Profissionais de saúde Orientações para a atenção à saúde de vítimas de inundações Profissionais de saúde Orientações para a atenção à saúde de vítimas de inundações Inundações podem aumentar a transmissão de doenças comunicáveis transmitidas pela água (mais frequentemente leptospirose e hepatite A, sendo mais raro em nosso meio casos de hepatite E e febre tifóide), e doenças transmitidas por vetores (como dengue, e mais raramente febre amarela e malária). Profissionais de saúde Orientações para a atenção à saúde de vítimas de inundações Existe também um risco aumentado de infecções contraídas pelo contato direto com a água contaminada, como gastroenterites, infecções de ferimentos, dermatites, conjuntivites e infecções de ouvido, nariz e garganta, mas que não ocorrem de forma epidêmica. As inundações podem aumentar de forma indireta os casos de doenças transmitidas por vetores devido ao aumento do número e extensão de habitats, especialmente de mosquitos. A equipe de saúde deve ficar atenta, pois esse aumento de casos pode ocorrer semanas após a inundação. As equipes devem estar preparadas para dar suporte à saúde mental das vítimas de inundações, que podem estar fragilizadas devido à fadiga, doença, perdas materiais, da moradia e até de familiares. Durante e após uma inundação, é muito importante intensificar orientações de higiene para a comunidade, especialmente a lavagem das mãos, além de orientações sobre o consumo seguro de água e alimentos e cuidados na volta para casa. Sugerimos que a equipe se aproprie das informações do folder de orientações para a comunidade, realize educação em saúde na sala de espera e entregue orientações impressas através dos ACS, especialmente para as pessoas afetadas pela inundação. A seguir, abordaremos alguns aspectos importantes para a compreensão da transmissão, manifestações clínicas e ações de vigilância das doenças mais frequentes em situação de inundação. A equipe do TelessaúdeRS, por meio da plataforma de Telessaúde (www.plataformatelessaude.ufrgs.br) ou do telefone 0800 644 6543 (somente para profissionais médicos), está pronta para auxiliar na resolução de quaisquer dúvidas relacionadas ao diagnóstico e manejo dos casos. Também contamos com profissionais capacitados e amplamente disponíveis para dar suporte à equipe de saúde no enfrentamento da crise. Telefones úteis: CIT- Centro de Informação Toxicológica do Rio Grande do Sul- tel: 0800 721 3000 CEVS- Centro Estadual de Vigilância em Saúde RS- tel: 150 Profissionais de saúde Orientações para a atenção à saúde de vítimas de inundações Leptospirose No Brasil, é uma doença endêmica, tornando-se epidêmica em períodos chuvosos. É a doença de maior potencial epidêmico em situações deinundação. O principal reservatório são os ratos. Profissionais de saúde Transmissão: exposição direta ou indireta à urina de animais atenção à saúde de vítimas de inundações infectados. A bactéria penetra em mucosas, na pele com lesões ou íntegra imersa em água contaminada. A transmissão entre humanos é muito rara e de pouca relevância epidemiológica. Orientações para a Incubação: de 1 a 30 dias (em média, de 5 a 14 dias). Manifestações clínicas: Fase precoce: instalação abrupta de febre, comumente acompanhada de cefaléia e mialgia, anorexia, náuseas e vômitos. Podem ocorrer diarreia, artralgia, exantemas, hiperemia ou hemorragia conjuntival, fotofobia, dor ocular e tosse. Esta fase tende a ser autolimitada e regride em 3 a 7 dias, sem deixar sequelas. Fase tardia: 15% dos pacientes evoluem para manifestações clínicas graves iniciando-se, em geral, após a primeira semana de doença. A manifestação clássica é a Síndrome de Weil (tríade de icterícia, insuficiência renal e hemorragia - mais comumente pulmonar). Diagnóstico: A suspeita clínica deve ser confirmada por métodos laboratoriais específicos. Os métodos sorológicos são consagradamente eleitos para o diagnóstico da Leptospirose. Investigação complementar: hemograma, plaquetas, uréia, creatinina, TGO/TGP, gama-GT, fosfatase alcalina, CPK, Na+, K+ e bilirrubinas. Se necessário, solicitar: Rx de tórax, eletrocardiograma (ECG) e gasometria arterial. Notificação: Todo caso suspeito de leptospirose deve ser imediatamente notificado à Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal da Saúde, que desencadeará a investigação epidemiológica e ambiental, e o diagnóstico laboratorial