mídia e deficiência: a violência estampada nas páginas dos

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MÍDIA E DEFICIÊNCIA: A VIOLÊNCIA ESTAMPADA
NAS PÁGINAS DOS JORNAIS
Carlos Alberto Marques*
>Investigação nos jornais Folha de São Paulo, Jornal do Brasil e O Globo, sobre os chamados “desvios da
normalidade”. Análise de Discurso visando explicitar o mecanismo ideológico que sustenta as reportagens
neles publicadas. Caracterização de algumas situações como práticas de violência cometidas contra pessoas
consideradas desviantes: deficientes, loucos, delinqüentes, homossexuais, etc.
Deficiência Física - Violência – Mídia
>Inquiry on newspapers - Folha de São Paulo, Jornal do Brasil and O Globo - about the so called “normality
deviations”. Discourse analysis aiming to depict the ideological mechanism of texts they publish.
Characterizing of some situations as a violence practice against people regarded as deviated: physical
handicapped, madmen, delinquent, homosexual, etc.
Physical Handicapped - Violence - Media
A virada do milênio delineia o mundo como uma grande rede comunicacional. O
advento e o desenvolvimento das variadas e fantásticas tecnologias da informação
constituem fortes marcas do século que se finda, deixando ao homem a certeza de que o
tempo e o espaço são cada vez mais controláveis e que o mundo poderá, em breve, caber na
palma de sua mão, pelo simples manuseio das teclas de um microcomputador.
Neste novo cenário mundial, afloram, de forma globalizada, algumas questões que
antes afetavam apenas algumas pessoas, em espaços geograficamente delimitados, como é
o caso da violência.
Comumente associada a práticas corpóreas de agressão - assassinatos, brigas,
estupros, acidentes de trânsito, etc. - a violência pode e deve ser analisada também em seus
aspectos não tão visíveis e chocantes. É o caso, por exemplo, da violência cometida contra
as pessoas consideradas desviantes - deficientes, loucos, delinqüentes, homossexuais,
dentre outros.
Para tal, foram investigados os exemplares dos jornais Folha de São Paulo, Jornal
do Brasil e O Globo, publicados entre 01 de julho e 31 de dezembro de 1998, sendo
destacados dos mesmos trechos de algumas de suas matérias relativas aos chamados
“desvios da normalidade”. A metodologia utilizada foi a Análise de Discurso (AD) na
perspectiva francesa. Compreender, de acordo com Orlandi (1993, 1996), é explicitar o
modo como o discurso produz sentidos, ou seja, considerar o funcionamento do discurso na
produção de sentidos, explicitando o mecanismo ideológico que o sustenta. O caminho para
a compreensão do texto é se relacionar com os diferentes processos de significação que nele
ocorrem, sendo estes processos função da historicidade, ou seja, história do sujeito e do
sentido. Para Orlandi (1996, p. 56), “o objetivo da AD é compreender como um texto
funciona, como ele produz sentidos, sendo ele concebido enquanto objeto lingüísticohistórico”.
A caracterização de algumas situações como práticas de violência objetivou, acima
de tudo, demonstrar que algumas de suas formas são, inclusive, praticadas mediante a
aprovação de uma parcela significativa da população, o que respalda, em última instância,
seus efeitos políticos, econômicos e culturais. Algumas dessas práticas são, inclusive,
consideradas boas e necessárias para quem são organizadas, como é o caso da
institucionalização da deficiência, cujo discurso está alicerçado nos princípios de proteção e
preparação dos assistidos para uma possível reintegração dos mesmos na sociedade.
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Pedra sobre pedra: uma violência esteticamente permitida
Costuma-se dizer que não é preciso atirar pedras para se atingir certos grupos e/ou
pessoas, basta erguê-las de forma a dificultar ou impedir a sua movimentação. Várias
matérias publicadas pelos jornais estudados explicitaram esse sentido de violência
apreendido através da ordenação espacial e da sua implicação na vida em sociedade.
No caso específico dos portadores de deficiência, a existência de barreiras
arquitetônicas representa, em muitos dos casos, um fator limitante de sua ação no mundo.
