A espécie mais comum neste ambiente foi o cachorro-do

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3
Fauna e Flora
A diversidade e a riqueza das espécies presentes numa área são indicativos de quanto
preservado está este local. Estes mesmos índices podem ser também utilizados como
indicativos da biodiversidade geral, devido à inter-relação fauna / ambiente. Por sua vez, a
estreita relação entre fauna / flora e, mesmo a interação fauna / fauna, permitem, ao longo
do tempo, a detecção de alterações ambientais, sejam elas sutís ou drásticas (ARACRUZ,
1995).
Por estarem em estreita dependência do meio onde vivem, os animais silvestres tem sido
utilizados como indicadores das condições ambientais, sendo que nas últimas décadas tem
havido uma expansão da utilização desses animais como indicadores ambientais,
especialmente no tocante à conservação da natureza.
A interação das espécies com os elementos componentes dos ambientes naturais e os
sistemas adaptativos de cada uma, ocasionam processos ecológicos existentes a nível de
fauna/fauna ou fauna/flora.
Caracteristicas específicas dos animais os tornam bons indicadores da qualidade dos
ambientes. Os anfíbios e répteis , por exemplo, por suas características sedentárias são mais
susceptíveis às atividades de manejo (Szaro, 1988). Já muitas espécies de anuros devido a
seus ciclos de vida, tornam-se potencialmente ótimas indicadoras, uma vez que evidenciam
variações nos ambientes terrestres e aquáticos.
O papel dos mamíferos e aves como polinizadores e dispersores de sementes é destacável,
permitindo a recolonização de áreas alteradas a partir de remanescentes isolados. Entretanto,
embora tais linhas gerais sejam aceitas quase com unanimidade, poucos são os trabalhos no
Brasil que procuram mensurar tais pontos.
3.1
INTERELAÇÕES FAUNA E FLORA
A vegetação é uma das características do meio mais importante para a manutenção dos
animais. Intervenções na vegetação produzem efeitos diretos na fauna, pela redução,
aumento ou alteração de dois atributos chaves, que são o alimento e o abrigo (Odum, 1985).
A estrutura da vegetação tem grande influência no hábitat das diferentes espécies e,
conseqüentemente, na composição faunística do ecossistema, sendo que hábitats diferentes
abrigam espécies diferentes (Alho & Pereira, 1987).
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Itaúnas - Encarte 04 – Meio Biótico
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Mudanças na vegetação, sejam de origem natural ou antrópica, interferem diretamente na
estrutura populacional da fauna. Este fato pode ser constatado através das alterações na
diversidade e densidade das aves, principalmente entre as espécies mais especialistas
(Berndt, 1992; 1993).
Estudos realizados pela Aracruz (1995) indicaram que a principal dieta das aves presentes
nos plantios de eucalipto são os insetos, seguidos, à distância, pelas pequenas frutas
produzidas no sub-bosque. Desta forma, as aves quando no interior do plantio, estarão
provavelmente reduzindo ou, até mesmo, impedindo o desenvolvimento populacional da
maioria dos insetos pragas (Aracruz, 1995).
Espécies botânicas que se instalaram e se desenvolveram no sub bosque de eucalipto,
podem estar servindo como base alimentar para diferentes grupos animais, por exemplo, as
espécies de Passifloraceae, que compreendem os maracujás, que têm suas flores visitadas
por diferentes espécies de abelhas, como reportado por KOSCHNITZKE & SAZIMA
(1997), sendo que umas destas espécies é citada para o Parque Estadual de Itaúnas.
Uma outra espécie de maracujá que ocorre nesta Unidade de Conservação, Passiflora
mucronata é polinizada no Estado do Espírito Santo por morcegos pertencentes a duas
espécies (SAZIMA, 1978). Este grupo animal é mencionado como de grande importância
também na dispersão de frutos e sementes (MARINHO-FILHO & VASCONCELLOS
NETO, 1994).
No sub-bosque de Eucaliptus a ocorrência de Myrsine umbellata também favorece a
manutenção de determinados grupos de aves, já que esta espécie é mencionada para este
Estado como tendo seus frutos utilizados pela avifauna (ARGEL-DE-OLIVEIRA, 1999).
Neste caso estas aves poderiam estar ampliando sua área de circulação, favorecendo por
outro lado na dispersão de outras espécies vegetais.
A ocorrência no sub-bosque de eucalipto, de espécies com frutos carnosos amplamente
distribuídas nas restingas do Estado do Espírito Santo, tais como Cereus fernambucensis
(cactos), Smilax rufescens, representantes de Myrtaceae (família da pitanga), além de outros
com diferentes características como Allagoptera arenaria (guriri), Schinus terebinthifolius
(aroeira), Xylopia sericea (pindaíba), possibilitam um trânsito de diferentes grupos animais
que disporiam de uma maior oferta de alimentos, principalmente por estas plantas terem
maior densidade que nas áreas naturais.
A grande diversidade de ambientes dentro do PEI oferece uma variedade de recursos
alimentares e microhabitats que proporcionam uma significativa biodiversidade. A lista de
espécies de mamíferos apresentada para a região é muito expressiva se considerado o tempo
para coleta de dados (avaliação ecológica rápida) e o baixo sucesso de captura de pequenos
mamíferos, já que este grupo domina a diversidade de mamíferos nos trópicos (Fleming,
1975; Eisenberg, 1978; Voss & Emmons, 1996).
