I NT R ODU ÇÃO À AS T R ONOMI A AGA-2 10 6 . E s t r elas V. E volução após a S eqüência P r i ncipal (NAS A – H ubbl e S pace T el es cope) Nebul os a do E s qui mó (em Gêmeos ): cenár i o da mor t e de uma es t r el a do t i po s ol ar . I AG/U S P E NOS P I CAZ Z I O Introdução à Astronomia – AGA210 Prof. Enos Picazzio 6. Est r elas V. Evolução após a S eqüência Pr incipal As estrelas permanecerem na Seqüência Principal a maior parte de suas vidas. Elas abandonam a SP para morrerem. As estrelas de maior massa morrem mais rápido e de forma catastrófica. Nas seções seguintes discutiremos as razões e as conseqüências dessa saída da SP. 6.18 A razão da saída Como vimos, à medida que o hidrogênio vai sendo consumido na fusão, um caroço de hélio vai se formando no núcleo da estrela. A massa da estrela determina o tempo de vida e os caminhos de sua evolução. Se a massa for suficientemente grande para promover temperaturas cada vez mais elevadas na região central, a fusão nuclear (formação de elementos pesados a partir de elementos mais leves) continua até a formação do Fe. A partir daí, as reações são endotérmicas25, isto é, absorvem energia ao invés de liberar. Ele age como um “extintor de fusão”, levando o núcleo à destruição. Estrelas de grande massa, quando chegam nesta fase morrem de forma catastrófica. Simplificadamente podemos dizer que estrelas de pequena massa morrem brandamente, enquanto estrelas de grande massa morrem catastroficamente. Nem todo o calor gerado na fusão do hidrogênio é liberado para o espaço, parte dele é absorvido pelo material interno fazendo a temperatura local aumentar. Esse aumento de temperatura provoca aumento de pressão, altera o equilíbrio entre as pressão interna (do gás contido abaixo da camada) e externa (do gás que está acima da camada) e faz com que a estrela se expanda. Como a expansão provoca queda de temperatura e pressão, a estrela se contrai. Esse processo tem fim quando as forças se equilibram, e a estrela se ajusta á nova circunstância. Durante a evolução a estrela passa várias vezes por essa situação. O tempo aproximado de permanência na SP é t SP = 1010 / M 2 [anos] , com M em massa solar (M = 1 para o Sol). Para estrelas parecidas com o Sol, o tempo na SP é de 10 bilhões de anos. Durante esse período o hidrogênio do núcleo vai sendo transformado em hélio, a temperatura média permanece aproximadamente a mesma, mas a luminosidade aumenta lentamente com o tempo. Quando o hidrogênio disponível para a fusão se extingue (caso das estrelas de pequena massa), ou quando a temperatura central aumentar o suficiente para propiciar a fusão do hélio (caso de estrelas de maior massa), a estrela abandona a SP e sofre mudanças na estrutura e na luminosidade. 6.19 Evolução de estrelas de até aproximadamente 11 massas solares O Sol já se encontra na SP há 4,6 bilhões de anos. Sua temperatura superficial é praticamente a mesma que tinha quando entrou nessa fase, mas seu brilho é cerca de 30% maior que o daquela época. Com o passar do tempo, a composição química sofrerá mudanças: a quantidade de hidrogênio diminuirá e a de hélio aumentará. A estrutura interna será a de um núcleo de hélio (crescente) circundado por uma camada hidrogênio em fusão (Figura 6.31). 25 Há outros elementos cuja fusão é endotérmica, mas o núcleo do Fe é tão compacto que não se obtém energia energia fundindo-os em elementos mais pesados. 6-42 Introdução à Astronomia – AGA210 Prof. Enos Picazzio Figura 6.31 Esquema (fora de escala) da estrutura interna de uma estrela da Seqüência Principal, convertendo hidrogênio em hélio. A elevação gradativa de temperatura do núcleo de hélio aumenta a taxa de geração de fusão nuclear do hidrogênio na camada circundante. Após cerca de 10 bilhões de anos, esse aumento de temperatura provocará uma elevação brutal da pressão e a estrela sofrerá uma expansão gigantesca. Com a expansão, a superfície aumenta e a temperatura superficial diminui. A estrela torna-se uma gigante vermelha, uma estrela de baixa temperatura mas de alta luminosidade. Betelgeuse ( α de Órion) e Antares (α do Escorpião), ambas 400 vezes maiores do que o Sol, são dois exemplos. Quando isto acontecer com o Sol, sua superfície ultrapassará a órbita da Terra! No diagrama