Referindo-se à arquitetura urbana, Harvey (1994, p. 69-70) ressalta a necessidade de se
avaliar o impacto que a ordenação estética das cidades provoca no dia-a-dia das pessoas.
Diz ele:
A arquitetura e o projeto urbano têm sido foco de um considerável debate
polêmico sobre as maneiras pelas quais os juízos estéticos podem ou devem ser
incorporados a uma forma espacialmente fixada e com que efeitos na vida
diária. Se experimentarmos a arquitetura como comunicação, se, como Barthes
(1975-92) insiste, “a cidade é um discurso e esse discurso é na verdade uma
linguagem”, então temos de dar estreita atenção ao que está sendo dito, em
particular porque é típico absorvermos essas mensagens em meio a todas as
outras múltiplas distrações da vida urbana.
O jornal O Globo do dia 02 de dezembro de 1998 (p.23), apresentou na matéria
“Cartilha para deficientes” o texto: “Deficientes físicos farão uma manifestação na
Cinelândia para pedir adaptação das estações do metrô”.
A expressão “pedir adaptação” trouxe em si o contraditório do espaço urbano não
adaptado à utilização pelos portadores de deficiência, neste caso específico os com
comprometimentos motores, o que demonstrou o quanto a ordenação do espaço físico
constitui um discurso de exclusão de várias categorias da possibilidade de acessarem
muitos dos locais públicos e/ou privados. Por outro lado, ao mesmo tempo em que
denunciou o descaso da sociedade para com os deficientes físicos, o mesmo texto deslocou
o sentido da imposição de barreiras arquitetônicas para o da organização do movimento de
luta dos portadores de deficiência física no objetivo de se remover tais barreiras, que não
são apenas físicas, mas acima de tudo sociais; o que apontou para a ampliação do raio de
inserção dos mesmos no espaço de realização humana.
Na matéria intitulada “Metrô vai chegar hoje à Pavuna”, publicada pelo Jornal do
Brasil no dia 31 de agosto de 1998, página 18, assinada por Simone Cândida, que tratou da
inauguração da estação do metrô no bairro da Pavuna, foi enfatizada a preocupação de
algumas pessoas para com a referida obra, como foi o caso de Maria da Conceição Ribeiro
Rosa, representante da ADEF (Associação de Amigos dos Portadores de Deficiência
Física).
Estão pensando na eleição. As plataformas móveis para deficientes não estão
funcionando até hoje, reclamou Maria. Segundo a representante da ADEF, a
Secretaria Estadual de Transportes prometeu que até o dia 30 de julho as
plataformas das estações da Saens Peña, Arcoverde, Pavuna e Estácio estariam
funcionando.
Em matéria também alusiva à necessidade de adaptação do metrô carioca para o uso
pelos portadores de deficiência física, Baggio Neto (1998, p. 11) destacou um argumento
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utilizado pela administração do metrô de São Paulo para justificar a não adaptação de suas
estações: “Uma cadeira-de-rodas numa plataforma, na hora de pico, tornaria o sistema
caótico e lento, denegrindo a imagem de eficiência do sistema”.
Ao afirmar que o uso do metrô por pessoas que se utilizam de cadeiras-de-rodas
para se locomoverem iria denegrir a “imagem de eficiência do sistema”, a administração do
metrô paulista explicitou o sentido de que a anormalidade constituiria uma ameaça à ordem
social; ou seja, a dinâmica da vida das pessoas consideradas normais não pode ser afetada
por problemas pessoais de terceiros - no caso o uso de uma cadeira-de-rodas. Da mesma
forma, o “bom funcionamento da máquina” foi enfatizado apenas do ponto de vista dos
usuários considerados normais. Não se indaga, por exemplo, se o metrô funcionaria de
forma eficiente no atendimento às necessidades das pessoas que apresentam alguma
dificuldade de locomoção. Ainda com o sentido de exclusão social dos portadores de
deficiência através da imposição aos mesmos de barreiras arquitetônicas, a matéria intitulada “Quadro indefinido provoca disputa voto a voto no Rio”, publicada pelo jornal O
Globo, no dia 05 de outubro de 1998, p. 11, demonstrou o grau de dificuldade enfrentado
pela mãe de um candidato para poder votar.
