Departamento de Engenharia Eletrotécnica Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Trabalho de Projeto apresentado para a obtenção do grau de Mestre em Automação e Comunicações em Sistemas de Energia Autor Valter António Gomes dos Santos Orientadores Doutor Adelino Pereira Doutor Carlos Ferreira Instituto Superior de Engenharia de Coimbra Coimbra, Dezembro de 2012 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Agradecimentos A todos os que de alguma forma contribuíram para o desenvolvimento deste estudo. A todos, Muito Obrigado. Valter Santos i Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Resumo A rede elétrica de distribuição em Portugal encontra-se em expansão contínua, devido ao aumento do número de clientes e às alterações dos hábitos de consumo. Este crescimento é acompanhado pela evolução tecnológica das infraestruturas e equipamentos utilizados. A energia elétrica é atualmente considerada um bem essencial, sendo por isso de extrema importância garantir a continuidade de serviço e minimização das interrupções, quer acidentais, quer por ações de manutenção. Neste contexto, o projeto realizado visa avaliar a evolução e o desempenho das redes de distribuição através do estudo das características das redes e da análise dos indicadores de continuidade de serviço. Pretende-se evidenciar as ações que o Operador da Rede de Distribuição pode desenvolver, no sentido de melhorar a qualidade de serviço nas redes de distribuição de energia elétrica. Será apresentada uma investigação feita em contexto real, desenvolvida numa rede de distribuição de média tensão. Após a identificação dos problemas reais encontrados neste caso de estudo, apresentam-se as possíveis soluções, com o objetivo de melhorar a sua fiabilidade e disponibilidade, contribuindo efetivamente para aumentar a qualidade de serviço. Palavras-chave: Redes de Distribuição de Energia Elétrica, Operador da Rede de Distribuição Continuidade de Serviço, Fiabilidade. Valter Santos iii Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Abstract The electric power distribution network in Portugal is in constant expansion, due to the raise of the number of customers and to the changes in their consumption habits. This growth goes along with the technological evolution of the infrastructures and equipment’s in use. The electric energy is considered an essential good, so it is extremely important to guarantee the service continuity and minimize all interruptions, the accidental and the maintenance actions. In this context, the present work aims to evaluate the evolution and performance of the distribution networks, through the study of their characteristics, and the analysis of the indicators of service quality. We aim to point the actions that the Distribution Network Operator can develop to improve the service quality in the electric power distribution networks. This study includes an investigation in a real context, developed in an average voltage distribution network. After identifying the real problems in the case study, some possible solutions are pointed, with the purpose of improving it’s reliability and availability, contributing in an effective way to improve the service quality. Key-words: Electric Power Distribution Networks, Distribution Network Operator, Service Continuity, Reliability Valter Santos v Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Índice Agradecimentos ................................................................................................................................. i Resumo ............................................................................................................................................ iii Abstract ............................................................................................................................................ v Índice .............................................................................................................................................. vii Índice de figuras .............................................................................................................................. ix Índice de tabelas .............................................................................................................................. xi Abreviaturas .................................................................................................................................. xiii CAPÍTULO I - Introdução ............................................................................................................... 1 1. Considerações gerais ............................................................................................................ 1 1.1. Objetivos .......................................................................................................................... 2 1.2. Estrutura ........................................................................................................................... 3 CAPÍTULO II – Qualidade de serviço da energia elétrica ............................................................... 5 2. Qualidade da energia elétrica ............................................................................................... 5 2.1. Normalização.................................................................................................................... 5 2.1.1. Regulamento de qualidade de serviço .......................................................................... 5 2.1.2. Norma NP EN50160..................................................................................................... 7 2.2. Qualidade de serviço ........................................................................................................ 7 2.3. Principais tipos de perturbações ....................................................................................... 8 2.4. Continuidade de serviço ................................................................................................. 10 CAPÍTULO III – Redes de distribuição de energia elétrica ........................................................... 13 3. Caraterização das redes de distribuição .............................................................................. 13 3.1. Níveis de tensão das redes de distribuição ..................................................................... 14 3.1.1. Estruturas das redes de distribuição de alta tensão ..................................................... 15 3.1.2. Estruturas das redes de distribuição de média tensão ................................................. 18 3.1.2.1. Redes de distribuição de média tensão urbanas...................................................... 19 3.1.2.2. Redes de distribuição de média tensão rurais ......................................................... 21 3.2. Supervisão e controlo das redes de distribuição ............................................................. 21 3.3. Sistemas de proteção das redes de distibuição de média tensão ..................................... 25 3.4. Automação e telecomando das redes de distribuição de média tensão........................... 27 3.4.1. Automatismo de religação e automatismo VT (Voltage-Time) ................................. 27 3.4.2. Órgãos de corte de rede telecomandados ................................................................... 29 Valter Santos vii Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica CAPÍTULO IV – Desempenho das redes de distribuição de média tensão ................................... 35 4. Incidentes ........................................................................................................................... 35 4.1. Tipos de incidentes ........................................................................................................ 36 4.2. Causas dos incidentes .................................................................................................... 38 4.3. Desempenho das redes ................................................................................................... 40 4.4. Causas das ocorrências acidentais.................................................................................. 47 4.5. Medidas de melhoria da continuidade de serviço .......................................................... 48 4.5.1. Utilização adequada dos materiais e equipamentos ................................................... 48 4.5.2. Manutenção preventiva .............................................................................................. 49 4.5.3. Trabalhos realizados em tensão ................................................................................. 50 4.5.4. Planeamento das redes ............................................................................................... 51 CAPÍTULO V – Caso de estudo .................................................................................................... 53 5. Caso de estudo ................................................................................................................... 53 5.1. Descrição e objetivo ....................................................................................................... 53 5.2. Caraterização da rede de média tensão em estudo ......................................................... 53 5.2.1. 5.3. Incidentes registados na rede de média tensão em estudo ......................................... 58 Identificação dos cenários .............................................................................................. 62 5.3.1. Cenário I..................................................................................................................... 63 5.3.2. Cenário II ................................................................................................................... 71 5.3.3. Cenário III .................................................................................................................. 80 CAPÍTULO VI – Conclusões ........................................................................................................ 87 6. 6.1. Conclusões ......................................................................................................................... 87 Perspetivas de trabalhos futuros ..................................................................................... 89 Referências bibliográficas .............................................................................................................. 91 ANEXOS .........................................................................................................................................A Anexo I - Indicadores de continuidade de serviço.......................................................................A Anexo II - Qualidade de serviço técnico ..................................................................................... E Valter Santos viii Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Índice de figuras Figura 1 - Perturbações e suas durações ........................................................................................... 8 Figura 3 - Cadeia de valor do setor elétrico ................................................................................... 13 Figura 4 - Rede de distribuição de alta tensão do tipo malhada (anel) ........................................... 16 Figura 5 - Rede de distribuição de alta tensão do tipo radial (urbana) ........................................... 17 Figura 6 - Rede de distribuição de alta tensão do tipo radial (rural) .............................................. 18 Figura 7 - Rede de distribuição de média tensão em fuso .............................................................. 19 Figura 8 - Rede de distribuição de média tensão em espiga ........................................................... 20 Figura 9 - Rede de distribuição de média tensão em anel .............................................................. 20 Figura 10 - Quadro sinótico do sistema SCADA ........................................................................... 23 Figura 11 - Representação gráfica do processo de funcionamento de localização de defeitos ...... 25 Figura 12 - Princípio do funcionamento do automatismo VT ........................................................ 28 Figura 13 - IAR instalado na rede distribuição de média tensão .................................................... 30 Figura 14 - OCR1 instalado na rede de distribuição e pormenor do seu indicador de estado ........ 31 Figura 15 – OCR2 instalado na rede de distribuição de média tensão ........................................... 32 Figura 16 - DAR instalado na rede de distribuição de média tensão.............................................. 33 Figura 17 - Fases de análise do incidente. ...................................................................................... 35 Figura 18 - Tipos de incidentes por nível de tensão. ...................................................................... 37 Figura 19 – Principais causas dos incidentes que ocorrem nas redes de distribuição de energia. .. 39 Figura 20 - Distribuição das interrupções acidentais ao longo dos dias 27 e 28 de fevereiro de 2010 por DRC ........................................................................................................................ 40 Figura 21 - Balanço da qualidade de serviço das redes de distribuição de média tensão, interrupções acidentais e previstas ......................................................................................... 42 Figura 22 - Evolução da energia não distribuída nas redes de distribuição de média tensão ......... 43 Figura 23 - Evolução do tempo interrupção equivalente por potência instalada nas redes de distribuição de média tensão .................................................................................................. 44 Figura 24 - Evolução da duração média das interrupções do sistema nas redes de distribuição de média tensão. ......................................................................................................................... 44 Figura 25 - Evolução da frequência média de interrupções do sistema nas redes de distribuição de média tensão. ......................................................................................................................... 45 Figura 26 - Evolução da indisponibilidade do sistema (ASUI) nas redes de distribuição de média tensão. .................................................................................................................................... 46 Valter Santos ix Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Figura 27 - Evolução dos indicadores de continuidade de serviço nas redes de distribuição de média tensão. ......................................................................................................................... 46 Figura 28 - Causas da energia não distribuída nas redes de distribuição de média tensão ............ 47 Figura 29 - Isolador instalado em zona marítima........................................................................... 48 Figura 30 - Queda de linhas devido ao vento................................................................................. 48 Figura 31 - Resultado da análise termográfica............................................................................... 49 Figura 32 - Dispositivos anti nidificação e proteção de condutores .............................................. 50 Figura 33 - Exemplo da deteção de defeitos nos isoladores .......................................................... 50 Figura 34 - Substituição de seccionador ........................................................................................ 51 Figura 35 - Limpeza de isoladores ................................................................................................. 51 Figura 36 - Sistema Spacer Cable .................................................................................................. 52 Figura 37 - Características e esquema geográfico da LMT1 ......................................................... 54 Figura 38 - Características e esquema geográfico da LMT2 e da LMT3 ...................................... 56 Figura 39 - Características e esquema geográfico da LMT4 e da LMT5 ...................................... 57 Figura 40 - Características e esquema geográfico da LMT6. ........................................................ 58 Figura 41 - Tempo de interrupção equivalente da potência instalada por instalação..................... 59 Figura 42 - Distribuição das causas dos incidentes de longa duração. .......................................... 60 Figura 43 – Alteração proposta ao esquema geográfico da LMT1. ............................................... 64 Figura 44 - Esquema geográfico da LMT1 com proposta de localização dos OCR’s ................... 71 Figura 45 - Tempo de reposição de serviço por instalação afetada no incidente da SE A............. 73 Figura 46 - Esquema geográfico da rede com indisponibilidade da SE A, resultado do trânsito de potências com as limitações da rede...................................................................................... 75 Figura 47 - Esquema geográfico da rede com a interligação proposta entre a LMT2 e a LMT6 .. 77 Figura 48 - Esquema geográfico da rede com indisponibilidade da SE A, resultado do trânsito de potências com a nova interligação entre a LMT2 e a LMT6. ............................................... 79 Figura 49 - Fluxograma da análise dos incidentes de curta duração.............................................. 80 Figura 50 - Zona de defeito fase-terra na LMT1 ........................................................................... 82 Figura 51 - Defeito fase-terra na LMT1, filaça danificada ............................................................ 82 Figura 52 - Zona de defeito fase-fase na LMT4 ............................................................................ 83 Figura 53 - Zona de defeito fase-fase na LMT1 ............................................................................ 83 Figura 54 - Aves pousadas nos condutores elétricos da LMT4 ..................................................... 84 Figura 55 - Aves pousadas nos condutores elétricos no traçado constituído pelos dois ternos .... 84 Figura 56 - Instalação de dispositivos para a proteção de avifauna na LMT6 ............................... 85 Figura 57 - Instalação de dispositivos para a proteção de avifauna na LMT1. .............................. 85 Valter Santos x Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Índice de tabelas Tabela 1 - Valores padrão dos indicadores gerais .......................................................................... 11 Tabela 2 - Valores padrão dos indicadores individuais .................................................................. 12 Tabela 3 - Caracterização das redes de distribuição em 1980 e 2008 ............................................ 15 Tabela 4 - Incidentes na rede em estudo no período de janeiro de 2010 a setembro de 2012. ....... 59 Tabela 5 - Descrição dos incidentes de longa duração que ocorreram na LMT1. .......................... 61 Tabela 6 - Descrição dos incidentes de longa duração que ocorreram na LMT4 ........................... 62 Tabela 7 - Comparação da continuidade de serviço entre a LMT1 e LMT4 no período de janeiro a setembro de 2012. .................................................................................................................. 64 Tabela 8 - Parâmetros da LMT1 no período de janeiro de 2010 a setembro de 2012. ................... 69 Tabela 9 - Benefício referente ao ganho da energia não fornecida e o custo unitário do equipamento tipo OCR2. ....................................................................................................... 69 Tabela 10 - Resultado económico do projeto de investimento efetuado para instalação de OCR's na LMT1. ............................................................................................................................... 70 Tabela 11 - Instalações inicialmente afetadas pelo incidente na SE A........................................... 72 Tabela 12 - Características das linhas de média tensão em condições de ponta. ........................... 74 Tabela 13 - Violações dos limites de tensão na rede com indisponibilidade da SE A, trânsito de potências com as limitações da rede. ..................................................................................... 74 Tabela 14 – Manobras de reconfiguração da rede de média tensão com a nova interligação entre a LMT2 e a LMT6, trânsito de potências com indisponibilidade da SE A. ............................. 78 Tabela 15 - Incidentes de curta duração que ocorreram na rede durante o mês de agosto. ............ 81 Tabela 16 - Dispositivos para a proteção de avifauna ................................................................... 