METODOLOGIA PARA ANÁLISE E AJUSTE EM TEMPO REAL DA COORDENAÇÃO E SELETIVIDADE DE DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO EM SITUAÇÕES DE CONTINGÊNCIA [Leonardo Stöhlirck], [COPREL/UFSM], Fone+55 54 31995800, E-mail: [email protected] [Herton Naressi Azzolin], [COPREL], Fone +55 54 31995800, E-mail: [email protected] [Daniel Pinheiro Bernardon], [UFSM], Fone +55 55 32208792, E-mail: [email protected] Resumo O conceito de Smart Grid (SG) modificou a forma de operação e planejamento dos sistemas elétricos, incentivando a automação, a geração distribuída, entre outros. A partir desta nova concepção de sistema, propiciou-se uma série de aplicações com vistas à otimização da gestão dos ativos tanto em regime permanente como em situações de contingências. Particularmente, em contingência, destaca-se o restabelecimento automático de energia elétrica usando o conceito de Self Healing (SH), o qual explora os avanços tecnológicos. O SH só é válido com um sistema efetivo de comunicação e automação, disponibilizando informações confiáveis ao sistema de supervisão e controle da concessionária, possibilitando assim o restabelecimento de energia de forma rápida e minimizando a quantidade de consumidores atingidos por meio de transferências automáticas de carga. A maioria dos estudos está direcionada em analisar as manobras em termos de carregamento e níveis de tensão, não verificando a coordenação e seletividade da proteção nesta nova condição operativa. Neste sentido, este trabalho propõe uma metodologia para análise da coordenação e seletividade dos dispositivos de proteção em situações de contingência, realizando as parametrizações necessárias nos equipamentos automatizados em tempo real. Como estudos de casos, serão apresentadas análises em sistemas elétricos reais, com o intuito de analisar o sistema de proteção em situações de contingências, onde tiveram suas características topológicas e elétricas alteradas. No caso de manobras entre as redes elétricas, os valores da corrente de curto-circuito simétrica e assimétrica se alteram, bem como a impedância e a potência, podendo representar uma condição de não coordenação e seletividade dos equipamentos de proteção, fato que pode possibilitar a propagação de falhas e atuações indevidas. O estudo é baseado na topologia de redes de distribuição (RD) da permissionária Coprel Cooperativa de Energia, que está situada na região sul do Brasil. Propõe-se a utilização do método Heurístico através da Estratégia de Busca em Profundidade para análise das possibilidades de realimentação das cargas em caso de defeito, quanto à coordenação e seletividade dos dispositivos de proteção para essa nova configuração. Desta forma, a metodologia busca, através de determinada falha, definir os novos ajustes que poderão ser implementados, caso necessários, buscando garantir a coordenação e a seletividade a partir da nova configuração de rede. Com o resultado espera-se garantir a proteção e seletividade dos dispositivos através da do cálculo computacional em regime de contingência. Os novos ajustes fornecidos pelo cálculo possibilitarão de forma rápida e segura o atendimento ao maior número possível de consumidores. O grande benefício está relacionado a operação em tempo real do sistema possibilitando a parametrização dos ajustes da proteção mesmo em situações emergências, garantindo também, a coordenação e seletividade dos dispositivos na contingência do sistema. Os benefícios se somam também a recomposição automática de sistemas de distribuição no caso da ocorrência de algum defeito, através de equipamentos automatizados calculará automaticamente a melhor forma e a mais rápida de atendimento ao um determinado número de consumidores. Keywords – Smart Grid; Self Healing; Protection and Selectivity in power distribution 1. Introdução O sistema de distribuição de energia está sujeito a modificações momentâneas das grandezas elétricas. Considerando o incremento substancial da geração distribuída (GD) conectadas diretamente aos sistemas de distribuição, verifica-se de forma dinâmica, alterações no fluxo de corrente dos sistemas. Muitos estudos abordam as modificações no sistema elétrico considerando as alterações das grandezas como nível de tensão e corrente e as otimizações relacionadas a essas modificações. O estudo apresentado neste trabalho busca uma metodologia para a análise e tomada de decisão quando ocorre a modificação na configuração da rede de distribuição sob a ótica da proteção e seletividade do sistema. Busca-se através desta metodologia identificar e sugerir novos