1 O marketing lateral como ferramenta de inovação em um ambiente competitivo: estudo de caso da Bunge Fertilizantes Caetano Haberli Junior Mestrando em Administração da Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP Rodovia do Açúcar km 156 / 13.400-911 / Bloco 7 – Secretaria do Mestrado em ADM / Piracicaba-SP / Telefone: (19) 3124-1560 / CPF: 003.946.268-42 E-mail: [email protected] Jorge Tadeu Brettas de Godoy Mestrando em Administração da Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP Rodovia do Açúcar km 156 / 13.400-911 / Bloco 7 – Secretaria do Mestrado em ADM / Piracicaba-SP / Telefone: (19) 3124-1560 / CPF: 047.694.368-07 E-mail: [email protected] Marina Ariente Mestranda em Administração da Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP Rodovia do Açúcar km 156 / 13.400-911 / Bloco 7 – Secretaria do Mestrado em ADM / Piracicaba-SP / Telefone: (19) 3124-1560 / CPF: 302.683.088-70 E-mail: [email protected] Antonio Carlos Giuliani Docente do Mestrado Profissionalizante em Administração da Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP Rodovia do Açúcar km 156 / 13.400-911 / Bloco 7 – Secretaria do Mestrado em ADM / Piracicaba-SP / Telefone: (19) 3124-1560 / CPF: 027.782.658-64 E-mail: [email protected] Eduardo Eugênio Spers Docente do Mestrado Profissionalizante em Administração da Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP Rodovia do Açúcar km 156 / 13.400-911 / Bloco 7 – Secretaria do Mestrado em ADM / Piracicaba-SP / Telefone: (19) 3124-1560 / CPF: 110.685.998-71 E-mail: [email protected] Grupo de pesquisa: 1 - Comercialização, Mercados e Preços Agrícolas Forma de apresentação: em sessão com debatedor 2 O marketing lateral como ferramenta de inovação em um ambiente competitivo: estudo de caso da Bunge Fertilizantes Resumo A inovação é um dos aspectos de fundamental importância para a obtenção de sucesso nas empresas. Já existem produtos para satisfazer praticamente qualquer necessidade. Atingiu-se um ponto de mudança e velocidade em que o marketing precisa buscar novos conceitos para gerar idéias e atender aos mercados. O artigo tem por objetivo conhecer o “construto” do marketing lateral proposto por Kotler e Bes (2004), como uma nova forma de pensar o mercado, públicos, uso e necessidade de produtos, serviços e marcas. São analisadas as formas propostas como ferramentas para a definição de estratégias competitivas no composto de marketing. Através de uma pesquisa exploratória, realizada na primeira etapa do estudo, analisouse o tema pesquisando-o em livros e periódicos. Em um segundo momento, utilizou-se uma pesquisa qualitativa, com estudo de caso ilustrativo, especificamente o caso da multinacional do agronegócio Bunge Fertilizantes, analisando o conceito de marketing lateral suscitando se as organizações estariam diante de uma nova forma de pensar as estratégias, ou o marketing lateral seria mais uma derivação do termo “marketing”, um modismo. Constatou-se que o marketing lateral pode ser uma plataforma adicional para o desenvolvimento de idéias originais, principalmente no contexto atual, onde o processo deve estar centrado na possibilidade de criação de novos mercados. Palavras-chave Bunge Fertilizantes. Competitividade. Inovação. 1. Marketing Lateral Ao desenvolver uma nova forma de pensar este ambiente de mudanças tecnológicas, econômicas, de perfil de consumo e de consumidores, considerando novas formas de uso e necessidades, deve-se deslocar os pensamentos lateralmente, criando novos padrões de pensamento, de análises, de formação de cenários competitivos com uma visão mais sistêmica. Nesse ambiente surge o marketing lateral como uma forma de pensamento e de análise que foge dos padrões atuais de conclusões de mercado, públicos-alvos, necessidades e usos de produtos e serviços. O marketing lateral procura, no contexto atual, inovações que atendam as necessidades ou público(s) alvo(s) ainda não atingidos. Para Kotler (2004) “o objetivo é obter idéias que os consumidores dificilmente sugerirão ou proporão a pesquisadores de mercado”. Estas novas idéias para as empresas contribuirão para a luta contra a homogeneidade de produtos e a hiper-concorrência. O procedimento de inovação deve incluir o desenvolvimento de novos processos, novos canais e novos conceitos de negócio. Assim, ao invés de capturar parte de mercados existentes, estaremos criando novos mercados. Um ponto importante a destacar é que o marketing lateral é um complemento para o marketing tradicional. Segundo Kotler (2004), o marketing lateral é um processo que segue uma seqüência organizada, aplicado a um produto, serviço ou negócio, produzindo inovações em categorias, subcategorias ou mercado. 3 Pode-se observar como exemplo de aplicação do marketing lateral com foco no produto a criação dos “cyber-café”. Existe o mercado de tomar um café ou um “drink” como também existe um mercado de pessoas aficionadas em computadores. O marketing lateral permite desenvolver um deslocamento lateral da utilidade em se juntar café com computador e criar um mercado novo para a proliferação dos “cyber-café”. Para melhor entendimento elaborou-se o quadro 1 que mostra uma comparação entre o marketing lateral e o tradicional e como ocorre a sua complementaridade. Comparação entre Marketing Tradicional e o Marketing Lateral e sua complementaridade. Marketing Tradicional Produz idéias para aumentar o tamanho de um determinado mercado. Ajuda a converter consumidores potenciais em atuais em um determinado mercado. Permite que nosso produto esteja presente em todas as situações possíveis dentro de seu mercado atual. Marketing Lateral Busca idéias nos mercados antes descartados, observando as necessidades, pessoas, usos ou situações de produto. Permite a criação de mercados, categorias ou subcategorias e a capacidade de atingir públicosalvos e