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Na restinga, a espécie mais comum foi o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), sendo
frequentemente verificado fezes desta espécie com muitas sementes de gurirí (Alagoptera
arenaria.), um importante item da sua dieta. O guriri produz uma grande biomassa oriunda
de suas folhas, favorecendo o enriquecimento do sedimento e, desta maneira, possibilitando
o estabelecimento e desenvolvimento de outras espécies (MENEZES & ARAÚJO 2000).
Pela presença de grande quantidade de guriri nas dunas estabilizadas pode-se inferir que a
mesma funciona também como fixadora das areias impedindo sua movimentação.
Macrófitas aquáticas tais como Eichhornia crassipes, Hydrocleis sp. Myriophyllum
brasiliense, Nymphaea sp., Annona glabra e Montrichardia linifera, propiciam ambientes
favoráveis ao desenvolvimento de peixes, fornecendo alimentos e proteção aos alevinos,
conforme discutido por PERRONE (1990).
Considerando a frugiforia, ARGEL-DE-OLIVEIRA (1999) lista uma série de espécies que
são utilizadas pela avifauna, neste caso inferindo-se que estas mantêm este grupo animal no
ecossistema, que por sua vez dispersa as espécies que deverão germinar na área, mantendo a
estrutura do ecossistema. Na análise da avifauna do Parque de Itaúnas foram encontradas
pelo menos 10 espécies mencionadas por aquele autor.
Ainda merece atenção Psidium macahense e Eugenia sp.3, com altas freqüências na
Formação Arbustiva Fechada. Sendo estas espécies pioneiras e produtoras de grande
quantidade de frutos que servem de alimento para aves, estas auxiliam no transporte de
sementes destas espécies para outras regiões, assim como são fonte de entrada no sistema de
outras espécies vegetais.
A retirada de bromeliáceas do Parque para fins paisagísticos, fato constatado pela presença
de bromélias em diversas casas da Vila de Itaúnas, pode afetar a anurofauna, que possui
diversas espécies que completam o seu ciclo de vida inteiramente no interior destas plantas.
Grande parte da ictiofauna da Bacia do Leste, onde se insere o Parque de Itaúnas, está
diretamente relacionada ao ecossistema Mata Atlântica, que garante a manutenção de
pequenos cursos d’água, graças ao poder de retenção da água da chuva pelo sistema de
raízes. Sem esta proteção a luz solar aquece o solo e a evaporação é muito mais rápida do
que a perda ocasionada por transpiração das folhas. Há que se considerar ainda o efeito da
erosão causada pela força das águas em área desflorestadas que acaba destruindo pequenos e
médios cursos d’água, e conseqüentemente micro habitats anteriormente propícios à vida de
muitas espécies de peixes (Menezes et al. 1990).
A destruição da Floresta Atlântica afetou a sobrevivência dos peixes de riacho que nela
habitam de diversos modos. Para muitos peixes da família Characidae, um dos grupos mais
importantes da América do Sul que dependem da visão para alimentação, reprodução e
comportamento social, é quase impossível viver em águas turvas ou em águas sujeita a
intensa luminosidade devido a retirada da floresta. A manutenção de temperaturas amenas
nos riachos e córregos é também garantida pela presença das florestas que impedem a
insolação direta e conseqüentemente picos elevados de temperatura durante a tarde. Muitos
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peixes de riachos e córregos de florestas não suportam grandes variações diárias de
temperatura (Menezes et al. 1990).
A ausência da floresta acarreta também a perda de fontes de alimento, tais como insetos,
frutos, flores e folhas, essenciais para muitas espécies típicas de corpos d’água desse
ecossistema. Insetos terrestres que caem das árvores situadas a beira dos riachos e córregos,
representam uma proporção considerável do alimento dos peixes da Floresta Atlântica
(Menezes et al. 1990).
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3.3 CORREDOR ECOLÓGICO
Segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC (2000),
corredores ecológicos são definidos como “porções de ecossistemas naturais ou
seminaturais, ligando unidades de conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes
e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas
degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam para sua sobrevivência
áreas com extensão maior do que aquela das unidades individuais”.
O corredor ecológico é constituído por um mosaico de terras com os mais variados usos,
onde são incluídos desde Parques e Reservas, até Áreas de Proteção Ambiental que possuem
remanescentes de vegetação e são consideradas como propriedades particulares, sendo a
gestão destas áreas feitas de maneira integrada objetivando conservar o maior número de
espécies.
O estabelecimento de Corredores é imprescindível em regiões onde remanescentes de
vegetação são escassos e ainda sofrem grande pressão antrópica, principalmente para
ampliação de fronteiras agrícolas e instalação de núcleos habitacionais.
Nem sempre a organização dos Corredores requer grandes interferências, já que estas
podem estar resumidas ao plantio de bambu, em lugares previamente analisados,
possibilitando que animais possam circular, por exemplo, sobre estradas.
O entorno do Parque de Itaúnas em sua porção oeste tem como base geológica terrenos do
Terciário, que foram ocupados na parte aplanada por cultivo de Eucaliptus. No entanto, na
porção que constitui o fundo do vale, possui vegetação enquadrada como sendo de
preservação permanente segundo o Código Florestal (Lei 4771 de 15/09/1965, Art. 2º g.,
modificada pela Lei 7803/89).
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Estas áreas remanescentes são de grandes extensões, quando vistas em fotografias aéreas da
região, podendo com isto servir como corredores ecológicos entre remanescentes, sejam eles
de Restinga ou Mata Atlântica sobre os Tabuleiros, ou ainda entre os dois tipos. Embora
esta seja uma possibilidade, uma investigação técnica seria recomendável no caso, em
função destes “vales”, em muitos casos, serem alagadiços, o que poderia favorecer algumas
espécies animais, porém para outras esse fato seria um impedimento.
