Em termos lógicos, as coisas das quais menos esperamos são aquelas que têm mais potencial para nos surpreender. A minha aventura nas Olimpíadas de Filosofia permitiu-me comprovar esta máxima. Quando, há três anos, o Professor Luís Fernandes me propôs que fosse com o Miguel Alegre às III ONF – Olimpíadas Nacionais da Filosofia, a única reflexão filosófica que me ocorreu foi sobre o nível de aborrecimento que teria. Filosofia?, pensei. Não poderia ter estado mais enganado. O ambiente que encontrei foi único. Alunos de todo o país, que durante dois dias se reuniam, não só para escreverem e discutirem filosofia, mas também para conviverem e partilharem experiências. Continuará a soar entediante para alguns, admito, mas eu fiquei fascinado. Encontrei gente que, tal como eu, gostava de pensar e refletir - por outras palavras, tinha o mesmo problema que eu! Recordo-me de uma viva discussão do Miguel com o Hugo Luzio, sobre modelos de Estado, e de eu próprio me ter envolvido (quer com a Beatriz Santos, que viria a vencer naquele ano, quer com o André Gonçalves, estudante de física quântica) num argumento de cariz teológico. Onde mais seria isto possível? No entanto, o melhor foi mesmo poder travar amizade com pessoas fascinantes, algumas das quais ainda mantenho. A dose repetir-se-ia em Montemor-O-Novo, no ano seguinte, e não posso dizer que me tenha desiludido. Foi particularmente bom poder partilhá-lo com o Miguel Pereira, e penso que concordará comigo quando digo que era difícil termo-nos divertido mais. Este ano a expectativa era grande. O Professor Luís Fernandes confiou-me, uma vez mais, a oportunidade de representar o Colégio, e sentia a responsabilidade acrescida como uma amiga minha diz, era o repetente das Olimpíadas! Apliquei-me nas três horas do ensaio, que contestava uma visão determinista de Bento de Espinosa, e o resto do tempo - tenho o Bernardo Coelho por testemunha - a conhecer ou rever pessoas. Vencer o ouro não estava nos planos, e confesso que me apanhou de surpresa! E assim partimos (eu, o Alexandre Eira e a comitiva da PROSOFOS) em representação de Portugal, para as XXIV Olimpíadas Internacionais de Filosofia. Foi uma experiência intensa e enriquecedora, que me permitiu conhecer pessoas dos quatro cantos do mundo: da Argentina ao Japão, dos EUA à Índia. O convívio e a partilha permitiram-me aprender imenso, e o contacto com realidades tão diferentes da minha transformoume. Desde a Sonja, alemã que passou o tempo todo a meter-se comigo por não ter entrado em Oxford, à Anna, americana que está a caminho de Stanford sem nunca ter posto o pé numa escola (era "homeschooled" e tinha aulas por videoconferência), ou a Noga, israelita que passará os próximos três anos a cumprir o serviço militar obrigatório. Conhecer pessoas que vinham de lugares tão remotos como Guatemala, China, Arménia ou Bangladesh, e para quem algumas das condições que para nós são comuns e passam quase despercebidas - segurança, conforto material, liberdade política e de expressão - eram bens preciosos e muitas vezes escassos, fez-me ver a minha própria realidade de outra forma. Bruxelas e Ghent (cidade idílica, Veneza da Flandres) não podiam ter sido mais acolhedoras. Receber uma menção honrosa pelo meu ensaio (de 4 horas, em língua estrangeira, e que versava sobre filosofia da linguagem numa perspetiva wittgensteiniana) tornou a minha aventura ainda mais incrível. Mas acima de tudo, esta jornada filosófica que percorri nos últimos três anos permitiu-me, mais do que questionar o que é o conhecimento, constatar como é infinito o caminho do saber.