situações além das possibilidades do produto atual. Encontra novas formas de usos dos produtos para estar presente em novos mercados por um processo metódico e com uma seqüência organizada. Ajuda a aumentar a penetração, até o máximo possível dentro de um determinado mercado. Produz uma inovação que, em muitos casos pode ser uma nova subcategoria, categoria ou mercado. Permite encontrar novos eixos de posicionamento dentro do mercado do produto ou serviço. Permite encontrar novos mercados antes descartados para um novo posicionamento do produto ou serviço. Quadro 1: adaptado de KOTLER e TRIAS DE BES (2004) Ao analisar os autores Kotler e Bes constata-se que a contribuição do marketing lateral para o marketing tradicional é que, enquanto o pensamento vertical do marketing tradicional nos leva a pensar no “que é”, o pensamento lateral nos indica o “que pode ser”. “O que é” estabelece um padrão baseado essencialmente num sistema de “reflexão”, de olhar para trás. Precisamos de fórmulas que nos permitam o olhar para frente. O canal de “rotina” oferece uma maneira conhecida, testada e comprovada de ir em frente. As rotinas e os padrões são excelentes e práticas – mas não o bastante. (BONO 2000). O marketing lateral permite quebrar estes padrões e modificar as rotinas do desenvolvimento criativo para a criação das estratégias de marketing. O marketing lateral baseia-se em situações e usos do produto anteriormente descartados enquanto que o marketing tradicional preocupa-se em conhecer as necessidades e usos do produto em determinados mercados. É possível a criação de mercados, categorias ou subcategorias com capacidade de visualizar públicos-alvos e situações de uso do produto além das possibilidades da rotina e do padrão atual. O marketing tradicional tem sua origem na definição de objetivos para se obter participação de mercado, conquistada pelas perdas de participação dos concorrentes, procurando obter a conversão de consumidores potenciais em consumidores atuais, enquanto que o marketing lateral é incremental, procura novos mercados, novos usos, novos consumidores, novos produtos, novas sinergias no composto de marketing sem necessariamente preocupar-se com os consumidores dos concorrentes. A responsabilidade pelas tarefas e idéias do marketing tradicional está presente dentro do departamento de marketing. No marketing lateral as idéias e as novas estratégias competitivas podem estar a cargo das agências de publicidade e de propaganda, dos empreendedores, dos fornecedores, dos departamentos de engenharia, desenvolvimento, logística, operações, recursos humanos, ou seja, da integração de toda a cadeia produtiva. 4 No marketing tradicional, o pensamento é considerado positivo, ou seja, encontra-se formas e objetivos através de um sistema padronizado para ajustar às situações de mercado, usos dos produtos, necessidades, desejos e posicionamento. No marketing lateral aprende-se a desenvolver novas formas de contornar o mercado, o produto e o composto de marketing num pensamento construtivo. Pode-se observar um mercado que os nomes dos principais competidores se tornaram uma espécie de sinônimo do negócio. Qualquer trabalhador de grandes empresas quando perguntado sobre benefícios recebidos quanto à alimentação, tem as seguintes afirmações: “recebo ticket”, “tenho vale refeição”. Uma união de esforços e de capacidade técnica e conhecimento fizeram surgir um novo paradigma no mercado de cartões de benefícios, o Visa Vale. É um novo produto, uma reviravolta que pode chegar a ser um novo sinônimo para o produto utilizando-se do marketing lateral com foco no mix de marketing. 2. Como estabelecer o Marketing Lateral O desenvolvimento do pensamento lateral no marketing apresentado por Kotler e Bes (2004) propõe um conjunto de mudanças do composto mercadológico, tais como: no mercado, dividido em necessidades, público-alvo, uso e situações; no produto e no mix de marketing. O pensamento criativo para o marketing lateral deve seguir três passos: Passo 1: Selecione um foco no qual deseje gerar um “deslocamento lateral”. Este foco pode estar no mercado, no produto ou no restante do mix de marketing. Passo 2: Faça um deslocamento lateral para gerar um estímulo, para gerar uma lacuna buscando novos mercados, produtos ou alterando o mix de marketing. Questione, faça perguntas, crie dúvidas. Passo 3: Faça a conexão eliminando a lacuna estimulado pelo processo valoração através de observações e conclusões válidas. Os três passos podem ser aplicados para produzir resultados tais como: a. Mesmo produto, nova utilidade – produzindo o efeito de expansão de área do marketing tradicional. É o que fez a Bayer ao promover a conhecida aspirina como um medicamento completamente novo. Se antes ela era vista como analgésico, o novo conceito apresenta a aspirina como um medicamento para prevenir ataques cardíacos. Não se trata, portanto, de segmentar verticalmente, como seria uma aspirina infantil, uma aspirina mais forte ou mais fraca, mas criar um conceito novo e lateral ao produto existente. b. Novo produto, nova utilidade – produzindo o efeito de criação de um novo mercado ou categoria. Alguém poderia estar pensando em CDs para apoio de copos ou alfinetes de fralda para serem usados como ‘piercing’. c. Novo produto, mesma utilidade – produzindo o efeito de criação de uma nova subcategoria. Os cereais matinais, que todo mundo já comia com leite ou puros, ao se criar um novo formato, uma nova forma de comer e um novo conceito de produto, associando a barra de cereais como alimentação saudável e light, ou como uma refeição para se levar a qualquer lugar. 