O céu de Agosto (Expresso: 08-08-1998) É o mês da chuva de estrelas das perseidas. E é também o mês que convida à observação de Júpiter, Saturno e Urano. É JÁ na semana que entra que se pode observar a mais famosa chuva de estrelas do ano. É então que a Terra passa pelas poeiras deixadas pelo cometa SwiftTuttle. São essas poeiras, os chamados meteoritos, que nos costumam oferecer um dos melhores espectáculos das noites de Verão: a chuva das perseidas. As chuvas de estrelas costumam receber o seu nome a partir da constelação de onde parecem radiar. Ora as perseidas parecem ter origem num ponto situado na constelação de Perseu. É aí que se situa o chamado «ponto radiante», de onde as estrelas cadentes parecem partir, dispersando-se depois pelos céus. Ao entrarem na atmosfera, os meteoritos colidem com as moléculas do ar, ionizam-nas, isto é, electrificam-nas e produzem um elevado calor friccional. O que resulta disto é a vaporização das poeiras e um rasto de luz provocado pela energia libertada. É esse rasto luminoso que se designa por meteoro. Os meteoros riscam os céus a uma altitude de cerca de uma centena de quilómetros e à espantosa velocidade de uns 60 quilómetros por segundo. Os rastos não costumam durar mais do que uma fracção de segundo e têm uma luminosidade relativamente fraca. É preciso estar atento para observar estas estrelas cadentes. Ao contrário do que possa parecer, fotografar uma estrela cadente não é difícil. Basta apoiar solidamente num tripé uma máquina fotográfica e apontá-la para o céu em exposições prolongadas. O segredo está em utilizar um filme relativamente rápido e em estudar os tempos de exposição. Em céus bem negros podem-se fazer exposições muito prolongadas, de dezenas e dezenas de minutos, mas em céus poluídos pela iluminação citadina, iluminados pela Lua, alaranjados pela humidade ou pela poluição atmosférica, as exposições terão de ser muito menos prolongadas. Poucos minutos bastam então para obter fotografias sobrexpostas, em que tudo se dissolve numa mancha esbranquiçada. Como os tempos de exposição dependem dos céus em que se tira a fotografia, não se podem dar indicações genéricas. Nada melhor do que fazer várias tentativas em noites anteriores e tomar nota dos tempos. Depois, é apontar a máquina para um pouco acima do ponto radiante e confiar na sorte. A constelação em que tal ponto se localiza, Perseu, é agora fácil de localizar. No céu da meia-noite encontra-se a nordeste, por debaixo da Cassiopeia, a constelação em forma de W. Mas mesmo que se tenha dificuldade em localizar Perseu, que ao princípio da noite se encontra muito perto do horizonte, basta olhar para cima do horizonte de nordeste para se poder observar as estrelas cadentes. Este ano, em que a chuva de estrelas deverá atingir o seu máximo na noite de 12 para 13 (de quarta para quinta-feira da semana que entra), terá de se começar cedo, pois pelas 11h30 já a Lua aparece acima do horizonte leste, relativamente perto do radiante e ofuscando-nos a visão. Se o máximo se deverá observar na noite de 12 para 13, altura em que é possível que as estrelas cadentes surjam a um ritmo superior a uma por minuto, a chuva das perseidas costuma iniciar-se muito antes, prolongando-se por algum tempo. Esta noite já se deverão ver meteoros, embora esporádicos, e na semana seguinte ainda se deverão observar estrelas cadentes vindas de Perseu. Os céus deste Agosto têm muitos outros atractivos. Alguns dos planetas reaparecem agora ao princípio da noite, depois de andarem meio escondidos durante vários meses. Júpiter, por exemplo, surge pelas 22h30 acima do horizonte leste, impossível de ignorar entre as estrelas muito menos brilhantes da constelação Peixes. Até perto da madrugada, quando Vénus reaparece, será o ponto de luz mais luminoso dos céus, apenas ultrapassado em brilho pela Lua. Olhando para Júpiter, basta um pequeno telescópio ou mesmo binóculos solidamente apoiados para se notarem quatro pontos de luz que cercam o planeta gigante. São as suas quatro luas, descobertas por Galileu em 1610. O que primeiro chama a atenção nesses pontos de luz é que se encontram alinhados em torno do mesmo plano - o plano de rotação. Esse plano quase coincide com o plano da eclíptica, em que a Terra se move em torno do Sol e do qual pouco se afasta a maioria dos planetas e dos seus satélites. De noite para noite, as luas galileanas oferecem um espectáculo sempre renovado. De facto, os satélites de Júpiter mudam incessantemente de posição, bastando um intervalo de algumas horas para se notarem mudanças significativas. Por vezes, um dos satélites desaparece de vista, passa pela frente de Júpiter, em trânsito, ou oculta-se por detrás do planeta, em eclipse. Noutras alturas, dois ou mais dos satélites desaparecem simultaneamente. Perseguindo Júpiter no movimento de leste para oeste aparece Saturno. A maior atracção deste planeta é, evidentemente, a cintura de poeiras e pedregulhos que o cerca os famosos anéis. De binóculos, nota-se que o planeta tem uma forma alongada, ao contrário de Júpiter, que se revela como um disco perfeito. Visto de telescópio, mesmo modesto, Saturno revela os seus anéis, que agora se encontram amplamente inclinados para nós, aumentando a luminosidade que o planeta nos oferece. Vénus e Marte aparecem agora pela madrugada. E Mercúrio encontra-se demasiado perto do Sol para que seja fácil observá-lo. Mas Agosto oferece-nos as condições ideais para admirar um outro corpo celeste, um planeta de luminosidade tão ténue que só em 1781 foi descoberto - trata-se de Urano, o sétimo planeta do sistema solar. Em céus bem escuros e com condições de visibilidade ideais, é possível observar Urano a olho nu. Em condições razoáveis, não será difícil descobri-lo com a ajuda de binóculos. O mapa celeste que reproduzimos ajuda a localizar o planeta. Com binóculos solidamente apoiados não deverá ser difícil encontrá-lo. A única dificuldade será distingui-lo no meio das miríades de outros pontos luminosos. A cor azul-esverdeada do planeta ajuda a distingui-lo. Vendo-o em noites consecutivas, poderá notar-se um pequeno deslocamento contra o fundo estelar. Observar Urano continua a ser um desafio. Mas já é altura de acrescentar mais esta conquista à nossa lista de observações. Texto de UO CRATO Sessões Públicas A «ASTRONOMIA DE VERÃO» está aí. Este ano, o programa de divulgação organizado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e por várias organizações profissionais e amadoras, está melhor que nunca. São mais os locais, são mais as sessões de observação, é melhor o equipamento colocado à disposição do público. No total, são quase quatro centenas de sessões públicas, com o apoio de duas dezenas de organismos e de associações. Ao longo do mês de Agosto, grupos de entusiastas irão colocar telescópios em praias, vilas e cidades por todo o país. Ao mesmo tempo, serão organizadas várias sessões de projecção de filmes e de «slides», e os planetários realizam sessões especiais. A informação completa está acessível pela Internet no endereço http://www.ucv.mct.pt ou pelo número de telefone verde 0800202799.