84 Valter Santos xi Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Abreviaturas AT Alta Tensão (tensão entre fases cujo valor eficaz é superior a 45 kV e igual ou inferior a 110 kV) BT Baixa Tensão (tensão entre fases cujo valor eficaz é igual ou inferior a 1kV) CS Continuidade de Serviço DGEG Direcção-Geral de Energia e Geologia DPLAN Distribution Planning EDP Energias de Portugal EN European Norm END Energia Não Distribuída ERSE Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos IEEE Institute of Electrical and Electronics Engineers MAIFI Momentary Average Interruption Frequency Index MAT Muito Alta Tensão (tensão entre fases cujo valor eficaz é superior a ….. 110 kV) MT Média Tensão (tensão entre fases cujo valor eficaz é superior a 1 kV e igual ou inferior a 45 kV) NP Norma Portuguesa OCR Órgão de Corte de Rede ORD Operador da Rede de Distribuição PCS Posto de Corte e Seccionamento PTC Posto de Transformação de Cliente (particular) PTD Posto de Transformação da Rede de Distribuição (serviço público) QEE Qualidade de Energia Elétrica REN Rede Elétrica Nacional RQS Regulamento da Qualidade de Serviço SAIDI System Average Interruption Duration Index SAIFI System Average Interruption Frequency Index SCADA Supervisory Control and Data Acquisition Valter Santos xiii Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica SE Subestação TET Trabalhos em Tensão TIEPI Tempo de Interrupção Equivalente da Potência Instalada TP Transformador de Potência Valter Santos xiv Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica CAPÍTULO I - Introdução 1. Considerações gerais A energia elétrica é fundamental para o bem-estar da sociedade, sendo o seu fornecimento considerado um Serviço Público da responsabilidade do Governo, através de empresas concessionárias, públicas ou privadas. A energia elétrica possui características que a diferenciam de outras formas de energia, não pode ser armazenada na rede, não possui uma individualidade própria, não flui nas linhas de transmissão necessariamente no percurso mais desejável, e a oferta deve continuamente igualar a procura, sendo simultaneamente um bem (energia) e um serviço (transporte, distribuição e operação do sistema). Além do facto de a energia elétrica não poder ser armazenada na rede, a procura, expressa pelo diagrama de carga, varia ao longo do dia e do ano. Assim, é necessário dispor de um leque diversificado de tecnologias no setor elétrico, e é necessária alguma potência excedentária, de forma a responder às variações de consumo inesperadas ou indisponibilidade de equipamentos por avaria ou manutenção. Além disso, a operação do setor elétrico é responsável por serviços constantes na rede, que assegurem a elevada qualidade de serviço exigida pelos clientes. À semelhança de outros setores regulados (gás, telecomunicações), o setor elétrico foi profundamente reestruturado, com o objetivo de criar um mercado competitivo. A evolução para uma economia de mercado concorrencial obrigou à separação dos vários setores de atividade: produção, transporte, operação, distribuição e comercialização. Estes setores de atividade passaram a ser executados por diversos agentes independentes. Estas frequentes alterações, incluindo a reformulação e entrada em vigor da nova legislação, têm contribuído para uma melhoria significativa da atividade de distribuição. É importante salientar que, atualmente, a informação sobre o desempenho das redes de distribuição é facilmente acessível a todos os seus intervenientes, permitindo uma constante análise e avaliação. Valter Santos 1 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica De modo a manter as atividades do setor elétrico abertas à entrada de novos operadores em regime de mercado, foi separada a atividade de distribuição da atividade de comercialização de energia elétrica. Enquanto a distribuição veicula a energia nas condições técnicas adequadas através de redes, a comercialização assegura os procedimentos comerciais inerentes à venda a grosso e a retalho de energia elétrica. A Rede Nacional de Distribuição é constituída pelas redes de distribuição de alta tensão, redes de distribuição de média tensão e redes de distribuição de baixa tensão. É operada através de uma concessão exclusiva atribuída pelo Estado Português, a uma subsidiária do grupo EDP, a EDP Distribuição, conforme o artigo n.º70 do Decreto-Lei 29/2006. Os termos da concessão estão estabelecidos nos Decreto-Lei 172/2006. O estudo realizado centra-se nas redes de distribuição de Portugal Continental, onde a concessão está atribuída à EDP Distribuição, e que será designada no âmbito deste trabalho como Operador da Rede Distribuição. Alguma informação contida neste estudo foi disponibilizada pelo Operador da Rede de Distribuição pelo que, por motivos de confidencialidade foi mantida de forma anónima e sem identificação das instalações. 1.1. Objetivos Este projeto visa apresentar o estudo da regulamentação relativa ao setor da energia elétrica e das principais entidades envolvidas na sua distribuição, e proceder à caracterização das Redes de Distribuição de Energia Elétrica. Como principal objetivo, pretende-se avaliar o desempenho da rede de distribuição de média tensão em Portugal, recorrendo à investigação dos incidentes ocorridos nas redes e ao estudo da evolução dos principais indicadores de continuidade de serviço nos últimos anos. Complementa-se este projeto com a apresentação de um caso real. Pretende-se identificar as restrições e limitações na rede de distribuição de média tensão através do histórico dos Valter Santos 2 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica incidentes, e apresentar possíveis soluções, a fim de melhorar a sua fiabilidade e disponibilidade. 1.2. Estrutura O presente trabalho apresenta-se dividido em seis capítulos com o seguinte desenvolvimento: No capítulo 1 é feita uma introdução ao tema, descrevem-se os objetivos e a estrutura do trabalho desenvolvido. O capítulo 2 descreve os conceitos e definições relativos à qualidade de energia elétrica, e analisa o enquadramento regulamentar das perturbações que ocorrem nas redes de distribuição de energia elétrica. No capítulo 3 são caracterizadas as redes de distribuição de alta e média tensão, descrevendose as principais estruturas, a supervisão e o controlo, a automação e telecomando e os sistemas de proteção. No capítulo 4 são apresentados dados associados ao desempenho das redes de distribuição de média tensão, através do estudo dos incidentes e dos indicadores de continuidade de serviço no período de 2004 a 2011. No capítulo 5 é apresento o caso de estudo de uma rede de média tensão. É apresentada uma caracterização da rede evidenciando alguns dos incidentes que ocorreram. Com o reconhecimento das limitações existentes na rede, são identificadas medidas que o Operador da Rede de Distribuição deve adotar para melhorar o serviço prestado aos clientes. Por fim o capítulo 6, apresenta uma síntese do trabalho realizado e as principais conclusões obtidas. Valter Santos 3 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica CAPÍTULO II – Qualidade de serviço da energia elétrica 2. Qualidade da energia elétrica Este capítulo é dedicado à qualidade da energia elétrica, apresentando alguns conceitos e definições, bem como o enquadramento regulamentar para as perturbações ocorridas nas redes de distribuição de energia elétrica. 2.1. Normalização O Operador da Rede de Distribuição tem como principal responsabilidade a melhoria da qualidade de serviço no setor elétrico, estando definidos os seus deveres e obrigações para com os clientes, e vice-versa. Assim, estão instituídas normas e regulamentos que respeitam três aspetos fundamentais: Terminologia – Definição dos conceitos relativos à qualidade da energia elétrica. A normalização de conceitos e técnicas de medição dos diversos parâmetros de qualidade da energia elétrica facilita a comunicação entre os diversos protagonistas, como Operador da Rede de Distribuição, fabricantes de equipamento, empresas do setor elétrico e clientes. Características nominais – Existem normas que definem as características nominais do produto disponibilizado e respetivas tolerâncias. Em Portugal, nas redes de distribuição de baixa tensão, a tensão deve ser sinusoidal, com a frequência de 50 Hz e valor eficaz de 230 V entre fase e neutro. Limites máximos para as perturbações – Este é o objetivo final de uma norma de qualidade de energia elétrica, que em caso de incumprimento acarreta penalizações (EDP, 2005). 2.1.1. Regulamento de qualidade de serviço O principal instrumento de normalização da qualidade de energia elétrica em Portugal é o Regulamento de Qualidade de Serviço. Este regulamento estabelece um quadro de relacionamento entre os operadores de rede do setor elétrico e o consumidor (cliente), fornece Valter Santos 5 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica enquadramento legislativo às normas existentes, determina as penalidades pelo seu não cumprimento e estabelece os padrões de qualidade de atendimento e serviço comercial ao cliente. Este regulamento com aplicação ao setor elétrico de Portugal Continental, foi publicado pela primeira vez a 23 de junho de 2000, no Despacho n.º 12 917 – A/2000 (2ª série), ficando prevista a sua revisão de dois em dois anos. Teve uma primeira revisão a 5 de fevereiro de 2003, através do Despacho nº 2410 A/2003 (2ª série). Durante o ano de 2005, sob a responsabilidade da Direção Geral de Geologia e Energia (DGGE), decorreu um processo de revisão do regulamento, do qual resultou a publicação do Despacho n.º 5255/2006, de 8 de março, que se encontra atualmente em vigor (ERSE, 2012). Segundo o regulamento, quanto à sua natureza, os padrões de qualidade podem ser de natureza geral quando se referem à rede explorada pelo Operador da Rede de Transporte, à rede ou zona de rede explorada por um Operador da Rede de Distribuição ou a um conjunto de clientes. Podem também ser de natureza individual, quando se referem a cada uma das instalações elétricas dos clientes. Os padrões de qualidade de serviço, a cumprir pelo Operador da Rede de Distribuição, podem variar de acordo com as zonas geográficas. A classificação destas zonas é estabelecida da seguinte forma (DGEG, 2006): Zona A – capitais de distrito e localidades com mais de 25 mil clientes; Zona B – localidades com um número de clientes compreendido entre 25000 e 2500; Zona C – restantes locais; Nesta classificação, os padrões de qualidade da Zona A são os mais exigentes e os da zona C os menos exigentes. Segundo o Regulamento da Qualidade de Serviço, o Operador da Rede de Distribuição deve caracterizar a continuidade das redes por zona geográfica (A, B e C) e por nível de tensão (MT e BT). Valter Santos 6 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica 2.1.2. Norma NP EN50160 A qualidade da onda de tensão nos pontos de entrega aos consumidores deve ser caracterizada segundo a norma NP EN 50160:2001, obrigando o Operador da Rede de Distribuição a monitorizar diversas instalações para verificar as características da tensão. Na norma NP EN 50160 é caracterizada a qualidade da onda de tensão, estabelecida em 1995, com o objetivo de definir o que se considera como perturbações e estabelecer limites para as mesmas. Esta norma descreve as características principais da tensão de alimentação numa rede de distribuição de média o baixa tensão, no ponto de entrega ao cliente e em condições de exploração normais. Esta norma que se encontra em vigor não é aplicada nas seguintes situações (IPQ, 2001): - Funcionamento em situações de avaria, trabalhos de construção ou manutenção da rede; - Condições excecionais, independentes da vontade dos intervenientes: más condições climatéricas, decisões oficiais e casos de força maior. 2.2. Qualidade de serviço O sector elétrico deve apresentar níveis de qualidade de serviço que permitam o bem-estar e satisfação das necessidades da população, e contribuam para o desenvolvimento competitivo das atividades económicas. A qualidade de serviço baseia-se em duas componentes (ERSE, 2012): Qualidade de serviço de natureza técnica - Qualidade da onda de tensão e das características da forma da tensão alternada. A onda de tensão é caracterizada pela sua forma, amplitude, frequência e simetria no sistema trifásico. A avaliação da qualidade é feita considerando as suas principais características. - Continuidade de serviço e fiabilidade do fornecimento de energia elétrica. Na avaliação da continuidade de serviço considera-se o número e duração das interrupções. Valter Santos 7 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Qualidade de serviço de natureza comercial - Relação entre os operadores de rede ou comercializadores e os seus clientes. Está relacionada com a qualidade do atendimento e a capacidade de resposta em tempo útil às solicitações dos clientes. 2.3. Principais tipos de perturbações O sistema trifásico de tensões é caracterizado por três tensões sinusoidais com frequência e amplitude constante e desfasadas de 120˚ no tempo. A forma da onda de tensão nem sempre é ideal, e a sua variação de forma poderá originar perturbações nas instalações elétricas. As principais perturbações de qualidade de energia elétrica são: cavas de tensão, sobretensões transitórias, desequilíbrio de tensões, distorção harmónica, tremulação (flicker) e interrupções breves e longas (EDP, 2005). A Figura 1 destaca a relação entre a tensão e a duração das perturbações. Tensão Transitórios Sobretensões 110 % 100 % 90 % Flutuações de tensão Flutuações de tensão Cavas de tensão 1% Abaixamentos de tensão Interrupções breves 10 ms 1 min Interrupções longas 3 min Duração Figura 1 - Perturbações e suas durações(Figueiredo, 2008). Cava de tensão - Diminuição brusca da tensão de alimentação para um valor situado entre 90% e 1% da tensão declarada ou da tensão de referência, seguida do restabelecimento da tensão depois de um curto espaço de tempo. Por convenção, uma cava dura entre 10 milissegundos a 1 minuto. As cavas de tensão podem ser causadas por operações de manobra, arranques de motores, trânsito de correntes de defeito, descargas atmosféricas, etc. Podem ter uma origem muito diversificada. Valter Santos 8 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Sobretensão transitória - Variação muito rápida do valor da tensão. A amplitude da tensão pode atingir valores muito elevados durante alguns microssegundos. Na origem das sobretensões estão principalmente as descargas atmosféricas e as manobras inerentes da exploração da rede de distribuição. Estas perturbações podem causar a destruição de equipamentos eletrónicos, interferências eletromagnéticas e erros no processamento de dados. Desequilíbrio do sistema trifásico de tensões – Variação das tensões de um sistema trifásico de modo a que as amplitudes das tensões de fase e/ou os desfasamentos entre elas não sejam iguais. A assimetria de cargas monofásicas no sistema trifásico e as linhas aéreas não transpostas são responsáveis pela maioria dos desequilíbrios. Este desequilíbrio vai afetar principalmente as máquinas trifásicas rotativas devido ao aparecimento de uma componente de sequência inversa no sistema de tensões. Distorção harmónica - Deformação da onda de tensão ou da onda de corrente sinusoidal, podendo decompor-se numa série de amplitudes e fases diferentes com frequências múltiplas da componente fundamental. Atualmente são muito utilizadas cargas com fontes de alimentação comutadas: computadores, variadores de velocidade, balastros eletrónicos, entre outras, sendo as cargas não lineares, responsáveis pela deformação da onda sinusoidal. As harmónicas têm impactos muito negativos em motores, produzem binários pulsantes responsáveis pela vibração das máquinas, originam perdas suplementares (devido às correntes de Foucault) diminuindo a eficiência dos motores. Nos sistemas informáticos poderão aumentar os erros na transmissão de dados, reduzindo as velocidades de comunicação. Na indústria podem provocar erros de medida em aparelhos com determinação do valor médio. Tremulação (flicker) - Sensação de instabilidade visual provocada por um estímulo luminoso, cuja repartição espectral flutua no tempo. As cargas que consomem correntes elevadas e bastante variáveis (fornos a arco, motores) são responsáveis pelo aparecimento da tremulação na rede (EDP, 2005). Interrupção - Situação em que o valor eficaz da tensão de alimentação no ponto de entrega é inferior a 1% da tensão declarada, dando origem a cortes de consumo nos clientes. As interrupções estão divididas em vários tipos (EDP, 2005): Valter Santos 9 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Interrupção breve – interrupção com duração igual ou inferior a três minutos. Interrupção longa – interrupção com uma duração superior a três minutos. Interrupção prevista – interrupção do fornecimento de energia elétrica quando os clientes são informados com antecedência, para permitir a execução de trabalhos programados na rede. Interrupção acidental – interrupção do fornecimento de energia elétrica provocada por defeitos permanentes ou transitórios, na maior parte das vezes ligada a acontecimentos externos, avarias ou interferências. Estão relacionadas com aparecimento de defeitos na rede elétrica, provocados por condições atmosféricas adversas, acidentes rodoviários, queda de árvores, degradação de materiais, defeitos de isolamento ou ações humanas. 2.4. Continuidade de serviço O fornecimento de energia elétrica, assim como a prestação do serviço de transporte e distribuição podem sofrer interrupções programadas (previstas) ou acidentais (imprevistas). A continuidade de serviço é caracterizada por indicadores gerais e individuais, calculados a partir do registo de incidentes ocorridos nas redes de transporte e distribuição durante o período de análise. Estes indicadores permitem avaliar o desempenho das redes do ponto de vista da continuidade de serviço proporcionada aos clientes. Revelam tendências e permitem definir objetivos e valores eventualmente impostos pelas entidades reguladoras. A análise destes indicadores permite identificar zonas críticas da rede, e implementar planos de melhoria da qualidade de serviço. A partir dessa análise é possível realizar estudos com o objetivo de identificar soluções alternativas para novas obras ou obras de expansão, avaliando a viabilidade dos novos investimentos. Os Operadores das Redes de Transporte e Distribuição procederão, em cada ano civil, à caracterização da continuidade de serviço, devendo, para o efeito, determinar os seguintes indicadores gerais e individuais e considerando apenas as interrupções de longa duração1 (DGEG, 2006). Indicadores gerais das redes de transporte 1 Duração superior a três minutos. Valter Santos 10 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica ENF - Energia não fornecida, em megawatts-hora (MWh); TIE - Tempo de interrupção equivalente, em minutos; SAIFI - Frequência média das interrupções do sistema; SAIDI - Duração média das interrupções do sistema, em minutos; SARI - Tempo médio de reposição de serviço do sistema, em minutos; Indicadores gerais das redes distribuição de média tensão Para redes de distribuição de média e baixa tensão, agrupadas segundo a classificação das zonas referidas, com divisão dos índices por interrupções programadas e acidentais: TIEPI - Tempo de interrupção equivalente da potência instalada, em horas por ano; SAIFI - Frequência média das interrupções do sistema; SAIDI - Duração média das interrupções do sistema, em minutos; END - Energia não distribuída, em megawatts-hora (MWh). Indicadores gerais das redes de baixa tensão SAIFI - Frequência média das interrupções do sistema; SAIDI - Duração média das interrupções do sistema, em minutos. No cálculo destes indicadores, são consideradas todas as interrupções com origem nas redes de alta, média e baixa tensão do respetivo operador, sendo excluídas as que têm origem e efeito apenas na instalação do cliente. Os indicadores gerais para as redes de média e de baixa tensão não deverão exceder os valores anuais apresentados na Tabela 1. Tabela 1 - Valores padrão dos indicadores gerais (DGEG, 2006). Indicadores SAIFI (número) SAIDI (horas) TIEPI (horas) Zona Valores máximos Valores máximos geográfica média tensão baixa tensão A 3 3 B 6 6 C 8 8 A 3h 4h B 5h 7h C 10 h 12 h A 2h B 4h C 10 h - Indicadores individuais Valter Santos 11 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Nas redes de transporte e distribuição calculam-se dois indicadores individuais: NI – número total de interrupções longas acidentais verificadas num ponto de entrega, num determinado período; DI - duração total das interrupções longas acidentais verificadas num ponto de entrega, num determinado período, em minutos. Em termos da continuidade do fornecimento de energia elétrica, as interrupções acidentais longas não deverão exceder, em número e duração, por ponto de entrega a clientes, os valores padrão da Tabela 2: Tabela 2 - Valores padrão dos indicadores individuais (DGEG, 2006). Tipo de rede Tipo de zona Redes de Muito Alta Tensão Zona A, B, C Redes de Alta Tensão Zona A, B, C Zona A Redes de Média Tensão Zona B Zona C Zona A Redes de Baixa Tensão Zona B Zona C Nº de interrupções/ano Duração horas/ano 3 8 8 16 25 12 21 30 0,75 4 4 8 16 6 10 20 No cálculo dos indicadores individuais e gerais são excluídas as interrupções de fornecimento de energia elétrica motivadas por casos fortuitos ou de força maior; razões de interesse público, razões de serviço, razões de segurança, facto imputável ao cliente e acordo com o cliente. Todos estes indicadores individuais e gerais são obrigatórios e estão no Regulamento de Qualidade de Serviço, existindo limites impostos que, em caso de incumprimento por parte dos operadores, dão ao cliente o direito a compensação (DGEG, 2006). No Anexo 1 estão disponíveis mais detalhes associados aos indicadores obrigatórios e um conjunto de indicadores não definidos no regulamento de qualidade de serviço, que podem ser utilizados pelos Operadores das Redes de Transporte e Distribuição para identificar eventuais falhas nas suas redes e analisar a possibilidade de futuras melhorias. Valter Santos 12 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica CAPÍTULO III – Redes de distribuição de energia elétrica 3. Caraterização das redes de distribuição O setor elétrico em Portugal está dividido em cinco atividades principais: produção, transporte, distribuição, comercialização e operação dos mercados organizados de eletricidade. A Figura 2 apresenta os principais intervenientes na cadeia de valor do setor elétrico. Figura 2 - Cadeia de valor do setor elétrico. (REN, 2012) A atividade de distribuição de energia elétrica é efetuada através da exploração das redes de distribuição, constituídas por infraestruturas adequadas para alta, média e baixa tensão. Atualmente, as redes de distribuição de alta e média tensão em Portugal, são operadas por concessão exclusiva atribuída pelo Estado Português à EDP Distribuição, até 2043 (Torres, 2012). Com esta concessão o Operador da Rede de Distribuição tem como principais responsabilidades: Valter Santos 13 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica - Planeamento, construção, operação e manutenção da rede nacional de distribuição; - Cumprimento do regulamento de qualidade de serviço e outros requisitos normativos; - Fornecimento de serviços aos comercializadores. O atual capítulo pretende descrever as principais caraterísticas das redes de distribuição de alta e média tensão, identificando as estruturas mais utilizadas. 