Apesar de doente (...) Dona Dalila decidiu sair para votar (...) Ao chegar à
escola, mais um sacrifício: como não existem rampas e a seção de dona Dalila é
no segundo andar, ela teve de ser carregada em sua cadeira de rodas escada
acima.
O presente texto ratificou o descaso da sociedade para com as pessoas com
dificuldades de locomoção. Até mesmo o exercício da cidadania pelo direito do voto ficaria
prejudicado quando se trata de um eleitor com dificuldades para subir os degraus de uma
escada. É comum a instalação de urnas eleitorais em andares superiores das construções, as
quais, na quase totalidade dos casos, não possuem rampas de acesso ou elevadores que
facilitem o deslocamento de tais pessoas, restando às mesmas somente o caminho da
escada.
Ao mesmo tempo, o fato de não ir votar assume um duplo sentido no conjunto das
representações sociais: além de reforçar a idéia de que os desviantes deveriam viver em
condições especiais, ou seja, num mundo à parte, passa também a idéia de que não
comparecer às urnas representaria um ato de alienação política, o que depõe contra a
inserção social dos deficientes, uma vez que os mesmos seriam pessoas destituídas de
interesses sociais.
Além disso, decorre daí a veiculação de uma imagem da deficiência como uma
condição existencial de extrema dependência alheia e de um profundo constrangimento por
parte de seus portadores. Ao mesmo tempo, os cidadãos ditos normais vêem alimentado seu
sentimento de “compaixão”, o que, na verdade, constituiria uma forma de retroalimentação
de seu desejo ressentido de normalidade.
Considerando ser a deficiência um dado ameaçador ao desejo de normalidade - ou
mesmo uma ameaça à ordem social - pode-se deduzir que a ordenação estética dos centros
urbanos, ao privilegiar o deslocamento das pessoas consideradas normais, traz implícito o
objetivo de excluir desse ambiente os indivíduos que não se enquadram no modelo ideal de
homem e que, por isto mesmo, constituem uma ameaça permanente a legitimação do status
quo da normalidade, o que, para a ideologia dominante, se faz tão necessário, pois o que
interessa, em última instância, é a manutenção da ordem social.
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A institucionalização da deficiência: a violência com letreiro
A deficiência vem se constituindo, ao longo dos tempos, num objeto permanente de
práticas de vigilância e de isolamento sociais. Tais atitudes se manifestam no cotidiano das
pessoas como formas concretas de preconceito e de discriminação. O isolamento dos deficientes em asilos, internatos e hospitais é um exemplo concreto de tal prática.
Nesta perspectiva é que o fenômeno da institucionalização da deficiência constitui
um dado merecedor de análise no conjunto das práticas sociais de violência contra os
portadores de deficiência.
Montenegro (1998, p. 40) descreveu a vida de alguns internos do Asilo Cristo
Redentor, situado no bairro de Bonsucesso, no Rio de Janeiro.
Me sinto muito sozinho. Tem hora que sento no canto, vêm umas lembranças e
as lágrimas começam a querer descer”, desabafa Mário Ladislau da Silva, 63
anos, se referindo ao tempo que trabalhava na roça com a avó em uma fazenda
de Nova Iguaçú. Aos 24 anos, Mário teve uma doença - não sabe explicar qual que o deixou paralisado. Tempos depois, a avó morreu e o roceiro foi levado
para o abrigo, que na época pertencia à Legião Brasileira de Assistência (LBA),
e acolhia indigentes, inválidos e deficientes mentais. É uma vida muito triste.
Eu sou uma pessoa que você pode dizer: não gozou a vida.
Vários elementos presentes no discurso em tela explicitaram os sentidos de
abandono, incapacidade e tristeza que vêm marcando, ao longo dos tempos, a vida dos
deficientes. A solidão a que se referiu Mário - me sinto muito sozinho -, muito mais do que
um desabafo de seu enunciador, identificou um dos mais sérios problemas vividos pelos
internos das instituições de assistência às pessoas deficientes: o abandono, principalmente o
praticado pelos familiares dos internos. É o que demonstram Telford e Sawrey (1976, p.