HR esta fase da evolução estelar é ilustrada através de um movimento em direção ao canto superior direito, onde se localiza o ramo das gigantes e das supergigantes. As diferenças de densidade numa gigante vermelha são brutais: enquanto o seu núcleo de hélio tem cerca de 100.000 g/cc (no Sol é 150 g/cc), suas camadas mais externas estão têm cerca de 10-6 g/cc (1 milionésimo da densidade da água), ou seja, uma diferença de 100 bilhões de vezes. Uma gigante vermelha tem duas fontes de energia atuando simultaneamente: o caroço está sendo aquecido pela conversão de energia gravitacional (contração) e o envelope está é aquecido pela fusão nuclear do hidrogênio na camada acima do caroço. A contração do caroço cessa quando a pressão dos elétrons torna-se degenerada. Isto se deve ao fato de que em ambientes de densidade tão elevada como as encontradas no núcleo, o gás entra em um novo estado da matéria cujas propriedades são governadas por leis da mecânica quântica ao invés da mecânica clássica. Por um momento, a pressão do gás no núcleo não é controlada pela temperatura (como no caso de um gás perfeito), com isso a temperatura cresce rapidamente mas a pressão não. Em uma estrela de baixa massa, a queima inicial do hélio é caracterizada por uma instabilidade de curta duração chamada clarão de hélio (helium flash), uma espécie de reação nuclear violenta e descontrolada como a de uma bomba. Nessas circunstâncias a fusão ocorre explosivamente. Quando o gás degenerado volta ao estado de gás perfeito, sob temperatura tão elevada a pressão sofre instantaneamente um crescimento brutal, e o interior da estrela expande-se de forma semelhante ao de uma explosão. Essa expansão súbita provoca a queda da pressão e da temperatura e a estrela volta a se contrair até estabelecer o equilíbrio. A partir daí, a queima do hélio se processa normalmente. Devido a elevada densidade da matéria a energia liberada por esse processo acaba sendo absorvida no interior da estrela. Por isso o helium flash é um fenômeno interno, isto é não se reflete nas partes externas da estrela. 6-43 Introdução à Astronomia – AGA210 Prof. Enos Picazzio Figura 6.32 Esquema (fora de escala) da estrutura de uma estrela de uma massa solar quando a fusão do hélio se estabelece. Após o helium flash a fusão nuclear estabiliza-se, e passa a transformar hélio em carbono: 4 He+ 4 He→8 Be + energia 8 Be+ 4 He→12 C + energia ou seja, três núcleos de hélio (também chamados partículas alfa26) são fundidos para formar um núcleo de carbono, podendo ter como produto intermediário um núcleo instável de berílio. Quando as reações de hélio se estabelecem a estrela sofre variação de luminosidade e temperatura. No diagrama HR essas alterações se refletem num movimento quase horizontal em direção à SP. Nesta fase a estrutura interna da estrela será aquela indicada na Figura 6.32. Com a fusão do hélio, um núcleo de carbono vai sendo formado no centro, a estrela sofre expansão e contração, que implicam em variações de luminosidade e temperatura superficial. Com a compressão do núcleo de carbono ocorrerá a reação entre o carbono e o hélio, formando o oxigênio: 12 C + 4 He→16 O + energia . Assim o núcleo de carbono será enriquecido com oxigênio. Para haver fusão do carbono é necessário uma temperatura mínima de 600 milhões K. O núcleo de uma estrela com uma massa solar jamais atinge essa temperatura, logo a geração de energia dessa estrela ficará a cargo da fusão do hélio e do hidrogênio nas camadas superiores. Durante a fase final de vida essa estrela sofrerá pulsações radiais crescentes, contraindose e expandindo-se periodicamente, podendo perder as camadas mais externas por ejeção, criando assim uma nebulosa planetária. Essa nebulosa com rapidez, de 20 a 30 km/s, tornando-se gradativamente mais rarefeita e fria até dispersar-se pelo espaço interestelar. Este é um mecanismo de enriquecimento do espaço interestelar com elementos sintetizados nas estrelas. A Nebulosa do Esquimó (figura da capa) é um exemplo; no centro está a estrela. 26 O termo partícula alfa foi criado pelos físicos nucleares na época em que o núcleo de hélio era desconhecido. 