3.1. Níveis de tensão das redes de distribuição O desenvolvimento das redes de distribuição visa obter uma melhoria da eficiência energética e económica, quer pela redução da energia de perdas, quer pela melhoria da qualidade técnica de serviço prestado aos clientes, respeitando as condições regulamentares de segurança de pessoas e bens. A coexistência de diferentes níveis de tensão numa mesma zona acarreta alguns problemas e limitações no planeamento e exploração de redes: - Para a interligação entre duas redes com níveis de tensão diferentes, seria necessário a construção de uma subestação MT/MT, o que seria uma solução dispendiosa. - Existem limitações de falha de reserva N -1 que poderiam ser facilmente resolvidas se os níveis de tensão fossem iguais. - Existência de subestações AT/MT1/MT2, esta infraestruturas com dois níveis na média tensão são mais dispendiosas e têm encargos de exploração mais elevados. - Existência de um risco acrescido de interrupção prolongada de fornecimento de energia elétrica, no caso de falha total da instalação de alimentação. De forma a reduzir estes inconvenientes tem-se procurado ao longo dos anos diminuir os níveis de tensão, tendo sido convertidas ou desativadas algumas redes dos níveis de tensão menos representativos. Na Tabela 3 constata-se que os níveis de tensão 3 kV, 4 kV, 5 kV e 40 kV deixaram de fazer parte das redes de distribuição. Valter Santos 14 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Tabela 3 - Caracterização das redes de distribuição em 19802 e 2008, adaptado de (EDP, 2010b). Redes de Redes de Nível de tensão distribuição distribuição em 1980 (km) em 2008 (km) MT AT 3 kV 4 kV 5 kV 6 kV 10 kV 15 kV 30 kV 40 kV 60 kV > 60 kV Total 1 5 319 982 3.005 14.218 9.100 81 3.756 181 31.649 0 0 0 74 5.577 37.516 24.299 0 8.425 66 75.957 Atualmente, nas redes de distribuição de média tensão os níveis de tensão mais utilizados são 10 kV, 15 kV e 30 kV. Ainda é utilizado o nível de tensão de 6 kV em redes de distribuição mais antigas, mas estas redes elétricas têm vindo a ser progressivamente convertidas para os outros níveis de tensão. Grande parte das redes de distribuição de alta tensão utiliza o nível de tensão de 60 kV, desde as subestações injetoras MAT/AT da rede nacional de transporte até às subestações de distribuição AT/MT. 3.1.1. Estruturas das redes de distribuição de alta tensão A rede de distribuição de alta tensão é responsável por elevados fluxos de potência, que abrange geralmente duas, três ou mais subestações AT/MT. Em situações de ponta e em zonas de maior densidade, podem atingir-se valores acima dos 80 MVA por linha de alta tensão. Com estes valores de trânsito de potências tornam-se importantes dois aspetos nas estruturas destas redes: possibilidade de configuração de socorro (redes malhadas ou bi-alimentadas) e a tipologia em regime normal de exploração (exploração radial, ou em malha fechada). 2 A Tabela 3 não reflete a totalidade das redes de distribuição existentes no país, já que em 1980 nem todas as redes de distribuição pertenciam à EDP. Valter Santos 15 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Pela importância e valor das cargas que alimentam, as redes de alta tensão são normalmente do tipo malhadas, permitindo que as subestações AT/MT disponham de alimentações alternativas em caso de falha da alimentação normal. Estas malhas podem ser em redor de um injetor MAT/AT, ou interligando injetores diferentes. As redes do tipo malhadas são geralmente exploradas de forma radial, com linhas abertas numa extremidade. Com a evolução e melhoria dos sistemas de proteção, estas redes evoluem tendencialmente para permitir a exploração em malha fechada, tendo como principais vantagens a eliminação de interrupções e redução de perdas na cadeia de distribuição. A Figura 3 apresenta a estrutura para uma rede de distribuição de alta tensão do tipo malhada interligando dois pontos injetores. Figura 3 - Rede de distribuição de alta tensão do tipo malhada (anel). (EDP, 2010) As redes com esta tipologia devem estar dimensionadas com reserva suficiente para garantirem a alimentação das cargas quando falha uma das linhas, assim a reserva N -1 é assegurada automaticamente em caso de falha de uma das linhas do anel. As redes de distribuição radiais são constituídas por cabos subterrâneos, ou por linhas aéreas, que alimentam em antena as subestações AT/MT. Não existe qualquer interligação que permita uma alimentação alternativa no mesmo nível de tensão. As redes de distribuição de alta tensão da tipologia radial podem ser divididas em dois tipos: rede radial urbana e rede radial rural. Nas redes radiais urbanas com elevada densidade de carga e com espaço limitado para a construção de subestações, o esquema eficaz da rede de distribuição AT consiste em Valter Santos 16 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica subestações sem barramento AT, com um ou dois transformadores AT/MT diretamente alimentados a partir de um posto de corte AT, que na maioria dos casos é o andar AT do ponto injetor MAT/AT. Nesta tipologia de rede, existe uma grande concentração de potência numa única instalação, aumentando assim o impacto em caso de interrupção de uma das instalações. Para diminuir o risco de falha de uma instalação, os postos de corte são robustos, construídos com barramento duplo seccionado, e quando possível, alimentam os transformadores de uma subestação a partir de postos de corte diferentes. A Figura 4 exemplifica uma rede de distribuição de alta tensão do tipo radial urbana com algumas subestações (SE 2, SE 4, SE 6 e SE 7) alimentadas por diferentes postos de corte. Figura 4 - Rede de distribuição de alta tensão do tipo radial (urbana) (EDP, 2010b). A eventual falha de uma linha de alimentação a uma subestação, é equivalente à falha de um transformador. Assim, a alimentação das cargas afetadas é garantida pelo transformador de potência não afetado (caso existam 2 transformadores), através do inter-barras MT e pelas interligações com outras subestações existentes na rede de distribuição de média tensão. Na Figura 5 está representada uma rede de distribuição de alta tensão do tipo radial rural. Nestas redes com menor densidade de cargas e alimentação radial, em caso de falha de uma linha de alta tensão, poderá não existir recurso em parte da rede, como por exemplo a SE 3. A garantia N-1 à indisponibilidade da linha AT de alimentação à subestação poderá ser obtida pelas interligações nas redes de distribuição de média tensão de outras subestações mais próximas. Assim, não é aconselhável a ligação de mais do que uma subestação na mesma rede de distribuição de alta tensão em antena. Valter Santos 17 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Figura 5 - Rede de distribuição de alta tensão do tipo radial (rural) (EDP, 2010b). 3.1.2. Estruturas das redes de distribuição de média tensão Existem dois tipos principais de estruturas de redes de distribuição de média tensão, estrutura radial e estrutura malhada ou em anel. No entanto, as estruturas nas redes urbanas, devido ao maior fluxo de carga e maiores consequências associadas a uma situação de avaria, podem ser divididas em fuso, espiga, anel e mistas (EDP, 2010b). Nas redes com estrutura malhada ou anel as instalações podem ser alimentadas por pelo menos duas linhas. Estas linhas são ligadas de forma a constituírem uma malha, e estão dimensionadas com reserva suficiente para a alimentação das cargas no caso de falha de uma das linhas. Quando é possível percorrer eletricamente toda a malha sem interrupção é designada por exploração em malha fechada. Com a malha eletricamente aberta num determinado ponto designa-se por exploração em malha aberta. As redes com estrutura radial são constituídas por linhas que se vão ramificando a partir do ponto de origem, sem nunca se encontrarem num ponto comum. Nas zonas rurais as redes desenvolvem-se maioritariamente em traçados aéreos, sendo as do tipo subterrâneo mais usadas em zonas urbanas ou de grandes concentrações populacionais. As ligações entre linhas e ramais nas redes aéreas são estabelecidas em derivação, nos apoios de derivação. Nas redes subterrâneas as derivações para outras instalações são efetuadas em postos de corte e/ou seccionamento. As ligações das redes subterrâneas às redes aéreas (ou vice-versa) são executadas nos apoios de transição (Puret, 1992). Valter Santos 18 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica 3.1.2.1. Redes de distribuição de média tensão urbanas De seguida descrevem-se as tipologias e as principais características das redes de distribuição de média tensão em centros urbanos ou semiurbanos. A) Redes em fuso As redes em fuso apresentam uma estrutura que permite a ligação entre duas subestações ou entre uma subestação e um barramento comum. Nas redes com esta estrutura, em caso de avaria numa parte da rede, é possível reconfigurar a rede facilmente com breves períodos de indisponibilidade. Assim será desejável que em regime normal estas redes não tenham uma utilização superior a 50% da sua capacidade máxima, e deverão ser equilibradas de forma a permitirem o recurso à totalidade da linha indisponível. Na Figura 6 está representada uma rede com uma estrutura em fuso. Figura 6 - Rede de distribuição de média tensão em fuso (EDP, 2010b). Esta estrutura apresenta algumas limitações em situação de avarias simultâneas nos dois lados do fuso. B) Redes em espiga As redes estruturadas em espiga (Figura 7), são formadas por uma ligação de socorro que possibilita o recurso a várias saídas da subestação. Esta ligação de recurso é constituída por condutores elétricos de elevada secção para apresentarem capacidade de alimentarem toda a estrutura. Valter Santos 19 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Figura 7 - Rede de distribuição de média tensão em espiga (EDP, 2010b). Estas redes deverão estar dotadas de órgãos telecomandados para permitirem um rápido restabelecimento de serviço nas situações em que ocorram incidentes na rede. Desta forma, devem estar reunidas condições para uma operação mais eficaz, que reduza os tempos de indisponibilidade das instalações. As redes em espiga também permitem alguma flexibilidade em caso de alteração de rede, como por exemplo quando ocorre a inserção de novos postos de transformação. C) Redes em anel A estrutura das redes em anel, Figura 8, é usada entre duas saídas da mesma subestação. As saídas devem ser de barramentos distintos, facilitando a transferência de cargas de uma saída para a outra. Em casos especiais (por exemplo, a indisponibilidade de um barramento de média tensão na subestação) é possível transferir as cargas de um barramento para o outro. Figura 8 - Rede de distribuição de média tensão em anel (EDP, 2010b). As redes em anel apresentam algumas características das redes em fuso, devendo também ser exploradas até menos de metade da sua capacidade máxima. Valter Santos 20 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica D) Redes mistas As redes mistas apresentam em simultâneo os vários tipos de estruturas analisados anteriormente. Devido a diversas condicionantes, natureza económica (por exemplo, redução de custos), natureza física (por exemplo, impossibilidade de instalar rede subterrânea) obrigam por vezes à utilização de vários tipos de estruturas na mesma rede. Representam a tipologia mais usada nas redes de distribuição de média tensão em Portugal. 3.1.2.2. Redes de distribuição de média tensão rurais Em zonas rurais as redes de distribuição de energia elétrica são essencialmente executadas em traçados aéreos. Trata-se de uma solução mais económica e a mais adequada, devido à distribuição geográfica dos pontos de carga a alimentar. As redes rurais geralmente apresentam uma estrutura radial, são muito extensas e com baixa densidade de cargas, sendo particularmente constituídas por postos de transformação aéreos, uma linha de eixo principal, linhas que derivam do eixo principal para os vários postos de transformação e uma única saída da subestação. Nos últimos anos as redes rurais têm vindo a ser gradualmente providas de órgãos de corte telecomandados. Nas redes rurais, contrariamente às redes urbanas, raramente existem interligações com outras subestações, ou com outras saídas da mesma subestação, que permitam alimentar recursivamente a rede ou a transferência de cargas entre subestações. As ações de melhoria das redes rurais normalmente ocorrem quando se atingem os padrões mínimos de qualidade de serviço, associados ao nível das quedas de tensão e das interrupções de fornecimento de energia. Estas geralmente evoluem através da realização de fusos entre saídas da mesma subestação ou de subestações diferentes. 3.2. Supervisão e controlo das redes de distribuição A supervisão e controlo das redes de distribuição é da responsabilidade dos centros de condução da rede, que têm como principais funções a vigilância, o controlo e o comando das instalações e equipamentos que constituem as redes de distribuição (ERSE, 2012). Têm a Valter Santos 21 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica finalidade de otimizar os fluxos de energia garantindo a qualidade de serviço técnico, e para cumprir esses objetivos são realizadas as seguintes tarefas nos centros de condução de rede: - Acompanhamento e gestão dos fluxos de energia na rede; - Análise da rede e otimização da sua configuração; - Coordenação das intervenções e das reparações dos equipamentos e instalações; - Operação de sistemas SCADA3 e de gestão de ocorrências para controlo e operação da rede em tempo real; - Análise de incidentes e do comportamento dos sistemas de proteção e de automação; - Análise da qualidade da energia elétrica; - Validação dos pedidos de indisponibilidade e elaboração dos processos de consignação; - Identificação dos pontos fracos/estrangulamentos da rede e apresentação de propostas de melhoria; - Carregamento e atualização de informação nos sistemas informáticos de apoio; - Certificação do cumprimento dos Protocolos de Exploração celebrados com clientes e produtores; A rede de distribuição de alta e média tensão é supervisionada e controlada em tempo real nos centros de condução da rede com recurso a um sistema SCADA (Antunes, et al., 2001). Este sistema permite a recolha dos dados telemetrados das instalações ou dispositivos e disponibiliza essa informação aos técnicos dos centros de condução da rede. Permite a gestão de alarmes, informando automaticamente os técnicos das alterações sucedidas. Possibilita o controlo dos órgãos de corte instalados nas redes de distribuição permitindo efetuar reconfigurações das redes com recurso a telecomando (Jorge, et al., 2005). Na Figura 9 é apresentado um exemplo de um quadro sinótico com indicação de algumas medidas e dos órgãos telecomandados. 3 Supervisory Control and Data Acquisition Valter Santos 22 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Figura 9 - Quadro sinótico do sistema SCADA (ORD, 2012). Com o sistema SCADA é possível obter informação em ambiente gráfico, como por exemplo: - Os quadros sinóticos com informação dos automatismos, das medidas, dos sistemas de alimentação e dos esquemas unifilares; - Os quadros de alarmes com informação da lista e do sumário de alarmes; - As listas do sistema com informação dos eventos, dos controlos e do arquivo; - Os gráficos de tendência com a informação em tempo real. A informação disponibilizada é essencial para supervisionar e controlar as redes de distribuição, porque permite a análise dos incidentes, a elaboração de diagramas de carga, o cálculo dos valores de máximos de carga em linhas e transformadores, e o tratamento dos dados estatísticos de disponibilidade e fiabilidade dos sistemas e equipamentos. Todos os incidentes que ocorrem nas redes de distribuição devem ficar registados. Para complementar os sistemas SCADA é utilizado um sistema de gestão e registo de ocorrências, que permite o tratamento dos incidentes das redes AT, MT e BT de forma uniforme e consistente. Possibilita ainda, o cálculo dos indicadores de continuidade e serviço e o Valter Santos 23 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica processamento inteligente de comunicações de avaria, ou seja, a partir das comunicações de avaria dos Clientes indica qual o possível dispositivo avariado responsável pela interrupção. O Operador das Redes de Distribuição utiliza outros sistemas de apoio à supervisão e controlo com a função de aumentar a eficiência e otimizar o desempenho das redes. Exemplo disso é o DPLAN4, que é um sistema computacional usado para planeamento e operação de redes de energia elétricas baseado em software de otimização (Jorge, et al., 2003). O DPLAN é um sistema de auxílio que permite ao utilizador estudar cenários, definir os critérios de avaliação, e realizar o trabalho computacional associado à análise da rede. Este sistema integra múltiplas funcionalidades como por exemplo: Análise e otimização – para a avaliação do desempenho da rede, incluindo fiabilidade, qualidade de serviço, trânsito de potências, curto circuitos, etc. As funcionalidades de análise e otimizações integradas com as funcionalidades de interface permitem ao utilizador efetuar um planeamento mais eficiente (IOA, 2012). Restabelecimento de manobras – para planeamento de indisponibilidades, socorro a defeito para reposição de serviço, para estudos de manobras na rede. Comunicação – facilidades de comunicação cliente-servidor que permite uma atualização e gestão de informação, possibilitando a exportação e importação de dados com aplicações externas (Mira, et al., 2007). Localização de defeitos – possibilidade do cálculo da possível zona do defeito na rede de distribuição através do valor da impedância de defeito. A utilização desta funcionalidade e das principais funções dos sistemas de proteção permite a célere localização de defeitos nas redes de média tensão. O processo de funcionamento do sistema de localização do defeito está representado na Figura 10, este foi o processo utilizado no projeto piloto. 4 Distribution Planning Valter Santos 24 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Figura 10 - Representação gráfica do processo de funcionamento de localização de defeitos (Louro, et al., 2011). Após o aparecimento do defeito o sistema de proteção calcula automaticamente a impedância de defeito, e este valor é enviado para a lista de alarmes do SCADA. No centro de operação de redes o valor da impedância de defeito é lido e introduzido manualmente no DPLAN, depois de efetuada a simulação com a funcionalidade de localização de defeitos, a zona provável do defeito é apresentada graficamente. Esta funcionalidade tem sido testada na rede de distribuição de média tensão, apresentando resultados bastante satisfatórios. No projeto piloto de localização de defeitos realizado em 2010 nas redes de distribuição verificou-se uma taxa de sucesso superior a 92%, com uma redução média de 40% no valor do tempo de interrupção equivalente da potência instalada (Louro, et al., 2011). 