CCSVP: ESTRATÉGIA DO SERVIÇO SOCIAL NA GARANTIA DE DIREITOS COM MULHERES CHEFES DE FAMÍLIAS.¹ TASCHETTO, Ketheni Machado²; MARQUES, MARQUES Nadianna Rosa ³ ; KAEFER Carin Otília4 ¹Trabalho desenvolvido através de experiência em estágio extracurricular. ²Acadêmica do 7° semestre do Curso de Serviço Social no Centro Universitário Franciscano (UNIFRA) e Estagiária do Centro de Convivência Social Vicente Pallotti. ³Co-autora. Assistente Social e coordenadora do Centro de Convivência Social Vicente Pallotti. 4 Orientadora e Professora do Curso de Serviço Social no Centro Universitário Franciscano. E-mail: [email protected] ; [email protected] ; [email protected]. RESUMO O presente trabalho tem como objetivo apresentar a intervenção do assistente social com mulheres chefes de família, visando à garantia de direitos, frente a uma realidade desigual. Este trabalho é fruto de experiência em estágio extracurricular no projeto Centro de Convivência Social Vicente Pallotti (CCSVP) bem como ampara-se em referenciais teóricos sobre a temática. Na contemporaneidade a mulher vem assumindo a chefia do domicílio está trabalhando mais, possui uma escolaridade superior a dos homens, no entanto continua ganhando menos. Contudo as desigualdades de gênero se tornam um desafio para a intervenção do Assistente Social que busca a garantia de direitos a este segmento populacional. Palavras-chave: Garantia de direitos; Mulheres chefes de família; Serviço social; Gênero. 1. INTRODUÇÃO O Centro de Convivência Social Vicente Pallotti (CCSVP) é um projeto social com ênfase educacional que atende no contra turno escolar 150 crianças e adolescentes de 7 a 17 anos, de duas escolas municipais de Santa Maria-RS localizadas em região de vulnerabilidade social da referida cidade. A metodologia do projeto está pautada segundo a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais n°109, de 11 de novembro de 2009, no Serviço de Proteção Social Básica. Objetiva a troca de vivências e culturas, fortalecimento dos vínculos familiares e incentiva a socialização e convivência comunitária. 1 Verificou-se, através da compilação dos dados das fichas socioeconômicas dos usuários do CCSVP, um grande número de famílias chefiadas por mulheres, onde a figura feminina provém o sustento familiar. As mudanças sociais que vem ocorrendo na sociedade brasileira, vem modificando os arranjos familiares, principalmente no que diz respeito ao sistema econômico familiar. Esta realidade também é observada no Centro de Convivência Social Vicente Pallotti. 2. DESENVOLVIMENTO O quadro de concentração de renda, os altos índices de desigualdade social e a “ausência” do Estado junto à população de baixa renda, não são novidades no Brasil. Esta situação, já tem conseqüências catastróficas para a sociedade. Quando o assunto é famílias chefiadas por mulheres, a questão torna-se ainda pior. Segundo Ribeiro et al “a presença de famílias encabeçadas por mulheres está predominantemente associada às situações de extrema pobreza (RIBEIRO et al.,1998). Segundo dados publicados pelo IPEA (Instituto de Pesquisa e Econômica Aplicada) em 2009 “o tradicional arranjo casal com filhos com um homem como ‘cabeça do casal’ passa a ser substituído por situações em que a mulher é tida como a pessoa de referência na casa”. Em 2009, 14,2% dos casais com ou sem filhos eram chefiados por mulheres. Segundo Butto (1998, p. 72), “domicílios chefiados por mulheres têm, em média, uma renda menor não porque têm mais crianças ou menos adultos, mas porque a/o chefe do domicilio, sendo uma mulher, ganha menos”. Está previsto na Constituição Federal de 1988 que homens e mulheres possuem os mesmos direitos e deveres, portanto não deveriam existir tantas discrepâncias no que tange percentual salarial de homens e mulheres. Existem políticas públicas elaboradas para contemplar o problema da desigualdade de gênero, no entanto não são eficazes e eficientes não tendo impacto na realidade da sociedade. No Governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, foi criada a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), para atender a essa demanda. Seguindo o princípio de igualdade de condições entre homens e mulheres, a SPM promove estratégias para o desenvolvimento de políticas para as mulheres e tem como atributos propor, coordenar e 2 articular um conjunto de políticas públicas geridas à eliminação de todas as formas de discriminações de gênero, à consolidação de plenos direitos humanos e à cidadania para as mulheres. O Conselho Nacional de Direitos da Mulher (CNDM) passou a compor a estrutura da Secretaria de Políticas para as Mulheres e agrupou representantes da sociedade civil e do governo, ampliando o processo de controle social sobre estas políticas. O diferencial da Secretaria de Políticas para as Mulheres em relação às experiências institucionais anteriores está no fato de a SPM ser o primeiro órgão, no nível federal, a articular as ações para o desenvolvimento de políticas públicas integradas, dirigidas às mulheres brasileiras. O I Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (I PNPM) foi lançado em dezembro de 2004. O I PNPM resulta de um processo amplamente participativo e democrático que envolveu, direta e indiretamente, 120 mil mulheres de todo o país em conferências municipais, estaduais e na I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres. Em 2008 surge O II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (II PNPM) “expressa à vontade política do Governo Federal em reverter o padrão de desigualdade entre homens e mulheres em nosso País [...]