6-44 Introdução à Astronomia – AGA210 Figura 6.33 Trajeto de vida de uma estrela com 1 massa solar, no diagram HR. Prof. Enos Picazzio Figura 6.34 Modelo de nova (Adaptado de Robbins, 1995, fig. 19-6, pág. 411) A estrela remanescente, agora com cerca de metade da massa original, contrai-se muito podendo atingir um raio equivalente a 1% do raio solar (cerca de 10.000 km!). Seu brilho provém da energia armazenada das reações nucleares (que já cessaram), agora ela é uma estrela muito pequena, de cor branca e temperatura superficial elevada, conhecida como anã branca. À medida que a energia vai se esvaindo, a temperatura vai caindo, a cor vai se tornando amarelada, depois avermelhada até definhar definitivamente e se tornar uma anã negra, um objeto com praticamente o tamanho da Terra (portanto muito denso porque a massa é bem maior que a terrestre) e frio no espaço. A massa de uma anã branca jamais ultrapassa 1,4 massas solares. No diagrama HR, o trajeto evolutivo de uma estrela com uma massa solar é ilustrado na Figura 6.33. No entanto, se a anã branca pertencer a um sistema binário um novo fenômeno pode acontecer. Se a distância entre as duas estrelas for relativamente pequena, parte da matéria (hidrogênio e hélio) da superfície da companheira, uma estrela da SP, escoa para a superfície da anã branca. O choque desse gás escoado com a superfície da anã branca pode elevar a densidade e a temperatura a valores suficientemente elevados para detonar um processo violento de fusão do hidrogênio, provocando um clarão explosivo súbito. O brilho é tão intenso que, visto de longe, fenômeno simula o surgimento de uma estrela nova. Por isso, a estrela é chamada nova. Se o processo for recorrente, teremos uma nova recorrente. Nesse processo uma parcela da massa da estrela é ejetada para o espaço a velocidades elevadas. Uma nova típica ejeta apenas cerca de 0,0001 massa solar, 1 milésimo da massa ejetada por uma nebulosa planetária. 6.20 Evolução de estrelas com mais de 11 massas solares Ao nascerem, essas estrelas caminham mais rapidamente para a Seqüência Principal, abandonam mais cedo esta fase, evoluem e morrem mais depressa. Quanto maior a massa, mais curta a vida da estrela. Mas a característica mais peculiar delas é a maneira como morrem. Enquanto o Sol permanece cerca de 10 bilhões de anos na SP, uma estrela do tipo B com 5 massas solares abandona a SP em apenas 100 milhões de anos. Uma estrela O de 10 massas solares fica na SP só 20 milhões de anos. Essa tendência de evolução rápida também acontece após a SP. A razão é que quanto maior for a massa, mais intensa será a contração gravitacional, 6-45 Introdução à Astronomia – AGA210 Prof. Enos Picazzio que, por sua vez, provocará maior pressão e maior temperatura da região interna. Em síntese, são as condições físicas que controlam os processos internos e a longevidade da estrela. O trajeto das estrelas rumo à região das gigantes depende da massa. As estrelas de menor massa caminham para ramo das gigantes quase que verticalmente, com a luminosidade variando muito mais que a temperatura. Já as estrelas de maior massa movem-se quase que horizontalmente, com a temperatura variando muito mais que a luminosidade. Após a fusão do hélio as estrelas de grande massa promovem a fusão dos elementos mais pesados, na ordem crescente de massa atômica, isto é, carbono (12C), oxigênio (16O), neônio (20Ne), magnésio (24Mg) e silício (28Si), tarminando no ferro (26Fe). A partir de então não há mais fusão atômica no núcleo. Estas reações ocorrem em camadas concêntricas (como numa cebola), quanto mais interna a camada, mais pesados são os elementos. As temperaturas e os tempos de exaustão para cada caso são mostrados na Tabela 6.7. Fonte de energia Fusão do hidrogênio Fusão do hélio Fusão do carbono Fusão do neônio Fusão do oxigênio Fusão do silício Temperatura (milhões K) Tempo para exaustão 15 170 700 1.400 1.900 3.300 10 milhões anos 1 milhão anos 1.000 anos 3 anos 1 ano 1 dia Tabela 6.7 Temperaturas necessárias para ocorrência de fusão nuclear e tempo de exaustão do combustível nuclear para estrelas com 20 massas solares (Adaptado de Robbins, 1995, Tabela 18-1, pág. 391) 6.20.1 Estrelas de 11 a 50 massas solares À medida que os elementos mais leves vão sendo consumidos nas diversas camadas, o núcleo de ferro vai crescendo gradativamente até