3.3. Sistemas de proteção das redes de distribuição de média tensão As redes de distribuição de média tensão estão sujeitas a frequentes perturbações, desde a ocorrência de defeitos até à avaria de equipamentos que provocam curto-circuitos, subtensões, sobretensões, sobrecargas, desequilíbrios e variações de frequência. Os sistemas de proteção não preveem nem evitam estes tipos de perturbações, no entanto, devem limitar as suas consequências garantindo a segurança das pessoas e dos equipamentos. Assim, deverão Valter Santos 25 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica cumprir os requisitos de segurança, fiabilidade, rapidez, seletividade e economia, necessários para se atingir um nível elevado de qualidade de serviço na operação das redes. Para o correto funcionamento dos sistemas de proteção deve ter-se em conta a definição do tipo de defeito a monitorizar, e a zona da rede e os equipamentos a proteger. Deverá ser adotado um método de coordenação entre os diversos sistemas de proteção, estabelecendo uma relação entre a qualidade de serviço e a seletividade. Deverá ainda existir redundância em relação aos equipamentos de proteção, que contribua para a fiabilidade no desempenho das proteções. Nas redes de distribuição de média tensão, quando ocorre um defeito, este deverá ser detetado e identificado pelos sistemas de proteção. Estes defeitos estão classificados em três categorias (EDP, 2007): - Defeito fugitivo, que ativa as funções de proteção e cuja supressão não necessita de nenhuma intervenção no local. Este tipo de defeito é eliminado com uma religação rápida. - Defeito semipermanente, ativa as funções de proteção, cuja supressão não necessita de nenhuma intervenção no local, e que se reproduz no mesmo local com intervalos de tempo curtos e sob o efeito da mesma causa. É eliminado por uma sequência de religações lentas. - Defeito permanente, que ativa as funções de proteção e cuja supressão necessita de intervenção no local em que ocorreu. Considera-se permanente um defeito que não é eliminado por uma sequência de religações lentas e que, portanto, origina o disparo definitivo do disjuntor de proteção da linha. É este defeito que dá início a uma interrupção de longa duração e que requer a intervenção dos técnicos do centro de condução da rede e dos técnicos no terreno. As informações dos sistemas de proteção são disponibilizadas aos centros de operação de rede através da lista de alarmes do “SCADA”. Estas informações permitem a compreensão do Valter Santos 26 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica funcionamento dos sistemas de proteção e automatismos inseridos na rede de distribuição, sendo por isso essenciais para a análise preliminar dos incidentes. 3.4. Automação e telecomando das redes de distribuição de média tensão As redes de distribuição de média tensão têm evoluído, passando a energia elétrica a ser distribuída a um número cada vez mais elevado de clientes. Inicialmente tinham pequenas dimensões, não apresentavam grandes preocupações de economia nem de segurança e funcionavam como redes isoladas. Atualmente, as sociedades desenvolvidas exigem elevados padrões de qualidade no fornecimento de energia elétrica, sendo a continuidade de serviço um dos aspetos a considerar. A evolução das redes de distribuição verificou-se ao nível dos equipamentos utilizados e dos métodos de planeamento e exploração, sendo possível a supervisão e o controlo das redes garantindo o fornecimento de energia elétrica com a qualidade adequada. Os métodos de supervisão e controlo têm evoluído significativamente nas últimas décadas, permitindo controlar e responder em tempo útil aos diversos fenómenos que ocorrem na rede de distribuição. O controlo em tempo real é possível com a utilização de equipamentos sofisticados e sistemas de comunicação adequados. A automação e o telecomando estão presentes nas redes de distribuição contribuindo para melhorar a qualidade de serviço e aumentar a eficiência dos meios disponíveis para a gestão da rede. 3.4.1. Automatismo de religação e automatismo VT (Voltage-Time) Por definição um automatismo pressupõe a capacidade de controlar um processo, tomando decisões segundo uma programação prévia e sem intervenção humana. O automatismo de religação (ou função de religação) destina-se a eliminar das redes de distribuição de média tensão os defeitos fugitivos ou semipermanentes, através de manobras de ligar e desligar o disjuntor, permitindo a reposição de serviço sem a intervenção humana. Valter Santos 27 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica O automatismo de religação é efetuado por equipamentos específicos como por exemplo os religadores, as Unidades Remotas Telecomandadas (URT), os Intelligent Eletronic Devices (IED) ou as unidades de proteção. Estes equipamentos permitem diferentes ciclos de religação: a religação rápida (RR), que implica o disparo do disjuntor seguindo-se de uma religação instantânea; e a religação lenta (RL), que implica o disparo do disjuntor seguindo-se uma religação temporizada. Ajustando os diferentes ciclos de religação, podem ser utilizados diferentes programas de religação, a saber (EDP, 2007): - Sem religação; - 1 RL (tipicamente, 15 segundos); - 2 RL (15 s + 15 s); - 1 RR (300 ms); - 1 RR + 1 RL (300 ms + 15 s); - 1 RR + 2 RL (300 ms + 15 s + 15 s) Associado ao automatismo de religação existe o automatismo VT que é utilizado nos equipamentos com telecomando na rede de distribuição de média tensão. O automatismo VT em coordenação com o automatismo de religação, permite isolar seletivamente o troço da rede com defeito sem intervenção humana. O princípio de funcionamento do automatismo VT é apresentado na Figura 11. Figura 11 - Princípio do funcionamento do automatismo VT (EDP, 2010b). Quando um órgão de corte de rede telecomandado está na posição de fechado e é detetada a de falha de tensão, será enviada uma ordem de abertura ao órgão, após o tempo t0 (tempo de confirmação de falha de tensão). Quando é detetada a presença de tensão será enviada ao fim Valter Santos 28 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica do tempo t1 (tempo de fecho) uma ordem ao órgão para fechar. A partir desse instante, é lançado um temporizador t2 (tempo de vigilância). Durante o tempo de vigilância, se surgir nova falha de tensão, será enviada uma nova ordem de abertura ao órgão e é provocado um bloqueio do automatismo. Para voltar a fechar o órgão de corte de rede será necessário que um técnico do centro de condução da rede com recurso ao telecomando desbloqueie o automatismo VT associado ao órgão. O automatismo VT em coordenação com o automatismo de religação reduz o tempo de pesquisa e o número de ensaios por telecomando, necessários para isolar o troço de rede com defeito. 3.4.2. Órgãos de corte de rede telecomandados A utilização de órgãos de corte de rede telecomandados proporciona o rápido isolamento do troço em defeito na rede, minimizando os tempos de interrupção e facilitando a deteção expedita dos defeitos. Nas redes de distribuição de média tensão estão instalados os seguintes órgãos de corte: - Interruptor Auto-Religador (IAR); - Órgão de Corte de Rede Tipo 1 (OCR1); - Órgão de Corte de Rede Tipo 2 (OCR2); - Disjuntor Auto-Religador (DAR). O Interruptor Auto-Religador (IAR), Figura 12, foi um dos primeiros órgãos telecomandados instalados na rede de distribuição de média tensão. Destinavam-se a colocar fora de serviço os troços de linhas suscetíveis de ter defeito, como zonas de ramais envelhecidos e/ou com baixas secções ou troços de elevado comprimento e baixa carga associada. Valter Santos 29 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Vantagens: Possibilidade de fecho sobre redes com defeito; Pode ser automatizado (automatismo VT). Desvantagem: Necessidade de seccionador (corte visível). Figura 12 - IAR instalado na rede distribuição de média tensão (ORD, 2012). O princípio de funcionamento baseia-se na função de automatismo VT, depois do disparo do disjuntor de proteção da linha é detetada a falha de tensão e o IAR abre. Após a religação do disjuntor, é temporizado o fecho do IAR, podendo verificar-se uma de três condições, se o disjuntor disparar antes do IAR fechar temos um defeito a montante do IAR, se o IAR fechar e o disjuntor não disparar estamos perante um defeito fugitivo, caso o disjuntor dispare depois do IAR fechar temos um defeito a jusante do IAR. Neste último caso o IAR bloqueia na posição de aberto. O Órgão de Corte de Rede Tipo 1 (OCR1), Figura 13, é caracterizado por um invólucro integralmente selado, contendo no seu interior Hexafluoreto de Enxofre5 que lhe confere qualidades excecionais como meio dielétrico e extintor do arco elétrico. O seu nível de isolamento elétrico garante a informação precisa do seu estado mecânico (aberto ou fechado) e a possibilidade de encravamento na posição de aberto, prescindindo assim da montagem de um seccionador associado. 5 O Hexafluoreto de Enxofre (SF6) é um dielétrico gasoso excelente para aplicações de Alta Tensão. As qualidades excecionais do SF6 como agente de corte são aproveitadas para extinguir o arco elétrico, que se produz quando os contactos móveis se separam dos fixos. Valter Santos 30 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Vantagens: Informação sobre passagem de defeito; Dispensa de seccionador (corte visível); Manutenção reduzida. Desvantagem: Em caso de defeito na rede, não fecha sobre curto-circuito (dano irreparável). Figura 13 - OCR1 instalado na rede de distribuição e pormenor do seu indicador de estado (em cima à direita) (ORD, 2012). Este aparelho é preferencialmente instalado nas interligações de linhas de média tensão, dado que suporta uma menor corrente de curto-circuito em comparação com o IAR, razão pela qual não deve ser manobrado em situação de defeito. É possível manobrar manual ou eletricamente este órgão, sendo que as manobras manuais podem ser feitas diretamente através de uma vara de manobra fixa no apoio, até uma altura de 25 metros. Um indicador mecânico ligado diretamente ao veio principal do aparelho indica o seu estado (aberto ou fechado). Quando intercalado com a rede na posição de fechado, tem a possibilidade de ser provido de três transformadores de intensidade que sinalizam a passagem de defeito, enviando informação para o Centro de Condução de Rede, permitindo assim identificar a zona de defeito. O Órgão de Corte de Rede Tipo 2 (OCR2) difere do anterior pelo facto de suportar correntes de curto-circuito, possuindo características elétricas muito semelhantes às do IAR. São aparelhos que pelo seu princípio de funcionamento poderão fechar sobre correntes de curtocircuito fase-fase ou fase-terra. Este aparelho possui uma pequena distância entre pólos, podendo-se estabelecer arcos elétricos entre os pólos na presença de sobretensões acentuadas. Necessita de ter associado um seccionador que garanta o corte visível, para intervenções na rede. A Figura 14 mostra o OCR2 instalado com o respetivo seccionador. Valter Santos 31 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Para além do comando elétrico, geralmente possuem uma alavanca de manobra manual que, com o recurso a uma vara, permite o fecho ou abertura do OCR2. Vantagens: Possibilidade de fecho sobre redes com defeito; Pode ser automatizado (automatismo VT). Desvantagem: Necessidade de seccionador (corte visível) Figura 14 – OCR2 instalado na rede de distribuição de média tensão (ORD, 2012). De referir que, estes aparelhos são hoje em dia os mais utilizados na rede de média tensão, no entanto estão a ser feitos estudos de viabilidade para um novo tipo de Órgão de Corte de Rede Tipo 3 (OCR3). O OCR3 irá reunir as funções do OCR1 e OCR2, no mesmo aparelho. Terá como grande diferença em relação ao OCR1 a possibilidade de efetuar manobras sobre o defeito. Em relação ao OCR2, terá maior afastamento entre pólos para dispensa do seccionador associado. O Disjuntor Auto-Religador (DAR), Figura 15, é um órgão que integra uma proteção e uma função de automatismo associada, e que tem a particularidade de efetuar um ciclo de religações após a deteção de um defeito. O DAR, contrariamente ao IAR, não abre pela ausência de tensão, mas pela proteção associada, com ordem manual ou por telecomando. Caso o ciclo de religações se cumpra e o defeito permaneça, o DAR fica na posição de aberto e com informação de bloqueio ao religador. Caso o defeito desapareça (defeito fugitivo), o DAR fecha e repõe o serviço a jusante. São aparelhos autónomos para a realização das suas funções de proteção e religação, no entanto precisam de tensão na rede a montante para realizarem a manobra de fecho. O dispositivo religador permite várias combinações de religações, rápidas e/ou lentas. Valter Santos 32 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Vantagens: Possibilidade de fecho sobre redes com defeito; Isolamento seletivo de defeitos a meio da linha; Tem um sistema de proteção associado. Desvantagens: Necessidade de seccionador (corte visível); Necessidade de tensão a montante para realizar manobra de fecho. Figura 15 - DAR instalado na rede de distribuição de média tensão com seccionador associado (ORD, 2012). Os órgãos de corte de rede telecomandados contribuem para melhorar a qualidade de serviço das redes de distribuição de média tensão, mas a sua instalação deverá ser efetuada após um estudo técnico-económico. É necessário efetuar uma análise de benefício/custo do investimento, com vista a garantir uma melhoria contínua de qualidade de serviço e ao mesmo tempo aumentar a eficiência da rede de distribuição. Para que o investimento realizado na instalação dos órgãos de corte seja otimizado é necessário prever a sua eficaz localização na rede, tendo em conta os diferentes tipos de órgãos de corte e as características especificas da rede onde irão ser instalados. Assim, a sua localização na rede, deverá ter em conta os seguintes aspetos (Santos, et al., 2003): - Instalação prioritária em linhas de média tensão que apresentem baixos índices de qualidade de serviço, devido à elevada extensão da rede ou a fatores ambientais e de longevidade (proximidade da orla marítima, zona de nidificação de cegonhas, redes envelhecidas); - Efetuar rapidamente manobras prioritárias de seccionamento de uma forma automática e/ou por telecomando; - Reconfigurações de recurso por telecomando recorrendo a aparelhos instalados em interligações em regime normal de exploração; Valter Santos 33 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica - Isolamento de troços que apresentem elevado número de avarias, melhorando a qualidade de serviço em centros de carga importantes (caso de zonas urbanas, sedes de concelho, parques industriais); - Relação comprimento da rede / potência instalada. Além dos aspetos apresentados, torna-se necessária a validação do local selecionado em termos de cobertura sinal de telecomunicações, e deverá ser analisada a acessibilidade e as características físicas e funcionais do apoio de suporte do órgão de corte. Valter Santos 34 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica CAPÍTULO IV – Desempenho das redes de distribuição de média tensão 4. Incidentes O Operador da Rede de Distribuição depara-se diariamente com perturbações e anomalias na rede elétrica, que se designam por incidentes. Para os operadores, um incidente é um acontecimento ou fenómeno imprevisto que provoca a desconexão, momentânea ou prolongada, de um ou mais elementos da rede. Um incidente pode originar uma ou mais interrupções de serviço, quer do elemento inicialmente afetado, quer de outros elementos da rede (DGEG, 2006). Quando ocorre um incidente na rede, a prioridade é restabelecer o serviço o mais rapidamente possível, de forma a minimizar as perturbações sentidas pelos consumidores. O tempo de reposição do serviço, quando excessivo, resulta em descontentamento por parte dos clientes. No momento que surge um incidente, este é gerido pelo técnico do centro de condução da rede, que efetua e coordena as manobras na rede para isolar o defeito. Com o serviço reposto, o incidente é caracterizado com toda a informação necessária para posteriores consultas e análises. A Figura 16 apresenta as várias fases de análise do incidente. Figura 16 - Fases de análise do incidente. Valter Santos 35 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica O Operador da Rede de Distribuição dispõe de sistemas que permitem efetuar o registo e tratamento da informação dos incidentes. É esta informação que caracteriza a qualidade de serviço das suas redes. Deve ser recolhida toda a informação necessária, nomeadamente a identificação da instalação onde o incidente ocorreu, a data e a hora de início e de fim de interrupção, a causa do incidente, e a identificação dos elementos da rede afetados. Toda esta informação é importante, porque além de permitir caracterizar a qualidade de serviço das redes de distribuição também permite identificar pontos fracos, contribuindo para a melhoria do serviço. 4.1. Tipos de incidentes Os incidentes dividem-se em três níveis, os de alta tensão (AT), os de média tensão (MT) e os de baixa tensão (BT). Os incidentes nas redes de distribuição de alta tensão são pouco frequentes e geralmente de curta duração, mas interrompem o fornecimento de serviços a um elevado número de clientes. Os incidentes nas redes de distribuição de média tensão são em maior número mas, geralmente, afetam menos clientes que os incidentes AT. Alguns são de curta duração, onde o defeito é “fugitivo” e se consegue restabelecer o serviço facilmente, outros, com uma duração superior, exigem que se efetuem manobras na rede para rapidamente repor o serviço ao maior número de clientes, até se conseguirem eliminar os defeitos da rede. Por fim, os incidentes nas redes de baixa tensão existem em maior quantidade mas com um número reduzido de clientes afetados, quando comparado com os outros tipos de incidentes. Dentro das redes de distribuição existe uma grande variedade de equipamentos e instalações, e para uma melhor caracterização, estes três grupos de incidentes estão subdivididos, como se pode verificar na Figura 17. Valter Santos 36 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Figura 17 - Tipos de incidentes por nível de tensão. Além destes tipos de incidentes, há um conjunto de ocorrências não analisadas neste estudo, que não provocam interrupção no fornecimento de energia, logo, não influenciam a continuidade de serviço. São exemplo disso, as redes de Iluminação Pública, cabos desativados e apoios danificados. Assim como o nível de tensão, a identificação do tipo de instalação que está na origem do incidente, é fundamental para identificar a sua causa. Fazem também parte da caracterização do incidente, os elementos da rede que apresentaram defeito. Os incidentes nas redes de distribuição de média tensão podem ocorrer nas redes aéreas, redes subterrâneas, subestações, postos de transformação (distribuição/cliente), postos de corte e seccionamento ou nas instalações de produção independente ligadas à rede. Nas redes de distribuição de baixa tensão, os incidentes podem ocorrer nos armários de distribuição, redes aéreas, redes subterrâneas, postos de transformação e distribuição, chegadas (aéreas/subterrâneas), portinholas ou em caixas de rede (aéreas/subterrâneas). Para caracterizar uma interrupção de serviço, deve ser registada a seguinte informação essencial: - Identificação da instalação de origem do incidente; - Identificação das instalações afetadas com interrupção; - Data e hora do início e fim da interrupção; - Causa e eventuais elementos avariados na rede elétrica. Valter Santos 37 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica A caracterização do incidente é extremamente importante, uma vez que com os elementos essenciais, pode-se facilmente analisar o incidente e tirar algumas conclusões. Possibilita ao Operador da Redes de Distribuição ter um histórico dos acontecimentos na rede, que pode ser usado como uma mais-valia para identificar zonas críticas, identificar materiais inadequados, comparar várias tecnologias aplicadas e projetar novas redes. Todos estes fatores são avaliados para uma constante melhoria na continuidade de serviço. 