parâmetros relacionados a proteção do sistema em caso de contingência, ou seja, no caso da necessidade de uma reconfiguração topológica do sistema de distribuição, verificar se os ajustes protetivos e protetores estão coordenados e seletivos para essa nova topologia. A otimização do sistema topológico não será objeto direto deste estudo, embora o mesmo é considerado para o cálculo do fluxo de potência e análises elétricas necessárias. No caso deste trabalho, através do método Heurístico de busca em profundidade seleciona-se as melhores opções de ajustes dos equipamentos Disjuntores, Religadores e Chaves Fusíveis, de modo que se consiga atender os requisitos da coordenação e seletividade entre os equipamentos de proteção. A sugestão da nova parametrização dos valores relativos as proteções são identificadas a partir da carga a ser manobrada na contingência e a partir do novo nível de curto circuito calculado pelo novo fluxo de potência em função da alteração topológica da RD. Como estudo de caso, será analisada uma região piloto com dados reais da permissionária de energia elétrica COPREL – Cooperativa de Energia, localizada no Sul do Brasil. Os alimentadores da cooperativa atendem basicamente regiões da área rural e ficam susceptíveis a maior quantidade de defeitos. Muitos investimentos da empresa foram direcionados a interligações de alimentadores e circuitos, bem como no reforço dos troncos alimentadores. Nesse sentido, com a utilização de equipamentos automáticos para manobra a permissionária busca sempre o atendimento a determinada falha o mais rápido possível. Aplicando-se juntamente com o reestabelecimento do sistema elétrico, o presente trabalho busca dar suporte as manobras realizadas quanto a certificação coordenada e seletiva dos equipamentos interligados na contingência. 2.Dispositivos de Proteção em Redes de Distribuição Os equipamentos comumente utilizados para realizar a proteção dos sistemas elétricos de distribuição são as chaves fusíveis, religadores e relés digitais (esse normalmente utilizado na saída de Alimentadores). As chaves fusíveis (Figura 1) são os dispositivos mais utilizados nas RD, pois possuem um desempenho satisfatório, um baixo custo de instalação, no entanto não possuem sistema de comunicação e sua manutenção é alta em função do deslocamento ou mobilização de uma equipe para rearmar a chave em caso de um defeito. O elemento protetivo instalado na chave é conhecido como elo fusível e o mesmo é composto por um filamento metálico com a característica de fusão em caso de sobrecarga ou curto-circuito. Os elos fusíveis podem ser classificados em preferencias e não-preferencias e a sua ligação em serie só pode ser estabelecida com os elos de mesma categoria, ou seja, preferenciais só são coordenados entre si e não-preferenciais também só estabelecem coordenação entre si. Normalmente são utilizados os elos preferenciais sendo que os mesmos ainda podem ser classificados ainda em 3 tipos, de acordo com a sensibilidade de fusão do material, são classificados tipo H, K e T. Em sistemas de distribuição de energia normalmente são usados os elos tipo H para proteção de equipamentos transformadores e do tipo K para proteção da rede elétrica aérea de distribuição (condutores). Esse trabalho está mais direcionado a proteção dos sistemas de distribuição avaliam então a coordenação e seletividade entre os elos tipo H e K com os equipamentos religadores e relés digitais. No entanto, os elos fusíveis possuem ainda uma importante desvantagem, considerando a proteção dos sistemas elétricos e o seu reestabelecimento em caso de defeito. Esses dispositivos não fazem distinção de defeitos transitórios e permanentes, logo, para sistemas de distribuição de energia, estatisticamente sabe-se que a maioria dos curtos circuitos são causas típicas transitórias, como por exemplo: - Vegetação/galhos que tocam nos condutores; - Animais e pássaros que sobem ou encostam nas estruturas e condutores; - Materiais/objetos condutores que são arremessados na rede; - Descargas atmosféricas ou surtos de manobras que provocam disrupção nos isoladores; - Outras causas. Terminal Fonte Terminal Fixação Gancho para abertura Porta Fusível Base Isolador Porcelana Terminal Carga Articulação Figura 1: Exemplo de chave fusível com descrição das peças e funções; Com a evolução dos sistemas, surgem os religadores automáticos, que possuem a sensibilidade de identificar defeitos transitórios e permanentes (Figura 2). Os equipamentos religadores são dispositivos automáticos capazes de interromper circuitos, o mesmo abre e