atingir um valor limite equivalente à cerca de 1,4 massas solares. Quando isso acontece a estrela implode. Simplificadamente falando, cessando as reações de fusão a produção de energia cessa e a pressão interna não é mais suficiente para contrabalançar o peso das camadas externas. Então subitamente a estrela perde o equilíbrio e implode, isto é, cai sobre si mesma. Isto faz com que a temperatura do núcleo de ferro atinja temperatura da ordem de 10 bilhões K, suficiente para fragmentar os átomos de ferro até restarem apenas prótons e nêutrons. Esse colapso acontece em cerca de 1/10 de segundo! Toda a energia gravitacional dissipada nesse processo funde elétrons com prótons, formando nêutrons e liberando grande quantidade de neutrinos (partícula subatômica que se move com a velocidade da luz). Neste estágio a densidade é altíssima e a estrela continua colapsando com rapidez que chega a cerca de 15% da velocidade da luz. Ao atingir o núcleo de nêutrons essas camadas retrocedem em direção à superfície (de onde vieram) formando uma onda de choque que, combinada com o fluxo de neutrinos, explodem as camadas superiores com brutal rapidez (20.000 km/s). Nessa fase explosiva ocorrem as reações de fusão que acabam produzindo os elementos químicos mais pesados que o ferro. Esse material reprocessado enriquece o espaço interestelar. O caroço interno colapsou até um tamanho aproximado de 200 km de diâmetro, e tem entre 1,4 e 3 massas solares. 6-46 Introdução à Astronomia – AGA210 Prof. Enos Picazzio Esse fenômeno explosivo, conhecido por supernova tipo II, libera tanta energia que pode ser visto a distâncias enormes, até mesmo quando ocorre em outras galáxias. Estas supernovas podem brilhar mais que toda a galáxia em que se encontra. Um dos exemplos mais famosos é a Nebulosa do Caranguejo, resultante da explosão de uma supernova observada pelos chineses em 1054 a.C. (Figura 6.35A). Em nossa galáxia, Via Láctea, a média de ocorrência de supernovas e de uma a cada 50 anos. O objeto que resta dessa explosão é constitjído de nêutrons, tem tipicamente de 1,5 a 2 massas solares, tamanho entre 20 e 80 km e densidade elevadíssima. É uma estrela de nêutrons. Na realidade não é bem uma estrela porque parou de gerar energia. Essa estrela gira muito rápido e tem campo magnético enorme. A rotação rápida e o elevado campo magnético resultam da contração: quanto mais a estrela contraia, mais rápido ela girava (lei de conservação do momento angular27), e mais concentrado ficava seu campo magnético. A rotação desse campo magnético intenso produz um campo elétrico intenso na superfície da estrela, que gera um jato de radiação ao longo do eixo do campo magnético. Se os eixos do campo magnético e de rotação não coincidirem a estrela comporta-se como um farol giratório e parece pulsa (lembre-se da lanterna giratória de uma ambulância vista de longe). Por essa razão esse objeto foi batizado com o nome pulsar28(Figura 6.35B). Figura 6.35 (A) A Nebulosa do Caranguejo é o que restou da explosão (supernova) observada pelos chineses no ano 1054 a.C. No centro da nebulosa está a estrela de nêutrons (Observatório de Monte Palomar / AAO). (B) Ilustração da estrutura de uma estrela de nêutrons. Quando o facho de radiação aponta para a nossa direção vemos um pulso (adaptado de Astronomy Today, Chaisson & McMillan). 6.20.2 Estrelas com mais de 50 massas solares Estrelas com massa entre 50 e 100 massas solares brilham tanto quanto 100 mil a 1 milhão de sóis durante suas vidas breves. Essas estrelas perdem tanta massa durante a fase de Seqüência Principal que ao sairem dela restam-lhes apenas um núcleo de hélio. Estas estrelas as WolfRayet, que têm evolução semelhante às estrelas com 11 a 50 massas solares. A diferença é que 27 L = I × ω; L é momento angular, I é momento de inércia e V é velocidade angular. Para uma esfera sólida, I = (2/5) × M × R2. Se R diminui (contração), I diminui e ω aumenta porque L é constante (conservação). 