. Este não é um Plano da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. É um Plano de Governo. Este não é um Plano que traz benefícios só para as mulheres. É um Plano que beneficia toda a sociedade.” (Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, II Plano Nacional de Políticas para Mulheres pág. 07). Percebe-se que iniciativas de políticas para mulheres existem, porém na prática não são efetivadas. Continuam vastas as disparidades entre homens e mulheres no país, este que tem uma cultura patriarcal. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Ao realizar o compilamento de três itens da ficha socioeconômica que foram escolhidos segundo MARSIGLIA “amostragem aleatória simples”, pela sua relevância sendo estes: escolaridade, renda familiar, benefício social. 3 Onde 73% das mulheres chefes de família possuem ensino fundamental incompleto, 47% possuem renda familiar variável de 1 a 2 salários mínimos e 73% recebem benefícios sociais. Verifica-se que há disparidade salarial, ou seja, ocorre “divisão de sexo” no mercado de trabalho, as mulheres são as mantenedoras econômicas do lar, pois recebem o bolsa família e estão inseridas no mercado informal. No mercado informal segundo relatos das usuárias, e análise de história de vida da família verificou-se que as mulheres recebem menos que os homens, mesmo promovendo as mesmas atividades e tendo melhor escolaridade. Estas chefes de família, tem o interesse em se inserirem no mercado de trabalho formal, todavia relatam as dificuldades de manter os afazeres domésticos e cuidar dos filhos ao se ausentarem do lar. Dentre estas dificuldades destacam-se a falta de acesso a equipamentos sociais, tais como creches, escolas, saúde dentre outras. Assim estas 4 mulheres preferem se inserir no mercado informal, sem vínculos empregatícios, tendo mais autonomia na sua organização de jornada de trabalho. 4. METODOLOGIA Para apresentação deste trabalho, foi realizado o compilamento de dados em 15 fichas socioeconômicas de um universo de 60 fichas do projeto Centro de Convivência Social Vicente Pallotti, estas são referentes ao ano de 2011. O tipo de amostragem escolhida foi à aleatória simples, pois segundo Marsiglia 2001“quando se procura garantir a mesma possibilidade de compor a amostra para cada um dos componentes do universo. Fazemos uso de sorteios, com numeração prévia de cada elemento componente do universo,” este é o tipo de amostragem indicada. Para a análise dos dados foram selecionados três itens da ficha socioeconômica do CCSVP, pela sua relevância, sendo estes: escolaridade, renda familiar, benefício social. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS São muitos os desafios para garantir os direitos da mulher na atualidade, esta nova expressão da questão social, requer a intervenção um profissional crítico, competente que proponha ações neste âmbito. Faz-se necessário fortalecer a política existente, que está no papel, mas na prática não é implantada. É necessário segundo Iamamoto [...] um profissional afinado com a análise dos processos sociais, tanto em suas dimensões macroscópicas quanto em suas manifestações quotidianas; um profissional criativo e inventivo, capaz de entender ‘o tempo presente, os homens presentes, a vida presente’ e nela atuar, contribuindo, também para moldar os rumos de sua história (1999: 49). O objetivo do trabalho do serviço social no CCSVP é atuar com as famílias promovendo aos usuários desenvolvimento a capacitação cidadã de direito, fortalecendo as diretrizes previstas no Plano Nacional de Políticas para Mulheres, através de informações, ações educativas, preventivas, encaminhamentos a rede socioassistencial, promovendo espaço de escuta e acolhida, desenvolvendo uma consciência crítica nos usuários, visando à autonomia destas mulheres bem como a emancipação humana. 5 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição Federal da República Federativa do Brasil.1988. ________, Ministério de Desenvolvimento e Combate à Fome. Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais - Resolução do CNAS nº 109, de 11 de novembro de 2009, publicada no DOU. Brasília. BUTTO, A. Gênero, família e trabalho. In: Mulher e política. São Paulo: Editoria Fundação Perseu Abramo, 1998. CARLOTO. Cássia Maria. A chefia familiar feminina nas famílias monoparentais em situação de extrema pobreza. Revista Virtual Textos & Contextos, nº 4, dez. 2005. Disponível em http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/viewFile/994/774. Acesso em 14/03/2012. IPEA. PNAD 2009 - Primeiras análises: Investigando a chefia feminina de família.2010. Disponível em http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/comunicado/101111_comunicadoipea65.pdf. Acesso em 14/03/2012. IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 2 ed. Ed. Cortez. São Paulo: 1999. MARSIGLIA, Regina Maria Giffone. O Projeto de Pesquisa em Serviço Social. Página 24, 2001. PACHECO, Ana Lucia Paes de Barros. Mulheres pobres e chefes de família. Tese: Doutorado em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social - Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Psicologia, 2005. Disponível em http://teses.ufrj.br/IP_D/AnaLuciaPaesDeBarrosPacheco.pdf. Acesso em 14/03/2012. Ribeiro, R. M., ET al. (1998). Estrutura familiar, trabalho e renda. In S. M. Kaloustian (Org.), Família brasileira, a base de tudo. São Paulo: Cortez Editora. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. II Plano Nacional de Políticas para Mulheres. Presidência da República. 2008. 6