Homilia em anexo

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Homilia de Dom Robert Zollitsch, 19.10.1914
----------------------------------------------------------------------------------Na capela da Faculdade Filosófica e teológica, em Schoenstatt
Antes de conhecer Schoenstatt, eu tinha uma idéia de Vicente Pallotti. Logo que ouvia
falar dele me impressionava seu apaixonado impulso de levar os homens ao Reino de Deus e de
trabalhar apostolicamente nele com todas as suas forças. Creio que nisto estamos todos de acordo.
Sem o seu vigoroso impulso apostólico e sem o seu esforço por motivar e levar muitíssimos para o
apostolado, não se pode compreender este Santo. E quanto mais eu me introduzi nele e me ocupei
dele, tanto mais claro se tornou para mim um segundo aspecto. Um outro grande aspecto central de
sua vida e de seu atuar é seu amor, sua vinculação a Maria.
A imagem dos discípulos reunidos ao redor de Maria, no Cenáculo, à espera da vinda do
Espírito Santo, ficou para Pallotti a síntese da prontidão e da missão apostólica. Ele, pois, escolheu
esta imagem como símbolo e como modelo da sua comunidade. E nisto pode ver-se confirmado
pelo papa Francisco, na sua Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium” – A Alegria do Evangelho:
“Juntamente com o Espírito, sempre está Maria no meio do povo. Ela reunia os discípulos
para O invocarem (At 1,14), e assim tornou possível a explosão missionária que se deu no
Pentecostes. Ela é a Mãe da Igreja evangelizadora e, sem Ela, não podemos compreender
cabalmente o espírito da nova evangelização” (n.284). Pois, assim, continua o nosso Santo Padre,
“Jesus deixava-nos a sua Mãe como nossa Mãe. E só depois de fazer isto é que Jesus pôde sentir
que “tudo se consumara” (Jo 19,28). Ao pé da cruz, na hora suprema da nova criação, Cristo
conduz-nos a Maria” (n.285). O Papa apresenta-nos Maria como a “Mãe do Evangelho vivente”
(n.287), como a “Missionária” (n.286) que representa “um estilo mariano na atividade
evangelizadora da Igreja” (n.288). Maria é a mulher que “sai ‘às pressas’ da sua povoação para ir
ajudar os outros” (n.288), para levar Jesus ainda antes de dá-lo à luz. Ela conduz e acompanha os
missionários.
O que o papa Francisco diz sobre “Maria como a Mãe da Evangelização” (n.284) e a
“Estrela da Nova Evangelização” (n.288) leva-nos em linha direta ao que Pallotti mantém como
programa e estrela condutora, quando escolhe Maria como “Rainha dos Apóstolos” e como
Padroeira da sua obra. Pallotti vive e trabalha em íntima união com Maria, pois Vicente Pallotti diz
que o amor de Deus “nos deu tudo em Jesus”: Todo o seu Corpo Místico e com ele também o seu
coração: Maria. E Pallotti, assim escreve Pe. Ansgar Faller SAC, tem bem claro diante dos olhos
que Deus com seu unigênito Filho nos deu também a Mãe como propriedade pessoal. Por isso ele
deve dizer: “Como poderia ele fazer uma única meditação sem pensar em Maria?”1. Para Pallotti
Maria é a figura apostólica, que como mulher sai de casa (cf. Lc 1,39ss) e vai ansiosa aos homens; e
ele vê nela as possibilidades apostólicas de um engajamento cristão e também as chances de uma
vida missionária sem atividade externa2.
A ligação pessoal à Mãe de Deus e a piedade mariana levaram ao entusiasmo apostólico que,
como forte fogo, ardeu em Pallotti e deu incansável força ao seu trabalho e atuação. Ele levava
sempre consigo um pequeno relicário com a imagem de Maria3. E também ele, na hora da sua
morte, queria ser acompanhado por ela, e por isso mandou colocar a imagem da Rainha dos
Apóstolos junto ao seu leito. Daí a sua convicção e testamento à sua comunidade, o seu testamento
a nós: “Maria é a grande Missionária. Ela fará milagres”.
Através de Schoenstatt eu conheci mais de perto este testamento de Pallotti. Padre
Kentenich repetiu muitas vezes esta frase. Com sua piedade mariana e veneração a Maria ele sabia
1
Ansgar Faller SAC. Vinzenz Pallotti, Gott, die unendliche Liebe, Friedberg 1981, p. 46.