5 Exemplo da criação do mercado de barrinha de cereais utilizando o Marketing lateral FOCO: Cereal faz bem ocasião a saúde de uso/ utilização Consumo de cereal somente pela manhã Lacuna A lacuna poderia ser preenchida por uma embalagem de bolso de 150 g, ou por uma barrinha de cereal que pode ser consumida a qualquer hora do dia. Comer cereal durante o dia DESLOCAMENTO LATERAL A conexão foi estabelecida com a barrinha de cereal Figura 1: adaptado de KOTLER e TRIAS DE BES (2004) O marketing lateral se constitui quando ocorre um deslocamento lateral em um dos elementos: produto, mercado e mix de marketing. Continuando com a categoria cereais, imagina-se o mercado de cereal onde o marketing lateral seria implementado para o produto barrinhas de cereal. Neste caso, o foco do deslocamento lateral ocorreu no mercado no que diz respeito ao uso e utilização quanto ao consumo de cereais. Ao criar a lacuna que o consumo de cereais poderia se dar durante todo o dia e não somente no período do café da manhã dos consumidores, criando assim uma nova categoria de mercado e atraindo consumidores não habituados em consumirem cereais. 2.1. Passo 1 – Selecione um foco 2.1.1. Marketing lateral com foco no mercado As dimensões do mercado são compreendidas pela necessidade do produto ou serviço, (o porquê), pela definição do público-alvo (quem), e pelo uso e situação de uso do produto ou serviço (quando, onde, com quem). Alterar lateralmente a dimensão da necessidade é descobrir novas formas de cobrir outras necessidades. Consiste na seleção de uma necessidade não coberta pelo produto e em como e porquê devemos modificá-la para que isso ocorra. Para o público-alvo deve-se pensar em quais usuários ou compradores não potenciais e na forma de descobrir as barreiras para se comprar ou utilizar o produto ou serviço. No caso do uso e situações deve-se analisar em que outros momentos não específicos os produtos podem ser usados. Na maioria dos casos temos que identificar âncoras que fazem com que estas dimensões encontrem barreiras de mudanças e modificá-las ou eliminá-las. Assim, pode-se encontrar lacunas que estão no mercado e transformá-la em oportunidade. Quando a Ferrero, empresa italiana resolveu lançar o Kinder Ovo em 1972, tinha consciência de que o mercado de guloseimas é dividido em várias subcategorias. Uma delas é a de barras de chocolate que é uma subcategoria com saturação de marcas alta. A preocupação dos pais com a qualidade e a quantidade de chocolates que seus filhos comem foi muito bem analisada pela Ferrero. O deslocamento do marketing lateral fez com que a Ferrero não só pensasse em novas formas ou sabores para o chocolate, mas sim, encontrar novas formas de 6 uso: uma quantidade de chocolate apropriado para o consumo de crianças e um brinquedo em seu interior. 2.1.2. Marketing lateral com foco no produto As dimensões do produto são compreendidas pelas suas características mais tangíveis que poderão atender necessidades dos consumidores (o que). Produtos são a resultante de diversos elementos isolados, agrupados e organizados para atender a necessidades de um determinado mercado. Boone e Kurtz (1998) define produto como um agregado de atributos físicos, simbólicos e de serviço, concebidos para aumentar a satisfação desejada pelo consumidor. “Produtos e serviços oferecem conjuntos de valores para os vários papéis do cliente. Isso se aplica para cada categoria básica de produtos ou serviços” (SHETH, MITTAL e NEWMAN, 2002). O marketing lateral propõe a decomposição destes vários elementos para modificá-lo em alguns elementos específicos como produto ou serviço tangível, a embalagem, os atributos da marca e a compra. O benefício central não está nesta abordagem, pois faz parte da abordagem na dimensão de utilidade e necessidade no nível do mercado. Esta é a dimensão do “o que” podemos fazer diferente para encontrar um novo mercado. O conceito das embalagens longa vida parte da utilização do marketing lateral na dimensão da embalagem para a substituição do vidro ou plástico para papelão. 2.1.3. Marketing lateral com foco no mix de marketing As dimensões do mix de marketing são compreendidas pelas características do preço, praça e comunicação (como). Implica em modificar a apresentação do produto ou serviço perante o cliente através do composto ou mix de marketing - preço, praça e promoção - sem alterar sua essência, usos, necessidade e público-alvo. O marketing lateral aplicado no mix de marketing de telefones celulares proporcionou o deslocamento lateral para os celulares pré-pagos. A dimensão do mercado é definida como: pessoas com mobilidade. A dimensão do produto é o próprio telefone celular. Na dimensão do mix de marketing, mais especificamente no preço, criou-se a lacuna do pagamento antecipado e não apenas o pagamento após o uso. Gerou-se a geração de um subproduto ou uma subcategoria e não um produto ou utilidade novos. 2.2. Passo 2 - A definição do processo de pensamento lateral para o desenvolvimento da criação das lacunas do marketing lateral Para existir o marketing lateral é necessário existir uma lacuna, um espaço não explorado. Alex Osborn um dos pioneiros no ensino de criatividade sugeriu sete questões para estimular a idéias que foram denominadas por Bob Eberle de “scamper” (galope). Este método foi sugerido por Alex Osborn. Depois, suas iniciais foram organizadas como sigla mnemônica por Bob Eberle. É uma lista de perguntas desafiadoras (BONO, 2000). a. Isole o desafio ou o assunto sobre o qual deseja refletir. b. Faça as perguntas sugeridas pelo questionário “SCAMPER” a cada etapa do desafio ou tema e veja as idéias novas que aparecem. Questionário “SCAMPER” (galope): S Substituir? C Combinar? A Adaptar? Ampliar? Exagerar? 7 M P E R Modificar? Por em uso para outros fins? Eliminar? Reduzir? Reordenar? Inverter? Reorganizar? 2.3. Passo 3 – Estabelecer conexão para eliminar lacunas Kotler (2004) sugere o uso de seis operações para estimular idéias e indicar caminhos: 9 Substituição: como mandar limões no dia dos namorados. 