28 Quando observado pela primeira vez em 1967 por Jocelyn Bell, o pulsar CP 1919, foi apelidado LGM (sigla para Little Green Man), uma referência jocosa a um sinal codificado e enviado por Pequeninos Homens Verdes pertencentes a uma civilização extraterrestre. A B 6-47 Introdução à Astronomia – AGA210 Prof. Enos Picazzio o núcleo de ferro formado posteriormente é tão maciço que, após a implosão que dá origem uma supernova tipo Ib, o colapso gravitacional não termina formando uma estrela de nêutrons, O colapso continua indefinidamente criando um objeto tão maciço, com campo gravitacional tão intenso, que nem a luz consegue escapar. Esse objeto escuro, denominado buraco negro, é uma espécie de ralo cósmico que suga a matéria circunvizinha bem próxima a ele. Essa proximidade perigosa é delimitada por uma distância denominada raio de Schwarzschild: quanto maior a massa do buraco negro, maior é esse raio. Por exemplo, se o Sol se transformasse num buraco negro (coisa que jamais ocorrerá), o raio de Schwarzschild seria 3 km. De dentro dessa região nada escapa, nada se vê, por isso esse limite é denominado horizonte dos eventos. Caso isso acontecesse com o Sol, a Terra prosseguiria normalmente em seu movimento órbital porque ela estaria muito além do raio de Schwarzschild. Embora o buraco negro não possa ser visto diretamente há evidências observacionais que o denunciam. A primeira é a radiação emitida pela matéria que está caindo nele, em altíssima velocidade. Antes de penetrar o raio de Schwarzschild a matéria sofre efeitos brutais de maré e colisões tão violentas que se aquece tanto a ponto de emitir raios-X. A segunda evidência é o desvio da luz que passa pelas proximidades do buraco negro provindas de fontes distantes. A Teoria da Relatividade prevê a distorção do espaço e do tempo pela massa. Isso pode ser exemplificado por uma hipotética mesa de bilhar que pudesse ser deformada (Figura 6.36). Apesar de mover-se em linha reta, a bola faz um trajeto curvo quando passa pela deformidade. A mesma coisa ocorre com o fóton: ele se propaga em linha reta mas num espaço curvado pela concentração de massa, por isso muda de direção. Nessa concepção relativística, os planetas caminham em linha reta no espaço curvado pelo Sol. Na visão newtoniana, os planetas orbitam o Sol em trajetórias curvas por causa da força gravitacional. A Figura 6.37 ilustra um modelo de buraco negro formado num sistema binário. Figura 6.36 Alteração do trajeto de uma bola de bilhar em virtude da curvatura da plano da mesa. Na situação a) ela movese em linha na direção da caçapa da esquerda. Na situação b) ela continua movendo-se em linha reta mas é desviada para a caçapa da direita porque a superfície é curvada (Adaptado de Robbins, 1995, fig. 19-28, pág 425). Figura 6.37 Um buraco negro pode ser observado através da radiação X emitida pelo gás aquecido em queda. No caso a estrela que se tornou um buraco negro suga a matéria expelida por sua companheira, uma gigante azul. (Adaptado de Robbins, 1995, fig. 19-29, pág. 425). A Figura 6.38 resume o que foi discutido anteriormente. Estrelas com massa entre 0,8 e 11 massas solares, entram na SP como tipos B, A, F ou G, produzem nebulosas planetárias e terminam como uma anãs brancas. Estrelas com massa intermediária, entre 11 e 50 massas solares, iniciam como estrelas tipos O ou B, produzem supernovas tipo II e terminam como estrelas de nêutrons. Estrelas maciças entram na SP como tipo O, passam pela fase de WolfRayet, produzem supernovas tipo Ib e terminam como buracos negros. 6-48 Introdução à Astronomia – AGA210 Prof. Enos Picazzio Figura 6.31 Ilustração simplificada da evolução de estrelas de diferentes massas, após abandonarem a Seqüência Principal. (Adaptado de I. Iben Jr e A.V.Tutukov, Sky & Telescope, dezembro/97, pág.39) 6.21 O ciclo da evolução estelar Embora parte do material usado nas reações termonucleares seja transformado em energia, as estrelas reciclam continuamente a matéria. A cada nova geração nascem estrelas com composição química mais enriquecida por elementos mais pesados. Das estrelas antigas, deficientes de material pesado, às estrelas jovens, ricas em metais, observamos o processo de enriquecimento em ação. O Sol, uma estrela jovem rica em metais, é um produto de muitos ciclos. Nós também somos. Sem os elementos produzidos no interior de supernovas a vida não existiria. Somos, portanto, formados de poeira estelar. Referências R.R.Robbins, W.H.Jefferys, S.J.Shawl (1995), Discovering Astronomy, John Wiley & Sons, Inc. 6-49