fecha seus contatos repetidas vezes na ocorrência de uma falha ou defeito no sistema por ele protegido. Logo, o mesmo pode ser programado para quando detecta uma sobrecorrente ou curto-circuito, abrir e fechar o circuito determinado número de vezes, se ao final desta sequência determinada de abertura e fechamento o problema persistir os contatos ficarão abertos e travados. Normalmente o equipamento é programado para a abertura/fechamento em uma sequência de três vezes consecutivas. Existem algumas sequencias predeterminadas que podem ser configuradas no equipamento, elas variam entre atuações rápidas e retardadas e podem apenas conter uma destas atuações. A sequência ou a utilização da combinação destas atuações é normalmente definida em função da filosofia de proteção do sistema adotado por cada empresa. A maioria dos religadores estão parametrizados para realizar as funções de proteção, conforme a tabela ANSI 50 (relé de sobrecorrente instantânea), 51 (relé de sobrecorrente temporizada) e 79 (relé de religamento). Figura 2: Exemplo de instalação de Religador em poste de RD da permissionária COPREL; Os disjuntores e relés, são normalmente utilizados na saída de alimentadores em subestações rebaixadoras de tensão. Trata-se de um dispositivo mais oneroso para a empresa, mais oferece uma gama maior de opções de funções de proteção para os circuitos de distribuição. Normalmente possui também uma confiabilidade maior e por estar na maioria dos casos em áreas internas representa baixa manutenção para a distribuidora. Os primeiros relés utilizados eram dispositivos eletromecânicos que eram construídos de forma que acoplamentos elétricos e magnéticos do seu núcleo realizavam a abertura e fechamento de circuitos. Com o avanço da tecnologia e a necessidade de expansão dos sistemas de potência e com a evolução dos sistemas digitais e computadorizados surgem os reles digitais, onde o relé é gerenciado por um microprocessador controlado por um software e algoritmos apropriados a função de proteção que o mesmo seja designado a proteger. Afim de atenuar ou eliminar as perturbações nos sistemas, os equipamentos e o esquema de proteção deve assegurar a continuidade de atendimento as cargas ditas como sadias, eliminar os defeitos resguardando os equipamentos e instalações das redes elétricas (CAMINHA). 3.Coordenação e Seletividade de Dispositivos de Proteção A coordenação pode ser definida pela instalação de dois equipamentos em série e de acordo com certa ordem pré-estabelecida, possam operar na ocorrência de um defeito. Já a seletividade é a especificação da proteção em que se possa desconectar somente o trecho do sistema defeituoso, independentemente de ser um defeito transitório ou permanente. Nem todas os sistemas coordenados são seletivos. Conforme MAMEDE FILHO E MAMEDE, a Figura 3 apresenta um exemplo do ajuste das curvas de coordenação entre a subestação, religador e elo fusível. Existe uma faixa que as curvas estão coordenadas, essa faixa obrigatoriamente deve contemplar os níveis de curto-circuito mínimo e máximo do circuito que está se analisando. 1 2 3 4 5 – Curva de Operação rápida do religador; – Curva de operação rápida do religador corrigida pelo fator k; – Curva de operação retardada do religador; – Curva de tempo mínimo de fusão do elo fusível; – Curva de tempo máximo de interrupção do elo fusível. Figura 3: Exemplo de coordenação entre a subestação, religador e elo fusível de curva k; Fonte: Adaptado de Mamede Filho e Mamede (2011) 4. Reconfiguração de Redes Considerando a reconfiguração da RD pode-se afirmar que as mesmas possuem características particulares, peculiares de cada circuito. As características se modificam em função da configuração do sistema, configuração predominantemente radial e com várias bifurcações ou diferentes ramais, diferentes composições de carga e carregamentos de circuitos. Todos esses itens devem ser analisados no caso de uma reconfiguração do sistema (BERNARDON). A reconfiguração de uma RD ou a alteração da sua topologia inicial pode ser modificada em função da abertura e fechamento de dispositivos de manobra, originada por um defeito, por manobras na RD para manutenções e até em alguns casos em função de sobrecarga no sistema. A partir da reconfiguração necessária em um circuito em uma condição de contingência, é desejável que a solução seja identificada rapidamente, objetivando também se restringir a menor área desenergizada possível ou atingir o menor número de consumidores possível. Logo, nessa condição podem ser adotados alguns passos e ações que devem ser tomadas: - Identificação do local de defeito; - Realização das manobras para isolar a menor área possível do circuito que atinja a menor quantidade possível de consumidores ou de carga; - Realização de manobras para o restabelecimento dos consumidores desligados que estão geograficamente a montante e a jusante do bloco isolado; - Correção do problema; - Realização de manobras para o retorno ao estado normal do sistema de distribuição. Com essa condição de defeito e com o sistema em contingência é que se tornam sempre mais viáveis o emprego de tecnologias de automação e controle e a instalação de um maior número de chaves ou religadores telecomandados para que desta forma, possa se ter mais opções de manobra e consequentemente o atendimento a uma gama maior de consumidores e de carga em uma situação de defeito. A reconfiguração da RD pode ser tratada como um problema de otimização, ou seja, se existir possibilidade, pode-se ter várias configurações ou opções de atendimento a blocos de cargas. Nessa otimização busca-se sempre a solução que apresente melhor desempenho. Todavia nem sempre é analisado a coordenação e seletividade dos circuitos na nova configuração topológica adotada. A solução de atendimento ou da reconfiguração avaliada através do fluxo de potência, é baseada nas análises técnicas de capacidade do circuito, carregamento dos alimentadores, perdas de energia e níveis de tensão. Deve estar atrelado a essa análise, a verificação dos ajustes da proteção e os valores de curto circuito mínimo e máximo dos circuitos. É sabido que em caso de uma contingência as grandezas relacionadas a coordenação dos equipamentos protetores e protegidos se modifica e pode se tornar não coordenados e não seletivos em determinadas situações. Nesse sentido, a metodologia proposta busca dar suporte, através da análise das grandezas elétricas aferidas no momento da contingência, sugerir ou não novos ajustes para a correta proteção dos circuitos, ou seja, em caso de uma contingência avaliar se os ajustes parametrizados para a topologia inicial estão ainda coordenados e seletivos, garantindo assim a correta proteção de um circuito no regime da contingência. Com o objetivo de sempre diminuir o tempo da falta de energia, a reconfiguração e a implementação dos novos ajustes protetivos podem ser parametrizados através da comunicação remota aos equipamentos religadores. 4.1 Self Healing Somado ao emprego de tecnologias de comunicação para o comando a distância dos equipamentos de manobra, podem ser empregados os conceitos de Self Healing (SH), que tornam as Redes Elétricas Inteligentes. O emprego da tecnologia de SH identifica e reestabelece de forma automática o sistema em caso de um defeito ou falha. Com essa tecnologia aplica-se todos os passos realizados de forma manual para o isolamento do defeito e restabelecimento do sistema elétrico aos trechos sadios do sistema. A vantagem da utilização é o menor tempo de restabelecimento da energia e a ação confiável na realização de manobras automáticas. As técnicas de SH se somadas a particularidade de cada sistema, ou de cada concessionária, podem potencializar a confiabilidade e os benefícios da utilização desta tecnologia. Somado ao uso de técnicas de SH o presente trabalho busca a implementação de uma metodologia que identifique e sugira ajustes automáticos ao sistema de proteção e seletividade do circuito em caso de contingência. 5. Técnica para Análise da Coordenação e Seletividade da Proteção em Situações de Contingência Na análise da coordenação e seletividade de determinado sistema aborda-se as especificações técnicas mínimas e a filosofia de proteção adotada, esta última depende muito de cada empresa, mas sempre convergem para um único objetivo: manter o sistema operante, coordenado e seletivo para que em caso de um defeito este possa ser eliminado o mais breve possível e que também possa atingir o menor número de consumidores. Os estudos direcionados a proteção de um circuito deve ser periodicamente revistos e ajustados, considerando aspectos como o crescimento da carga, construção de novos empreendimentos (subestações e alimentadores), extensões e reconfigurações de redes, melhorias no sistema de proteção, solicitações de outros agentes (distribuidoras ou transmissoras) entre outras especificações ou critérios definidos pela distribuidora. Especificamente para o caso de contingência, analisando-se a manobra ou transferência de blocos de carga sob a ótica da proteção e seletividade, é necessário a avaliação e a sugestão de novos parâmetros para garantir o perfeito