140) ao se referirem às instituições de assistência a crianças com comprometimentos por
eles considerados graves. Nas suas palavras,
Toda e qualquer instituição que abriga crianças gravemente deficientes sobretudo as psicóticas e portadoras de grave atraso mental - contém um
considerável grupo de crianças que nunca são visitadas por seus pais ou outros
parentes. (...) Os únicos contatos que muitas dessas famílias têm com seus
filhos é o envio de um presente de Natal, possivelmente um presente de aniversário e o envio mensal, pelo correio, do cheque para a instituição.
As expressões É uma vida muito triste e não gozou a vida demonstraram, no caso
específico de Mário e, de forma mais ampla, nos casos de tantos outros portadores de
deficiência, o quão intenso é o sentimento de tristeza que assolava a sua existência. Figueira
(1995) alerta para a existência de alguns mitos sobre a deficiência mental, o que pode
perfeitamente ser estendido aos demais tipos de deficiência -, dentre os quais aparece a
idéia de que tais deficientes são pessoas sempre muito tristes, marcadas pela tragédia e, por
conseguinte, responsáveis diretas pela ocorrência de uma irremediável tristeza em todos
aqueles que com elas convivem ou as conhecem. O que se deve indagar é se essa tristeza
constitui uma característica inerente aos portadores de deficiências ou se ela é fruto do
ostracismo a que tais indivíduos são comumente relegados. Isolados do mundo, eles
acabam por se entregar à única alternativa de sobrevivência que lhes é dada: ser levado para
o abrigo e ali esperar, quem sabe, pela morte.
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Empregado pela autora da matéria, o termo abrigo possui, no imaginário social, um
sentido bastante claro e definido: o de proteger aquelas pessoas que, por circunstâncias
diversas, se tornaram deficientes e, por conseguinte, incapacitadas ou inválidas para a vida
produtiva e afetiva. Este sentido ficou evidente na expressão e acolhia indigentes, inválidos
e deficientes mentais.
Isto foi confirmado por Biancarelli e russo na matéria “Brasil quer criar repúblicas
de loucos” publicada pela Folha de São Paulo de 29 de novembro de 1998, p. 1-3. No
segmento intitulado “famílias pressionam contra alta” (p. 2), os autores escreveram:
Os hospitais têm assistentes sociais que tentam localizar e convencer as famílias
a receberem de volta os pacientes. “Há pressões grandes de familiares para que
o hospital segure este ou aquele paciente, mas não concordamos com isso.
Chegam pedidos até de políticos e de juízes”. Afirma Ricardo Nascimento
Teixeira Mendes, Coordenador do Departamento de Psiquiatria do Sindhosp, do
Estado de São Paulo.
A prática de se acolher deficientes em instituições especiais foi também explicitada
na matéria referente à APAE-Rio (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais do Rio
de Janeiro), que, segundo seu presidente, Cesar Augusto Lourenço Filho, estava
construindo um lar fazenda para abrigar pessoas deficientes. Nas suas palavras: “O lar
fazenda da APAE-Rio foi conceituado financeiramente de modo que, 1/3 dos residentes
carentes tenha gratuidade e os 2/3 restantes paguem o custo total” (Lourenço Filho, 1998, p.
10).
Um dado interessante a ser destacado nesta matéria foi o fato de que o modelo de
internato escolhido pela APAE-Rio foi o de lar fazenda, o que representa um espaço
fisicamente afastado do movimento urbano, ou seja, uma forma aparentemente aprazível,
mas social e politicamente excludente para os deficientes ali internados.
