PROGRAMA PSICO-EDUCATIVO PARA FAMÍLIAS EM RISCO GENÉTICO: O CASO DOS CANCROS HEREDITÁRIOS Universidade de Aveiro, Portugal – Secção Autónoma de Ciências da Saúde, Grupo de Investigação Saúde Familiar e Comunitária Álvaro Mendes Sara Guerra Sofia Rodrigues Liliana Sousa 1. PRESSUPOSTOS • • • • • • Os avanços científicos na genética e genómica criam novos desafios para a gestão da sáude/doença; Os procedimentos biomédicos de aconselhamento genético encontram-se standardizados, mas escasseia o apoio psicossocial centrados nas famílias; Necessidade de intervenções psicossociais inovadoras dirigidas à experiência holística da doença hereditária; A intervenção psico-educativa demonstra eficácia, nomeadamente na: melhoria do funcionamento familiar; redução do stresse e do isolamento; melhor colaboração entre o doente, a família e os profissionais; A perspectiva psicoeducativa revela potencial para integrar os protocolos de aconselhamento genético; Tipologia Psicossocial das Doenças Genéticas (Rolland & Williams, 2005); 2. DESCRIÇÃO E MÉTODOS 2.1. Construção do programa a) Revisão da literatura em aconselhamento genético, genética psicossocial e intervenções psico-educativas; b) Realização de um estudo sobre a experiência do aconselhamento genético pelos consulentes; c) Análise das necessidades de pessoas com elevada susceptibilidade genética ao cancro. • O aconselhamento genético examina a história médica familiar do cliente, visando facilitar a compreensão do risco individual de (poder) ter herdado uma mutação genética, bem como das opções disponíveis para lidar com o risco de surgimento da doença. • O impacto psicossocial do estado de risco genético destaca a sobrecarga emocional multifacetada no indivíduo e seus familiares, envolvendo: ansiedade, tristeza, medo de morrer, vergonha, ambivalência, culpa, isolamento social. 1 2. DESCRIÇÃO E MÉTODOS 2.1. Construção do programa (cont.) • O estudo da experiência do aconselhamento genético na perspectiva dos consulentes revela que os momentos emocionalmente mais intensos do processo são: - o hiato temporal entre a realização do teste genético e o conhecimento dos resultados; - a confirmação da presença da mutação genética que confere susceptibilidade acrescida à doença – risco genético. • A análise de necessidades (entrevistas) dos participantes indicou: - informação médica acerca da doença genética, mecanismos hereditários e tratamentos profilácticos; - estratégias promotoras de bem-estar; estratégias de adaptação a eventuais tratamentos profilácticos; estratégias para ajudar outros elementos da família a enfrentarem a doença. 2. DESCRIÇÃO E MÉTODOS 2.2. Recrutamento • • • • • • • Consulta de Tumores Hereditários do Serviço de Genética Médica e Reprodução Humana dos Hospitais da Universidade de Coimbra; Identificação das famílias em risco genético: após autorização da Comissão de Ética foi consultada a base de dados do serviço; Famílias residentes na região de Coimbra; Contacto telefónico com as famílias, informando sobre os objectivos do estudo e garantia de confidencialidade e anonimato; Envio de uma carta às famílias que aceitaram participar, explicitando as informações dadas via telefone, para que estas ficassem acessíveis aos familiares; Contacto telefónico para confirmar o interesse na participação e para combinar aspectos práticos (datas e horários das sessões); Entrevista presencial (recolha de dados demográficos e psicossociais) e análise das necessidades. 2. DESCRIÇÃO E MÉTODOS 2.3. Participantes / Amostra • • • • • • • • • 3 famílias, 9 participantes (24 – 74 anos, média de 43.5, desviopadrão de 16.9); Mulheres, caucasianas, classe média; 5 participantes residentes em área urbana; 7 participantes casadas; 5 participantes com filhos; 4 aposentadas, 3 empregadas, 1 estudante e 1 desempregada; 2 participantes com licenciatura, 1 com mestrado, 3 com o ensino secundário, 2 com o ensino preparatório e uma com o ensino primário; Todas as participantes são portadoras de mutação genética BRCA1/2; 5 com diagnóstico prévio de cancro da mama/ovários; 2 com diagnóstico de cancro da mama/ovários nos últimos 6 meses; 2 famílias tiveram em média 8 elementos diagnosticados com cancro, dos quais em média 3 elementos morreram; 2 famílias conheceram os resultados do teste genético há 3 anos e 1 no decorrer do último ano. 2 2. DESCRIÇÃO E MÉTODOS 2.4. Estrutura • • • • • • Grupos de discussão multi-famílias (3 a 6 famílias, máximo de 20 participantes); Carácter breve e semi-estruturado: 4 sessões semanais (90 minutos) Grupos homogéneos quanto ao tipo de cancro - potencia a identificação e partilha de experiências entre os participantes e permite a uniformização da informação médica prestada; A família decide que elementos estarão presentes nas sessões; Contra-indicações: membros com menos de 12 anos (limita a amplitude dos temas a discutir); famílias com membros afectados por problemas psiquiátricos agudos, problemas de dependência ou na capacidade de comunicar verbalmente; Técnicos: 2 psicólogo(a)s que coordenam o grupo e estão presentes em todas as sessões; 1 médico(a) que participa na sessão de cariz educativo/informativo; 2. DESCRIÇÃO E MÉTODOS 2.4. Estrutura (cont.) S e s s ã o Componente Conteúdos Técnicos envolvidos 1 Apresentações. Suporte. Apresentações. Impacto do risco genético na família. 