Estudo Teórico das Propriedades Geométricas da Zalcitabina no Vácuo Usando DFT e Dinâmica Molecular de Car-Parrinello Ítalo Nuta Ribeiro1 (IC)*, Solemar Silva Oliveira1 (PQ). [email protected] 1 Universidade Estadual de Goiás, campus de ciências exatas e tecnológicas, Anápolis, GO. Resumo: A zalcitabina, também conhecida como dideoxicitidina (ddc), é um potente inibidor da replicação do vírus da imunodeficiência humana (HIV) em baixas concentrações. Quando a molécula penetra no DNA que contém o vírus, a mesma impede que esse DNA infectado pelo vírus se replique. A zalcitabina é um fármaco da classe dos inibidores de transcriptase reversa (INTR). Possui a fórmula química C9H13N3O3, uma massa molar de 211.218 g/mol e foi o terceiro fármaco dessa classe a ser liberada para uso terapêutico. A empresa que comercializa a zalcitabina é a Roche sob a marca HIVID® [1]. Os parâmetros geométricos, distâncias e ângulos de ligação, e a estrutura eletrônica foram tratadas no vácuo utilizando a Teoria do Funcional de Densidade (DFT) e Dinâmica Molecular de Car-Parinello, por meio do funcional de correlação de Perdew-Burke-Ernzerhof (PBE) [2]. Neste método os sistemas são conduzidos ao mínimo de energia. Comparamos os resultados obtidos com resultados experimentais, como os cristalográficos [3]. Analisamos o mapa de potencial eletrostático, os orbitais de fronteira HOMO e LUMO e inferimos conclusões sobre as regiões eletrofílicas e nucleofílicas da molécula [2]. Realizamos os nossos cálculos no Cluster de computadores do Grupo de Química Teórica e Estrutural de Anápolis. Palavras-chave: Zalcitabina. Simulação. DFT. Car-Parrinello. Introdução A Zalcitabina (2’ ,3’-didesoxicitidina, ddc) é um fármaco que, junto com a didanosina, lamivudina e zidovudina, é da classe dos inibidores nucleosídeos de transcriptase reversa (INRT) (Cunico et al, 2008). Os fármacos dessa classe foram os primeiros a serem liberados para uso terapêutico, sendo a zidovudina, em 1987, o primeiro (Martins, 2010). A Zalcitabina (Figura 1), em 1992, foi o terceiro fármaco da classe dos INRT a ser liberado para uso terapêutico. É comercializada pela companhia farmacêutica Roche com o nome de HIVID®. Possui uma formula molecular C9H13N3O3 e uma massa molar de 211.218 g/mol. Também mostra uma solubilidade de 76,4 mg/mL a 25°C, uma meia vida intracelular longa de 10 horas e meia vida de eliminação de 2 horas e mostra também uma alta biodisponibilidade oral em torno de 80% (Martins, 2010). Figura 1- Estrutura da Zalcitabina. Fonte do Autor Métodos de modelagem molecular são amplamente utilizados na busca da compreensão de estruturas moleculares simples (pequenas moléculas) e complexas (enzimas, proteínas, polímeros). Recentemente os modelos são vários e a tecnologia computacional possibilita grandes avanços na obtenção de resultados em estruturas cada vez maiores (Aguiar, 2011). A DFT, com ajuda dos computadores, permite estudar sistemas mais complexos, contribuindo para o entendimento e previsão das propriedades dos átomos, moléculas e sólidos (Marques & Botti, 1998). Em 1985, foi desenvolvido um método de dinâmica molecular ab initio por Roberto Car e Michelle Parrinello. Neste método, descreve-se o sistema iônico utilizando mecânica clássica e