Esse procedimento das famílias de alguns portadores de deficiência de os internar
em instituições especializadas pôde também ser apreendido no texto produzido por
Rodrigues (1998, p. 12) e publicado pelo jornal o globo, no dia 15 de dezembro de 1998,
com o título “saúde faz reforma no setor psiquiátrico”. Ao fazer menção ao projeto de lei
do deputado federal Paulo Delgado, do PT de Minas Gerais, em tramitação no congresso há
mais de dez anos e que defendia, entre outras coisas, o fim dos internamentos involuntários
- aqueles feitos pela família sem consentimento do paciente -, a autora escreveu:
O projeto de Delgado, inspirado na reforma feita pelo italiano Franco Baságlia
em seu país, foi um divisor de águas. Polêmico, colocou em campos
antagônicos psiquiatras e famílias de pacientes favoráveis e desfavoráveis à
progressiva desativação de hospitais psiquiátricos. (...) Outro ponto polêmico
do projeto Paulo Delgado (...) é a garantia do direito de recurso do paciente à
internação, a pedido da família.
Foram freqüentes as denúncias de abandono e maus tratos a que ficariam entregues
os pacientes dos hospitais psiquiátricos. Os discursos abaixo explicitaram os sentidos de
segregação e de subvaloração das pessoas atendidas por tais instituições.
O que testemunhei (...) não sei se chamo de inferno, indiferença das pessoas ou
descaso criminoso das autoridades. (...) Um parente meu (...) tem uma lesão
cerebral e, de vez em quando, perde o juízo. (...) Eu e minha esposa, ao
visitarmos esse meu parente no domingo dia 30, travei contato com a
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desumanidade (...). A primeira coisa que notei foi o abandono, ninguém me
atendeu ou impediu que eu entrasse nas enfermarias do Hospital Pinel, onde me
deparei com vários doentes perambulando desacompanhados, até que (...) me
informaram onde era a emergência. Lá, a única informação (...) que obtive (...):
“foi transferido para a Clínica da Gávea”. O que foi feito sem autorização da
família (...). Dirigi-me à Clínica da Gávea. (...) (...) Encontrei-o dopado e
trancafiado, atrás de um portão de ferro, junto com os doentes considerados
violentos, imundo, e com sinais de ter sido espancado com violência. (...) O que
ali testemunhei, em termos de abandono e descaso, é indescritível (Coutinho,
1998, p. 8).
A situação relatada apresentou como agravante o dado do possível espancamento a
que, suspeitava-se, fora submetido o paciente no hospital objeto da denúncia.
Foi com grande interesse que li no JB a carta de um leitor falando na
desumanidade com que são tratados os doentes mentais ... Sei o que é isso, pois
durante dois dias (10 e 11 de outubro do ano passado) estive internado no
centro psiquiátrico Pedro II, no Engenho de Dentro. Na enfermaria onde estive,
os doentes defecavam no chão, e só limpavam em dia de visita. Não havia papel
higiênico suficiente (um enfermeiro me disse: “não tem não ... Se vira”)
(Annuza, 1998, p. 8).
O que se tem procurado demonstrar (Marques 1992, 1994 e 1998) é que essa prática
de acolhimento dos deficientes pelas instituições especializadas inverte o sentido manifesto
do discurso de que tais instituições acolhem, protegem e beneficiam aos seus internos
visando sua futura “reintegração social”. O sentido latente desse discurso remete o
significado de tal prática à imediata identificação e isolamento dos desviantes e a
conseqüente legitimação do padrão de normalidade idealizado no conjunto das
representações sociais; ou seja, na verdade a principal beneficiária da existência dessa
estrutura paralela de atendimento aos portadores de deficiência é a própria sociedade dos
ditos normais. Essa prática de isolamento dos considerados desviantes em instituições
representa, na verdade, um mecanismo de ocultamento de uma condição socialmente
considerada indesejável.
O descrédito do talento: a violência contra o direito de ser bem sucedido
Ficou evidente em algumas matérias publicadas pelos jornais investigados o sentido
de que o sucesso alcançado por alguns deficientes desestabilizaria o senso comum no que
se refere à possibilidade de êxito profissional e sócio-afetivo de tais pessoas. Foi o caso do
tratamento dado ao sucesso do tenor italiano Andrea Bocelli pelo Jornal do Brasil do dia 10
de outubro de 1998, p. 10, na matéria intitulada “Andrea Bocelli se apresenta hoje no Rio”.