9 Inversão: como mandar rosas todos os dias do ano, menos no dia dos namorados. 9 Combinação: como mandar rosas + lápis no dia dos namorados. 9 Exagero: como mandar somente uma pétala de rosa no dia dos namorados. 9 Eliminação: como não mandar rosas no dia dos namorados. 9 Reordenação: o ser amado mandar rosas para o admirador no dia dos namorados. Ao aplicar o modelo para o estabelecimento de lacunas e estimular o pensamento lateral para o mercado: necessidade, público-alvo, uso e situações; produto; e no mix de Marketing: preço, praça e promoção. É importante identificar âncoras para um deslocamento lateral e encontrar novos mercados, categorias, consumidores e usos de produtos e serviços. É possível através dos exemplos se estabelecer uma conexão pela análise do estímulo criado por este processo: 9 Substituição: Estimular as vendas de Natal sem incentivar a compra de presentes. Idéia que originou a criação dos vale-presentes. No Natal de 2004, Extra Hipermercados, Lojas Riachuelo, Lojas Americanas, Livraria Saraiva, Shopping Amália Franco e Visa trabalharam com seus valespresente e conseguiram aquecer as vendas no período pós-natalino. 9 Inversão: Comer em “Fast Food” diariamente e ser saudável. Idéia para a criação do novo menu do McDonald’s com saladas variadas, sanduíche de frango grelhado, chá gelado com zero caloria, água de coco e iogurte com frutas frescas. 9 Combinação: Um coquetel com cerveja. Idéia da NS+2 da Schincariol misturando cerveja com tequila e limão. 9 Exagero: Um lápis que nunca acaba. Idéia original das lapiseiras. 9 Eliminação: Ignore o tapete vermelho e os coquetéis servidos nas salas de espera dos aeroportos e nas aeronaves. Idéia da Gol Linhas Áreas para simplificar os serviços de transporte aéreo de passageiros com tarifas mais baratas e com paradas mais rápidas. 9 Reordenação: Cachaça é “fashion”. Idéia da Cia. Muller de bebidas que produz a 51 que patrocinou o São Paulo Fashion Week de 2005. Modelo para o estabelecimento de lacunas e estimular o pensamento lateral para estabelecer conexões nas dimensões do mercado: necessidade, público-alvo e situações de uso; do produto e, do mix de Marketing: preço, distribuição e comunicação. Áreas do Marketing Substituição Inversão Combinação Exagero Necessidade O porquê Público-alvo Quem Uso / Situação Quando, Onde, Com Quem Eliminação Reordenação Foco do Marketing lateral MERCADO 8 Produto O quê PRODUTO Mix de Marketing Como RESTANTE DO MIX Figura 2 – Fonte: adaptado pelos autores de KOTLER e TRIAS DE BES (2004). Estabelecer conexões não é tarefa fácil, é uma questão de prática, algum treinamento e de ter uma atitude extremamente positiva ao observar o estímulo. (KOTLER e TRIAS DE BES, 2004). Para isto, será analisado o caso de uma empresa e observada a aplicação do marketing lateral. 3. Metodologia Para que o objetivo deste estudo fosse atingido, foi realizada uma pesquisa exploratória de caráter qualitativa em duas etapas. Mallhotra (2001) considera que uma das finalidades da pesquisa exploratória é formular o problema com maior precisão e identificar cursos alternativos de ação. Este tipo de pesquisa possibilita a formação de idéias para o entendimento do conjunto do problema. Aaker (2004) comenta que a pesquisa qualitativa exploratória é realizada para que se possa ter uma idéia de suas perspectivas, e ajudar o pesquisador a compreender o escopo e a complexidade das atividades envolvidas em determinados fenômenos ou situações. Métodos qualitativos de pesquisa podem ser utilizados para ‘gerar novos conceitos de produtos ou serviços, soluções de problemas, lista de características de produtos, e assim por diante’ tendo então um caráter de exploração do assunto como um estudo de caso. Os estudos de caso em algumas circunstâncias pode ser a única forma de compreender uma situação complexa. Os argumentos chave para uma abordagem de estudo de caso são: 9 Os estudos de casos revelam as motivações por meio de ações reais e não de declarações ou opiniões. 9 Utilizam a observação e a documentação para estimular as questões e corroborar as respostas. 9 Atingem tomadores de decisões múltiplas. 9 Exigem o talento de “detetives de marketing” em vez de “coletores de dados”. A primeira etapa consistiu na coleta e análise de dados secundários através de pesquisa na literatura existente. Foram realizadas pesquisas com agricultores visando alinhar as questões relevantes para gerar elucidações quanto à aplicação do marketing lateral. 3.1. Procedimentos metodológicos Foram realizadas análises de pesquisa quantitativa com 2.549 agricultores realizadas pela Bunge, como fonte secundária, observações, entrevistas com profissionais envolvidos para a conclusão do estudo de caso. O estudo de caso abordou a empresa Bunge Fertilizantes S/A que adota um “portfólio” de marcas de fertilizantes, aparentemente concorrendo entre elas num mesmo mercado, com um mesmo posicionamento e com o mesmo público-alvo e segmento. A Bunge Fertilizantes adota como diferenciais competitivos o posicionamento estratégico de marcas e a segmentação de mercado. Para o levantamento das informações foram dirigidas entrevistas com o sócio proprietário da Minder Pesquisa e Gestão de Marcas e o diretor de marketing da Bunge 9 Fertilizantes. 4. Estudo do caso Bunge Fertilizantes O caso de uma empresa no segmento do agronegócio será objeto de estudo para testar como o marketing lateral pode estabelecer, segundo o modelo apresentado pelos Kotler e Bes. Será estudado, neste caso, como a empresa aplicou o marketing lateral estabelecendo um foco, criando estímulo através de um deslocamento lateral e como estabeleceu uma conexão para eliminar as lacunas apresentadas nas dimensões dos produtos e marcas, do mercado e do restante do mix de marketing. 