GETH Newsletter Volume 07 Número 08 13 de Abril de 2009 GETH Newsletter é uma publicação semanal Exostose Múltipla Hereditária e Doença Ollier de distribuída aos sócios do Grupo de Estudos de Fernanda Teresa de Lima UNIFESP/Hospital Albert Einstein Tumores Hereditários Sede R José Getúlio, 579 cjs 42/43 Aclimação São Paulo - SP CEP 01503-001 E-mail [email protected] Site http://www.geth.org.br As osteocondrodisplasias podem ser classificadas em três grupos: defeitos do crescimento de ossos longos e/ou coluna, anormalidades da densidade e desenvolvimento desorganizado da cartilagem e componentes fibrosos. No terceiro grupo entram as exostoses múltiplas. Exostose Múltipla Hereditária A exostose múltipla hereditária é uma doença autossômica dominante caracterizada por tumores cartilaginosos múltiplos beningos, Editores Erika Maria Monteiro Santos Ligia Petrolini de Oliveira Diretoria Presidente Benedito Mauro Rossi Vice-Presidente Erika Maria Monteiro Santos Diretor Científico Gilles Landman Secretário Geral Fábio de Oliveira Ferreira Primeira Secretária Ligia Petrolini de Oliveira Tesoureiro Wilson Toshihiko Nakagawa chamados osteocondromas ou exostoses. Tem uma prevalência de 1 em 50.000 e penetrância de 96%. Inicia-se entre infância e puberdade, geralmente ao redor dos dois anos de idade, como saliências ósseas em tíbia e escápula. O número de exostoses sofre grande variação, mas normalmente o envolvimento é simétrico e as lesões apresentam crescimento em tamanho e ossificação gradual com o desenvolvimento esquelético. Depois da maturidade esquelética não aparecem novas exostoses. Os ossos longos dos membros são os mais afetados e existe uma associação com crescimento assimétrico. As lesões são justaepifisárias na origem e aparecem em qualquer osso que sofre ossificação endocondral, poupando ossos de formação intramembranosa. Podem ser sésseis ou pedunculadas, estas irritam mais os tecidos adjacentes. A lesão inicial se dá como um crescimento assimétrico do osso metafisário cortical imediatamente adjacente a placa de crescimento e podem apresentar dois padrões de crescimento: crescimento justaepifisário normal, a exostose parece migrar para a diáfise e um padrão irregular de crescimento, com expansão da exostose na metáfise. Os padrões são Exostose Múltipla Hereditária e Doença de Ollier imprevisíveis e coexistem no mesmo osso. No adulto, as lesões podem regredir, desaparecer ou sofrer transformação maligna. Como complicações tem-se deformidades ósseas e cosméticas, redução do crescimento linear do osso longo com assimetria de membros, baixa estatura, fraturas ósseas, formação de bursa, danos a estruturas adjacentes, compressão da medula espinhal, obstrução urinária e/ou intestinal, mau-posicionamento uterino em gestação. A transformação maligna em condrossarcoma de baixo grau ocorre m 5 a 10% dos casos e parecem existir famílias mais predispostas. As malignizações geralmente ocorrem nas exostoses da cintura pélvica, geralmente ao redor dos 30 anos de idade, quando o paciente passa a apresentar edema, dor e sintomas neurológicos. O crescimento tumoral é lento e as metástases são tardias. Não existe tratamento específico para a exostose múltipla hereditária. A cirurgia está indicada se dor, alteração da função, deformidade ou suspeita de malignização. Alguns autores referem a necessidade As exostosinas apresentam atividade de glicosiltransferase e estão envolvidas na biossíntese de heparan sulfato. Distúrbios do heparan sulfato na superfície celular interferem com a sinalização das proteínas hedgehog, em especial a Indian hedgehog - Ihh. A exostosina 1 é necessária para a difusão apropriada de Ihh, que regula a diferenciação da cartilagem. Quando esta diferenciação se completa, silencia Ihh. Assim, mutações na exostosina 1 interferem com a regulação negativa de Ihh. Como diagnóstico diferencial, inclui-se a metacondromatose, doença