Esta vegetação, denominada “Formação Florestal de Fundo de Vale”, encontra-se bem
conservada em muitos trechos e faz conexão com vegetação de restinga, além de se estender
para fora do Parque. Conforme já mencionado, o entorno desta floresta é ocupada por
extensos plantios de Eucalyptus, havendo entretanto, outros remanescentes desse
ecossistema nos arredores, como a Mata do Cabral (18º23’36S - 39º44’02”W; 18º23’41”S 39º44’22”W), com área em torno de 300 - 400 hectares, segundo informações locais. Esta
floresta pelo tamanho também é muito importante como corredor ecológico, dando
sustentabilidade à biodiversidade da região, além de ampliar a área de deslocamento da
fauna. (Figuras 125 e 126).
Figura 125 : Bordo de um
remanescente florestal de Mata
Atlântica de Tabuleiro, na
Fazenda Cabral, em Conceição da
Barra /ES.
Figura 126 : Bordo de um remanescente
florestal de Mata Atlântica de Tabuleiro, na
Fazenda Cabral, em Conceição da Barra /ES.
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Ainda próxima à Mata do Cabral, ampliando ainda mais esse corredor, remanescentes de
menor porte, como a Mata do Rives (18º23’18”S - 39º44’27”W), conserva, de maneira
isolada, exemplares importantes sob o aspecto madeireiro, como a Carianina strellensis
(Jequitibá, Figura 127). Outras matas, sem informações precisas das dimensões foram
encontradas no entorno do Parque, como a mata localizada nas coordenadas (18º27’58”S 39º46’42”W), a mata do Córrego do Angelim (18º27’58”S - 39º46’42”W), a mata da
Viração (18º25’03’”S - 39º46’06”W), do Nazir (18º25’03”S - 39º47’13”W), a matinha do
Angelim (18º26’29”S - 39º43’41”W), a mata da Aracruz (18º24’30”S - 39º45’34”W), entre
outras de pequeno porte, quase sempre restritas ao fundo do Tabuleiro, que, no conjunto,
aumentam a área de um possivel corredor ecológico.
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Figura 127 : Exemplar de Carianina strellensis (Jequitibá) em remanescente de Mata
Atlântica de Tabuleiro, na Fazenda Rives, em Conceição da Barra /ES.
Mais distante dos limites do Parque, uma floresta pertencente à Bahia Sul
Celulose (18º24’01”S - 39º42’47”W), localizada no cruzamento da estrada para
Riacho Doce e Fazenda Cabral, é o único remanescente encontrado, que deve
fazer parte do complexo vegetacional que ampliaria o corredor ecológico.
Dentre os remanescentes ao norte do Estado do Espírito Santo que poderiam
compor este corredor estão mais duas unidades de conservacão, a Floresta
Nacional do Rio Preto e a Reserva Biológica do Córrego Grande, ambas no
município de Conceição da Barra (Figura 128), predominando entre essas UCs e o
Parque, plantações de eucalipto. Este tipo de conectividade permite o movimento
de espécies de mamíferos com grande requerimento de espaço (Chiarello, 1999,
Passamani et al., 2000). A julgar pela ocorrência de aves nativas em áreas de
eucalipto com sub bosque de vegetação nativa, conforme apontam alguns
estudos, é possível que tais áreas possam realmente atuar como corredores de
fauna entre ecossistemas nativos isolados, pelo menos para as espécies de maior
vagilidade.
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Considerando a existência de estradas de diferentes dimensões que interrompem
a conexão, o investimento para concretização de tal empreendimento torna-se
diferenciado quando comparado àquele para remanescentes nas proximidades do
Parque.
Proposta de um possível Corredor Ecológico envolvendo o Parque Estadual de
Itaúnas está apresentado na Figura 128 A- Anexo 8.
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FIGURA 128
Conectividade entre as UC`s do município de Conceição da Barra
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FIGURA 128 A
Corredor Ecoológico
(Vide mapa na escala 1:20 000 no Anexo 8)
3.2 AMEAÇAS E IMPACTOS ÀS ESPÉCIES E AOS AMBIENTES
DO
PARQUE
Aspectos do Parque de Itaúnas, como a facilidade de acesso, que pode se dar pelo mar, pelo
rio e pelas propriedades vizinhas; a proximidade com uma área urbana, a Vila de Itaúnas e
as belezas cênicas e aspectos culturais, como o forró, que atraem milhares de turistas, o
tornam extremamente vulnerável às ações antrópicas.
O Parque vem sofrendo os impactos das diversas atividades desenvolvidas pela população
local, especialmente pela utilização da vegetação para fins diversos, como pode ser
observado em diferentes comunidades vegetais. As comunidades Florestais Não Inundáveis
são aquelas que revelam maiores interferências, em função de sua extensão no Parque e
também por ocuparem níveis topográficos mais elevados.
Independente de constituir-se em um maior ou menor grau de ameaça, as seguintes ações
humanas foram identificadas na área do parque, devendo ser consideradas como ameaças
para sua fauna e flora:







Desmatamento ou alteração da vegetação nativa
Modificações do ecossistema aquático e vegetação associada
Fogo sobre a vegetação nativa
Coleta seletiva (madeiras nativas, espécies ornamentais, frutiferas, etc)
Caça (abate) e captura (cativeiro) de espécies animais
Turismo desordenado sobre os ecossistemas naturais
Ocupação inadequada
Impactos decorrentes tanto do uso pela população, como por um turismo desordenado,
foram verificados e ameaçam diversos ambientes, como pode ser observado na Figura 107 e
Anexo 7 - Mapa de Ameaças/ Ambientes Críticos e conforme descrito a seguir.