4.1. Mercado de fertilizantes O crescimento acelerado do agronegócio nos últimos anos fez do mercado brasileiro de fertilizantes o de maior crescimento no mundo. O consumo saltou de 13,7 milhões de toneladas em 1999, para 22,8 em 2003, representando aumento de 66% (ANDA – Associação Nacional para Difusão do Adubo). 4.2. Bunge Fertilizantes Ao longo do século 20, a Bunge foi ampliando sua presença no mercado brasileiro. Investiu no processamento de caroço de algodão, de milho e de soja. Criou a Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileira, SAMBRA, uma das precursoras do incentivo ao cultivo da soja no Brasil. Lançou produtos pioneiros como o óleo Salada, primeiro óleo comestível industrializado do país (1929), as primeiras misturas para bolos e salgados (1956), a margarina Delícia, primeira do Brasil com prazo de validade na embalagem (1959). A vocação para o crescimento teve ainda como marco a aquisição da CEVAL (1997), maior esmagadora e processadora de soja do país. A história no setor de fertilizantes começou em 1938, com a Serrana S.A. de Mineração. Com o tempo, a Serrana absorveu a Quimbrasil, empresa responsável pela industrialização da rocha fosfática, passando a ter presença destacada no fornecimento de fertilizantes no Brasil. O crescimento se acelerou nos últimos sete anos, com a incorporação da IAP, Manah e Ouro Verde, marcas que já possuíam destaque no mercado nacional. Fusões e incorporações conduziram à estrutura atual: no ano 2000, as empresas Bunge abandonaram suas antigas razões sociais para se concentrar em uma única marca. Foram criadas a Bunge Fertilizantes e a Bunge Alimentos. Um ano depois, surgiu a Bunge Brasil, consolidando os resultados das duas empresas e obedecendo a uma estratégia mundial. A Bunge Fertilizantes só opera no mercado brasileiro e também exporta para países da América do Sul: Argentina, Paraguai e Uruguai. É a maior produtora de fertilizantes da América do Sul e uma das três maiores do mundo, além de líder nacional na produção de fosfato bicálcico (Foscálcio) para nutrição animal. Ao incorporar a IAP, Manah e Ouro Verde e, manter a marca Serrana, a Bunge Fertilizantes decidiu, estrategicamente, manter as quatro marcas neste mercado. Com quatro marcas e totalmente verticalizada, suas operações começam na extração de rocha fosfática, passam pelo processamento industrial e chegam até o agricultor, levando serviço, qualidade e tecnologia a 60 mil clientes no Brasil. Com as modificações a manutenção das quatro marcas de fertilizantes, os desafios iniciais eram: Como diferenciar as marcas perante um mercado de fertilizantes considerado de “comodities”? Como posicionar marcas estrategicamente para não concorrerem 10 entre si num mesmo público-alvo? Como diferenciar usos e situações dos fertilizantes para diversas culturas e segmentos? A Bunge produz fertilizantes com diferentes composições, conforme a cultura, o solo, o clima e o tipo de manejo adotado pelo agricultor. Equipes técnico-comerciais das quatro marcas, constituídas por mais de 200 engenheiros agrônomos, e 1400 representantes comerciais autônomos, estão permanentemente em contato com o agricultor, interpretando análises de solo, prestando assistência e levantando as necessidades locais, o que resulta em desenvolvimento de novos produtos. Diversos convênios com entidades de ensino e pesquisa, como o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), a Fundação Cerrados, a Fundação MT, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), entre outras, completam o foco da Bunge no aumento da produtividade e na melhoria das práticas de manejo do solo. A Bunge Fertilizantes acredita que essas ações têm colocado a empresa na vanguarda em matéria de soluções para a agropecuária. Nesta etapa, outros desafios surgem: Como diferenciar serviços para marcas diferentes com produtos “comodities” num mercado competitivo sem deteriorar o valor central de cada uma, construído através dos anos de sua existência? Como posicionar cada marca no mercado com uma estratégia de comunicação diferenciada, sem confundir a cabeça do consumidor? Destaca-se na Bunge Fertilizantes o pioneirismo na prestação de serviços na agricultura de precisão, tecnologia que permite o mapeamento e a análise do solo, gerando recomendações de adubação e aplicação de fertilizantes a taxas variáveis, monitorado por satélite. Assim, a Bunge está à frente do terceiro desafio: Como é possível posicionar uma das marcas para atender esta área de prestação de serviços sem perder o valor central das outras marcas? A gestão corporativa da Bunge Fertilizantes se diferencia do mercado pelo estilo de decisões descentralizadas, porém integralizada, com foco no produtor rural – seu cliente. Tem um sistema de operações desenhado para atender o mercado nacional com 38 unidades industriais, em três vetores: acesso e exploração de minas de fosfato, acesso e industrialização de produtos químicos para a fabricação do fertilizante e as quatro marcas: IAP, Manah, Ouro Verde e Serrana. 4.3. Análise e aplicação do marketing lateral A empresa inovadora precisa buscar novas idéias, ser possuidora de sistemas que são aperfeiçoados ao longo do tempo. O marketing lateral permite estruturar um sistema de armazenamento de idéias. Diante os desafios apontados para a empresa Bunge Fertilizantes, a empresa apresenta o modelo de marketing lateral utilizado. 1. Produto/Serviço: fertilizantes 2. Técnica de marketing lateral: valoração de aspectos emocionais na decisão de compra dos fertilizantes em detrimento a somente os aspectos racionais. 3. Nova dimensão mediante a troca de: marcas de fertilizantes e posicionamento estratégicos das marcas levando-se em conta aspectos também emocionais e não somente os aspectos racionais. Posicionamento estratégico das marcas para segmentos de comportamentos diferenciados. 4. Lacuna: encontrar mercados para as quatro marcas minimizando a 11 concorrência entre elas. 5. Técnica para preencher a lacuna: segmentação de mercado por comportamento de consumo de fertilizante. 