funcionamento das RD. No estudo de coordenação e seletividade da proteção é definido os tempos de operçaõ dos equipamentos no sistema. Cada equipamento do sistema de proteção possui sua característica Tempo x Corrente que é melhor ilustrada nos coordenogramas. Através da curva parametrizada no coordenograma é onde pode-se comprovar se um ou mais equipamentos estão coordenados e seletivos para determinado valor de curto circuito. A análise é baseada no valor do curto-circuito trifásico para a verificação do ajuste da proteção de fase e o curto circuito fase-terra mínimo para o ajuste da proteção de neutro (ou proteção de terra). O mínimo valor de curto-circuito é obtido no final da zona de proteção do equipamento em estudo. Para que se possa garantir os princípios básicos da coordenação as faltas transitórias devem ser eliminadas no menor tempo possível com a operação de desligamento e posterior religamento do circuito, já as faltas permanentes devem ficar restritas ao menor trecho possível. O princípio da seletividade considera que o equipamento de proteção mais próximo da falta deve operar/seccionar o circuito o mais rápido possível antes do equipamento de retaguarda, por exemplo, o religador instalado em algum ramal da RD deve operar antes do conjunto relédisjuntor da subestação. Esse conceito da seletividade é aplicado tanto para faltas permanentes quanto para faltas transitórias. 5.1 Definição do Problema O problema identificado para propor a metodologia deste trabalho, vem das ocorrências de defeitos nas RD nos casos que existe a possibilidade de realimentação ou de atendimento a determinados blocos de cara por outra subestação ou outro alimentador interligando parte do sistema sadio da rede que apresentou defeito. Considerando o sistema ilustrado na Figura 4, identifica-se um trecho de um sistema de distribuição com a interligação de dois alimentadores partindo de subestações distintas. É um exemplo típico de uma RD em que os circuitos operam de forma radial, mas possuem a possibilidade de realimentação por ambas as subestações e dependendo da contingência podem ter suas cargas atendidas por outro sistema. A configuração topológica apresentada é caracterizada pelo Religador (RL 2) operando em regime normalmente aberto, se tornando apenas uma chave seccionalizadora do circuito existente, mas que possibilita manobra da carga em caso de contingência e pode vir a operar de modo protetivo do circuito por este equipamento atendido. Figura 4: Unifilar da RD em regime normal de operação analisado no desenvolvimento da metodologia; Na ocorrência de um defeito, conforme ilustrado na Figura 5, as cargas B e C podem ser remanejadas do AL SMT para o AL PFU1. As manobras necessárias iniciam pela abertura do RL1 e manobra de fechamento do RL2, alterando, desta forma, a topologia e o fluxo de corrente no sistema troncal destes dois alimentadores, visando atender as cargas B e C na ocorrência de um defeito entre o DJ 1 e o RL1. Na maioria dos casos a manobra é realizada visando sempre o atendimento ao maior número de consumidores e carga possível. Mas nem sempre o ajuste do sistema de proteção é considerado para a realização da manobra. Figura 5: Unifilar da RD com a topologia em regime de contingência; Além do atendimento ou remanejamento da carga para um circuito sadio sem defeito, é necessário a verificação dos ajustes protetivos para essa nova configuração em contingência. Desta forma, pode-se exemplificar, através dos coordenogramas demonstrado na Figura 6a as curvas do ajuste de fase dos RLs 1 e 4 coordenadas (operando sob regime normal) e a após as manobra devido a contingência, na Figura 6b, as curvas do RL4 (curva cor verde) com o RL2 (curva cor azul escuro) sem coordenação. Figura 6b Figura 6a Figura 6: Detalhe do ajuste das curvas de fase dos Religadores em Regime Normal de Operação (Figura 6a) e em Regime de Contingência (Figura 6b); 5.2 Funções Objetivo e Restrições A escolha do melhor ajuste, considera as condições técnicas e as restrições para desta forma garantir a coordenação e seletividade no caso de contingência do sistema. O tempo adotado, de acordo com a filosofia de várias distribuidoras, para garantir a coordenação e seletividade em um intervalo mínimo entre as curvas é de 200ms. Logo, é necessário garantir entre as curvas dos dispositivos religadores, relés e dos elos fusíveis um distanciamento mínimo de 200ms entre as curvas selecionadas. Em resumo podem ser enumeradas as seguintes condições que devem ser satisfeitas para atender a função objetivo do problema: - Ajuste da corrente não poderá