confirmatório. Definição de caso suspeito: pessoa com febre, cefaléia e mialgia, que atenda pelo menos um dos seguintes critérios: Critério 1– antecedentes epidemiológicos sugestivos nos 30 dias anteriores à data de início dos sintomas, como: exposição a inundações, fossas, esgoto, lixo, atividades que envolvam risco ocupacional, vínculo epidemiológico com um caso confirmado por critério laboratorial, residir ou trabalhar em área de risco para a leptospirose. Critério 2– apresente, pelo menos, um dos seguintes sinais ou sintomas: sufusão conjuntival, sinais de insuficiência renal aguda, icterícia e/ou aumento de bilirrubinas, fenômeno hemorrágico. A presença de um dos seguintes sinais de alerta é indicativo de gravidade e sugere necessidade de internação hospitalar: 1. Dispnéia, tosse e taquipnéia 2. Alterações urinárias (geralmente oligúria) 3. Fenômenos hemorrágicos, incluindo hemoptise e escarro hemoptoico 4. Hipotensão 5. Alteração do nível de consciência 6. Vômitos frequentes 7. Arritmias 8. Icterícia Os pacientes que não apresentarem sinais de alerta poderão ser tratados ambulatorialmente. A antibioticoterapia é indicada para todos os casos suspeitos, e deve ser iniciada precocemente. Fase precoce: Adultos- Amoxicilina 500mg, VO, de 8/8 horas, durante 5 a 7 dias. Crianças- Amoxicilina 50mg/kg/dia, VO, a cada 6/8 horas, durante 5 a 7 dias; Alternativa: Doxiciclina: 100mg, VO, de 12 em 12 horas, durante 5 a 7 dias (não utilizar em crianças menores de 9 anos, gestantes e pacientes com nefropatia ou hepatopatia). A Azitromicina e Claritromicina são alternativas para pacientes com contra indicação para uso de Amoxacilina e Doxiciclina. Fase tardia: antibioticoterapia intravenosa, deve ser realizado em nível hospitalar. Profissionais de saúde Orientações para a atenção à saúde de vítimas de inundações Hepatite A Profissionais de saúde Orientações para a atenção à saúde de vítimas de inundações Doença viral aguda causada pelo vírus da hepatite A (HAV). O homem é o principal reservatório. Tem distribuição universal e apresenta-se de forma esporádica ou em surto. Tem maior prevalência em áreas com más condições sanitárias. A mortalidade e a letalidade são baixas. Transmissão: fecal-oral. O vírus pode ser ingerido através da água, alimentos e objetos pessoais contaminados. Período de transmissibilidade inicia 2 semanas antes do início dos sintomas e termina 2 semanas depois. Incubação: de 15 a 45 dias (média de 30 dias). Manifestações clínicas: formas subclínicas até formas fulminantes. Geralmente os sintomas são inespecíficos (mal estar, anorexia, febre baixa, náuseas, vômitos, cefaléia, diarréia, desconforto na região do hipocôndrio direito, icterícia, acolia e colúria). Há elevação das transaminases, podendo ou não ocorrer aumento das bilirrubinas, pois nem sempre existe a fase ictérica. Três fases: Fase prodrômica ou pré-ictérica: duração aproximada de 7 dias, sintomas inespecíficos, sem icterícia. Fase ictérica: duração aproximada de 5 semanas, sintomas mais específicos: icterícia, acolia, colúria, prurido, hepato ou esplenomegalia. Convalescença: desaparece a icterícia, mas o cansaço e a fraqueza podem persistir por vários meses. Diagnóstico: Necessária a realização de exames sorológicos. Entretanto, pode-se confirmar clinicamente os casos secundários em um surto, no qual o caso-índice teve sorologia confirmada (anti-HAVIgM). Na infecção aguda, o anti-HAV IgM é positivo. Na infecção passada e na vacinação, o anti-HAV/IgG é positivo. Investigação complementar: Dosagem de ALT/TGP e AST/TGO. O nível de ALT pode estar 3 vezes maior que o normal, podendo atingir até mais de 2.000UI/l. As bilirrubinas podem alcançar valores 25 acima do normal, sobretudo à custa da bilirrubina indireta. O tempo de protrombina pode estar diminuído (TP>17s ou INR>1,5), indicando gravidade. Notificação: todos os casos suspeitos ou confirmados (e os surtos) devem ser notificados utilizando a ficha individual para hepatites virais. Disponível no site: www.ufrgs.br/telessauders Tratamento: medicação para os sintomas de náuseas, vômitos e prurido. Repouso relativo. Não consumir bebidas alcoólicas de seis meses até um ano do início dos sintomas. Prevenção: lavar bem as mãos e os alimentos. Evitar contato com água contaminada (esgoto a céu aberto, valões). Evitar compartilhamento de materiais de uso pessoal potencialmente