2 psicólogos. 2 Educativa. Informação médica sobre as doenças genéticas. 2 psicólogos médico. 3 Suporte. Impacto do risco genético na 2 psicólogos. identidade familiar. 4 Suporte. Finalização. Gestão de stresse. Treino de 2 psicólogos. resolução de problemas. Treino de relaxamento. + 3. RESULTADOS 3.1. Descrição das sessões 1ª SESSÃO • • Apresentações: coordenadores, programa e participantes; Cada família reúne-se … “Como “acolheram” o conhecimento do risco genético acrescido?” – aspectos positivos e negativos; - aspectos positivos: união familiar, reforço dos laços afectivos; pesquisa e adopção de comportamentos saudáveis; - aspectos negativos: incerteza e insegurança face ao futuro; maior focalização nos sinais/sintomas; ansiedade e stresse; estratégias: procura de informação médica; apoio familiar; partilha da experiência; • Tarefa: cada família deve reunir-se e pensar em dúvidas para colocar ao(à) médico(a) na sessão seguinte. 3 3. RESULTADOS 3.1. Descrição das sessões (cont.) 2ª SESSÃO • Informação médica sobre neoplasias hereditárias: - melhor compreensão; - esclarecimento de dúvidas; - permitir a adequada gestão da doença genética; • Um(a) médico (a) aborda os seguintes temas: - significado das doenças genéticas e hereditárias; - mecanismos de transmissão hereditária da susceptibilidade genética; - medidas profilácticas e de vigilância/prevenção na gestão do risco genético. • Dúvidas mais frequentes: - procedimentos de vigilância clínica e tratamentos profilácticos; - aspectos práticos sobre questões reprodutivas; - novos desenvolvimentos científicos e tecnológicos na prevenção da doença; - recursos clínicos e informativos; - prevenção para os descendentes. 3. RESULTADOS 3.1. Descrição das sessões (cont.) 3ª SESSÃO • • • Objectivo: potenciar a continuidade (passado, presente e futuro) da história familiar; Fortalecer a percepção de pertença e as modificações ocorridas em todos os membros da família (tempos fortes da vida familiar, etapas de transição do ciclo vital, crises); Pensarem nos aspectos centrais da família (o que as caracteriza): Cada família reúne-se para pensar e depois expõe as conclusões ao grupo, seguindo-se a discussão e comentários; • • Dificuldades de operacionalização; Os aspectos mais destacados foram: solidariedade; intuição; complementaridade (respeito pelo espaço individual e união familiar). 3. RESULTADOS 3.1. Descrição das sessões (cont.) 4ª SESSÃO • Objectivo: fornecer estratégias de coping face à ansiedade resultante da incerteza associada ao risco genético e à necessidade de tomada de decisões; • Treino de resolução de problemas: enunciar o problema; nomear o problema; criar soluções; escolher a solução; fazer; avaliar; • Gestão do stresse: treino de relaxamento (cognitivo e/ou muscular progressivo) demonstração. 4 3. RESULTADOS 3.2. Avaliação (Focus-Group) • Aspectos práticos do programa são adequados (nº de sessões, espaçamento semanal, duração, conteúdos; nº de famílias famílias presentes); Inclusão de informações de outras valências médicas/técnicos (cirurgia estética, radioterapia, oncologia médica, obstetrícia); O formato “discussão/semi-estruturado” revelou-se o mais adequado devido à possibilidade de serem partilhadas as histórias e experiências pessoais e familiares normalização de sentimentos; Maior directividade dos terapeutas nalguns momentos; Existência de um espaço terapêutico individual complementar; • • • • 3. RESULTADOS 3.2. Avaliação (Focus-Group) • Benefícios: - redução do medo, redução do stresse e ansiedade, mais tranquilidade, mais confiança para enfrentar o futuro, redução do sentimento de isolamento (pela partilha de experiências e de histórias pessoais; redução da ansiedade associada aos tratamentos profilácticos (a nível individual); - “mais à vontade” para abordar o tema, para a expressão emocional (a nível conjugal) com as pessoas da família que não vieram às sessões; para a redução do medo contribuiu o sentimento de maior segurança permitido pela informação médica sobre o risco genético e a normalização de sentimentos (a nível familiar) 5