ser maior que a capacidade dos equipamentos e condutores; - Não poderá ocorrer atuação da proteção por sobrecarga; - Nível de curto circuito ponto a ser analisado; - Tempo de atuação entre os dispositivos a ser analisado deverá ser maior ou igual a 200ms; - Atender os níveis de curto circuito mínimo; Portanto, a análise que o trabalho busca é garantir a coordenação e seletividade entre os vários dispositivos nas condições de contingência, ou no caso da alteração topológica das RD no caso de um defeito. Para que exista seletividade entre elos fusíveis é necessário que o elo protetor tenha o tempo mínimo de fusão inferior a 33% do elo protegido, considerando a máxima corrente de curtocircuito no local de instalação do fusível protetor. A fórmula que descreve essa condição pode ser representada pela equação 1: 𝑇𝑚á𝑥 ≤ 𝑇𝑚í𝑛 ∗ 0,75 Onde: 𝑇𝑚á𝑥 – tempo máximo de fusão do elo (s); (1) 𝑇𝑚𝑖𝑛 – tempo mínimo de fusão do elo (s); A equação 1 pode ser representada pela Tabela 1, onde identifica-se o limite das correntes máximas de curto-circuito admitidas para que haja seletividade entre os elos fusíveis protetores e protegidos. Tabela 1: Coordenação entre os elos de acordo com a corrente máxima de curto-circuito; Elo Fusível Protetor 06k 10k 15k 25k 40k 65k 10k 190A Elo Fusível Protegido 25k 40k 65k 840A 1340A 2200A 840A 1340A 2200A 430A 1340A 2200A 660A 2200A 1100A 15k 510A 300A 100k 3900A 3900A 3900A 3900A 3900A 2400A 140k 5800A 5800A 5800A 5800A 5800A 5800A Dependendo da filosofia de proteção, os equipamentos religadores podem ser ajustados para proteção instantâneas (função 50 – fase e 50N – neutro) e proteções temporizadas (função 51 – fase e 51N – neutro). Função 51 - Temporizada de Fase O ajuste mínimo é em função da corrente de carga máxima do sistema local. Podem ser aplicados fatores de sobrecarga, desde que não ultrapassem os valores de corrente nominal dos condutores por exemplo. É necessário observar também, a menor corrente de curto-circuito fase-fase calculada para o final da zona de proteção. O último critério diz respeito a corrente nominal dos TC’s, considerando seu fator térmico. Matematicamente pode-se representar esse ajuste pela equação 2 e 3 a seguir: 1,5∗𝐼 𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎_𝑚á𝑥 𝑅𝑇𝐶 ≤ 𝐼 𝐹𝑎𝑠𝑒 51 < 𝐼𝑐𝑐_𝑓𝑓 (2) 𝑅𝑇𝐶 𝐼𝑝 𝑇𝐶 ∗ 𝐹𝑎𝑡𝑜𝑟 𝑇é𝑟𝑚𝑖𝑐𝑜 ≥ 𝐼 𝐹𝑎𝑠𝑒 51 (3) Onde: Icc ff – Menor corrente simétrica de curto fase-fase na zona de proteção do equipamento; Ip TC – Corrente nominal primária do TC de proteção que deve ser multiplicada pelo seu fator térmico. Função 51N - Temporizada de Neutro O ajuste mínimo deve ser superior a 0,2 vezes a corrente de carga do alimentador e inferior a menor corrente de curto-circuito fase-terra mínimo (dividida por 1,5) no final da zona de proteção do equipamento. 0,2∗𝐼 𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑅𝑇𝐶 ≤ 𝐼 𝑁𝑒𝑢𝑡𝑟𝑜 51𝑁 < 𝐼𝑐𝑐𝑓𝑡 𝑚í𝑛𝑖𝑚𝑜 1,5∗𝑅𝑇𝐶 (4) Onde: Icc ft mínimo – Menor corrente simétrica de curto fase-terra na zona de proteção do equipamento; 5.3 Técnica de Busca A metodologia para implementação do objetivo utilizou-se do método Heurístico através da busca em profundidade. Os métodos de Busca Heurística são baseados em um processo de busca de percurso, a partir de um estado inicial, objetivando-se alcançar um novo estado otimizado. Podese também a partir de um estado final percorrer o estado anterior e assim sucessivamente, analisando cada estado da otimização. Esse método possui inúmeras técnicas, muitas sendo provenientes de outras. A técnica utilizada pode ser definida, conforme KAGAN [1], na Busca em Profundidade (depth-first search). Ou melhor, considerando um nó raiz (estado inicial), a cada nível é gerado um único nó sucessor. No processo de Busca Heurística com base no estado inicial do problema a ser analisado, a técnica de busca selecionada vai modificar sucessivamente o estado do problema em direção à solução almejada. Enumera-se a utilização de três estratégias para a busca selecionada, que seguem: Estratégia Construtiva, Estratégia Destrutiva e Estratégia do tipo troca de ramos (branch-exchange) [KAGAN]. Na busca em profundidade, para obtenção da melhor opção de parametrização dos ajustes, iniciou-se do menor elo fusível em direção contrária do fluxo de corrente até a Subestação. A regra seguida foi baseada nas condições e restrições exemplificadas anteriormente. Os critérios das análises, foram balizados através da busca a melhor condição de ajuste, analisando a cada passo dois equipamentos protetivos, conforme os conceitos de elo protegido e elo protetor. De acordo com a Figura 7, primeiramente