3.2.1
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UTILIZAÇÃO DE ESPÉCIES DA FLORA DO PARQUE
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A diversidade de espécies botânicas e os seus usos, relatados no item 1.5 - Etnobotânica,
atestam a importância desses recursos, tanto nos seus aspectos ecológicos, como
principalmente nos sócio-econômicos e culturais.
A utilização dos recursos florísticos existente no Parque de Itaúnas, destacadamente para
uso medicinal, paisagístico, alimentar e para suprimento energético, pode causar danos
ambientais significativos dependendo da intensidade e periodicidade desses usos. Em que
pese os regulamentos dessa categoria de manejo, Parque Estadual, não permitir o uso direto
dos recursos naturais existentes, é uma realidade essa utilização, confrontando aspectos
legais vigentes.
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FIGURA 107
(MAPA DE AMEAÇAS (AMBIENTES CRÍTICOS NO PEI).
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Por outro lado, é reconhecida a importância e o valor social, cultural e econômico desses
recursos para as comunidades locais, gerando assim um conflito de dimensões ainda não
exatas.
Entre os recursos floristicos utilizados, destacam-se:

Coleta de frutos para alimentação: Segundo dados e informações locais, a coleta de
cajú, cambucá, mangaba, coquinho guriri e guajiru , dentre outros das espécies nativas, é
feito principalmente pelos moradores locais e turistas que visitam o parque. A coleta de cajú
assume, em épocas de veraneio, dimensões mais acentuadas, em vista do aumento da
população flutuante e das demandas do fruto nas pousadas locais para fabricação de sucos e
doces.

Coleta de frutos de aroeira: Segundo informações locais, essa prática é realizada anualmente e
é decorrente do preço atrativo que é comercializada essa especiaria na região. Até recentemente, a
coleta era feita de forma predatória pois danificava às árvores quando da coleta. Hoje, segundo a
fiscalização do Parque, os coletores utilizam-se de tesouras, pois além de não danificar a planta,
acabam realizando uma poda de produção, como assim é conhecida nos meios agrônomicos e
florestais. Não existem dados para dimensionar o impacto dessa atividade nas populações de aroeira
existentes no Parque.

Coleta para uso medicinal: Realizada basicamente pela população da Vila de Itaúnas, e
ainda, pela diversidade de espécies e partes da planta utilizadas, o impacto dessa atividade é
de difícil mensuração. Sabe-se que algumas espécies fornecem os princípios medicinais a
partir do uso da casca e nesses casos, a sua retirada requer cuidados para não danificar os
vasos condutores de seiva das plantas. Outras espécies fornecem os princípios ativos
contidos em floração ou até mesmo em frutos/sementes (vide item 1.5 - Etnobotânica).
3.2.2
DESMATAMENTOS
Entre as interferências encontradas destacam-se desmatamentos para base pesqueira, onde
são construídas cabanas temporárias, utilizando como cobertura material plástico (Figura
108), onde são guardados equipamentos para tal fim, como caixas de isopor, redes etc.
Nesses trechos a vegetação natural foi substituída por outras pertencentes a diferentes
ambientes, em regra as denominadas invasoras ou daninhas, que são constituídas
principalmente por gramíneas, que pela facilidade de chegada de luz até o sedimento,
possuem grande facilidade para proliferar. O Elaeis guineensis (dendê) uma espécie africana
cresce espontaneamente nestas áreas, e mesmo em outros trechos, onde a floresta encontrase em bom estado de conservação (Figura 109). A recuperação destes trechos, por serem de
pequena área, ocorrerá naturalmente desde que cesse a interferência.
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Figura 108: Área desmatada onde são construídas
cabanas rústicas, com cobertura de plástico, para utilizar
como bbase à atividades pesqueiras, no Parque Estadual
de Itaúnas/ES.
Figura 109 : Trecho da mata com
eliminação da formação florestal, às
margens do rio Itaúnas, para construção
de cabanas que são utilizadas para
guardar material de pesca. No primeiro
plano o dendezeiro (Elaeis guianensis),
no Parque Estadual de Itaúnas/ES.
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O desmatamento de áreas maiores se dá para cultivo de Coccos nucifera (coco-da-bahia)
(Figura 110), sendo que neste caso ocorrem construções permanentes, com moradores fixos.
Os problemas com interferência de espécies não nativas são idênticos aos encontrados em
qualquer área antropizada. Em trechos menores, onde estas palmeiras apresentam idades
avançadas, pode-se verificar que, entre elas, espécies da restinga tendem a ocupar os
espaços, mesmo com o sedimento estando coberto por gramíneas (Figura 111).
Figura 110 : Desmatamento às margens do
rio Itaúnas, para cultivo de coco (Cocos
nucifera), no Parque Estadual de
Itaúnas/ES.
Figura 111 : Antiga plantação de coco (Cocos
nucifera) onde ocorre recuperação natural
por espécie de restinga, no Parque Estadual
de Itaúnas/ES.