“Bocelli é cego (...) A entrega total no palco é atribuída por alguns críticos à compensação
da sua dificuldade visual”.
A expressão compensação da sua dificuldade visual explicitou o sentido de que o
sucesso alcançado por uma pessoa portadora de alguma deficiência se deve ao esforço por
ela empreendido para compensar sua privação. O que se pôde apreender deste discurso é
que as pessoas não portadoras de deficiência, quando bem sucedidas em seus
empreendimentos, alcançariam o sucesso pelo talento ou pela inteligência; enquanto que os
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portadores de deficiência o teriam feito pela necessidade de compensar o “mal” que os
aflige. Esse mesmo sentido de que a deficiência constituiria uma condição existencial
dramática, remetendo seus portadores ao lugar de pessoas sofredoras e infelizes foi também
explicitado na matéria “Andrea Bocelli – ‘Nunca precisei da psicanálise’”, assinada por
Alessandro Porro e publicada pelo jornal O Globo, no dia 08 de outubro de 1998, p. 12.
O senhor fala de sua vida com uma serenidade desconcertante, quase
assustadora. Para chegar a isso, o senhor recorreu à psicanálise? Fez algum tipo
de terapia?
O emprego de expressões como serenidade desconcertante, quase assustadora,
recorreu à psicanálise? e fez (...) terapia? ratificou esse sentido. No entendimento do autor
da matéria, a serenidade demonstrada por um portador de deficiência visual contrariaria a
idéia de que tais pessoas seriam necessariamente intranqüilas e infelizes, chegando mesmo
a assustar o entendimento dominante no repertório social acerca da deficiência. O fato de o
tenor Andrea Bocelli ser uma pessoa serena fez com que seu entrevistador o indagasse
acerca de possíveis apoios psicoterapêuticos, dando a entender que um portador de
deficiência seria, antes de mais nada, uma pessoa cheia de problemas emocionais, ou seja,
um caso clínico.
A luta pela audiência: a violência na tela da televisão
Basta ligar o aparelho de televisão ou ler um jornal para se constatar o quanto a
violência constitui um objeto preferencial dos programadores e editores das matérias
veiculadas pelos meios de comunicação de massa.
Foi nesse contexto que as matérias alusivas à “deformidade física e/ou
comportamental” do ser humano assumiram um papel de fundamental importância.
O sentido de violência praticada pela televisão contra os deficientes foi explicitado
em diversas matérias publicadas pelos jornais em estudo. E tudo isto em função de se
conseguir melhores índices de audiência junto ao público telespectador. Souza (1998a, p.
6), ao se referir à verdadeira guerra feita pelas emissoras de televisão para garantirem a
audiência nas tardes de domingo, evidenciou o sentido da violência praticada contra
diversos grupos sociais, dentre os quais os portadores de deficiência.
Mesmo recheado pelos fatos dramáticos da semana – toda a família de Gerson
Brenner foi entrevistada e participações antigas de Latino foram reapresentadas
- o Domingão do Faustão ficou atrás do Domingo Legal.
Essa luta pela conquista de melhores índices de audiência através da exploração da
imagem do desvio pelas emissoras de televisão foi ratificada pela matéria “Abusos na
guerra do ibope”, publicada pelo Jornal do Brasil, no dia 25 de agosto de 1998, caderno B
Televisão, p. 6.
A guerra de audiência entre a Globo e o SBT, no último domingo, chegou às
raias do mau gosto. O programa Domingo Legal, de Gugu Liberato, por
exemplo, fez uma chocante reconstituição dos assassinatos cometidos pelo
maníaco do parque, em São Paulo. (...) A Globo, por sua vez, aproveitou-se do
acidente do ator Gerson Brenner, que rendeu altos índices de ibope.
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O espanto dos telespectadores com a forma como o programa Domingo Legal, do
apresentador Gugu Liberato, tratou o fato dos assassinatos cometidos por Francisco de
Assis Pereira ficou também explicitado no discurso de Sobreiro (1998, p. 4):
Gugu Liberato ultrapassou no último domingo todos os limites de sensatez e de
moralidade ao apresentar a reconstituição de um crime do maníaco do parque,
como ficou conhecido o motoboy que matava jovens em São Paulo. Um casal
de atores representando cenas com um realismo impressionante, tendo a voz do
ator ao fundo, narrando com detalhes as barbaridades que desfilavam diante de
nossos olhos.