analisa-se a curva do elo protetor de 15k (ramal que atende a carga D) com a curva parametrizada no Religador RL3. Havendo coordenação e seletividade entre esses, analisa-se a curva ajustada para o RL3 com a curva do DJ2. Desta forma, sucessivamente são analisadas todas as proteções do circuito em questão para a situação da contingência. Figura 7: Detalhe das zonas de proteção dos equipamentos Fuível, Religadores e Disjuntor; Para o presente estudo simulou-se as reconfigurações da RD a partir de um determinado defeito com o software SINAP®, licenciado para distribuidora Coprel – Cooperativa de Energia, então através da busca em profundidade, definiu-se a melhor alternativa de parametrização dos ajustes relativo a proteção e seletividade no caso da contingência. A nova parametrização é sugerida em função das alterações topológicas da RD e da carga atendida naquele instante da contingência. O estudo busca uma solução rápida e imediata ao momento operativo do defeito ou contingência do sistema. Todavia nem sempre é necessário a alteração dos ajustes, a metodologia busca analisar e sugerir a alteração do ajuste sempre que for necessário e ocorrer violação das condições e restrições. 6. Estudo de caso apresentado para o problema proposto O estudo de caso é aplicado a partir do momento que já se realizou as manobras necessárias sempre buscando o atendimento da maior carga possível, ou o atendimento a maior quantidade de cargas elétricas sadias possíveis. O reestabelecimento do sistema é analisado e executado por especialista da área de operação do sistema a partir do conhecimento/experiência do sistema e pelas tentativas de energização pré-estabelecidas por um plano de manobras. Na sequência é que se realiza a reconfiguração do restante do sistema. Para aplicação da metodologia proposta apresenta-se a seguir o sistema de distribuição de energia da cooperativa COPREL para a região do município de Passo Fundo (Figura 8). Neste sistema existem 6 alimentadores atendidos na tensão de 13.800 Volts que são alimentados a partir de 3 subestações elétricas. Os alimentadores estão dispostos ao longo dos municípios conforme destacado na Figura 7 e existe a possibilidade de manobra entre os alimentadores pela rede elétrica de distribuição. Os equipamentos religadores e subestações são completamente automatizados e facilitam a realização de manobras e atendimento a circuitos em caso de defeito em determinados locais do sistema de distribuição. Figura 8: Disposição topológica dos alimentadores em situação normal de operação; Após essa etapa o trabalho busca através do cálculo fluxo de potência, considerando a reconfiguração topológica do sistema, nortear a nova parametrização de ajustes dos relés e religadores e/ou alteração dos elos fusíveis, em função da contingência. Os ajustes sugeridos observam as restrições já abordadas, carregamento circuito, distanciamento das curvas temporizadas e nível de curto circuito no ponto analisado. O nível de curto circuito foi calculado pelo software SINAP® e a identificação de um ponto específico do alimentador manobrado está exemplificado na Figura 9, observa-se em comparação com o nível de curto-circuito nesse mesmo local com a configuração inicial, ou com o alimentador em condições normais de operação, que os valores de nível de curto se modificam impactando diretamente na coordenação dos dispositivos de proteção dispostos até esse ponto (Figura 3). Desta forma, verifica-se a necessidade de alteração dos ajustes do dispositivo que está a montante deste ponto com a nova configuração dos alimentadores em função do defeito simulado. O Ajuste da curva sugerido para essa nova configuração prevê a correta coordenação entre os dispositivos para a situação de contingência. Figura 9: Nível de curto circuito em função da manobra da carga na situação de uma contingência; Para parametrização dos novos valores de curvas, utilizou-se das curvas de tempo mínimo de fusão e tempo máximo de interrupção do elo fusível e de um conjunto de curvas pré-estabelecidas para ajuste dos equipamentos religadores. A Figura 10 é um exemplo dos dados utilizados nas simulações para parametrização dos novos ajustes. Curvas Ajustes Elos - Religadores - Relés 1000 Curva Mínima 40k Curva Máxima 40k Curva Mínima 15k Curva Máxima 15k 100 Curva Mínima 25k Curva Máxima 25k Curva Mínima 10k Curva Máxima 10k Curva Mínima 6k 10 Tempo (s) Curva Máxima 6k CURVA C - kF50 CURVA C - kF70 CURVA C - kF100 1 0,1 0,01 1 10 100 1000 10000 100000 Corrente (A) Figura 10: Curvas de ajustes de elo fusível com exemplo de uma curva