4.2. Causas dos incidentes Os incidentes devem ser caracterizados de forma a permitir identificar as causas das interrupções. Por vezes, essas causas não são da responsabilidade do Operador da Rede de Distribuição. Nesses casos as causas deverão estar claramente identificadas, justificadas e comprovadas. Para efeitos de aferição do cumprimento dos padrões de qualidade de serviço, estes incidentes ficam excluídos. Exemplo disso são os casos fortuitos ou de força maior (DGEG, 2006). As interrupções com origem nas redes de distribuição podem ser programadas (previstas) ou acidentais (imprevistas). Em função do tipo de interrupção, os incidentes podem ter diversas causas. Na Figura 18 são apresentadas as principais causas dos incidentes. Valter Santos 38 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Figura 18 – Principais causas dos incidentes que ocorrem nas redes de distribuição de energia. Valter Santos 39 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica 4.3. Desempenho das redes Após a caracterização dos tipos de incidentes nas redes de distribuição, foi estudada a distribuição dos incidentes ao longo de um mês. Existe uma grande variação no número de incidentes por dia e por hora, especialmente nos meses de inverno, em que as redes de distribuição estão sujeitas a condições atmosféricas adversas. No dia 27 de fevereiro de 2010 as regiões Norte e Centro do país, correspondendo em termos organizativos da EDP Distribuição à Direção de Rede e Clientes Norte (DRCN), Direção de Rede e Clientes Porto (DRCP), Direção de Rede e Clientes Mondego (DRCM) e Direção de Rede e Clientes Tejo (DRCT), estiveram sujeitas a condições atmosféricas adversas (Temporal Xynthia), que afetaram as redes de distribuição, em particular as redes de média e baixa tensão, de forma significativa. Como se pode verificar na Figura 19, nota-se uma grande disparidade no número de incidentes ao longo do dia. Neste dia foram afetados, em simultâneo e por interrupções de longa duração, superiores a 3 minutos (às 17 h do dia 27 de fevereiro), cerca de 818 mil consumidores. Os distritos mais afetados foram os distritos de Castelo Branco, Leiria, Lisboa, Portalegre, Santarém, Aveiro, Coimbra, Guarda e Viseu. No período compreendido entre as 14h e as 17h houve um pico no número de interrupções acidentais, que ultrapassou as 350 em toda a EDP Distribuição. Figura 19 - Distribuição das interrupções acidentais ao longo dos dias 27 e 28 de fevereiro de 2010 por DRC. (EDP, 2010a) Valter Santos 40 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica O tempo de interrupção equivalente da potência instalada correspondente às interrupções acidentais que ocorreram no período de exclusão considerado (entre as 10h e as 18h do dia 27 de Fevereiro) foi de 29,82 minutos, o que corresponde a uma energia não distribuída de 2174,90 MWh (EDP, 2010a). Tendo em conta estes cenários, o Operador da Rede de Distribuição deve estar preparado para conseguir repor o serviço o mais rapidamente possível ao maior número de clientes. Assim, são elaborados planos de contingência para que as interrupções provocadas por condições atmosféricas adversas, tenham o menor impacto possível no fornecimento de energia aos clientes. Nesses planos são definidas estratégias de gestão da rede, vias de comunicação do terreno com o centro de condução de rede e estabelecem-se prioridades no abastecimento de energia elétrica, prevendo um aumento de meios técnicos para a resolução dos incidentes. Como grande parte das redes de distribuição são aéreas, os ventos fortes, chuvas intensas, trovoadas, neve e gelo provocam, direta e indiretamente, danos graves nas redes. Em dias de regime perturbado, o centro de condução de rede tem uma responsabilidade acrescida na prevenção dos acidentes com origem elétrica, uma vez que o número de técnicos de reparação a trabalhar na rede aumenta significativamente. À fase de reposição de serviço segue-se a fase de reparação dos elementos das redes que permaneceram danificados. É importante que esta reparação seja feita rapidamente para que o centro de condução de rede tenha todas as redes de distribuição disponíveis para eventuais interligações em futuros incidentes. Os indicadores de continuidade de serviço permitem uma análise temporal do desempenho das redes, onde são identificadas alterações. A Figura 20 apresenta um resumo das ocorrências que existiram entre 2004 e 2011 nas redes de distribuição de média tensão. Valter Santos 41 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Figura 20 - Balanço da qualidade de serviço das redes de distribuição de média tensão, interrupções acidentais e previstas. Adaptado de (EDP, 2004 a 2011). As religações são operações automáticas de disparo e fecho de disjuntor, assim como nas ocorrências previstas de muito curta duração, provocam interrupções inferiores a 1 minuto. As ocorrências acidentais e/ou previstas de curta duração provocam interrupções superiores a 1 minuto e inferiores ou iguais a três minutos, as ocorrências acidentais e/ou previstas de longa duração provocam interrupções superiores a 3 minutos. Neste balanço verifica-se um aumento das ocorrências acidentais de curta duração e das religações ao longo dos anos. Em 2004 verificaram-se 10 mil religações, atingindo as 18 mil em 2011, o que correspondeu a um aumento de 80%. O número de ocorrências acidentais de longa duração não variou muito no período estudado, entre as 6 mil e 8 mil, quanto às ocorrências previstas verifica-se um decréscimo em todos os tipos, o que demonstra que os trabalhos efetuados nas redes provocam cada vez menos interrupções aos clientes. Em conclusão, verificou-se um grande aumento nas ocorrências acidentais com duração igual ou inferior a 3 minutos, no período de 2004 a 2011. De seguida são analisados os indicadores gerais de continuidade de serviço que estão regulados no Regulamento de Qualidade de Serviço para as redes de distribuição de média tensão no período 2004-2011. Para calcular os indicadores de continuidade de serviço foram consideradas todas as ocorrências acidentais e previstas de longa duração, com origem nos Valter Santos 42 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica vários níveis de tensão, incluindo aquelas que, de acordo com o estipulado no Regulamento de Qualidade de Serviço, estão abrangidas pelo nº.1 do Artigo 14º6. A energia não distribuída devido a ocorrências acidentais (Figura 21), em 2004 foi de 12623.MWh apresentando um pico em 2006 de 13021 MWh, mas ao longo dos anos verificase uma tendência descendente, atingindo o valor de 5093 MWh em 2011. As ocorrências previstas contribuíram de uma forma significativa para a redução da energia não distribuída nos anos analisados. Em 2004 a energia não distribuída devido a este tipo de ocorrências era de 2640 MWh passando a valer 10 MWh em 2011, no ano de 2010 apresentou o valor mais baixo com 5 MWh. Constata-se assim uma redução da energia não distribuída no período analisado, a comparação entre 2010 e 2011 confirma esta melhoria onde se verificou uma diminuição de 34,3% da energia não distribuída. Figura 21 - Evolução da energia não distribuída nas redes de distribuição de média tensão. Adaptado de (EDP, 2004 a 2011). O tempo interrupção equivalente por potência instalada (Figura 22), apresenta resultados idênticos aos apresentados para a energia não distribuída. Nas ocorrências acidentais o tempo de interrupção equivalente por potência instalada em 2004 era de 177 minutos, diminuindo 6 Casos fortuitos ou de força maior; razões de interesse público; razões de serviço; razões de segurança; acordo com o cliente e facto imputável ao cliente. Valter Santos 43 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica para os 75 minutos em 2009. As ocorrências previstas apresentavam aproximadamente um peso de 39 minutos em 2004, passando a valer apenas 6 segundos em 2011. Figura 22 - Evolução do tempo interrupção equivalente por potência instalada nas redes de distribuição de média tensão. Adaptado de (EDP, 2004 a 2011). A duração média das interrupções do sistema (Figura 23), das interrupções acidentais em 2004 era de 252 minutos, diminuindo para os 163 minutos em 2007, no ano de 2011 apresentou um valor mais baixo de 125 minutos. Ou seja, no ano de 2011 a duração média das interrupções foi aproximadamente metade do valor atingido no ano de 2004. Figura 23 - Evolução da duração média das interrupções do sistema nas redes de distribuição de média tensão. Adaptado de (EDP, 2004 a 2011). Valter Santos 44 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica As interrupções previstas em 2004 apresentaram em média uma duração de 58 minutos, e com uma tendência decrescente, atingiu uma duração inferior a 1 minuto em 2008, situação que se manteve até 2011. A Figura 24 mostra a evolução da frequência média de interrupções do sistema. Em 2004 existiam em média 4 interrupções acidentais por ponto de entrega, passando a 3 em 2007, 2008 e 2009. No ano de 2011 verificou-se o valor mais baixo, existiram aproximadamente 2 interrupções acidentais por ponto de entrega. Relativamente às interrupções previstas, 24% dos pontos de entrega eram afetados por uma interrupção prevista em 2004, e a partir do ano de 2008, este tipo de interrupções afetava menos de 1% dos pontos de entrega. Figura 24 - Evolução da frequência média de interrupções do sistema nas redes de distribuição de média tensão. Adaptado de (EDP, 2004 a 2011). Um dos mais importantes indicadores das redes de distribuição é o que traduz a indisponibilidade do sistema. Utilizando as equações do Anexo I, calculou-se a indisponibilidade das redes de distribuição de média tensão para os anos compreendidos entre 2004 e 2011. Pela análise da Figura 25, verifica-se que a indisponibilidade nas redes tem diminuído nos últimos anos, representando assim uma melhoria na continuidade de serviço. Valter Santos 45 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Figura 25 - Evolução da indisponibilidade do sistema (ASUI) nas redes de distribuição de média tensão. A análise da indisponibilidade permite ter uma visão global do comportamento das redes de distribuição, pois tem por base os principais fatores que influenciam a continuidade de serviço: número de clientes afetados por cada interrupção, duração de cada interrupção e número total de horas de serviço solicitado pelos clientes nesse período. A Figura 26 permite observar a melhoria significativa dos indicadores de continuidade de serviço nos anos de 2007 a 2011. O ponto de partida é o ano de 2004 onde os indicadores apresentam valores mais elevados. Figura 26 - Evolução dos indicadores de continuidade de serviço nas redes de distribuição de média tensão. Valter Santos 46 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica 4.4. Causas das ocorrências acidentais No ponto 4.2 foram descritas as principais causas dos incidentes nas redes, a Figura 27 relaciona essas causas com a energia não distribuída. Através destes dados pretendem-se identificar as principais causas das interrupções no fornecimento de energia elétrica. Pode-se verificar que, para os valores de energia não distribuída durante os anos estudados, as principais causas são os casos fortuitos ou de força maior (FFM) e o grupo de material/equipamento (M/E), cujos valores se destacam claramente das restantes causas. Legenda TIN FFM ATM P/A/T/C M/E MAN TEC HUM EEX DES OUTRAS TRABALHOS INADIÁVEIS CASOS FORTUITOS OU DE FORÇA MAIOR ATMOSFÉRICOS PROTECÇÕES/AUTOMATISMOS/TELEACÇÃO/COMUNICAÇÕES MATERIAL/EQUIPAMENTO MANUTENÇÃO TÉCNICAS HUMANAS ENTIDADES EXTERIORES DESCONHECIDAS RAZÕES DE SEGURANÇA; FACTO IMPUTÁVEL AO CLIENTE; INTERFERÊNCIAS Figura 27 - Causas da energia não distribuída nas redes de distribuição de média tensão. Adaptado de (EDP, 2004 a 2011). No grupo de causas casos fortuitos ou de força maior (FFM) estão incluídas as interrupções causadas por abate de árvores, trabalhos de terceiros, veículos, escavações, malfeitoria, sabotagem, alteração de ordem pública e greve geral. Este grupo de causas teve um pico em 2006 e foi o que mais contribuiu, com 4247 MWh para a energia não distribuída nesse ano. Em 2006 também se verificou um aumento de 63% no grupo de causas atmosféricas, que passou de 1083 MWh em 2005 para 1715 MWh em 2006. Os indicadores de continuidade de serviço em 2006 sofreram um acréscimo devido ao aumento das interrupções provocadas por estes grupos de causas. O grupo de causas material/equipamento (M/E) engloba os defeitos de montagem, defeitos de fabrico, erros na conceção de materiais, defeitos de isolamento, utilização inadequada dos materiais e envelhecimento dos materiais. Este grupo de causas é responsável por 32 a 45% da energia não fornecida entre os anos de 2004 a 2011, o que demonstra ser este o grupo de Valter Santos 47 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica causas mais influente nos indicadores de continuidade de serviço das redes de distribuição de média tensão. Estes valores estão disponíveis no Anexo 2. 4.5. Medidas de melhoria da continuidade de serviço Nas redes de distribuição de energia elétrica têm surgido algumas alterações nos últimos anos. Os materiais e equipamentos têm evoluído e os métodos de trabalho utilizados para realizar as intervenções na rede têm sido melhorados (EDP, 2010b). De seguida apresentam-se algumas destas evoluções que contribuem para uma melhoria contínua da continuidade de serviço das redes de distribuição. 4.5.1. Utilização adequada dos materiais e equipamentos Os materiais e equipamentos têm um papel importante na evolução dos padrões de continuidade de serviço. É necessário que os materiais e equipamentos com baixa fiabilidade sejam detetados e substituídos nas redes de distribuição. O Operador da Rede de Distribuição deverá selecionar os materiais a utilizar na rede, de acordo com as especificidades das zonas onde serão aplicados, como por exemplo zonas costeiras ou zonas com problemas de poluição ambiental. A Figura 28 mostra um isolador instalado numa zona costeira, no qual é visível a degradação devido à corrosão, comprovando a importância da adequação dos materiais às condições previstas. Figura 28 - Isolador instalado em zona marítima (ORD, 2012). Valter Santos Figura 29 - Queda de linhas devido ao vento (ORD, 2012). 48 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Tendo em conta as crescentes alterações climatéricas, com registos de situações extremamente severas (Figura 29), é necessário que o Operador da Rede de Distribuição adote mudanças na filosofia de planeamento e construção das redes, sobredimensionado os elementos para prevenir os danos causados por esforços anormais. Pequenos tornados ou quedas de neve em zonas pouco habituais são episódios cada vez mais frequentes, que podem provocar danos nas redes de distribuição. 4.5.2. Manutenção preventiva Para aumentar a fiabilidade das rede de distribuição é essencial que sejam desenvolvidas ações de manutenção preventiva, que permitam ao Operador da Rede de Distribuição identificar e substituir materiais ou equipamentos com defeito antes que provoquem qualquer incidente. Algumas das ações que permitem detetar defeitos envolvem o recurso a métodos termográficos para detetar pontos quentes nas redes de distribuição. Na Figura 30 é apresentado um exemplo da deteção de um ponto de defeito. Esta inspeção facilita a identificação dos elementos da rede que precisam de manutenção. Figura 30 - Resultado da análise termográfica (ORD, 2012). Como as redes de distribuição de média tensão são essencialmente constituídas por linhas aéreas, é fundamental que as faixas de proteção estejam limpas e bem delimitadas prevenindo a eventual ocorrência de defeitos provocados pelo toque de árvores nos condutores elétricos. Valter Santos 49 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Em caso de incêndio florestal, esta área de proteção minimiza os possíveis danos nas instalações elétricas, podendo mesmo limitar a progressão das chamas. Na rede aérea de distribuição é frequente a ocorrência de incidentes provocadas por aves. Em algumas zonas de maior proliferação de aves são instalados dispositivos anti e prónidificação, exemplo da Figura 31. A implementação de medidas de prevenção adequadas tem contribuído para a diminuição deste tipo de ocorrências. Figura 31 - Dispositivos anti nidificação e proteção de condutores (ORD, 2012). Figura 32 - Exemplo da deteção de defeitos nos isoladores (ORD, 2012). Atualmente podem-se detetar anomalias nos isoladores da rede aérea, através de equipamentos com tecnologias de ultrassons. O fenómeno de reflexão de ondas acústicas revela as descontinuidades internas quando encontram obstáculos à sua propagação, dentro de um determinado material. A Figura 32 ilustra a utilização deste equipamento que facilita a identificação de defeitos de isolamento que, visualmente, dificilmente seriam detetados. As medidas apresentadas servem de exemplo de ações realizadas pelo Operador da Rede de Distribuição, com o objetivo prevenir os incidentes evitando danos nos materiais e equipamentos contribuindo para melhorar a qualidade de serviço. 4.5.3. Trabalhos realizados em tensão Com a realização de trabalhos em tensão (TET) é possível efetuar ações de manutenção nas redes de distribuição, como por exemplo a substituição de equipamentos danificados, Valter Santos 50 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica operações de limpeza ou instalação de novos equipamentos, sem interromper o fornecimento de energia aos consumidores ligados à rede/instalação intervencionada. Esta técnica permite manter a tendência decrescente do número de interrupções previstas, verificada no estudo dos indicadores de continuidade de serviço. Na Figura 33 e na Figura 34 são apresentados dois exemplos da utilizada destas técnicas para realização de trabalhos de manutenção preventiva, na primeira é feita a substituição de um seccionador na rede aérea de média tensão e na segunda é efetuada a limpeza dos isoladores de uma subestação. Figura 33 - Substituição de seccionador (ORD, 2012). Figura 34 - Limpeza de isoladores (ORD, 2012). 4.5.4. Planeamento das redes Quanto mais extensas são as redes, maior é a dificuldade na deteção dos defeitos, e maior é o tempo de reposição de serviço. Para diminuir este tempo e o impacto causado pelos incidentes, é essencial que as linhas de média tensão tenham um comprimento reduzido. A reconfiguração das redes de distribuição deve fazer parte dos planos de melhoria, por vezes, é necessário instalar novas subestações, reduzindo assim o comprimento das linhas. Esta medida diminui as perdas por condução (Joule) na rede, reduz o número de clientes afetados pelas interrupções e permite uma maior flexibilização na gestão das redes de distribuição. Valter Santos 51 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Naturalmente ocorrem defeitos nas redes de distribuição que dificilmente se podem evitar, como por exemplo os que se incluem no grupo de casos fortuitos ou de força maior, devendo o Operador da Rede de Distribuição efetuar esforços para minimizar as suas consequências. A instalação de órgãos de corte de rede telecomandados são um exemplo, possibilitam uma redução significativa no tempo de pesquisa, podendo ser manobrados no instante seguinte ao aparecimento do defeito, não sendo necessário esperar que as equipas se desloquem para o terreno. A utilização de condutores isolados nas redes aéreas é outra medida de prevenção que deve ser utilizada principalmente em áreas muito expostas a intempéries, com grande número de aves ou densamente arborizadas, zonas costeiras e situações onde o espaço é limitado e onde as faixas de limpeza de vegetação/árvores têm de ser pequenas. A Figura 35 apresenta um exemplo de aplicação de cabos isolados que pode ser usado nestas zonas referidas. Figura 35 - Sistema Spacer Cable (Cardoso, et al., 2009). No planeamento das redes de distribuição deverão ser consideradas medidas como as apresentadas e outras que contribuam de forma significativa para a melhoria da continuidade de serviço, reduzindo o tempo de interrupção e o número de clientes afetados pelas interrupções. Valter Santos 52 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica CAPÍTULO V – Caso de estudo 5. Caso de estudo A evolução do setor elétrico estimula simultaneamente o aumento da qualidade de serviço técnico e a redução dos tempos de interrupção. O caso de estudo apresentado neste capítulo pretende evidenciar alguns dos incidentes que ocorrem nas redes de distribuição de média e alta tensão, e identificar medidas que o Operador da Rede de Distribuição deve adotar para melhorar o serviço prestado aos clientes. 5.1. Descrição e objetivo Após o estudo efetuado sobre a qualidade de serviço nas redes de distribuição nos últimos anos, identificou-se uma rede onde ocorreram vários incidentes. Estes incidentes interromperam a continuidade de serviço e causaram diversas perturbações, diminuindo a qualidade da energia elétrica fornecida aos consumidores. Pretende-se com o este estudo avaliar as consequências dos incidentes e definir estratégias e ações que se traduzam numa melhoria da qualidade de serviço. 