Com finalidade semelhante, também foi detectado desmatamento às margens do rio Itaúnas
em trechos onde o sedimento pertence à Série Barreiras, do Terciário, conhecido como
Tabuleiro (Figura 112), deixando apenas sem muita interferência a vegetação que ocupa da
base até o topo da margem do rio. Neste caso, a diversidade de espécies que permanece é
suficiente para recuperação da faixa estabelecida pela legislação vigente, caso sejam
multiplicadas por meio de seus propágulos (sementes) e vegetativamente, utilizando para
isto um horto que poderia atender também este tipo de ação.
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Figura 112 : Desmatamento sobre os Tabuleiros, às margens do rio Itaúnas, com plantação
recente de coco (Cocos nucifera), no Parque Estadual de Itaúnas/ES.
Durante os trabalhos de campo, uma carvoeira foi fotografada em operação (Figura 113).
Apesar de situada fora da área do parque, utiliza madeira nativa de toda a região. A
implantação de um loteamento na entrada da Vila, próximo a um fragmento importante de
mata seca de restinga, tende a intensificar o problema.
Figura 113 : Carvoeira em plena atividade, situada nas adjacências da porção
sudoeste do Parque (18o31’ 01’’,8 S/ 39o 45’ 21’’,3 W).
Prática comumente utilizada pela população local é a retirada da madeira para uso como
lenha. Pesquisa realizada pela SIMBIOS em 2000, junto a comunidade local, verificou que
cerca de 36% da mesma possuem fogões à lenha e utilizam-se da vegetação do Parque como
suprimento energético. A retirada da vegetação é feita de forma silenciosa e praticamente
imperceptível pela fiscalização do Parque. Não existem indícios de desmatamentos de
grande dimensão, mas estudos de monitoramento da cobertura vegetal poderão aferir o
impacto dessa prática sobre a composição e estrutura da vegetação local.
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O desmatamento para implantação de pastagem (Figura 114), também ocorre no Parque
(Figura 115). Nesse caso construções diversas de apoio a esta atividade são encontradas.
Esta situação gera grandes problemas para os remanescentes, em função da entrada dos
animais domésticos no interior da floresta, onde estes se alimentam ao longo das trilhas e
deixam fezes que por sua vez contém sementes de invasoras que germinam nos locais onde
ocorre maior penetração de luz. A interrupção da atividade permitiria implementação de
projetos maiores de recomposição florestal, já que o entorno possui uma grande
representatividade da flora que existiu no passado na área.
Figura 114 : Desmatamento com
finalidade de implantação de pastaria, no
Parque Estadual de Itaúnas/ES.
Figura 115 : Desmatamento com pastaria
que é utilizada por rebanhos bovinos,
no Parque Estadual de Itaúnas/ES.
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O desmatamento ocorrido sobre as dunas defronte à Vila de Itaúnas e no Buraco do Bicho
(Figura 116), permitiu que as areias se deslocassem para o interior do continente. Na região
do Buraco do Bicho, o avanço se dá sobre o brejo e caso não haja medidas urgentes de
contenção desse processo, com revegetação das dunas, haverá bloqueio no fluxo de água
com conseqüente morte das espécies, de um lado por aumento no nível de água e do outro
pela ausência desta nas proporções que hoje é encontrada.
Figura 116: Desmatamento sobre as dunas no Buraco do Bicho, onde as dunas estão se
deslocando para o interior do brejo, no Parque Estadual de Itaúnas/ES.
Em menores proporções foram observadas retiradas de madeira de forma isolada (Figura
117), provavelmente para algum tipo de construção, em função do diâmetro da planta.
Como a retirada tem acontecido em níveis muito baixos, estas correm o risco de não
rebrotarem, o que eliminaria o espécime do ambiente. Em outros casos, foram detectados
trechos onde a quase totalidade das espécies, com porte arbustivo, apresentavam-se
perfilhadas na base, indicando terem sido cortadas no passado.
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Figura 117 : Corte seletivo de espécies de restinga, provavelmente para uso em
algum tipo de construção, no Parque Estadual de Itaúnas/ES.
Outro tipo de agressão é a retirada da casca da árvore, para elaboração de corda, jequi e
berimbau, sendo neste caso utilizada Eschweilera ovata (biriba branca). Pela extensão da
agressão à planta, sua sobrevivência é remota, até mesmo pela instalação de parasitas nas
partes cortadas (Figura 118). A utilização da planta com tais finalidades tende a dizimá-la
do ambiente. Considerando a grande utilidade destas plantas para a comunidade,
especialmente da biriba branca, sugere-se a reprodução destas espécies num horto florestal,
para que possam continuar sendo utilizadas pela comunidade, sem ameaçar sua
sobrevivência.
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Figura 118 : Retirada da casca da imbiriba branca (Eschweilera ovata),
para usos artesanais, no Parque Estadual de Itaúnas/ES.
A comunidade de Montrichardia linifera (aninga) que ocorre às margens do rio Itaúnas (18º
26’ 8,8” S – 39º 42’ 35,5” W) foi cortada em um trecho de aproximadamente 2 metros de
largura (Figura 119), por toda sua extensão, desde a formação florestal de Restinga até a
margem do rio. Para tal foram utilizadas troncos de árvores da floresta adjacente (Figura
120), causando impacto duplo naquele trecho.
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Figura 119 : Trecho antropizado às margens do Rio Itaúnas
com cobertura vegetal constituída por Montrichardia linifera
(aninga), no Parque Estadual de Itaúnas, Conceição da
Barra, ES.