6. Cenário possível: comoditização do mercado de fertilizante 7. Âncoras identificadas a serem solucionadas com o marketing lateral: • Como diferenciar as marcas perante um mercado de fertilizantes considerado de “comodities”? • Como posicionar marcas estrategicamente para não concorrerem entre si num mesmo público-alvo? • Como diferenciar usos e situações dos fertilizantes para diversas culturas e segmentos? • Como diferenciar serviços para marcas diferentes com produtos “comodities” num mercado competitivo sem deteriorar o valor central de cada uma, construído através dos anos de sua existência? • Como posicionar cada marca no mercado com uma estratégia de comunicação diferenciada, sem confundir a cabeça do consumidor? • É possível posicionar uma das marcas para atender esta área de prestação de serviços sem perder o valor central das outras marcas? 8. Maneiras de levantar âncoras: segmentar o mercado por comportamento de consumo, representantes especializados nos valores centrais das marcas de fertilizantes IAP, Manah, Ouro Verde e Serrana. As estratégias utilizadas pela companhia: a. Marketing Lateral na Dimensão do Produto O primeiro passo para a definição de produtos e diferenciais por marca da Bunge Fertilizantes, foi realizado um levantamento de informações que envolveram a realização de 37 entrevistas pessoais com executivos da Bunge Fertilizantes responsáveis pela administração e comercialização das marcas em diferentes níveis hierárquicos, ocorridas durante o ano de 2002. As entrevistas – conduzidas por consultores externos (Minder Pesquisa e Gestão de Marcas), foram realizadas nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mão Grosso do Sul. Foram também consultados a analisados todos os dados disponíveis, como pesquisas anteriormente desenvolvidas, planos e documentos internos e material histórico de comunicação. O projeto foi fundamentado na metodologia MAP - Modelo de Administração de Percepção de Marcas criado pela Minder e, na fase de levantamento de informações os principais instrumentos utilizados foram: 1. História e tradições das marcas. 2. Análise histórica da evolução das marcas – IAP, Manah, Ouro Verde e Serrana – para compreender suas heranças em termos de dimensões, valores e sinais sensoriais. 3. Intenções e objetivos. 4. Compreensão das expectativas da empresa com relação ao futuro das marcas (curto, médio e longo prazo). 5. Quadro relativo de percepção das marcas. 6. Compreensão, a mais pormenorizada possível, de como o consumidor percebe as marcas da Bunge Fertilizantes e suas principais concorrentes. 7. Moldura competitiva das marcas. 8. Consolidação e análise de dados sobre o cenário competitivo das marcas, envolvendo a situação de mercado; o público alvo e o posicionamento da concorrência. 12 A Bunge resolveu adotar uma estratégica para definir sua política de marcas. A estratégia visando organizar o portfólio de marcas da empresa constituiu: 1. Verificar a arquitetura e os respectivos níveis de relacionamento entre as marcas que compõem o portfólio; 2. Analisar o papel estratégico de cada marca no portfólio. Na definição da arquitetura de marca da Bunge Fertilizantes o modelo adotado foi o proposto por Laforêt e Saunders (1994) que estabelece três diferentes possibilidades de alinhamento entre as marcas, cada uma delas subdividida em duas, conforme o quadro: Modelo de arquitetura de marca adotada como premissa pela Bunge Fertilizantes Hierarquia Tipo Exemplo Marca corporativa Parmalat Marca de família Arisco Marca dupla Danone Marcas Mistas Marca com endosso corporativo Chokito da Nestlé Marca Única Pão de Açúcar Dominância da Marca Marca furtiva Unilever Quadro 2: adaptado pelos autores de Laforêt e Saunder (1994). Dominância Corporativa No exame do papel estratégico de cada marca no “portfólio” consideraram-se cinco diferentes alternativas, sendo as quatro primeiras baseadas no livro “Como construir marcas líderes” de David A. Aaker e Erich Joachimsthaler (2000). 1. Marca Estratégica: Representa um nível significativo atual e futuro de vendas e lucros 2. Marca de Apoio: Ponto de equilíbrio de uma área comercial importante ou de uma visão futura da empresa; ela influenciará uma área comercial fornecendo uma base para a lealdade do cliente. 3. Marca Bala de Prata: Influencia de maneira positiva a imagem de uma outra marca. 4. Marca Vaca Leiteira: Base significativa de clientes/receita, sem exigir investimentos. 5. Marca de Combate: Aproveitamento de oportunidade comercial. Representa mobilidade e flexibilidade. A partir deste levantamento a Bunge adota a sua política de marcas definida como sendo a da marca mista com endosso corporativo, ou seja, as marcas de família - IAP, Manah, Ouro Verde e Serrana - passou a contar com o explícito aval corporativo da Bunge Fertilizantes, permitindo com a marca corporativa: 9 Estabelecer Sinergia, tanto no plano comercial (mercado e empresas-clientes) como no de negócios (fornecedores, bancos, parceiros, etc). 9 Sinalizar segurança no “portfólio” de marcas, no contexto institucional (consumidores e comunidades) e no ambiente Interno (funcionários e prestadores de serviços). Conseqüentemente a marca corporativa Bunge Fertilizantes, ao lado das marcas de família passará a ser utilizada na comunicação com o mercado e canais de distribuição. A marca corporativa Bunge Fertilizantes será impulsionada pelas marcas de família, o que significa dizer que IAP, Manah, Ouro Verde e Serrana - as marcas impulsionadoras permanecem como prioritárias no processo de comunicação da empresa. As marcas da família Manah e Serrana e a marca de produto Fosmag são definidas como marcas estratégicas; a marca Ouro Verde como marca de apoio e a IAP como marca de combate. Ainda no universo da política de marca, Fosmag e Ourofós passam a ser entendida como marcas de produto diferenciadas e Turbo e Fertiap como marcas premium. 