Da mesma forma, ao se referir ao acidente sofrido pelo ator Gerson Brenner,
Pedroso (1998, p. 34) explicitou os sentidos de sensacionalismo e de exploração da imagem
de desvio criados a partir do acidente com o ator, tecendo severas críticas à conduta da rede
Globo e da imprensa em geral na exploração da imagem do mesmo e do assédio feito à sua
esposa, a bailarina Denise Tacto.
O que neguinho - a Globo à frente, impávido colosso - fez com Gerson Brenner
nesses últimos dias é imoral, ilegal e deve engordar, também, se formos seguir
a cartilha do rei.
Desde o primeiro momento, o corpo do homem foi exposto à exaustão, em cada
transferência de hospital, em cada boletim da televisão, nas primeiras páginas
de jornais. (... Mas disputar a esposa do pobre a ponto de quase sair no tapa não
é um pouco demais, brava gente brasileira?
Na mesma matéria, o autor fez menção a uma sua manifestação acerca do
tratamento dado à deficiência pela televisão, ratificando o sentido por ele exposto. “Uma
vez escrevi que achava o personagem do Selton Mello em A indomada chato e oportunista e fui acusado de ter preconceito contra deficientes”.
Com este mesmo sentido, Souza (1998b, p.6) destacou a entrevista feita com o
motoboy Francisco de Assis Pereira, denominado pela imprensa brasileira como “O
Maníaco do Parque”, apresentada pelo “Fantástico”, programa da Rede Globo de televisão,
no dia 22 de novembro de 1998. Disse a jornalista que “O entrevistador fez as vezes de
pseudo-analista, só serviu para dar ao Fantástico ares sensacionalistas”.
Em carta publicada pela Folha de São Paulo, com o título “Maníaco do parque”, no
dia 24 de novembro de 1998, na coluna Painel do leitor, página 3, Ferreira disse que:
A reportagem do último ‘Fantástico` (22/11) sobre o maníaco do parque é um
divisor de águas na história do jornalismo da Rede Globo. Ela vai argumentar
com os altos índices de audiência obtidos, mas nunca o nome global foi jogado
de tal maneira na sarjeta da credibilidade. Com sensacionalismo vulgar e
impiedoso, mais uma vez expôs as famílias das vítimas a brutal constrangimento.
Ainda em relação a essa mesma entrevista, Barros e Silva (1998, p. 2), em sua
matéria intitulada “Os maníacos do Jardim Botânico”, publicada pela Folha de São Paulo
no dia 29 de novembro de 1998, teceu severas críticas ao sensacionalismo exagerado que
permeou o quadro do programa Fantástico.
O show macabro - e não a entrevista, como se tem concedido - levado ao ar no
último domingo pelo “Fantástico” com Francisco de Assis Pereira, mais
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conhecido como o “Maníaco do Parque”, é um marco na história da Globo,
mesmo levando em conta o histórico de sensacionalismo do “Show da vida”.
(...)
Tudo foi meticulosamente arquitetado para provocar no espectador os mesmos
efeitos de um filme de terror. (...)
Consta que a “entrevista” com Francisco funcionou como teste da Globo, que
parece disposta a adotar o formato com regularidade na sua programação. Seria
com esse tipo de mercadoria que a emissora pretende disputar espaço no
açougue televisivo?
Críticas severas foram também dirigidas ao programa Leão Livre, da Rede Record,
cuja característica marcante era a exploração do grotesco na busca de melhores índices de
audiência.
Um homem que teve o pênis devorado por um porco, uma menina com três
cabeças, uma briga entre mulheres e travestis. Foi com este cardápio que Leão nome artístico do apresentador Gilberto Barros, da TV Record - ganhou a
disputa das perversões contra o colega Ratinho - codinome de Carlos Massa,
que desde terça-feira comanda seu programa no SBT. (...) pelo menos 320 mil
famílias decidiram trocar a trama de Silvio de Abreu pelo desfile de
deformações humanas. (...)
