Desenvolvimento do aparelho urinário e genital João Silva, Serviço de Urologia – H. S. João; FMUP. Desenvolvimento do rim • Durante o período intra-uterino, a placenta é responsável pelo equilíbrio hidro-electrolítico. • A produção de urina pelos rins começa pela 12ª semana. • 80% do liquido amniótico é urina • O desenvolvimento do sistema urinário inicia-se pela 3ª semana. • Os mamíferos desenvolvem 3 rins durante a vida intra-uterina. Desenvolvimento do rim • Rins e ureteres desenvolvem-se da mesoderme intermédia • Desemvolvem-se numa sequência crânio-caudal, passando por 3 estádios: – Pronefros – Mesonefros – Metanefros • Os dois primeiros estádios têm um caracter transitório. Os rins definitivos desenvolvem-se a partir do metanefros. Desenvolvimento do rim • O pronefros aparece à 4ª semana e atrofia durante a 5ª semana. • O mesonefros aparece na 4ª semana e começa a degenerar após a 8ª semana. • A produção de urina inicia-se à 6ª semana – Ducto mesonéfrico (ducto de Wolff) – forma a parede posterior da bexiga – Atrofia completamente no sexo feminino. No sexo masculino – ductos eferentes Desenvolvimento do rim Desenvolvimento do rim • O metanefros desenvolve-se a partir de estruturas da mesoderme intermédia a nível sagrado: – Broto ureteral (epitelial) – Vesicula metanéfrica • O desenvolvimento do rim, resulta da interação entre o ureter e o blastema metanéfrico (epitélio e mesenquima) Desenvolvimento do rim • O broto ureteral é um diverticulo epitelial com origem na porção caudal do ducto mesonéfrico (ducto de Wolff). Projeta-se no blastema metanéfrico e dá origem ao sistema excretor intra e extra – renal (ureter, pelve renal, calices maiores e menores e ductos coletores) Desenvolvimento do rim • Os rins ascendem para a posição definitiva entre a 6ª e a 9ª semanas – Não é uma migração ativa, mas sim, o resultado de um crescimento mais acentuado da região lombar e sagrada • O rim apresenta circulação transitória • Sofrem uma rotação medial de cerca de 90º Desenvolvimento do aparelho urinário inferior • A cloaca é a porção terminal comum do tubo retal e trato urogenital • Entre a 4ª e a 6ª semana, o septo uro-rectal, separa a cloaca no seio urogenital primário e no reto. – A bexiga e a porção proximal da uretra, originam-se do seio urogenital primário – A porção caudal da uretra, forma-se do seio urogenital definitivo (porção fálica da uretra que acompanha o crescimento do tubérculo genital) Desenvolvimento da bexiga • A bexiga desenvolve-se da parte superior do seio urogenital e está ligada à alantoide → úraco • O crescimento rápido da parede posterior do seio urogenital, resulta do englobamento pela parede vesical, da parte inferior dos ureteres e dos ductos mesonéfricos. • Vão formar o trigono (nos homens, os ductos de Wolff irão formar os deferentes) Desenvolvimento da uretra • No homem, a uretra prostática e membranosa derivam do seio urogenital, enquanto a uretra esponjosa deriva da parte fálica (prato uretral) • Na mulher, toda a uretra e parte da vagina derivam do seio urogenital, enquanto a parte fálica (prato uretral) dá origem ao vestibulo e pequenos lábios. Patologia • Alteração do nº dos rins – Agenesia renal: • ¼ estão associadas a anomalias genitais • Resulta da ausência de desenvolvimento do broto ureteral • Unilateral: 1/1000, mais frequente no sexo masculino e do lado esq. • Bilateral: 1/10000, (oligohidramnios, anúria, pulmões hipoplásicos – Potter) – incompatível com a vida Patologia • Alteração do nº dos rins – Rins supra-numerários: • Muito rara • É devido a uma divisão muito precoce do broto ureteral, antes de encontrar o blastema metanéfrico Patologia • Anomalias de rotação – Relativamente frequente – Ventral, dorsal ou lateral – Frequente a associação com SJPU – Pode ocorrer uni ou bilateral e estar associada com ectopia ou fusão Patologia • Alterações da ascensão ou ectopia – Um rim é ectópico, quando (excluindo a ptose) não se encontra na fossa lombar. – A ectopia resulta de uma ascensão ausente ou incompleta. Pode ser alta ou baixa (rim pélvico) Patologia • • Alterações do tamanho – Hipoplasia: Paragem do desenvolvimento embrionário, com estrutura normal. Causa desconhecida. Deve ser distinguida de outras causas de rins atróficos. – Aplasia: existe um “primórdio” renal fibrosado – diferente de agenesia renal Alterações da estrutura – – – A displasia renal é caracterizada por uma anomalia congénita do desenvolvimento do tecido renal embrionário. Há perda do tecido renal funcionante. Cistos renais simples Rins poliquisticos • • • DRPAR (leva geralmente a IR terminal antes da adolescência) DRPAD (manifestação raramente antes dos 30anos) Displasia renal multiquistica (normalmente unilateral) Patologia • Anomalias vasculares – Existem muitas variantes nas artérias e/ou veias renais – Resultam da alteração do suprimento sanguíneo durante a migração dos rins Patologia • Anomalias do ureter – Anomalias do trajeto • Ureter retro-cava ou retro-ilíaco – Anomalias do diâmetro • Megaureter: pode ser anatómica ou funcional – Anomalias do número • Devem-se a uma divisão prematura do broto