as coordenadas nucleares e eletrônicas são estudadas separadamente pela aproximação de Born-Oppenheimer (Car & Parrinello, 1985). Dentre as dinâmicas moleculares ab initio, a dinâmica molecular de Car-Parrinello mostra-se bastante eficiente. Alguns critérios que são considerados: O método de resolução das equações de movimento de Newton para o núcleo associado à resolução da equação de Schröedinger para o subsistema eletrônico; O cálculo da energia e dos gradientes a partir da estrutura eletrônica, base teórica utilizada na dinâmica molecular de Born-Oppenheimer; Minimização do funcional energia a partir das idéias de Recozimento Simulado desenvolvidas por Kirk Patrick (Kirkpatrick et al. 1983). Material e Métodos A molécula foi desenha utilizando o programa Hyperchem. Os dados estruturais da molécula foram conduzidos ao pacote de programas GAUSSIAN, para a simulação de DFT, e CPMD, para a simulação pelo método de Car-Parrinello, ao qual se realizou, novamente, uma minimização no estado das novas condições do sistema. Para a simulação no CPMD, foram empregados os algoritmos Damp para o relaxamento nas posições dos caroços iônicos e otimização dos estados eletrônicos, e Steepest Descent, para garantir que os elétrons alcancem o mínimo global de energia, ou seja, a superfície de Born-Oppenheimer. A temperatura que conduziu o sistema foi de 300K. O tamanho do passo de simulação foi de 0,12 fs. Na simulação da dinâmica molecular de Car-Parrinello foi empregado o algoritmo Verlet. Serão realizados cálculos com para um valor superior a 300.000 passos, ou para um tempo da ordem de 30 ps. Estes cálculos serão realizados nos clusters do grupo teórico e estrutural de Anápolis (QTEA), localizados na UEG campus de ciências exatas e tecnologias. Resultados e Discussão Átomos H16-N15 N15-H17 N15-C4 C4-N14 C4-C5 C5-H21 C5-C6 C6-H22 C6-N13 N14-C7 C7-O1 Distância DFT 1,01366 1,01645 1,37027 1,32692 1,43067 1,08896 1,36717 1,09044 1,35325 1,36788 1,23101 Distância CPMD 1,01856 1,02128 1,37531 1,33146 1,43732 1,09476 1,36885 1,09870 1,36904 1,37636 1,23627 Erro Relativo (%) -0,48340 -0,47518 -0,36781 -0,34215 -0,46482 -0,53262 -0,12288 -0,75749 -1,16682 -0,61994 -0,42729 C7-N13 N13-C8 C8-H23 C8-O2 C8-C11 C11-H27 C11-H28 C11-C10 C10-H26 C10-H25 C10-C9 C9-O2 C9-H24 C9-C12 C12-H18 C12-H19 C12-O3 O3-H20 1,44250 1,48089 1,10038 1,42805 1,53848 1,10138 1,09601 1,53143 1,10073 1,09906 1,52725 1,45886 1,10896 1,52507 1,10675 1,10094 1,42341 0,97510 1,45940 1,49114 1,11028 1,43019 1,54587 1,10583 1,10203 1,54495 1,10383 1,10895 1,53884 1,46919 1,10990 1,52632 1,11485 1,10928 1,44113 0,98032 -1,17158 -0,69215 -0,89969 -0,14985 -0,48034 -0,40404 -0,54927 -0,88283 -0,28163 -0,89986 -0,75888 -0,70809 -0,08476 -0,08196 -0,73187 -0,75753 -1,24490 -0,53533 Tabela 1- Comparação entre as distâncias por DFT e CP. Átomos Ângulos DFT H16-N15-H17 H16-N15-C4 H17-N15-C4 N15-C4-N14 N15-C4-C5 C4-N14-C7 C4-C5-H21 C4-C5-C6 N14-C7-O1 N14-C7-N13 N14-C4-C5 O1-C7-N13 C7-N13-C8 C7-N13-C6 N13-C8-H23 N13-C8-C11 N13-C8-O2 N13-C6-H22 N13-C6-C5 C6-C5-H21 H22-C6-C5 C6-N13-C8 117,280 119,406 115,799 116,647 119,860 120,482 122,644 116,485 124,999 117,101 123,475 117,900 116,047 121,553 105,394 113,484 109,664 115,754 120,868 120,866 123,367 122,399 