5.2. Caraterização da rede de média tensão em estudo A escolha da rede para o estudo, fundamentou-se na possibilidade de analisar uma maior variedade de tipos de incidentes, assim escolheu-se uma rede média tensão mista com parte subterrânea (rede urbana) e parte aérea (rede rural). A rede em estudo é constituída por uma subestação AT/MT, inserida numa rede do tipo malhada (anel) alimentada por um injetor MAT/AT. Esta subestação é designada neste estudo por SE A. Tem um transformador de potência 60/15 kV de 20 MVA e tem seis saídas de média tensão, LMT1, LMT2, LMT3, LMT4, LMT5 e LMT6. A LMT1 é constituída essencialmente por rede aérea, cerca de 40 km, tem uma potência instalada de 8315 kVA dividida pelos 41 postos de transformação públicos e pelos 8 postos de Valter Santos 53 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica transformação privados, abastecendo cerca de 3300 clientes, entre clientes de média e baixa tensão. A potência dos transformadores instalados nos postos de transformação varia entre os 25 e os 630 kVA. Esta saída alimenta uma pequena zona industrial com uma potência instalada de 2000 kVA. A restante rede é rural com passagem por zonas agrícolas (campos de arroz, vinhas e campos de milho) e algumas zonas de floresta (essencialmente pinhal). A LMT1 tem três interligações, representadas na Figura 36, duas das quais são com a LMT4 e a outra interligação é com uma saída da SE X. Figura 36 - Características e esquema geográfico da LMT1 (ORD, 2012). A linha principal entre a SE A e as interligações é constituída por condutores de AlumínioAço7 com uma secção de 160 mm2, os condutores das derivações e dos ramais para os postos 7 Designados em terminologia anglo-saxónica por ACSR – Aluminium Conductor Steel Reinforced Valter Santos 54 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica de transformação são essencialmente de Alumínio-Aço com uma secção de 50 mm2. Alguns ramais mais antigos ainda têm condutores com uma secção de 30 mm2. Os cabos subterrâneos são utilizados em algumas transições de rede aérea/subterrânea para a ligação dos postos de transformação de cabine baixa. Está instalado um IART no início do ramal mais extenso desta saída que, em caso de existir um defeito a jusante do órgão, permite o isolamento do defeito e possibilita alimentar grande parte da rede. A LMT2 também é constituída principalmente por rede aérea, tendo uma potência instalada de 2420 kVA nos 18 postos de transformação, fornecendo energia elétrica a aproximadamente 1200 clientes. A extensão da rede aérea ronda os 20 km, sendo os condutores entre a SE A e a interligação com uma saída da SE Y de Alumínio-Aço, com uma secção de 160 mm2, nesta interligação está instalado um OCR1. A grande parte dos ramais e as derivações têm condutores de Alumínio-Aço com uma secção de 30 mm2. Geograficamente, a LMT1 está situada, em grande parte da sua extensão, numa zona agrícola de cultivo de cereais. Na LMT3 estão instalados 24 postos de transformação públicos e 7 postos de transformação privados, com uma potência total de 5585 kVA, abastecendo cerca de 2100 clientes na rede de média e baixa tensão. A linha principal é constituída por condutores de Alumínio-Aço com uma secção de 90 e 50 mm2, sendo as derivações e os ramais também de Alumínio-Aço, mas com uma secção de 50 e 30 mm2. No total esta linha de média tensão apresenta uma extensão de 35,7 km. As principais características da LMT2 e LMT3 estão representadas na Figura 37. Estão instalados na LMT3 três OCR2, dois nas interligações e um no meio da linha principal. Na interligação com a LMT4 está instalado um posto de transformação e seccionamento com telecomando. Valter Santos 55 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Figura 37 - Características e esquema geográfico da LMT2 e da LMT3 (ORD, 2012). As características da LMT4 são um pouco diferentes, tem uma extensão significativa de rede subterrânea devido às características geográficas desta zona urbana. No total esta linha tem 21,8 km de rede aérea e 7,4 km de rede subterrânea, estão instalados 26 postos de transformação públicos e 8 postos de transformação privados com uma potência total de 8970 kVA, fornecendo energia elétrica a 2460 clientes. Os condutores da linha principal são de Alumínio-Aço com uma secção de 160 mm2, e os cabos da rede subterrânea são do tipo LXHIOV8 com uma secção de 120 mm2. Na LMT4 está instalado um OCR2 no meio da linha principal, um OCR1 na interligação com a SE Z e na outra interligação com a LMT3 está instalado posto de transformação e seccionamento com telecomando. Estão caracterizadas na Figura 38 a LMT4 e LMT5. 8 LXHIOV – Cabo com alma condutora em alumínio multifilar, isolado a PEX, dotado de ecrã individual por condutor concêntrico e com bainha exterior em PVC. Valter Santos 56 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Figura 38 - Características e esquema geográfico da LMT4 e da LMT5 (ORD, 2012). A LMT5 é uma linha de média tensão de pequena dimensão, com uma extensão total de apenas 14,9 km. A rede aérea da linha principal também é constituída por condutores de Alumínio-Aço com uma secção de 160 mm2. Algumas derivações e ramais para os postos de transformação têm condutores de cobre com uma secção de 16 e 25mm2, a rede subterrânea fica situada numa urbanização com uma potência instalada de 2700 kVA no extremo da linha, na interligação com a SE X. No total está instalada uma potência de 8180 kVA divididos entre os 23 postos de transformação, abastecendo aproximadamente 2380 clientes. Não estão instalados órgãos telecomandados nesta linha de média tensão. Por último, temos a LMT 6, Figura 39, que é uma rede essencialmente aérea com uma extensão de 17,5 km, com 13 postos de transformação públicos e quatro privados em que a potência total instalada é de 2362 kVA, abrangendo 1420 clientes. A LMT6 é constituída principalmente por condutores de Alumínio-Aço com uma secção de 50 mm2 na linha principal e com uma secção de 30 mm2 nos ramais e derivações. Está instalado um IAT no início do ramal mais extenso, e nas interligações com a LMT3 estão instalados dois OCR2. Valter Santos 57 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Figura 39 - Características e esquema geográfico da LMT6 (ORD, 2012). No total, a rede em estudo tem uma extensão de 158 km, e uma potência instalada nos postos de transformação de 35832 kVA, fornecendo energia elétrica a aproximadamente 12900 clientes. 5.2.1. Incidentes registados na rede de média tensão em estudo Para se caracterizar a continuidade de serviço na rede de média tensão em estudo elaborou-se uma análise extensiva dos incidentes que ocorreram no período de janeiro de 2010 a setembro de 2012. A escolha deste período deve-se ao facto desta rede de média tensão não ter sofrido grandes alterações nas suas características. No período estudado verificaram-se 39 incidentes de longa duração e 295 incidentes de curta duração. A Tabela 4 mostra a distribuição dos incidentes pelas linhas de média tensão em estudo. Verificou-se que a LMT1 foi a linha que sofreu maior número de interrupções de longa duração, tendo ocorrido 11 incidentes com duração superior a 3 minutos, com o acumulado de tempo de interrupção equivalente da potência instalada de 1,79 minutos. Na LMT4 ocorreram 10 incidentes de longa duração e com o acumulado de tempo de interrupção equivalente da potência instalada de 0,84 minutos. Para o cálculo deste indicador só foram consideradas as interrupções com duração superior a 3 minutos. Valter Santos 58 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Tabela 4 - Incidentes na rede em estudo no período de janeiro de 2010 a setembro de 2012. Nº Incidentes curta duração (t ≤ 3 min) Nº Incidentes longa duração (t > 3 min) TIEPI (minutos) LMT1 LMT2 LMT3 LMT4 LMT5 LMT6 SE 53 11 54 85 11 81 - 11 4 8 10 2 3 1 1,79 0,45 0,29 0,84 0,13 0,11 0,20 Em relação aos incidentes de curta duração verificou-se que a LMT4 e a LMT6 foram as saídas que tiveram mais interrupções, com 85 e 81 respetivamente. Na rede em estudo verificou-se um incidente de longa duração na subestação que afetou todas as saídas de média tensão. Este causou interrupção no fornecimento de energia elétrica a todos os clientes da rede, aproximadamente 12900 clientes. A Figura 40 apresenta a distribuição do tempo de interrupção equivalente da potência instalada por saída e por ano (em 2012 só foram analisados os primeiros 9 meses do ano), verifica-se uma grande diferença deste indicador de qualidade de serviço nas instalações estudadas. A LMT1 e a LMT4 destacam-se pela negativa, estas linhas apresentam mais tempo de interrupção equivalente, enquanto a LMT5 e a LMT6 evidenciam-se pela positiva apresentado os valores mais baixos de tempo de interrupção equivalente. Figura 40 - Tempo de interrupção equivalente da potência instalada por instalação. Valter Santos 59 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Este indicador, tempo de interrupção equivalente da potência instalada, é um dos indicadores mais importantes de continuidade de serviço, uma vez que permite facilmente identificar a rede que apresenta problemas de continuidade de serviço. Dos 39 incidentes de longa duração que ocorreram na rede em estudo, 46% foram causados por casos fortuitos ou de força maior. A Figura 41 mostra a distribuição das causas dos incidentes dos incidentes de longa duração, e verifica-se que 12 dos incidentes foram causados por aves (aproximadamente 31% dos incidentes). Figura 41 - Distribuição das causas dos incidentes de longa duração. Em aproximadamente 15% dos incidentes não foi possível apurar a causa, foram 6 incidentes em que o serviço foi reposto após manobras de pesquisa sem a deteção de qualquer elemento avariado na rede. De seguida descreve-se de forma detalhada os incidentes de longa duração mais relevantes que ocorreram na rede. No período estudado, ocorreu na LMT1 um total de 11 incidentes, 5 em 2010, 2 em 2011 e 4 nos primeiros nove meses de 2012. A Tabela 5 apresenta os principais dados dos incidentes. Verificou-se que no conjunto de incidentes ocorridos, 3 foram causados por cegonhas no período de nidificação 3 incidentes. Apesar de em todos os casos os apoios de média tensão estarem equipados com dispositivos anti nidificação, constatou-se que esta solução não se revelou totalmente eficaz. Os incidentes números 8 e 9 foram provocados por terceiros, neste caso, abate de árvores que danificou vários condutores, que foram prontamente reparados. O Valter Santos 60 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica incidente com maior duração foi o número 6, com uma duração de 224 minutos. Neste incidente efetuaram-se manobras na rede para isolar o defeito, no entanto, o mesmo não foi detetado, não se tendo encontrado nenhum elemento avariado e não foi possível apurar a causa do incidente. Tabela 5 - Descrição dos incidentes de longa duração que ocorreram na LMT1. Incidente Grupo de causas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Desconhecidas Casos fortuitos (naturais ou ambientais) Atmosféricas Proteções/ automatismos Material/ equipamento Desconhecidas Material/ equipamento Casos fortuitos (terceiros) Casos fortuitos (terceiros) Casos fortuitos (naturais ou ambientais) Casos fortuitos (naturais ou ambientais) TIEPI Duração (minutos) (minutos) 0,09 0,21 0,23 0,12 0,16 0,30 0,22 0,09 0,09 0,21 0,08 33 130 155 43 152 224 110 142 177 169 64 Descrição Sem deteção de elemento avariado Ninho de cegonha Arco cortado e condutores danificados Falha de comunicações Condutores danificados Sem deteção de elemento avariado Condutores danificados Arvores em cima dos condutores Condutores danificados Ninho de cegonha Ninho de cegonha Na LMT2 ocorreram 4 incidentes, 3 em 2010 e 1 em 2012. Foi nesta linha que se verificou o incidente mais longo de todo o estudo, com 724 minutos, foi no dia 27 de fevereiro de 2010, dia do temporal “Xynthia”. Neste dia houve regime perturbado e, devido às condições atmosféricas adversas, algumas árvores fora da faixa de proteção caíram para cima dos condutores, danificando-os e partindo alguns apoios. O elevado número de incidentes em simultâneo e a necessidade de recorrer a meios especiais para reparar os elementos avariados na rede dificultaram a reposição do serviço em tempo útil. Dos oito incidentes que se verificaram na LMT3, quatro foram provocados pela nidificação de cegonhas. Nestes casos os apoios de média tensão não tinham qualquer proteção para evitar a nidificação das aves. Todos os incidentes tiveram uma duração inferior a 134 minutos, sendo o incidente mais longo provocado pelo defeito de isolamento num descarregador de sobretensão, instalado num posto de transformação. Na LMT4 também se verificaram incidentes causados pela nidificação das cegonhas, no período estudado foram 4 incidentes. A Tabela 6 apresenta os incidentes de longa duração que ocorreram nesta linha de média tensão. Nos incidentes nº 1, 2 e 8 não foi possível identificar a Valter Santos 61 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica causa das interrupções. No incidente nº 4 o elemento avariado foi um cabo subterrâneo danificado devido a defeito de isolamento e só foi possível repor o serviço ao fim de 227 minutos. Tabela 6 - Descrição dos incidentes de longa duração que ocorreram na LMT4 Incidente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Grupo de causas Desconhecidas Desconhecidas Casos fortuitos (naturais Material/ equipamento Casos fortuitos (naturais Casos fortuitos (naturais Material/ equipamento Desconhecidas Casos fortuitos (naturais Material/ equipamento ou ambientais) ou ambientais) ou ambientais) ou ambientais) TIEPI Duração (minutos) (minutos) 0,04 0,02 0,05 0,23 0,06 0,09 0,17 0,07 0,04 0,07 51 31 66 227 65 33 117 83 59 82 Descrição Sem deteção de elemento avariado Sem deteção de elemento avariado Ninho de cegonha Cabo subterrâneo danificado Ninho de cegonha Ninho de cegonha Ligador de rede aérea danificado Sem deteção de elemento avariado Ninho de cegonha Isolador danificado Não se verificaram incidentes relevantes nas outras duas linhas, LMT5 e LMT6. No total nestas duas linhas ocorreram 5 incidentes com uma duração sempre inferior a 120 minutos. Em junho de 2012 houve um incidente na subestação que afetou as seis linhas de média tensão. Na causa deste incidente esteve um animal que provocou um arco interno no barramento da subestação. A duração deste incidente foi de 160 minutos, sendo necessário recorrer às subestações próximas para alimentar parte da rede de média tensão. 5.3. Identificação dos cenários Com base nas características e no estudo dos incidentes que ocorreram na rede de média tensão foram definidos três casos de estudo. Nestes casos identificam-se as limitações existentes e apresentam-se algumas soluções que contribuem para a melhoria na continuidade de serviço nas redes de distribuição. No primeiro cenário analisam-se as assimetrias nas características das várias linhas de média tensão e nos indicadores de continuidade de serviço. Ao identificar a linha de média tensão com os mais baixos índices de continuidade de serviços serão apresentadas medidas que diminuam os impactos causados pelas interrupções. Valter Santos 62 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica No segundo cenário será analisado em detalhe o incidente que causou interrupção a maior número de clientes devido à indisponibilidade total da subestação. Serão identificadas as limitações da rede, e apresentadas soluções para eliminar as restrições da rede em futuros incidentes. Num terceiro cenário descrevem-se dois casos reais implementados durante este estudo que contribuíram para reduzir os incidentes de curta duração. Utilizou-se o localizador de defeitos para facilitar a localização e eliminar os defeitos fugitivos. Os procedimentos implementados poderão ser usados para reduzir o número de interrupções de curta duração nas redes de distribuição de curta duração. 5.3.1. Cenário I Através do estudo do desempenho das várias linhas de média tensão constatou-se que a LMT1 apresentou os mais baixos índices de continuidade de serviço, devendo-se este facto às suas características. É a linha com maior extensão de rede, aproximadamente 41 km, que tem um maior número de instalações, 43 postos de transformação públicos e 8 postos de transformação privados com uma potência total instalada de 8315 kVA. Após uma análise cuidada das características da LMT1 identificou-se uma alteração na rede que poderá contribuir para melhorar a qualidade de serviço de alguns clientes. Este estudo foi efetuado tendo como base os seguintes pontos: potência instalada, configuração, características físicas, fiabilidade e localização dos órgãos telecomandados. A alteração proposta está representada na Figura 42 e consiste em alterar o ponto de interligação entre a LMT1 e a LMT4. Com esta alteração a rede de média tensão da zona industrial que é constituída por 748 metros de rede subterrânea, 2 postos de transformação de cliente e 1 posto de transformação público, transita da LMT1 para a LMT4. Valter Santos 63 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Figura 42 – Alteração proposta ao esquema geográfico da LMT1 (ORD, 2012). As vantagens desta reconfiguração são as seguintes: - A rede subterrânea da zona industrial passa para a LMT4, que já tem uma grande parte de rede subterrânea. Isto é, separa-se a rede aérea da rede subterrânea; - A LMT4 tem mais órgãos telecomandados, permitindo reconfigurar a rede e repor o serviço rapidamente em caso de defeito; - A LMT4 tem menos interrupções de longa duração, e consequentemente melhor qualidade de serviço. A Tabela 7 mostra estas diferenças no período de janeiro a setembro de 2012. Tabela 7 - Comparação da continuidade de serviço entre a LMT1 e LMT4 no período de janeiro a setembro de 2012. Linha LMT1 LMT4 Valter Santos Nº Incidentes longa duração (t > 3 min) 4 2 TIEPI (minutos) 0,46 0,11 SAIDI (minutos) 0,6 0,11 SAIFI (nº) 0,022 0,012 64 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Com esta reconfiguração é possível inserir a rede da zona industrial numa linha com melhor continuidade de serviço e com melhores tempos de reposição de serviço. Esta reconfiguração foi validada através duma simulação de trânsito de potências. Não se apuraram ramos em sobrecarga, nem alterações significativas nos valores das tensões nos diferentes nós das duas linhas. Outro dado relevante que surgiu do estudo das características das linhas foi o facto de a linha mais extensa da rede de estudo (LMT1) ter apenas um órgão telecomandado. Como a LMT1 é a linha que apresenta os piores índices de qualidade de serviço, foi elaborado um estudo sobre a implementação de órgãos de corte telecomandados nesta linha de média tensão. Esta alteração implica um grande investimento, e como tal é necessário confirmar o retorno do investimento através de uma análise técnico-económica. Nas redes de distribuição de média tensão, segundo o Operador da Rede de Distribuição (EDP, 2010b), a análise técnico-económica é realizada de acordo com a metodologia ASCI(D), (Análise, Seleção e Controlo de Investimentos na Distribuição). Esta metodologia tem em conta o valor do investimento aplicado na realização de obras e o valor dos benefícios gerados pelo investimento. O benefício em qualidade de serviço é estimado pelos ganhos esperados em energia não fornecida, o investimento é o custo da aquisição e instalação dos equipamentos. O resultado económico do projeto de investimento é anunciado pelos indicadores considerados na metodologia ASCI(D) que são: relação benefício/custo (B/C) taxa de rentabilidade inicial (TRI), valor atualizado líquido (VAL) e taxa interna de rentabilidade). Na avaliação económica da localização de órgãos de telecomandados na rede de média tensão, pode-se exprimir as equações de cálculo em função do benefício previsto para o primeiro ano do período de estudo. Para isso, consideram-se os benefícios constantes durante o período de análise económica. O benefício total, gerado pelo programa de investimento, será calculado pela Equação 1 (Santos, et al., 2003): Valter Santos 65 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica (1) em que, i : taxa de atualização, p.u. i = 10% = 0,1 p.u. Ano 1 : ano em que se inicia o horizonte de estudo (primeiro ano de geração de benefícios) Ano N : ano em que termina o horizonte de estudo (último ano de geração de benefícios) B1 Ano N = 30 : somatório dos benefícios obtidos no Ano 1, € Obs. Na presente situação, restringe-se ao benefício de redução de energia não distribuída na rede MT B : benefício total gerado pelo investimento durante o horizonte de estudo, € resulta, (2) O cálculo económico baseia-se no Custo Total (C) do projeto de investimento que se obtém a partir do Valor de Custo (v.c.) das obras realizadas para implementar o projeto, adicionando encargos internos do Operador da Rede de Distribuição. Os encargos internos são expressos pelos seguintes indicadores financeiros: Coeficiente de Encargos de Gestão (CEG), Coeficiente de Encargos de Estrutura (CEE) e Coeficiente de Encargos Financeiros (CEF). Assim, conforme a Equação 3 calculamos (Santos, et al., 2003): (3) sendo, (4) em que, CEG: Coeficiente de Encargos de Gestão, p.u. CEG = 13,36% = 0,1336 p.u. CEE: Coeficiente de Encargos de Estrutura, p.u. CEG = 16,91% = 0,1691 p.u. CEF: Coeficiente de Encargos Financeiros, p.u. CEG = 1,01% = 0,0101 p.u. kc : constante económica que exprime a totalidade dos encargos financeiros associados, p.u. v.c. : valor de custo das obras realizadas, € C : custo total do projeto de investimento, € Valter Santos 66 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Obtemos: (5) Assim, resulta: (6) A validação técnico-económica de um novo órgão de corte de rede telecomandado implica que os indicadores verifiquem simultaneamente