contaminados (ex: escova de dentes). Caso haja algum doente com hepatite A em casa, usar água sanitária para lavar o banheiro e antes de dar a descarga. NOVIDADE Vacinação: ŸAgora disponível para todas as crianças de 1 ano a menores de 2 anos de idade (na Atenção Básica). ŸGrupos especiais (no Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais). Profissionais de saúde Orientações para a atenção à saúde de vítimas de inundações Dengue Profissionais de saúde Orientações para a atenção à saúde de vítimas de inundações Doença infecciosa febril aguda, causada pelo vírus da dengue, transmitida por mosquitos, que pode ser de curso benigno ou grave. Desde 1986, epidemias vêm sendo registradas em diversos estados brasileiros. Em 2007, o estado do Rio Grande do Sul notificou o primeiro caso confirmado de dengue autóctone. Transmissão: A transmissão se faz pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti no homem. Não há transmissão por contato direto de um doente ou de suas secreções com uma pessoa sadia, nem por fontes de água ou alimento. Incubação: de 3 a 15 dias (média de 5 a 6 dias). Manifestações clínicas: A primeira manifestação do dengue é a febre, geralmente alta (39ºC a 40ºC), de início abrupto, associada à cefaleia, adinamia, mialgias, artralgias, dor retro orbitária, com ou sem exantema e/ou prurido. Anorexia, náuseas, vômitos e diarreia podem ser observados por 2 a 6 dias. As manifestações hemorrágicas, como epistaxe, petéquias, gengivorragia, metrorragia, hematêmese, melena, hematúria, e plaquetopenia podem ser observadas em todas as apresentações clínicas de dengue. As manifestações clínicas iniciais da dengue grave são as mesmas descritas nas formas clássicas da doença. Entre o terceiro e o sétimo dia do seu início, quando, da diminuiçãoda febre, podem surgir sinais e sintomas como vômitos importantes, dor abdominal intensa, hepatomegalia dolorosa, desconforto respiratório, letargia, derrames cavitários (pleural, pericárdico, ascite), que indicam a possível evolução para formas hemorrágicas severas. Diagnóstico: deve ser realizada a prova do laço e confirmação laboratorial específica. A confirmação laboratorial é orientada de acordo com a situação epidemiológica: em períodos não epidêmicos, solicitar o exame de todos os casos suspeitos; em períodos epidêmicos, solicitar o exame em todo paciente grave ou com dúvidas no diagnóstico, seguindo as orientações da Vigilância Epidemiológica. O diagnóstico laboratorial específico (virológico) tem por objetivo identificar o patógeno e monitorar o sorotipo viral circulante. O antígeno NS1 deve ser coletado até 6 dias após início dos sintomas, e os anticorpos para dengue (IgM e IgG) depois de 7 dias. Investigação complementar: o hemograma com plaquetas é recomendado para todos os pacientes com suspeita de Dengue. Notificação: Todo caso suspeito de dengue deve ser imediatamente notificado à Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal da Saúde, que desencadeará a investigação epidemiológica e ambiental, e o diagnóstico laboratorial confirmatório. Os óbitos decorrentes da doença devem ser investigados imediatamente. Definição de caso: Caso suspeito de dengue - Caso suspeito de dengue - todo paciente que apresente doença febril aguda com duração de até sete dias, acompanhada de, pelo menos, dois sintomas: cefaleia, dor retro orbitária, mialgias, artralgias, prostração ou exantema, associados ou não à presença de hemorragias. Caso confirmado de dengue clássico - é o caso suspeito, confirmado laboratorialmente. Durante uma epidemia, a confirmação pode ser feita pelo critério clínico-epidemiológico, exceto nos primeiros casos da área, os quais deverão ter confirmação laboratorial. Tratamento: hidratação oral e analgésicos/antitérmicos para os casos leves, com reavaliação pela equipe de saúde em 72 horas. Casos moderados devem receber hidratação parenteral, e o resultado do hemograma/plaquetas determinam a necessidade de internação. Casos graves devem ser encaminhados para internação hospitalar. Atenção: Os salicilatos (como o AAS) e os anti-inflamatórios não hormonais (ex:diclofenaco, ibuprofeno, cetoprofeno) são contraindicados e não devem ser administrados, pois podem causar ou agravar sangramentos. Para definição do acompanhamento do paciente, consultar o “fluxograma de classificação de risco no site do TelessaúdeRS: http://goo.gl/XPcnMM