Figura 120 : Trecho às margens do rio Itaúnas
onde foi estabelececida uma “ponte” que dá acesso
a bbarco, no Parque Estadual de Itaúnas,
Conceição da Barra, ES
Os desmatamentos vem reduzindo os ambientes naturais e consequentemente aumentando o
isolamento dos fragmentos remanescentes, o que tem afetado a fauna, especialmente a
mastofauna, de forma significativa. Devido a sua localização, os ambientes costeiros foram
um dos que mais sofreram destruição. A retirada de madeira para consumo doméstico ou
para a construção civil foram detectados durante as campanhas. Como a maioria das
espécies da mastofauna não sobrevivem em áreas deflorestadas, a destruição da mata
implica numa diminuição drástica do tamanho populacional levando muitas vezes a extinção
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local várias espécies, como comprovado em outras localidades do norte do ES (Chiarello,
1999; Chiarello, 2000a,b). As entrevistas revelaram que onças pardas (Puma concolor) e
porcos-do-mato (Pecari tajacu e Tayassu pecari) existiam na região, podendo estarem
extintas localmente. Na APA de Conceição da Barra, próximo ao PEI, veados-mateiros
(Mazama spp.), porcos-do-mato (Pecari tajacu e Tayassu pecari) e cutias (Dasyprocta
leporina) parecem estar extintas localmente (Chiarello, A.G., com. pess).
Quanto as aves, seja pela redução do hábitat, raridade na região e/ou pressão de caçacaptura atuando sobre elas, 23 espécies do total da avefauna levantada para o parque,
encontram-se localmente ameaçadas de extinção. Entre aquelas prejudicadas pela redução
do hábitat, aparecem, por exemplo, o Inhambu-Tururim (Crypturellus soui), Gavião-Pomba
(Leucopternis lacernulata), Águia-Uiraçu (Morphnus guianensis), Corujão-Orelhudo (Bubo
virginianus) e o Tangará-Falso (Chiroxiphia pareola).
 3.2.3 QUEIMADAS
Queimadas que ocorreram no passado devem ter alterado a composição e estrutura da
floresta, como pode ser visto nas proximidades do rio Itaúnas (18º31’37”S - 39º44’08”W),
tendo o evento se passado a aproximadamente oito anos, segundo informações locais. Nesta
área encontra-se um grande número de árvores que ficam acima de um estrato médio, que é
originado provavelmente da recomposição que naturalmente vem sendo estabelecida (Figura
121).
Figura 121 : Bordo de uma floresta que sofreu queimada, destacando árvores que
provavelmente sobreviveram ao evento, no Parque Estadual de Itaúnas /ES.
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 3.2.4 RETIRADA DE AREIA
A retirada de areia, principalmente para construção civil, é observada próximo à Trilha da
Borboleta. Esse trecho vem recebendo deposição de areia oriunda das dunas que chega até a
estrada do Parque. A intervenção no passado chegou até o nível do lençol freático,
deixando-o exposto em alguns pontos, onde então aflora. Em outros locais esse corre pela
superfície para níveis topográficos inferiores. Esta situação pode vir a interferir na
comunidade adjacente, a Arbustiva Aberta Inundável, já que esta é dependente de um nível
de lençol freático muito próximo da superfície (Figura 122).
Figura 122 : Retirada de areia provavelmente para construção civil, na Formação
Arbustiva Aberta não Inundável, no Parque Estadual de Itaúnas /ES.
Nesse trecho ocorrem espécies características da formação Halófila-Psamófila, como
Stenotaphrum secundatum e Remirea maritima que ali chegaram provavelmente com a areia
das dunas, além de outras da entre moitas das comunidades abertas, como Stylozanthes
scabra, Chamaecrista ramosa e Sebastiania glandulosa que podem ter chegado nesta
comunidade por meio do transporte de suas sementes por agentes dispersantes. O maior
número de indivíduos e espécies pertence as Cyperaceae, principalmente no entorno dos
trechos onde o lençol freático encontra-se aflorado. Espécies de maior porte também estão
presentes como Marcetia taxifolia, Emmotum nitens, Byrsonima sericea e Tibouchina sp.
Nesta área ocorre Dodonaea viscosa, que sempre ocupa ambientes antropizados. O retorno
da areia para esta área deveria ser dado de maneira a colocar o terreno plano, deixando que a
ocupação desta ocorra naturalmente.
Dodonaea viscosa é a principal espécie a ocupar uma área antropizada nas proximidades da
mata da Acesita, sendo que na fitofisionomia é dominante absoluta, com exemplares
isolados de outras espécies características da restinga, como Myrcine umbellata.
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3.2.5 EXTRATIVISMO SELETIVO
A coleta seletiva é sempre fator de risco considerando que estas espécies tendem a
desaparecer da comunidade quando a pressão é muito grande. Neste contexto estão
representantes de bromélias e orquídeas com potencial ornamental. Alteração na densidade
deste grupo trás conseqüência imediata para determinados grupos animais. No primeiro caso
várias espécies são abrigo para anuros (sapos) que tem ali recursos alimentares advindos dos
insetos que utilizam a água dos “tanques das bromélias” para reprodução. Com relação ao
segundo grupo de plantas possui recursos alimentares para aves, principalmente beija-flores.
Ainda considerando a utilização de espécies seletivas têm-se evidências de cortes de árvores
que são empregadas em pequenas construções, bem como para queima como combustível.
3.3.6 REFLORESTAMENTO NO ENTORNO
Grande parte do entorno do Parque Estadual de Itaúnas na sua porção oeste é ocupado por
reflorestamentos com Eucalyptus. Nesta atividade, a madeira é cortada após alguns poucos
anos, sendo que as espécies do ecossistema adjacente que venham a ocupar esta floresta
serão perdidas durante o processo de extração, replantio ou manejo da área para rebrota do
Eucalyptus. Como o reflorestamento é realizado sobre os Tabuleiros do Terciário, em
função do melhor desenvolvimento das florestas implantadas nestes terrenos, poucas áreas
com vegetação nativa podem ser encontradas nesse entorno, sendo estas basicamente
restritas aos níveis topográficos mais baixos, percorridos por pequenos mananciais.