Ângulos CPMD 117,398 119,477 116,078 116,862 119,794 120,733 122,517 115,961 123,791 116,855 123,058 119,118 121,379 119,658 103,933 115,706 111,123 115,818 121,957 120,744 121,783 117,928 Erro Relativo (%) -0,100 -0,059 -0,240 -0,184 0,055 -0,208 0,103 0,44 0,966 0,210 0,337 -1,033 -4,594 1,558 1,386 -1,957 -1,330 -0,055 -0,900 0,100 1,283 3,652 H23-C8-O2 H23-C8-C11 C8-C11-H27 C8-C11-H28 C8-C11-C10 C8-O2-C9 H28-C11-H27 H28-C11-C10 H27-C11-C10 O2-C9-H24 O2-C9-C10 O2-C9-C12 H24-C9-C10 H24-C9-C12 H26-C10-H25 H25-C10-C11 H25-C10-C9 H26-C10-C11 H26-C10-C9 C11-C10-C9 C10-C9-C12 C9-C12-H18 C9-C12-H19 C9-C12-O3 H19-C12-H18 H18-C12-O3 H19-C12-O3 C12-O3-H20 C11-C8-O2 109,754 111,559 109,251 111,153 102,702 110,148 107,922 114,668 111,024 108,897 104,744 106,836 110,899 108,711 108,504 113,042 112,181 111,411 109,277 102,319 116,411 109,182 109,249 112,614 107,790 111,041 111,041 105,936 106,982 107,075 111,173 109,546 110,701 104,235 109,847 108,473 111,340 111,994 107,561 105,071 107,626 111,057 110,023 108,216 110,970 110,238 111,662 111,235 104,034 114,717 109,198 109,027 113,000 108,045 110,406 106,580 106,798 107,259 2,440 0,346 -0,270 0,406 -1,492 0,273 -0,510 2,902 -0,873 1,226 -0,312 -0,739 -0,142 -1,206 0,265 1,832 1,732 -0,225 -1,791 -1,676 1,455 -0,014 0,203 -0,342 -0,236 0,571 4,017 -0,813 -0,258 Tabela 2- Comparação dos ângulos por DFT e CP. Considerações Finais Ao longo de todo o projeto e dos resultados que obtivemos da dinâmica feita na molécula da zalcitabina, podemos concluir então que em algumas partes da geometria teve algumas variações comparando os resultados entre as duas dinâmicas utilizadas. Mas, como o método de dinâmica molecular desenvolvida por Car-Parrinello é mais precisa, principalmente pela quantidade de passos que é tratada, ela tem um melhor resultado na obtenção dos dados geométricos Agradecimentos Gostaria de agradecer a Universidade Estadual de Goiás por proporcionar essa oportunidade de participar no programa de Iniciação Científica e Tecnológica, ao grupo de química teórica e estrutural de Anápolis (QTEA) aonde foram realizadas todas as simulações e também ao professor Dr. Solemar Silva Oliveira por ter me orientado durante esse projeto. Referências Azevedo, F. C. A transcriptase reversa como alvo terapêutico em doenças retrovirais. Tese (Mestrado) – Universidade Fernando Pessoa, Porto: 2013. Cunico, W.; Gomes, C. R. B.; Junior, W. T. V. HIV - Recentes avanços na pesquisa de fármacos. Quim. Nova, 31(8), 2111–2117. 2008. Martins, F. T. Química supramolecular de fármacos antirretrovirais inibidores nucleosídeos de transcriptase reversa: novas formas cristalinas e alteração de propriedades de estado sólido. Tese (Doutorado) – Instituto de Física de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos: 2010. Aguiar, A. S. N.; et al. Modelagem Molecular: Uma visão detalhada da Dinâmica Molecular de Car-Parrinello. In OLIVEIRA SS (eds.). Ciências Moleculares. Universidade Estadual de Goiás. p. 45-81. Goiânia, GO: 2011. Car, R.: Parrinello, M. Unified Approach for Molecular Dynamics and Density Functional Theory. Physical Review Letters. 55(22):2471-2474. 1985. Kirkpatrick, S.; Gelett, C. D.; Vecchi, M. P. Optimization by Simulated Annealing. Science, 220;671-680. 1983.