Cf. Karl Stetter, Vinzenz Pallotti, Friedberg 1975, p. 98.
3
Cf. Ibidem, p. 93.
2
2
estar em consonância com o “Venerável Fundador”, como há 100 anos se usava esta palavra.
Quando ele dizia que o zelo pelas almas e o serviço a Maria eram a mola impulsora do coração
apostólico e do idealismo de Pallotti, ele sentia sua íntima harmonia com ele.4
Com São Vicente Pallotti e o papa Francisco, Schoenstatt destaca a Mãe de Deus como
Missionária que não somente “tornou possível a explosão missionária que se deu no Pentecostes”
(n.284), mas também hoje “como uma verdadeira mãe, caminha conosco, luta conosco e aproximanos incessantemente do amor de Deus” (n.286). Quem com Vicente Pallotti, com Schoenstatt e o
papa Francisco conhece Maria como mulher Missionária e Rainha dos Apóstolos, não pode rejeitála como efeminada figura e imagem de uma empoeirada tradição.
Ela é a mulher que como missionária sempre está e caminha conosco. Uma Igreja mariana é
sempre uma Igreja em caminho, uma Igreja dinâmica, e como Maria movida e dirigida pelo Espírito
Santo. Quando mais eu assimilo a grandiosa Exortação “Evangelii Gaudium” de nosso Santo Padre,
tanto mais me alegra a formidável consonância da sua exposição da missão de Mãe de Deus com a
imagem de Maria e da sua missão missionária em Pallotti e Schoenstatt. Podemos ler isto na
imagem da Mãe Peregrina que hoje está aqui conosco. O diácono João Luiz Pozzobon, brasileiro,
durante 35 anos e andando a pé, carregou nos ombros a “Grande Missionária”, levou-a aos homens
e com isso desencadeou uma surpreendente reação em cadeia. Hoje, a Mãe Peregrina está em
200.000 pequenas Imagens Peregrinas que, em quase 100 países, estão caminhando para os homens.
Queridas irmãs e irmãos, a repetida frase de São Vicente Pallotti “Caritas Christi urget nos”
- a caridade de Cristo nos impele - e a de “Sociedade do Apostolado Católico” expressam
diretamente o indomável anseio de conduzir todos os homens a Cristo e de motivar muitíssimos
cristãos para essa missão, já que “a missão, assim nos diz o papa Francisco, é uma paixão por Jesus,
e simultaneamente uma paixão pelo seu povo” (n.268). O “dinamismo de “saída”, que Deus quer
provocar nos crentes” (n.20), faz parte da natureza da Igreja. E “a Igreja “em saída” é a comunidade
de discípulos missionários que “primeireiam”, isto é, tomam a iniciativa (n.24).
Isto vale para todos os fiéis: “Em virtude do Batismo recebido, cada membro do povo de
Deus tornou-se discípulo missionário (cf. Mt 28,19). Cada um dos batizados, independentemente da
própria função na Igreja e do grau de instrução da sua fé, é um sujeito ativo de evangelização”
(n.120). O que o papa Francisco define como “um novo protagonismo de cada um dos batizados”
(n.120) é o central desejo de Pallotti, há já 150 anos e de Schoenstatt há 100 anos. Com isso vai de
mãos dadas o que nosso Santo Padre chama o “estilo mariano na atividade evangelizadora da
Igreja” (n.288). Maria, a “Mãe da Evangelização”, está no meio do povo” (n.284) e nos ensina a
percorrer com humildade o caminho da renovação da Igreja. E isto nos leva a uma nova dinâmica:
“Porque sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e
do afeto” (n.288). O que nosso Santo Padre expõe sobre “a comunidade de discípulos missionários”
(n.24) quase poderia ser uma descrição comum da “Sociedade do Apostolado Católico” e de
Schoenstatt. Pois, o que Pallotti trouxe era ainda muito antecipado e para o seu tempo era tão
revolucionário que seu desejo teve que retroceder por muito tempo. E para um “revolucionário” de
uma marcada renovação mariana pertence, segundo o papa Francisco, uma ilimitada ternura e amor
que se dá com misericórdia a todos os homens numa aliança de amor com todos e para todos.
