “Synthesis of Biolubricants with High Viscosity and High Oxidation Stability”, OCL, v. 10, pp. 150-154. 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ANEXO 1 Cromatogramas de HPLC da reação 24. 220,00 200,00 180,00 160,00 mV 140,00 120,00 100,00 80,00 60,00 40,00 20,00 0,00 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 Minutes 30,00 35,00 40,00 45,00 50,00 40,00 45,00 50,00 Reação 24 – 1 hora (Pico de Ricinoleato de etila) 160,00 140,00 120,00 mV 100,00 80,00 60,00 40,00 20,00 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 Minutes 30,00 35,00 Reação 24 – 7 horas (Pico de Ricinoleato de etila reduzido) 76 220,00 200,00 180,00 160,00 mV 140,00 120,00 100,00 80,00 60,00 40,00 20,00 0,00 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 Minutes 30,00 35,00 40,00 45,00 50,00 Gráfico comparativo da conversão por hora da reação 24 (Gráfico lilás – 5 horas). Com base na área dos picos destes cromatogramas, foram efetuados os cálculos das conversões do ricinoleato de etila na reação 24, a cada hora. Pode-se observar nos mesmos, uma redução na área (intensidade) dos picos relativos ao ricinoleato de etila (30:00 minutos) à medida que a reação avança. 77 10. ANEXO 2 Cromatograma de HPLC da reação N° 18. 500,00 450,00 400,00 350,00 mV 300,00 250,00 200,00 150,00 100,00 50,00 0,00 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 Minutes 30,00 35,00 40,00 45,00 50,00 Cromatograma comparativo da conversão por hora da reação 18 (Gráfico verde – ricinoleato de etila; Demais gráficos: Horas de reação). Observa-se neste cromatograma a redução da área do pico referente ao ricinoleato de etila (verde) à medida que a reação avança. 78 Livros Grátis ( http://www.livrosgratis.com.br ) Milhares de Livros para Download: Baixar livros de Administração Baixar livros de Agronomia Baixar livros de Arquitetura Baixar livros de Artes Baixar livros de Astronomia Baixar livros de Biologia Geral Baixar livros de Ciência da Computação Baixar livros de Ciência da Informação Baixar livros de Ciência Política Baixar livros de Ciências da Saúde Baixar livros de Comunicação Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE Baixar livros de Defesa civil Baixar livros de Direito Baixar livros de Direitos humanos Baixar livros de Economia Baixar livros de Economia Doméstica Baixar livros de Educação Baixar livros de Educação - Trânsito Baixar livros de Educação Física Baixar livros de Engenharia Aeroespacial Baixar livros de Farmácia Baixar livros de Filosofia Baixar livros de Física Baixar livros de Geociências Baixar livros de Geografia Baixar livros de História Baixar livros de Línguas Baixar livros de Literatura Baixar livros de Literatura de Cordel Baixar livros de Literatura Infantil Baixar livros de Matemática Baixar livros de Medicina Baixar livros de Medicina Veterinária Baixar livros de Meio Ambiente Baixar livros de Meteorologia Baixar Monografias e TCC Baixar livros Multidisciplinar Baixar livros de Música Baixar livros de Psicologia Baixar livros de Química Baixar livros de Saúde Coletiva Baixar livros de Serviço Social Baixar livros de Sociologia Baixar livros de Teologia Baixar livros de Trabalho Baixar livros de Turismo