Estas áreas remanescentes são de grandes extensões, quando vistas em fotografias aéreas da
região, podendo com isto servir como corredores ecológicos entre remanescentes, sejam eles
de restinga ou Mata Atlântica sobre os Tabuleiros, ou ainda entre os dois tipos. Embora esta
seja uma possibilidade, uma investigação técnica seria recomendável no caso, em função
destes “vales”, em muitos casos, serem alagadiços, o que poderia favorecer algumas
espécies animais, porém para outras esse fato seria um impedimento.
3.2.7 ABERTURA DA FOZ ARTIFICIAL
A abertura de uma nova foz para o rio Itaúnas, foi responsável pela destruição da maior área
de formação florestal Periodicamente Inundada no Parque (Figura 123), já que o
estabelecimento de espécies de manguezal em substituição às espécies desta comunidade é
um indicativo de salinização do ambiente, por estas só se desenvolvem nestas condições
(FERNANDES & PERIA, 1995). Com o progressivo estabelecimento do manguezal,
espécies tipicas da fauna associada a este ecossistema começam a se instalar.
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Figura 123 : Destruição da Formação Florestal não inundada sobre o primeiro
cordão arenoso, na foz do rio, no Parque Estadual de Itaúnas/ES.
3.3.7 RISCO POTENCIAL DE ANTROPIZAÇÃO
Pelas características peculiares do Parque de Itaúnas, que tem como suas atrações as únicas
dunas móveis do Estado, praias, sítio arqueológico referente a antiga vila e rio navegável,
dentre outras, toda a extensão desta Unidade de Conservação passa a ter riscos inerentes a
entrada da população em locais não demarcados com este objetivo.
No extremo norte do Parque, na localidade denominada Riacho Doce, há uma construção,
que já foi utilizada como bar/restaurante, cercada por cultura de coco e outras espécies
exóticas. Esta área além do grande interesse que já desperta nos turistas, tem importância
biológica em função das comunidades vegetais que ali ocorrem, e também pela presença do
Riacho Doce, um dos pontos de água doce que pode estar sendo utilizado pela fauna local.
Na região do Buraco do Bicho a intervenção no passado sobre a floresta instalada sobre as
dunas, que pode ser detectada pelos restos de troncos de grandes árvores que ali ainda
persistem, tem possibilitado a movimentação de areia para o interior da formação Herbácea
Inundável, que poderá acarretar interrupção do fluxo de água. Neste local a trilha existente
que fornece acesso à praia, passa a ser testemunha da potencial risco que este trecho está
sofrendo, principalmente com aumento da população de turistas na região. Este fluxo tende
a ampliar os caminhos hoje existentes favorecendo as correntes aéreas a circularem com
mais intensidade sobre a superfície do sedimento, com conseqüente deslocamento das areias
para o interior da área alagável.
A proximidade dos caminhos com dunas de grande porte, considerando a altura, é também
um fator de risco por possibilitar ao visitante uma vista muito ampla do Parque. O pisoteio
sobre a área elimina espécies herbáceas fixadoras das dunas acarretando deslocamento do
sedimento.
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Novas trilhas que vêm sendo estabelecidas pelos visitantes do Parque têm
comprometido ainda mais a estabilidade das dunas, em função da desestruturação das
comunidades vegetais ali instaladas, possibilitando assim o deslocamento de areia, por
ação do vento, como observado nas proximidades da entrada oficial do Parque e mais
ao norte, no Buraco do Bicho. Qualquer tipo de acesso a áreas do Parque deve levar
em consideração que estas dunas não suportam pisoteio e retirada da cobertura
vegetal, como historicamente vem sendo comprovado.
3.3.9 CAÇA
Evidências da ocorrência de caça foram registradas através de entrevistas com moradores
locais e ex-passarinheiros/caçadores, pela observação de várias trilhas de caçadores nos
diversos ambientes, além da presença de armas/armadilhas encontradas dentro da área do
parque (Figuras 124).
Figura 124 : Armas e armadilhas apreendidas na área do Parque Estadual de Itaúnas-ES,
demonstrando a forte pressão de caça e captura sobre as espécies da fauna da região
(foto: acervo do Parque Estadual de Itaúnas).
Dos ambientes do Parque, o Alagado é o ambiente mais crítico em relação a caça. Nele
foram recolhidos inúmeros “tocos” ou “canhões” (armas de fogo usada por caçadores para
abate da presa) por guardas do PEI, além de ser constatado a presença de cavalos em
algumas áreas deste ambiente. As espécies mais caçadas neste ambiente são o tatu (Dasypus
novemcinctus, Euphractus sexcinctus e Cabassous sp.), a paca (Agouti paca) e a capivara
(Hydrochaeris hidrochaeris).