ureteral ou a um broto adicional • Incompleta (apenas um orificio ureteral) • Completa (2 meatos ureterais – lei de Weigert-Meyer) Patologia • Anomalias do meato ureteral – Estenose • Ureterocelo: dilatação cística da porção intra-mural do ureter devido a estenose do meato – Refluxo vesico-ureteral • Pode estar associado a outras anomalias (duplicação, megaureter); mais frequente no sexo feminino – Ectopia • Associado a duplicação em 80% dos casos Patologia • Extrofia vesical – Resulta de um deficiente encerramento da parede abdominal abaixo do umbigo – Ausência de migração da mesoderme (entre a ectoderme e a cloaca) durante a 4ª semana de desenvolvimento – Está associada a epispadias, diástase dos ossos púbicos, (hernias bilaterais, testiculos ectópicos, ânus imperforado) Patologia • Anomalias do úraco – As anomalias do úraco, resultam de um encerramento incompleto da alantoide. – Cisto do úraco – Fistulas – internas ou externas – Fistula completa Desenvolvimento do sistema genital • O sexo genético, está determinado na altura da fertilização • Genitais indiferenciados aparecem na 6ª semana • A diferenciação ocorre posteriormente, determinada por fatores hormonais e genéticos (indutores e inibidores) • A diferenciação das gónadas ocorre em 1º lugar, seguida pela diferenciação fenotípica ( genitais externos, internos…) Desenvolvimento do sistema genital • O desenvolvimento do aparelho genital acompanha o do sistema urinário • Tem a sua origem na mesoderme intermédia e seio urogenital • Os testículos diferenciam-se primeiro que os ovários (7ª semana) – SRY (testis-determinig factor), AMH, testosterona • A diferenciação dos ovários ocorre na 8ª semana Desenvolvimento do sistema genital Desenvolvimento do sistema genital • Descida dos testículos – A partir do 3º mês de gestação os testículos migram desde a região lombar até ao escroto (33ª semana) – Os ovários também se deslocam ligeiramente para a pelve ( essencialmente devido ao crescimento muito maior dos órgãos abdominais em relação aos pélvicos) Desenvolvimento dos orgãos genitais internos • Até à 7ª semana, os orgãos genitais internos em ambos os sexos consistem em dois sistemas de canais e permanecem indiferenciados Desenvolvimento dos orgãos genitais internos • Masculino – Influenciada pela produção de testosterona , nas cel de Leydig – Atrofia do ducto paramesonéfrico (Muller) (AMH) – remanescentes: apêndice testicular e utrículo prostático – Desenvolvimento e diferenciação do ducto mesonéfrico (Wolff) – atrofia cranialmente (apêndice do epidídimo); formam os epidídimos. Desenvolvimento das glândulas sexuais secundárias • Masculino – A sua origem provem do epitélio da mesoderme (Wolff) ou do epitélio da endoderme (seio urogenital) • • • Vesiculas seminais – 12ª semana – protrusão dos deferentes (mesoderme) Próstata – 12ª semana – protrusão da parede posterior da uretra prostática (endoderme – epitélio glandular); (mesoderme – estroma e tec muscular) Glândulas bulbo-uretrais (Cowper) e uretrais (Littre) – protrusões endodermicas da parte esponjosa da uretra Desenvolvimento dos orgãos genitais internos • Feminino – Atrofia do ducto mesonéfrico. Desenvolvimento das trompas, útero e parte superior da vagina a partir do ducto paramesonéfrico Desenvolvimento das glândulas sexuais secundárias • Feminino – Derivam da endoderme do seio uro-genital. Glândulas de Bartholini, que correspondem às gl de Cowper. Gl. Vestibulares (Skene), que correspondem à prostata. Desenvolvimento dos genitais externos • A morfologia dos genitais externos, é muito semelhante em ambos os sexos, até à 9ª semana. Desenvolvimento dos genitais externos • Masculino – Sob o efeito dos androgénios, a diferenciação e desenvolvimento dos órgãos sexuais externos, torna-se visível a partir do 3º mês. Desenvolvimento dos genitais externos • Feminino Patologia • Alterações do desenvolvimento sexual – 46,XX DSD • Maioria dos casos HAC. – 46,XY DSD • • Várias causas, em 50% dos casos sem diagnóstico definitivo Deficiência de 5α-reductase, Androgen Insensivity syndrome, alterações da atividade da MIS – Disginesia gonádica • • Persiste um testiculo ou ovário não funcionante Espectro de anomalias genitais e gonádicas associadas à ausência de um dos cromossomas sexuais / mosaico (45,X, 45X/46XY) – Ovotesticular DSD • Está presente tecido ovárico e testicular (é uma variante de disginesia gonádica) – genótipo e fenótipo variáveis Patologia • Alterações dos genitais masculinos – Hipospádias • Deficiente encerramento da fenda uretral • Muito frequente: 1-8 / 1000 nascimentos masculinos • Curvaturas, estenoses, hipoplasia do corpo cavernoso – Epispádias • Muito mais rara • Defeito na migração da mesoderme (epispádias – extrofia vesical) Patologia • Alterações dos genitais masculinos – Agenesia do pénis / clitoris – Pénis bifido / clitoris – Criptorquidia / ectopia testicular • Criptorquidia – 30% prematuros e 4% nos bebés de termo Patologia • Hérnia inguinal / hidrocelo / quisto Patologia • Anomalias utero-vaginais – Alteração da fusão da parte inferior do ducto paramesonéfrico (Muller) Obrigado pela atenção!