13 Antes de estabelecer a identidade das quatro marcas de família da Bunge Fertilizantes, a empresa buscou encontrar o valor central de cada uma delas. Por valor central a Bunge entendeu como o sentido essencial da marca ou seu principal registro na percepção do mercado consumidor. Como decorrência do valor central, localizou-se o posicionamento perceptual das marcas IAP, Manah, Ouro Verde e Serrana tendo como referência os distintos processos de formação da imagem de marca e a percepção atual junto aos públicos interno e, principalmente, externo. Mapa do posicionamento perceptual das marcas da Bunge Fertilizantes Figura 2: Brand Book da Bunge Fertilizantes S/A (2003) A análise desta figura juntamente com o levantamento realizado pelo modelo de administração de percepção das marcas (MAP), permite observar as seguintes características das marcas e a adoção do Marketing lateral: IAP – Percepção básica e valor central Percepção Básica: Credibilidade / Qualidade - Afetividade apoiada em lembrança residual da comunicação Valor Central: Amiga, compreensível, crível (reordenação + exagero) Vínculo básico com o consumidor: Confiança e afeto MANAH – Percepção básica e valor central Percepção Básica: Marca permeada de carisma e notoriedade, comunicação lembrada e valorizada e reconhecimento de capacitação técnica Valor Central: Carismática, dinâmica, extrovertida, simpática (combinação + exagero) 14 Vínculo básico com o consumidor: Confiança e afeto OURO VERDE – Percepção básica e valor central Percepção Básica: Oferece produtos exclusivos, orientados para nichos de mercado, exigência de preparo técnico específico da equipe e perspectivas de crescimentos em mercados inexistentes. Valor Central: Técnico Especializado, racional, articulada, consciente (reordenação + inversão). Vínculo básico com o consumidor: Confiança e respeito. SERRANA – Percepção básica e valor central Percepção Básica: Administração profissional, estabilidade financeira, estruturação técnica e logística, fortemente associada à qualidade, séria e confiável, segurança e tradição. Valor Central: Prestador de Serviço, confiável, séria, prestativa (combinação + reordenação). Vínculo básico com o consumidor: Confiança e respeito As decisões de marketing definiram estratégias para cada marca Bunge Fertilizantes e como foram aplicadas as técnicas do marketing lateral. b. marketing lateral na dimensão do mercado Para o público-alvo foi aplicada uma pesquisa com um universo determinado e formado por agricultores classificados como tradicionais ou empresariais, caracterizados como grandes e médios consumidores de fertilizantes, responsáveis finais pela compra e produtores das principais culturas: soja, milho, trigo, arroz, feijão, algodão, laranja, cana e café. A área geográfica do estudo abrangeu as seguintes regiões e culturas: RS/SC [culturas soja, milho verão, trigo e arroz] PR/MS [soja, milho verão, trigo, feijão e algodão] MT/RO [soja e algodão] SP/RJ [milho verão, cana e laranja] MG/ES [soja, milho verão, café e batata] GO/MA/PI/TO/OesteBA [soja, milho verão e algodão] A metodologia de levantamento de dados teve características quantitativas, através da aplicação de questionário estruturado, por telefone, em amostra representativa dos agricultores. Foram realizadas um total de 2.549 entrevistas válidas, sendo 1293 com clientes e 1256 com não clientes da Bunge Fertilizantes. Trata-se de uma amostra aleatória, selecionada através do um ‘Mailing List’ de clientes, fornecido pela Bunge Fertilizantes, e também por um ‘Mailing List’ de não clientes, de propriedade do IOPEQ – Instituto responsável pela coleta de dados e análise estatística. Na pesquisa foram mensurados os indicadores diretamente relacionados com a força e o valor das marcas IAP, Manah, Ouro Verde e Serrana, bem como dos principais concorrentes: 9 Conhecimento (Top of Mind, lembrança espontânea e conhecimento estimulado); 9 Familiaridade; 9 Qualidade percebida / indicações de preferência; 9 Associação com a marca, principalmente nos atributos descritos na personalidade de cada marca. A pesquisa abordou também as seguintes áreas: 9 Quantificação dos atributos entendidos como relevantes pelo agricultor no processo de escolha de uma marca de fertilizantes; 9 Avaliação da importância relativa dos agentes influenciadores no processo de escolha; 9 Quantificação do nível de participação e de importância atribuída nas diferentes atividades relacionadas com comunicação (dias de campo, palestras e brindes). Com isto, a empresa identificou elementos para posicionar suas marcas em novos 15 mercados ou em mercados considerados inexistentes. Após este estudo, a Bunge Fertilizantes desenvolveu o processo de segmentação de mercado por tipo de comportamento do agricultor com técnica de pesquisa quantitativa com entrevistas pessoais com 325 clientes da empresa. Observa-se a carência de informações do público consumidor do agronegócio brasileiro o que justifica uma abordagem de segmentação do mercado, dividida por regiões do país com o objetivo de conhecer suas necessidades e desejos para o desenvolvimento de um plano de marketing com decisões estratégicas que permitam o sucesso do negócio em mercados até então não observado. Desta forma, a Bunge Fertilizantes pode oferecer algo diferente, para segmentos diferentes de agricultores, daquilo que a concorrência está disposta a oferecer. É necessário, portanto, muito esforço para entender o mercado no sentido de estar perto do agricultor, “separá-los” em grupos aparentemente homogêneos, descobrindo mercados antes descartados, entender suas necessidades e os seus desejos e, encontrar alguma forma de atendê-los satisfatoriamente tanto com lucro para a companhia