as seguintes condições: (7) sendo, (8) temos, (9) de onde, (9) Obtemos a relação entre o valor de custo das obras a realizar e o benefício previsto para o primeiro ano do período de estudo: (10) e, (11) em que, B/C : relação entre o benefício e o custo do projeto de investimento, p.u. TRI : taxa de rentabilidade inicial do projeto de investimento, % i : taxa de atualização, p.u. i = 10% = 0,1 p.u. VAL: valor atualizado líquido, € B1 : benefícios obtidos no Ano 1, € B : benefício total gerado pelo investimento durante o horizonte de estudo, € C : custo total do projeto de investimento, € Valter Santos 67 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica O cálculo da energia não fornecida é efetuado para o primeiro ano do estudo, nos anos seguintes este valor será atualizado com uma estimativa, através da consideração de uma taxa de crescimento de cargas. Se considerarmos uma taxa de crescimento das cargas com valor igual a zero, podemos admitir que os valores da energia não fornecida são constantes ao longo dos anos. Esta simplificação é aconselhada pelo Operador da Rede de Distribuição neste tipo de estudo técnico-económico, devido ao facto de o valor da taxa de crescimento de cargas ser insignificante (Santos, et al., 2003). A valorização económica dos ganhos em energia não distribuída é efetuada a 1,5 €/ kWh (EDP, 2010b). O cálculo do ganho anual da energia não fornecida é obtido através da seguinte equação: (12) e, (13) em que, GENF: Ganho anual da energia não fornecida, MWh/ano N : número de incidentes de longa duração, av/ano t : tempo médio ganho na reposição de serviço, h/av Pmed : potência média não cortada, MW B1 : benefícios obtidos no Ano 1, € Vu : valia unitária, €/ kWh Os parâmetros N e t são obtidos através do histórico dos incidentes da rede em análise, é calculada a média de incidentes de longa duração por ano e o tempo médio ganho na reposição de serviço com telecomando. A potência média não cortada será obtida através das medidas reais aplicadas à linha em causa. Através da análise das interrupções de longa duração e do histórico das medidas do painel da LMT1, foram determinados os seguintes parâmetros da LMT1, Tabela 8: Valter Santos 68 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Tabela 8 - Parâmetros da LMT1 no período de janeiro de 2010 a setembro de 2012. N (av/ano) t (h/av) Pmed (MW) 4 0,56 1,652 Com base na análise das características dos órgãos de corte de rede telecomandados existentes na rede aérea, feita no capítulo III, foram escolhidos órgãos de corte do tipo OCR2, visível na Figura 14. Segundo o Operador da Rede de Distribuição, é este o tipo de órgão que é instalado atualmente nas redes de distribuição de média tensão (EDP, 2010b). A otimização da quantidade de órgãos de corte de rede a instalar na LMT1, será avaliada pelo resultado do estudo técnico-económico, permitindo obter um investimento rentável. A Tabela 9 apresenta o benefício previsto relativo ao ganho da energia não fornecida durante os 30 anos (período de vida útil dos órgãos de corte de rede). Prevê-se uma redução de aproximadamente 3,7 MWh no valor da energia não fornecida por cada ano. Tabela 9 - Benefício referente ao ganho da energia não fornecida e o custo unitário do equipamento tipo OCR2. Benefício referente ao ganho da energia não fornecida GENF Vu B1 B (MWh/ano) (€/kWh ) (€) (€) 3,700 1,5 5.551 52.326 Custo unitário do equipamento v.c. Tipo (€) OCR2 12.780 Numa primeira análise a equação 10 permite calcular qual o número máximo de órgãos de corte de rede telecomandados a instalar na LMT1, assegurando um resultado do projeto de investimento rentável. Aplicando a condição da equação 10 conclui-se que economicamente 2 será o número máximo de órgãos a instalar. Para maximizar os benefícios dos órgãos de corte de rede telecomandados, deve-se considerar também a instalação destes equipamentos nas interligações que possibilitem a alimentação de recurso. Estes equipamentos com telecomando nas interligações permitem o restabelecimento da alimentação de socorro em tempo reduzido. Assim, o nosso projeto de investimento prevê a instalação de dois órgãos de corte de rede telecomandados, um ficará numa interligação com Valter Santos 69 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica outra linha, e um sensivelmente a meio na rede. A localização deste órgão será determinada com base na relação comprimento da rede/ potência instalada, que em caso de defeito permite dividir a rede em duas partes, uma com defeito e outra sã. Considerando a instalação dos dois equipamentos, na Tabela 10 está exposto o resultado económico do projeto de investimento efetuado. Tabela 10 - Resultado económico do projeto de investimento efetuado para instalação de OCR's na LMT1. Custo total dos equipamentos Nº OCR2 2 kc (p.u.) 1,33868 v.c. (€) 12.780 C (€) 34.217 Indicadores técnico-económicos B/C TRI VAL (p.u.) (%) (€) 1,53 14,75 18.109 Concluímos que o investimento efetuado é rentável, o custo do investimento nos dois órgãos de corte de rede telecomandados é de 34.217 €, prevendo-se que este investimento gere um benefício de 52.326 €, e a taxa de atualização (i= 10%) é inferior à taxa de rentabilidade inicial do projeto de investimento (TRI=14,75%). A localização dos órgãos telecomandados está representada na Figura 43, mas esta deverá ser validada no terreno. Será necessário a validação do sinal de comunicação, indispensável para o telecomando, deverá estar garantida a acessibilidade ao local da instalação, será necessário confirmar que os apoios possuem robustez suficiente para permitir a instalação dos equipamentos e certificar que os condutores elétricos não apresentem sinais de mau estado. Valter Santos 70 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Figura 43 - Esquema geográfico da LMT1 com proposta de localização dos OCR’s (ORD, 2012). Com o estudo técnico-económico favorável, a localização estratégica dos dois órgãos de corte de rede telecomandados contribuirá para uma melhoria na qualidade de serviço da LMT1. A sua instalação permitirá reduzir o tempo de reposição de serviço, reduzir o número de manobras sob defeito, diminuir o tempo de localização do defeito e reduzir o valor da energia não distribuída. 5.3.2. Cenário II O incidente com mais impacto na rede em estudo foi o que causou a indisponibilidade total da subestação (SE A), provocou interrupção no fornecimento de energia à totalidade dos clientes, aproximadamente 12900 clientes. Este incidente ocorreu durante no ano de 2012 e foi causado por um animal, que provocou um arco elétrico no barramento de média tensão SE A. Após a atuação das proteções não foi possível usar este barramento para abastecer os postos de transformação (públicos e privados) das 6 saídas de média tensão. A Tabela 11 resume os Valter Santos 71 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica impactos iniciais causados neste incidente, inicialmente o incidente afetou 138 postos de transformação públicos e 34 postos de transformação privados com uma potência total instalada de 35.832 kVA. Tabela 11 - Instalações inicialmente afetadas pelo incidente na SE A. Instalações LMT1 LMT2 LMT3 LMT4 LMT5 LMT6 Total PTs Públicos (nº) PTs Privados (nº) Potência Instalada (kVA) Clientes (nº) 41 14 24 26 20 13 138 8 4 7 8 3 4 34 8.315 2.420 5.585 8.970 8.180 2.362 35.832 3.300 1.226 2.141 2.466 2.379 1.422 12.934 Com a indisponibilidade do barramento da SE A foi necessário proceder a manobras na rede de média tensão para repor o serviço ao maior número de clientes possível, sem violação dos limites impostos pela regulamentação, mantendo as tensões dentro dos valores admissíveis, e respeitando os limites máximos permitidos pelos equipamentos da rede, salvaguardando possíveis sobrecargas. Algumas das manobras foram executadas com utilização dos órgãos de corte de rede telecomandados, verificando-se celeridade na reposição de serviço. Outras manobras necessitaram a deslocação de equipas ao terreno, neste caso com pior tempo de reposição de serviço. A Figura 44 mostra o tempo de reposição de serviço após a ocorrência do defeito. Verificou-se que duas linhas foram alimentadas recursivamente com manobras de órgãos telecomandados, o serviço foi reposto ao fim de 3 e 4 minutos na LMT2 e LMT4, respetivamente. Na LMT5 e na LMT6 foi necessário a deslocação de equipas para os locais das interligações para se procederem às manobras de recurso das respetivas linhas. Devido ao tempo de chegada ao local, o serviço foi reposto na LMT5 ao fim de 31 minutos e na LMT1 ao fim de 37 minutos. Na LMT3 e na LMT6 só foi possível repor o serviço quando se reparou os danos no barramento da SE A provocados pelo defeito, ou seja, estas duas linhas não têm recurso pela rede de média tensão. O tempo de interrupção no fornecimento de energia elétrica foi de 159 minutos na LMT3 e de 160 minutos na LMT6. Valter Santos 72 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Figura 44 - Tempo de reposição de serviço por instalação afetada no incidente da SE A. Na análise detalhada deste incidente constatou-se que, em caso de indisponibilidade total da subestação, uma parte significativa da rede não pode ser alimentada recursivamente pela rede de média tensão. Foi elaborada uma análise com recurso ao estudo do trânsito de potências na rede de média tensão, com o objetivo de identificar as limitações existentes na rede e procurar soluções para aumentar a fiabilidade da rede. No estudo do trânsito de potências elaborado, foram consideradas as pontas máximas de cada linha de média tensão, o que corresponde ao pior cenário possível. Os dados são mostrados na Tabela 12 e verificando-se que a LMT1 e a LMT4 são as linhas da rede de média tensão em estudo que têm valor de ponta mais elevado. No auxílio ao estudo foi utilizado o programa DPLAN que permitiu simular o comportamento da rede em contexto real. Neste estudo foram adicionadas à rede inicial as linhas de média tensão que servem de recurso à rede da SE A. Da SE X temos duas linhas, a LMx1 que interliga com a LMT1, e a LMTx2 que interliga com a LMT5. Na SE Y existe a LMTy1 que tem uma interligação com a LMT2, e a SE Z tem a linha LMTz1 que interliga com a LMT4. No estudo também foram consideradas as condições de ponta máxima para as linhas de recurso, conforme é mostrado na Tabela 12. Valter Santos 73 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Tabela 12 - Características das linhas de média tensão em condições de ponta. Subestação A Subestação X Tensão referência no Barramento = 15,7 kV Saída Cenário de ponta máxima I S Tensão referência no Barramento = 15,7 kV cos φ Saída 2.182 0,936 546 0,938 30 818 0,939 70 1.910 0,952 LMT5 35 955 0,952 LMT6 20 546 0,936 (A) (kVA) LMT1 80 LMT2 20 LMT3 LMT4 Cenário de ponta máxima I S cos φ (A) (kVA) LMTx1 100 2.728 0,929 LMTx2 25 682 0,933 Subestação Y Subestação Z Tensão referência no Barramento = 15,7 kV Tensão referência no Barramento = 15,7 kV Cenário de ponta máxima I S Cenário de ponta máxima I S Saída LMTy1 (A) (kVA) 42,2 1.152 cos φ Saída 0,949 LMTz1 (A) (kVA) 100,0 2.727 cos φ 0,928 No primeiro estudo do trânsito de potências efetuado foram testadas as limitações da rede, e simulou-se a indisponibilidade do barramento de média tensão na SE A. Efetuaram-se as manobras de recurso do incidente real, com exceção da LMT3, em que se simulou a reposição de serviço pela SE Z via LMT4. Nesta simulação o resultado do trânsito de potências comprovou as limitações da rede neste tipo de contingência, a Tabela 13 mostra os 22 nós da rede onde se verificaram a violação dos limites de tensão, todos os nós são da LMT3. Tabela 13 - Violações dos limites de tensão na rede com indisponibilidade da SE A, trânsito de potências com as limitações da rede. Violações de tensão Alimentação de recurso Linha inicial Id do nó Limite (p.u.) Tensão (p.u.) Violação (%) Alimentação de recurso Linha inicial Id do nó Limite (p.u.) Tensão (p.u.) Violação (%) LMTz1 LMT3 LMT3_27 0,9 0,893 -0,8 LMTz1 LMT3 LMT3_40 0,9 0,895 -0,6 LMTz1 LMT3 LMT3_33 0,9 0,893 -0,8 LMTz1 LMT3 LMT3_37 0,9 0,895 -0,6 LMTz1 LMT3 LMT3_26 0,9 0,893 -0,8 LMTz1 LMT3 LMT3_44 0,9 0,895 -0,6 LMTz1 LMT3 LMT3_38 0,9 0,893 -0,7 LMTz1 LMT3 LMT3_30 0,9 0,895 -0,6 LMTz1 LMT3 LMT3_23 0,9 0,894 -0,7 LMTz1 LMT3 LMT3_32 0,9 0,895 -0,5 LMTz1 LMT3 LMT3_34 0,9 0,894 -0,7 LMTz1 LMT3 LMT3_24 0,9 0,895 -0,5 LMTz1 LMT3 LMT3_31 0,9 0,894 -0,7 LMTz1 LMT3 LMT3_45 0,9 0,896 -0,5 LMTz1 LMT3 LMT3_35 0,9 0,894 -0,7 LMTz1 LMT3 LMT3_36 0,9 0,896 -0,4 LMTz1 LMT3 LMT3_28 0,9 0,894 -0,6 LMTz1 LMT3 LMT3_42 0,9 0,897 -0,3 LMTz1 LMT3 LMT3_43 0,9 0,894 -0,6 LMTz1 LMT3 LMT3_25 0,9 0,897 -0,3 LMTz1 LMT3 LMT3_41 0,9 0,895 -0,6 LMTz1 LMT3 LMT3_39 0,9 0,898 -0,2 Valter Santos 74 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Na Figura 45 estão representadas geograficamente as zonas da rede com violações nos valores de tensão regulamentares. Os nós da LMT3 apresentam valores de tensão inferiores aos 0,9 p.u, valor mínimo de tensão regulamentar, e algumas das instalações da LMT4 têm tensões de 0.91 p.u. estando assim com valores muito próximos do limite. Como na LMT6 só existem interligações com a LMT3 não foi possível a alimentação de recurso, ficando todas as instalações da LMT6 sem energia elétrica. Figura 45 - Esquema geográfico da rede com indisponibilidade da SE A, resultado do trânsito de potências com as limitações da rede. Valter Santos 75 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Com esta reconfiguração de rede, no trânsito de potências não se verificou nenhuma situação de sobrecarga nos equipamentos que constituem a rede de média tensão. Confirmou-se que devido aos valores de tensão, em situações de indisponibilidade total da SE A não é possível repor o serviço aos clientes da LMT3 e LMT6. Para resolver estas limitações equacionaram-se as seguintes hipóteses: - Construir uma interligação entre a LMT3 e a rede de média tensão circundante de outra subestação. Como o nível de tensão da rede circundante é de 30 kV, diferente do nível de tensão da LMT3, para se executar a interligação seria necessário construir uma nova subestação 30/15 kV. - Construir uma interligação entre a LMT6 e a LMT2, estabelecendo um fuso entre as duas linhas. Assim, será necessário analisar um ponto da rede onde a interligação seja exequível, e estudar a comportamento da rede em situação de contingência. Economicamente a segunda opção será mais vantajosa, no entanto, será necessário comprovar a sua viabilidade técnica, garantindo que as limitações da rede de média tensão em situações de indisponibilidade da subestação serão eliminadas. Este estudo será apresentado de seguida, na Figura 46 está a exposta a interligação proposta entre a LMT2 e a LMT6. Foram considerados as características dos condutores e a distância entre as duas linhas para a escolha do local da interligação, pois são estas características que podem alterar o resultado do novo trânsito de potências. A interligação proposta tem 2470 metros e será constituída por condutores do tipo Alumínio-Aço com uma secção de 90 mm2. Valter Santos 76 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Figura 46 - Esquema geográfico da rede com a interligação proposta entre a LMT2 e a LMT6 (ORD, 2012). Caso esta interligação resolva as limitações da nossa rede neste caso de estudo, será sempre necessário confirmar no terreno que esta interligação poderá ser executada. A interligação proposta modifica o comportamento da rede em caso de indisponibilidade total da SE, assim, é necessário efetuar um novo trânsito de potências para comprovar essas alterações. As reconfigurações efetuadas na rede para o novo trânsito de potências são iguais à simulação anterior na LMT1, na LMT5 e na LMT 4. Com a nova interligação, as restantes linhas de média tensão têm uma reconfiguração diferente, a LMTy1 é recurso à LMT2, à LMT6 e à LMT3. Na Tabela 14 descrevem-se as manobras de reconfiguração efetuadas para o novo trânsito de potências, como se simula a indisponibilidade da SE A todos os disjuntores das saídas LMT1, LMT2, LMT3, LMT4, LMT5 e LMT6 estão desligados. As cargas destas linhas serão alimentadas pelas subestações de recurso através das respetivas linhas. Valter Santos 77 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Tabela 14 – Manobras de reconfiguração da rede de média tensão com a nova interligação entre a LMT2 e a LMT6, trânsito de potências com indisponibilidade da SE A. Indisponibilidade total da SE A, todos os disjuntores das saídas estão desligados Linha inicial LMT1 LMT4 LMT5 LMT2 LMT6 LMT3 Órgão de corte a fechar Interligação com a LMTx1 Interligação com a LMTz1 Interligação com a LMTx2 Interligação com a LMTy1 Interligação com a LMT2 Interligação com a LMT6 Subestação de recurso SE X SE Z SE X SE Y SE Y SE Y Linha de recurso LMTx1 LMTz1 LMTx2 LMTy1 LMTy1 LMTy1 Desempenho das linhas de recurso I (A) S (kVA) cos φ 191 5.219 0,923 179 4.883 0,924 61 1.657 0,941 118 3.213 0,935 - Com a nova interligação, o resultado do trânsito de potências revela melhorias significativas no desempenho da rede de média tensão, pois as limitações da rede neste tipo de contingência (indisponibilidade total da SE A) já não se verificam. A LMT6 e a LMT3 têm recurso pela rede de média tensão, com a SE Y a alimentar as três linhas (LMT2, LMT6 e LMT3) sem se verificarem violações nos limites dos valores de tensão. Os valores de tensão em p.u. estão representados geograficamente na Figura 47, e comprova-se que na LMT3 as restrições foram superadas com valores de tensão dentro dos limites regulamentares. Neste trânsito de potências também não se verificou qualquer sobrecarga nos elementos que constituem a rede em estudo. A nova interligação permite assim que a rede de média tensão da SE A tenha recurso através da rede das subestações circundantes. Valter Santos 78 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Figura 47 - Esquema geográfico da rede com indisponibilidade da SE A, resultado do trânsito de potências com a nova interligação entre a LMT2 e a LMT6. No incidente que causou a indisponibilidade do barramento da SE A, só foi possível repor o serviço aos clientes da LMT6 e da LMT3 quando o barramento ficou disponível. Com a construção da interligação entre a LMT2 e a LMT6 seriam minimizadas as perturbações registadas pelos clientes. Valter Santos 79 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica 5.3.3. Cenário III Na rede em estudo verificaram-se 295 interrupções de curta duração provocadas por defeitos fugitivos, estes tipos de defeitos são de difícil de deteção. As redes de média tensão são extensas e para detetar os defeitos que provocam estas interrupções é necessário uma inspeção visual a toda a extensão da rede. Para realizar esta tarefa é necessário a presença de muitos meios técnicos no terreno, e nem sempre a inspeção visual é bem-sucedida por se tratar de um defeito não permanente. Durante a análise das características da rede de média tensão identificou-se uma funcionalidade do sistema de proteções que poderia contribuir para a localização de defeitos na rede em estudo. Estabeleceu-se um procedimento com a finalidade de identificar e eliminar os defeitos fugitivos que causavam mais interrupções de curta duração. Durante um mês foram analisadas este tipo de interrupções nas seis linhas de média tensão onde se realizou o procedimento exposto no fluxograma da Figura 48: Figura 48 - Fluxograma da análise dos incidentes de curta duração. Valter Santos 80 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Após o disparo do disjuntor e religação bem-sucedida o incidente de curta duração é estudado pormenorizadamente. A instalação afetada é identificada, e através dos registos dos alarmes das proteções procede-se à análise das características do defeito que ocorreu, defeito fasefase, defeito fase-terra, defeito pouco ou muito resistivo, valor da resistência e da reactância de defeito. Com os dados das características do defeito utiliza-se o programa DPLAN para identificar a possível zona de defeito através da funcionalidade “Localização de Defeitos”. Os dados da análise do incidente são guardados e realiza-se uma comparação com o histórico de incidentes da mesma instalação. São comparadas as zonas de defeito, o tipo de defeito, condições atmosféricas e a hora a que ocorreu o defeito, esta comparação permite identificar se é um defeito reincidente. Em caso afirmativo solicita-se uma inspeção no terreno, transmitindo informação da zona de defeito e as especificidades do defeito para facilitar a sua identificação. Por fim, com o defeito detetado e identificado, este será eliminado da rede o mais rapidamente possível para evitar novos incidentes de curta duração causados pelo mesmo defeito. Durante o mês de agosto ocorreram vinte incidentes de curta duração na rede de estudo, Tabela 15, distribuídos da seguinte forma, seis incidentes na LMT1 e sete incidentes na LMT4 e na LMT6. Na LMT1 atuaram dois tipos de proteção, disparou a proteção fase-terra quatro vezes e disparou a proteção fase-fase duas vezes, na LMT4 e na LMT6 atuou sempre a proteção fase-fase. Tabela 15 - Incidentes de curta duração que ocorreram na rede durante o