O circo romano ganha nova versão aos domingos, com Faustão e Gugu. (...) Há
cerca de duas semanas, por exemplo, a disputa levada ao ar pelas equipes de
Gugu e Faustão, em torno da entrevista de Denise Tacto, mulher do ator Gerson
Brenner, foi constrangedora (Feras estraçalham a televisão com programas de
baixa qualidade, 1998, p. 7-9).
Outras matérias também reservaram seu espaço às críticas à violência externada
pelos programas de televisão, em especial o Leão Livre, cuja ênfase na aberração parecia
constituir o vetor de aproximação entre seu apresentador e o público ouvinte.
O Leão que substituiu Ratinho, um tal de Gilberto Barros, é ridículo e explora a
desgraça alheia de maneira mais explícita e grotesca do que seu antecessor. A
cena dele fingindo estar chorando com a deformidade de um de seus
convidados é revoltante. Como poderia estar chorando, se o homem com o
rosto deformado fez a audiência do programa ultrapassar a da Globo? (Annuza,
1998, p. 2).
Assisti à nova sensação da televisão brasileira, o Leão livre. Um homem que,
aos gritos, incitava a platéia a pedir para ver o infortúnio de um rapaz que foi
mutilado por um porco, ficando com o rosto deformado e sem os órgãos
genitais (Maia, 1998, p. 2).
A forma como o veículo televisão vem tratando a questão da deficiência ratifica a
tese de que a cultura, de modo geral, vê tal condição existencial como uma situação de
anormalidade e de extremo afastamento do padrão estabelecido como bom e desejável. Ser
deficiente representa, pois, muito mais do que ser diferente, representa estar fora do padrão
de normalidade, o que só serve para atrair a atenção do público ouvinte, que, de um modo
geral, parece se deixar seduzir por essa forma violenta de fazer televisão.
Lumina - Juiz de Fora - Facom/UFJF - v.4, n.2, p. 215-231, jul./dez. 2001 v. 5, n. 1, jan./jun. 2002
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Conclusão
A riqueza de sentidos presente nas dezenas de matérias analisadas ratifica o fato de
que o veículo de comunicação de massa jornal participa de forma intensa e determinante do
processo de construção e de cristalização da imagem social da deficiência. Os três jornais
examinados - Folha de São Paulo, Jornal do Brasil e O Globo - contribuíram efetivamente
para esse fim, uma vez que veicularam, cada qual, um número considerável de matérias que
explicitaram o preconceito e a discriminação como características marcantes do comportamento social diante da diferença imposta pela deficiência.
É inegável o fato de que algumas categorias consideradas desviantes constituem
objetos preferenciais das práticas de discriminação e de isolamento sociais. O que se deve
destacar, todavia, é que tal exploração não decorre apenas da vontade e da necessidade de
os veículos de difusão coletiva, como já foi dito, atingirem melhores índices de
popularidade.
Ela explicita, como vem sendo demonstrado, o antagonismo normal versus anormal,
remetendo, por meio do desvio, o olhar das pessoas para a noção de normalidade, que
constitui, neste caso, o objeto prioritário de apreensão do sentido do conteúdo discursivo
veiculado.
Ao evidenciar o que o princípio da anormalidade teria de “ruim”, a mídia está
automaticamente estabelecendo um limite entre o desejável e o indesejável, o certo e o
errado, o permitido e o não-permitido. O que não se pode negar, todavia, é que toda essa
valoração de comportamentos e de pessoas tem sua efetivação nas mais variadas práticas de
violência muitas vezes aprovadas socialmente.
Romper com essa formação ideológica e inverter esse discurso constitui, com certeza, um
desafio ao qual não podemos sucumbir. Só assim poder-se-á pensar numa sociedade mais
justa e mais harmoniosa, onde a não-violência não seja apenas o lugar de denúncia da
violência, mas o modo comum de se entender e de se tratar a diferença humana.
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