quanto com lucro e produtividade para o agricultor, ou seja, desenvolvendo a lacuna para aplicações do marketing lateral. Não devemos esquecer que o mercado do agronegócio deve ser tratado como um mercado de “business to business”, (negócios para negócios), ou seja, o agricultor tem uma propriedade agrícola que é uma unidade produtora de alimentos, portanto, uma empresa e, as companhias devem estar atentas que estão “vendendo” algo para melhorar a produção ou a produtividade do agricultor para que ele possa comercializar sua produção de maneira mais satisfatória em termos de lucro. Portanto, ao invés de somente estarmos oferecendo aspectos racionais relacionados com as marcas, a Bunge deve aprender como explorar aspectos emocionais num mercado comoditizado de ‘business to business’. c. Marketing lateral na dimensão do mix de marketing: Distribuição: Foi reavaliada toda a equipe de representantes comerciais autônomos com o objetivo de realinhamento, reordenação e substituição desta força de venda e canais de distribuição para alinhamento com os próprios valores centrais de cada marca. Ou seja, está ocorrendo um alinhamento da personalidade do representante e do canal de distribuição com a personalidade da marca. Comunicação: Re-exame, em conjunto com as agências de propaganda, do ambiente criativo e do conteúdo da campanha publicitária e promocional de cada marca, considerando: 1. Os resultados da pesquisa da estrutura do ‘Brand Equity’. 2. O valor central e a identidade das marcas. 3. Desenvolvimento de conceitos criativos alternativos 4. Teste dos conceitos em pesquisa qualitativa - discussão em grupo ou entrevistas em profundidade - com agricultores d. Técnica de valoração proposta pelo marketing lateral Processo de compra: extrair das pesquisas pessoais as motivações de compra dos agricultores. Extrair os aspectos positivos: oferecer e fornecer produtos e serviços, conforme o perfil de compra de cada segmento do mercado, relacionados aos aspectos de motivação de compra emocional e racional. 5. Considerações Finais Observa-se que a diferença entre o marketing tradicional para o marketing lateral é de fato muito tênue. O que o marketing lateral nos alerta é quanto a possibilidade de 16 enxergarmos mercados antes não identificados pelos profissionais de marketing. Com isto, pode-se desenvolver alterações em produtos ou serviços e criar um novo mercado ou novas categorias de produtos em novas situações de uso. Como se apresentou nos casos ilustrativos como o do Kinder Ovo, Barrinhas de cereal, “ciber café”, NS+2 da Schincariol e da Gol Linhas Aéreas, comprovam que a pequena diferença entre o marketing tradicional e o marketing lateral está na forma de pensar a ampliação do público-alvo, a ampliação das ocasiões de consumo, as diferenciações por estilo de vida, a possibilidade de atender mais eficazmente os segmentos e nichos concretos, o aumento de amplitude de produtos, a conversão de compradores potenciais em atuais e a possibilidade de atingir a máxima penetração do produto ou serviço, como desenvolvido pela própria Bunge Fertilizantes em nosso estudo de caso. Não se trata de uma nova forma de pensar a estratégia das corporações e nem tão pouco um novo “modismo” no marketing. É um modo diferente e criativo para pensar o mercado. O marketing lateral faz um uso deliberado para facilitar a racionalização das dimensões do marketing. Essa posição arbitrária do marketing lateral possibilita a criação de idéias novas, sem seguir necessariamente o caminho do pensamento lógico do marketing tradicional. Caso esta idéia nova criada pelas lacunas do marketing lateral se mostre possível, ele deverá ser testado com todo o rigor da lógica do marketing. Assim, se a idéia ou estratégica for sólida, passa-se a estar numa posição de vantagem competitiva de uma forma mais rápida em comparação com os caminhos do marketing tradicional. A análise do estudo de caso mostra uma nova forma de pensar em inovações de mercado, produtos, distribuição, preço e comunicação. O marketing lateral pode ser uma forma nova de determinar as estratégias competitivas das corporações. O marketing lateral empresta conceitos de formas de pensamento criativo proposta por autores citados no artigo e procura aplicá-los nas dimensões do marketing tradicional: mercado, produto e restante do mix. Pensar numa nova forma de pensar as estratégias a serem adotados no sentido de ser a arte de criar e capturar valor no mercado de forma mais criativa, enxergando mercados e usos de produtos antes descartados é o escopo do marketing lateral. Pode-se refletir que o marketing lateral não substitui o marketing tradicional, mas o complementa. Como um estudo exploratório, espera se ter abordado o tema apresentado pelos autores estudados (Kotler e Bes 2004), no contexto do marketing lateral. Uma das limitações do estudo é pertinente à escolha do método de pesquisa utilizado. Sugere-se, como possibilidade para estudos futuros uma pesquisa quantitativa com uma amostra diferenciada de agricultores. 6. Referências Bibliográficas AAKER, David A., KUMAR, V., DAY, George S. Pesquisa de Marketing. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2004. BOONE & KURTZ. Marketing Contemporâneo. 8ª ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1998. DE BONO, Edward. Novas Estratégias de pensamento. São Paulo: Nobel, 2000. KOTLER, Philip. & BES, Fernando Trias de. Marketing Lateral. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. LAFORÊT, Sylvie & SAUNDERS, John. Managing Brand Portfolios: How the Leaders Do It. Journal of Advertising Research, September/October: 64-76. 1994. MALHOTRA, Naresh K. Pesquisa de Marketing – uma orientação aplicada. 3ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. SHETH, Jadish N. MITTAL, Banwari & NEWMAN, Bruce I. Comportamento do Cliente. São Paulo: Atlas, 2002.