temporizada de Religador; A parametrização dos novos ajustes é realizado em conformidade aos requisitos estabelecidos e havendo a necessidade de alteração do ajuste esse ajuste é implementado no equipamento correspondente. No caso do estudo analisado no sistema elétrico de distribuição do município de Passo Fundo e municípios vizinhos, houve a necessidade de adequação da curva do ajuste de fase para atendimento a carga manobrada. Nesta situação a necessidade ocorreu em virtude do montante de carga atendida pelo alimentador na contingência. Esse equipamento religador estava em uma condição de proteção de um tronco alimentador e na contingência passou a fazer parte integrante de um novo trecho de rede dita como troncal no sistema de distribuição, por assumir uma carga maior que o ajuste estabelecido em sua configuração em operação em regime normal. A Figura 11 detalha a curva em azul claro que foi alterada para atender a especificação técnica do distanciamento de tempo entre a curva do ajuste de fase do Religador (azul claro) e a curva do ajuste de fase do Relé de saída do Alimentador (curva na cor laranja), para o novo nível de curto circuito calculado pelo fluxo de potência no regime de contingência. Figura 6: Detalhe do ajuste da curva de fase parametrizada no Religador em regime de contingência; 4. Considerações Finais O trabalho buscou demonstrar que em caso de uma alteração nas RD o sistema de proteção e seletividade dos circuitos pode ficar vulnerável, tendo em vista as alterações na configuração ou na topologia do sistema elétrico como um todo. A operação dinâmica e a tendência de se formar um sistema elétrico de distribuição mais maleável e sujeito a modificações instantâneas pode contribuir para a propagação de atuações indevidas do sistema de proteção. A conexão de unidades geradoras de energia diretamente ao sistema de distribuição, conhecidas como geração distribuída também contribui para a modificação dos circuitos e do fluxo de potência localizados. Aliado a novas topologias, a tendência da distribuição de energia segue no sentido das inovações tecnológicas dos sistemas, como é o caso do Self Healing. Aplicando as técnicas de SH e buscando as inovações de adequações do sistema de distribuição pode-se conciliar a melhoria do sistema como um todo. Além do SH contribuir para a identificação e isolamento imediato dos defeitos localizados, aplicando-se as técnicas apresentadas neste trabalho, com relação a proteção e seletividade, pode-se contribuir ainda mais para a melhoria dos indicadores de qualidade e confiabilidade dos sistemas de distribuição de energia. A análise realizada pelo estudo de caso demonstrado salienta a necessidade de rever os parâmetros relacionados a proteção e seletividade das RD em caso de uma contingência, ou ocorrência de um defeito. O trabalho busca identificar possíveis pontos frágeis dos ajustes implementados sob um regime normal de operação do sistema, no caso de uma contingência ou manobra de carga. A necessidade de alteração da parametrização da proteção é evidente em caso de incremento da carga elétrica atendida pelo novo circuito formado. Muitas vezes, nas condições de manobras esses equipamentos ficam com os ajustes protetivos excluídos para não ocorrer nenhuma falta por sobrecarga no equipamento, no entanto, isso pode ocasionar ou propagar um possível defeito nos circuitos a montante e interromper o atendimento de energia a um considerável número de consumidores ou de carga. A pesquisa está e sua fase inicial e os trabalhos futuros do estudo buscam a implementação da metodologia no sistema de operação em tempo real. Ainda, a automatização dos processos será aperfeiçoada para aplicação diretamente no sistema operacional de uma distribuidora de energia. Agradecimentos Gostaríamos de agradecer pelo suporte técnico e financeiro à permissionária COPREL, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Referencias KAGAN, N., SCHMIDT, H. P., OLIVEIRA C. C. B. and KAGAN, H. (2009). Metodos de otimização aplicados a sistemas elétricos de potência. São Paulo: Edgard Blucher Ltda, 2009. SOFTWARE SINAP® - Análise Integrada de Redes AT/MT/BT. Software licenciado para a empresa COPREL – Cooperativa de Energia. FILHO, JOÃO MAMEDE; MAMEDE, DANIEL. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência. 2011. CAMINHA, A. C.. Introdução à Proteção dos Sistemas Elétricos. São Paulo: Edgard Blücher, 1977. BERNARDON, D. P. [et al.]. Sistemas de distribuição no contexto das redes elétricas inteligentes: uma abordagem para reconfiguração de redes. Santa Maria: AGEPOC, 2015.