40 ESPECIAL Oceano de oportunidades Kalinka Iaquinto, do Rio de Janeiro Mares e oceanos são fontes de alimentos, energia Recente relatório do Instituto Ambiental de Es- e lazer. Não à toa, 40% da população do planeta tocolmo (SEI, na sigla em inglês), na Suécia, destaca vive a distâncias de até 100 quilômetros das costas que o impacto das mudanças climáticas nos oceanos, e 90% do comércio mundial de bens depende do considerando-se um aumento da temperatura da transporte marítimo. Mesmo assim, e apesar de ter Terra de 4°C em 2100, deverá consumir US$ 2 trilhões um capítulo exclusivo no Rascunho Zero da Rio+20 até o fim deste século. Apesar da estimativa, o relató- — documento que reúne sugestões e comentários rio reconhece que é difícil calcular de forma exata as sobre as propostas temáticas enviadas para a ONU perdas econômicas advindas do aquecimento global. por Estados membros e organizações não governa- Avaliações preliminares indicam que, para o turismo, mentais, entre outras representações —, nem todos seriam US$ 639,4 bilhões em perdas; e problemas estão otimistas com o debate que deverá ocorrer no relacionados a sequestro de carbono nos oceanos, evento internacional, em junho. “Temos de aumentar US$ 457,8 milhões. de maneira significativa a nossa observação dos ocea- “Na atividade pesqueira, as perdas com a má ges- nos. E a forma como o documento trata isso, na minha tão são estimadas em US$ 50 bilhões anuais”, diz Alex avaliação, é um pouco superficial porque dá ênfase a Rogers, professor da Oxford University e diretor do alguns aspectos, mas não abrange a observação do International Programme on the State of the Ocean, sistema inteiro”, diz José Henrique Muelbert, professor lembrando que a degradação ambiental não gera do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal prejuízos apenas monetários, mas também em postos do Rio Grande (FURG). de trabalho. Para ele, esses são os riscos de o mundo Com exceção de momentos críticos, como no caso conviver com duas visões opostas sobre exploração de acidentes em plataformas petrolíferas, oceanos e dos ecossistemas marinhos: a de explorar os recursos mares nem sempre foram considerados nos debates o mais rápido e barato possível, que deriva em seu em torno do desenvolvimento sustentável. Impactos esgotamento, e outra que ainda é alternativa, mas ambientais nessas águas, entretanto, influenciam busca a gestão de recursos calculando os ganhos da significativamente o clima global, pela distribuição sociedade como um todo. “Na Europa, por exemplo, de calor via correntes marítimas, bem como por foi observado que, se a pesca fosse bem gerida, a ativi- serem responsáveis por 70% do oxigênio liberado dade não seria apenas mais sustentável, mas teria uma para a atmosfera. base anual muito mais rentável do que agora”, diz. M a i o d e 2 012 • Conjuntura Econômica ESPECIAL 41 OPORTUNIDADES têmicos, e destaca a importância de que empresas “Mares e oceanos estão sendo considerados im- façam parcerias com universidades a fim de impul- portantes provedores de serviços ambientais como sionar o segmento de Pesquisa e Desenvolvimento. sequestro de carbono, produção de alimentos, tu- “O governo tem de ser fiscalizador, criar metas, dar rismo, exploração de óleo e gás, de minerais, enfim, o direcionamento, e deixar o setor privado e a área uma série de recursos que acabam sendo utilizados educacional se organizarem nas pesquisas”, completa. pela humanidade para as suas atividades”, destaca Do ponto de vista legal, Rossin destaca que o país tem Alexander Turra, professor do Instituto Oceanográfico leis e normas ambientais bastante avançadas. “Só a da Universidade de São Paulo (USP). De acordo com penalização, entretanto, pode gerar um ambiente o relatório Economia verde em um mundo azul, divul- restritivo. As políticas públicas deveriam também gado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio reconhecer as melhorias como forma de o mercado Ambiente (Pnuma), alguns setores da economia mari- acelerar a busca por inovações.” nha como pesca e aquicultura, Alexander Turra, da USP, transporte marinho, energia concorda que o país tem ins- Alguns setores da sustentável, turismo costeiro e exploração de minerais de águas profundas podem economia marinha como ser impulsionados de forma pesca e aquicultura sustentável se a qualidade e a preservação dos oceanos forem observadas. a favor do desenvolvimento sustentável; porém, critica a forma como os governos federal e estaduais conduzem de forma sustentável a forma como vem sendo se a qualidade e a de Gerenciamento Costeiro, preservação dos oceanos um ambiente adequado para pode aproveitar, em sua ampla costa banhada pelo Atlântico. preciso estar atento aos desdo- nais que podem ser utilizados podem ser impulsionados Oportunidades que o Brasil Por isso, Turra afirma que é trumentos legais e institucio- bramentos da conferência. “A efetividade das ações da Rio+20 forem observadas dependerá dos governos e das sociedades, os quais precisam a questão. Cita um exemplo: conduzido o Plano Nacional que, segundo ele, não permite a promoção de mudanças. “Essa política é fundamental para que se planeje o uso da região costeira brasileira e se assumir para si a responsabilidade e investir recursos garanta sua qualidade. O mesmo em relação à Co- financeiros para realizar as tarefas.” Na análise do pro- missão Interministerial para os Recursos do Mar, que fessor, metas têm de ser construídas dentro de uma deveria ganhar força, prestígio e autonomia”, diz. Na proposta consensual e factível, levando em consideração avaliação do oceanógrafo, a prioridade do governo não apenas características globais, mas também as espe- tem sido estruturar o país em termos econômicos cificidades locais. “Muita gente diz que o ótimo é inimigo sem que se observe o custo que isso poderá ter em do bom, por isso temos de trabalhar com a perspectiva termos ambientais. “Esse custo pode ser ou não do real, do possível, visando ao ideal.” interessante. Temos que pensar hoje sem tirar os Carlos Rossin, diretor da PricewaterhouseCoopers olhos do amanhã. Deixar de lado ou não prestigiar Brasil (PwC) e especialista em sustentabilidade, faz a questão ambiental e a importância do ambiente coro ao defender a observação dos serviços ecossis- para as gerações futuras é temerário.” M a i o d e 2 012 • Conjuntura Econômica