Em relação a avefauna, como espécies comprometidas na região pela caça-captura,
destacam-se o Macuco (Tinamus solitarius), Pato-Selvagem (Cairina moschata), JacuPemba (Penelope superciliaris), Papagaio-Curica (Amazona amazonica) e o Curió
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(Oryzoborus angolensis), sendo que algumas dessas espécies encontram-se, ao mesmo
tempo, prejudicadas pela redução do seu hábitat
A prática da caça e captura de aves nos diferentes ambientes, diminui a diversidade animal,
contribui para a redução da população das espécies visadas e, certamente, de outras delas
dependentes, além de poder levar a extinção um determinado grupo, com conseqüência na
cadeia ou teia alimentar, bem como na estrutura da vegetação, já que, por exemplo, aves e
mamiferos são dispersoras de sementes, contribuindo no processo de estabilidade do
ecossistema.
Quanto a anurofauna, uma única espécie (a rã-manteiga, Leptodactylus gr. ocellatus) é
utilizada pela população local como alimento. A perereca-da-bromélia, Phyllodytes luteolus,
é utilizada como isca para a captura de algumas espécies de peixe.
3.3.10 ILUMINAÇÃO ARTIFICIAL SOBRE AS ESPÉCIES DE TARTARUGAS
MARINHAS OBSERVADOS A ÁREA DO PEI
Na área do Parque Estadual de Itaúnas a iluminação artificial apresenta-se como um risco
potencial para as fêmeas e filhotes nas proximidades da Vila. Existem algumas cabanas à
beira-mar, que, apesar de não possuírem energia elétrica, devem ser monitoradas, durante a
temporada reprodutiva, para evitar incidência de iluminação artificial diretamente sobre a
praia. Além disso, existe, na Vila, um campo de futebol, cuja intensa iluminação apresenta
uma luminosidade que pode ser percebida nas dunas, e demanda uma avaliação durante a
próxima temporada reprodutiva das tartarugas marinhas. A atuação conjunta da Direção do
Parque e do Projeto TAMAR, já realizada com sucesso, certamente será fundamental no
monitoramento destes riscos potenciais.
3.2.11 PESCA DENTRO DO PARQUE ESTADUAL DE ITAÚNAS
A atividade pesqueira, mesmo realizada de forma artesanal e principalmente pela população
tradicional da Vila, não condiz com a categoria da Unidade de Conservação ora em estudo,
podendo, a longo prazo, interferir na abundância e diversidade das espécies da ictiofauna
que ocorrem no parque.
3.2.12 PRESENÇA DE COMUNIDADES E MORADORES TRADICIONAIS NO
INTERIOR DO PEI
A existência de comunidades rurais e de moradores no interior do Parque Estadual de
Itaúnas é um outro aspecto que está em desacordo com unidades de conservação de proteção
integral. O uso da área do parque para agricultura e pecuária especialmente, vem causando
danos significativos à vegetação do parque, conforme discutido no sub item
“Desmatamento”.
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3.2.13 PRESENÇA DE NÚCLEOS URBANOS NAS PROXIMIDADES DO PEI
Uma das importantes ameaças à conservação da biodiversidade e formação de corredores
ecológicos no entorno do Parque Estadual de Itaúnas, a ser considerada, é a presença e
proximidade de núcleos urbanos, principalmente no distrito sede do município de Conceição
da Barra. Estes núcleos, tem tido um crescimento espacial que vem sendo consolidado
dissociado dos preceitos de ordenamento territorial no município de Conceição da Barra.
Isto é especialmente relevante quando se consideram questões como as diretrizes do
Tombamento e da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no Estado, que classificam o
Parque Estadual de Itaúnas como zona núcleo, circundada por uma zona de transição onde
devem ser incentivados os usos sustentados da terra e a pesquisa. Ressalta-se, no entanto
que a observância deste zoneamento não vem sendo feita, visto que a disposição do uso e
ocupação do solo existente nesta região de inserção do Parque.
Este quadro reflete-se sobre a Unidade de Conservação que juntamente com a Área de
Proteção Ambiental de Conceição da Barra, vem sendo pressionada pela expansão urbana
de bairros em Conceição da Barra. Isto pode acarretar sérias conseqüências para a
manutenção da diversidade de espécies e para a viabilidade de fluxo gênico, numa região
em que o ecossistema de Mata Atlântica (e associados) já se encontra gravemente ameaçada
pela fragmentação das formações florestais.
Considerando essas ameaças existentes aos recursos naturais que integram a Reserva da
Biosfera da Mata Atlântica onde se constatou a ocorrência de elevada biodiversidade, o
Governo do Estado, interveio neste processo, a partir da observação da proximidade e do
crescente crescimento da Vila de Itaúnas, determinando em 2001, por intermédio da
SEAMA a execução de condicionante vinculada ao licenciamento ambiental da empresa
PETROBRAS, a elaboração do Plano de Ordenamento da Vila de Itaúnas (Anexo 09) e
deste Plano de Manejo de forma integrada e complementar.
Para tanto se fundamentaram nos seguintes parâmetros: a contenção da expansão territorial
da Vila e a contenção da capacidade instalada para o turismo, para elaboração de legislação
específica que auxiliasse o poder público municipal no estabelecimento de normas que
possibilitassem a regulamentação do uso e ocupação do solo na Vila de Itaúnas.
Este planejamento considerou, quando da elaboração pelo Instituto de Pesquisa Jones dos
Santos Neves, parâmetros que visavam auxiliar o processo de conservação da
biodiversidade e de desenvolvimento sustentável, bem como o aspecto ambiental e
econômico da Vila de Itaúnas, enfatizando-se, neste estudo, a dimensão urbana original e o
requerimento de planejamento para o desenvolvimento do turismo sustentável, para que
impactos como os verificados no ecossistema de manguezal da Unidade não venham a se
ampliar e comprometer o alcance dos objetivos de criação do Parque e a formação de
corredores de biodiversidade.
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