Se nestes dias nós celebramos o Jubileu dos 100 Anos de Schoenstatt, prezados hóspedes,
queridas irmãs, queridos irmãos, então pertence a eles não apenas o olhar para o passado e para o
futuro, mas devemos também agradecer. Nosso agradecimento vai ao Deus Uno e Trino e a Maria,
pelos quais nos sentimos conduzidos e protegidos. E o nosso agradecimento vale para vós, caros
coirmãos da Sociedade do Apostolado Católico. Schoenstatt nasceu, cresceu e se tornou grande
dentro da família Palotina e sob o seu abrigo. Existe tanta coisa que liga Schoenstatt com São
Vicente Pallotti e a sua Sociedade do Apostolado Católico, pois se destaca ali não só o desejo
4
Cf. Predigt am 2.2.1913, in: Peter Wolf (Hrsg), Seine Sendung- unsere Mission, Vallendar 2012, p.31.
3
fundamental do apostolado e da evangelização ligado à mobilização dos cristãos. Ali sobressai não
somente o destaque da espiritualidade mariana de Pallotti e de Schoenstatt. Ali está também, há
muitos anos, uma história comum e uma estreita vinculação. Por isso, de todo coração eu vos
agradeço, queridos coirmãos da Sociedade do Apostolado Católico. Se nós olhamos para o passado
da nossa história, devemos confessar – e eu o faço com prazer e com convicção: Schoenstatt não
teria existido sem vós, amados Palotinos. Schoenstatt vos agradece muito e infinitamente.
Naturalmente, todos nós sabemos que o crescimento e a autonomia de Schonstatt estiveram
ligados com tensões, tristeza e desafios e que ainda nem todas as feridas cicatrizaram ou sararam.
Mas como eu percebo o comum, o que nos une e reciprocamente nos presenteia é muito maior que
o que nos mantém à distancia ou nos poderia manter distantes.
Nós estamos hoje, queridas Irmãs, queridos Irmãos, diante de desafios totalmente novos. O
papa Francisco caracteriza o momento presente como “uma viragem histórica” e fala de uma
“mudança de época” em que estamos (n.52). E o atual “processo de secularização tende a reduzir a
fé e a Igreja ao âmbito privado e íntimo” (n.64). Portanto, assim continua o Papa, “é necessário
chegar aonde são concebidas as novas histórias e paradigmas” (n.74) e colocar-se a serviço do
necessário diálogo para isso (cf.n.74). Ao olharmos para Maria nós cremos “na força revolucionária
do amor e do afeto” (n.288), pois o Evangelho é uma revolução de amor.
Caríssimos irmãos Palotinos, vós realizastes um heróico ato de amor e destes um sinal
magnífico: vós doastes à Família de Schoenstatt o Santuário da Mãe de Deus no vale, o Santuário
Original. Com isto vós acendestes um grande fogo para um novo trabalho em conjunto no futuro.
Por isto vos agradeço de todo coração. E eu posso citar-vos, Padre Rheinbay, a frase que
formulastes em vista de “espíritos de fogo” e aplicá-la a nós aqui: “Onde homens de fé se cercam e
se unem, também a sociedade muda”.5 Eu vos convido a olharmos para a frente levados pelo “fogo
interior da renovação”. “Este fogo endurece a cabeça e não o coração.” Sim, a presente “mudança
de época” nos desafia e nos obriga a entrarmos de novo “com todas as forças (isto é o amor) no jogo
divino da vida”.6
Pessoalmente, eu confio na ajuda e na direção da Mãe de Deus. No meu caminho,
entusiasma-me não só a imagem da “Mãe Três Vezes Admirável” que de Friburgo veio para
Schoenstatt. Há muitos anos me acompanha também a imagem de “Maria Desatadora de Nós”. Ela
já desatou muitos nós complicados em minha vida e tornou-se para mim a mulher que constrói as
pontes e reunifica, a criadora de associação e de aliança. Não posso imaginar-me que Maria não
queira continuar a acompanhar-nos e a conduzir-nos de novo. A Ela nós podemos confiar-lhe o
longo caminho do futuro. Amém.
Tradução de João Baptista Quaini SAC
P. Paul Rheinbay SAC, Wir alle sind berufen – Pallottis Zukunftsbild für heute, in: P. Ulrich Scherer SAC (Hrsg),
Unio – unsere Art, Kirche zu sein, Friedberg 2013, S. 265-277, hier: S. 277.
6
Ibidem.
5
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