autossômica dominante nas quais as exostoses apontam para articulações, podem regredir espontaneamente e não resultam em encurvamento; síndrome de Langer-Giedion, síndrome de genes contíguos, com deleção dos genes EXT1 e TRPS1, cursando com exostoses, retardo mental, anormalidades craniofaciais e anomalias digitais e a síndrome de Potocki-Shaffer, também síndrome de genes contíguos, com deleção dos genes EXT2 e ALX4, com exostoses, defeito da ossificação do crânio, disostose craniofacial e retardo mental. de radiografias anuais dos sítios axiais e pélvicos e a monitorização do tamanho das exostoses no adulto, especialmente as pélvicas, por risco de malignização. A doença é causada por alterações genéticas Doença de Ollier Também é chamada de encondromatose, em três loci: EXT1, em 8q23-q24, com 11 éxons, discondroplasia, EXT2, em 11p11-p12, com 16 éxons e um terceiro interna. Inicia-se na infância, com encondromas lócus, EXT3, em 19p. Perda de heterozigosidade múltiplos, nos três loci foi identificada em condrossarcomas benignos. Tem uma prevalência de 1 em 100.000 sindrômicos ou isolados, portanto estes genes foram indivíduos. referidos como supressores de tumor. encondromatose tumores assimétricos múltipla ou intra-ósseos, Os encondromas são tumores cartilaginosos A maior parte das mutações encontra-se em comuns nas epífises ou metáfises, que podem EXT1, espalhadas por todo o gene, e geram uma ser isolados ou múltiplos, com predominância proteína truncada. unilateral, e associado a redução assimétrica do A doença parece ser mais grave nos pacientes com mutações em EXT1, que apresentam baixa estatura, deformidades, encurvamentos, com diminuição da amplitude de movimentos e aumento do risco de condrossarcomas. membro e deformações e não associados a fraturas. As deformidades incluem encurtamento por falta de crescimento epifisário, alargamento de metáfises e encurvamento dos ossos longos. Resultam em anomalias graves do crescimento. Geralmente afetam GETH Newsletter 2009 Volume 07 Número 08 Exostose Múltipla Hereditária e Doença de Ollier as extremidades em crescimento dos ossos longos, O diagnóstico diferencial se dá com os iniciam-se na infância e podem regredir depois da osteocondromas, que aparecem na superfície óssea, puberdade. Inicialmente são localizados próximos ao contrário dos encondromas que são tumores no à placa de crescimento e migram progressivamente centro do osso. em direção à diáfise. O risco de malignização em condrossarcomas é de 20% a 50%, mais comuns na síndrome de Maffucci. A doença não requer tratamento e as cirurgias estão restritas à complicações. Sugere-se a revisão anual dos encondromas e rastreamento A síndrome de Maffucci associa encondromas periódico do crânio e abdome. múltiplos, hemangiomas de membros e vísceras e linfangiomatose. Pode cursar ainda com vitiligo, hiperpigmentação e nevi. Apresenta uma alta predisposição a neoplasias, que incluem sarcomas, hamartomas, fibrossarcomas, carcinomas e Bibliografia Pannier S, Legai-Mallet L. Hereditary multiple exostoses and enchondromatosis. Best Pract & Res Clin Rheumatol 2008;22:45-54 leucemias. Sua etiologia é desconhecida, mas há Horton. Abnormalities of bone structure. In: Rimoin, relatos de afetados com filhos normais. connor, Pyeritz, Korf. Emery & Rimoin´s Principles A etiologia da doença de Ollier também é and Practice of Medical Genetics. 5th ed, USA: Churchil Linvingstone Elsevier, 2007. Vol 3, p.3754-65. desconhecida. Geralmente é esporádica, mais comum McCormick, Duncan & Tufaro. New perspectives on the em homens, mas existem relatos de transmissão molecular basis of hereditary bone tumors. Mol Med Tod autossômica dominante. Mutação no gene PTHR1 foi descrita em dois pacientes, mas foi ausente em outros 31 estudados. 1999;5:481-6. Boveé. Multiple osteochondromas. Orphanet J Rare Dis 2008; 3:3. GETH Newsletter 2009 Volume 07 Número 08