mês de agosto. Instalação Dia hora LMT1 LMT1 LMT1 LMT1 LMT1 LMT1 - 4 11 17 19 24 30 - 07:15 15:20 19:12 07:08 07:50 16:15 - Tipo de Instalação defeito Fase-Terra LMT4 Fase-Terra LMT4 Fase-Fase LMT4 Fase-Terra LMT4 Fase-Terra LMT4 Fase-Fase LMT4 LMT4 Dia hora 2 11 18 19 23 28 30 20:21 19:18 08:23 07:30 18:48 16:43 09:36 Tipo de Instalação defeito Fase-Fase LMT6 Fase-Fase LMT6 Fase-Fase LMT6 Fase-Fase LMT6 Fase-Fase LMT6 Fase-Fase LMT6 Fase-Fase LMT6 Dia hora 6 8 12 22 24 26 27 18:26 17:27 15:10 18:44 17:22 18:17 08:02 Tipo de defeito Fase-Fase Fase-Fase Fase-Fase Fase-Fase Fase-Fase Fase-Fase Fase-Fase Na análise dos incidentes de curta duração foi utilizado o procedimento da Figura 48, onde a exposição será apresentada por linha média tensão. Valter Santos 81 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Na LMT1 os incidentes dos dias 4,11 e 19 apresentavam características idênticas, e como o resultado da simulação apresentava a mesma zona de defeito para os dois casos, foi solicitado uma inspeção no terreno. A simulação efetuada permitiu reduzir a zona de pesquisa do defeito a 782 metros, aproximadamente de 2% do total da extensão da linha de média tensão. A zona de defeito está assinalada a vermelho na Figura 49. Transmitiu-se as características do defeito às equipas, que no terreno após uma inspeção visual na zona do defeito identificaram uma filaça danificada próximo da travessa num apoio, Figura 50. O incidente do dia 24 também estava relacionado com os incidentes anteriores, o elemento avariado já estava detetado mas a reparação ainda não tinha sido realizada. A reparação foi efetuada em setembro com recurso aos trabalhos em tensão não sendo necessário efetuar nenhuma interrupção no fornecimento de energia elétrica aos clientes. Filaça danificada Legenda Figura 49 - Zona de defeito fase-terra na LMT1 (ORD, 2012). Figura 50 - Defeito fase-terra na LMT1, filaça danificada (ORD, 2012). Na LMT4 os incidentes dos dias 04 e 11 apresentavam características idênticas, defeito fasefase, o mesmo período horário, e das simulações resultava a mesma zona de defeito. Também no dia 17 surgiu um incidente na LMT1 por atuação da proteção fase-fase, no resultado da simulação a zona de defeito para este incidente verificou-se que geograficamente uma parte da rede coincidia com a LMT4. Comparando a Figura 51 com a Figura 52 verifica-se que Valter Santos 82 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica parte da zona de defeito é comum às duas linhas, é o traçado logo à saída da SE A em que as duas linhas têm os mesmos apoios, uma extensão de rede aérea de 1310 metros. Legenda Figura 51 - Zona de defeito fase-fase na LMT4 (ORD, 2012). Legenda Figura 52 - Zona de defeito fase-fase na LMT1 (ORD, 2012). Com a confirmação da zona de defeito e com o relacionamento entre os defeitos da LMT1 e LMT4 foi solicitada a colaboração das equipas para realizar uma inspeção no local, as equipas foram informadas das características dos defeitos. Numa primeira pesquisa no local não foi detetado nenhum elemento da rede que estivesse na origem dos defeitos, mas durante a inspeção as equipas avistaram muitas aves no local. Numa segunda deslocação à zona de defeito, já dentro do mesmo período horário dos incidentes (das 19:00 às 20:30), verificaram que as aves pousavam nas linhas de média tensão formando bandos que preenchiam a totalidade dos vãos, Figura 53 e Figura 54. As linhas de média tensão estão geograficamente instaladas numa zona de cultura de cereais. Nesta zona geográfica comum às duas linhas existiam campos cultivados com milho, motivo para a grande concentração de aves que pousavam nos condutores elétricos, formando grandes bandos no início e no fim do dia. Valter Santos 83 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Figura 53 - Aves pousadas nos condutores elétricos da LMT4 (ORD, 2012). Figura 54 - Aves pousadas nos condutores elétricos no traçado constituído pelos dois ternos (LMT1 e LMT4) (ORD, 2012). Na causa dos defeitos fase-fase está a grande oscilação dos condutores elétricos, aquando do levantamento, em simultâneo, de grande número de aves de pequeno porte. A aproximação dos condutores de fase provocava curto-circuito, para evitar estes incidentes seria necessário instalar dispositivos que impedissem o contacto entre os condutores de fase. Foram propostos os seguintes dispositivos para o efeito, Tabela 16. Tabela 16 - Dispositivos para a proteção de avifauna (EDP, 2011). Anel de proteção Dispositivo composto por dois semianéis isolantes, de policloreto de vinil (PVC) e por uma pinça metálica. O anel de proteção destina-se a impedir os contactos entre os condutores de fase, nus, de linhas aéreas de média tensão, quando do levantamento, em simultâneo, de grande número de aves de pequeno porte. Destina-se à proteção da avifauna contra as eletrocussões. Espiral de sinalização dupla Espiral de polipropileno ou PVC, de cor branca, vermelha ou laranja. A espiral de sinalização dupla é aplicada em linhas aéreas de alta e média tensão, nos condutores de fase, nus ou cobertos e nos cabos de guarda. Destina-se à proteção da avifauna contra as colisões. Valter Santos 84 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Como os terrenos estavam cultivados não foi possível a instalação dos dispositivos sugeridos em tempo útil, durante o mês de agosto verificaram-se mais incidentes de curta duração na LMT4 relacionados com a concentração de aves na zona apresentada. Na LMT6 também se analisaram os incidentes de curta duração, o resultado obtido foi idêntico ao exposto para LMT1 e para LMT2. Sendo os defeitos causados pelos contatos entre os condutores de fase devido à movimentação de grande número de aves de pequeno porte. Tecnicamente só foi exequível a instalação dos dispositivos propostos nas zonas de defeito identificadas (na LMT1, LMT4 e na LMT6) depois da colheita dos cereais. Os dispositivos para a proteção de avifauna foram instalados durante o mês de outubro, Figura 55 e Figura 56. Figura 55 - Instalação de dispositivos para a proteção de avifauna na LMT6 (ORD, 2012). Figura 56 - Instalação de dispositivos para a proteção de avifauna na LMT1 (ORD, 2012). A implementação do procedimento de análise dos incidentes de curta duração permitiu identificar os defeitos que provocavam as interrupções nas três linhas de média tensão, e com a implementação das medidas propostas foi possível eliminar as causas dos defeitos. Valter Santos 85 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica CAPÍTULO VI – Conclusões 6. Conclusões Com realização deste projeto foi possível identificar, na análise temporal entre 2004 e 2011, uma melhoria considerável nos indicadores de continuidade de serviço. Isto revela que o desempenho das redes de distribuição de média tensão tem vindo a melhorar, a par com a diminuição da indisponibilidade das redes. Verificou-se uma significativa melhoria ao nível das interrupções causadas pela realização de trabalhos previstos. Isto deve-se à utilização de novas técnicas de trabalho por parte do Operador da Rede de Distribuição para realização de trabalhos de manutenção nas redes, sem interromper o fornecimento de energia elétrica aos clientes. Da análise das causas dos incidentes podemos concluir que a qualidade e adequação dos materiais e equipamentos, têm grande influência na disponibilidade das redes de distribuição de média tensão, o que demonstra a importância da utilização de materiais e equipamentos com maior fiabilidade e adequação ao meio. Atualmente, a utilização de novos sistemas de apoio nas redes de distribuição, na supervisão, no controlo e no planeamento, permitem ao Operador da Rede de Distribuição maior eficácia na realização da sua atividade. Não obstante, deve ser feito um acompanhamento e análise constantes aos incidentes ocorridos, para que estes sejam evitados e assim minimizadas as perturbações. No caso de estudo foi possível colocar em prática alguns dos conhecimentos obtidos com o estudo das características das redes de distribuição. Ficou demonstrado que o histórico dos incidentes permite ao Operador da Rede de Distribuição identificar pontos da rede menos fiáveis, e assim prever de forma eficaz os melhoramentos a realizar. Valter Santos 87 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Na primeira análise da rede de média tensão em estudo foi sugerida uma alteração na LMT1 que beneficiará a qualidade de serviço prestada aos clientes da zona industrial. Esta melhoria consiste na alteração da interligação entre a LMT1 e a LMT4, e foi proposta ao Operador da Rede de Distribuição, que prontamente procedeu à sua implementação. A rede subterrânea de média tensão da zona industrial poderá ter melhor qualidade de serviço, não sendo diretamente afetada pelos incidentes que ocorrem na rede aérea da LMT1, instalada geograficamente em zona agrícola com grande densidade de avifauna. Também na LMT1, o estudo apresentado sobre a instalação de órgãos de corte telecomandados permitirá melhorar a qualidade de serviço desta linha. Ficou demonstrado através do estudo técnico-económico que a instalação de dois órgãos telecomandados é uma solução viável, podendo assim reduzir a disparidade na qualidade de serviço da LMT1 em relação às restantes linhas de média tensão. Foram identificadas e comprovadas as limitações da rede de média tensão na reposição de serviço durante um incidente da indisponibilidade total da subestação. Neste tipo de incidentes não existe recurso à LMT3 e à LMT6, ficando a alimentação destas instalações dependentes do tempo da reparação dos elementos avariados. A solução apresentada, com a construção de uma interligação entre a LMT2 e a LMT6 permitirá reduzir as perturbações causadas pela indisponibilidade da subestação. Esta interligação possibilitará o recurso total das linhas de média tensão da SE A através das linhas de média tensão das subestações circundantes, contribuindo para uma maior flexibilização da rede e melhoria na qualidade de serviço. Por fim, as interrupções de curta duração eram constantes na rede em estudo. A localização de defeitos fugitivos ou semipermanentes nas redes de média tensão pode ser uma tarefa demorada dada a extensão da rede, consumindo muitos recursos e sem garantias de sucesso. Foi então elaborado e executado um procedimento para facilitar a localização dos defeitos, permitindo detetar as causas dos incidentes de curta duração durante um mês. Assim, é possível reduzir o número de incidentes de curta duração na rede e eventualmente prevenir defeitos permanentes ao detetar situações ainda precoces. Este procedimento foi realizado em contexto real com recurso a meios existentes, o sistema de proteções da SE A, o sistema Valter Santos 88 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica SCADA e a funcionalidade de localização de defeitos do DPLAN. Ficou comprovado em contexto real que este procedimento poderá contribuir significativamente para a melhoria da qualidade de serviço. Os resultados foram apresentados ao Operador da Rede de Distribuição que manifestou a intenção de retomar o projeto piloto iniciado em 2010. O presente estudo evidenciou algumas ações de melhoria significativas que poderão ser Implementadas pelo Operador da Rede de Distribuição, com vista a aumentar a disponibilidade e fiabilidade das redes de distribuição de média tensão. 6.1. Perspetivas de trabalhos futuros Com o estudo das causas dos incidentes de média tensão, conclui-se que o grupo material/equipamento contribui significativamente disponibilidade das redes de distribuição. Esta constatação motiva a que sejam desenvolvidos estudos sobre a fiabilidade dos materiais e dos equipamentos utlizados nas redes, e sobre a sua adequação às condições do meio em que se inserem, de forma a otimizar a sua utilização. Ocorreram incidentes na rede de média tensão do caso de estudo provocados pela nidificação de aves, por vezes em apoios de média tensão equipados com dispositivos anti nidificação. Este facto demostra que nem sempre estes dispositivos são eficazes, sendo necessário desenvolver outras medidas e técnicas que evitem os defeitos provocados pela avifauna. Com este estudo pretendeu-se contribuir para uma melhoria na continuidade de serviço das redes de distribuição de média tensão, prevenindo incidentes e minimizando as interrupções. Valter Santos 89 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Referências bibliográficas (Antunes, et al., 2001) Antunes, José; Neto, Carlos; Paredes, Luís; "Quality of Service in EDP Distribution, Preparing the Present, Challenging the Future"; IEEE - Institute of Electrical and Electronics Engineers; Porto, 2001. (Cardoso, et al., 2009) Cardoso, António; Cardoso, José; Figueiredo, José; Mendes, Nuno; "New Solutions in EDP Distribuição Medium Voltage Overhead Lines"; Cired - International Conference on Electricity Distribution; Paper 0312; Prague, 2009. (DGEG, 2006) Regulamento da Qualidade de Serviço (RQS); Direcção-Geral de Energia e Geologia, 2006. (Dugan, et al, 2003) Dugan, Roger C.; Mark, F. Granaghan; Surya, Santoso; H. Wayne; "Electrical Power Systems Quality"; McGraw-Hill; Second Edition; ISBN 0-07-138622-X; New York, 2003. (EDP, 2004 a 2011) Relatórios de Qualidade de Serviço (2004 a 2011) - Portugal : EDP Distribuição – Energia, S.A; 2004 a 2011. 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(Torres, 2012) Torres, João; "O caso da EDP Distribuição, Caminhos para melhor qualidade de serviço"; EDP Distribuição – Energia, S.A; V Conferencia Anual RELOP; Lisboa, 2012. Valter Santos 93 Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica ANEXOS Valter Santos Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Anexo I - Indicadores de continuidade de serviço O Operador da Rede de Distribuição procederá, em cada ano civil, à caracterização da continuidade de serviço, devendo para o efeito determinar os seguintes indicadores (Artigo 15.º do RQS): Indicadores Gerais SAIFI- Frequência média das interrupções do sistema Quociente do número total de interrupções nos pontos de entrega, num determinado período, pelo número total de pontos de entrega. Nj = n.º de clientes afetados pela interrupção j. N = n.º total de pontos de entrega. NI = n.º total de interrupções. SAIDI- Duração média das interrupções do sistema Quociente da soma das durações das interrupções em todos os clientes do sistema, durante determinado período, pelo número total de pontos de entrega nesse mesmo período. Nj = n.º de clientes afetados pela interrupção j. N = n.º total de pontos e entrega. Tj = duração da interrupção j. NI = n.º total de interrupções. END- Energia não distribuída Valor estimado da energia não distribuída nos pontos de entrega do Operador da Rede de Distribuição, devido a interrupções de fornecimento, durante um determinado intervalo de tempo. Valter Santos A Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica TIEPI – Tempo de interrupção equivalente da potência instalada Quociente entre o somatório do produto da potência instalada interrompida nos postos de transformação de serviço público e particular (PIk) pelo tempo de interrupção de fornecimento daqueles postos (tk), e o somatório das potências instaladas em todos os postos de transformação de serviço público e particular (Pinst) da rede de distribuição (minutos). Indicadores individuais Frequência de interrupções Número de interrupções num ponto de entrega (cliente AT, MT ou BT) durante um determinado período. Duração total das interrupções Soma das durações das interrupções verificadas num ponto de entrega durante um determinado período. Durante este trabalho foram utilizados indicadores de continuidade de serviço que não estão regulados no RQS, são os seguintes: ASUI - Indisponibilidade do sistema Quociente do número total de horas de serviço indisponível nos clientes do sistema, durante determinado período, pelo número total de horas de serviço solicitado pelos clientes nesse mesmo período (%) [18]. Nj = n.º de clientes afetados pela interrupção j. N = n.º total de clientes Tj = duração da interrupção j. NI = n.º total de interrupções. Valter Santos B Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica ASAI - Disponibilidade do sistema Quociente do número total de horas de serviço disponível nos clientes do sistema, durante um determinado período, pelo número total de horas de serviço solicitado pelos clientes nesse mesmo período (%) [18]. Nj = n.º de clientes afetados pela interrupção j. N = n.º total de clientes Tj = duração da interrupção j. NI = n.º total de interrupções. CAIDI - Duração média das interrupções Quociente da soma das durações das interrupções em todos os clientes do sistema, durante um determinado período, pelo número total de interrupções nos clientes, nesse mesmo período. Nj = n.º de clientes afetados pela interrupção j. Tj = duração da interrupção j. NI = n.º total de interrupções. Valter Santos C Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Anexo II - Qualidade de serviço técnico Tabelas dos indicadores gerais Nas tabelas A2.1, A2.2, A2.3 e A2.4 foram utilizadas as seguintes abreviaturas: TIN – Trabalhos inadiáveis; FFM – Casos fortuitos ou de força maior; RSE – Razões de segurança; FIC – Facto imputável ao cliente; ATM – Atmosféricas; P/A/T/C – Proteções/ Automatismos/ Teleacção/ Comunicações; M/E – Material/ Equipamento; MAN – Manutenção; TEC – Técnicas; HUM – Humanas; EEX – Entidades Exteriores; DES – Desconhecidas. Análise por causas / EDP Período de análise: anual (2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010 e 2011). Instalação de origem: rede de distribuição de média tensão. Energia não distribuída (END) Tabela A2.1 Ano END MT (MWh) Acidentais Previstas Total TIN FFM RSE FIC ATM P/A/T/C M/E MAN TEC HUM EEX DES Totais acidentais 2004 2640 313 4025 22 13 1259 510 4003 908 281 236 424 629 12623 15263 2005 2153 333 2478 82 11 1083 374 4742 734 298 361 391 496 11382 13535 2006 880 407 4247 1715 488 4154 739 219 291 470 293 13021 13901 2007 295 251 1829 12 1049 398 3135 516 97 122 410 322 8142 8437 2008 23 156 1595 5 1219 466 4053 439 77 73 434 446 8965 8988 2009 8 88 1879 2 1510 320 3450 485 51 71 448 290 8594 8602 2010 5 98 1575 5 997 186 3522 526 74 53 524 207 7768 7773 2011 10 55 1312 11 495 230 2182 304 26 102 217 161 5093 5103 Valter Santos E Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Tempo de interrupção equivalente da potência instalada (TIEPI) Tabela A2.2 Ano TIEPI MT (minutos) Acidentais Previstas TIN FFM RSE FIC Total ATM P/A/T/C M/E MAN TEC HUM EEX DES Totais acidentais 17,8 7,3 55,0 12,7 3,8 3,1 6,2 9,1 176,5 215,3 13,8 4,8 61,8 9,5 3,8 4,7 4,9 6,6 146,5 175,0 2004 38,8 4,2 56,8 2005 28,5 4,1 31,2 2006 11,7 5,3 52,9 21,4 6,2 53,1 9,3 2,8 3,8 6,2 3,9 164,8 176,5 2007 3,8 3,2 24,3 13,3 5,3 40,1 6,5 1,2 1,6 5,3 4,2 105,2 109,0 1,9 20,0 15,4 5,9 51,3 5,5 1,0 0,9 5,4 5,7 113,1 113,4 21,3 4,5 49,0 6,7 0,7 1,0 6,4 4,1 121,3 121,4 2008 1,1 2009 0,1 1,3 26,4 2010 0,1 1,5 23,3 0,1 14,6 2,8 52,8 7,8 1,1 0,8 7,8 3,2 115,7 115,8 2011 0,1 0,8 19,2 0,2 7,5 3,5 32,4 4,4 0,4 1,5 3,2 2,4 75,3 75,5 Frequência média das interrupções do sistema (SAIFI) Tabela A2.3 Ano SAIFI MT (nº) Acidentais Previstas TIN FFM RSE FIC Total ATM P/A/T/C M/E MAN TEC HUM EEX DES Totais acidentais 2004 0,24 0,19 1,22 0,01 0,54 0,31 1,03 0,21 0,17 0,10 0,15 0,32 4,26 4,50 2005 0,19 0,19 0,73 0,03 0,43 0,25 1,21 0,16 0,17 0,13 0,13 0,27 3,69 3,88 2006 0,08 0,22 1,07 0,67 0,33 1,05 0,15 0,15 0,14 0,18 0,18 4,15 4,22 2007 0,04 0,15 0,63 0,56 0,27 0,84 0,12 0,11 0,05 0,16 0,21 3,12 3,15 2008 0,01 0,13 0,44 0,53 0,25 0,98 0,11 0,04 0,05 0,20 0,25 2,98 2,99 0,07 0,66 0,71 0,16 1,01 0,12 0,05 0,05 0,13 0,14 3,13 3,13 2009 0,01 2010 0 0,1 0,71 0 0,75 0,14 1,19 0,17 0,06 0,04 0,16 0,27 3,61 3,61 2011 0,01 0,05 0,53 0 0,42 0,12 0,76 0,1 0,03 0,06 0,09 0,22 2,4 2,4 Duração média das interrupções do sistema (SAIDI) Tabela A2.4 Ano SAIDI MT (minutos) Acidentais Previstas TIN FFM RSE Total FIC ATM P/A/T/C M/E MAN TEC HUM EEX DES Totais acidentais 0,8 30,3 9,0 70,4 15,2 4,8 3,2 7,1 13,9 252,4 310,5 0,9 24,2 6,5 78,5 11,5 4,8 4,4 6,4 9,2 205,5 248,4 2004 58,0 6,4 91,1 2005 42,9 6,2 50,2 2006 17,1 10,4 88,4 38,2 9,3 68,1 11,1 3,4 3,1 8,0 5,5 245,5 262,5 2007 6,9 6,8 41,9 28,3 7,3 53,4 8,6 1,5 1,8 7,2 6,2 163,1 169,9 2008 0,6 3,4 32,5 29,2 7,7 68,2 7,8 1,0 1,1 6,8 8,5 166,3 166,9 2009 0,3 2,1 48,3 42,3 5,0 63,9 8,5 1,0 1,2 8,1 5,6 186,0 186,3 2010 0,3 3,0 48,1 0,1 30,0 3,8 74,4 11,7 1,2 1,0 10,6 5,2 189,0 189,3 2011 0,4 1,7 37,5 0,1 14,6 4,1 49,7 6,7 0,4 2,0 5,2 3,3 125,4 125,7 Valter Santos 2,6 F Continuidade de Serviço nas Redes de Distribuição de Energia Elétrica Observações: Os critérios considerados foram: - Apenas são consideradas as interrupções longas (> 3 minutos); - Não estão incluídas as interrupções: - Do grupo FIC as motivadas por Cliente de média tensão na sua Instalação e que não afetaram outros Clientes. - Previstas com o Código 180 "Acordo c/ Cliente por Iniciativa do Cliente"; - Com origem no posto de transformação de Cliente; - As previstas são o somatório dos grupos: Razões de Serviço; Razões de Interesse Público e Acordo com o Cliente; - Valores EDP (base EDP). Valter Santos G